Alguns números sobre o ensino remoto na comunidade de Três Barras

Alguns números sobre o ensino remoto na comunidade de Três Barras

 

Por Taliele Santana Higino [1]

 

O presente texto tem como objetivo analisar as metodologias e tecnologias de estudo utilizadas pelos alunos no REANP-MG (Regime Especial de Atividades Não Presenciais – Minas Gerais), a partir de uma pesquisa sobre a percepção de estudantes do Ensino Médio da Escola Estadual Leopoldo Pereira, distrito de Milho Verde, município Serro – MG.

A metodologia utilizada para a realização desta pesquisa foi a aplicação de um questionário eletrônico para os alunos que cursam o ensino médio na Escola Estadual Leopoldo Pereira, e que residem no distrito de Três Barras. Ao todo foram realizadas cinco entrevistas por meio do Google formulários no período de maio/2021, com autorização e nomes omitidos, contendo 37 perguntas fechadas e 1 pergunta aberta.

Segundo os resultados obtidos com os questionários, 60% dos alunos são homens e 40% são mulheres, e possuem de 16 a 18 anos de idade. No total, 20% dos alunos estão no primeiro ano do Ensino Médio, 60% no segundo ano e 20% no terceiro. As famílias dos estudantes são compostas por 2, 5, 6, 7 ou mais pessoas. O que demonstra um número alto de filhos por família. Nesse período de pandemia, 40% das famílias não receberam nenhum tipo de auxílio do governo. É importante citar que 80% dos pais possuem o ensino fundamental incompleto.

Nas casas das famílias entrevistadas, os aparelhos eletrônicos mais utilizados são os celulares por 100%, TV por 80% e Notebook por 40%. O Canal TV Rede de Minas, responsável pelo programa Se Liga na Educação, disponibilizado pelo REANP, pega em 80% das casas. Já a maioria dos alunos, 60%, não têm notebook ou computadores em suas casas, o que dificulta os trabalhos de digitação. 60% dos alunos têm acesso a internet 4G e 40% a cabo.

Das famílias, 40% possuem internet ilimitada e os demais via dados 4G. Desses que usam 4G, 20% afirmam que os dados não duram de 21 dias – 80% dura de 21 a 30 dias – com estabilidade para assistir os vídeos escolares. Predomina o uso de um celular por pessoa para os estudos. A maioria, 60%, não possui auxílio dos pais para realizar as tarefas da escola, pois ou trabalham ou não sabem o conteúdo. Todos os alunos possuem seu próprio celular, assim não precisam compartilhar com outro membro da família. As recargas dos créditos dos celulares são feitas pelos próprios alunos, 60%; os outros 40% são feitas por pais ou avós.

As ferramentas mais utilizadas pelos alunos e professores são o WhatsApp (60%) e o Youtube (20%). O Google Sala é menos usado, apenas 40% dos alunos. Os alunos afirmaram gastar de 1 a 3 horas por dia para realizar as atividades escolares. Entre as ferramentas disponíveis, a menos utilizada é a Conexão Escola 2.0, por 20% dos respondentes.

Sobre a última questão do questionário, aberta solicitando depoimentos sobre os principais problemas enfrentados, trago dois depoimentos a seguir para melhor contextualizam a realidade dos alunos entrevistados e alguns anseios diante da nova situação.

  • Bom… minha dificuldade é entender o que os professores mandam acho meio desorganizado, às vezes os vídeos que têm no Se Liga na Educação não explicam exatamente o que está na apostila, aí acaba que muita gente pega resposta da internet porque ninguém vai adivinhar as matérias. Por isso eu opto por outras videoaulas, mas o que seria bom mesmo se os professores fizessem um vídeo explicando sua matéria.”
  •  
  • “Minha principal dificuldade está sendo conciliar as atividades da escola com o meu cursinho para o Enem. Também não consigo entender as matérias de química, física e matemática.”

A partir dos resultados dessa pesquisa, concluímos que à internet vem sendo o meio de comunicação mais importante e a principal barreira para o contato entre professor e aluno, permitindo aos alunos o acesso as ferramentas de ensino e aos recursos tecnológicos que permitem a concretização do processo de ensino-aprendizagem. Além disso, o grau de escolaridade dos pais para o auxílio nas atividades dos filhos interfere muito neste processo. Por último, os entrevistados também citam como problema o acompanhamento dos professores e a explicação dos conteúdos, o que pode estar ligado às tecnologias também, já que tudo isso, no REANP, é feito à distância e padronizado para todo o estado.

[1] Taliele é estudante da Licenciatura em Educação do Campo (LEC), da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM). Esta pesquisa foi supervisionada pelo professor Vítor Sousa Dittz, da Escola Estadual Professor Leopoldo Pereira, e orientada pelo professor Carlos Henrique Silva de Castro, da UFVJM, no âmbito do PIBID-UFVJM.

Agradecimentos aos estudantes-sujeitos e suas famílias, bem como ao diretor da E. E. Professor Leopoldo Pereira, o professor Maycon Souza.

Alguns números sobre o ensino remoto na comunidade do Ausente de Baixo

Alguns números sobre o ensino remoto na comunidade do Ausente de Baixo

Por Maria Madalena de Oliveira Gomes [1]

O presente texto traz informações sobre uma pesquisa realizada na Escola Estadual Professor Leopoldo Pereira, que atende a diversas comunidades rurais no entorno do distrito de Milhos Verde, município do Serro-MG, mais especificamente dos alunos do ensino médio na comunidade Ausente de Baixo. Esta é uma atividade desenvolvida pelos integrantes do PIBID-UFVJM, subprojeto da Licenciatura em Educação do Campo, e teve como foco entender como está sendo a trajetória de estudos desses alunos durante a pandemia, assim como as questões relacionadas a acesso, econômicas e sociais.

Para que esta pesquisa fosse realizada, a metodologia utilizada foi um questionário no Google Forms que continha 37 questões fechadas e 1 aberta opcional ligadas a trajetória escolar do estudante entrevistado, condições das famílias e condições de estudos na pandemia. Quando os estudantes entrevistados não tinham condições de responderem diretamente o formulário, as perguntas foram realizadas através do WhatsApp.

Na comunidade Quilombola do Ausente de Baixo, responderam ao questionário sete alunos com idades entre 15 e 17 anos, cursando o ensino médio. Em relação às características socioeconômicas das famílias, todas são de baixa renda pois 100% receberam algum tipo de auxílio do governo no ano de 2021, seja Bolsa Família ou Bolsa Escola. Os grupos familiares são numerosos, todos com mais de cinco filhos. A renda de muitos nem sempre fornece o que é necessário para o estudo, como o acesso à internet, ou até mesmo o celular. Vemos que os moradores comunidade de Ausente de Baixo sobrevivem da agricultura familiar de subsistência, sendo que a maioria, 60%, conta também com a ajuda do Auxílio Emergencial. Entre os pais, apenas 20% possuem o ensino fundamental completo. Entre os irmãos, 80% possuem ensino médio completo.

A partir da análise das respostas das entrevistas, percebe-se que os recursos tecnológicos tv e internet estão presentes em 100% das famílias. Quanto ao acesso à internet, 80% são por meio do 4G dos celulares e 20% é via antena. O acesso pré-pago representa 80% do total, sendo que 20% falaram que suas recargas mensais duram de um a dez dias; outros 20%, de onze a vinte dias; e 60% de vinte um a trinta dias. 80% afirmaram que o sinal é instável. Ou seja: o número de estudantes que acessa a internet com estabilidade ao longo de todo o mês é ínfimo.

Contemplando a questão 38, questão aberta onde foi solicitado que os alunos relatassem a principal dificuldade encontrada no ensino remoto, 100% dos alunos afirmam que ir à escola antes ajudava muito mais, visto que as relações interpessoais são de fundamental importância no processo ensino aprendizado. A maioria declarou que as metodologias de agora até ajudam, mas não se comparam às vantagens ao ensino presencial. Afirmaram que durante a pandemia eles consideram que está sendo bem mais difícil aprender o conteúdo, pois mesmo que assistam a videoaulas é difícil adquirir todo conhecimento que se é passado. Isso se dá pelo fato de muitos dos alunos não terem ajuda apropriada e mediação do professor, como também pela falta de conhecimento para manuseio e utilização das ferramentas tecnológicas como o Google Sala de Aula, o Conexão Escola 2.0, e mesmo o Youtube. Além disso, foi apontada que 80% dos alunos possuem uma internet ruim, como citado no parágrafo anterior.

Ao final das entrevistas, bem como minhas próprias experiências, noto que o ensino remoto para os alunos e os familiares se torna uma forma segura para suprir a falta do ensino presencial durante o contexto atual de pandemia. Contudo, a falta de um acesso contínuo e estável à internet, além do baixo nível de escolaridade dos pais, constitui agravante no processo de ensino aprendizagem, como é o caso da comunidade estudada. Levando em consideração a realidade vivenciada pelos estudantes de Ausente de Baixo, e pensando na educação no contexto durante a pandemia, podemos enfatizar a necessidade de se ter maior atenção à realidade do educando, pois nem sempre eles possuem as ferramentas corretas e necessárias para o ensino, como a internet e o celular.

[1] Maria Madalena é estudante da Licenciatura em Educação do Campo (LEC), da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM). Esta pesquisa foi supervisionada pelo professor Vítor Sousa Dittz, da Escola Estadual Professor Leopoldo Pereira, e orientada pelo professor Carlos Henrique Silva de Castro, da UFVJM, no âmbito do PIBID-UFVJM.

Agradecimentos aos estudantes-sujeitos e suas famílias, bem como ao diretor da E. E. Professor Leopoldo Pereira, o professor Maycon Souza.

Alguns números sobre o ensino remoto nas comunidades Ausente de Cima e Serra da Bicha

Alguns números sobre o ensino remoto nas comunidades Ausente de Cima e Serra da Bicha

Por Juliana da Paz Ferreira [1]

 

Entre os dias 11 e 27 de maio de 2021 foi realizada uma pesquisa quantitativa com os estudantes do ensino médio da Escola Estadual Leopoldo Pereira no âmbito do PIBID-UFVJM da qual este relato faz parte.  O objetivo de toda a pesquisa é compreender quais são as principais dificuldades enfrentadas pelos estudantes da referida escola em relação às metodologias utilizadas na realização das atividades escolares durante o ensino remoto decorrente da pandemia da covid19.

Atualmente a escola atende 14 comunidades rurais e está situada no distrito de Milho Verde, Serro/MG. Dentre os dez estudantes oriundos das comunidades de Ausente de Cima e Serra da Bicha, quatro participaram desse processo sendo dois de cada uma delas. Para saber um pouco mais sobre essa realidade, organizamos um questionário contendo 37 questões fechadas e uma aberta opcional, aplicado via Google Forms. As perguntas fechadas trataram, sobretudo, sobre as formas de estudos online durante o tempo de pandemia, e como essas condições tecnológicas no meio rural são acessíveis a eles no auxílio às atividades escolares. Para além das condições tecnológicas, perguntamos ainda algumas questões de cunho social que comporão esta análise nos próximos parágrafos. Na última questão, a aberta, foi solicitado um comentário sobre as principais dificuldades encontradas pelo estudante no ensino remoto, e o que ele está fazendo para superá-las. A divulgação dos resultados foi autorizada pelos próprios estudantes em conjunto com a direção da escola com a condição de manter os nomes em anonimato.

Conforme os resultados da pesquisa, 50% dos estudantes são do sexo feminino e 50% do sexo masculino, com idades entre 16 e 17 anos. Todos cursam o ensino médio. Isso significa que esses estudantes estão se preparando, ou deveriam, para dar continuidade nos estudos no ensino superior. Quanto à renda familiar, no Ausente de Cima, 100% dos entrevistados recebem o Bolsa Família e apenas 50% receberam o Auxílio Emergencial. Já na Serra da Bicha, 50% recebem o Bolsa Família e 100% receberam o Auxílio Emergencial. Em ambas as comunidades as famílias dos estudantes sobrevivem da agricultura familiar de subsistência. Tanto na Serra da Bicha como no Ausente de Cima, predomina o baixo grau de escolaridade como afirmam os estudantes ao responderem que o nível de escolaridade dos seus pais é baixo, sendo que nenhum finalizou o ensino fundamental. Com isso, podemos deduzir que o apoio dos pais na realização dos Planos de Estudos Tutorados (PETs) e das atividades complementares fica comprometido.

50% dos estudantes afirmaram que a família não possui televisão em casa, em contrapartida todos têm aparelho celular na residência. Em relação às ferramentas de ensino remoto mais utilizadas no dia a dia, no Ausente de Cima 50% dos entrevistados responderam que utilizam o WhatsApp e 50% o Google Sala de Aula com maior frequência. Já na Serra da Bicha, 100% dos entrevistados afirmaram que utilizam no dia a dia com maior frequência os grupos do WhatsApp. Ao perguntar sobre as ferramentas na qual possuem maior dificuldade, em ambas as comunidades, 100% afirmaram que eles têm maior dificuldade em acessar o aplicativo Conexão Escola 2.0, ferramenta destinada à interação síncrona entre professor e aluno. Como causa desta realidade, nas duas localidades, 50% dos alunos afirmaram que não sabem e 50% disseram que o sinal de internet é muito fraco, pois acessam através dos dados móveis do aparelho celular para estudar porque não tem antena nem internet a cabo em casa. 50% dos estudantes da Serra da Bicha e 100% de Ausente de Cima consideraram a conexão instável, e 100% dos estudantes, das duas comunidades, disseram que o sinal de internet é ruim, impossibilitando-os de baixar arquivos ou vídeos que os professores disponibilizam. Todos afirmaram também que a escola tem utilizado com maior frequência as ferramentas de ensino remoto e com maior diversidade comparada ao ano de 2020.

No ensino remoto, há uma dependência muito grande em relação às tecnologias e vários fatores influenciam no acesso. O mais agravante é que as famílias são de baixa renda por isso não conseguem colocar recarga com frequência no telefone dos filhos para garantir o acesso à internet. No caso desta pesquisa, os quatro estudantes utilizam a internet 4G pré-paga. Em relação ao tempo disponível de acesso ao serviço de internet, no Ausente de Cima 50% dos estudantes tem acesso de onze a vinte dias, e a outra metade de vinte um a trinta dias. Na comunidade de Serra da Bicha os dados são iguais quanto ao tempo de acesso à rede. Ao serem questionados sobre as principais dificuldades enfrentadas nesse ensino remoto, foram unânimes em dizer que a falta de acesso à internet.

Por mais que os professores mandem impressos todos os materiais dos PETs, eles dependem de um auxílio tecnológico para solucionar possíveis dúvidas e pesquisas em relação às atividades. Em uma das respostas, no comentário final, uma estudante ressalta que a maior dificuldade encontrada é a falta de internet, pois muitas vezes o sinal é muito fraco, em condições que o aplicativo Conexão Escola 2.0, utilizado na interação entre professores e alunos, não funciona, dificultando assim o aprendizado dos conteúdos. A entrevistada relatou que mesmo com toda dificuldade enfrentada, não deixa de fazer as atividades pedidas e busca sempre se dedicar ao máximo.

Ao analisar as respostas dadas pelos estudantes, verifica-se que os resultados são preocupantes uma vez que, por mais que eles tenham interesse em aprender, as ferramentas de trabalho não são acessíveis a todos, o que dificulta muito o aprendizado. Conversando com alguns professores da Escola Estadual Professor Leopoldo Pereira, eles relatam que se preocupam muito com a aprendizagem dos estudantes por muitas vezes não obter o retorno desejado, pois o contato por meios das plataformas de comunicação digital é mínimo entre eles, isso fez com que os professores buscassem alternativas de ensino para que os alunos não saiam prejudicados. Uma dessas alternativas foi montar um grupo através do aplicativo WhatsApp visto que, esse aplicativo é muito utilizado entre os adolescentes da escola. O avanço da vacinação e, como consequência, os planejamentos para o retorno às aulas presenciais ajudarão a esses estudantes que não conseguiram se adaptar ao ensino remoto devido à falta de condições das famílias de baixa renda, dentre outras questões.

[1] Juliana é estudante da Licenciatura em Educação do Campo (LEC), da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM). Esta pesquisa foi supervisionada pelo professor Vítor Sousa Dittz, da Escola Estadual Professor Leopoldo Pereira, e orientada pelo professor Carlos Henrique Silva de Castro, da UFVJM, no âmbito do PIBID-UFVJM.

Agradecimentos aos estudantes-sujeitos e suas famílias, bem como ao diretor da E. E. Professor Leopoldo Pereira, o professor Maycon Souza.

Alguns números sobre o ensino remoto nas comunidades da Barra da Cega, Jacutinga e Córrego da Areia

Alguns números sobre o ensino remoto nas comunidades da Barra da Cega, Jacutinga e Córrego da Areia

Por Izabela Pilar Alves Ferreira [1]

 

Trago aqui resultados de pesquisa de cunho quantitativo executada por meio de um questionário contendo 37 perguntas fechadas e uma aberta. Responderam as interrogativas quatro alunos do ensino médio da Escola Estadual Professor Leopoldo Pereira, e que residem nas comunidades da Barra da Cega, Córrego da Areia e Jacutinga. Nessas três comunidades as famílias sobrevivem da pequena agriculta familiar de subsistência.

A proposta do trabalho em questão é expor algumas realidades de ensino e aprendizagem desses alunos em meio à pandemia, salientando também suas condições socioeconômicas e educacionais, suas condições escolares e sua percepção sobre o Regime Especial de Atividades Não Presenciais (REANP).

A escola Estadual Professor Leopoldo Pereira é considerada nucleada rural, ou seja, possui uma sede, onde fica localizada a direção, que fica localizada em Milho Verde, um distrito de Serro, interior do estado de Minas Gerais, e outros núcleos (prédios físicos diferentes da sede). Esses núcleos estão presentes em 14 comunidades, entre elas estão as citadas Barra da Cega que fica localizada a 3 km da escola, Córrego da Areia a 11 km e Jacutinga, situada a 16 km.

O estudo foi realizado com alunos do sexo feminino e masculino com idades entre 15 e 18 anos que cursam o primeiro e segundo ano do ensino médio. Mediante tal investigação, fica perceptível que o perfil familiar é de baixa renda, pois todas recebem auxílios financeiros do governo. As famílias são numerosas, 100% delas possuem 5 ou mais integrantes. Com relação ao grau de escolaridade dos pais, 100% dos pais e das mães não terminaram o nível fundamental, o que coloca esse grupo familiar em condições escolares limitadas.

Os alunos das comunidades em estudo possuem celular e internet com cobertura 4G, 50% dos alunos afirmaram que o sinal é instável e a maioria, 70%, relatou que não consegue assistir a vídeos, como as videoaulas disponibilizadas nos planos de ensino que devem cumprir semanalmente. Outros 40% também mencionaram que precisam dividir o uso do celular com outros familiares para fins estudantis. Nas três localidades os alunos, em sua maioria, 60%, acessam a internet de 21 a 30 dias no mês.  Na Barra da Cega 50% dos alunos contam com a ajuda dos pais nas atividades escolares e 50% não. Na Jacutinga e no Córrego da Areia 100% dos alunos afirmaram que não contam com a assistência dos pais, pois não têm domínio dos conteúdos.

Os estudantes alegam que utilizam entre 1 e 10 horas para estudar por semana. Desses, 40% usam como ferramentas de estudo vídeos diversos – que encontram com pesquisa – do Youtube, ou vídeos oficiais do programa Se Liga na Educação, também disponíveis no Youtube, que é parte do Estudo no Regime de Estudo Não-Presencial (REANP). Além disso, todos declaram que neste ano de 2021 a escola e os professores têm utilizado ferramentas de ensino remoto para se comunicar com maior assiduidade. Dentre essas, a utilizada com frequência maior é o WhatsApp, segundo 100% dos respondentes. Todos afirmaram que o e-mail e o aplicativo Conexão Escola 2.0 estão sendo menos utilizado, pois demandam uma internet com maior estabilidade no sinal.

Por último, respondendo sobre as principais dificuldades encontradas no ensino remoto em questão aberta, um dos entrevistados diz que a sua principal dificuldade é aprender por meio do aparelho celular, sobretudo pela necessidade de acessar os aparelhos celulares dos pais, que sempre estão fora de casa trabalhando. Além disso, nem sempre o celular tem recursos tecnológicos ou conectividade que suportem o recebimento e envio dos conteúdos pedagógicos.

A partir da entrevista, de maneira geral, conclui-se que para participar dessa nova escola, a família precisa de boas condições financeiras. Percebe-se que esses estudantes são dependentes de tecnologias caras e até inexistentes na região, como internet a cabo. Sendo assim, as más condições sociais que o indivíduo vive influenciam negativamente na sua aprendizagem escolar e aprofundam as desigualdades de maneira geral.

[1] Izabela é estudante da Licenciatura em Educação do Campo (LEC), da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM). Esta pesquisa foi supervisionada pelo professor Vítor Sousa Dittz, da Escola Estadual Professor Leopoldo Pereira, e orientada pelo professor Carlos Henrique Silva de Castro, da UFVJM, no âmbito do PIBID-UFVJM.

Agradecimentos aos estudantes-sujeitos e suas famílias, bem como ao diretor da E. E. Professor Leopoldo Pereira, o professor Maycon Souza.

Alguns números sobre o ensino remoto na comunidade de Capivari – Parte 2

Alguns números sobre o ensino remoto na comunidade de Capivari – Parte 2

Por Claudemar Alves Ferreira [1]

 

Este é um relato que traz considerações sobre a percepção de alguns alunos do ensino médio de uma escola rural sobre as metodologias e as tecnologias de estudo e suas principais dificuldades encontradas no ensino remoto. Neste contexto, foi realizada uma pesquisa com 11 alunos da Escola Estadual Professor Leopoldo Pereira que está localizada no distrito de Milho Verde, município do Serro – MG.

A metodologia utilizada foi um questionário enviado a 11 estudantes do ensino médio que moram na comunidade de Capivari, situada a 16 km de Milho Verde. Da localidade, antes do período pandêmico e esperamos que em breve novamente, saem dois ônibus na parte da manhã, fazendo o percurso de 1 hora da comunidade até chegar à escola. Na pesquisa foram abordados os seguintes temas: condições socioeconômicas, condições educacionais das famílias, percepções do aluno sobre suas dificuldades no REANP.

A partir dos dados, percebe-se que as condições socioeconômicas dos alunos é um fator que influencia em um bom aprendizado, pois a falta de recursos tecnológicos necessários no ensino remoto, como um computador, aparelho celular e internet de boa qualidade, faz com que os alunos não tenham um bom desempenho. Nesse sentido, 50% dos entrevistados recebem o Bolsa Família e 30% receberam o Auxílio Emergencial do governo federal. Nessa situação, 40% dos alunos têm que compartilhar com seus irmãos os aparelhos tecnológicos para acessarem as videoaulas, o aplicativo Conexão Escola, assim como os grupos de WhatsApp das turmas, que são ferramentas disponibilizadas pela escola, sendo que 80% dos entrevistados afirmaram que utilizam a última com maior frequência. 90% dos alunos relatam que possuem dificuldade para acessar o aplicativo Conexão Escola, que oficialmente deveria substituir o WhatsApp. Os dados reforçam, assim, que a questão do acesso é um ponto que contribui para o atraso na aprendizagem.

Outra dificuldade encontrada é a necessidade de um acompanhamento de uma pessoa qualificada para sanar as dúvidas que surgem, pois vimos que grande parte das famílias de Capivari não tem uma qualificação para acompanhar as atividades com seus filhos, sendo que 100% dos pais possuem ensino fundamental incompleto e cerca de 70% das mães também. Além da falta de tecnologias e da falta de conhecimento, ficam prejudicados ainda com o fato de que 25% dos familiares afirmam não tempo de ajudar seus filhos. Assim, as respostas ao questionário mostram que esses alunos apresentam grandes dificuldades para estudar.

A partir das entrevistas realizadas, e sobretudo nos relatos da única questão aberta do questionário, percebe-se que o REANP tem prejudicado muito a educação e que os estudantes estão desmotivados, desatentos e despreparados para prosseguir com os estudos. Como exemplo selecionei um dos relatos para melhor justificar minha afirmação: “É um pouco difícil né porque quando tinha as aulas presenciais a gente tinha mais a presença do professor, a gente tinha ali os amigos para tá apoiando também principalmente professor que ensina muito bem, e longe, no ensino remoto, a gente fica mais distraído.”                                            

Ao fim, podemos concluir que a falta de recursos tecnológicos de acesso e infraestrutura para um grupo de alunos é de extrema preocupação em Capivari onde 50% conseguem acessar as videoaulas online e os outros 50% não, pois ou possuem internet precária ou nenhuma internet. Também o acesso com maior estabilidade a internet só é uma realidade para apenas 60% dos alunos que possuem antena. Entre os entrevistados 80% afirmaram que possuem acesso à internet todos os dias do mês, considerando o 4G do celular. Esses mesmos 80% relataram que utiliza com maior frequência como ferramenta de ensino o grupo do WhatsApp da turma. Apenas 10% conseguem acessar o aplicativo Conexão Escola.

Dentre os dificultadores, a partir das respostas dadas, podemos afirmar que o grau de escolaridade dos pais, assim como o limitado acesso às tecnologias. Sem contar que esse ensino remoto é um hábito novo, uma nova cultura. Se no ensino presencial já é difícil os alunos terem o hábito de estudar, no ensino remoto a situação tende a se agravar, tendo em vista o perfil das famílias pesquisadas.

[1] Claudemar é estudante da Licenciatura em Educação do Campo (LEC), da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM). Esta pesquisa foi supervisionada pelo professor Vítor Sousa Dittz, da Escola Estadual Professor Leopoldo Pereira, e orientada pelo professor Carlos Henrique Silva de Castro, da UFVJM, no âmbito do PIBID-UFVJM.

Agradecimentos aos estudantes-sujeitos e suas famílias, bem como ao diretor da E. E. Professor Leopoldo Pereira, o professor Maycon Souza.

Alguns números sobre o ensino remoto na comunidade de Capivari – Parte 1

Alguns números sobre o ensino remoto na comunidade de Capivari – Parte 1

Por Ana Roberta Cléo dos Santos Ferreira [1]

Este texto relata os resultados de uma pesquisa quantitativa que aborda a percepção de alguns alunos da comunidade rural de Capivari sobre o chamado Regime de Estudo não Presencial (REANP-Minas Gerais), assim como suas condições de acesso, infraestrutura de telecomunicação e as ferramentas utilizadas pela escola. O universo da pesquisa foi um grupo de 8 alunos da comunidade de Capivari, que estudam na Escola Estadual Professor Leopoldo Pereira, localizada no distrito de Milho Verde, município do Serro/MG.

Como metodologia adotada para o levantamento dos dados, foi aplicado um questionário no Google Formulário com 37 perguntas fechadas e um comentário aberto opcional. Os nomes dos estudantes são mantidos na confidencialidade e as questões abordadas estão ligadas às metodologias e às tecnologias utilizadas pelos estudantes do ensino médio da referida escola, assim como as suas principais dificuldades. Como resultados da pesquisa, percebemos que a questão de tecnologias tem influenciado muito a não-aprendizagem. No contexto de Capivari, 100% afirmaram que têm o aparelho celular, mas apenas 60% têm acesso a conexão estável à internet, que na comunidade só é possível via antena, e metade também relatou que às vezes não consegue nem acessar videoaulas no Youtube. Entre os que acessam à rede tanto via antena e celular, 80% possuem acesso à rede de 21 a 30 dias no mês. O baixo nível de escolaridade dos pais também é um ponto que pode influenciar no aprendizado dos alunos uma vez que 100% dos pais não terminaram o ensino fundamental.  Perguntados sobre apoio nas atividades propostas pelo REANP através das apostilas denominadas Plano de Estudos Tutorados (PET) por parte dos pais, 100% deles não conseguem fazê-lo. Metade afirma que por competência, já que não finalizaram o fundamental, e a outra metade alega trabalhar e não ter tempo para apoiar seus filhos com as atividades.

De acordo com os dados da pesquisa, percebemos que 80% dos estudantes são de baixa renda, pois suas famílias participam dos programas governamentais Bolsa Família e Auxílio Emergencial. Por falta de condições financeiras, muitos irmãos têm que utilizar um único aparelho celular ou computador, quando existe um, para os estudos. Sobre as ferramentas de uso, todos afirmaram que possuem mais facilidades com grupo de WhatsApp e videoaulas do Youtube. 80% dos entrevistados afirmaram que fazem uso da ferramenta WhatsApp com maior frequência sobretudo pelo fato de que a escola criou um grupo de WhatsApp para cada turma. No ambiente virtual esclarecem suas dúvidas com mais facilidade e aprendem os conteúdos. Por outro lado, 90% dos alunos encontram dificuldades em acessar o aplicativo Conexão Escola 2.0, criado pelo governo do estado destinado à interação nos moldes do popular WhatsApp.

Ainda segundo os entrevistados, na questão aberta aos comentários diversos, o ensino remoto dificultou o aprendizado, pois antes, na sala de aula, tinham a presença dos professores e amigos para estar dando um apoio moral e auxiliando na aprendizagem, pois o professor está ali presente e responde com mais rapidez suas dúvidas. Relataram em seus comentários que no ensino remoto não é sempre a mesma coisa, pois o professor tem vários alunos para estar respondendo. Muitas vezes pelo fato de o aluno não compreender o conteúdo não tem nem base de como formular uma pergunta para o professor. Um outro problema identificado foi a falta de um ambiente adequado para os estudos, pois o ambiente doméstico pode gerar falta de atenção como relata uma estudante: ‘‘Com o ensino remoto a gente fica distraído. Se passar um mosquito na nossa frente, a gente fica observando o mosquito e esquece da atividade. E antes, na sala de aula, tínhamos mais concentração na explicação do professor’’.

Com todas essas respostas, notamos que não só a concentração nas atividades, mas o acesso à internet e o baixo grau de escolaridade dos pais também têm sido fatores que dificultam o aprendizado; pois se o aluno não tem uma internet de boa qualidade, não consegue acessar os aplicativos que necessita, fazendo com que seu rendimento não seja satisfatório. Problema agravado pelo fato de não possuírem na família um membro que possa auxiliá-lo nas atividades. Concluímos, assim, que a qualidade da educação destes alunos está comprometida por estes problemas identificados.

[1] Ana Roberta é estudante da Licenciatura em Educação do Campo (LEC), da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM). Esta pesquisa foi supervisionada pelo professor Vítor Sousa Dittz, da Escola Estadual Professor Leopoldo Pereira, e orientada pelo professor Carlos Henrique Silva de Castro, da UFVJM, no âmbito do PIBID-UFVJM.

Agradecimentos aos estudantes-sujeitos e suas famílias, bem como ao diretor da E. E. Professor Leopoldo Pereira, o professor Maycon Souza.

Alguns números sobre o ensino remoto na comunidade de Milho Verde – Parte 2

Alguns números sobre o ensino remoto na comunidade de Milho Verde – Parte 2

Por Maria Flor de Maio de Jesus Silva [1]

Este relato traz as percepções de estudantes do ensino médio da Escola Estadual Professor Leopoldo Pereira sobre as metodologias e tecnologias de estudo no regime não presencial em vigor na escola e em toda a rede estadual mineira. A escola está localizada na comunidade de Milho Verde, distrito do município do Serro, Minas Gerais. Para tanto, realizamos uma pesquisa via Google Forms, da qual relato as respostas dadas por um grupo de 13 estudantes, no período de 01 a 14 de maio de 2021, com autorização de uso dos dados e com nomes omitidos para garantir privacidade.

Todos os entrevistados residem na comunidade de Milho Verde. O resultado nos aponta que a falta de acesso adequado às tecnologias tem influenciado no desenvolvimento das atividades escolares no ensino remoto. A Escola Estadual Professor Leopoldo Pereira é  uma  escola nucleada rural, ou seja, o seu espaço físico está situado no distrito de Milho Verde, porém a área de  abrangência  da comunidade escolar é maior que a área onde a escola esta localizada. Atualmente, esta atende estudantes de 14 comunidades da zona rural. Essas comunidades englobam desde a sede dos distritos, com uma pequena infraestrutura urbana, até localidades como a Serra da Bicha, o Amaral e a Jacutinga, lugares onde o acesso, seja às casas, à infraestrutura de comunicação, aos meios de transporte ou à saúde que é bastante precário.

Diante da situação da pandemia do covid19, a escola, como todas as instituições educacionais, adequou-se ao ensino remoto, suspendendo as aulas presenciais, e passou a buscar alternativas de manter o processo de ensino-aprendizagem em consonância com as propostas do governo estadual de Minas Gerais por meio de Regime Especial de Atividades Não Presencial (REANP). Nesse período, utilizou principalmente os recursos tecnológicos como aplicativos e plataformas on-line, que, no entanto, escancaram a desigualdade e as dificuldades enfrentadas por estudantes e professores. Alguns problemas são comuns à maioria dos estudantes e professores como: acesso limitado a internet, falta de computadores e de espaço em casa, problemas sociais, sobrecarga de trabalho docente e baixa escolaridade dos familiares principalmente dos pais.

Na análise das condições socioeconômicas e educacionais das famílias, o resultado nos mostra que 40% dos estudantes entrevistados são do sexo feminino e a faixa etária varia de 15 a 19 anos, sendo um total de 30% cursando o primeiro ano e 30% no terceiro ano do ensino médio. A maioria das famílias dos entrevistados é composta por 5 pessoas na residência e metade dos entrevistados são beneficiários do Bolsa família. A maioria dos pais apresenta escolaridade de nível baixo, 50% têm o ensino fundamental incompleto, 20% ensino médio completo e 30% ensino médio incompleto. Entre as mães, 50% têm o ensino fundamental incompleto, 30% o ensino médio completo e 20% ensino superior completo. Apesar do número de pais e mães com ensino médio completo ser considerável, 20% dos pais e 30% das mães, e 20% das mães com ensino superior completo, ainda predomina um grau de escolaridade baixo visto que 50% dos pais e mães não completaram o ensino fundamental.

Sobre as condições dos educandos no uso de tecnologias, 100% possuem um aparelho celular e somente 30% têm um computador na residência. Das famílias, 80% afirmaram ter acesso a televisão, mas a Rede Minas, responsável por transmitir videoaulas (também disponíveis no Youtube) não pega em 100% dessas casas. Entre essas, 50% fazem uso da internet pré-paga e 50% têm acesso via antena. Sobre qualidade da internet, 80% dos estudantes relataram que é estável e 20% a consideram-na precária. 90% dos entrevistados fazem uso da internet de 21 a 30 dias no mês, pois usam pré-paga que acaba antes do fim do mês. Dentre os alunos, 50% recebem ajuda dos pais na realização das atividades propostas pelos PETs (Plano de Estudos Tutorados). Os outros 50% não recebem esse apoio por eles não saberem os conteúdos, porque trabalham, ou por não terem tempo disponível para contribuir com o processo de ensino aprendizagem em casa. Já em 60% das respostas, irmãos auxiliam na realização das atividades. No acompanhamento das formas de interações e atividades online, e sobre frequência de uso de ferramentas digitais, 80% dos alunos utilizam o WhatsApp e 30% o Youtube com maior frequência, os mais citados. Dentre esses mesmos estudantes, 40% estudam de 1 a 3 horas, 30% de 4 a 6 horas, 20% de 7 a 11 horas, e 10% mais de 11 horas.

Entre os entrevistados, 100% afirmaram que, em decorrência do ensino remoto, a escola está lidando com maior frequência e com maior diversidade de ferramentas digitais do que no ano passado. Os dados nos apontam que o grupo de estudantes não têm grandes dificuldades de acesso, pois 80% consideram o sinal de internet bom. Mas apesar da boa infraestrutura do acesso, 30% declararam que têm dificuldades de acessar o aplicativo Conexão Escola, 35% têm dificuldade de acessar o Google Sala de Aula sendo que 30% nunca conseguiu acessar este último. Na Comunidade de Milho Verde, 100% dos estudantes possuem o celular individual e 30% das famílias possuem um notebook, além de ter uma boa infraestrutura de serviços de internet. Assim, a grande maioria dos estudantes possuem as principais ferramentas de acesso, internet e celular, e conseguem assistir os vídeos com estabilidade.

Quanto à percepção dos entrevistados sobre o REANP, a questão posta, a única aberta ao final de 37 fechadas, foi a seguinte: Comente sobre a principal dificuldade encontrada por você no ensino remoto, se está conseguindo superar ou não e como. As respostas foram diversas, mas seguem alguns trechos mais relevantes:

  • Está sendo muito difícil, pois não estávamos conseguindo acessar os aplicativos no começo… algumas matérias são complicadas e não consigo entender, mas com a ajuda dos meus familiares eu estou conseguindo fazer algumas coisas outra eu tenho que pesquisar.”
  •  
  • Várias: internet, materiais, falta de explicações, falta de mais orientações dos professores, falta de computador.”
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  • “Estou tentando ter mais interesse nos meus estudos, pois sei que com ele eu vou conseguir MTS coisas.”
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  • É difícil estudar sozinha, não gosto muito de estudar, e pela internet é muito ruim.”

Podemos perceber nas falas como é desafiador o acesso e utilização das tecnologias do ensino remoto. Podemos observar que são realidades bem diferentes das pensadas pelo REANP e suas metodologias, mas o aprendizado deste período está também nas diferenças de contexto entre estudantes, professores e escolas. As desigualdades estão em várias dimensões, o que faz com que sejam mais intensas para alguns estudantes do que para outros.

Nesse cenário, deve-se pensar em ações de inclusão para todos os estudantes, pois quando o ensino remoto acabar, muitas ferramentas devem ficar na escola, pois fazem parte da nossa sociedade e da nossa comunicação. Além disso, os professores devem ter condições de atender às demandas de interação com os estudantes, bem como de dar feedbacks sobre todas as atividades realizadas. Por último, as didáticas devem estar vinculadas às realidades dos estudantes, ligando a prática educativa aos saberes das comunidades.  Pois pensar na qualidade do ensino é compreender e respeitar a individualidade dos alunos, na busca de superação dos desafios que podem ser específicos. Entendemos que as reflexões deste estudo permitem compreender a realidade que muitos dos estudantes estão vivenciando nessa pandemia, além de vários outros fatores e questões vivenciados o que nos permite buscar soluções.  

[1] Maria Flor é estudante da Licenciatura em Educação do Campo (LEC), da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM). Esta pesquisa foi supervisionada pelo professor Vítor Sousa Dittz, da Escola Estadual Professor Leopoldo Pereira, e orientada pelo professor Carlos Henrique Silva de Castro, da UFVJM, no âmbito do PIBID-UFVJM.

Agradecimentos aos estudantes-sujeitos e suas famílias, bem como ao diretor da E. E. Professor Leopoldo Pereira, o professor Maycon Souza.

Alguns números sobre o ensino remoto na comunidade de Milho Verde – Parte 1

Alguns números sobre o ensino remoto na comunidade de Milho Verde – Parte 1

Por Adelaine Aparecida Santos [1]

Este texto analisa o resultado de uma pesquisa quantitativa, cujo objetivo principal foi levantamento de informações e dados sobre as percepções de 13 estudantes sobre o ensino remoto. Os entrevistados estudam na Escola Estadual Professor Leopoldo Pereira, situada em Milho Verde, distrito de Serro – MG. O método adotado para o levantamento dos dados foi a aplicação de um questionário com 37 perguntas fechadas e um comentário aberto opcional, enviado em um formulário do Google.

Avisados da confidencialidade da pesquisa, participaram, no total, 13 alunos do ensino médio, todos residentes de Milho Verde.  Sendo que no primeiro e terceiro ano estudam 30% em cada e no segundo ano, 40%. Dos alunos que responderam, 30% eram do sexo masculino e 70 % do feminino, na faixa etária de 15 a 19 anos, sendo que a maior parte, 60%, possui 17 anos.

Desses alunos, 90 % moram com seus pais. Sobre anos de estudos, 50% dos pais não têm ensino fundamental completo, 30% possuem o ensino médio incompleto e 20% finalizaram o ensino médio. Poucos conseguiram estudar até o ensino superior, 20% das mães. Ainda entre alas, 40% não finalizaram o ensino fundamental e 30% finalizaram o ensino médio. Embora o grau de escolaridade das mães seja maior que dos pais, nota-se pelos dados que ambos possuem baixo grau de escolaridade, com poucas exceções. O número de membros da família que moram numa mesma casa varia entre 4 e 7 pessoas, sendo que entre os alunos que responderam 30% possuem 5 a 6 pessoas em casa. Para o sustento da família, além de algum membro familiar trabalhar, 80 % recebem benefício social, sendo: 50% das famílias recebem Bolsa Família, 10% recebem Bolsa Escola, 20% conseguiram o Auxílio Emergencial do governo federal durante este tempo de pandemia. 20% não recebem nenhum tipo de benefício do governo e a pesquisa não teve alcance para elucidar as razões.

Todos os estudantes possuem em casa acesso a pelo menos 1 celular para os estudos e a interação em tempos de distanciamento social, sendo eu muitas vezes o equipamento é dividido com outro(s) familiar(es). Apenas 30% dos estudantes possuem notebook. Quanto à internet na residência, parte dos entrevistados, 50%, possuem internet via antena, 25% a cabo e 25% apenas no 4G. 50% possuem internet pré-paga nos celulares, que descrevem com qualidade limitada, já que normalmente a velocidade não passa de 3G.

Neste momento de pandemia, com o ensino remoto, todos sabemos que estar conectados à internet é essencial. No entanto, a minoria dos alunos tem acessado às videoaulas produzidas, sendo que 30 % dos estudantes afirmam fazer pesquisas de conteúdos como videoaulas no Youtube. Para a interação, um aplicativo chamado Conexão Escola 2.0, que funciona como um chat, também foi criado; mas apenas 40% dos estudantes declaram utilizá-lo. Já o aplicativo WhatsApp, opção “não” oficial para as interações, é usado por 80% dos estudantes que responderam à pesquisa. Já o Google Sala de Aula, um aplicativo onde é possível disponibilizar materiais diversos, é acessado por apenas 10 % os respondentes.

Quando perguntados sobre a disponibilidade de acesso à internet no celular ao longo do mês, 50% de estudantes utilizam planos pré-pagos, sendo que 90% responderam que a internet tem duração de 21 a 30 dias e os outros 10% de que a internet dura entre 11 e 20 dias. No entanto, 75% do total têm acesso a outro tipo de internet: cabo ou antena. Sobre a qualidade da internet, 80% responderam que é estável. Atualmente 80% dos alunos afirmam que realizam suas recargas de crédito no celular sem ajuda dos pais e 20% dependem dessa ajuda. 50% dos alunos declararam que estudam de 1 a 3 horas por semana, enquanto 30% estudam de 4 a 6 horas e 20%, de 7 a 11 horas. Vemos que o tempo destinado aos estudos é baixo se comparado com o tempo das aulas presenciais.

Em 2021, segundo ano do ensino remoto imposto pela pandemia, 100% dos alunos afirmaram que a escola tem utilizado mais ferramentas de ensino remoto e de comunicação que no ano passado, o que mostra maior emprenho e, provavelmente, maiores conhecimentos sobre as tecnologias e as práticas novas. Os grupos de WhatsApp têm sido um importante meio de comunicação ultrapassando ainda o aplicativo Conexão Escola. Entre os entrevistados 80% utilizam mais o WhatsApp, sendo que a escola instituiu um grupo de WhatsApp para cada turma.

Conclui-se que na maioria das vezes o que implica em um resultado negativo não é somente a falta de acesso a rede de internet de qualidade, mas também o baixo grau de escolaridade dos pais que muito influenciam neste processo, tal como os números mostram. Os alunos ainda declararam que este ano 95% dos professores têm interagido mais e que, apesar das dificuldades, o que se nota é que a escola tem fornecido mais apoio aos estudantes com diversas ferramentas. 

[1] Adelaine é estudante da Licenciatura em Educação do Campo (LEC), da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM). Esta pesquisa foi supervisionada pelo professor Vítor Sousa Dittz, da Escola Estadual Professor Leopoldo Pereira, e orientada pelo professor Carlos Henrique Silva de Castro, da UFVJM, no âmbito do PIBID-UFVJM.

Agradecimentos aos estudantes-sujeitos e suas famílias, bem como ao diretor da E. E. Professor Leopoldo Pereira, o professor Maycon Souza.

A Escola Estadual Professor Leopoldo Pereira e a pandemia: a voz da direção

A Escola Estadual Professor Leopoldo Pereira e a pandemia: a voz da direção

Por Izabela Pilar Alves Ferreira [1]

Este é um relato produzido a partir de um questionário semiestruturado respondido pelo diretor responsável pela Escola Estadual Professor Leopoldo Pereira, situada no município de Milho Verde, o Professor Maycon de Souza Ferreira. O questionário teve como objetivo obter algumas informações sobre o funcionamento da escola na pandemia. 

O Professor Maycon atua há 1 ano e 6 meses como diretor da escola e, antes de exercer a função, foi docente. Maycon é licenciado em geografia e mestre em Estudos Rurais pela UFVJM. O quadro de funcionários de sua escola é composto por 25 professores, 1 secretário, 1 supervisor, 7 auxiliares de limpeza, 1 diretor e 1 vice-diretor, com o número total de 345 alunos matriculados.

Milho Verde, distrito pertencente à cidade de Serro-MG, é um vilarejo que conta com uma população com menos de 3.000 mil habitantes. A referida escola funciona no modelo rural/campo nucleada e atende comunidades que chegam a um raio de quase 30 km da sede da escola, onde existe uma grande diversidade cultural, econômica e social. A escola recebe estudantes de aproximadamente 14 comunidades rurais que são: Milho Verde, Barra da Cega, Boqueirão, Macacos, Ausente de Baixo, Ausente de Cima, Três Barras, Lavoura, Chico Prata, Capivari, Amaral, Serra Da Bicha, Jacutinga e Vargem Do Breu.

Segundo o diretor, o Regime Especial de Atividades Não Presenciais (REANP) foi uma estratégia da Secretaria Estadual de Educação (SEE) – MG de mitigar os impactos pedagógicos e sociais provocados pela pandemia da Covid 19. Nesse sentido, o REANP cumpriu em partes sua proposta. Para Maycon, o maior desafio foi se adequar a um novo modelo o qual não estávamos preparados, com problemas como o acesso aos meios virtuais e outros. Contudo a escola se viu na necessidade de criar meios e estratégias para atender as demandas que surgiram. Os professores, então, tomaram como ponto de partida a leitura e estudo das orientações da SEE-MG e da Secretaria Escolar Digital (SED) – Diamantina. Desde então, o trabalho em equipe tem sido feito através de reuniões virtuais, com intuito de alinhar as estratégias semanalmente.

O diretor ainda diz que sua percepção final sobre o REANP-MG teve sim muitas falhas, mas foi a solução para que os estudantes não ficassem ainda mais prejudicados com toda essa situação que estamos vivendo. Sobre a merenda escolar, o diretor informa que, no início, não tinha muita informação de como proceder. No entanto, o governo de Minas Gerais providenciou a distribuição de kits de merenda, quando a escola trabalhou em parceria com a Secretaria Municipal de Educação da cidade de Serro.

O diretor destacou o cuidado das políticas públicas no processo de aquisição de merenda, com produtos alimentícios da agricultura familiar local, de acordo com as estratégias PNAE (Programa Nacional de Alimentação Escolar). Os alimentos que compuseram os kits entregues foram farinha, fubá, rapadura, tempero, colorau, entre outros. 

O diretor finaliza dizendo “Agora que a vacina está sendo liberada, temos uma pequena parcela de esperança que um dia as aulas possam voltar para o seu modo presencial, e que as aulas remotas possam ficar em segundo plano, ou até mesmo paralela a realidade rural, pois está sendo um grande desafio. Vamos continuar fazendo o nosso dever como cidadãos, contribuindo para uma educação e uma sociedade melhor no futuro”.

[1] Izabela é estudante da Licenciatura em Educação do Campo (LEC), da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM). Este relato foi produzido a partir de pesquisa supervisionada pelo professor Vítor Sousa Dittz, da Escola Estadual Professor Leopoldo Pereira, e orientada pelo professor Carlos Henrique Silva de Castro, da UFVJM, no âmbito do PIBID-UFVJM.

Agradecimentos aos estudantes-sujeitos e suas famílias, bem como ao diretor da E. E. Professor Leopoldo Pereira, o professor Maycon Souza.

Ensino remoto, educação no campo e acesso à internet

Ensino remoto, educação no campo e acesso à internet

Por Adelaine Aparecida Santos [1]

Este é um relato sobre a percepção de duas alunas de uma escola do campo sobre o ensino remoto, em vigor durante a pandemia. As informações foram baseadas em entrevistas realizadas via WhatsApp. As entrevistadas residem na zona rural do município do Serro, no Alto do Jequitinhonha, em Minas Gerais e seus nomes serão preservados.

As entrevistadas estudam na Escola Estadual Professor Leopoldo Pereira, localizada no distrito de Milho Verde, que atende aproximadamente 400 alunos. Essa é uma escola nucleada rural, o que significa que existe uma sede no distrito e outros prédios sob a mesma direção em comunidades rurais. Assim, atende a diversas comunidades vizinhas como Ausente, Barra da Cega, Capivari, Jacutinga, Serra da Bicha, Colônia, Chico Prata, Chacrinha, Três Barras e a própria comunidade de Milho Verde. Cerca de 75 por cento dos alunos utilizam transporte escolar, sendo que alguns residem próximo e outros em localidades mais distantes.

A primeira entrevistada reside na comunidade quilombola do Ausente, juntamente com sua avó e mais dois parentes. Sua mãe é cuidadora de idosos e possui curso superior completo. A estudante trabalha em casa ajudando sua avó nos afazeres domésticos. É uma jovem estudiosa. Para chegar até a escola utilizava, em tempos de ensino presencial, o transporte escolar, que levava em média uns 45 minutos na estrada. Seu maior sonho é ter um trabalho digno e entrar em uma universidade de fisioterapeuta. Esse desejo, de certa forma, vem da vontade de seguir os passos da mãe.

A segunda entrevistada reside na comunidade de Milho Verde com seus pais e dois irmãos. Ela caminha vinte minutos para chegar à escola.  Sua mãe é agricultura e o pai é pedreiro. Ambos fizeram o ensino fundamental.

Durante este período de pandemia e isolamento, as famílias das entrevistadas estiveram ocupadas no plantio de lavoura em suas terras. Na primeira família, ninguém recebeu nenhum tipo de ajuda financeira do governo, já na segunda família duas pessoas receberam o benefício Auxílio Emergencial.

As entrevistadas afirmaram que antes da pandemia, além dos estudos em casa, ainda tinham os deveres e os trabalhos que faziam com que estudassem por mais tempo. Ambas também relataram que no ano letivo de 2020 elas não fizeram a prova do Enem, mas se dedicaram aos estudos de uma a duas horas por dia, para dar conta de fazer todas as atividades.

As estudantes utilizam a internet no próprio celular para estudar, sendo que a primeira entrevistada usa dados móveis, já que não possui internet em casa. Estuda aproximadamente uma hora por dia. A segunda entrevistada utiliza o celular para acessar a internet e redes sociais também, mas tem wi-fi em casa, o que lhe garante melhor qualidade de internet. Atualmente ela trabalha como babá de segunda à sábado, das 7 às 18 horas. Estuda em média 2 horas por dia fazendo as questões das apostilas enviadas pela escola. Sua matéria preferida é língua portuguesa e seu maior sonho é fazer faculdade de enfermagem ou psicologia.

É importante destacar que neste momento em que a comunidade escolar passa por novos processos educativos, em decorrência da pandemia do covid-9, a Secretaria de Educação de Minas criou uma metodologia de ensino e o material denominados REANP (Regime Especial de Atividades Não Presenciais). Essa metodologia possui seus pontos positivos e negativos. Com ela, os estudantes passaram a estudar em casa, através do Plano de Estudo Tutorado-PET, que consiste em atividades impressas em apostilas que são entregues pela escola. Trata-se de apostilas que são entregues mensalmente nas próprias comunidades, para que os estudantes não tenham que se deslocar até a escola. As entrevistadas afirmaram que as questões das apostilas são complexas e alguns conteúdos de difícil entendimento. Criou-se também o programa de TV “Se Liga na Educação”, exibido na TV e no Youtube além do aplicativo Conexão Escola. No entanto esses são meios tecnológicos que a maioria dos estudantes não conseguem ter acesso, ora por falta de créditos no celular pré-pago, ora pela qualidade ruim da internet, segundo o relato das entrevistadas e minhas vivências no município.

Em relação à percepção sobre o REANP, a primeira aluna afirma que alguns conteúdos são fora do contexto e que as atividades são muito complexas. Além do difícil acesso à internet, que dificulta o acesso aos programas do Youtube e às pesquisas de forma geral, ela acha que os conteúdos dos PETs são em grandes quantidades e que há pouco tempo para se aprofundar. Com o que concorda a segunda entrevistada que diz que sua dificuldade foi conseguir aprender e finalizar as apostilas com os prazos dados. Reclamou também da falta de acompanhamento dos professores.

Para ambas, o novo método foi uma grande mudança. A primeira entrevistada opina que o REANP é um método razoável para dar continuidade ao ensino durante este tempo de pandemia e isolamento social. A segunda entrevistada, que estava no terceiro ano no momento da entrevista, pontua que mesmo se formando através das apostilas, acredita não ter bagagem em termos de conteúdo e afirma ter aprendido pouco com os PETs. Perguntadas sobre o maior problema do REANP, afirmaram que foi a falta de acompanhamento dos professores e a adaptação aos meios tecnológicos.

Sabemos que o ensino remoto foi um projeto de emergência para suprir a demanda do processo de ensino aprendizagem em casa. No entanto, a partir das entrevistadas e de observações pessoais de todo o cenário educacional na pandemia, notamos que os professores, alunos e pais não receberam muito bem as novas metodologias e ainda estão se adaptando. É um processo novo que leva tempo. Através desta pesquisa, mesmo sendo com duas estudantes apenas, ficou claro que os alunos do campo receberam o REANP sem uma estrutura adequada de acesso à rede de internet com qualidade, como também houve dificuldades em relação aos conteúdos e metodologias.

[1] Adelaine é estudante da Licenciatura em Educação do Campo (LEC), da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM). Este relato foi produzido a partir de pesquisa supervisionada pelo professor Vítor Sousa Dittz, da Escola Estadual Professor Leopoldo Pereira, e orientada pelo professor Carlos Henrique Silva de Castro, da UFVJM, no âmbito do PIBID-UFVJM.

Agradecimentos aos estudantes-sujeitos e suas famílias, bem como ao diretor da E. E. Professor Leopoldo Pereira, o professor Maycon Souza.

As percepções de estudantes de São Gonçalo do Rio das Pedras e Capivari sobre o REANP

As percepções de estudantes de São Gonçalo do Rio das Pedras e Capivari sobre o REANP

Por Taliele Santana Higino [1]

Este texto resulta de uma pesquisa realizada com alunos da Escola Estadual Leopoldo Pereira, localizada na comunidade de Milho Verde, e com alunos da Escola Estadual Mestra Virginia Reis, localizada na comunidade de São Gonçalo do Rio das Pedras, ambas no município de Serro/MG. A metodologia utilizada foi a aplicação de uma entrevista semiestruturada a partir de temas como: perfil socioeconômico, perfil dos estudantes, perspectivas para o futuro e a percepção sobre o REANP. O propósito das entrevistas foi compreender a forma como os alunos do ensino médio dessas escolas do campo percebem essa nova modalidade de ensino não presencial, suas consequências e impactos em suas aprendizagens.

O material coletado para o estudo, por meio de entrevistas com três estudantes, permitiu analisar as informações que o questionário propunha obter. Nas entrevistas, o WhatsApp foi o principal meio de comunicação. Dois alunos, um menino e uma menina, moram na comunidade de Capivari e relataram que, no período pré-pandemia, no ensino presencial, uma das suas dificuldades para estudar era ter que acordar cedo e pegar o ônibus escolar, sendo que grande parte do percurso não é pavimentado e o percurso leva em torno de 30 minutos mais ou menos, já que a escola fica em Milho Verde. Já o terceiro estudante entrevistado mora na comunidade de São Gonçalo do Rio das Pedras e leva de 10 a 15 minutos para chegar até sua escola, a Escola Estadual Mestra Virginia Reis.

Os alunos de Capivari acessam a internet pelo celular, pois a comunidade não possui antena de internet; já o aluno de São Gonçalo acessa internet na rede wi-fi. Os pais dos três alunos entrevistados receberam o auxílio emergencial e recebem Bolsa Família. Os pais de Capivari estudaram até o 5º ano no ensino fundamental, já suas mães chegaram a estudar até o ensino médio. Quanto aos pais de São Gonçalo do Rio das Pedras, ele tem ensino médio completo e ela tem ensino superior.

Os três entrevistados gostam de estudar e afirmaram que mesmo no período de pandemia, além de frequentarem às aulas, estudavam em média três vezes na semana, cerca de uma hora por dia. Em época de prova estudavam mais tempo. As matérias favoritas variam entre português, biologia e geografia. Os alunos possuem o hábito de utilizar a internet como ferramenta para estudar para as provas, fazer as atividades de pesquisas e atividades de casa. Relataram que depois que se formarem no ensino médio pretendem fazer faculdade. A aluna de Capivari relatou que seu sonho é fazer Veterinária, pois gosta dos animais. O aluno de Capivari pretende fazer faculdade de psicologia para ajudar as pessoas que têm doenças mentais e o aluno de São Gonçalo pretende fazer medicina.

A opinião dos três entrevistados sobre o Plano de Estudos Tutorados (PET) não foi tão positiva, pois relataram que estudar em casa sem a ajuda dos professores não foi uma boa ideia e o processo foi muito difícil. Segundo a aluna, “…na escola, com os professores, já era difícil. Imagina sem as explicações! Assim o aprendizado acaba ficando a desejar”. Assim, a maior dificuldade encontrada pela estudante foi fazer as atividades sem ter a presença de um professor por perto para estar explicando passo a passo de como são feitas as atividades, como ocorre dentro da sala de aula.

De acordo com os entrevistados de Capivari, o que poderia ter mudado nos PETs são os exemplos e as explicações de como fazer as atividades, que deveriam ser mais bem contextualizadas. Também afirmaram que a comunicação entre eles e os demais alunos fluiu bem através do grupo da sala pelo WhatsApp, ambiente onde muitas atividades foram feitas com ajuda dos colegas.

Os três estudantes consideraram o ano escolar letivo muito difícil, por não irem para as escolas e por não compartilharem dos conhecimentos dos professores. Para o ano que se inicia, esperam que tudo possa voltar ao normal, com o fim da pandemia e com a volta das aulas presenciais.

Através deste relato, concluímos que problemas como o acesso precário à internet e o grau de escolaridade dos pais influenciaram na aprendizagem dos alunos entrevistados nesse período. Contudo, a maior dificuldade encontrada foi a ausência do ensino presencial juntamente com o acompanhamento dos professores, assim como a metodologia utilizada na apresentação dos conteúdos.

[1] Taliele é estudante da Licenciatura em Educação do Campo (LEC), da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM). Este relato foi produzido a partir de pesquisa supervisionada pelo professor Vítor Sousa Dittz, da Escola Estadual Professor Leopoldo Pereira, e orientada pelo professor Carlos Henrique Silva de Castro, da UFVJM, no âmbito do PIBID-UFVJM.

Agradecimentos aos estudantes-sujeitos e suas famílias, bem como ao diretor da E. E. Professor Leopoldo Pereira, o professor Maycon Souza.

Educação do campo na pandemia: descobrindo os desafios do ensino remoto e inovando as práticas pedagógicas

Educação do campo na pandemia: descobrindo os desafios do ensino remoto e inovando as práticas pedagógicas

Por Maria Madalena de Oliveira Gomes [1]

Este é um relato de um trabalho desenvolvido no Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID) do Curso de Licenciatura em Educação do Campo (LEC) da UFVJM. O trabalho reuniu um conjunto de entrevistas, sendo que este relato em específico relata a percepção de dois alunos de escola do campo sobre o Regime Especial Não Presencial (REANP-MG). A pesquisa desenvolvida com esses dois estudantes nos possibilita ver o cenário de ensino remoto vivenciado no período da pandemia de uma forma mais crítica e reflexiva, como busco mostrar aqui.

As entrevistas foram semiestruturadas, realizadas de forma virtual, com o foco em apresentar a problemática vivenciada pela comunidade da Escola Estadual Mestra Virginia Reis (EEMV) a partir, sobretudo, do contexto da pandemia. Assim, apresentarei aqui os resultados das entrevistas realizadas com dois estudantes da referida escola, sendo um aluno e uma aluna.  O perfil socioeconômico dos entrevistados se assemelha muito, pois são moradores do próprio distrito, com facilidades e dificuldades de acesso semelhantes.

A influência materna teve um papel crucial no que diz respeito às perspectivas que os estudantes têm para o futuro, pois relatam que as mães os conscientizam permanentemente sobre a importância de se dedicarem aos estudos. Em suas opiniões, o REANP mostrou-se ineficaz em muitos aspectos, pois não ofertou as mesmas condições a todos os estudantes, como por exemplo, o acesso amplo a internet, sobretudo para assistir as videoaulas indicadas. O novo sistema de ensino, embora tenha proposto uma modalidade para dar sequência ao processo de ensino aprendizagem, não considerou a diversidade existente, ficando mais evidente a desigualdade social e econômica no âmbito educacional. Nesse sentido, os entrevistados relataram que tiveram grandes dificuldades.

Se ampliarmos o campo de visão, acabamos observando que não há igualdade de direitos no país, pois nem todos os estudantes têm em casa as mesmas condições de aprendizado. Afirmo isso porque tenho condições de auxiliar nas atividades dos meus próprios filhos, mas há famílias vizinhas em que os pais não são alfabetizados, que os alunos não têm acesso às fontes de pesquisa, e que os professores não conseguem ajudar adequadamente à distância. Assim, além do problema de acessos às tecnologias, outro desafio para os estudantes foi aprender por conta própria ou através do copia e cola.

Por outro lado, um dos benefícios deste sistema foi o fato de conscientizar o corpo escolar de que há diversas ferramentas que podem ser usadas a serviço da educação, ou seja, grande parte dos professores que conduziam suas disciplinas de forma bastante tradicional, precisaram se atualizar, adequando-se às novas tecnologias. Nesse sentido, o celular, que antes não podia ser usado de forma alguma pelos estudantes durante as aulas, foi a ferramenta mais utilizada para comunicação entre escola, estudantes e famílias.

[1] Maria Madalena é estudante da Licenciatura em Educação do Campo (LEC), da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM). Este relato foi produzido a partir de pesquisa supervisionada pelo professor Vítor Sousa Dittz, da Escola Estadual Professor Leopoldo Pereira, e orientada pelo professor Carlos Henrique Silva de Castro, da UFVJM, no âmbito do PIBID-UFVJM.

Agradecimentos aos estudantes-sujeitos e suas famílias, bem como ao diretor da E. E. Professor Leopoldo Pereira, o professor Maycon Souza.

REANP escancara desigualdades e dificuldades

REANP escancara desigualdades e dificuldades

Por Maria Flor de Maio de Jesus Silva [1]

 

Trago aqui um relato de entrevistas realizadas com alunos que frequentam o ensino médio da Escola Estadual Professor Leopoldo Pereira, localizada na comunidade de Milho Verde, distrito do município do Serro, Minas Gerais. A instituição é considerada escola do campo pelo perfil dos estudantes que atende. Trata-se de uma escola nucleada rural, ou seja, o seu espaço físico está situado na comunidade de Milho Verde, mas a área de abrangência da comunidade escolar é maior que a área onde a escola está localizada. 

Atualmente, a escola atende a 14 comunidades da zona rural que englobam desde a sede do distrito de Milho Verde, que tem uma pequena infraestrutura urbana, até localidades como a Serra da Bicha, o Amaral e a Jacutinga, lugares onde o acesso, seja às casas, à infraestrutura de comunicação, aos meios de transporte ou à saúde, é muito precário.

Diante da pandemia da Covid19, a Escola Estadual Professor Leopoldo Pereira, como as escolas de o estado, suspendeu as aulas presenciais e passou a buscar formas alternativas de manter o processo de ensino-aprendizagem de forma remota. Nesse período, em consonância com as propostas do governo estadual de Minas Gerais, utilizou principalmente os recursos tecnológicos como aplicativos e plataformas on-line. A estratégia adotada escancara a desigualdade e as dificuldades enfrentadas pelos estudantes e professores, pois alguns problemas comuns à maioria dos alunos têm origens econômicas como: acesso limitado a internet, falta de computadores e de espaço em casa, problemas sociais, sobrecarga de trabalho docente e baixa escolaridade dos familiares.

Foram entrevistados três alunos do ensino médio com o objetivo de obter subsídio para essa análise. Em relação ao contexto socioeconômico dos estudantes, podemos perceber que os estudantes A e B residem na zona rural, onde fazem o uso do transporte escolar para acesso à escola presencial. Já o estudante C mora próximo à escola, ou seja, na sede do distrito. Os estudantes A e B não possuem internet na comunidade e, assim, fazem o uso de dados móveis para estudar quando fazem recarga no telefone pré-pago, quando podem, pois acham caro. O estudante C tem internet em casa e em sua comunidade há duas prestadoras desse serviço.

As famílias dos estudantes A e B recebem auxílio do governo como o Auxílio Emergencial e o Bolsa Família, os pais são trabalhadores rurais e possuem o ensino fundamental. Os pais de C concluíram o ensino médio, seu pai, trabalha numa empresa de abastecimento de água. Sua mãe é dona de casa e recebe Bolsa Família. A qualidade de internet na zona rural é péssima, pois quase não há lugar com sinal de operadoras de celular e, quando há sinal, a transmissão dos dados funciona lentamente. Todos os três estudantes, no momento, não trabalham, ajudam nos afazeres domésticos e estudam.

No que se refere ao perfil dos entrevistados enquanto estudantes e dedicação à escola, o entrevistado A disse que não gosta muito de estudar e que só faz os deveres de casa quando solicitado. O conteúdo com o qual mais se identifica é história. Já o estudante B se dedica todos os dias aos estudos, independentemente de ser época de prova ou não. Ele afirma que sempre foi participativo nas atividades e com o ensino remoto dedicou-se ainda mais aos estudos. Disse também que gosta de “enturmar” com os colegas de sala. A disciplina que mais se identifica é biologia. O estudante C é um estudante muito esforçado, pois declarou que gosta muito de estudar e sempre dedicou aos estudos diariamente.

Em relação às percepções e preferências para seus futuros, todos os três entrevistados não pretendem ficar no campo, afirmam que querem cursar o ensino superior e ter uma profissão na cidade. Já sobre as percepções desses estudantes sobre o Plano de Estudos Tutorados (PET), foram distintas. Afirmaram que no início acreditavam que aprender não seria possível, mas perceberam também que as atividades seriam também uma forma de manter uma conexão com a escola. Com o passar do tempo, a didática dos PETS foi evoluindo, porém afirmaram que não conseguiram aprender todos os conteúdos e que as atividades eram de difícil entendimento, sobretudo por não terem internet de qualidade para assistirem às videoaulas. Os entrevistados disseram que assimilam melhor o conteúdo no ensino presencial do que a distância. Também perceberam que as formas de interações sociais foram prejudicadas com o distanciamento social. Todos possuem esperança de que a pandemia acabe logo.

Podemos observar que são realidades bem diferentes, mas o grande aprendizado deste período está realmente nas diferenças de contexto entre estudantes, professores e escolas. As desigualdades são multidimensionais, o que faz com que sejam mais intensas para alguns estudantes do que para outros, mesmo entre estudantes que frequentam a mesma escola, como mostra o resultado da análise das entrevistas que aqui finalizo, uma vez que são determinadas por suas condições sociais.

[1] Maria Flor de Maio é estudante da Licenciatura em Educação do Campo (LEC), da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM). Este relato foi produzido a partir de pesquisa supervisionada pelo professor Vítor Sousa Dittz, da Escola Estadual Professor Leopoldo Pereira, e orientada pelo professor Carlos Henrique Silva de Castro, da UFVJM, no âmbito do PIBID-UFVJM.

Agradecimentos aos estudantes-sujeitos e suas famílias, bem como ao diretor da E. E. Professor Leopoldo Pereira, o professor Maycon Souza.

A percepção de alunos das comunidades rurais de Serra da Bicha, Amaral e Capivari sobre o REANP

A percepção de alunos das comunidades rurais de Serra da Bicha, Amaral e Capivari sobre o REANP

Por Juliana da Paz Ferreira [1]

Este breve relato é resultado de uma pesquisa realizada com três alunos da Escola Estadual Leopoldo Pereira, situada em Milho Verde, distrito de Serro/MG. A instituição é uma escola nucleada rural, que atualmente atende cerca de quatorze comunidades: Amaral, Ausente de Cima, Ausente de Baixo, Barra da Cega, Baú, Boqueirão, Cabeça de Bernardo, Capivari, Chacrinha, Colônia, Córrego da Areia, Jacutinga, Serra da Bicha e Três Barras. O relato aborda, sobretudo, o Regime Especial de Atividades Não Presenciais (REANP) implementado em todo o estado na pandemia e, ainda, a percepção e as expectativas dos alunos entrevistados moradores das comunidades de Serra da Bicha, Amaral e Capivari.

Uma vez aplicados os questionários aos três estudantes da Escola Estadual Leopoldo Pereira, notei que em relação ao núcleo familiar, dois deles disseram que seus pais são analfabetos e possuem renda muito baixa e que sobrevivem apenas da agricultura familiar e do programa Bolsa Família. Parece que o fato tem um impacto direto no aprendizado, pois nenhum deles tem ferramentas como um computador ou uma internet com boa qualidade para os estudos.

Os alunos moram muito longe da escola e um deles precisa de tomar dois ônibus para chegar até ela, outro fator que dificulta o aprendizado. Os relatos são de que acordam muito cedo e o cansaço da viagem é grande. Além disso, um aluno trabalha meio período para ajudar os pais no sustento de casa. Diante de tantos esforços, podemos notar que são muito dedicados e não medem esforços para superar suas dificuldades.

Para os estudos, na falta do computador e da internet a cabo, utilizam a internet com dados móveis no celular, que não possui boa qualidade, além de livros didáticos para auxiliá-los nas atividades impressas do Plano de Ensino Tutorado (PET) disponibilizadas pelos professores. Essa foi a principal dificuldade relatada pelos três, pois é o principal fator contra suas aprendizagens.

Com relação ao REANP, consideram como única opção, pois perder um ano letivo inteiro seria um prejuízo muito grande no final da formação. Relataram ainda que muitos obstáculos surgiram para o entendimento de conteúdos e resolução de exercícios, mas o corpo docente utilizou metodologias interativas como, por exemplo, grupos de apoio através do aplicativo do WhatsApp e indicação de videoaulas. Apesar das dificuldades, relatam que os professores estavam sempre disponíveis para tirar quaisquer dúvidas que surgissem.

Mesmo com os esforços relatados, os estudantes mostraram-se céticos sobre o aprendizado à distância, pois perceberam que estudar em casa, sem o auxílio presencial do professor e com tanta coisa que tira a atenção, é muito difícil. Concluíram que nas aulas presenciais, sem dúvida, o aprendizado é bem maior.

Neste ano que finalizou, os três alunos entrevistados optaram por não fazer o Enem. Todos sonham em dar continuidade aos estudos e se qualificarem, mas acham que o ensino remoto pode prejudicar muito os alunos do campo no exame do Enem.

Um deles sugeriu que algo que ajudaria bastante seria que os próprios professores gravassem videoaulas com a explicação das disciplinas e ao invés de indicarem videoaulas de professores desconhecidos, como acontece no REANP. O mesmo estudante acredita ainda que ajudaria muito se os PETs também fossem elaborados pelos próprios professores da escola com conteúdos que retratassem suas realidades. Ele relata ainda que os PETs possuem atividades muito resumidas, o que acredita dificultar o aprendizado.

A partir desse relato e das posições dos estudantes, é importante refletir sobre a eficácia das metodologias, bem como os pontos positivos e negativos do REANP; não apenas nas comunidades rurais, mas nas periferias de forma geral, uma vez que o Brasil é um país de grandes diferenças.

[1] Juliana é estudante da Licenciatura em Educação do Campo (LEC), da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM). Este relato foi produzido a partir de pesquisa supervisionada pelo professor Vítor Sousa Dittz, da Escola Estadual Professor Leopoldo Pereira, e orientada pelo professor Carlos Henrique Silva de Castro, da UFVJM, no âmbito do PIBID-UFVJM.

Agradecimentos aos estudantes-sujeitos e suas famílias, bem como ao diretor da E. E. Professor Leopoldo Pereira, o professor Maycon Souza.

O meio rural e o REANP a partir da ótica de Téo e Bob

O meio rural e o REANP a partir da ótica de Téo e Bob

Por Claudemar Alves Ferreira [1]

 

Este é um relato que traz a percepção de dois alunos do ensino médio de uma escola nucleada rural sobre a proposta do Regime Especial de Atividades Não Presenciais (REANP). Refiro-me à Escola Estadual Professor Leopoldo Pereira que está localizada no distrito de Milho Verde, município do Serro/MG, que atualmente atende a alunos de quatorze comunidades rurais diferentes.

Este relato é feito a partir de entrevistas semiestruturas que abordaram temas sobre contexto social-econômico dos alunos entrevistados, seus perfis enquanto estudante antes e durante a pandemia, as perspectivas para futuro e como vivenciaram o REANP. Para isso, realizei entrevistas com dois alunos do ensino médio, com os quais decidimos que suas identidades não seriam divulgadas. O primeiro aluno entrevistado irei identificá-lo como Bob, e o segundo aluno como Téo.

Bob reside no distrito de Milho Verde e, segundo relatou, para chegar até a escola, antes da pandemia, gastava de 10 a 15 minutos a pé. Possui internet móvel em seu celular, que classifica como relativamente boa, e não tem internet em casa. Na sua casa moram seis pessoas, seu pai é agricultor familiar e sua mãe é do lar. Sua família recebeu o Auxílio Emergencial do governo. O seu pai não teve condições de estudar e sua mãe estudou até a quarta série. Bob só trabalha quando acha bicos.

Téo reside na comunidade do Ausente, comunidade próxima ao distrito de Milho Verde, e o percurso de sua casa até a escola, utilizando o transporte escolar ofertado pela prefeitura, é de quarenta e cinco minutos. Ele usa internet móvel de seu celular, já que não possui internet em casa. Na sua comunidade, de maneira geral, a qualidade de internet não é muito boa. Em sua casa, igualmente na de Bob, residem seis pessoas. Sua mãe é trabalhadora do lar e estudou até a oitava série, já o seu pai é pedreiro e estudou até a quarta série. Téo costuma trabalhar apenas nos finais de semana de servente de pedreiro.

Bob não gosta muito de estudar e depois da aula, antes da pandemia, estudava quando tinha disponibilidade de tempo e disposição, isso para as tarefas diárias, mas não tirava nenhum tempinho para estudar algo mais. Atualmente, no ensino remoto, estuda duas horas e meia por dia para resolver as tarefas do REANP. Quando estavam acontecendo as aulas presenciais, afirma que era participativo, mas não gostava de apresentar trabalhos. Também gostava de estudar em grupo, pois conseguia assimilar melhor os conteúdos estabelecendo uma interação para além do professor-aluno, mas também aluno-aluno.

Téo diz que gosta de estudar, mas antes da pandemia, além de frequentar as aulas, estudava somente para fazer as provas. Com o ensino remoto ele tira duas horas e meia todos os dias para estudar. Téo diz que, no ensino presencial, era um aluno participativo e interagia com os alunos e professores e não tinha medo de tirar suas dúvidas na sala. Afirmou que sempre gostava de apresentar trabalhos, porém gostava de fazer suas atividades de forma individual.

Bob diz que os professores são bons e, antes da pandemia, alguns utilizavam métodos de ensinos que não ajudavam na compreensão dos alunos, já outros utilizavam recursos tecnológicos para facilitar o aprendizado dos alunos. De toda forma, preferia utilizar mais os livros e o caderno do que as novas tecnologias.

Téo relata que seus professores são bons e, no ensino presencial, eram dinâmicos, sempre utilizavam a internet para fazer pesquisa e que indicavam videoaulas para maior compreensão dos conteúdos. Afirma também que usava as redes sociais no auxílio das atividades.

Bob tem vontade de cursar uma faculdade, mas não decidiu em que área. Esse ano fez o Enem e diz que deve ter tirado uma nota razoável. Ele afirma que não pretende permanecer na sua comunidade, pois quer trabalhar naquilo que gosta para realizar seu sonho.

O maior sonho de Téo, depois de se formar no ensino médio, é conseguir um emprego e fazer uma faculdade. Ele ainda não decidiu que carreira irá seguir. Esse ano ele fez o Enem e acha que se saiu bem. Téo também não tem vontade de permanecer na comunidade, diz que tem vontade de conhecer novos lugares e horizontes com finalidade de conseguir um bom trabalho.

Bob relata que os PETs (Planos de Estudos Tutorados) foram muito difíceis, sendo que sua principal dificuldade foi fazer as atividades e compreender conteúdos que não tinha visto antes da pandemia. Segundo Bob, ele não compreendia muito as explicações das videoaulas.

Sobre os PETs e esse novo método de ensino, Téo percebeu que foi um grande desafio para todos, principalmente para os alunos do campo que tiveram algumas dificuldades em relação ao acesso à rede de internet. Ele avalia os PETs como bons, porém teve muita dificuldade para compreender os conteúdos, pois as explicações não eram de fácil entendimento. O entrevistado afirmou que fez as atividades sozinho sem a ajuda dos professores.

As dificuldades que Bob encontrou foram superadas com a leitura de livros pedagógicos enviados pela escola. Mesmo assim, afirma que com o ensino remoto não conseguiu aprender quase nada e que nas aulas presenciais conseguia aprender muito mais. O que ele mais deseja nesse momento é que, neste ano, todas as pessoas possam ser imunizadas contra o coronavírus.

Mediante os relatos que trago dessas duas entrevistas, percebe-se que o ensino remoto foi e está sendo um momento de grande dificuldade para todos, pois os alunos, famílias e comunidade escolar estavam despreparados e desprevenidos. O que desmotivou alunos e professores. Percebe-se ainda que o perfil socioeconômico dos entrevistados é de baixa renda, o que influencia o aprendizado na medida que faltam alguns recursos de infraestrutura, como o acesso à rede de internet, e que as metodologias não ajudam nas dificuldades e na compreensão dos conteúdos.

[1] Claudemar é estudante da Licenciatura em Educação do Campo (LEC), da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM). Este relato foi produzido a partir de pesquisa supervisionada pelo professor Vítor Sousa Dittz, da Escola Estadual Professor Leopoldo Pereira, e orientada pelo professor Carlos Henrique Silva de Castro, da UFVJM, no âmbito do PIBID-UFVJM.

Agradecimentos aos estudantes-sujeitos e suas famílias, bem como ao diretor da E. E. Professor Leopoldo Pereira, o professor Maycon Souza.

Distância e dificuldades: a importância do professor e da contextualização no ensino remoto do campo

Distância e dificuldades: a importância do professor e da contextualização no ensino remoto do campo

Por Ana Roberta Cléo dos Santos Ferreira [1]

Trago aqui um relato sobre a percepção de duas alunas de uma escola nucleada rural sobre o Regime Especial de Atividades Não Presenciais (REANP) em Minas Gerais. Refiro-me à Escola Estadual Professor Leopoldo Pereira, localizada no distrito de Milho Verde, município do Serro/MG. A instituição atende alunos de quatorze comunidades rurais, mas este relato é sobre o contexto social-econômico de duas estudantes apenas, seus perfis enquanto estudantes, perspectivas para futuro e, o mais importante, como vivenciaram o REANP. Para conseguir essas informações, realizei entrevistas através do WhatsApp com as alunas, cujos nomes não serão revelados.

A primeira estudante reside no distrito de Milho Verde e para chegar à escola no regime presencial se deslocava a pé por cerca de 15 minutos. Não tem irmãos. Sua mãe trabalha na área da limpeza em um posto de saúde e seu pai é trabalhador rural. Não se formaram no ensino médio. A aluna tem o seu próprio empreendimento de venda de eletrônicos e nos feriados trabalha no caixa de um mercadinho.

A segunda estudante mora na comunidade de Capivari e, para chegar à escola, levava 40 minutos através de um ônibus escolar. No momento, seu pai se encontra desempregado e sua mãe é servente escolar. Sua família é composta por 5 pessoas, sendo que uma irmã e seu pai receberam o Auxílio Emergencial. Sua mãe formou-se em história e o seu pai estudou até o primeiro ano do ensino médio. A estudante não está empregada no momento.

Nas localidades onde residem, a internet é de fácil acesso e somente em tempos de chuva não funciona com boa qualidade. Assim, usam a internet para estudar e o WhatsApp com o mesmo objetivo. A primeira aluna relata que gosta muito de estudar, que é uma aluna dedicada aos estudos mesmo quando as aulas eram presenciais. Afirma que gostava de interagir com os colegas em sala, perguntava e participava de todas as discussões. A disciplina que mais gosta é Biologia.

Já a segunda aluna confessou que não tinha muito hábito de estudar e que tinha um pouco de dificuldade em matemática. Ela relatou que sua prima, da mesma sala, era mais esperta para compreender as matérias; com isso, estudavam juntas. Diferente da primeira entrevistada, que diz que sempre preferiu estudar sozinha, a segunda sempre gostou de estudar com os colegas.

Ambas afirmaram que alguns professores já utilizavam as ferramentas da internet como recurso didático, sobretudo para realizarem pesquisas no Google e assistirem a vídeos no Youtube, que eram alguns de seus deveres de casa. Para elas, a internet sempre auxiliou nos estudos.

A primeira estudante pretende fazer faculdade de medicina veterinária. Disse que desde criança é apaixonada por animais. Esse ano ela fez o ENEM e, em suas palavras, no primeiro dia se saiu bem, mas no segundo teve maior dificuldade. Já a outra aluna pretende fazer um curso profissionalizante que lhe possa ser útil profissionalmente e, posteriormente, deseja fazer curso superior em enfermagem, mesma profissão de sua irmã.

Ambas têm vontade de permanecer na comunidade onde residem, mas devido aos estudos acham que terão que sair para cursar a faculdade. O maior sonho da primeira é se formar e trabalhar na profissão que gosta. E a segunda deseja ter sua casa própria.

Perguntadas sobre o ensino remoto, o ponto positivo que observaram foi a capacidade de desenvolverem estratégias de pesquisa para resolverem as atividades. Afirmaram que o apoio dos professores pelo chat do WhatsApp foi de suma importância. Apontaram como ponto negativo o fato dos próprios professores das vídeo aulas dos PETs (Plano de Estudo Tutorados), muitas vezes, não explicarem os conteúdos com clareza, sendo que não condiziam, muitas vezes, com as atividades que estavam nos próprios PETs.

A primeira aluna afirma que, a partir do quinto PET, percebeu que não estava progredindo muito somente assistindo as videoaulas e, então, decidiu assistir a outros vídeos no Youtube, onde os professores explicam com mais clareza. Ambas concordam que o ano letivo foi muito difícil, tanto para os estudos, quanto para o psicológico. Concordam ainda que aprendiam mais nas aulas presenciais do que no ensino remoto. Com o novo método, elas sentiram uma grande dificuldade na realização do ENEM.

Ao fim, percebi que o maior problema dessas alunas não foi o acesso à internet, pois classificaram esse serviço na comunidade como bom. Pelos relatos, o que mais impactou de maneira negativa foi a questão de as aulas serem a distância com professores estranhos, sem as explicações dos conteúdos do PETs pelos professores no dia a dia, apesar do WhatsApp ter funcionado bem para algumas dúvidas. Com isso, muitos se sentiram despreparados e desmotivados.

[1] Ana Roberta é estudante da Licenciatura em Educação do Campo (LEC), da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM). Este relato foi produzido a partir de pesquisa supervisionada pelo professor Vítor Sousa Dittz, da Escola Estadual Professor Leopoldo Pereira, e orientada pelo professor Carlos Henrique Silva de Castro, da UFVJM, no âmbito do PIBID-UFVJM.

Agradecimentos aos estudantes-sujeitos e suas famílias, bem como ao diretor da E. E. Professor Leopoldo Pereira, o professor Maycon Souza.