Educação do campo na pandemia: descobrindo os desafios do ensino remoto e inovando as práticas pedagógicas

Por Maria Madalena de Oliveira Gomes [1]

Este é um relato de um trabalho desenvolvido no Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID) do Curso de Licenciatura em Educação do Campo (LEC) da UFVJM. O trabalho reuniu um conjunto de entrevistas, sendo que este relato em específico relata a percepção de dois alunos de escola do campo sobre o Regime Especial Não Presencial (REANP-MG). A pesquisa desenvolvida com esses dois estudantes nos possibilita ver o cenário de ensino remoto vivenciado no período da pandemia de uma forma mais crítica e reflexiva, como busco mostrar aqui.

As entrevistas foram semiestruturadas, realizadas de forma virtual, com o foco em apresentar a problemática vivenciada pela comunidade da Escola Estadual Mestra Virginia Reis (EEMV) a partir, sobretudo, do contexto da pandemia. Assim, apresentarei aqui os resultados das entrevistas realizadas com dois estudantes da referida escola, sendo um aluno e uma aluna.  O perfil socioeconômico dos entrevistados se assemelha muito, pois são moradores do próprio distrito, com facilidades e dificuldades de acesso semelhantes.

A influência materna teve um papel crucial no que diz respeito às perspectivas que os estudantes têm para o futuro, pois relatam que as mães os conscientizam permanentemente sobre a importância de se dedicarem aos estudos. Em suas opiniões, o REANP mostrou-se ineficaz em muitos aspectos, pois não ofertou as mesmas condições a todos os estudantes, como por exemplo, o acesso amplo a internet, sobretudo para assistir as videoaulas indicadas. O novo sistema de ensino, embora tenha proposto uma modalidade para dar sequência ao processo de ensino aprendizagem, não considerou a diversidade existente, ficando mais evidente a desigualdade social e econômica no âmbito educacional. Nesse sentido, os entrevistados relataram que tiveram grandes dificuldades.

Se ampliarmos o campo de visão, acabamos observando que não há igualdade de direitos no país, pois nem todos os estudantes têm em casa as mesmas condições de aprendizado. Afirmo isso porque tenho condições de auxiliar nas atividades dos meus próprios filhos, mas há famílias vizinhas em que os pais não são alfabetizados, que os alunos não têm acesso às fontes de pesquisa, e que os professores não conseguem ajudar adequadamente à distância. Assim, além do problema de acessos às tecnologias, outro desafio para os estudantes foi aprender por conta própria ou através do copia e cola.

Por outro lado, um dos benefícios deste sistema foi o fato de conscientizar o corpo escolar de que há diversas ferramentas que podem ser usadas a serviço da educação, ou seja, grande parte dos professores que conduziam suas disciplinas de forma bastante tradicional, precisaram se atualizar, adequando-se às novas tecnologias. Nesse sentido, o celular, que antes não podia ser usado de forma alguma pelos estudantes durante as aulas, foi a ferramenta mais utilizada para comunicação entre escola, estudantes e famílias.

[1] Maria Madalena é estudante da Licenciatura em Educação do Campo (LEC), da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM). Este relato foi produzido a partir de pesquisa supervisionada pelo professor Vítor Sousa Dittz, da Escola Estadual Professor Leopoldo Pereira, e orientada pelo professor Carlos Henrique Silva de Castro, da UFVJM, no âmbito do PIBID-UFVJM.

Agradecimentos aos estudantes-sujeitos e suas famílias, bem como ao diretor da E. E. Professor Leopoldo Pereira, o professor Maycon Souza.

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