Alguns números sobre o ensino remoto na comunidade do Ausente de Baixo

Por Maria Madalena de Oliveira Gomes [1]

O presente texto traz informações sobre uma pesquisa realizada na Escola Estadual Professor Leopoldo Pereira, que atende a diversas comunidades rurais no entorno do distrito de Milhos Verde, município do Serro-MG, mais especificamente dos alunos do ensino médio na comunidade Ausente de Baixo. Esta é uma atividade desenvolvida pelos integrantes do PIBID-UFVJM, subprojeto da Licenciatura em Educação do Campo, e teve como foco entender como está sendo a trajetória de estudos desses alunos durante a pandemia, assim como as questões relacionadas a acesso, econômicas e sociais.

Para que esta pesquisa fosse realizada, a metodologia utilizada foi um questionário no Google Forms que continha 37 questões fechadas e 1 aberta opcional ligadas a trajetória escolar do estudante entrevistado, condições das famílias e condições de estudos na pandemia. Quando os estudantes entrevistados não tinham condições de responderem diretamente o formulário, as perguntas foram realizadas através do WhatsApp.

Na comunidade Quilombola do Ausente de Baixo, responderam ao questionário sete alunos com idades entre 15 e 17 anos, cursando o ensino médio. Em relação às características socioeconômicas das famílias, todas são de baixa renda pois 100% receberam algum tipo de auxílio do governo no ano de 2021, seja Bolsa Família ou Bolsa Escola. Os grupos familiares são numerosos, todos com mais de cinco filhos. A renda de muitos nem sempre fornece o que é necessário para o estudo, como o acesso à internet, ou até mesmo o celular. Vemos que os moradores comunidade de Ausente de Baixo sobrevivem da agricultura familiar de subsistência, sendo que a maioria, 60%, conta também com a ajuda do Auxílio Emergencial. Entre os pais, apenas 20% possuem o ensino fundamental completo. Entre os irmãos, 80% possuem ensino médio completo.

A partir da análise das respostas das entrevistas, percebe-se que os recursos tecnológicos tv e internet estão presentes em 100% das famílias. Quanto ao acesso à internet, 80% são por meio do 4G dos celulares e 20% é via antena. O acesso pré-pago representa 80% do total, sendo que 20% falaram que suas recargas mensais duram de um a dez dias; outros 20%, de onze a vinte dias; e 60% de vinte um a trinta dias. 80% afirmaram que o sinal é instável. Ou seja: o número de estudantes que acessa a internet com estabilidade ao longo de todo o mês é ínfimo.

Contemplando a questão 38, questão aberta onde foi solicitado que os alunos relatassem a principal dificuldade encontrada no ensino remoto, 100% dos alunos afirmam que ir à escola antes ajudava muito mais, visto que as relações interpessoais são de fundamental importância no processo ensino aprendizado. A maioria declarou que as metodologias de agora até ajudam, mas não se comparam às vantagens ao ensino presencial. Afirmaram que durante a pandemia eles consideram que está sendo bem mais difícil aprender o conteúdo, pois mesmo que assistam a videoaulas é difícil adquirir todo conhecimento que se é passado. Isso se dá pelo fato de muitos dos alunos não terem ajuda apropriada e mediação do professor, como também pela falta de conhecimento para manuseio e utilização das ferramentas tecnológicas como o Google Sala de Aula, o Conexão Escola 2.0, e mesmo o Youtube. Além disso, foi apontada que 80% dos alunos possuem uma internet ruim, como citado no parágrafo anterior.

Ao final das entrevistas, bem como minhas próprias experiências, noto que o ensino remoto para os alunos e os familiares se torna uma forma segura para suprir a falta do ensino presencial durante o contexto atual de pandemia. Contudo, a falta de um acesso contínuo e estável à internet, além do baixo nível de escolaridade dos pais, constitui agravante no processo de ensino aprendizagem, como é o caso da comunidade estudada. Levando em consideração a realidade vivenciada pelos estudantes de Ausente de Baixo, e pensando na educação no contexto durante a pandemia, podemos enfatizar a necessidade de se ter maior atenção à realidade do educando, pois nem sempre eles possuem as ferramentas corretas e necessárias para o ensino, como a internet e o celular.

[1] Maria Madalena é estudante da Licenciatura em Educação do Campo (LEC), da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM). Esta pesquisa foi supervisionada pelo professor Vítor Sousa Dittz, da Escola Estadual Professor Leopoldo Pereira, e orientada pelo professor Carlos Henrique Silva de Castro, da UFVJM, no âmbito do PIBID-UFVJM.

Agradecimentos aos estudantes-sujeitos e suas famílias, bem como ao diretor da E. E. Professor Leopoldo Pereira, o professor Maycon Souza.

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