Alguns números sobre o ensino remoto na comunidade de Capivari – Parte 1

Por Ana Roberta Cléo dos Santos Ferreira [1]

Este texto relata os resultados de uma pesquisa quantitativa que aborda a percepção de alguns alunos da comunidade rural de Capivari sobre o chamado Regime de Estudo não Presencial (REANP-Minas Gerais), assim como suas condições de acesso, infraestrutura de telecomunicação e as ferramentas utilizadas pela escola. O universo da pesquisa foi um grupo de 8 alunos da comunidade de Capivari, que estudam na Escola Estadual Professor Leopoldo Pereira, localizada no distrito de Milho Verde, município do Serro/MG.

Como metodologia adotada para o levantamento dos dados, foi aplicado um questionário no Google Formulário com 37 perguntas fechadas e um comentário aberto opcional. Os nomes dos estudantes são mantidos na confidencialidade e as questões abordadas estão ligadas às metodologias e às tecnologias utilizadas pelos estudantes do ensino médio da referida escola, assim como as suas principais dificuldades. Como resultados da pesquisa, percebemos que a questão de tecnologias tem influenciado muito a não-aprendizagem. No contexto de Capivari, 100% afirmaram que têm o aparelho celular, mas apenas 60% têm acesso a conexão estável à internet, que na comunidade só é possível via antena, e metade também relatou que às vezes não consegue nem acessar videoaulas no Youtube. Entre os que acessam à rede tanto via antena e celular, 80% possuem acesso à rede de 21 a 30 dias no mês. O baixo nível de escolaridade dos pais também é um ponto que pode influenciar no aprendizado dos alunos uma vez que 100% dos pais não terminaram o ensino fundamental.  Perguntados sobre apoio nas atividades propostas pelo REANP através das apostilas denominadas Plano de Estudos Tutorados (PET) por parte dos pais, 100% deles não conseguem fazê-lo. Metade afirma que por competência, já que não finalizaram o fundamental, e a outra metade alega trabalhar e não ter tempo para apoiar seus filhos com as atividades.

De acordo com os dados da pesquisa, percebemos que 80% dos estudantes são de baixa renda, pois suas famílias participam dos programas governamentais Bolsa Família e Auxílio Emergencial. Por falta de condições financeiras, muitos irmãos têm que utilizar um único aparelho celular ou computador, quando existe um, para os estudos. Sobre as ferramentas de uso, todos afirmaram que possuem mais facilidades com grupo de WhatsApp e videoaulas do Youtube. 80% dos entrevistados afirmaram que fazem uso da ferramenta WhatsApp com maior frequência sobretudo pelo fato de que a escola criou um grupo de WhatsApp para cada turma. No ambiente virtual esclarecem suas dúvidas com mais facilidade e aprendem os conteúdos. Por outro lado, 90% dos alunos encontram dificuldades em acessar o aplicativo Conexão Escola 2.0, criado pelo governo do estado destinado à interação nos moldes do popular WhatsApp.

Ainda segundo os entrevistados, na questão aberta aos comentários diversos, o ensino remoto dificultou o aprendizado, pois antes, na sala de aula, tinham a presença dos professores e amigos para estar dando um apoio moral e auxiliando na aprendizagem, pois o professor está ali presente e responde com mais rapidez suas dúvidas. Relataram em seus comentários que no ensino remoto não é sempre a mesma coisa, pois o professor tem vários alunos para estar respondendo. Muitas vezes pelo fato de o aluno não compreender o conteúdo não tem nem base de como formular uma pergunta para o professor. Um outro problema identificado foi a falta de um ambiente adequado para os estudos, pois o ambiente doméstico pode gerar falta de atenção como relata uma estudante: ‘‘Com o ensino remoto a gente fica distraído. Se passar um mosquito na nossa frente, a gente fica observando o mosquito e esquece da atividade. E antes, na sala de aula, tínhamos mais concentração na explicação do professor’’.

Com todas essas respostas, notamos que não só a concentração nas atividades, mas o acesso à internet e o baixo grau de escolaridade dos pais também têm sido fatores que dificultam o aprendizado; pois se o aluno não tem uma internet de boa qualidade, não consegue acessar os aplicativos que necessita, fazendo com que seu rendimento não seja satisfatório. Problema agravado pelo fato de não possuírem na família um membro que possa auxiliá-lo nas atividades. Concluímos, assim, que a qualidade da educação destes alunos está comprometida por estes problemas identificados.

[1] Ana Roberta é estudante da Licenciatura em Educação do Campo (LEC), da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM). Esta pesquisa foi supervisionada pelo professor Vítor Sousa Dittz, da Escola Estadual Professor Leopoldo Pereira, e orientada pelo professor Carlos Henrique Silva de Castro, da UFVJM, no âmbito do PIBID-UFVJM.

Agradecimentos aos estudantes-sujeitos e suas famílias, bem como ao diretor da E. E. Professor Leopoldo Pereira, o professor Maycon Souza.

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