Ouça um trecho lido pela própria autora a seguir. O texto completo, em formato escrito, segue logo abaixo.
No ano de 2011 tive meu primeiro contato com tecnologias digitais quando ganhei um celular de teclado do meu irmão, que trouxe o presente de Belo Horizonte. Mas como na comunidade não havia sinal de celular, o uso do aparelho era para ouvir rádio, tirar fotos e usar ferramentas como calculadora, relógio etc. O meu primeiro contato com a internet ocorreu na escola, onde uma colega acessava com seu aparelho, baixava os arquivos de música e fotos que eram compartilhados comigo via bluetooth.
Sobre redes sociais, criei uma conta no Facebook com 14 anos com ajuda de amigas e ali iniciei nas redes sociais. Atualmente a rede que mais uso é o Instagram, onde tenho dois perfis. Um eu uso para a divulgação de trabalhos que me geram renda, o outro uso como perfil pessoal onde posto fotos e exponho opiniões diversas, políticas e ativistas.
Em 2019 criei um blog para ensino de inglês, em um curso de Tecnologias para o ensino de língua inglesa, mas não dei continuidade. Atualmente a primeira coisa que interajo no dia, ao acordar pela manhã, é o celular, quando olho as horas, o WhatsApp, o Instagram etc. Isso quando o aparelho celular não é o despertar. Ao longo do dia é no celular que as atividades se concentram, independente da vontade.
Na minha educação básica minha experiência com essas tecnologias era reduzida, principalmente o celular que era permitido aos professores, mas proibidas aos estudantes. Certa vez, ao levar meu aparelho para a sala de aula, a professora o recolheu. Acesso a computadores, na escola, só tive no final do ensino médio. Sem ter tido nenhum contato anterior com o aparelho, não conseguia desenvolver nenhum movimento sem ajuda dos poucos colegas que sabiam.
Na universidade tive meu primeiro contato com um notebook. Motivada pelos discursos sobre a necessidade de tal tecnologia para o curso, adquiri o aparelho. No ingresso fui apresentada a diversas ferramentas, sites, plataformas e meios de comunicação online. Não fazia ideia de como utilizá-las, mas na necessidade do uso fui aprendendo.
O isolamento social e ensino remoto vivenciados pela pandemia de covid-19 colocou em evidência algumas dessas plataformas, meios de comunicação e aplicativos. Com a incorporação de novas plataformas, veio a necessidade de aprender e se adaptar. Nas escolas, cada uma com sua especificidade, a situação evidenciou as diferenças econômicas e sociais que impactaram no acesso às tecnologias, com problemas de aprendizagem naquelas famílias que precisaram se adaptar ou nem conseguiram.
A partir dessa experiência e do estágio que realizei em uma escola do campo pós ensino remoto, avalio as metodologias e tecnologias que tentaram implementar no período não foram muito práticas. Com famílias com diferentes condições de acesso e lidando com vulnerabilidades socioeconômicas, estudar com auxílio de vídeos acessíveis somente na internet foi para poucos. O momento representou um desafio imenso para essas famílias e a educação remota e descontextualizada desmotivou o estudante e trouxe aumento na evasão escolar.
A retomada do ensino presencial pode significar uma nova relação da escola com as tecnologias digitais. Se metodologias com o uso do aparelho celular foram possíveis no período remoto, que agora não o proíbam, mas preparem os estudantes para o melhor uso e que faça sentido na sua realidade. Como futura educadora, buscarei trazer ciência e consciência aos estudantes, para que vejam criticamente suas realidades e os conflitos ali existentes, pois acredito que esse é o primeiro passo para a famigerada autonomia para a libertação.
[1] Miréia de Jesus Sena é graduanda do curso Licenciatura em Educação do Campo (LEC), da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM).
Este trabalho foi orientado pelos professores Carlos Henrique Silva de Castro, Luiz Henrique Magnani e Mauricio Teixeira Mendes.
Ouça um trecho lido pela própria autora a seguir. O texto completo, em formato escrito, segue logo abaixo.
Venho de uma comunidade quilombola de poucas oportunidades para ingresso em uma Universidade Federal. Estou no oitavo período do curso de Licenciatura em Educação do Campo e me recordo de como as coisas eram difíceis na minha casa. Como não tínhamos energia elétrica, fui saber o que era quando tinha de seis a sete anos, no período em que fui matriculada na escola.
Quando tinha sete anos, minha madrinha deu um rádio a pilha para meu adorável pai. Esse rádio fez sucesso na vizinhança. Parecia uma coisa de outro mundo. As novelas pareciam tão reais que os radialistas conseguiam prender a atenção de todos, que ficavam com os ouvidos atentos naquele rádio para não perder as informações que eles narravam para outros vizinhos e conhecidos. As novelas viravam tema de dos casos e rodas de conversas, com opiniões a favor e críticas às personagens.
Com dezesseis anos fui embora com parentes para Belo Horizonte e, pela primeira vez, tive contato com um orelhão porque precisava ligar para minha mãe na comunidade. Naquela época não tínhamos condições de ter um aparelho tecnológico em casa e foi muito difícil ter contato com essa e outras tecnologias. Quando eu tive o meu primeiro aparelho celular, as tecnologias já estavam bastante avançadas. Esse primeiro celular ganhei em um concurso na escola através de um projeto chamado PROERD, que premiou com um celular a melhor redação, de minha autoria. Era meu primeiro contato com uma tecnologia mais “avançada” e foi bastante complicado me adaptar, pois no início não sabia manusear o aparelho celular. Mesmo sendo um aparelho simples, fiz várias descobertas apenas vasculhando. Mesmo com poucos recursos, foi com ele que tive o privilégio de ter contato com a tecnologia digital. Hoje é diferente, acordo, já acesso o celular e a primeira coisa que olho é o WhatsApp. Também uso sempre o celular para ver as horas.
A pandemia afetou minha vida acadêmica e minha aprendizagem, pois passei a ter aulas online. Mesmo com carga horária reduzida não foi fácil, pois eu não tinha muito acesso às tecnologias. Estou aprendendo a mexer com mais eficácia no computador e isso contribui para acessar outros recursos tecnológicos como WhatsApp,Tik Tok, Facebook e outros. Também abri uma conta no Instagram, mas não sei como usá-lo, assim como Telegram e Twitter.
Por fazer um outro curso superior, na modalidade online, vi a necessidade de aprender alguns métodos novos e, assim, melhorar minha formação para lecionar. Com conhecimentos sobre tecnologias, pode-se adaptar as aulas dos jovens com recursos de seus cotidianos mostrando-lhes que esses meios podem ser usados de forma positiva. Através das aulas remotas pude ter uma nova visão de como trabalhar com alunos do campo. Também tive experiência com um projeto denominado “Educação além da internet”, que foi um projeto de inclusão socioeducacional com o intuito de atender alunos que não tinham acesso à internet na pandemia, mas deveriam fazer atividades com auxílio de tecnologias. Em cada aula que ministrei consegui identificar o avanço significativo na aprendizagem desses alunos, pois eles não tinham contato com internet, mas como o apoio do projeto puderam mostrar suas competências. Esse projeto foi de grande relevância para os alunos e para mim, professora em formação.
[1] Maria de Fatima Rocha Baldaia é graduanda do curso Licenciatura em Educação do Campo (LEC), da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM).
Este trabalho foi orientado pelos professores Carlos Henrique Silva de Castro, Luiz Henrique Magnani e Mauricio Teixeira Mendes.
Ouça um trecho lido pelo próprio autor a seguir. O texto completo, em formato escrito, segue logo abaixo.
Eu nasci em 1992, ano em que aconteciam vários movimentos dos atingidos pela barragem de Irapé. Esses movimentos fizeram com que surgisse a operadora Vivo na minha região. A partir de então chegaram os primeiros celulares que eram grandes com o sinal 2G. O meu primeiro celular era o Nokia modelo 1110 GSM. Em 2004 tive contato com equipamentos de rádio FM, a qual meu pai era responsável e locutor. A rádio se chamava Liberdade FM e possuía uma mesa de som semidigital que aprendi a usar um pouco e a mexer em efeitos de sons. Essa rádio durou alguns anos até uma gestão municipal fechá-la na cidade. Dessa forma a rádio mudou-se para a Serra do Chapéu, onde foram adquiridos novos equipamentos que deram alcance a mais cidades como Cristália, Botumirin, Grão Mogol e José Gonçalves de Minas.
Em 2008, em minha comunidade chegaram os primeiros celulares com chip e adquiri um Siemens A50 que servia apenas para jogar, pois ele não funcionava na operadora da região. Em 2009 fui estudar na Escola Estadual Professor Tutu, onde eu e um colega éramos responsáveis por auxiliar as turmas no uso dos computadores. Assim, de fevereiro a junho daquele ano tive contato com a sala de informática onde ensinávamos os colegas a ligarem e como usar algumas funções dos computadores e a acessar a internet, que era ruim, mas rodava alguma coisa.
Em 2010 tive meu primeiro celular que realmente funcionava para ligações e conexão à internet, era um Q5 2g, uma versão chinesa de alguns celulares que eram moda na época. Depois um Nokia N95, depois um Sony Ericsson, um Sony Xperia, um Motorola V3, e depois Alcatel.
Em 2011 fiz dois cursos em Janaúba em que tivemos acesso ao controle de caixa com sistema operacional que utilizavam para controle de estoque e gerenciamento de supermercado. Após um tempo fiz um curso de recepcionista no qual usava um computador de mesa. A função era de gerenciamento, check in e check out de hóspede e controle de estoque.
Em 2012 fui morar na cidade de Janaúba, onde trabalhava no período da manhã. Na parte da tarde, em Jaíba, cidade vizinha, fazia curso de eletricista e eletrônica residencial e predial. Nestes cursos tive a oportunidade de adquirir o conhecimento de montagem e programação de Controlador Lógico Programável (CLP), um controlador que tem a função de acionar maquinários tais como motores elétricos, esteiras de automação, tanto na teoria como na prática, com simuladores virtuais de empresa. O curso foi feito no Senai em parceria com a Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (FIEMG). Através da parceria foi criado o “Projeto Amanhã” da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (CODEVASFS). Nesse curso também tivemos acesso a automação residencial, vimos nas práticas modelo de automação para poços artesianos.
Em 2013 voltei para Cristália e trabalhei como eletricista e subsecretário de transporte. Meu contato com tecnologias digitais era a partir de planilhas de controle de almoxarifado, de veículos, gerenciamento de viagens e recebimento de combustível. Essas planilhas eram feitas no computador e anexadas em um sistema de controle de frotas da prefeitura que funcionava com uma empresa de controle de Montes Claros. Toda a prestação de contas era online, apesar de ter que entregar o documento físico nos setores responsáveis. Em 2014 comprei meu primeiro notebook, um Samsung que utilizava para jogar, assistir a vídeos e trabalhar.
No final de 2015 retornei para Janaúba e entre para um curso de técnico em administração, no qual tive acesso a muitas tecnologias digitais em aulas de programação e acessando plataformas como de emissão de notas, uso da plataforma do Cadastro Ambiental Rural (CAR) para emissão ISO 9001, construção de contratos, emissão de notas fiscais, entre outros.
Também em 2015 tentei fazer o vestibular para a Licenciatura em Educação do Campo (LEC), mas minha inscrição foi indeferida. Em 2018 tentei novamente, tomando mais cuidado e consegui ser aprovado. Em 2021, devido à pandemia do covid19, o estágio do curso foi realizado de forma remota com o uso de algumas ferramentas digitais como o GoogleClassroom, Google Meet, YouTube, Conexão Escola. O período foi ruim para os alunos, pois muitas crianças tiveram dificuldade para ter acesso e muitos pais também não conseguiram ajudar seu filho por não saberem utilizar as ferramentas digitais. Além disso, a acessibilidade nas comunidades rurais muitas vezes era apenas por dados móveis de redes 3G, e outras obrigavam os estudantes a saírem de suas residências para subirem no ponto mais alto da comunidade e tentarem obter sinal.
Em 2022 a escola em que estagiamos voltou ao funcionamento presencial e os alunos encontraram a escola de cara nova após uma reforma que trouxe novas salas de aula com TV de 55 polegadas, laboratório reformado e funcional, projetores Epson, sala de informática. Atualmente tudo está sendo usado por algum professor, como o de inglês, algumas de história e algumas de ciências da natureza. Lá alguns professores permitem o uso de celular para auxiliar na sala de aula.
A partir de minha trajetória em meio às tecnologias e com o curso Licenciatura em Educação do Campo, entendo que como docente podemos usar todas as plataformas e as tecnologias disponíveis para, por exemplo, criar um jornal comunitário, preparar roteiros e edição de textos, apps de desenhos, mapas, e outras plataformas desde que sejam adequadas ao desenvolvimento da turma e com o objetivo da aprendizagem. A minha trajetória agradeço à minha família que sempre apoiou minha jornada.
[1] Leonel Lemes Pereira é graduando do curso Licenciatura em Educação do Campo (LEC), da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM).
Este trabalho foi orientado pelos professores Carlos Henrique Silva de Castro, Luiz Henrique Magnani e Mauricio Teixeira Mendes.
Ouça um trecho lido pela própria autora a seguir. O texto completo, em formato escrito, segue logo abaixo.
Nasci em fevereiro de 2000, mesmo ano em que a energia elétrica chegou em minha comunidade, na zona rural do município de Coluna no Vale do Rio Doce. Passei minha primeira infância, basicamente, tendo contato apenas com o rádio toca-fitas da minha mãe e o rádio toca-discos do meu pai. De manhã acordava ao som da rádio Itatiaia que minha mãe ligava, principalmente para ouvir as simpatias e os signos. Algumas tardes em que íamos arrumar a casa ouvíamos alguns discos ou fitas para animar a tarefa. E à noite, quando não ouvíamos as histórias do meu pai, ele colocava o disco do Buck Sarampo que eu escutava até dormir. Meu pai tinha uma coleção de discos, que inclusive está em casa até hoje.
Nessa época tínhamos uma televisão de tubo em casa, mas como não tinha antena instalada, eu e meus irmãos íamos assistir telenovelas na casa de uma vizinha (eu basicamente cochilava a novela toda). Um tempo depois um dos meus irmãos comprou o primeiro e único aparelho de DVD que tivemos em casa. Com ele escutávamos música, cantávamos no karaokê e jogávamos videogame, quando podíamos. Além dos discos do meu pai e as fitas da minha mãe, também tinha muito interesse na máquina de datilografia, que meu pai, de vez em quando, deixava a gente usar. Apesar de não usá-la muito, eu desenvolvi muito a escrita por causa dela e, mais tarde, tive facilidade em digitar no teclado do computador.
Meu primeiro contato com telefone celular, ou talvez o mais marcante, foi quando meu irmão fez um vídeo com meus primos, meus irmãos mais novos e eu brincando em um dia de chuva no terreiro de casa. Se não me engano isso foi quando tinha 10 ou 11 anos. Outra coisa que me lembro sobre o celular foi quando minha mãe ganhou um que minha irmã mais velha trouxe de São Paulo para elas se comunicarem. Era um Nokia analógico, daqueles de abrir e fechar, que, para telefonar, minha mãe precisava subir na parte mais alta do terreno, no meio do mato.
Passamos muitos anos indo no alto para telefonar, prática que perdurou até poucos anos (se não me engano em 2016) quando alguns moradores adquiriram os chamados telefones rurais, conectados a antenas nos altos onde antes os moradores tinham de subir. Esses eram telefones de mesa com fio, que no começo eram poucos, mas depois mais moradores adquiriram o produto. Esses aparelhos foram substituídos por outros sem fio, com alcance de até 100 metros da base. Devido às chuvas e tempestades de raios que atingiram as antenas, muitas pessoas abandonaram esses telefones, hoje somente na minha casa e outras duas ou três que ainda o têm, porém sempre apresentam problemas e quase não o usamos mais. Hoje em dia a maioria dos jovens possuem celular com acesso à internet e a comunidade tem sinal da operadora vivo em vários pontos, o que ajuda nosso acesso.
Após a criação da Associação Quilombola da comunidade, muitas melhorias surgiram, como a instalação de um Telecentro na comunidade. Em 2009 os computadores chegaram e ficaram na igreja da comunidade, foi quando tive meu primeiro contato com um computador de mesa. Não sei o nome, a marca ou o modelo dos computadores que tinham no Telecentro, só sei que foram adquiridos através de um projeto com a Fundação Banco do Brasil e na comunidade era meu irmão quem estava à frente disso. Nesse período ainda não tínhamos internet para conectar os computadores, então fazia aulas de digitação e formatação no computador com meu irmão e jogávamos alguns joguinhos, principalmente xadrez. Em 2012 o Telecentro foi transferido para o mesmo prédio da escola, onde também é sede da Associação Quilombola, quando recebeu acesso à internet. Mas eu frequentava outra escola, uma estadual fora de minha comunidade, e ia ao Telecentro sempre que podia para jogar e fazer pesquisas e trabalhos da escola.
A primeira vez que vi um notebook foi aos 10 ou 11 anos, quando um técnico da Emater foi na comunidade e passou para nós um filme sobre o quilombo. Em 2017 voltei a ter contato com um equipamento desses, que era o do meu irmão. Foi esse mesmo que em 2018 passei a compartilhar com minha irmã, pois fomos aprovadas no vestibular da Licenciatura em Educação do Campo (LEC). Antes, na escola onde estudei dos 11 aos 17 anos, as tecnologias de imagem e som utilizadas eram o projetor (datashow), televisão para assistir a filmes e o aparelho de som que tocava músicas no recreio. Que eu me lembre, fui uma vez à sala de informática para fazer uma pesquisa de geografia. Praticamente não utilizava os computadores, pois não havia para todos. O uso de celulares não era proibido nessa época e era comum os colegas ficarem jogando durante o intervalo, entre a saída de um professor e a entrada de outro. Mas também eram de difícil aquisição.
No meu estágio de regência, procurei utilizar recursos digitais para as aulas, como o datashow e o uso de plataformas de vídeo. Porém o datashow só funcionou nos primeiros dias, depois tive que utilizar o quadro e o celular mesmo. Também me comunicava com os estudantes por aplicativo de mensagem online via WhatsApp. Esse aplicativo eu uso desde os 18 anos de idade, quando o criei para fazer parte de um grupo da turma da LEC. O Facebook eu já utilizava desde a época do Telecentro. Hoje em dia a minha rede social preferida é o Instagram, pois a acho bem diversificada.
Mesmo tudo estando conectado às redes sociais, eu consigo ficar um bom tempo do dia sem conferir e-mails, mensagens no WhatsApp e notificações do Facebook. Para me ajudar nessa questão, uso as funções de bem-estar digital e modo sem distrações do celular, que permitem controlar os aplicativos que usarei por um determinado tempo. Além disso, posso controlar quanto tempo por dia cada aplicativo (como das redes sociais Kwai, Instagram, TikTok) pode ser usado
Quando a pandemia chegou literalmente ao meu alcance, eu estava em um intercâmbio na Argentina. A pretensão era passar 3 semanas em Córdoba fazendo um curso de espanhol e interação cultural, porém, no fim da primeira semana já decretaram lockdown. Com isso, estendemos a permanência na Argentina e passamos a utilizar a ferramenta Zoom para ter aulas de espanhol. Como estávamos só eu e meu irmão isolados, eu acordava de manhã e depois do chá matinal participava da aula no Zoom, assistia a televisão, conversava com meus familiares pelo WhatsApp e usava o Instagram e um app de bate papo muito popular em Córdoba, o Holla em que pude praticar mais o idioma.
De volta ao Brasil, ainda no auge da pandemia, além de cursar a LEC, atuei como conselheira estadual de assistência social de Minas Gerais no CEAS-MG, com reuniões mensais. Com o uso intenso de tecnologias on-line para comunicação e redes sociais, precisei colocar internet em casa. Mas a internet que instalei era muito falha e prejudicou bastante minha participação, tanto no CEAS como nas aulas da LEC.
Pensando na minha atuação profissional, procuro considerar minha experiência de vida e a realidade que observei no estágio e na minha comunidade. Nesses contextos, noto que o uso de tecnologias digitais é diferente de acordo com as classes sociais. Apropriar-se dessas tecnologias é um passo para minimizar a condição de inferioridade que os não conectados são colocados.
Na educação, não vejo as novas tecnologias digitais como “vilãs”, nem mesmo como “salvadoras”, mas acredito que vai depender de como as usamos e esse uso deve buscar a criticidade dos estudantes. Cabe a nós, enquanto educadores e futuros educadores, buscar um uso pedagógico para elas.
[1] Isaura dos Santos Lopes é graduanda do curso Licenciatura em Educação do Campo (LEC), da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM).
Este trabalho foi orientado pelos professores Carlos Henrique Silva de Castro, Luiz Henrique Magnani e Mauricio Teixeira Mendes.
Ouça um trecho lido pela própria autora a seguir. O texto completo, em formato escrito, segue logo abaixo.
O uso de tecnologias digitais está cada vez mais frequente e até mesmo as crianças com dois, três anos de idade já utilizam essas ferramentas com muita facilidade, diferentemente da minha época de criança. Meu primeiro contato com alguma tecnologia interativa foi aos treze anos, quando usava uma calculadora dos meus irmãos mais velhos tinham que falava os números em inglês. Aos vinte anos tive o meu primeiro contato com um celular, que era do meu irmão. Ficamos impressionados com o aparelho.
Na época, o celular não era conectado na internet, mas nos possibilitava fazer ligações para parentes de outros estados. O utilizávamos também para ouvir rádio. Quando descobrimos os joguinhos foi uma festa. Já meu primeiro acesso a um computador foi em um telecentro que surgiu na minha comunidade, que é uma comunidade Quilombola no município de Coluna MG no Vale do Rio Doce. No início o telecentro não tinha internet, mesmo assim chamava atenção. Em 2010 o responsável pelo telecentro era meu irmão e ele iniciou um projeto para ensinar informática. Nesse projeto aprendi a ligar e a desligar o computador, a usar a lupa para pesquisar, a jogar jogos do tipo captura de letras para formar palavras, entre outros. Apesar de não ter internet, esse processo fez diferença.
Dois anos mais tarde, em dois mil e doze, quando eu já estava com vinte e três anos de idade, no mesmo telecentro comunitário, acessei a internet pela primeira vez. Com auxílio do meu irmão, criei o Facebook, configurei meu perfil na página, convidei alguns amigos para serem amigos; hoje uso a rede social para postar algumas fotos e curtir fotos de outros amigos. Além dessas atividades, também fiz contato com parentes que nem conhecia pessoalmente. Devido a pandemia de covid 19 e em função dos estudos, atualmente tenho mais acesso à internet e, de certa forma, fui obrigada a comprar novo aparelho celular e a contratar uma internet melhor para dar continuidade aos estudos no ensino remoto. Então, o acesso às páginas da web está mais frequente, assim como as pesquisas no Google e no Google Acadêmico. Não uso muito o Facebook como fazia antes, acho que perdi o interesse, pois só entro na plataforma de vez em quando, mando mensagem de aniversário para alguns amigos, converso com alguns familiares que moram fora, curto e compartilho alguns anúncios de venda de produtos de pessoas conhecidas, curto e respondo alguns comentários.
Atualmente, os aplicativos que uso bastante são o WhatsApp para debater trabalhos em grupo e conversar com familiares e amigos; o Duolingo para aprender e treinar inglês; e o Youtube onde assisto a lives no YouTube. Além disso, faço alguns cursos no Escolas Conectadas e no Instituto Conhecimento Liberta.
Pensando no dia de ontem, por exemplo, a tecnologia que mais usei foi o celular. Usei como relógio, para leituras e conversas com familiares e outras ligações. Também pesquisei rotas e localização com o auxílio do GPS, busquei informações no Google, acessei a conta no banco, armazenei arquivos, realizei trabalhos da universidade em arquivos on-line, tirei fotos, fiz vídeos, acessei o calendário, usei a calculadora e pesquisei receitas culinárias.
Muitas práticas sociais mudaram em minha vida após esse aumento no uso de celular e essas tecnologias que o acompanham. Fogueiras e rodas de contação de história ainda acontecem, mas não com a frequência de antes. As visitas aos vizinhos e familiares também diminuíram. Comparando as gerações mais velhas com as mais jovens, essas têm maior facilidade para manusear as ferramentas digitais disponíveis. Meus irmãos mais novos, por exemplo, manuseiam muito bem algumas ferramentas digitais, principalmente o celular, que é o que é mais acessível no meu contexto. Eu mesma me considero da geração mais velha, que tem mais dificuldade para operar as ferramentas costumeiras, mas o sistema a cada dia nos leva a usar novas tecnologias. Noto que estamos, a cada dia, mais dependentes das tecnologias digitais, principalmente as novas gerações. A experiência mais positiva que tive com o uso de novas tecnologias foi conseguir dar continuidade ao curso de Licenciatura em Educação do Campo (LEC) na pandemia, quando consegui fazer trabalhos, e até outros cursos, me comunicar com amigos e familiares, com auxílio da internet. Em se tratando de experiência negativa, já recebi fake news e vi colegas e um irmão serem prejudicados com problemas tecnológicos em relação a matrícula em unidades curriculares, ou postar trabalhos e depois constar que não o fizeram. Mesmo assim, enquanto educadora, usaria essas tecnologias com estudantes como fonte de pesquisa e aprendizagem, mas também de forma a conscientizá-los sobre os riscos de acesso às redes, com o intuito de formar cidadãos conscientes e críticos quanto ao uso.
Como pontuei nos primeiros parágrafos, na minha educação básica não fizemos muito uso de tecnologia digital. Que eu me lembre, no ensino médio o único acesso que tive a alguma tecnologia foi assistir a um vídeo, ainda no videocassete, que explicava as transformações do corpo na adolescência. Tecnologia digital fui ter contato no ensino superior, onde precisei comprar um celular, aprendi a escrever no Word, a enviar trabalho no Moodle, enviar e receber e-mails, fazer download de arquivos, a mexer com pen drive. O Moodle é uma ferramenta que eu tive muita dificuldade para operar, o que não chegou a atrapalhar meu rendimento.
No tempo de pandemia tive que aderir ao sistema, trocar o celular e contratar internet para acompanhar o ensino remoto emergencial que estava posto. Até mesmo para me comunicar com pessoas próximas na comunidade, devido a pandemia, passei a usar o WhatsApp, assim como algumas pessoas da comunidade. O problema é que essa não foi uma escolha, simplesmente ficamos suscetíveis às decisões de um sistema controlador. Muitos pais deixaram de comer uma comida melhorzinha para comprar o celular, para ver se os filhos conseguiam acompanhar as atividades das escolas, mas infelizmente as realidades diversas, com desigualdades sociais, não permitem acesso a muitas tecnologias, como internet e equipamentos, aos cidadãos menos favorecidos.
Mesmo depois dessa experiência de ensino remoto percebi, na escola onde faço estágio, uma resistência do uso de celular dentro das dependências da escola, especificamente dentro da sala de aula. Como futura educadora do campo, pretendo trabalhar com tecnologia digital na sala de aula para os estudantes, por exemplo, produzirem textos em diversos formatos, a partir de suas realidades, com histórias de suas culturas, que valorizem os trabalhos dos pais e da comunidade, que façam pensar nas realidades e contextos sociais que estão vivenciando. Para a sala de aula imagino várias possibilidades para o uso do celular, como entrevistas, produção de textos, interações, busca por lugares, mapeamento de uma determinada região. São diversas as ferramentas de uso no celular que não podem ficar de fora da sala de aula.
[1] Irene dos Santos Lopes é graduanda do curso Licenciatura em Educação do Campo (LEC), da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM).
Este trabalho foi orientado pelos professores Carlos Henrique Silva de Castro, Luiz Henrique Magnani e Mauricio Teixeira Mendes.
Ouça um trecho lido pela própria autora a seguir. O texto completo, em formato escrito, segue logo abaixo.
O avanço tecnológico é cada vez mais rápido e alcança cada vez mais lugares. Apesar disso, memo que no Brasil as mais modernas tecnologias da informação já vêm sendo utilizadas há algum tempo, minha interação com elas é recente. Desde muito pequena tive contato com algumas tecnologias analógicas, comuns em nossas famílias como a televisão (com antena parabólica), aparelhos de tocar DVD/CD e aparelhos de som. Mas a minha interação com essas tecnologias da informação mais avançadas como computadores e celulares só se deu a partir do ano de 2010, aproximadamente.
Lembro-me como se fosse hoje da minha empolgação para ir em um curso de computação promovido pela Associação dos Moradores e Amigos de Itinga (AMAI) através de um programa/projeto de apadrinhamento no qual eu iria, pela primeira vez, manusear um computador. Nessa época não sabia nem ligar o computador, não tinha nenhuma rede social como o Orkut, o famosinho da época, então ficava pesquisando coisas aleatoriamente. Depois disso, utilizava também os computadores da lan house da minha cidade, que hoje não existe mais já que os computadores se popularizaram. Gostava também de jogar videogame no pequeno centro de jogos chamado Star games, o que era o máximo.
Minhas primeiras interações com o celular foram com aparelhos de parentes e amigos que eu utilizava para fazer ligações, ver fotos, escutar música e para “curiá[*]”. Nesse período eu estava no Ensino Fundamental I e II. Apesar de a escola ter alguns computadores, nós não utilizávamos por falta de um local adequado, falta de instrução e principalmente por falta de internet. E mesmo com a disponibilidade de datashow/projetor na escola, ele era utilizado por professores somente em alguns projetos. Mais tarde, no Ensino Médio, foi que passei a manusear o computador. Nesse período comprei meu celular que utilizava para estudar, quando possível, mesmo que seu uso fosse proibido.
Com a vinda para Universidade, aprimorei mais as habilidades e intensifiquei o uso das Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação (TDICs) como o notebook (que comprei quando ingressei na universidade), e-mail, plataformas e ferramentas digitais como e-campus, Moodle, Word, Excel, entre outros. Utilizo essas tecnologias também para algumas atividades realizadas para a associação comunitária quilombola da minha comunidade.
Percebo que cada vez mais as pessoas estão imersas no mundo digital, utilizando a tecnologia, às vezes, de forma negativa. Na minha comunidade, por exemplo, muitas atividades ao ar livre, encontros à luz do luar ou à tardezinha foram trocados pela interação com o celular, o que considero muito negativo. Outros pontos negativos envolvem vulnerabilidade de dados, aumento do consumismo, impacto no meio ambiente, impacto direto na saúde, entre outros.
Por outro lado, é importante ressaltar que existem muitos pontos positivos que as novas tecnologias nos oferecem como: praticidade, rapidez, longo alcance e, com isso, uma democratização maior da informação e do conhecimento. O que indicará se a tecnologia vai ser positiva ou negativa é a forma e objetivo para o qual está sendo utilizada.
Não posso deixar de comentar, é claro, sobre o momento atípico e histórico que foi a pandemia do covid-19. Nesse período, foi preciso intensificar ou, em alguns casos, começar a utilizar algumas tecnologias digitais novas. No meu caso foi preciso adquirir um plano de internet para continuar estudando, um plano de 10 gigas cuja mensalidade custava, nos seis primeiros meses, $159,90 reais e depois passou a custar $189,90 reais (15.67% do salário-mínimo). Adquiri este plano por ser mais barato, mas muitas dificuldades, pois não atendeu minhas demandas e teve um péssimo custo-benefício. Com toda essa questão, meu rendimento caiu, principalmente no quesito de participação nas atividades propostas.
No caso da escola da minha comunidade (como em muitos outros lugares), a situação foi ainda mais complicada, pois a maioria dos estudantes não tinha acesso à internet, ou até mesmo ao aparelho de celular. Assim, as atividades eram enviadas impressas para serem feitas em casa e muitos pais não tinham condições de auxiliar seus filhos. Dessa forma, os estudantes ficaram bem prejudicados. Fato é que a pandemia escancarou as desigualdades existentes; entre outras, destacam-se as desigualdades de acesso à informação e às tecnologias.
Enquanto futura professora e pensando nesse cenário, gostaria de trabalhar com a tecnologia de forma crítica na minha docência e, enquanto cidadã, ajudar a fortalecer o debate na minha comunidade de forma geral. É possível trazer esse debate para a sala de aula e orientar os estudantes para que percebam, entendam/leiam as estratégias que permeiam esse mundo, bem como para a comunidade. Pretendo trabalhar com práticas educativas na perspectiva da transformação social, buscando estratégias para melhor trabalhar com as TDICs. E, dessa forma, caminharmos para uma educação emancipadora. Essa é uma pauta muito relevante considerando esse mundo globalizado e extremamente conectado.
[*] Palavra utilizada na minha região (Itinga-MG) para dizer olhar com curiosidade, reparar, bisbilhotar etc.
[1] Ingred Silva é graduanda do curso Licenciatura em Educação do Campo (LEC), da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM).
Este trabalho foi orientado pelos professores Carlos Henrique Silva de Castro, Luiz Henrique Magnani e Mauricio Teixeira Mendes.
Ouça um trecho lido pela própria autora a seguir. O texto completo, em formato escrito, segue logo abaixo.
Lembro-me bem da primeira vez que vi um celular. Eu tinha por volta de nove anos de idade, minha mãe trabalhava em uma casa de família e seu patrão tinha um celular, coisa que a gente não tinha, só ouvia falar. Então, sempre que eu ia na casa onde ela trabalhava, observava o celular por cima dos móveis, naquela curiosidade de criança, querendo mexer, pegar, mas só olhava. Uns dois anos depois minha irmã mais velha ganhou um celular e só então tive o primeiro contato. Eu achava o máximo, mexia em tudo, tirava foto, era uma maravilha. Minha irmã morria de medo de eu mexer e atrapalhar alguma coisa. Tempos depois a situação financeira em casa foi melhorando, meus pais também adquiriram seus celulares e fiquei com aquele que era da minha irmã, que conseguiu um outro.
Já meu primeiro contato com computadores foi na casa da minha avó, em um desktop do meu tio. Como ele não deixava a gente mexer, eu e minha prima íamos para lá usar o computador enquanto ele estava no trabalho. Aprendemos a ligar e tudo mais observando-o. Nessa época estava com 11 anos e gostava dos jogos de roupas, calçados e acessórios para bonecas e de pesquisar piadas e coisas engraçadas. Tempo depois abriu a primeira lan house perto da minha casa. Com isso, passei a ir lá jogar GTA por, na época, um real a hora.
Aos 13 anos, quando já dominava o básico, meu pai comprou o primeiro computador da minha casa e instalou internet. Meus pais nunca tiveram interesse de aprender, só compraram para minha irmã e eu. Nesta época a rede social que estava em alta era o Orkut e o comunicador era o MSN, basicamente o que eu acessava. Minha prima foi muito importante nesse meu processo, pois ela criou meus acessos da época e me ensinou muita coisa.
Atualmente as páginas de internet que mais acesso são as plataformas de vídeos, músicas, compras, além das plataformas de estudo. O uso diário dessas tecnologias faz toda a diferença na minha vida cotidiana, pois em tudo que faço estão envolvidas. Sempre preciso recorrer ao celular para resolver algo como pagar as contas, ou estudar, trabalhar, me informar, enfim, são tantas necessidades que hoje é quase impossível viver sem essa ferramenta.
No meu contato cotidiano, uso o celular desde o início do dia, pois preciso garantir que não vou me atrasar para o trabalho e, por isso, o deixo sempre no modo despertador. O celular me acompanha durante todos os dias, sem exceção, pois na loja onde trabalho ele serve como ferramenta de vendas, que utilizo para fotografar os produtos, gerenciar o perfil comercial no Instagram, atender os clientes no WhatsApp, conferir e-mails. Na vida pessoal, no celular eu acesso minhas redes sociais, converso com os amigos no WhatsApp e estudo em muitos momentos. Essas facilidades que os celulares trouxeram para o dia a dia fizeram com que as práticas sociais mudassem muito. Muitas coisas que antes eram resolvidas de maneira presencial, hoje faço pelo smartphone como, por exemplo, ir ao supermercado, pagar contas, estabelecer algum diálogo. São coisas que exigiam estar de forma presencial e hoje, com o avanço das tecnologias, não exigem mais. Com isso também houve certo distanciamento entre as pessoas.
Percebo que as gerações mais velhas têm muita dificuldade para entender e lidar com essas novas tecnologias. Noto também uma falta de confiança muito grande, principalmente com relação a transações nos bancos digitais. Preferem continuar nos métodos tradicionais já conhecidos por eles. Enquanto as pessoas mais jovens têm mais facilidade para entender e aceitar essas mudanças, pois é algo do seu tempo. Meus sentimentos com relação às tecnologias são bons, pois acredito que elas vieram para facilitar muito a vida e as relações e tenho experiências positivas com elas. No entanto certas situações também me deixam inconformada, como o fato de nem todos terem acesso.
Na minha experiência na educação básica basicamente não tive contato com tecnologias digitais, apesar de sempre existirem computadores na escola. Me lembro de apenas uma vez, em todos os anos que lá estudei, ter feito um trabalho de pesquisa na internet. A escola, por vários motivos, não apresentava esse tipo de suporte e, pelo que vejo, permanece assim até os dias atuais. Sempre recorreram e ainda recorrem muito aos livros didáticos. O celular, que é uma ferramenta muito utilizada e mais presente na vida dos alunos, não tem nenhum incentivo, muito pelo contrário, têm sua utilização proibida na escola.
Na universidade, que faço licenciatura, a realidade que encontrei foi bastante diferente. O celular é o maior meio de comunicação de todos e o notebook é muito utilizado. Sempre somos convidados/provocados a utilizar essas tecnologias, assim como o e-mail e as plataformas disponibilizadas durante a pandemia, pois tudo que fizemos nessa época dependia delas de maneira direta. Acredito que o isolamento social tenha mostrado a importância que as tecnologias têm na vida das pessoas, pois foi através dessas ferramentas que conseguimos, com toda dificuldade, prosseguir com os estudos, o trabalho e a vida. Infelizmente nem todos tiveram a mesma experiência e acesso nesse período, ou pela falta das tecnologias ou por falta de conhecimento a respeito delas.
Em muitas escolas, percebo que, mesmo que precariamente, estão buscando melhorias no sentido de incentivar o uso dos recursos digitais. Mas é certo que há muito ainda para se fazer, a começar por pensar e incentivar uma educação crítica para o uso dessas tecnologias. No futuro pretendo lutar para a inserção de ferramentas tecnológicas na sala de aula, pois acredito nos efeitos positivos que podem causar na educação. Sendo possível, utilizarei redes sociais e tantas outras ferramentas para o ensino didático, como Jamboard,Facebook, WhatsApp, Instagram, Padlet, e tantos outras possíveis e que ainda estão por vir.
[1] Fernanda Antonina Rodrigues da Silva é graduanda do curso Licenciatura em Educação do Campo (LEC), da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM).
Este trabalho foi orientado pelos professores Carlos Henrique Silva de Castro, Luiz Henrique Magnani e Mauricio Teixeira Mendes.
Ouça um trecho lido pela própria autora a seguir. O texto completo, em formato escrito, segue logo abaixo.
Durante minha infância, na minha casa não havia computador nem celular. A primeira vez que liguei um computador foi na escola, no Ensino Fundamental II. Lembro-me que, vez ou outra, algum professor levava a turma para a sala de informática; mesmo havendo poucos computadores e alguns estarem sem funcionamento, eram momentos de muita aprendizagem. Logo que chegávamos na sala de informática, ligávamos os computadores para pesquisarmos o que o professor havia proposto. O professor sempre exigia que transcrevêssemos para o caderno o resultado de nossas pesquisas. Normalmente éramos três ou quatro pessoas em cada computador.
Eram aulas mais dinâmicas, quando a gente ficava mais livre, e no final sempre dávamos conta da missão. Assim aprendemos naquelas aulas que a internet pode ser usada como fonte de pesquisas. Nessa época, de 2007 a 2010, eu não usava nenhuma rede social e o contato com a internet era apenas para pesquisas. Em 2011, com 15 anos, comprei meu primeiro celular. Minha primeira conta no Facebook foi criada nessa mesma época, mas no Telecentro da cidade com a ajuda de alguns colegas que faziam cursos lá. Nessa época acessava o Facebook raramente, já que em minha casa não tinha internet e meu celular também não. Em 2014 comecei a usar o WhatsApp.
Atualmente não utilizo mais o Facebook, mas estou presente no e-mail, Telegram, Instagram e WhatsApp, que me ajudam a me comunicar com familiares, colegas, interagir em grupos do curso que faço atualmente, para atender demandas da escola onde trabalho, e para ver o mundo ao meu redor, conhecer paisagens e pessoas de outros lugares. Nesse mundo globalizado, não poderia esquecer de mencionar os sites que utilizo para compras, em procedimentos fáceis, sem precisar sair de casa. O Mercado Livre, a Shopee e a Magalu trazem até mim coisas que em minha cidade não encontro.
As tecnologias estão muito presentes no meu dia a dia. Ontem, como exemplo, ao acordar, peguei o celular para me situar no tempo, depois conversar com meus familiares e ver o dia das pessoas que sigo no Instagram. Nessa conta no Instagram vejo postagens de colegas e publico o humor do meu dia. Gosto de ver paisagens e mensagens reflexivas e de interagir com as pessoas por lá, não uso a ferramenta par fins comerciais. No meu dia a dia sempre assisto a conteúdos no YouTube. Gosto de acompanhar pessoas que viajam por outros países como a Monyse Garcia, acho fantásticas as viagens que ela faz em vários lugares, como na Turquia. É uma das formas que viajo sem sair do lugar.
Mesmo com essas tecnologias presentes há algum tempo na minha vida, a faculdade contribuiu significativamente para que me apropriasse mais dos conhecimentos tecnológicos, na produção dos trabalhos. Logo no início do curso tínhamos as mentorias, onde aprendi muitas coisas sobre formatação, acesso ao o Moodle, ao e-campus etc.
As pessoas da minha comunidade nem sempre veem a tecnologia como vejo. Há algumas, como a minha avó, que não sabem usar o celular; outras usam apenas para fazer ligação ou comunicar pelo WhatsApp. Mas também há tem aquela que estão até no Tik Tok, curtindo e compartilhando os diversos aspectos da globalização.
Na minha perspectiva, a Educação do Campo hoje não pode se limitar ao território do campo, pois é preciso possibilitar aos nossos adolescentes verem o que está fora do campo. É possível trabalhar conteúdo da cultura digital para que eles não fiquem excluídos. Um professor de língua pode, por exemplo, trabalhar gêneros textuais, realizar aulas que possibilitem aos alunos pesquisar, perceber que a internet é uma fonte que precisa de cuidados, mas contribui com diversas causas, como a comunicação que permite conhecimento.
[1] Eliude de Sousa Ferreira é graduanda do curso Licenciatura em Educação do Campo (LEC), da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM).
Este trabalho foi orientado pelos professores Carlos Henrique Silva de Castro, Luiz Henrique Magnani e Mauricio Teixeira Mendes.
Ouça um trecho lido pela própria autora a seguir. O texto completo, em formato escrito, segue logo abaixo.
Atualmente uma grande concentração de pessoas têm acesso a tecnologias digitais como mídias, aplicativos, jogos etc. Cada vez mais estamos conectados e necessitados desses recursos tecnológicos. As tecnologias proporcionaram muitos avanços, oportunidades e desenvolvimento para a sociedade, como na comunicação rápida com pessoas por todo o mundo, em pesquisas científicas, no meio educacional, automatização de muitos trabalhos, entre outros. No entanto, cabe ressaltar alguns malefícios como, por exemplo, o uso excessivo das mídias que se tornam pessoas viciadas no uso delas. Outros pontos são as fake news e, principalmente, a exclusão de muitas pessoas que não possuem recursos tecnológicos como internet, celulares, computadores, entre outros.
O meu primeiro acesso à internet aconteceu no ano de 2014, quando já contava com os meus 15 anos de idade. Utilizava o celular de uma amiga que me emprestava para acessar o Facebook, que foi a minha primeira conta criada nas redes sociais. Nessa época, utilizávamos internet por dados móveis fornecida pela rede da operadora da Vivo nas comunidades rurais em nossa região. Porém o acesso ao Facebook, que era a única rede que utilizava, era limitado a alguns minutos de algum dia da semana, pois minha amiga morava muito longe da minha casa. No ano seguinte comprei o meu primeiro telefone e então passei a utilizar o Facebook com mais frequência. Logo fui descobrindo novos aplicativos como, por exemplo, WhatsApp, Youtube, Kwai e Instagram, que são ferramentas que utilizo para postagem de fotos, interação, pesquisa, divulgação de trabalho, assistir a vídeos e para ficar antenada às informações e as notícias que estão circulando.
As tecnologias digitais estão cada vez mais presentes na vida das pessoas, na comunicação, no trabalho, nas escolas. Os métodos de ensino também vêm inovando com o uso de novas tecnologias, mesmo nem todo aluno tendo acesso, o que dificulta bastante. No entanto, os professores precisam trabalhar com as ferramentas do nosso tempo em favor do ensino-aprendizado, de modo que as utilizem de maneira consciente, de maneira que, por exemplo, reconheçam fake news e usem os celulares, que é mais comum entre eles, em práticas transformadoras.
Durante a minha formação básica não utilizavam esses novos recursos tecnológicos atuais, pois poucos tinham telefones ou computadores, nem mesmo os professores tinham acesso a um data show. Então utilizávamos mais os livros didáticos. No ano de 2018, ao ingressar no ensino superior na UFVJM, o uso das ferramentas digitais tornou-se mais presente, mas o meu acesso a elas ainda era precário, pois tinha que acessar a internet por meio de um telefone dados móveis, o que limitava a qualidade e acesso.
No ano de 2020, com a pandemia do covid19, a necessidade de melhorar meu acesso se tornou inadiável. Assim, anos após meu primeiro acesso no celular da amiga, pude optar por um plano de internet via Wi-Fi. Também pude trocar de aparelho celular, pois o antigo era um modelo simples e necessitava de mais memória de armazenamento. Foram adaptações demandadas pela pandemia, que geraram gastos a mais no orçamento, e proporcionaram muito mais tempo de conexão e a utilização de mais recursos tecnológicos que ainda não conhecíamos. Com as aulas sendo realizadas on-line, tivemos que nos adaptar a novos aplicativos que contribuíram para novos métodos de ensino como, por exemplo, Google Meet, Google Classroom, GoogleDrive e Gmail. Essas foram as ferramentas que mais utilizamos e que contribuíram para o ensino e muitos aprendizados.
De modo geral, as tecnologias fazem parte do nosso cotidiano, para trabalho, estudo e lazer, como venho pontuando. Vemos, inclusive, grande parte das crianças, adolescentes, adultos e mesmo os idosos, mais resistentes, inseridos em redes de comunicação e usando com competência seus aparelhos tecnológicos. Porém, ainda há uma limitação no acesso por falta de infraestrutura de internet e de outras ferramentas e aparelhos tecnológicos. Mediante o contexto educacional e enquanto futuros educadores, devemos buscar métodos e estratégias para utilizar essas tecnologias em sala de aula, proporcionando maior inclusão, aprendizados e desenvolvimento dos letramentos dos alunos em práticas com o meio digital, pois como já estão em contato constante com esse mundo virtual. Os professores podem utilizar esses novos métodos a seu favor em sala de aula fazendo das tecnologias uma ponte entre o aluno e o conhecimento.
[1] Elisete Martins da Silva é graduanda do curso Licenciatura em Educação do Campo (LEC), da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM).
Este trabalho foi orientado pelos professores Carlos Henrique Silva de Castro, Luiz Henrique Magnani e Mauricio Teixeira Mendes.
Ouça um trecho lido pelo próprio autor a seguir. O texto completo, em formato escrito, segue logo abaixo.
Inicialmente estudei em uma escola do campo, localizada em uma comunidade próxima, onde não existia variedades de tecnologias digitais, apenas uma televisão analógica. Por essa escola atender somente os anos iniciais do Ensino Fundamental, ao ingressar a 5ª série, mudei para uma escola estadual situada na cidade. Meu primeiro contato com um celular foi um analógico da marca Nokia, que meu tio possuía, quando eu tinha em média 8 anos de idade. Eu gostava muito de jogar no celular, mas como meu tio morava em uma cidade distante, eu só podia fazer isso em ocasiões que ele visitava minha avó.
Um dos jogos se chamava Nature Park e nele era necessário fazer com que o urso pegasse bolinhas; após o urso pegar uma sequência de três de mesma cor, acontecia um incêndio e o quadro ficava mais vazio, possibilitando ao urso maior habilidade ao recolher bolinhas.
Na primeira vez que usei um computador eu tinha 10 anos de idade e cursava a 5ª série. Essa oportunidade aconteceu na sala de informática da Escola Estadual Teodomiro Caldeira Leão, quando fomos fazer uma pesquisa. Eu não sabia usar o computador, mas com a ajuda dos meus colegas, muitos deles da cidade e já sabiam fazer pesquisas na internet, consegui meu objetivo.
Na 6ª série comprei meu primeiro celular, quando enviei as primeiras mensagens SMS. Utilizei o celular mais para assistir a vídeos e ouvir músicas que meus colegas me enviavam pelo bluetooth. Conta no Facebook eu criei quando fiz alguns cursos no Telecentro da cidade, quando estava cursando o Ensino Fundamental II.
Atualmente o uso de tecnologias digitais tem feito parte da minha rotina e isso só se intensificou durante a pandemia. Com as aulas remotas, aumentou a necessidade de acompanhar os grupos de WhatsApp e fazendo pesquisas acadêmicas constantes. Assim, para interação entre a turma do curso e comunicação em geral uso com mais frequência o WhatsApp; para entretenimento uso Instagram para.
Percebo que as pessoas mais velhas que residem no campo têm mais dificuldades, tanto em relação ao manuseio, quanto a aquisição dessas tecnologias digitais. Considero que não é algo impossível para elas, pois conheço pessoas acima de 50 anos de idade que têm acesso aos tipos de tecnologias aqui retratadas e conseguem fazer uso do WhatsApp, SMS, ligações, enfim, estabelecer uma comunicação.
Na universidade, o momento de mais aprendizado sobre o uso de computadores foi na monitoria, pois até então usava com facilidade apenas o smartphone. As monitorias me ajudaram bastante na realização dos trabalhos e, principalmente, nas aulas remotas. Mesmo assim a pandemia foi muito desafiadora, pois na minha comunidade a internet é instável, o que dificultou o acompanhamento das aulas.
As tecnologias possuem pontos positivos e negativos e isso tem a ver com o uso que escolhemos fazer delas. Uma das experiências mais marcantes para mim é que sem acesso às tecnologias digitais eu teria grande possibilidade de não estar na graduação; pois no momento da realização de matrícula, de forma presencial, me faltaram alguns documentos. Com um prazo pequeno para uso dos correios, pude escanear os documentos e enviá-los por e-mail.
Considero que o uso dessas tecnologias deve ser debatido com os estudantes, principalmente em escolas do campo, pois não podemos nos resignar com dificuldade de acesso, mas lutar por ele, pois estamos em uma sociedade globalizada e de avanços constantes de interesse de todos. Devemos quebrar o paradigma de que o campo é um lugar de atraso e de pessoas ingênuas. Um conhecimento negado ao estudante pode resultar em uma perda de oportunidades no âmbito educacional, do trabalho, da vida.
[1] Elisama Sousa é graduanda do curso Licenciatura em Educação do Campo (LEC), da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM).
Este trabalho foi orientado pelos professores Carlos Henrique Silva de Castro, Luiz Henrique Magnani e Mauricio Teixeira Mendes.
Ouça um trecho lido pelo próprio autor a seguir. O texto completo, em formato escrito, segue logo abaixo.
As tecnologias digitais podem ser compreendidas por diversos fatores, como pontos positivos e/ou negativos. A tecnologia é mecanismo de informação, e desinformação, e nos oferecem possibilidades de divulgação das culturas de comunicação e interação com o mundo. Em um mundo globalizado, se não fizermos uso desses mecanismos provavelmente estaremos excluídos. Algumas tecnologias podem ser vistas como ferramentas viciantes, e normalmente envolvem mecanismos de manipulação ainda em estudo, como a ansiedade causada por likes e o papel dos conteúdos curtos nesse processo.
Sou de uma família humilde do campo e o meu primeiro acesso às ferramentas digitais foi quando já estava entre 17 e 18 anos de vida, em 2013. Isso não aconteceu somente comigo e sim com a maioria de meus colegas e amigos que moram ou moravam em áreas rurais.
Antes disso eu ganhei um celular analógico, presente do meu pai, da marca “tijolão”, não tinha acesso à internet, mas dava para fazer ligações e tinha uns joguinhos bem legais que vinham no aparelho. Lembro-me, como se fosse hoje, a reação de felicidade do meu pai ao me dar um celular, pois era um período difícil e quase ninguém na minha comunidade tinha acesso a uma ferramenta daquelas, tinha pessoas que não faziam ideia do que seria um celular.
Outra alegria imensa com o acesso a tecnologias foi no ano de 2010, quando estávamos todos ansiosos para a Copa do Mundo na África. Minha mãe nos presenteou – a mim e meus irmãos – com uma televisão de 14 polegadas de tubo. Foi uma felicidade enorme. Era uma televisão de tubo, com características muito inferiores às digitais de hoje em dia, mas ressalto que ela foi uma excelente ferramenta de comunicação e discernimento de informação.
Ao todo somos cinco irmãos, sou a filha do meio, ou seja, tenho dois irmãos mais velhos e dois irmãos mais novos. Gosto sempre de brincar com eles que somos dois tipos de filhos, os mais velhos são gerações raiz, com pouco ou nenhum acesso às tecnologias digitais, e os mais novos são gerações “nutela”, com mais acesso apesar das limitações, e eu estou no meio dessas mudanças. As brincadeiras divertidas como roubar bandeira, cabra cega, que nós mais velhos tivemos na infância, os meus irmãos mais novos não fazem nem ideia do que sejam. E isso não é exclusividade apenas da família, observo que no período em que eu estudava na educação básica, e agora pelas experiências no estágio da licenciatura que curso, as pessoas que nasceram antes dos anos 2000, no geral, tiveram o primeiro contato com o celular analógico somente na adolescência. O máximo que nossos celulares antigos podiam fazer era enviar mensagens de SMS, hoje às crianças já nascem tendo contato com o smartphone para assistir a vídeos e jogar na internet, dentre outras coisas.
No ano de 2014 comprei meu primeiro celular digital, com várias ferramentas e funções novas, mas mesmo assim fiquei muito tempo apreensiva com as redes sociais. Minhas primeiras contas eu criei quando estava fazendo o Magistério (Formação de Professores na Educação Básica com os Anos Iniciais) em uma turma de pessoas com diferentes perfis socioeconômicos, mas onde todos tinham celulares e faziam o uso das redes sociais. Então, acabei me afastando do grupo da sala por não me sentir parte. Minha colega de curso, vendo que me afastava todos os dias quando iam mexer nos seus celulares, me convenceu a criar conta nas redes sociais. Comecei pelo WhatsApp, depois Facebook, e em 2021 decidi aderir ao Instagram.
No ano de 2018, quando ingressei no Curso da Licenciatura em Educação do Campo pela Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, comecei a ter uma visão mais crítica sobre o uso das redes sociais. Hoje, eu administro seis contas no meu aparelho celular de duas redes, três no Facebook e três no Instagram. Duas contas pessoais, uma em cada rede, outras duas da Associação Comunitária Quilombola e outras duas da N’GOLO/Federação das Comunidades Quilombolas do Estado de Minas Gerais.
A minha conta do Instagram pessoal uso mais para publicar fotos, pois gosto de postar minhas fotos que acho interessante, principalmente quando vou a algum lugar e tiro fotos bonitas. No Facebook gosto de ser bastante diversificada. Faço diversas postagens. Achei legal, posto. Mas sem ter aquele posicionamento crítico, pois prefiro evitar fazer postagens de cunho político, religioso ou de assuntos que causariam debate nas minhas publicações, pois sou de uma família com pessoas de identidades e opiniões diferentes da minha e prefiro evitar confusões.
Já as contas da Associação e da N’GOLO eu tenho que ter mais atenção, pois são contas de instituições que envolvem outras pessoas. Nessas contas faço a divulgação dos conteúdos do território Quilombola ou assuntos pertinentes aos interesses gerais. Então, priorizo postagens sobre as culturas e lutas do nosso povo. Por ser de mais fácil o acesso e mais ágil para a comunicação e interação com as pessoas, uso muito o WhatsApp para essas funções.
Pensando nas tecnologias no meu dia a dia, considero que passo boa parte do meu tempo com o celular na mão, seja para assuntos acadêmicos, pessoais, ou dos movimentos sociais que participo. Todas as vezes que chega notificação no celular, imediatamente paro tudo e vou ver do que se trata. De fato, esse comportamento atrapalha um pouco a minha vida no geral, até mesmo o meu relacionamento com o meu marido, pois não consigo cumprir os horários que destino para cada atividade. Todos os dias já acordo com o alarme do celular, em seguida olho todas as correspondências seguindo por essa ordem: WhatsApp, E-mail, Facebook, Instagram e notícias do Feed que são disponibilizadas pelo Google. Sinto que depois que comecei a participar dos movimentos sociais e da vida acadêmica estou mais dependente das ferramentas tecnológicas.
O ponto positivo das minhas experiências é que não precisei de muito tempo para me adaptar ao ensino remoto pois eu já usava, por exemplo, ferramentas de reuniões online com os movimentos sociais e outras. Entretanto, uma das dificuldades que devo mencionar sobre o ensino remoto é que eu moro atualmente em Diamantina, na zona urbana, mas desenvolvo algumas atividades em minha comunidade rural que fica entre os municípios de Serro e Santo Antônio do Itambé. Durante o período do ensino remoto, precisei ir para a comunidade muitas vezes e lá não tem acesso à internet. Então para usar a internet no celular, conectava via antena rural de uma vizinha, que eu ia à noite quando tinha encontros online, a aproximadamente a vinte minutos de moto. Como não sei pilotar, precisava que um dos meus irmãos ou meu marido me levasse todos os dias. As dificuldades do ensino remoto não foram apenas para os estudantes do ensino superior, afetaram também os estudantes da educação básica, principalmente a do campo, aqueles de comunidades com essa que citei, que não têm acesso, ou têm acesso precário, à internet.
Em síntese, compreendo que as tecnologias digitais não são neutras, e que, como futuros educadores, devemos sempre trazer para a sala de aula debates que apontem pontos positivos e negativos de seus usos, pois os estudantes devem ter suas próprias concepções críticas do uso dessas ferramentas. A melhor forma, então, é orientá-los para fazerem um bom uso das tecnologias, para, sobretudo, não cairmos em truques de linguagem no processo de interação e comunicação, mas podermos acessar bons debates para maior consciência crítica.
[1] Claudiana Aparecida de Paula é graduanda do curso Licenciatura em Educação do Campo (LEC), da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM).
Este trabalho foi orientado pelos professores Carlos Henrique Silva de Castro, Luiz Henrique Magnani e Mauricio Teixeira Mendes.
Ouça um trecho lido pelo próprio autor a seguir. O texto completo, em formato escrito, segue logo abaixo.
Nasci em uma comunidade do campo, em uma época em que pouco se ouvia falar de tecnologia digital. No campo essas tecnologias acabam chegando por derradeiro. Apesar das dificuldades financeiras, meus primeiros contatos com um celular foram aos meus 12 anos, em meados de 2011 para 2012. No entanto só em 2015 ou 2016 que tive meu primeiro aparelho celular, um Samsung J5; a partir de então criei minhas primeiras contas em ambientes virtuais, no Google e no Facebook.
Adquiri esse primeiro celular não porque precisava, mas por ver meus colegas da escola com essa tecnologia. Percebi que precisava ter um para me enturmar, pois era moda. Em meu tempo de escola havia uma sala de computação, no entanto, dificilmente éramos levados para trabalhar com esses computadores. Somente a partir de 2018, época em que ingressei na Licenciatura em Educação do Campo, que pude trabalhar com o computador/notebook.
Atualmente utilizo alguns aplicativos no smartphone como o WhatsApp e Instagram, usados para socializar. Também utilizo outras ferramentas para pesquisas e para assistir vídeos (YouTube, Tik Tok, Google). O Instagram e o TikTok utilizo para publicar fotos, vídeos, sem uma função determinada, como para ganhar curtidas ou comentários. Logo ao acordar já começo utilizá-los.
Com essas tecnologias em mãos, acabamos deixando de lado outras coisas que fazíamos, como ter um diálogo face-face. Nos ajudam a resolver quase tudo sem mesmo sair de casa/quarto. Por exemplo, compramos e pagamos através de um clique. Por um lado, facilitou a solução de problemas, mas também traz consequências como o alto consumismo online e o abandono dos comerciantes locais, levando-os à falência.
Nem todos das gerações anteriores, como nossos pais e/ou avôs, se apropriaram dessas novas tecnologias, sendo que grande parte dessas gerações não foram alfabetizados, o que dificulta o uso, mesmo sendo interativas e de fácil manuseio. Atualmente, as crianças já nascem com um aparelho digital na mão, o que os leva a um processo de aprendizagem antecipado, antes mesmo da alfabetização.
No ambiente escolar, considero que o uso das tecnologias digitais é de suma importância, pois são ferramentas que podem chamar a atenção dos alunos, além de prepará-lo para o que estar por vim. Assim é importante que haja professores capacitados, para que os alunos se apropriem dessas ferramentas de forma crítica para, assim, não ficarem sujeitos a exclusão digital/social.
Na minha formação básica tive pouco contato com as tecnologias. Lembro-me que havia poucos computadores na escola e os utilizávamos raramente. No decorrer dos anos algumas coisas evoluíram com o uso do pendrive e de projetores de imagens, mas mesmo assim eram pouco utilizados.
Na universidade tive dificuldade em utilizar o computador/notebook, pois não estavam incorporados nas minhas vivências e até hoje não domino bem essas tecnologias. Nesse espaço tive várias experiências importantes para minha aprendizagem como acessar e utilizar os ambientes de aprendizagem Moodle e Google Classroom.
Durante a pandemia, o uso de tecnologias no meu cotidiano não foi excessivo. Como moramos no campo, onde o acesso à internet é difícil, e não podíamos sair do isolamento social, praticamente deixamos as tecnologias de lado. Com isso, a maioria do tempo estivemos trabalhando nas plantações.
Quando começou o ensino remoto, tivemos dificuldades para acesso internet. Para conseguir melhor sinal, tínhamos que subir em morros para acompanhar as aulas e fazer as atividades. Foi a solução para se ter maior acesso. Por morar fora do centro da comunidade, não conseguia o sinal da internet para instalar em casa, pois nem se avista a torre que transmitia o sinal. Como a demanda de pessoas sem acesso à internet era grande, buscamos por uma empresa que instalasse uma antena mais próxima e os aparelhos de conexão nas casas. Para isso, tivemos que abrir um caminho e carregar o material até o morro onde seria fixada a antena. Financeiramente, a comunidade se uniu e cada um pagou 100 reais para instalação e uma mensalidade de 77 reais. Assim foi feito e em outubro de 2021 conseguimos acesso à internet em casa, mas não é de tão boa qualidade.
Com internet em casa, passei a utilizar um computador de mesa, que foi doado por minha irmã. Com internet em casa, meus pais passaram a ter também aparelhos para se comunicarem. Assim como eu que tive dificuldade em ter acesso à internet em casa, e ainda de má qualidade, devemos analisar que isso pode ter ocorrido com outras pessoas ou até mesmo pior, que as impossibilitaram de continuar a estudar durante o ensino remoto. Devemos ainda analisar como os alunos do campo estudaram no ensino remoto, já quem nem todos têm acesso à internet, ou a outros aparelhos, para estudar.
Percebo que essas novas tecnologias devem/precisam ser trabalhadas nas escolas, já que são utilizadas por/pelos alunos. Assim, devemos pensar em uma educação do campo na qual todos tenham acesso. Como futuro educador me vejo trabalhando com as tecnologias a partir do contexto em que estão inseridos. Penso em buscar possiblidades no qual os estudantes consigam interagir efetivamente. Se nós educadores não trabalharmos tecnologias na educação, entendo que não estamos cumprindo nosso papel de formar jovens e adultos de uma forma crítica. Assim, devemos criar condições para que percebam a importância do uso dessas tecnologias, e como o mau uso traz consequências às vezes irreversíveis.
[1] Alexandre dos Santos Baldaia é graduando do curso Licenciatura em Educação do Campo (LEC), da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM).
Este trabalho foi orientado pelos professores Carlos Henrique Silva de Castro, Luiz Henrique Magnani e Mauricio Teixeira Mendes.
Ouça um trecho lido pelo próprio autor a seguir. O texto completo, em formato escrito, segue logo abaixo.
Meu primeiro contato com o mundo digital foi tardio, aos dez anos, com o telefone via antena na casa da vizinha, o qual a gente usava para ligar para os parentes que moram fora, como em São Paulo e Campinas. Outros contatos com as tecnologias digitais aconteceram na escola, onde usei pela primeira vez um computador.
Na escola também assistíamos a filmes em DVDs na televisão, outra tecnologia em alta no período, mas ter a oportunidade de interagir com um computador, que a gente não tinha nem noção de como funcionava de verdade, foi algo muito gratificante e, acredito, um privilégio. Mais tarde, entre 2009 e 2010, tive o primeiro celular digital (da Nokia) com teclado touch screen que eu utilizava para fazer ligação, acessar o Facebook e tirar fotos. A internet era bem limitada, pois só funcionava com a compra de créditos antecipados.
Com o passar dos anos, tive acesso a várias outras ferramentas digitais, como celulares mais modernos da Samsung com Facebook, e-mail, WhatsApp. A rede social que eu mais utilizava era o WhatsApp para comunicar com o namorado. As outras redes sociais eu usava mais por curiosidade.
Atualmente, devido aos meus estudos na universidade, costumo usar essas ferramentas de comunicação, mas também utilizo outros com finalidades específicas educacionais como Google Classroom, E-campus, Google Meet, Google Drive, assinatura digital, e-mail institucional etc. Mesmo com todas as funções e possibilidades de aprendizagem que essas tecnologias proporcionam, a proibição de seus usos no contexto de sala de aula é uma realidade. Eu mesma já vivenciei essa proibição em uma escola públicas.
Hoje em dia estou presente nas redes sociais buscando conhecimento e trabalhando. A tecnologia que sempre uso ao acordar é o telefone celular devido o alarme. Ao longo do dia, junto ao celular utilizo o notebook. Com a presença dessas tecnologias e das redes sociais no meu cotidiano, algumas práticas sociais mudaram, como ler diariamente, brincar com os amigos no final da tarde etc.
Pensando nesses avanços tecnológicos, tem o lado positivo e o negativo. De negativo, algumas práticas educativas que eram realizadas na comunidade, como a contação de histórias pelos mais velhos à luz do luar, com a chegada da internet, já não se faz mais isso. As pessoas mal conversam umas com as outras. Com isso, tradições como as danças locais e as festividades estão sendo modificadas.
Na minha formação na educação básica, tive poucas experiências com as tecnologias digitais e na sala de aula era proibido o uso de celulares, que nem todos tinham. O computador de mesa da escola raramente era utilizado para a pesquisa. Nem acesso à internet tínhamos, pois fomos privados com o argumento de que não sabíamos administrar o tempo de uso. O contato mais prolongado com a internet era em uma lan house, onde eu pagava um real para acessar o que queria.
Com o ingresso na universidade, adquiri um notebook para poder realizar as atividades do curso. No início tive muita dificuldade de acessar o Moodle, onde são postados os trabalhos. O acesso ao ambiente é um pouco complicado e demorado e seu suporte para arquivo é limitado. Atualmente o uso da assinatura eletrônica está sendo um desafio, outras ferramentas foram mais tranquilas.
No contexto pandêmico, em que estudamos de forma remota por dois anos, a necessidade e o acesso às ferramentas digitais acabaram sendo a preocupação principal. Ficamos dependentes delas para poder conseguir dar sequência aos estudos e muitos desistiram por não possuírem ferramentas adequadas e não terem condições financeiras para comprar. Eu mesma tive que comprar um novo computador. Nesse período em que ficamos dependentes das tecnologias para a comunicação, o contexto do campo foi o mais afetado, uma vez que não estávamos acostumados com tanta informação digital ao mesmo tempo e nem tínhamos acesso a essas tecnologias.
Diante dessas e outras experiências, vejo o uso das tecnologias nas escolas de forma excludente, pois não são acessíveis à maioria. Uma vez que somos refém dessas ferramentas, devemos usá-las ao nosso favor. Tenho a experiência na universidade de uma sala de aula onde o uso dessas tecnologias funciona super bem e são fundamentais para o nosso aprendizado. Dessa forma, com certeza vou usar algumas delas nas minhas aulas para o ensino dos meus futuros alunos, sempre em busca do diálogo sobre a atualidade, as tecnologias digitais e o seu uso positivo e/ou negativo e questões relacionadas ao consumismo.
Como futura educadora do campo, buscarei também metodologias e ferramentas que atendam a maioria dos meus alunos, buscando diminuir a exclusão notória no contexto de sala de aula. Sinto-me segura para dar aula com determinadas ferramentas digitais como o computador/notebook, o celular, o datashow que, a meu ver, são tecnologias essenciais para um ensino dialógico no contexto escolar. Para mim, é evidente que o educador deve se adequar ao mundo tecnológico para contribuir para uma educação de qualidade, para que seus estudantes sejam críticos ao utilizarem as redes e as tecnologias de maneira geral.
[1] Carla Batista Dias é graduanda do curso Licenciatura em Educação do Campo (LEC), da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM).
Este trabalho foi orientado pelos professores Carlos Henrique Silva de Castro, Luiz Henrique Magnani e Mauricio Teixeira Mendes.
Ouça um trecho lido pelo próprio autor a seguir. O texto completo, em formato escrito, segue logo abaixo.
Vivi pelo menos até os cinco anos de idade em uma comunidade onde não existia energia elétrica. Então, os primeiros aparelhos tecnológicos com os quais tive contato foram os rádios à pilha, o toca-fitas e a radiola em que podíamos ouvir músicas e nos manter informados a respeito dos acontecimentos das cidades vizinhas.
Ao ingressar na escola municipal de minha comunidade para os primeiros anos de minha educação formal, época em que já havia energia elétrica, pude ter acesso aos rádios que tocavam CDs, e televisão em que podíamos assistir desenhos, e filmes em fitas VHS e mais tarde em DVDs. Em casa ocorreu meu primeiro acesso ao celular, quando meu pai comprou um telefone que chamávamos de tijolão. Com ele eu jogava escondido um único jogo que não me lembro o nome.
Meu irmão já possuía um celular e não me deixava usá-lo para não estragar. Aos onze anos de idade, fui transferida para a escola estadual da cidade, onde pude acessar algumas tecnologias digitais como os computadores do Telecentro comunitário, onde eu fazia trabalhos como pesquisas, quando aprendi a manusear um pouco o computador.
Aos dezesseis anos pude ter um celular de teclado, em que criei meu primeiro Facebook e ouvia músicas. Depois, fui trocando de aparelho com o decorrer do tempo. Principalmente no ensino médio eu utilizava bastante o SMS (Serviço de Mensagens Curtas) para comunicar-me com os colegas. Em casa, necessitava de ir para um lugar mais alto, normalmente no meio do mato, para ter o acesso à internet, pois o sinal não funcionava. Quando funcionava, era fraco. As vezes lá ficava até o celular descarregar ou a mãe ir gritar porque já estava preocupada. Ao cursar o magistério para o trabalho com educação infantil, criei conta no WhatsApp e Facebook, que eu utilizava bastante. Também visitava sites para pesquisas e lojas online, mas somente para pesquisar.
Ao ingressar na universidade, em 2018, comecei a ter mais acesso às plataformas digitais principalmente para os estudos, que depende bastante do acesso à internet para pesquisas, baixar textos e outros materiais disponibilizados pelos professores, comunicar com os colegas e professores e outros. Diante da situação que passamos por causa da COVID-19, tivemos que ter aulas remotas e utilizamos muitas plataformas digitais novas, além dos equipamentos. Para estudar, utilizo o notebook e celular e os aplicativos Google Classroom, Google Drive, Google Meet, E-mail, entre outros. Para entretenimento e comunicação, ao longo do dia, utilizo os aplicativos WhatsApp, Facebook, Instagram, Kwai, Youtube, bem como também apps bancários, lojas online, entre outros.
Como pode-se notar, a tecnologia que utilizo com maior frequência ao longo do dia é o aparelho celular, que, ao acordar, já visualizo as horas, se tem alguma mensagem ou ligação importante. Se a manhã estiver tranquila, entro em algum aplicativo de entretenimento para me distrair. Algumas práticas sociais mudaram com o uso de diferentes tecnologias. Hoje resolvo algumas situações do cotidiano pelo WhatsApp e ligações como marcação de consulta e até a consulta dependendo do especialista, comunicar-me com o agente de saúde da cidade, entre outras atividades que desenvolvia antes pessoalmente me deslocando até o ambiente.
Diante dessa realidade de intensas mudanças que estamos presenciando, certamente passaremos por novas adaptações, principalmente quando se trata dos contextos educacionais e formação profissional, em que o uso das tecnologias digitais se tornou necessário nos diversos níveis e áreas. Durante o meu processo de formação como profissional docente, percebo que utilizarei vários mecanismos tecnológicos que os meios sociais exigem e estão sempre em mudança, principalmente nas escolas onde atuarei. Espero usar essas novas possibilidades tecnológicas no ensino da melhor forma possível, de forma que ajude a incluir quem não tem acesso a elas, o que não será fácil, mas é necessário.
[1] Alcione Aparecida Ferreira é graduanda do curso Licenciatura em Educação do Campo (LEC), da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM).
Este trabalho foi orientado pelos professores Carlos Henrique Silva de Castro, Luiz Henrique Magnani e Mauricio Teixeira Mendes.
Ouça um trecho lido pelo próprio autor a seguir. O texto completo, em formato escrito, segue logo abaixo.
Aqui abordo alguns aspectos vinculados às minhas experiências com tecnologia digital. Aos 15 anos de idade, tive contato com um computador de mesa da escola onde eu estudava. Acredito que esse foi meu primeiro contato com um aparelho digital, meio tardio. Naquela época fiquei admirado ao ver a máquina. A professora pediu que realizássemos uma pesquisa, mas eu não sabia nem ligar a ferramenta.
Após a professora ligá-la, alguns colegas me ensinaram a usar o mouse, a usar a aba de pesquisa e outras coisas. Tive bastante dificuldade para controlar o mouse, mas o que me chamou muita atenção foi o fato de que se o levantasse da mesa, não funcionava muito bem. Esse primeiro contato com a ferramenta impactou meu processo de aprendizagem, pois fiquei muito curioso ao ver que meus colegas estavam obtendo muita informação nas pesquisas que faziam. Porém não tive bom resultado na atividade em si, pois não consegui acessar as informações como meus colegas.
Aos 17 anos consegui comprar meu primeiro celular e tive muita dificuldade em instalar o Facebook, pois naquela época, e até mesmo hoje em dia, acessar a internet na minha comunidade é difícil. Há algum tempo utilizando o aparelho pude aprender bastante coisa e logo comecei a utilizar o Google para pesquisar e realizar atividades mais complexas. Até hoje essa ferramenta tem sido uma das que mais utilizo. Acredito que o vínculo com o curso de graduação tem sido um dos principais elementos que me direciona/aproxima a esses usos, pois sempre utilizo para pesquisar, estudar, dificilmente acesso com outro intuito. Também uso bastante o WhatsApp e Gmail, ferramentas que me dão acesso a questões do curso e informações de familiares. Até pouco tempo usava o app do Facebook, porém acabei desinstalando, pois notei que estava havia muita frequência de sorteios de rifas.
Sempre tive pouco acesso a tecnologias digitais, pois passei a infância na roça onde não há nem sinal de telefonia. Nos dias atuais resido no mesmo lugar, porém acesso as ferramentas com mais frequência para estudar. Meu uso diário de internet se dá apenas quando estou no Tempo Universidade, que é totalmente diferente de quando estou na comunidade, quando fico semanas sem acessar nenhuma plataforma digital. As tecnologias têm facilitado muito meu processo de adaptação na graduação, inclusive na pandemia, quando realizamos muitos trabalhos e pesquisas de Tempo Comunidade em reuniões virtuais e diálogos no WhatsApp. Se não houvesse tais plataformas não tínhamos condições de desenvolver tais propostas.
Nas pesquisas e diálogos realizados na comunidade fica visível a mudança nas relações entre as gerações novas e mais velhas com o uso de tecnologias, como alguns moradores têm se queixado. Os mais velhos afirmam que a “cultura tem se perdido” na comunidade, pois os jovens se recusam a aprender os costumes. Inclusive. um senhor me relatou em uma entrevista, que ele é o único que ainda sabe fazer bolsas de couro na região. Ele afirma que seu pai lhe ensinou e hoje não pode fazer da mesma maneira com seus filhos, pois eles não querem. Após adquirirem celulares, “não têm gosto de fazer mais nada”. Mesmo não havendo internet, o contato de crianças e jovens com os aparelhos é constante, que os utilizam para jogos digitais.
Vejamos que há pontos negativos e positivos quando discutimos a nossa relação com essas novas tecnologias. Proporcionam muito conhecimento e têm contribuído para a minha formação; mas deparo-me com pontos negativos quando noto que minha comunidade tem perdido muitas tradições pelo mal-uso das tecnologias digitais. Como educador do campo, uma boa possibilidade de se trabalhar com os estudantes e novas tecnologias seria usá-las para o estudo das culturas locais, com vídeos de depoimentos, dentre outros.
Hoje percebo como tudo tem evoluído, inclusive a escola, pois na que frequentei há vários computadores com conexão Wi-Fi que, são utilizados com frequência, pelos alunos. Também, nas salas de aula há televisores com acesso à internet, diferente da minha época. Na Licenciatura em Educação do Campo (LEC) tenho aprendido muito com o uso de tecnologias digitas. Meus principais aprendizados estão relacionados ao uso do computador, onde acesso diversos sites e fontes de estudos.
Quando estava cursado o terceiro período tive que comprar um notebook e um celular, pois dependia desses aparelhos para estudar. No momento de pandemia a plataforma como Classroom dificultou significativamente meu processo de aprendizagem, pois eu perdia aulas anunciadas na plataforma, quase não entendiam as explicações virtuais, não encontrava as informações para o trabalho, devido não saber manusear o aplicativo. Essas dificuldades encontradas têm feito parte de minha formação e me proporcionado diversos conhecimentos. A pandemia em mudou toda minha rotina. Para ter acesso a aulas em vídeo, devido à dificuldade de acesso à internet, tinha que me deslocar todos os dias até o alto de um morro onde o sinal é melhor. Talvez eu não entendesse as explicações virtuais por fatores como esses: subir um morro, no mato, às com fome, outras com frio.
Na escola básica na comunidade não foi muito diferente. Sem ir à escola presencialmente, os alunos tinham que subir o morro para pesquisarem diversas questões dadas por seus professores. Além de que, em sua maioria, não possuem um aparelho adequado para acessar a internet. Eu mesmo emprestei meu celular para alguns que não tinham. A pandemia afetou gravemente muitos alunos, inclusive os oriundos do campo.
É de suma importância afirmar que o acesso às tecnologias existentes no contexto urbano não é o mesmo do campo, a exemplo da internet. Isso tem sido um fator que afeta o ensino/aprendizagem dos estudantes campesinos, pois os impedem de ter o contato com tais ferramentas e seus usos, como vimos na pandemia. Ao longo de minhas experiências de estágio, pude perceber que os docentes optam por trabalhar com livro didático ao invés de passarem um filme na televisão, ou desenvolverem atividades na sala de informática. Os professores afirmam que, quando mudam as práticas tradicionais, os alunos acabam bagunçando e não fazem as atividades. Esta é a “desculpa” que tenho presenciado por diversas vezes no contexto escolar.
Acredito que práticas conscientes com as tecnologias digitais na escola proporcionam um universo de possibilidades para tornar o ensino realmente significativo para os estudantes, porém devemos ter o cuidado para não colocarmos esse público expostos a mais consumismo. Com o objetivo de aumentar o consumo, na internet o mercado recorre a diversas propagandas, por vezes duvidosas, além dos falsos padrões criados. A tecnologia contribui para o nosso avanço e para educação em geral, e por isso faz muita falta para muitos que ainda não têm acesso.
[1] Airton Alves Chaves Júnior é graduando do curso Licenciatura em Educação do Campo (LEC), da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM).
Este trabalho foi orientado pelos professores Carlos Henrique Silva de Castro, Luiz Henrique Magnani e Mauricio Teixeira Mendes.
Ouça um trecho lido pelo próprio autor a seguir. O texto completo, em formato escrito, segue logo abaixo.
Trago aqui reflexões sobre o meu processo de adaptação com algumas ferramentas tecnológicas a partir de experiências que marcaram esse percurso. Além disso, deixo minhas percepções como futuro educador do campo, em um contexto educacional onde novas metodologias podem ser escassas.
Durante minha infância, o contato com as tecnologias digitais era muito difícil, pois se dava na escola estadual onde estudava, apenas quando éramos levados para a sala de informática para pesquisar algo relacionado a matéria estudada. Todas as recomendações da professora, com o medo de estragarmos aquele computador empoeirado, já despertava em nós a preocupação em atrapalhá-lo.
A chegada dos celulares, por exemplo, na Comunidade Quilombola do Furtuoso, no município de Coluna, onde resido, se deu de forma muito lenta. Me lembro que o meu primeiro acesso a um aparelho celular foi aos 17 anos, quando um primo conseguiu comprar um.
Com o passar do tempo, consegui comprar um aparelho bem simples, que aos poucos fui trocando. O tempo foi passando e com o apoio da Associação Quilombola da Comunidade conseguimos levar a internet para nosso quilombo. Isso possibilitou a redistribuição da rede e a instalação nas residências dos moradores, facilitando assim o contato com o “mundo globalizado’’. A partir daí foi possível criar contas nas redes sociais como o Facebook, consegui comprar meu primeiro notebook, utilizado com mais frequência para os estudos, mas também para momentos de descontração.
Em meu processo de uso das tecnologias, muitas oportunidades e incentivos foram dados por meus professores, da Licenciatura em Educação do Campo, que me colocaram ativamente no uso das ferramentas digitais. Em minha prática atual com a tecnologia digital, uso com muita frequência a plataforma Google Classroom, mensageiros e redes sociais como WhatsApp, Facebook e Instagram, usados para troca de mensagens. Considerando que faço parte dos movimentos sociais quilombola na comunidade onde moro, às vezes, bem raramente, posto algumas fotos nas redes, mas não curto muito essa ideia.
No meu cotidiano, as tecnologias midiáticas estão sempre presentes. Pensando no dia de ontem, o primeiro aparelho tecnológico que utilizei no dia foi o celular, que serviu até mesmo como despertador. No decorrer do dia, também usei o notebook. Uma das ferramentas ainda não explorada por mim, que pretendo utilizar e tenho essa curiosidade, é o GPS, que pode facilitar as rotas de viagem que pretendo fazer em um futuro bem breve.
Percebo que em função de algumas tecnologias, algumas práticas comuns foram se perdendo. Antes era comum o diálogo face a face, a interação humana de forma presencial; e hoje em dia as pessoas se encontram alienadas pelos aparelhos digitais, com isso muitas tradições e culturas foram sendo perdidas. Recordando-me da época de convivência com meus avós, tios e primos mais velhos, percebo que a tecnologia que chegou como “moderna” na comunidade também excluiu, de certa forma, as práticas culturais da comunidade. Um dos exemplos que pode ser citado, ainda fresco em minha memória, é o momento em que grande parte da família se reunia próximo ao pé de manga gigante que existe na casa de minha avó para ouvir histórias, algumas vezes de assustar. Íamos embora para casa com medo após os causos contados. Hoje esse espaço é ocupado pela juventude nos jogos de Free Fire, sem espaço para as pessoas mais velhas e as tradições.
Por outro lado, as tecnologias têm facilitado de forma significativa o desenvolvimento, mesmo excluindo pessoas como mostra nosso quadro de grande desigualdade social. Considerando essa realidade, como professor eu buscaria metodologias e ferramentas que atendessem, de certa forma, às nossas necessidades educativas e que fosse de fácil acesso aos alunos. Optaria, por exemplo, por usar celular e notebook para envolver a todos, como em trabalhos em grupo.
Como já mencionado, na minha trajetória escolar a experiência com computadores e internet se dava na sala de informática, onde a tarefa que predominava era pesquisar na Wikipédia assuntos relacionados às atividades trabalhadas em sala de aula, como se estivéssemos na biblioteca. Anos após, ao realizar o processo de estágio nessa mesma escola, percebi que não houve uma grande evolução. Na mesma sala de informática os computadores se encontram no mesmo lugar, alguns deles amontoados e empoeirados, fazendo entender que são pouco utilizados.
No meu percurso universitário, as principais tecnologias utilizadas são Moodle, E-campus, Google Classroom, Google Meet, e-mail institucional e, recentemente, a assinatura digital. Para mim esse novo ambiente foi bastante desafiador, acredito que para todos, por se tratar de ferramentas novas com as quais eu não tinha contato. O Moodle foi a ferramenta que mais encontrei dificuldades no domínio e acredito que isso tenha dificultado, de certa forma, meu aprendizado, pois os materiais para estudos eram postados nesse espaço. Com as dificuldades encontradas, eu só usava o ambiente para postagem de trabalhos.
No período do isolamento social, destaco como algo positivo o uso de algumas ferramentas para manter o diálogo e algumas atividades da universidade iniciadas presencialmente, mudando totalmente a metodologia. As ferramentas que antes eram mais utilizadas para interação social, com a pandemia se tornaram essenciais para o desenvolvimento dos trabalhos, como por exemplo, o WhatsApp. Assim, o período pandêmico me levou a me adequar a essas tecnologias também para o uso profissional, o que fez com que eu comprasse alguns novos aparelhos para conseguir acompanhar as atividades propostas.
No contexto escolar das comunidades do campo, percebi que a implantação do Ensino Remoto Emergencial acabou dificultando o processo de aprendizado dos alunos e a atuação dos professores. Esses tiveram que se adequar à nova realidade muitas vezes sem possuir ferramentas básicas como conexão com a internet, além de não terem ajuda com recursos e nem formação específica.
Durante o processo de estágio, foi possível perceber que o uso das tecnologias na escola são um grande tabu, visto como algo totalmente negativo, até mesmo com a proibição do uso do celular em sala de aula. Deixam, assim, de aproveitar as ferramentas úteis ao processo de ensino e aprendizado dos alunos.
Como futuro educador percebo a necessidade de se buscar por conhecimentos e capacitação para conhecer ferramentas que possam ser levadas para a sala de aula e que atendam ao público. Concluo com a defesa do uso de tecnologias adequadas ao espaço escolar, que possam atender a todos, de maneira significativa no processo de aprendizado dos alunos. Nesse sentido, deve-se quebrar essa barreira da proibição e adequar as ferramentas midiáticas utilizadas ao contexto social. Com relação à segurança em se trabalhar com as tecnologias em práticas educativas, percebo que é algo bem desafiador, pois precisa levar em consideração o público que será atendido. No entanto, a presença de computadores e acesso à internet em grande parte da escola facilita o trabalho com metodologias voltadas para a pesquisas que contribuem para a criticidade dos alunos.
[1] Adilson Gomes Santos é graduando do curso Licenciatura em Educação do Campo (LEC), da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM).
Este trabalho foi orientado pelos professores Carlos Henrique Silva de Castro, Luiz Henrique Magnani e Mauricio Teixeira Mendes.
Reflexões da disciplina de práticas de ensino do núcleo Médio/Baixo Jequitinhonha
Este texto tem como objetivo relatar a experiência da disciplina de Prática de Ensino do curso de Licenciatura em Educação do Campo da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (LEC-UFVJM) do Núcleo de Alternância Médio e Baixo Jequitinhonha. A partir do tema integrador: “Organizações das bases em comunidades do campo e quilombolas em tempo de pandemia, importância das mobilizações e militâncias, dos movimentos sociais na Educação do Campo”, os estudantes, junto à professora responsável, concentraram-se em trabalhar na disciplina com as condições de acesso à educação dos povos do campo da região.
Para isso, utilizou-se como ferramenta para levantamento de dados um formulário eletrônico (Google Forms) enviado via WhatsApp para representantes de várias instituições do Médio e Baixo Jequitinhonha, como movimentos sociais, instituições de ensino, sindicatos, lideranças comunitárias etc., com o intuito de se entender quais melhorias se fazem necessárias para que os estudantes do campo da região tenham acesso a um ensino de qualidade. O questionário continha seis perguntas sobre as condições educacionais dos estudantes ligadas aos seguintes temas: estratégias, incentivos, obstáculos, mobilizações, condições políticas/ estruturais/ pedagógicas/ didáticas, atuais e as necessárias nas instituições de ensino de educação básica, técnica e ensino superior.
Obtivemos retorno de 16 representantes cujas respostas são analisadas neste trabalho. Para um melhor resultado foi subdividido o grupo de estudantes em duplas e temas a partir dos dados obtidos. Essa pesquisa pode ser representada pelo mapa abaixo:
Na primeira pergunta (Quais os principais obstáculos (pedagógicos e estruturais) estão sendo enfrentados pelos estudantes do campo na adaptação da atual modalidade de ensino na pandemia?), o que se mais se repetiu foram a falta de acesso à internet, transporte e equipamentos digitais que, direta ou indiretamente, afetam todos as demais questões.
Já nas respostas à segunda questão (Quais as condições [didáticas, pedagógicas, políticas e estruturais] seriam apropriadas para o atendimento aos estudantes do campo de maneira satisfatória?), o acesso à internet e a equipamentos digitais continua sendo o forte da discussão, como também a capacitação de professores na área, carga horária excessiva dos docentes e a necessidade de uma visibilidade maior por parte do estado em relação às Escolas Família Agrícola/Agroecológica (EFAs), que passa uma quantia insignificante de recursos a essas escolas.
Dando continuidade, a terceira pergunta (Quais são as estratégias adotadas para pressionar os órgãos de governos para enfrentar as desigualdades e as dificuldades do sujeito do campo no acesso à educação?) também trouxe resposta com um enfoque bastante realista do cotidiano dos estudantes. Nesse sentido, foram mencionadas algumas ferramentas a serem utilizadas para mobilização como audiências públicas que podem ser promovidas pelos representantes dos movimentos ligados à educação do campo, onde a participação campesina deve ser bastante presente. Ressaltaram em suas respostas a necessidade de se pressionar o estado para criar políticas públicas permanentes.
Com os dados da resposta da quarta pergunta, (Frente a uma possível desmotivação dos sujeitos do campo para ingressar/permanecer nos estudos, qual (is) incentivo (s) poderia(m) ser adotados para despertar o interesse novamente?), foi possível constatar que é imprescindível que haja incentivos que contribuam para o interesse dos estudantes no ingresso, permanência e continuação nos estudos. É necessário que esses educandos possam entender a importância da educação para o desenvolvimento pessoal e coletivo, especialmente para os povos campesinos. É preciso que compreendam a educação como uma ferramenta essencial no entendimento, na busca e na luta por direitos, fazendo-se necessário que haja uma implementação e ampliação de políticas públicas que possibilitem aos estudantes acesso a uma educação de qualidade em que as instituições de ensino sejam lugar de produção do verdadeiro conhecimento, um espaço educacional que faça sentido e diferença na vida dos educandos. Para isso, é preciso que as escolas tenham estrutura (física, pedagógica, didática etc.) de qualidade, professores com boa remuneração, boa formação e valorização do seu trabalho. Ademais, é importante que haja iniciativas públicas que ampliem e implementem políticas de apoio rural, que os projetos e iniciativas dos jovens do campo sejam valorizados e apoiados, pelos órgãos governamentais e não governamentais.
Com base nas respostas à quinta pergunta (O que a comunidade, professores, associações, sindicatos, movimentos sociais e secretarias de educação, têm feito para melhorar e mudar esse cenário de precarização da infraestrutura e ou fechamento das escolas do campo e perda de outros direitos para acesso e permanência do sujeito do campo nas instituições de educação básica, técnica e superior?), foi possível perceber que um caminho fundamental para incentivar os estudantes é trazer representatividade para o ambiente educacional, bem como apoio profissional. Isso pode ser possível ao levar para esses ambientes experiências comunitárias por meio de relatos de pessoas do contexto do educando para o compartilhamento dos saberes. Além disso, é importante levar profissionais da saúde, como psicólogos, terapeutas, enfermeiros, e de outras áreas de conhecimento como pedagogos, engenheiros, agricultores etc., para apoiarem as inciativas e, ainda, para que os estudantes possam se imaginar como profissionais nessas carreiras.
No que se refere à luta em prol da educação do campo, percebe-se de acordo com as respostas, que há muito que o fazer e muito o que movimentar. A maior parte das mobilizações é feita pelos movimentos sociais que, muitas vezes, sofrem ataques pelas reivindicações. A sociedade ainda não se conscientizou da necessidade e da importância da educação do campo. Muitas pessoas, inclusive algumas campesinas, se deixam levar pela desinformação e pela politicagem. E no que tange aos órgãos públicos, a maioria não apoia com medidas efetivas os direitos dos povos do campo como deveriam.
Fundamentados nos dados da sexta pergunta (Quais condições seriam necessárias para garantir acesso e permanência aos estudantes do campo nas instituições de ensino básico, técnico e superior?), é possível afirmar que, no cenário atual, muitas condições básicas ainda precisam ser efetivadas para garantir acesso e permanência aos estudantes do campo nas instituições de ensino. Há necessidade explícita de infraestrutura de qualidade como: moradia estudantil ou alojamentos, salas de aula, bibliotecas, laboratórios, espaços para educação física e artística, transporte, bolsas, alimentação e internet, escolas localizadas no campo, creches e educação infantil para as crianças do campo, formação docente específica e continuada, dentre vários outros.
A educação do campo é um direito e como tal deve ser respeitado. Quando isso não ocorre é preciso ficar atento e se movimentar, por meio de denúncias do poder público, mas também de ações efetivas dos próprios povos do campo.
Embasados nos resultados da pesquisa, o núcleo criou uma série de áudios que anuncia, denuncia e reage às questões levantadas. Ficou curioso? Venha conferir clicando nos links disponibilizados abaixo.
Participantes do Núcleo Baixo e Médio Jequitinhonha no semestre 2021/01:
Meu nome é Matheus, tenho 21 anos e moro na comunidade quilombola do Baú. Moro com minha avó desde os 4 anos de idade e hoje apenas com ela e o meu tio, ele trabalha remunerado quando encontra serviço, ora de pedreiro, ora em atividades remuneradas rurais. Ele passa boa parte dos dias úteis trabalhando e os fins de semana bebendo. Ao fim de 2019 meu núcleo familiar já estava menor devido à mudança de minhas irmãs mais novas, de 16 e 18 anos, para o município de Serro-MG. Eu não me mudei, porque cuido das plantações, dos animais da família e de outras tarefas do domicílio de que minha avó com sua idade não deveria fazer.
Minha mãe sempre nos visita e tenta ser a mais atenciosa possível. Ela mora com o meu padrasto. No entanto, ela é quem recebe os benefícios previdenciários de minha avó, faz as compras da casa em geral, além de pagar as contas, compra as vitaminas e remédios de minha avó. Minha mãe trabalhou durante 4 anos como cuidadora de um casal de idosos no município. Em meados de 2020 ela teve que retomar a sua profissão como lavradora e dona de casa. Eu presto alguns serviços sociais comunitários de forma voluntária e em épocas de plantio e de colheita trabalho remunerado na agricultura ajudando algumas famílias da comunidade. Em outras épocas, ocupo as horas de meu tempo com os afazeres na propriedade da família, cultivando, limpando e cuidando do terreno e de alguns afazeres domésticos.
Com a Covid-19, algumas coisas mudaram em minha rotina, como ir menos vezes na cidade, a adesão a novos cuidados com a saúde e a uma organização mais rígida para cumprir a rotina do dia-a-dia. Deste modo, deixei o trabalho remunerado para me dedicar ao período de tempo universidade do curso de Educação do Campo e ao ensino remoto. Sinto-me prejudicado em estudar esse período em casa, pois tenho que dispor de mais horas para o estudo do que dispunha para o tempo comunidade que já estava habituado. Sinto um desconforto com isso e uma sensação de que o contexto de ensino-aprendizado da academia invade nossa realidade, interferindo completamente na rotina.
Aqui em casa apenas eu estudo, disponho de um celular e um notebook para essa finalidade. O meu tio possui um telefone celular para ligação e bate papo no Facebook e WhatsApp, porém, pouco o explora por não ser letrado em tecnologias e ter problemas de visão. Já a minha avó tem um telefone de mesa com antena para captar sinal, sua finalidade é de possibilitar a interação com os familiares mais distantes via ligações. Temos uma televisão com antena parabólica que nos permite assistir programações, como jornais, filmes, novelas e cultos evangélicos.
Minha experiência em estudar em tempos de pandemia e em ensino remoto
Minha rotina de estudo com a volta as aulas do Curso de Licenciatura em Educação do Campo (LEC), neste ano de 2021 cursando o período extemporâneo 2020/2, foi tranquila. Quando as aulas eram presenciais, havia uma padronização dos horários, que eram dedicados às atividades regulares do curso, leituras de textos e preparação de trabalhos acadêmicos. Em outro contexto, ao se tratar de ensino remoto em nossas casas, uma experiência nunca testada antes por nós e com as diversas funções que exerço no domicílio e na comunidade que estou inserido, me desafiei com a situação e adotei uma nova estratégia, a organização de um cronograma pessoal, para isso, tive que abrir mão de algumas coisas.
Além das atividades do núcleo familiar e as comunitárias que exerço, busco trabalhar remunerado para juntar uns trocados. Na confiança ao acesso à Bolsa Permanência do MEC, que me aproxima do direito como quilombola de cursar um ensino superior, e com os eventuais auxílios emergenciais da Universidade, decidi parar de participar das atividades remuneradas no serviço rural da comunidade durante esse período e dedicar meu tempo para os estudos. Isso me possibilitou passar pela situação imposta pela pandemia do Covid-19 com êxito.
Nesse período de TU, passei a conhecer e participar das aulas na plataforma do Google Meet, no entanto, necessito melhorar o diálogo, que é defasado devido uma dificuldade de organizar o pensamento durante discurso. Outra dificuldade é acessar as tecnologias essenciais durante a aula, como ligar o microfone do notebook para falar e o acesso à internet que em dado momento causa interferência durante as aulas de videoconferências. Essas são algumas justificativas a respeito da participação limitada durante as aulas remotas. Nesse processo aprendi a interagir no Moodle, que possibilitou dialogar nos fóruns de diálogos e de dúvidas, ofertados pelo professor da unidade curricular (UC) “Estudos de Letramentos”. Além disso, por meio dos grupos do WhatsApp, tive acesso a vários links de eventos, cursos e programações online via YouTube e que ofereciam certificados de participação. Essa plataforma é um importante meio de pesquisa e informação no ensino remoto, assim como também o mais fundamental nos momentos de distração e lazer.
Como estudante de uma graduação de ensino superior e morador consciente dos meus direitos e deveres, busco contribuir com o desenvolvimento socioeconômico das famílias locais. Assim, portanto faço parte do comitê gestor do Fundo Quilombo Solidário, que integra o projeto Quilombo Vivo, no qual a comunidade foi contemplada no edital com dois projetos. Atualmente estou na responsabilidade de acompanhar toda etapa de execução de tais projetos; essa é uma das obrigações de que tento dar conta juntamente ao ensino remoto neste TU, pois são ambas práticas fundamentais na minha leitura de mundo.
Uma reflexão sobre o processo de ensino remoto na pandemia
Para apresentar uma reflexão sobre o ensino remoto é necessário trazer as experiências tidas com nossa primeira unidade curricular (UC) do período de TU, “Estudo de Letramentos”. Nela experienciamos nossas primeiras aulas síncronas e, como eram quatro horas semanalmente durante 5 semanas, a internet móvel não foi um fator excludente. Entretanto foi possível perceber as dificuldades de acesso por parte da turma. Alguns colegas em certos momentos não conseguiram acompanhar toda a duração da aula. Todavia, como o docente deixava gravados os encontros, era possível rever quando a internet estava mais estável.
Outra situação percebida durante as aulas no Google Meet foi a instabilidade da internet que causava ruídos e falhas no áudio dos encontros para alguns alunos. Sabemos que a internet é uma rede capaz de ligar as pessoas em qualquer parte do mundo através da interligação entre os computadores e outras tecnologias eletrônicas, sendo que, atualmente, muitas pessoas estão diariamente em constante processo de aprendizado ligados à rede. Em conformidade com esse fato, a acessibilidade a internet é uma questão de repassar informações que possibilite uma inclusão dos grupos sociais, algo que nas aulas remotas estão sendo possíveis devido a opção de rever as aulas síncronas quando disponibilizada em gravação e o debate nos fóruns em uma plataforma que não demanda muito um acesso à internet de qualidade, desse modo aos poucos vamos nos letrando por meio das tecnologias digitais e criando novos olhares a esse novo mundo.
Em nossas práticas cotidianas estamos em constante contato com a língua portuguesa e com a variação da linguagem em diversos contextos. No caso do ensino remoto, as práticas de leitura e escrita se dão através de tecnologias como celular e computador e através da caderneta física, onde fazemos anotações importantes das aulas síncronas e assíncronas e revemos para fixar o conteúdo na memória de longo prazo, metodologia essa que cada aluno aborda de acordo com suas habilidades que variam de indivíduo a indivíduo e de uma comunidade para outra. O aluno que adota métodos de aprendizados, por meio de anotações a respeito de uma fala ou outras observações durante a aula de videoconferência adquiri a capacidade de absorver práticas letradas através do diálogo.
O ensino remoto ainda continuou após a edição deste texto. Em razão disso, não foi possível trazer uma completa reflexão a respeito do ensino remoto durante TU por inteiro. Porém, no seu primeiro momento já foi oportuno para trazer a público nossa experiência com ao menos uma UC que, até então, trouxe uma carga muito expressiva de aprendizados. Acredito que numa oportunidade futura traremos uma reflexão embasada no todo e com mais criticidade. Ainda assim, deixo registradas minhas reflexões a respeito do ensino remoto baseado na experiência com a unidade curricular Estudos de Letramentos.
Luciene em frente ao centro comunitário da comunidade quilombola Ausente
UM POUCO DA MINHA REALIDADE
Eu, Luciene, moro na comunidade quilombola de Ausente, município de Serro. Estou morando com minha mãe, meu padrasto e minha filha de 4 anos. Meu companheiro só vem uma vez a cada mês. Até o último dia do mês de fevereiro deste ano ajudava a cuidar da minha tia que estava acamada devido um AVC que havia sofrido. Ela era totalmente dependente de nós que cuidávamos dela, desde alimentação ate trocar as fraldas.
Com a pandemia minha mãe teve de ficar mais tempo em casa. Antes, por ser presidente da associação comunitária, ela saia muito e geralmente tinha muitas reuniões. A partir do isolamento que a pandemia trouxe o tempo dela passou a ser ocupado quase todo com plantações, roça e hortas, além de participar de projetos de comércio de produtos de agricultura familiar. Minha mãe cuida da minha filha para eu estudar e trabalhar, eu trabalho em casas de famílias com faxinas alguns dias da semana. Meu padrasto fica em casa cuidando das coisinhas dele, já que não pode trabalhar em serviços pesados por motivos de saúde.
Além de eu estudar e trabalhar, também tenho que dividir meu tempo com minha filha, que começou a estudar esse ano com o famoso PET. Para ela, que começou a escola agora, essa dinâmica acaba exigindo uma atenção maior, até que ela consiga acompanhar tudo. Além disso, todas atividades que ela está fazendo estão sendo passadas pelo whatsapp do mesmo celular que utilizo para assistir minhas aulas e ler textos.
A pandemia mudou muito a rotina da minha comunidade e da minha família, já que não temos muitas formas de distração igual antes. Sem reuniões, festas e viagens, as formas de distrair ficaram por conta da televisão. Nesse tempo de pandemia foi criado também na minha comunidade um coletivo de agroecologia na qual e voltado para a comercialização de produtos orgânicos, em que eu participo como articuladora e apoiadora entre agricultoras e clientes, além de fazer parte do financeiro desse grupo que tem me rendido muito aprendizado. O difícil com esse tempo vem a ser o acesso à internet, já que só uso dados móveis. Isso porque na minha comunidade ainda não conseguimos colocar uma internet boa, sendo a única que funciona e a via satélite, mas não atende totalmente nossas necessidades. Mas sigamos na esperança que tudo passe logo para voltarmos as nossas antigas rotinas com muito aprendizado.
ESTUDAR EM TEMPOS DE PANDEMIA
Com o início da pandemia muitos desafios foram encontrados, como o ensino remoto, estudar a distância. O que fazer? Como fazer? Foram muitos os medos de não dar conta, pois as dificuldades eram visíveis logo de cara. A internet não ajuda muito e, como onde moro um dos melhores acessos seriam via satélite, a qual é uma internet muito cara e nem sempre resolve, optei pelos dados moveis mesmo. Pago um plano mais caro que, porém, me atende bem. O sinal nem sempre é bom, mas dá para seguir em frente.
Essa rotina de estudar de forma remota requer muito comprometimento e disciplina, já que, muitas vezes esquecemos dos horários das aulas e até mesmo das atividades propostas, porque colocamos outras atividades do dia a dia a frente. Como tradicionalmente estamos e tempo todo em Diamantina na época do Tempo Universidade só para o estudo, não estando lá por conta do contexto, à vezes dificulta muito.
Nos semestres passados estávamos todos juntos, fazíamos grupos para estudar e discutir textos das disciplinas, que eram para ser lidos e compreendidos. No entanto, com o isolamento social por causa da pandemia, a forma que temos agora para discutir os textos com alguns colegas é através do Whatsapp. Discutir os textos com os colegas é uma das formas de entendermos ele melhor, pois um vai tirando as dúvidas do outro. Atualmente a teleconferência é nossa sala de aula, onde nem sempre vemos os colegas, ou os ouvimos, sendo uma forma de matar a saudade e de estarmos juntos.
Nas atividades de Prática de Ensino que encerraram o semestre anterior a esse no qual escrevo, houve uma atividade de colocação em comum em que conhecemos um pouco sobre o gênero webinário, palavra essa que quase não se ouvia falar, e que hoje está sendo muito usada. Além desse exemplo, há muitas outras mudanças em prática até o momento. Tive de aprender a usar alguns aplicativos novos, por exemplo. O Google Meet eu já usava para algumas reuniões, mas com as aulas, aprendi melhor a usá-lo. Google Sala de Aula eu já conhecia, mas ainda não sei dominá-lo. O e-mail institucional foi também uma ferramenta exigida. A partir de quando o conheci já me adaptei e hoje em dia tenho até mais facilidade de lidar com ele. Com a disciplina de Estudos de Letramento, conheci melhor o Moodle, já que usava apenas para enviar trabalhos TC e TITC e ver textos propostos. Atualmente aprendi a usar outras funções que eu não conhecia. Nesse tempo não aprendi a dominar o podcast, gênero usado nas atividades de Prática de Ensino, mas espero aprender logo.
Em resumo, os docentes da universidade, assim como os colegas, têm dado muito apoio uns para os outros, sendo um apoio muito importante para que ninguém fique prejudicado.
REFLETINDO SOBRE O PROCESSO DE APRENDIZAGEM
Com a chegada da pandemia no Brasil, muitas coisas precisaram ser readaptadas para um “novo normal”, o qual nem todos conseguem acompanhar. Juntamente a isso tudo, as escolas e universidades precisaram se adaptar ao ensino remoto, o que não está sendo fácil para ninguém, nem para educandos e nem para educadores. São muitos aplicativos novos para administrar e aprender em pouco tempo. Isso, ainda levando em consideração que muitas famílias não tem condições de ter internet e outras tem apenas um aparelho celular para vários filhos estudarem ao mesmo tempo. Braga e Vóvio (2015) analisam, em um contexto anterior ao da pandemia, a questão do acesso à escola e aos meios tecnológicos de acordo com a classe sociais.
“se analisarmos a historia, e possível depreender que desde sua origem o acesso e o uso dessa tecnologia sempre foram privilegiados das camadas econômicas favorecidas. (BRAGA; VÓVIO. 2015, p.46-47).
Por outro lado, tenho percebido ao meu redor que a pandemia fez com que as pessoas valorizassem ainda mais o meio onde vive. Isso, tanto ensinando quanto aprendendo com os outros a ler o mundo de maneiras diferentes no ambiente doméstico e do cotidiano. Muitas das vezes esses fazeres do dia a dia fazem com que esqueçamos um pouco da realidade do mundo lá fora e das notícias ruins. Os mais velhos se ocupam com práticas de leituras de mundo, mesmo sem chamar suas atividades com esse nome. Conforme Paulo Freire (1989) fala em seu texto “A importância do ato de ler”, a leitura pode ser pensada a partir de diversos sentidos.
“os textos”, as “palavras” as “letras” se encarnavam também no assovio do vento, nas nuvens do céu, nas suas cores, nos seus movimentos; na cor da folhagens, na forma das folhas, no cheiro das flores- rosas e jasmins- , na copa das arvores, na casca dos frutos. Na tonalidade diferente de cores de um mesmo fruto em momentos distintos: o verde da manga espada, o verde da manga- espada inchada; o amarelo esverdeado da mesma manga amadurecendo, as pintas negras da manga mais além de madura. A relação entre essas cores, o desenvolvimento do fruto, a sua resistência a nossa manipulação e o seu gosto. Foi nesse tempo, possivelmente que eu, fazendo e vendo fazer, aprendi a significação da ação de amolengar”. (FREIRE. 1989, p.10).
Nos Estudos de Letramento tive a oportunidade de entender como uma pessoa analfabeta pode saber muito das coisas do mundo e da vida, e que e a leitura de mundo que antecede a leitura da palavra. Vimos em sala de aula em um antigo documentário chamado ”Leituras de um Analfabeto”, da TV Cultura. Pessoas sem domínio da escrita saiam das roças rumo à capital em busca de vidas melhores e, num mundo letrado, identificavam os ônibus por cores, por exemplo, ou por escutar os outros falarem. O interessante dessas leituras de mundo e que muitas vezes as pessoas com leituras de palavras sabem muito menos em certos contextos.
A leitura de mundo é fundamental e tem uma importância grande para nós da LEC que, a partir da Pedagogia da Alternância, intercalamos nossas práticas de aprendizado entre a comunidade, e o meio acadêmico como mencionam MAGNANI, CASTRO (2019),
A metodologia permite que estudantes estejam em suas comunidades em momentos cruciais como em época de colheita em alguns casos na universidade o tempo necessário a sua formação, bem como promove o dialogo entre saberes, envolvendo comunidade e universidade na medida em que não só atividades de pesquisas protagonizadas por estudantes são realizadas em conjunto com suas comunidades de origem ou atuação profissional como também é parte constitutiva do curso a ida periódica de docentes da universidade para orientação e execução de praticas de ensino, normalmente originários de problematizações locais. (MAGNANI; CASTRO, 2019, p.68).
Em resumo, aprendemos que um tem de ajudar o outro para que ninguém se perca no meio do caminho, juntando leitura de mundo e leitura de palavra para lidar com a realidade do mundo atual.
REFERÊNCIAS
BRAGA. D.B; VOVIO, C.L. Uso de tecnologias e participação em letramentos digitais em contextos de desigualdades. In: BRAGA. D, B; VOVIO, C. L. (orgs) Tecnologias digitais da informação e comunicação e participação social. São Paulo: Cortez São Paulo, Cortez, p.33-65,2015
FREIRE, P. A importância o ato de ler. 23 ed. São paulo, Cortez,1989
MAGNANI, L.H.; CASTRO, C.H.S. práticas letradas, tecnologias e territórios: transgredindo relação de poder. Revista X, Curitiba,v:14,n.5.p.56-81, 2019
As seguintes ponderações relacionam-se com o que estudamos de forma remota na disciplina Estudos de Letramento pelo curso de Licenciatura em Educação no Campo, no primeiro semestre de 2021, e também com experiências pessoais neste período pandêmico.
Ao iniciar o ano de 2020, nos deparamos com essa situação de uma pandemia global, algo inédito para nossa geração. Isso fez com que o ser humano mudasse repentinamente suas rotinas e suas maneiras de ler o mundo, uma vez que foi necessário diminuir o contato pessoal até mesmo com os familiares. O isolamento social foi primordial no combate à doença, e tivemos que ir nos adaptando a outras estratégias para dar sequência em todas as tarefas do dia a dia. Não foi diferente com as atividades educacionais, que precisaram passar por adequações, para que de maneira online fosse possível dar sequência nos estudos. Importante salientar também que muitos estão sendo os desafios, tanto pessoais, coletivamente e ainda por parte das instituições. Porém, com organização, planejamento e união o mundo irá superar este dificílimo período de calamidade na saúde pública.
UM POUCO SOBRE MINHA REALIDADE
Arlei utilizando seu computador pessoal no ensino remoto. 2021. Fonte: Arquivo Pessoal.
Eu, Arlei, tenho 29 anos de idade e sou morador da comunidade de São Gonçalo do Rio das Pedras, distrito de Serro. Para que eu possa descrever a minha realidade no contexto da pandemia, é necessário retroceder alguns meses no tempo. Até outubro de 2020 eu ainda morava com meus pais, éramos quatro pessoas na mesma casa, pois os outros três irmãos já haviam se casado. Porém, a partir do dia 31/10/2020, eu mudei de residência e passei a morar na minha própria casa juntamente com uma mulher que neste mesmo dia se tornara minha esposa.
No que refere-se ao estudo, decidimos juntos fazer o vestibular para cursar Licenciatura em Educação do Campo na Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuro. Ambos cursamos a habilitação em Linguagens e Códigos e o mesmo período, isso gera uma compreensão mútua das necessidades que o momento impõe e facilita bastante os estudos. Nós dois estamos cientes da necessidade de um ambiente tranquilo e com o mínimo de barulho possível para que haja uma maior concentração nos estudos e em outras várias atividades que estamos realizando remotamente. Para podermos realizar nossos afazeres com mais fluidez, foi imprescindível algumas adaptações tecnológicas. Instalamos uma rede de internet mais eficiente e, mesmo em um momento que as condições financeiras não era favorável, compramos um aparelho celular para minha esposa com maior compatibilidade às exigências do momento. Eu já desfrutava de um bom aparelho e um notebook que comprei há uns 10 anos atrás e apesar do seu ótimo estado físico se encontra muito debilitado no quesito funcionalidade.
Até o presente momento nós dois estamos estudando e conciliando isso com o trabalho, tarefa que não é 100% assegurada, uma vez que minha esposa trabalha em um Centro de Atendimento ao Turista, que luta por renovação de contrato anualmente. Já eu trabalho como autônomo fazendo de tudo um pouco, e aos fins de semana estou trabalhando como motoboy para ajudar na renda. Com a pandemia do novo coronavírus (COVID-19) muitas de nossas rotinas sofreram mudanças. Em função da ocasião, passei um ano trabalhando em barreira sanitária na minha comunidade, mas, em geral, o objetivo da atividade foi atingido. Com as pessoas mais confinadas, houve ainda uma diminuição significativa de oportunidades de trabalho no contexto da comunidade. Se antes alguns moradores pagavam para fazer tarefas como olhar os filhos, arrumar casa e lavar roupas, nesse novo contexto, as pessoas mesmo estão realizando essas tarefas. E, pelo fato de morarmos em um povoado onde o capital circula através do turismo, a ausência dessa atividade gerou desemprego em massa. Por longos meses decretos municipais impediam que pousadas, quitinetes e coisas do gênero funcionassem, deixando o empregador e o empregado de mãos atadas.
Temos como entretenimento, assistir filmes evangélicos, de aventura e comédia, fazer exercícios físicos, conectarmos em redes sociais e ainda gosto muito de assistir futebol. Outra ocupação comum em nossa casa é a prática da oração e meditação em textos bíblicos, pois apesar de todas as dificuldades a nível mundial, nós cremos em Deus e não podemos perder a fé nem a esperança de que dias melhores breve virão! Fazendo referência ao que mudou na minha rotina devido a pandemia, poderia ainda salientar a paralisação dos cultos religiosos, dado que anteriormente frequentava a igreja pelo menos 3 vezes por semana, contudo, o atual cenário tem nos impossibilitado desta prática, assim, estou permanecendo a maior parte do tempo em casa com minha esposa.
ESTUDAR EM TEMPOS DE PANDEMIA
Diante desse caótico cenário, todo o sistema precisou se reinventar. Em se tratando dos estudos não foi diferente, uma vez que as atividades presenciais não puderam continuar, em função do altíssimo poder de contágio do vírus. E para uma maior preservação da saúde, um novo modelo de ensino precisou ser implantado. As instituições de ensino fecharam as portas para aulas presenciais por tempo indeterminado e passaram a ministrar atividades de forma remota, o que exigiu adaptações por parte dos educadores, educandos e mesmo seus familiares, por exemplo. Nesse novo modelo, as novas tecnologias foram os recursos mais eficientes encontrados pelas instituições para continuar oferecendo um estudo de qualidade.
Porém, para que o processo formativo atingisse as expectativas, seria imprescindível que os alunos independentemente da sua classe social ou da localização de sua residência, tivessem acesso a uma rede de internet competente para atender as demandas impostas. Infelizmente não foi assim que aconteceu. Diversos colegas de curso estão frequentemente reclamando a esse respeito. Com isso, entende-se que o fato de não ter uma internet de qualidade está sendo uma das dificuldades enfrentadas nesse processo, visto que, para realização das atividades, usa-se diversos aplicativos, plataformas e outros programas de computadores. Pessoalmente, não cheguei a encontrar dificuldades, pois já possuía um certo domínio das ferramentas requeridas na ocasião.
Tem sido muito desafiador conciliar os estudos com nossos afazeres diários, incluindo o trabalho. No ensino remoto não se tem como disponibilizar o tempo exclusivamente para as aulas, desse modo, se não houver um grande esforço, perde-se alguns momentos síncronos, o que acaba sendo amplamente prejudicial. Para participar das atividades síncronas tenho deixado de trabalhar alguns dias na semana, porém isso só é possível porque atualmente estou trabalhando como autônomo. Já para executar as atividades assíncronas tenho me empenhado bastante nas horas vagas e nos períodos noturnos. Assim, tenho conseguido cumprir todas as exigências do ensino remoto.
Com relação ao aprendizado, confesso que é bem mais limitado, mas acredito que nesse momento estamos todos, desde instituição a alunos, sendo submetidos a um forçado processo de transição do ensino, onde fica perceptível o engajamento da maioria dos envolvidos para não perder demasiadamente a qualidade do ensino. Nota-se que a interação entre professores e alunos fica mais escassa nesse novo modelo e, consequentemente, a absorção dos conteúdos disponibilizados e debatidos nos diálogos também é mais insatisfatória. Outro ponto a ser destacado é que, ao se priorizar a teleconferência, fica-se totalmente dependente dos meios tecnológicos. Havendo alguma falha, perde-se assuntos importantes que podem fazer falta em uma avaliação ou até mesmo na sua trajetória profissional.
Por fim, mesmo que os pontos positivos sobressaem os negativos acerca da utilização dos meios tecnológicos, ainda assim, são encontradas diversas dificuldades, no entanto, é de suma importância que nesse processo de transição haja um trabalho em coletividade, para que todos tenham acesso igualitário à internet e às ferramentas exigidas, pois, uma vez que o ensino é ofertado a toda classe social, é necessário que ninguém querendo envolver, se sinta excluído.
REFLETINDO SOBRE O PROCESSO
Com base nas análises sobre as vivências do ensino remoto e nas reflexões teóricas estudadas na disciplina Estudos de letramento, consuma-se que o novo modelo de ensino não é eficaz a ponto de manter o mesmo nível das estratégias presenciais. Percebe-se ainda que apesar de o ensino ser ofertado a todas as classes sociais, existe uma parcela desses envolvidos que são menos favorecidos ou mais prejudicados quando pensamos nos quesitos aparelhos tecnológicos e acesso à internet de qualidade. Nesta lógica concordo com Souza (2000), quando afirma que: […] “é possível observar que as falas dos professores do campo estão sendo associadas principalmente à dificuldade de acesso à internet e a equipamentos tecnológicos que permitam a todos os alunos da zona rural acompanharem as aulas remotas” […].
Souza (2000), reitera também que: “A dificuldade de acesso à internet pelas populações do campo é de conhecimento comum e representa a displicência do poder público em não garantir aos camponeses algo fundamental na chamada Era da Informação: o acesso à internet e aos meios de comunicação.”. Ainda poderia ressaltar que o fato de muitos estudantes morarem com famílias numerosas e não terem um ambiente adequado dentro de casa para estudar com tranquilidade é muito prejudicial, tornando-se um desafio para a concentração, principalmente em práticas por intermédio de videoconferência. Assim sendo, fica explícito que há desigualdade para uma porção desses indivíduos envolvidos no ensino remoto.
Outro fator desafiador é a adaptação a essa nova rotina. Nesta perspectiva, são cabíveis as colocações de Silva, Goulart e Cabral, quando fazem o seguinte argumento:
Para diminuir o avanço do vírus e minimizar os impactos no sistema de saúde, instaurou-se no mundo medidas de higiene pessoal e coletiva e o isolamento social, que acarretou novas adaptações para o mundo do trabalho e para a vida acadêmica, estabelecendo novas formas e rotinas para o cumprimento das atividades diárias. ( SILVA, GOULART, CABRAL, 2021, p. 409.)
Conciliar o emprego, e os afazeres diários com os estudos, é algo que requer bastante esforço e organização. Dependendo dos horários programados para os encontros, ocorrem conflitos de agenda, obrigando-nos a ponderar qual perda será mais prejudicial.
Constata-se, em suma, que estudar de forma remota tem trazido inúmeras contrariedades a todos os envolvidos neste processo. Todavia, é necessário deixar explícito que é possível extrairmos conhecimentos extremamente significativos provenientes dos conteúdos da disciplina que nos foram aplicados e ainda dos relatos e diálogos provenientes dos colegas, pois apesar de estarmos todos atrás de uma tela, tivemos a oportunidade de expor ideias, dúvidas, fazer questionamentos e comparações quanto às diferenças e semelhanças referentes aos estudos e adaptações a esse novo modelo de ensino.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
FREIRE, Paulo Reglus Neves. A importância do ato de ler: em três artigos que se completam, 23ª Ed. São Paulo: Cortez. 1989.
Leituras de um analfabeto. Producão: MACHADO, Cláudia; RODRIGUES, Patrícia. São Paulo, Editora Caminho Suave, 28 agosto de 1991.
SILVA, Joselma; GOULART, Iisa do Campo Vieira; CABRAL, Giovanna Rodrigues. Ensino Remoto na Educação Superior; Impactos na formação inicial docente. Revista Ibero- Americana de estados em Educação, v. 16, n.2, p. 407-423, abr. /jun. 2021.
SOUZA, Everton de. Escolas do Campo e Ensino Remoto: Vozes docentes nas mídias digitais. V 14, n. 30, set. /dez. 2000.
SESC Pompeia, em São Paulo – SP, local que abriga o CineSesc.
– Clayton D R Fernandes –
UM POUCO SOBRE MINHA REALIDADE
Minha esposa e eu, diferente de todos os anos que posso me lembrar, resolvemos não viajar no Carnaval de 2020. Pela primeira vez estávamos os dois aposentados e sem nenhum compromisso que não pudesse ser feito via internet. E, também, porque não? Queríamos sentir o renascimento do carnaval de São Paulo. Acho que São Paulo inteiro também quis e ficou em São Paulo. Tudo lotado e agitado. Difícil encontrar um lugarzinho na calçada. E foi. Tudo relevado porque tínhamos uma meia vida de férias pela frente. E veio a pandemia.
O Sesc São Paulo. O primeiro trauma foi a privação ao Sesc. Somos frequentadores diários das Unidades do Sesc. Tanto em São Paulo como em várias cidades do Brasil. Fazemos cursos, almoçamos, jantamos, nadamos, praticamos yoga, vamos a shows, exposições, dançamos, encontramos a turma, conhecemos gentes, viajamos em excursão. Dificilmente passamos uma semana sem ir ao CineSesc. Nunca sai de São Paulo nas duas semanas do Festival Internacional do Cinema. Diariamente no CineSesc.
ESTUDAR EM TEMPOS DE PANDEMIA
A Rotina. Parece que a gente está remando para não sair do lugar. Minha estratégia para enfrentar a pandemia é arrumar muita coisa para fazer e para ler. Cuidar das plantas, pesquisar na internet como semear e replantar antúrios e orquídeas, consertar cadeira estragada, trocar fechadura antiga, pintar muro, trocar tomadas, vedação das torneiras e um monte mais de coisas. Quando o tempo (aqui é o clima) está firme, andar pela cidade com a minha cachorrinha, fotografar esquinas e vitrines. Para ver como eu estou ainda. Tenho lido bastante, coisas que nunca me interessei antes, história da arte, impressionismo, um pouco sobre a idade média que eu nunca soube o que foi. Também li alguns textos sobre a Alemanha na primeira guerra, como surgiu o nazismo, as várias guerras que a gente chama de segunda guerra, a escravidão no Brasil, livro do Laurentino Gomes. E as poesias da Ana Martins Marques que eu conheci, sem intenção, num curso sobre literatura no Sesc SP. Então, para não confundir tudo isso, na minha cabeça, montei um banco de dados de tudo que li recentemente e do que estou lendo. Inclusive para a LEC. Montei este banco de dados por dor da abstinência. Tantos anos desenvolvendo banco de dados, não é possível parar simplesmente…
Ensino remoto é como noivado à distância ou curso de natação sem piscina. A gente tem só uma ideia das coisas. Da noiva e da água. Participei de dois TUs em Diamantina. E foram muito marcantes. Acho que todos nós alunos saímos maiores destas duas experiências. A classe de aula com gente de diferentes lugares, idades, sonhos e repertórios. De repente, juntos, montar e apresentar uma tarefa. Isto sempre foi muito bom. Das 8 às 18 horas. Tempo passava depressa, apesar do sono e do cansaço. Muitos conceitos novos voltaram para casa. Penso que cada um de nós voltou outro para seus lugares.
Tecnologias. Para acompanhar as atividades da LEC usamos alguns aplicativos que eu nunca tinha utilizado. Moodle (parece que outras universidades também usam este aplicativo) e ClassRoom (a UFVJM fez algum acordo com a Google e adotou este aplicativo para o ensino remoto. É um arrazoado dos aplicativos da Google: Drive, editor de texto e Meet).
Para o nosso curso o ensino remoto não serve. A convivência – e as dificuldades da convivência – é uma parte importante do nosso aprendizado. E uma sala de aula virtual é a negação da convivência. É muito chato!
Temos que descobrir e inventar um jeito de fazer trabalho em grupo. Talvez experimentar ler um texto em conjunto via Meeting. Cada colega lê um parágrafo, se quiser ler. Depois de cada parágrafo a gente discute um pouco as ideias apresentadas.
REFLETINDO SOBRE O PROCESSO
Das práticas educativas ocorridas no primeiro semestre de 2021 de modo remoto na LEC-UFVJM, destaco o aprendizado de alguns conceitos no contexto da disciplina Estudos de Letramento. O primeiro foi o conceito de Paulo Freire sobre o Ato de Ler, como sendo uma atitude fruto da trajetória do sujeito. Quando lemos utilizamos toda a nossa história para compreender o texto. A leitura do mundo precede a leitura da palavra… …A compreensão do texto a ser alcançada por sua leitura crítica implica a percepção das relações entre o texto e o contexto. (FREIRE, 1989, p. 9). Assim podemos dizer que a nossa experiência de vida nos faz compreender a palavra, contudo a compreensão desta nos acumula experiência e com isto podemos reler o mundo.
Outro conceito estudado foi o Letramento. Aqui o mais importante, para mim, foi a separação entre letramento e alfabetização (alfabetização entendida como o processo de ensinar a ler e a escrever). Letramento é um conjunto de ferramentas cognitivas que o sujeito utiliza para entender o seu ambiente, enquanto a alfabetização se reduz ao uso da escrita. Contudo a alfabetização é utilizada como métrica na escala social. O analfabeto é marcado como um sujeito a ser consertado. Mas a falta de habilidades letradas frequentemente não é uma barreira real ao desemprego, como sugerem as declarações oficiais (STREET, 2014, p. 35). Cabe ao educador pensar a alfabetização dentro das necessidades do sujeito e não dentro das necessidades do mercado. E perceber que a alfabetização, tida como dogma para a emancipação do indivíduo, é um conceito criado pela elite para impor um letramento de seu interesse.
A relação entre território e produção de conhecimento foi estudada através do texto Práticas letradas, tecnologias e territórios (CASTRO; MAGNANI, 2019). O conhecimento, por ser uma produção humana, é uma riqueza. Portanto está em disputa entre as classes sociais e territórios, e segundo os autores
Emerge, em decorrência, a questão de como pensar e produzir conhecimento acadêmico sobre tecnologias e letramentos com a preocupação de que tais conhecimentos sejam relevantes e condizentes em relação às demandas e vivências de diversas realidades não-urbanas ou menos urbanizadas existentes no Brasil. (CASTRO; MAGNANI, 2019, p. 64) .
Por fim, no último texto estudado, refletimos à seguinte questão: O domínio da escrita é ponte de acesso à participação social? (BRAGA; VÓVIO, 2015, p. 34). Dentro de uma sociedade altamente subordinada à comunicação digital o domínio destas tecnologias é requisito à inserção social, principalmente a um emprego não precário. A alfabetização não acaba com as desigualdades, mas a equidade pode, sim, acabar com os analfabetismos, tanto de letramento como político.
REFERÊNCIAS
BRAGA, Denise Bértoli; VÓVIO, Claudia Lemos. Uso de tecnologia e participação em letramentos digitais em contextos de desigualdade. Cortez, São Paulo, 2015.
CASTRO, Carlos Henrique Silva de; MAGNANI, Luiz Henrique. Práticas Letradas, tecnologias e territórios. R E V I S T A X, Curitiba, vol/núm. 14/5, p. 56-81, 2019.
FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler. Cortez, São Paulo, 1989.
STREET, Brian V. Letramentos sociais. Parábula, São Paulo, 2014.
Márcia lendo junto a livros. 2021. Fonte: Arquivo Pessoal.
–Márcia Martins de Vasconcelos –
Aprendi a ler aos seis anos de idade, ainda no primeiro ano da educação básica. Sempre gostei de ler, sendo que meus livros preferidos são os romances. Na minha infância não tive muitos livros, mas os que tinha eu aproveitava ao máximo. A leitura era o meu escape de tantas dificuldades que eu e minha família tínhamos. Às vezes lia para meus sobrinhos e para alguns colegas da turma que ainda não sabiam ler. Atualmente os livros são mais acessíveis, pois estão disponíveis virtualmente, porém eu prefiro poder tocá-los, sentir o cheiro deles etc. Prefiro romance aos textos científicos, mas faço uso de ambos.
Para mim, ler é poder viajar no tempo e no espaço a qualquer momento. Alguns dos motivos pelo qual escolhi estudar a linguagem foram tanto o interesse em conhecer mais sobre as variações da língua brasileira como também o desejo de conhecer melhor as origens ou teorias da nossa literatura. Como possível futura educadora, anseio um currículo diversificado, a partir do qual o professor tenha autonomia para mostrar aos alunos essas variações linguísticas e não simplesmente repassar conhecimentos que sequer passam por sua análise ou escolha. Nesse sentido, não gostaria de trabalhar somente com o conteúdo dos livros didáticos.
O ensino remoto me obrigou a mudar a rotina. Antes da pandemia, durante o período de Tempo Universidade (TU), em que costumávamos ter atividades presenciais em Diamantina-MG, tínhamos todo o tempo dedicado às aulas. Atualmente temos que dividir o tempo entre trabalho e estudo. O ensino em alternância, como era antes da pandemia, favorecia nossas atividades de estudo. O TU com aulas presenciais e o contato com várias pessoas e culturas facilitavam o aprendizado. Além de compartilharmos conhecimentos, culturas e a rotina do curso, a presença dos colegas na sala de aula nos tranquilizava diante das dificuldades, especialmente as relacionadas com o curso.
Estou um tanto perdida com esse ensino remoto, me sinto triste por mim e pelos meus colegas que estão vivendo situação semelhante a minha e a quem na maioria dos casos não posso ajudar. Estou ainda tentando organizar as atividades e conciliar trabalho e estudos. Nem sempre consigo cumprir os prazos para entrega das atividades e não estou conseguindo ler os textos indicados. O que dificulta é o fato de eu não ter internet e computador em casa, pois gasto mais tempo para realizar as atividades e para assistir a aulas, e principalmente gasto muito mais tempo para fazer os trabalhos pelo celular. Às vezes penso em desistir do curso, pois com o ensino remoto sempre tenho que ficar sem trabalhar para ter tempo de assistir às aulas e realizar os trabalhos do curso.
As aulas via internet, por videoconferência, não são tão legais quanto as presenciais. São formas de substituir as aulas presenciais, porém são ineficientes diante da falta de estrutura em que nós discentes nos encontramos. Não consigo me concentrar e acabo tendo dificuldade de aprender, além do fato de que às vezes assisto as aulas em algum ponto que eu possa usar wifi, que, na maioria das vezes, é na rua, em que o movimento e barulho me desconcentram. Quanto a leituras a serem realizadas para a universidade, eu baixo da internet para poder ler à tarde, quando chego do trabalho.
Apesar dos problemas citados acima, aprendi muito nesse processo. Tive que me acostumar a usar várias ferramentas e plataformas como o Google Classroom, a aprender a fazer os trabalhos pelo celular, a reorganizar minha rotina etc. Tudo isso são práticas de letramento. Tive apoio dos professores durante todo o processo, mas da universidade não vejo apoio em relação às dificuldades do ensino remoto. Ressalto também que os colegas do curso têm auxiliado muito. Durante as aulas de Estudos de Letramento entendi que letramento não acontece só na sala de aula (presencial ou virtual), e tudo que vivenciamos e aprendemos ao longo da vida pode envolver uma forma de letramento, algo que não depende de um diploma.
OUTRAS CONSIDERAÇÕES
Ao refletir sobre letramento nesse TU, entendi que ser letrado não significa necessariamente ser formado na academia e que há cidadãos letrados sem sequer ter frequentado a escola. Essa percepção me ocorreu durante uma conversa com um senhor morador da minha comunidade. Para o senhor Joaquim, o letramento é relativo à capacidade de aprender e executar tarefas diversas e de vários níveis. Ao ouvir isso, fiz uma busca na minha memória e percebi que inúmeras tarefas para as quais o mercado de trabalho exige formação acadêmica são executadas por pessoas sem essa escolarização. E algumas dessas tarefas são executadas até mesmo por analfabetos.
A partir do texto de Street (2014), podemos também pensar que o significado do termo não é algo dado por fixo ou definitivo. O autor considera que a própria prática de letramento e suas implicações variam com o contexto social. (Street, 2014, p.40):
A teoria atual, portanto, nos diz que o letramento em si mesmo não promove o avanço cognitivo, a mobilidade social ou o progresso: práticas letradas são específicas ao contexto político e ideológico e suas consequências variam confirme a situação. (Street, 2014, p.41).
O letramento é um processo coletivo que ocorre ao longo da vida e é decorrente das nossas práticas cotidianas, não apenas na escola. Somos sujeitos pensantes, portanto somos aptos à aprendizagem a todo tempo. O que ocorre é que a escola “molda” cidadãos para fins diversos, por exemplo, para o mercado de trabalho. Assim, alguns saberes, práticas e sujeitos passam a ser mais valorizados que outros. O que ocorreu e ainda ocorre especialmente no campo é uma desvalorização do saber popular e das culturas ali presentes. Em contrapartida, destacam-se “valores” como diplomas e classe social.
Uma vez que a escola historicamente forma cidadãos para “obedecer” a partir de critérios criados pela elite, ainda vemos reflexo dessa lógica em vários momentos, embora o acesso à academia tenha sido ampliado para a classe pobre e sujeitos do campo, como na LEC. Vejamos em Magnani e Castro (2019) alguns fatores que podem contribuir com essa desvalorização:
O ponto é que, em sua grande maioria as universidades do Brasil, sabidamente as maiores produtoras de saber científico do país, localizam-se em centros urbanos. Assim, ainda que possam absorver sujeitos oriundos de comunidades rurais, seu funcionamento, seu local de produção, a realidade cotidiana empírica, os índices de produtividade aos quais estão sujeitos, entre outros fatores, tendem a atravessar a produção científica realizada, reiterando a atenção para contextos urbanos. Entre outros fatores, essa condição pode ajudar a explicar um descompasso entre variadas reflexões acadêmicas ou propostas pedagógicas que partam do uso (ou de certos usos) de certas tecnologias e estruturas e as realidades de muitas escolas e comunidades do campo. (MAGNANI; CASTRO 2019 p. 63,64)
Um desses momentos recentes em que essa lógica assimétrica pode ser conferida diz respeito às políticas públicas ligadas à educação em resposta à pandemia da covid-19. As instituições nos obrigam ao ensino remoto, porém não nos dão estrutura para tal, como se a universidade esperasse que todos os alunos tivessem a estrutura necessária para um processo ensino/aprendizagem de qualidade.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
MAGNANI;CASTRO. Práticas letradas, tecnologias e territórios: transgredindo relações de poder. Curitiba. Revista X.2019.p.63,64.
STREET. Trazer os letramentos para a agenda política. Cap.1 In. STREET. Letramentos Sociais. São Paulo. Parábola Editorial, 2014.
O presente texto tem como objetivo analisar as metodologias e tecnologias de estudo utilizadas pelos alunos no REANP-MG (Regime Especial de Atividades Não Presenciais – Minas Gerais), a partir de uma pesquisa sobre a percepção de estudantes do Ensino Médio da Escola Estadual Leopoldo Pereira, distrito de Milho Verde, município Serro – MG.
A metodologia utilizada para a realização desta pesquisa foi a aplicação de um questionário eletrônico para os alunos que cursam o ensino médio na Escola Estadual Leopoldo Pereira, e que residem no distrito de Três Barras. Ao todo foram realizadas cinco entrevistas por meio do Google formulários no período de maio/2021, com autorização e nomes omitidos, contendo 37 perguntas fechadas e 1 pergunta aberta.
Segundo os resultados obtidos com os questionários, 60% dos alunos são homens e 40% são mulheres, e possuem de 16 a 18 anos de idade. No total, 20% dos alunos estão no primeiro ano do Ensino Médio, 60% no segundo ano e 20% no terceiro. As famílias dos estudantes são compostas por 2, 5, 6, 7 ou mais pessoas. O que demonstra um número alto de filhos por família. Nesse período de pandemia, 40% das famílias não receberam nenhum tipo de auxílio do governo. É importante citar que 80% dos pais possuem o ensino fundamental incompleto.
Nas casas das famílias entrevistadas, os aparelhos eletrônicos mais utilizados são os celulares por 100%, TV por 80% e Notebook por 40%. O Canal TV Rede de Minas, responsável pelo programa Se Liga na Educação, disponibilizado pelo REANP, pega em 80% das casas. Já a maioria dos alunos, 60%, não têm notebook ou computadores em suas casas, o que dificulta os trabalhos de digitação. 60% dos alunos têm acesso a internet 4G e 40% a cabo.
Das famílias, 40% possuem internet ilimitada e os demais via dados 4G. Desses que usam 4G, 20% afirmam que os dados não duram de 21 dias – 80% dura de 21 a 30 dias – com estabilidade para assistir os vídeos escolares. Predomina o uso de um celular por pessoa para os estudos. A maioria, 60%, não possui auxílio dos pais para realizar as tarefas da escola, pois ou trabalham ou não sabem o conteúdo. Todos os alunos possuem seu próprio celular, assim não precisam compartilhar com outro membro da família. As recargas dos créditos dos celulares são feitas pelos próprios alunos, 60%; os outros 40% são feitas por pais ou avós.
As ferramentas mais utilizadas pelos alunos e professores são o WhatsApp (60%) e o Youtube (20%). O Google Sala é menos usado, apenas 40% dos alunos. Os alunos afirmaram gastar de 1 a 3 horas por dia para realizar as atividades escolares. Entre as ferramentas disponíveis, a menos utilizada é a Conexão Escola 2.0, por 20% dos respondentes.
Sobre a última questão do questionário, aberta solicitando depoimentos sobre os principais problemas enfrentados, trago dois depoimentos a seguir para melhor contextualizam a realidade dos alunos entrevistados e alguns anseios diante da nova situação.
“Bom… minha dificuldade é entender o que os professores mandam acho meio desorganizado, às vezes os vídeos que têm no Se Liga na Educação não explicam exatamente o que está na apostila, aí acaba que muita gente pega resposta da internet porque ninguém vai adivinhar as matérias. Por isso eu opto por outras videoaulas, mas o que seria bom mesmo se os professores fizessem um vídeo explicando sua matéria.”
“Minha principal dificuldade está sendo conciliar as atividades da escola com o meu cursinho para o Enem. Também não consigo entender as matérias de química, física e matemática.”
A partir dos resultados dessa pesquisa, concluímos que à internet vem sendo o meio de comunicação mais importante e a principal barreira para o contato entre professor e aluno, permitindo aos alunos o acesso as ferramentas de ensino e aos recursos tecnológicos que permitem a concretização do processo de ensino-aprendizagem. Além disso, o grau de escolaridade dos pais para o auxílio nas atividades dos filhos interfere muito neste processo. Por último, os entrevistados também citam como problema o acompanhamento dos professores e a explicação dos conteúdos, o que pode estar ligado às tecnologias também, já que tudo isso, no REANP, é feito à distância e padronizado para todo o estado.
[1] Taliele é estudante da Licenciatura em Educação do Campo (LEC), da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM). Esta pesquisa foi supervisionada pelo professor Vítor Sousa Dittz, da Escola Estadual Professor Leopoldo Pereira, e orientada pelo professor Carlos Henrique Silva de Castro, da UFVJM, no âmbito do PIBID-UFVJM.
Agradecimentos aos estudantes-sujeitos e suas famílias, bem como ao diretor da E. E. Professor Leopoldo Pereira, o professor Maycon Souza.
Sou Delane, tenho 25 anos de idade, resido na comunidade de São Gonçalo do Rio das Pedras, distrito de Serro-MG. Há poucos meses eu morava com minha mãe e mais dois irmãos, algo que mudou recentemente. Em outubro de 2019, eu e meu namorado, que já estávamos juntos há seis anos, tomamos a importante decisão de ficarmos noivos. E o casamento veio a ser um ano depois. Como muitos de nossos projetos para 2020 tomaram rumos inesperados diante da pandemia, a realização do nosso casamento na data planejada estava ameaçada. Apesar da necessidade de cancelarmos a festa e readequar a execução da cerimônia, ainda se tornou possível a concretização da nossa união matrimonial na data desejada.
Assim, a partir de outubro do ano passado, residem na nossa casa somente eu e meu marido. Estamos fazendo o mesmo curso de Licenciatura em Educação do Campo, no mesmo período e ambos na mesma habilitação, o que é maravilhoso, pois nos ajudamos em tudo, principalmente em se tratando de ferramentas digitais, que não é “meu forte”, mas que ele domina bem melhor. Possuímos em casa para contribuir com nossos estudos: rede wi-fi, que instalamos justamente em razão de necessidade por causa do curso, (mas que nem sempre funciona satisfatoriamente); um notebook, o qual, apesar do seu bom estado físico, infelizmente não se encontra em condições favoráveis para o uso, mas que ainda nos atende dentro do possível; e dois celulares.
O último aparelho celular que eu tinha não atendia mais às minhas necessidades diante do ensino remoto, sua memória era insuficiente para abrir arquivos, baixar aplicativos e etc. Dessa forma, apesar de o momento não estar financeiramente propício a isso, precisamos comprar um aparelho novo. E esses equipamentos eletrônicos têm sido uma forma de escape também para o entretenimento, onde em certos momentos livres optamos por assistir filmes (gospeis, de aventura e comédia). Gostamos também de realizar leituras bíblicas, jogos domésticos e exercícios físicos. Além de mexer com jardim e plantas em geral, como também ouvir e louvar hinos evangélicos, que são meu fascínio.
Há 4 anos trabalho como atendente no Centro de Atendimento ao Turista (CAT), aqui na minha comunidade, contudo, não é um trabalho muito garantido, visto que o contrato é renovado anualmente. E este ano, com mudanças na gestão e contínuas paralisações no setor turístico, por não compor a lista de serviços essenciais, meu contrato até o presente momento não foi renovado e consequentemente não estou trabalhando. Já meu marido trabalha como motoboy aos finais de semana e nos outros dias como autônomo. Esse período pandêmico, afetou diretamente o trabalho com o turismo. Os atrativos naturais, que são os principais destinos turísticos daqui, e locais para hospedagem encontravam-se proibidos de receber pessoas até o momento da escrita desse texto (abril de 2021), algo que tem refletido fortemente na economia local.
Outro ponto que abalou significativamente também nossa rotina foi o fechamento dos templos religiosos. Eu e meu marido somos evangélicos e tínhamos o hábito de ir a cultos e outros trabalhos ligados às nossas práticas cristãs, mas infelizmente a necessidade do distanciamento social tem nos privado também de tais atividades. Aquilo que é possível, como por exemplo o ato da oração, fazemos em casa. Particularmente vejo na fé em Deus um escape para manter viva a esperança de dias melhores pela frente.
ESTUDOS NO CONTEXTO DO ENSINO REMOTO
A presença da COVID-19 tem trazido mudanças radicais na rotina de toda a população. Sendo assim, não teria como ser diferente nos estudos, em que a modalidade presencial precisou ser temporariamente suspensa, dando lugar ao ensino remoto como mais uma medida protetiva. Uma das minhas dificuldades enfrentadas diante dessas novas condições de estudos têm sido o choque entre obrigações diárias, aulas, tarefas e trabalhos propostos. Isso porque no período de Tempo Universidade do curso da LEC-UFVJM, outrora vivenciado, tínhamos todo o tempo voltado para nossas atividades estudantis, o que acaba sendo um aspecto bastante facilitador. Mas, estando em nossas comunidades, com toda uma rotina diária para cumprir, acaba sendo complexo realizar todas as obrigações necessárias sem que uma afete a outra.
Outro fator dificultador é o fato de que são muitas distrações que surgem a fim de tirar o nosso foco. É um celular que toca, uma visita que chega, dentre outros. E nem sempre é possível não dar atenção, já que a pessoa não tem como adivinhar que estamos ocupados. O melhor método de organização que considero diante dessas questões é um gerenciamento do tempo, exceto em alguns contratempos inevitáveis, para que possa haver comprometimento suficiente em todas as áreas, porque sempre gostei de que tudo o que se encontra sob a minha responsabilidade e que depende de mim seja feito da melhor forma possível, ainda que possa ser uma tarefa árdua.
Em termos de aprendizado, sinto que houve uma perda expressiva. Ao ter acesso aos conteúdos das aulas e também contato com os professores e colegas somente através das telas dos nossos aparelhos eletrônicos, percebo grande prejuízo na troca de saberes, visto que a interação é muito menor. E, por mais que haja esforço mútuo, o resultado final e o aproveitamento acaba sendo bastante inferior em comparação com o ensino presencial. Essa nova e complexa rotina de estudos requer de cada um de nós muita paciência, força de vontade, coragem para enfrentar infortúnios, a fim de estarmos “abertos” a novas práticas letradas diante do ensino remoto. Tarefas nada simples, no entanto imprescindíveis para amenizar os impactos sofridos diante das adversidades enfrentadas por cada um. Atitudes que tenho procurado adotar e tem sido proveitosas.
Nunca fui de ter facilidade no que diz respeito à tecnologia, mas têm circunstâncias em que não temos alternativa e a saída é procurar aprender ou, pelo menos, tentar. E, para manusear ferramentas digitais como o Moodle e o Google Meet, tem coisas que consigo fazer sozinha e outras não, depende muito da tarefa proposta pelos professores. A minha vantagem é que tenho em casa meu marido, que cursando o mesmo curso que o meu, atua como um grande suporte para mim, pois nessas áreas possui um grau de facilidade bem mais avançado que eu, e nesse processo venho aprendendo bastante com ele. E, apesar de professores que não fazem muito esforço para contribuir com as demasiadas dificuldades enfrentadas pelos alunos, é notável como alguns têm se empenhado em deixar esse fardo bem mais leve, algo de suma importância para todos nós discentes.
Erros, acertos, dúvidas, questionamentos, aprendizados, dificuldades. Acredito que são coisas que inevitavelmente irão nos acompanhar durante todo esse processo que aparenta ser longínquo, mas não podemos perder de vista o ânimo e a esperança, extraindo o que há de melhor em cada experiência que a nós for endereçada.
ALGUMAS REFLEXÕES SOBRE O PROCESSO
A pandemia tomou proporções inimagináveis e trouxe consigo a necessidade de adoção de um ensino remoto para não haver estagnação total no processo de aprendizagem.Não foi um método recebido com grande satisfação pela totalidade dos envolvidos, principalmente no meio discente, perante a realidade que muitos enfrentam. Sob a ótica de Silveira, Piccirilli e Oliveira, pode-se colocar em pauta que:
Aprender se tornou mais um desafio em meio à luta contra o coronavírus. As rápidas mudanças, alto nível de cobranças, frustrações diárias e dificuldades técnicas durante o ensino remoto comprometem o psicológico dos estudantes. É possível presenciar que entre os termos mais utilizados pelas pessoas com as quais conversamos para descrever a situação apareceu ansiedade, cansaço, estresse, preocupação, insegurança, medo, cobrança e angústia. (SILVEIRA, PICCIRILLI, OLIVEIRA, 2020, p. 125).
Ocorre que, com a ausência de alternativas mais plausíveis, a saída foi acatar a proposta sugerida e procurar se adequar a ela dentro das possibilidades pessoais de cada um. Apoiada nos debates e reflexões realizadas no decorrer das atividades do curso, refleti mais profundamente sobre interações por intermédio de recursos tecnológicos, sobretudo em territórios campesinos, que é onde se encontram os obstáculos mais visíveis. Através de atividades compartilhadas em fóruns interativos de ambientes educacionais, tive a oportunidade de conhecer mais sobre experiências similares à minha, enfrentadas por colegas do mesmo curso, concernentes aos aprendizados e dificuldades vivenciados no presente momento. Isso tudo reforçou meu entendimento de que residir no campo com acessos minimizados a certos recursos, sobretudo internet de qualidade, acarreta variadas disparidades quando comparadas a outrem que usufruem de mais oportunidades e mecanismos de estudos. A esse respeito, inclusive, recupero colocações de Magnani e Castro, quando pontuam que:
É comum termos estudantes que acessam os ambientes virtuais de aprendizagem apenas pela rede celular, o que, em muitas situações, é um impeditivo para abrir um arquivo maior ou rodar um vídeo. Em contextos assim, não surpreende que práticas com texto desconsiderem, por exemplo, o uso de corretores ortográficos e editores de texto online. (MAGNANI, CASTRO, 2019, p. 71).
Souza (2020) também argumenta que:
Embora nas últimas décadas a educação do campo tenha ganhado mais atenção e se aprimorado em muitos aspectos, percebe-se que ainda necessita evoluir muito para que se tenha uma educação de qualidade e que atenda de maneira satisfatória às demandas das populações rurais. (SOUZA, 2020, p, 15)
Acredito que vir de famílias nas quais certas práticas de letramento escolar não são comuns e, consequentemente, certos hábitos de leitura e escrita são escassos ou inexistentes, favorece para que alguns estudantes oriundos do campo enfrentem dificuldades diante de certas demandas de linguagem no contexto acadêmico, as quais pressupõem ou exigem experiências específicas. Poderia citar como exemplos tanto o domínio prévio de meios tecnológicos e ferramentas digitais em geral, além da familiaridade antecipada com o universo dos livros.
No presente semestre letivo refleti também sobre as noções de ‘leitura de mundo’ e ‘leitura de palavra’, concepções inspiradas nessas mesmas noções apresentadas por Paulo Freire. Na leitura de palavra, a maneira de se relacionar com o mundo pela linguagem inclui práticas escritas, que façam uso da tecnologia do alfabeto e que geralmente carecem de um processo de escolarização para estímulo da capacidade de decodificar letras. A leitura de mundo pode envolver símbolos, sinais, objetos, conhecimentos empíricos, dentre outras possibilidades. Por meio da discussão centrada nesses conceitos foi possível compreender que pessoas consideradas “iletradas” a todo o momento leem o mundo – todavia, muitas vezes de um modo diferenciado daqueles que são alfabetizados. A esse respeito, vale recuperar a consideração de Freire (2003), quando diz que:
Desde muito pequenos aprendemos a entender o mundo que nos rodeia. Por isso, antes mesmo de aprender a ler e a escrever palavras e frases, já estamos ‘lendo’, bem ou mal, o mundo que nos cerca (FREIRE, 2003, p.27)
Apesar das adversidades presentes no cotidiano de todos os que se encontram inseridos em meio a esse recém-adotado modelo de ensino, o qual tem sido desafiador, não se pode negar que dessa experiência é possível extrair aprendizados. Tais aprendizados envolvem tanto os conteúdos provindos das disciplinas, quanto os contatos, ainda que indiretos, com os professores e colegas, a partir dos quais foi possível perceber particularidades e similaridades entre realidades vividas. Penso que o melhor é seguimos nos ajudando, somando forças em prol do coletivo, na perspectiva de nos adaptar a cada nova situação que porventura surgir, visando conquistas, bom aproveitamento do curso e, por fim, resultados significativos na prática educativa como um todo.
REFERÊNCIAS
FREIRE, Paulo Reglus Neves. A importância do ato de ler: em três artigos que se completam. 45ª ed. São Paulo: Cortez, 2003.
MAGNANI, Luiz Henrique; CASTRO, Carlos Henrique Silva de. Práticas letradas, tecnologias e territórios: transgredindo relações de poder. Curitiba, volume 14, n.5, p. 56-81, 2019.
SILVEIRA, Ana Paula; PICCIRILLI, Giovanna Maria Recco; OLIVEIRA, Maria Eduarda. OS DESAFIOS DA EDUCAÇÃO À DISTÂNCIA E O ENSINO REMOTO EMERGENCIAL EM MEIO A PANDEMIA DA COVID-19. Revista Eletrônica da Educação, [ S.l.], v.3, n.1, p. 114-127, dec. 2020.
SOUZA, Everton de. Escolas do campo e o ensino remoto: vozes docentes nas mídias digitais. V. 14, n. 30: set./ dez. 2020.
O presente texto traz informações sobre uma pesquisa realizada na Escola Estadual Professor Leopoldo Pereira, que atende a diversas comunidades rurais no entorno do distrito de Milhos Verde, município do Serro-MG, mais especificamente dos alunos do ensino médio na comunidade Ausente de Baixo. Esta é uma atividade desenvolvida pelos integrantes do PIBID-UFVJM, subprojeto da Licenciatura em Educação do Campo, e teve como foco entender como está sendo a trajetória de estudos desses alunos durante a pandemia, assim como as questões relacionadas a acesso, econômicas e sociais.
Para que esta pesquisa fosse realizada, a metodologia utilizada foi um questionário no Google Forms que continha 37 questões fechadas e 1 aberta opcional ligadas a trajetória escolar do estudante entrevistado, condições das famílias e condições de estudos na pandemia. Quando os estudantes entrevistados não tinham condições de responderem diretamente o formulário, as perguntas foram realizadas através do WhatsApp.
Na comunidade Quilombola do Ausente de Baixo, responderam ao questionário sete alunos com idades entre 15 e 17 anos, cursando o ensino médio. Em relação às características socioeconômicas das famílias, todas são de baixa renda pois 100% receberam algum tipo de auxílio do governo no ano de 2021, seja Bolsa Família ou Bolsa Escola. Os grupos familiares são numerosos, todos com mais de cinco filhos. A renda de muitos nem sempre fornece o que é necessário para o estudo, como o acesso à internet, ou até mesmo o celular. Vemos que os moradores comunidade de Ausente de Baixo sobrevivem da agricultura familiar de subsistência, sendo que a maioria, 60%, conta também com a ajuda do Auxílio Emergencial. Entre os pais, apenas 20% possuem o ensino fundamental completo. Entre os irmãos, 80% possuem ensino médio completo.
A partir da análise das respostas das entrevistas, percebe-se que os recursos tecnológicos tv e internet estão presentes em 100% das famílias. Quanto ao acesso à internet, 80% são por meio do 4G dos celulares e 20% é via antena. O acesso pré-pago representa 80% do total, sendo que 20% falaram que suas recargas mensais duram de um a dez dias; outros 20%, de onze a vinte dias; e 60% de vinte um a trinta dias. 80% afirmaram que o sinal é instável. Ou seja: o número de estudantes que acessa a internet com estabilidade ao longo de todo o mês é ínfimo.
Contemplando a questão 38, questão aberta onde foi solicitado que os alunos relatassem a principal dificuldade encontrada no ensino remoto, 100% dos alunos afirmam que ir à escola antes ajudava muito mais, visto que as relações interpessoais são de fundamental importância no processo ensino aprendizado. A maioria declarou que as metodologias de agora até ajudam, mas não se comparam às vantagens ao ensino presencial. Afirmaram que durante a pandemia eles consideram que está sendo bem mais difícil aprender o conteúdo, pois mesmo que assistam a videoaulas é difícil adquirir todo conhecimento que se é passado. Isso se dá pelo fato de muitos dos alunos não terem ajuda apropriada e mediação do professor, como também pela falta de conhecimento para manuseio e utilização das ferramentas tecnológicas como o Google Sala de Aula, o Conexão Escola 2.0, e mesmo o Youtube. Além disso, foi apontada que 80% dos alunos possuem uma internet ruim, como citado no parágrafo anterior.
Ao final das entrevistas, bem como minhas próprias experiências, noto que o ensino remoto para os alunos e os familiares se torna uma forma segura para suprir a falta do ensino presencial durante o contexto atual de pandemia. Contudo, a falta de um acesso contínuo e estável à internet, além do baixo nível de escolaridade dos pais, constitui agravante no processo de ensino aprendizagem, como é o caso da comunidade estudada. Levando em consideração a realidade vivenciada pelos estudantes de Ausente de Baixo, e pensando na educação no contexto durante a pandemia, podemos enfatizar a necessidade de se ter maior atenção à realidade do educando, pois nem sempre eles possuem as ferramentas corretas e necessárias para o ensino, como a internet e o celular.
[1] Maria Madalena é estudante da Licenciatura em Educação do Campo (LEC), da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM). Esta pesquisa foi supervisionada pelo professor Vítor Sousa Dittz, da Escola Estadual Professor Leopoldo Pereira, e orientada pelo professor Carlos Henrique Silva de Castro, da UFVJM, no âmbito do PIBID-UFVJM.
Agradecimentos aos estudantes-sujeitos e suas famílias, bem como ao diretor da E. E. Professor Leopoldo Pereira, o professor Maycon Souza.
Moro na comunidade Passa Sete, município de Conceição do Mato Dentro- MG. Vivo com meu irmão e também com meus pais que, apesar de já serem aposentados, seguem trabalhando com agricultura voltada ao consumo próprio familiar, trabalho em que eu e meu irmão ajudamos quando possível. Na minha casa, só eu estou estudando.
Meu irmão e eu temos celulares, minha mãe está sem celular no momento, pois o que ela tinha, estragou. Como ela tem dificuldade de mexer com celular digital, meu irmão e eu estamos ensinando-a. Com essa pandemia e o ensino remoto, eu tive que comprar um celular com maior memória para meus estudos. Dessa forma, irei passar o meu antigo para ela. Na minha casa tem um notebook o qual até então somente eu uso para estudar, mas, como meu irmão vai começar a trabalhar, ele irá precisar do aparelho também. Assim, será necessário que busquemos uma organização para a divisão do uso.
Uma das mudanças na minha rotina foi o estudo de forma remota, que demandou e ainda tem demandado adaptações. Devido a essa realidade, tive que colocar internet na minha casa. É internet rural, às vezes falha, entretanto, está me ajudando muito, pois, quando na minha casa não tinha internet, eu ia em um morro onde pega internet móvel, e eu só conseguia acessar pelo celular e não dava para subir lá todos os dias. Ou seja, se eu não colocasse internet em casa, não iria conseguir fazer nada do que estou fazendo, pois constantemente tem algo para fazer que demanda internet. E, com as aulas remotas, estou tendo que aprender a lidar com essas novas ferramentas de comunicação, como por exemplo o Google Sala de Aula, o Google Meet, entre outras plataformas virtuais.
Tudo isso intensificou bastante, ainda, minha prática com o celular e com notebook. Além do curso, estou em um projeto da UFVJM no qual eu sou bolsista cujas atividades estão acontecendo remotamente. Somam-se a isso as atividades do movimento e as demandas (pautas) aqui da comunidade que estão podendo ser mobilizadas online, das quais estou participando. Sobre a comunidade, vale observar que há muitas pessoas trabalhando na mineração, em fazendas e em outros serviços, como o de pedreiro, porém, quem é do grupo de risco e está fixado na empresa de mineração, está em casa.
Tanto na minha comunidade quanto nas outras comunidades atingidas, a pandemia fez com que ficasse mais difícil de nos organizarmos para movimentos de luta por direitos e contra o avanço do modelo predatório de mineração que tanto afeta a vida e o cotidiano de moradores de regiões mineradas. Antes da pandemia, todas as atividades que os atingidos faziam eram presenciais e, atualmente, muitas coisas não são possíveis de serem feitas virtualmente. Além disso, muitas pessoas não possuem celulares e/ou acesso à internet.
A pandemia modificou bastante também a nossa forma de lazer. Como nós aqui da comunidade temos o costume de passear nas casas dos vizinhos, fazer festas entre outras coisas, algumas coisas se alteram por causa da pandemia, pois já não podemos fazer isso. Hoje, jogamos baralho (de preferencialmente o truco), assistimos televisão, ouvimos rádio, coisas que já fazíamos antes, porém dentro de casa. Além disso, como meus pais são do grupo de risco, eu passei a fazer todas as atividades as quais são necessárias ir à cidade, como fazer compras, pagar as contas, entre outras coisas.
ESTUDAR EM TEMPOS DE PANDEMIA
Desde a volta do TU (março de 2021) até o momento de escrever este texto (abril de 2021), estávamos tendo apenas uma disciplina na universidade, “Estudos do Letramento”. Assim não tive muitas dificuldades para participar das atividades. A dinâmica das aulas esteve bem tranquila, de um modo que estou conseguindo me organizar. Às vezes, a dificuldade que tenho é que, quando a internet fica lenta, ao ponto que eu não consiga entrar na plataforma Moodle, onde estão as atividades, eu preciso subir o morro próximo a minha casa, em que há acesso a internet através dos dados móveis pelo celular.
Para eu assistir a um a um documentário demandado pela disciplina, tive problema também com internet lenta. Como sempre, no horário, a partir da meia-noite, o acesso melhora, e assim pude assistir nesse horário. Sobre o aprendizado, pensei que iria ser muito difícil, pela questão de não ser presencial como era no período de 2019/2 e 2020/1. Até o momento, no entanto, estou conseguindo aprender e entender bastante do que está sendo proposto e falado na disciplina. Apesar de ter que ficar muito mais tempo ligada no celular e no notebook, estou me adaptando a essa rotina, mas sentindo muita falta dos estudos presenciais, dos colegas, e do ensino presencial que acredito ser muito mais didático.
Nas aulas presenciais, para as leituras dos textos indicados pelos professores, meus amigos e eu líamos juntos, pois era uma forma de um ajudar o outro, tirar dúvidas, etc. Nesse momento, à distância, não conseguimos mais fazer isso, pois cada um tem sua rotina e, com isso os horários não batem. Há vezes em que apenas pelo whatsapp comentamos sobre as leituras propostas. As aulas presenciais envolviam também atividades práticas, em espaços como a biblioteca e o pavilhão de auditórios da universidade, além de trabalhos de campo diversos. Além das aulas por teleconferências, por enquanto, tivemos como tarefa assistir ao documentário “Leituras de um Analfabeto” e ao episódio “NOSEDIVE” da série “Black Mirror”, o que considero como aulas práticas, igual tínhamos no pavilhão de auditórios onde todos ficavam reunidos, porém, hoje, com a pandemia, cada um na sua casa.
Sobre os aplicativos tecnológicos que estamos usando bastante nesse período de aulas remotas, eu já tinha conhecimento do Google Meet, pois antes de começar o TU já participava de reuniões através dele. Sobre o Moodle, eu aprendi algumas coisas que eu não tinha conhecimento, como a execução de atividades dentro de um fórum da própria ferramenta Moodle, em que é possível comentar as atividades dos outros. Eu pensava que a plataforma era apenas para enviar trabalhos já finalizados diretamente aos docentes. Um aplicativo que também está sendo usado nesse período de aulas remotas é o Google Sala de Aula, eu ainda tenho um pouco de dificuldade em trabalhar com ele, entretanto, quando as demais aulas começarem, acredito que irei aprender bastante.
REFLETINDO SOBRE O PROCESSO
A pandemia do coronavírus chegou ao Brasil em 2020, e se espalhou de forma muito rápida. Devido a isso, a partir do dia 15 de março de 2020, foi decretado quarentena em todo país. Sendo assim, muitas pessoas passaram a ficar mais dependentes das tecnologias, seja para trabalhar, estudar, etc. Porém, os moradores dos territórios rurais têm muita dificuldade de acesso à internet. Conforme apontam Fornasier; Scarantti, (2017), aproximadamente 85% da população que mora no campo está excluída digitalmente (p.135).
Na minha comunidade, e acredito que isso também ocorra em muitas outras comunidades rurais, nesse período de pandemia a comunicação e a organização para as lutas e debates das pautas que demandam o território, ficaram muito complicadas. Isso porque não é possível realizar encontros presenciais devido ao distanciamento social, necessário por causa da pandemia. E, por outro lado, muitas das pessoas não tem acesso aos meios de comunicação e redes sociais. Segundo Magnani e Castro (2019), muitas práticas e formas de interagir com a tecnologia não são comuns ou, por vezes, possíveis a muitos sujeitos de comunidades do campo brasileiros. Para os autores, isso pode ocorrer não só devido a falta de internet de qualidade, mas também, por exemplo, quando não se tem domínio de praticas letradas necessárias(p.62).
Com a pandemia, deixamos de fazer muitas coisas que fazíamos antes, o que está sendo muito ruim, pois tínhamos o costume de receber visitas, fazer passeios, ir em festas. Muitos dos nossos lazeres eram saindo de casa, como ir para o rio, para o bar, ir às igrejas. Isso não sendo possível, assim, passamos mais tempo assistindo televisão, ouvindo rádio, mexendo no celular, com uma maneira de nos ocuparmos. Mas, também para nós que moramos na roça e criamos animais, trabalhamos com a agricultura familiar. Como diz Tardim (2012),“a agricultura traduz, sem equívoco, uma relação humano–natureza marcada pelo sentido de forte conexão, de pertencimento, de ato transformador e criador, uma relação fundada no cuidado”. (p. 181).
Nesse período de pandemia, além de ser nosso trabalho, a agricultura e a criação de animais se tornou, para a minha família, e acredito que para outras famílias que vivem em territórios rurais, uma forma de distração e de manter a mente ocupada. E, por outro lado, uma forma muito interessante de aprender com meus pais sobre o trabalho na terra, escutar sua leitura de mundo, suas percepções e seus olhares. Leitura de mundo esta que, como descreve Freire (1989), vem de um contexto onde as palavras, as letras eram através dos cantos dos pássaros, das fases da lua, do período da chuva, do formato da folha e da fruta para identificar a espécie, olhar as horas através do sol, das estações do ano entre outros.
Como o ensino remoto mudou bastante coisas, muitas pessoas, assim como eu, tiveram que comprar aparelho celular novo para conseguir atender às demandas do ensino remoto, tiveram que colocar internet, entre outras. E o aprendizado de forma remota, por ser diferente do que estávamos acostumados, trouxe para nós estudantes e, acredito que para os professores também, muitos desafios a serem superados. Braga e Vóvio( 2015) falam sobre a articulação entre desigualdade social e escrita, em que o acesso pode ser, muitas vezes, um privilégio de classe. Sobre as tecnologias digitais também, não é diferente, pois, por mais que o acesso tecnológico digital hoje em dia está mais amplo e acessível para todas as classes sociais, ainda há muita desigualdade.
O acesso a tecnologias digitais na zona rural e até mesmo em periferias da grandes cidades é muito deficitário. Isso sem contar que muitas pessoas desse grupo social não têm condições de comprar um celular, um notebook dos melhores e colocar uma internet ótima, que são dispositivos muito caros para boa parte da população. Ou seja, os mais privilegiados em termos de acesso e uso de tecnologias digitais são as pessoas de classe dominante, enquanto as demais têm muito mais dificuldades ao lidar com o ensino a distância.
Por mais que muitos estejam se adaptando bem, aprendendo e entendendo as disciplinas, o ensino não é a mesma coisa de quando era no presencial, pois muitas das vezes a gente fica mais disperso. Por exemplo, antes fazíamos grupos de leituras com os amigos, e, hoje, como é possível apenas pelas redes sociais, acaba não sendo a mesma coisa, pois os horários não batem. Em contextos normais, não pandêmicos, as aulas presenciais ocorrem em Diamantina, no TU, e ficamos por conta somente dos estudos. Na pandemia, por outro lado, além das aulas e atividades da faculdade, foi necessário muitas vezes conciliar com o trabalho. Com essa situação, não é mais possível estar apenas por conta dos estudos. E se a pessoa não se esforçar, principalmente para conseguir participar das aulas síncronas, fica prejudicado o aprendizado.
Esses desafios que estamos enfrentando e aos quais precisamos nos adequar, também são formas de continuarmos estudando. Além disso, essa situação nos levou a ter algumas novas práticas de letramento, como aprender a lidar com as aulas por teleconferências,e, principalmente, a usar alguns aplicativos tecnológicos, dos quais muitos não tinham conhecimento.
REFERÊNCIAS
BRAGA, D, B; VÓVIO, C, L. Uso de tecnologia e participação em letramentos digitais em contextos de desigualdades. São Paulo, Cortez, p. 33-65, 2015.
FORNASIER, M, O; SCARANTTI, D, R. Internet no Campo: Direitos Humanos e Políticas Públicas de Inclusão Digital. Revista Extraprensa, v. 10, n. 2, p. 133-152, 2017.
FREIRE, P. A Importância do Ato de Ler. 23. ed. São Paulo, Cortez, 1989.
MAGNANI, L, H; CASTRO, C, H, S. Práticas Letradas, Tecnologias e Territórios: Transgredindo Relações de Poder. Revista X, Curitiba, v. 14, n. 5, p. 56-81, 2019.
TARDIM, J, M. Cultura Camponesa. In: CALDART, R, S. et al. (orgs.). Dicionário da Educação do Campo. Rio de Janeiro; São Paulo: Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio, Expressão Popular, p.180-188, 2012.
Entre os dias 11 e 27 de maio de 2021 foi realizada uma pesquisa quantitativa com os estudantes do ensino médio da Escola Estadual Leopoldo Pereira no âmbito do PIBID-UFVJM da qual este relato faz parte. O objetivo de toda a pesquisa é compreender quais são as principais dificuldades enfrentadas pelos estudantes da referida escola em relação às metodologias utilizadas na realização das atividades escolares durante o ensino remoto decorrente da pandemia da covid19.
Atualmente a escola atende 14 comunidades rurais e está situada no distrito de Milho Verde, Serro/MG. Dentre os dez estudantes oriundos das comunidades de Ausente de Cima e Serra da Bicha, quatro participaram desse processo sendo dois de cada uma delas. Para saber um pouco mais sobre essa realidade, organizamos um questionário contendo 37 questões fechadas e uma aberta opcional, aplicado via Google Forms. As perguntas fechadas trataram, sobretudo, sobre as formas de estudos online durante o tempo de pandemia, e como essas condições tecnológicas no meio rural são acessíveis a eles no auxílio às atividades escolares. Para além das condições tecnológicas, perguntamos ainda algumas questões de cunho social que comporão esta análise nos próximos parágrafos. Na última questão, a aberta, foi solicitado um comentário sobre as principais dificuldades encontradas pelo estudante no ensino remoto, e o que ele está fazendo para superá-las. A divulgação dos resultados foi autorizada pelos próprios estudantes em conjunto com a direção da escola com a condição de manter os nomes em anonimato.
Conforme os resultados da pesquisa, 50% dos estudantes são do sexo feminino e 50% do sexo masculino, com idades entre 16 e 17 anos. Todos cursam o ensino médio. Isso significa que esses estudantes estão se preparando, ou deveriam, para dar continuidade nos estudos no ensino superior. Quanto à renda familiar, no Ausente de Cima, 100% dos entrevistados recebem o Bolsa Família e apenas 50% receberam o Auxílio Emergencial. Já na Serra da Bicha, 50% recebem o Bolsa Família e 100% receberam o Auxílio Emergencial. Em ambas as comunidades as famílias dos estudantes sobrevivem da agricultura familiar de subsistência. Tanto na Serra da Bicha como no Ausente de Cima, predomina o baixo grau de escolaridade como afirmam os estudantes ao responderem que o nível de escolaridade dos seus pais é baixo, sendo que nenhum finalizou o ensino fundamental. Com isso, podemos deduzir que o apoio dos pais na realização dos Planos de Estudos Tutorados (PETs) e das atividades complementares fica comprometido.
50% dos estudantes afirmaram que a família não possui televisão em casa, em contrapartida todos têm aparelho celular na residência. Em relação às ferramentas de ensino remoto mais utilizadas no dia a dia, no Ausente de Cima 50% dos entrevistados responderam que utilizam o WhatsApp e 50% o Google Sala de Aula com maior frequência. Já na Serra da Bicha, 100% dos entrevistados afirmaram que utilizam no dia a dia com maior frequência os grupos do WhatsApp. Ao perguntar sobre as ferramentas na qual possuem maior dificuldade, em ambas as comunidades, 100% afirmaram que eles têm maior dificuldade em acessar o aplicativo Conexão Escola 2.0, ferramenta destinada à interação síncrona entre professor e aluno. Como causa desta realidade, nas duas localidades, 50% dos alunos afirmaram que não sabem e 50% disseram que o sinal de internet é muito fraco, pois acessam através dos dados móveis do aparelho celular para estudar porque não tem antena nem internet a cabo em casa. 50% dos estudantes da Serra da Bicha e 100% de Ausente de Cima consideraram a conexão instável, e 100% dos estudantes, das duas comunidades, disseram que o sinal de internet é ruim, impossibilitando-os de baixar arquivos ou vídeos que os professores disponibilizam. Todos afirmaram também que a escola tem utilizado com maior frequência as ferramentas de ensino remoto e com maior diversidade comparada ao ano de 2020.
No ensino remoto, há uma dependência muito grande em relação às tecnologias e vários fatores influenciam no acesso. O mais agravante é que as famílias são de baixa renda por isso não conseguem colocar recarga com frequência no telefone dos filhos para garantir o acesso à internet. No caso desta pesquisa, os quatro estudantes utilizam a internet 4G pré-paga. Em relação ao tempo disponível de acesso ao serviço de internet, no Ausente de Cima 50% dos estudantes tem acesso de onze a vinte dias, e a outra metade de vinte um a trinta dias. Na comunidade de Serra da Bicha os dados são iguais quanto ao tempo de acesso à rede. Ao serem questionados sobre as principais dificuldades enfrentadas nesse ensino remoto, foram unânimes em dizer que a falta de acesso à internet.
Por mais que os professores mandem impressos todos os materiais dos PETs, eles dependem de um auxílio tecnológico para solucionar possíveis dúvidas e pesquisas em relação às atividades. Em uma das respostas, no comentário final, uma estudante ressalta que a maior dificuldade encontrada é a falta de internet, pois muitas vezes o sinal é muito fraco, em condições que o aplicativo Conexão Escola 2.0, utilizado na interação entre professores e alunos, não funciona, dificultando assim o aprendizado dos conteúdos. A entrevistada relatou que mesmo com toda dificuldade enfrentada, não deixa de fazer as atividades pedidas e busca sempre se dedicar ao máximo.
Ao analisar as respostas dadas pelos estudantes, verifica-se que os resultados são preocupantes uma vez que, por mais que eles tenham interesse em aprender, as ferramentas de trabalho não são acessíveis a todos, o que dificulta muito o aprendizado. Conversando com alguns professores da Escola Estadual Professor Leopoldo Pereira, eles relatam que se preocupam muito com a aprendizagem dos estudantes por muitas vezes não obter o retorno desejado, pois o contato por meios das plataformas de comunicação digital é mínimo entre eles, isso fez com que os professores buscassem alternativas de ensino para que os alunos não saiam prejudicados. Uma dessas alternativas foi montar um grupo através do aplicativo WhatsApp visto que, esse aplicativo é muito utilizado entre os adolescentes da escola. O avanço da vacinação e, como consequência, os planejamentos para o retorno às aulas presenciais ajudarão a esses estudantes que não conseguiram se adaptar ao ensino remoto devido à falta de condições das famílias de baixa renda, dentre outras questões.
[1] Juliana é estudante da Licenciatura em Educação do Campo (LEC), da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM). Esta pesquisa foi supervisionada pelo professor Vítor Sousa Dittz, da Escola Estadual Professor Leopoldo Pereira, e orientada pelo professor Carlos Henrique Silva de Castro, da UFVJM, no âmbito do PIBID-UFVJM.
Agradecimentos aos estudantes-sujeitos e suas famílias, bem como ao diretor da E. E. Professor Leopoldo Pereira, o professor Maycon Souza.
Nesse inusitado período de pandemia, em que práticas antes impensáveis tornaram-se rotina – como foi o caso do ensino remoto – muita coisa tem acontecido no contexto educacional. A migração forçada para o meio digital como forma de não interromper as atividades educacionais geram formas específicas de lecionar, aprender, interagir, preocupar-se, organizar-se, lutar por direitos, adaptar-se ao estabelecido, entre outros.
Como era de se esperar, toda essa situação foi sentida no contexto da Licenciatura em Educação do Campo (LEC) da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri. A formação de professores é um exercício que envolve um lidar constante com o acontecimento, com a dinamicidade da vida e essa situação recente tem deixado isso muito explícito. Isso, ainda que cada contexto, território, cultura, comunidade tenha vivido toda essa condição de modo necessariamente contingente.
Ao se partir das condições concretas nas quais nos encontrávamos, nós, docente e discentes, enquanto coletivo, procuramos refletir sobre questões ligadas a noções de letramento, leitura, alfabetização, linguagem, ensino, práticas letradas, entre outros. Isso, em um exercício centrado nas práticas letradas e nas condições concretas de cada um de nós enquanto participante daquele coletivo.
Assim, a presente série é resultado de um trabalho coletivamente realizado no contexto da disciplina Estudos de Letramento do terceiro período do curso de Licenciatura em Educação do Campo (LEC) da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri. A cada sexta-feira, então, um trabalho autoral produzido por um discente do curso será publicado.
Fica o convite à leitura, ao diálogo e à reflexão conjunto a respeito de práticas letradas que ocorreram e ainda têm ocorrido nesse inusitado contexto de ensino remoto, distanciamento físico e pandemia.
Trago aqui resultados de pesquisa de cunho quantitativo executada por meio de um questionário contendo 37 perguntas fechadas e uma aberta. Responderam as interrogativas quatro alunos do ensino médio da Escola Estadual Professor Leopoldo Pereira, e que residem nas comunidades da Barra da Cega, Córrego da Areia e Jacutinga. Nessas três comunidades as famílias sobrevivem da pequena agriculta familiar de subsistência.
A proposta do trabalho em questão é expor algumas realidades de ensino e aprendizagem desses alunos em meio à pandemia, salientando também suas condições socioeconômicas e educacionais, suas condições escolares e sua percepção sobre o Regime Especial de Atividades Não Presenciais (REANP).
A escola Estadual Professor Leopoldo Pereira é considerada nucleada rural, ou seja, possui uma sede, onde fica localizada a direção, que fica localizada em Milho Verde, um distrito de Serro, interior do estado de Minas Gerais, e outros núcleos (prédios físicos diferentes da sede). Esses núcleos estão presentes em 14 comunidades, entre elas estão as citadas Barra da Cega que fica localizada a 3 km da escola, Córrego da Areia a 11 km e Jacutinga, situada a 16 km.
O estudo foi realizado com alunos do sexo feminino e masculino com idades entre 15 e 18 anos que cursam o primeiro e segundo ano do ensino médio. Mediante tal investigação, fica perceptível que o perfil familiar é de baixa renda, pois todas recebem auxílios financeiros do governo. As famílias são numerosas, 100% delas possuem 5 ou mais integrantes. Com relação ao grau de escolaridade dos pais, 100% dos pais e das mães não terminaram o nível fundamental, o que coloca esse grupo familiar em condições escolares limitadas.
Os alunos das comunidades em estudo possuem celular e internet com cobertura 4G, 50% dos alunos afirmaram que o sinal é instável e a maioria, 70%, relatou que não consegue assistir a vídeos, como as videoaulas disponibilizadas nos planos de ensino que devem cumprir semanalmente. Outros 40% também mencionaram que precisam dividir o uso do celular com outros familiares para fins estudantis. Nas três localidades os alunos, em sua maioria, 60%, acessam a internet de 21 a 30 dias no mês. Na Barra da Cega 50% dos alunos contam com a ajuda dos pais nas atividades escolares e 50% não. Na Jacutinga e no Córrego da Areia 100% dos alunos afirmaram que não contam com a assistência dos pais, pois não têm domínio dos conteúdos.
Os estudantes alegam que utilizam entre 1 e 10 horas para estudar por semana. Desses, 40% usam como ferramentas de estudo vídeos diversos – que encontram com pesquisa – do Youtube, ou vídeos oficiais do programa Se Liga na Educação, também disponíveis no Youtube, que é parte do Estudo no Regime de Estudo Não-Presencial (REANP). Além disso, todos declaram que neste ano de 2021 a escola e os professores têm utilizado ferramentas de ensino remoto para se comunicar com maior assiduidade. Dentre essas, a utilizada com frequência maior é o WhatsApp, segundo 100% dos respondentes. Todos afirmaram que o e-mail e o aplicativo Conexão Escola 2.0 estão sendo menos utilizado, pois demandam uma internet com maior estabilidade no sinal.
Por último, respondendo sobre as principais dificuldades encontradas no ensino remoto em questão aberta, um dos entrevistados diz que a sua principal dificuldade é aprender por meio do aparelho celular, sobretudo pela necessidade de acessar os aparelhos celulares dos pais, que sempre estão fora de casa trabalhando. Além disso, nem sempre o celular tem recursos tecnológicos ou conectividade que suportem o recebimento e envio dos conteúdos pedagógicos.
A partir da entrevista, de maneira geral, conclui-se que para participar dessa nova escola, a família precisa de boas condições financeiras. Percebe-se que esses estudantes são dependentes de tecnologias caras e até inexistentes na região, como internet a cabo. Sendo assim, as más condições sociais que o indivíduo vive influenciam negativamente na sua aprendizagem escolar e aprofundam as desigualdades de maneira geral.
[1] Izabela é estudante da Licenciatura em Educação do Campo (LEC), da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM). Esta pesquisa foi supervisionada pelo professor Vítor Sousa Dittz, da Escola Estadual Professor Leopoldo Pereira, e orientada pelo professor Carlos Henrique Silva de Castro, da UFVJM, no âmbito do PIBID-UFVJM.
Agradecimentos aos estudantes-sujeitos e suas famílias, bem como ao diretor da E. E. Professor Leopoldo Pereira, o professor Maycon Souza.
Este é um relato que traz considerações sobre a percepção de alguns alunos do ensino médio de uma escola rural sobre as metodologias e as tecnologias de estudo e suas principais dificuldades encontradas no ensino remoto. Neste contexto, foi realizada uma pesquisa com 11 alunos da Escola Estadual Professor Leopoldo Pereira que está localizada no distrito de Milho Verde, município do Serro – MG.
A metodologia utilizada foi um questionário enviado a 11 estudantes do ensino médio que moram na comunidade de Capivari, situada a 16 km de Milho Verde. Da localidade, antes do período pandêmico e esperamos que em breve novamente, saem dois ônibus na parte da manhã, fazendo o percurso de 1 hora da comunidade até chegar à escola. Na pesquisa foram abordados os seguintes temas: condições socioeconômicas, condições educacionais das famílias, percepções do aluno sobre suas dificuldades no REANP.
A partir dos dados, percebe-se que as condições socioeconômicas dos alunos é um fator que influencia em um bom aprendizado, pois a falta de recursos tecnológicos necessários no ensino remoto, como um computador, aparelho celular e internet de boa qualidade, faz com que os alunos não tenham um bom desempenho. Nesse sentido, 50% dos entrevistados recebem o Bolsa Família e 30% receberam o Auxílio Emergencial do governo federal. Nessa situação, 40% dos alunos têm que compartilhar com seus irmãos os aparelhos tecnológicos para acessarem as videoaulas, o aplicativo Conexão Escola, assim como os grupos de WhatsApp das turmas, que são ferramentas disponibilizadas pela escola, sendo que 80% dos entrevistados afirmaram que utilizam a última com maior frequência. 90% dos alunos relatam que possuem dificuldade para acessar o aplicativo Conexão Escola, que oficialmente deveria substituir o WhatsApp. Os dados reforçam, assim, que a questão do acesso é um ponto que contribui para o atraso na aprendizagem.
Outra dificuldade encontrada é a necessidade de um acompanhamento de uma pessoa qualificada para sanar as dúvidas que surgem, pois vimos que grande parte das famílias de Capivari não tem uma qualificação para acompanhar as atividades com seus filhos, sendo que 100% dos pais possuem ensino fundamental incompleto e cerca de 70% das mães também. Além da falta de tecnologias e da falta de conhecimento, ficam prejudicados ainda com o fato de que 25% dos familiares afirmam não tempo de ajudar seus filhos. Assim, as respostas ao questionário mostram que esses alunos apresentam grandes dificuldades para estudar.
A partir das entrevistas realizadas, e sobretudo nos relatos da única questão aberta do questionário, percebe-se que o REANP tem prejudicado muito a educação e que os estudantes estão desmotivados, desatentos e despreparados para prosseguir com os estudos. Como exemplo selecionei um dos relatos para melhor justificar minha afirmação: “É um pouco difícil né porque quando tinha as aulas presenciais a gente tinha mais a presença do professor, a gente tinha ali os amigos para tá apoiando também principalmente professor que ensina muito bem, e longe, no ensino remoto, a gente fica mais distraído.”
Ao fim, podemos concluir que a falta de recursos tecnológicos de acesso e infraestrutura para um grupo de alunos é de extrema preocupação em Capivari onde 50% conseguem acessar as videoaulas online e os outros 50% não, pois ou possuem internet precária ou nenhuma internet. Também o acesso com maior estabilidade a internet só é uma realidade para apenas 60% dos alunos que possuem antena. Entre os entrevistados 80% afirmaram que possuem acesso à internet todos os dias do mês, considerando o 4G do celular. Esses mesmos 80% relataram que utiliza com maior frequência como ferramenta de ensino o grupo do WhatsApp da turma. Apenas 10% conseguem acessar o aplicativo Conexão Escola.
Dentre os dificultadores, a partir das respostas dadas, podemos afirmar que o grau de escolaridade dos pais, assim como o limitado acesso às tecnologias. Sem contar que esse ensino remoto é um hábito novo, uma nova cultura. Se no ensino presencial já é difícil os alunos terem o hábito de estudar, no ensino remoto a situação tende a se agravar, tendo em vista o perfil das famílias pesquisadas.
[1] Claudemar é estudante da Licenciatura em Educação do Campo (LEC), da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM). Esta pesquisa foi supervisionada pelo professor Vítor Sousa Dittz, da Escola Estadual Professor Leopoldo Pereira, e orientada pelo professor Carlos Henrique Silva de Castro, da UFVJM, no âmbito do PIBID-UFVJM.
Agradecimentos aos estudantes-sujeitos e suas famílias, bem como ao diretor da E. E. Professor Leopoldo Pereira, o professor Maycon Souza.
Este texto relata os resultados de uma pesquisa quantitativa que aborda a percepção de alguns alunos da comunidade rural de Capivari sobre o chamado Regime de Estudo não Presencial (REANP-Minas Gerais), assim como suas condições de acesso, infraestrutura de telecomunicação e as ferramentas utilizadas pela escola. O universo da pesquisa foi um grupo de 8 alunos da comunidade de Capivari, que estudam na Escola Estadual Professor Leopoldo Pereira, localizada no distrito de Milho Verde, município do Serro/MG.
Como metodologia adotada para o levantamento dos dados, foi aplicado um questionário no Google Formulário com 37 perguntas fechadas e um comentário aberto opcional. Os nomes dos estudantes são mantidos na confidencialidade e as questões abordadas estão ligadas às metodologias e às tecnologias utilizadas pelos estudantes do ensino médio da referida escola, assim como as suas principais dificuldades. Como resultados da pesquisa, percebemos que a questão de tecnologias tem influenciado muito a não-aprendizagem. No contexto de Capivari, 100% afirmaram que têm o aparelho celular, mas apenas 60% têm acesso a conexão estável à internet, que na comunidade só é possível via antena, e metade também relatou que às vezes não consegue nem acessar videoaulas no Youtube. Entre os que acessam à rede tanto via antena e celular, 80% possuem acesso à rede de 21 a 30 dias no mês. O baixo nível de escolaridade dos pais também é um ponto que pode influenciar no aprendizado dos alunos uma vez que 100% dos pais não terminaram o ensino fundamental. Perguntados sobre apoio nas atividades propostas pelo REANP através das apostilas denominadas Plano de Estudos Tutorados (PET) por parte dos pais, 100% deles não conseguem fazê-lo. Metade afirma que por competência, já que não finalizaram o fundamental, e a outra metade alega trabalhar e não ter tempo para apoiar seus filhos com as atividades.
De acordo com os dados da pesquisa, percebemos que 80% dos estudantes são de baixa renda, pois suas famílias participam dos programas governamentais Bolsa Família e Auxílio Emergencial. Por falta de condições financeiras, muitos irmãos têm que utilizar um único aparelho celular ou computador, quando existe um, para os estudos. Sobre as ferramentas de uso, todos afirmaram que possuem mais facilidades com grupo de WhatsApp e videoaulas do Youtube. 80% dos entrevistados afirmaram que fazem uso da ferramenta WhatsApp com maior frequência sobretudo pelo fato de que a escola criou um grupo de WhatsApp para cada turma. No ambiente virtual esclarecem suas dúvidas com mais facilidade e aprendem os conteúdos. Por outro lado, 90% dos alunos encontram dificuldades em acessar o aplicativo Conexão Escola 2.0, criado pelo governo do estado destinado à interação nos moldes do popular WhatsApp.
Ainda segundo os entrevistados, na questão aberta aos comentários diversos, o ensino remoto dificultou o aprendizado, pois antes, na sala de aula, tinham a presença dos professores e amigos para estar dando um apoio moral e auxiliando na aprendizagem, pois o professor está ali presente e responde com mais rapidez suas dúvidas. Relataram em seus comentários que no ensino remoto não é sempre a mesma coisa, pois o professor tem vários alunos para estar respondendo. Muitas vezes pelo fato de o aluno não compreender o conteúdo não tem nem base de como formular uma pergunta para o professor. Um outro problema identificado foi a falta de um ambiente adequado para os estudos, pois o ambiente doméstico pode gerar falta de atenção como relata uma estudante: ‘‘Com o ensino remoto a gente fica distraído. Se passar um mosquito na nossa frente, a gente fica observando o mosquito e esquece da atividade. E antes, na sala de aula, tínhamos mais concentração na explicação do professor’’.
Com todas essas respostas, notamos que não só a concentração nas atividades, mas o acesso à internet e o baixo grau de escolaridade dos pais também têm sido fatores que dificultam o aprendizado; pois se o aluno não tem uma internet de boa qualidade, não consegue acessar os aplicativos que necessita, fazendo com que seu rendimento não seja satisfatório. Problema agravado pelo fato de não possuírem na família um membro que possa auxiliá-lo nas atividades. Concluímos, assim, que a qualidade da educação destes alunos está comprometida por estes problemas identificados.
[1] Ana Roberta é estudante da Licenciatura em Educação do Campo (LEC), da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM). Esta pesquisa foi supervisionada pelo professor Vítor Sousa Dittz, da Escola Estadual Professor Leopoldo Pereira, e orientada pelo professor Carlos Henrique Silva de Castro, da UFVJM, no âmbito do PIBID-UFVJM.
Agradecimentos aos estudantes-sujeitos e suas famílias, bem como ao diretor da E. E. Professor Leopoldo Pereira, o professor Maycon Souza.
Este relato traz as percepções de estudantes do ensino médio da Escola Estadual Professor Leopoldo Pereira sobre as metodologias e tecnologias de estudo no regime não presencial em vigor na escola e em toda a rede estadual mineira. A escola está localizada na comunidade de Milho Verde, distrito do município do Serro, Minas Gerais. Para tanto, realizamos uma pesquisa via Google Forms, da qual relato as respostas dadas por um grupo de 13 estudantes, no período de 01 a 14 de maio de 2021, com autorização de uso dos dados e com nomes omitidos para garantir privacidade.
Todos os entrevistados residem na comunidade de Milho Verde. O resultado nos aponta que a falta de acesso adequado às tecnologias tem influenciado no desenvolvimento das atividades escolares no ensino remoto. A Escola Estadual Professor Leopoldo Pereira é uma escola nucleada rural, ou seja, o seu espaço físico está situado no distrito de Milho Verde, porém a área de abrangência da comunidade escolar é maior que a área onde a escola esta localizada. Atualmente, esta atende estudantes de 14 comunidades da zona rural. Essas comunidades englobam desde a sede dos distritos, com uma pequena infraestrutura urbana, até localidades como a Serra da Bicha, o Amaral e a Jacutinga, lugares onde o acesso, seja às casas, à infraestrutura de comunicação, aos meios de transporte ou à saúde que é bastante precário.
Diante da situação da pandemia do covid19, a escola, como todas as instituições educacionais, adequou-se ao ensino remoto, suspendendo as aulas presenciais, e passou a buscar alternativas de manter o processo de ensino-aprendizagem em consonância com as propostas do governo estadual de Minas Gerais por meio de Regime Especial de Atividades Não Presencial (REANP). Nesse período, utilizou principalmente os recursos tecnológicos como aplicativos e plataformas on-line, que, no entanto, escancaram a desigualdade e as dificuldades enfrentadas por estudantes e professores. Alguns problemas são comuns à maioria dos estudantes e professores como: acesso limitado a internet, falta de computadores e de espaço em casa, problemas sociais, sobrecarga de trabalho docente e baixa escolaridade dos familiares principalmente dos pais.
Na análise das condições socioeconômicas e educacionais das famílias, o resultado nos mostra que 40% dos estudantes entrevistados são do sexo feminino e a faixa etária varia de 15 a 19 anos, sendo um total de 30% cursando o primeiro ano e 30% no terceiro ano do ensino médio. A maioria das famílias dos entrevistados é composta por 5 pessoas na residência e metade dos entrevistados são beneficiários do Bolsa família. A maioria dos pais apresenta escolaridade de nível baixo, 50% têm o ensino fundamental incompleto, 20% ensino médio completo e 30% ensino médio incompleto. Entre as mães, 50% têm o ensino fundamental incompleto, 30% o ensino médio completo e 20% ensino superior completo. Apesar do número de pais e mães com ensino médio completo ser considerável, 20% dos pais e 30% das mães, e 20% das mães com ensino superior completo, ainda predomina um grau de escolaridade baixo visto que 50% dos pais e mães não completaram o ensino fundamental.
Sobre as condições dos educandos no uso de tecnologias, 100% possuem um aparelho celular e somente 30% têm um computador na residência. Das famílias, 80% afirmaram ter acesso a televisão, mas a Rede Minas, responsável por transmitir videoaulas (também disponíveis no Youtube) não pega em 100% dessas casas. Entre essas, 50% fazem uso da internet pré-paga e 50% têm acesso via antena. Sobre qualidade da internet, 80% dos estudantes relataram que é estável e 20% a consideram-na precária. 90% dos entrevistados fazem uso da internet de 21 a 30 dias no mês, pois usam pré-paga que acaba antes do fim do mês. Dentre os alunos, 50% recebem ajuda dos pais na realização das atividades propostas pelos PETs (Plano de Estudos Tutorados). Os outros 50% não recebem esse apoio por eles não saberem os conteúdos, porque trabalham, ou por não terem tempo disponível para contribuir com o processo de ensino aprendizagem em casa. Já em 60% das respostas, irmãos auxiliam na realização das atividades. No acompanhamento das formas de interações e atividades online, e sobre frequência de uso de ferramentas digitais, 80% dos alunos utilizam o WhatsApp e 30% o Youtube com maior frequência, os mais citados. Dentre esses mesmos estudantes, 40% estudam de 1 a 3 horas, 30% de 4 a 6 horas, 20% de 7 a 11 horas, e 10% mais de 11 horas.
Entre os entrevistados, 100% afirmaram que, em decorrência do ensino remoto, a escola está lidando com maior frequência e com maior diversidade de ferramentas digitais do que no ano passado. Os dados nos apontam que o grupo de estudantes não têm grandes dificuldades de acesso, pois 80% consideram o sinal de internet bom. Mas apesar da boa infraestrutura do acesso, 30% declararam que têm dificuldades de acessar o aplicativo Conexão Escola, 35% têm dificuldade de acessar o Google Sala de Aula sendo que 30% nunca conseguiu acessar este último. Na Comunidade de Milho Verde, 100% dos estudantes possuem o celular individual e 30% das famílias possuem um notebook, além de ter uma boa infraestrutura de serviços de internet. Assim, a grande maioria dos estudantes possuem as principais ferramentas de acesso, internet e celular, e conseguem assistir os vídeos com estabilidade.
Quanto à percepção dos entrevistados sobre o REANP, a questão posta, a única aberta ao final de 37 fechadas, foi a seguinte: Comente sobre a principal dificuldade encontrada por você no ensino remoto, se está conseguindo superar ou não e como. As respostas foram diversas, mas seguem alguns trechos mais relevantes:
“Está sendo muito difícil, pois não estávamos conseguindo acessar os aplicativos no começo… algumas matérias são complicadas e não consigo entender, mas com a ajuda dos meus familiares eu estou conseguindo fazer algumas coisas outra eu tenho que pesquisar.”
“Várias: internet, materiais, falta de explicações, falta de mais orientações dos professores, falta de computador.”
“Estou tentando ter mais interesse nos meus estudos, pois sei que com ele eu vou conseguir MTS coisas.”
“É difícil estudar sozinha, não gosto muito de estudar, e pela internet é muito ruim.”
Podemos perceber nas falas como é desafiador o acesso e utilização das tecnologias do ensino remoto. Podemos observar que são realidades bem diferentes das pensadas pelo REANP e suas metodologias, mas o aprendizado deste período está também nas diferenças de contexto entre estudantes, professores e escolas. As desigualdades estão em várias dimensões, o que faz com que sejam mais intensas para alguns estudantes do que para outros.
Nesse cenário, deve-se pensar em ações de inclusão para todos os estudantes, pois quando o ensino remoto acabar, muitas ferramentas devem ficar na escola, pois fazem parte da nossa sociedade e da nossa comunicação. Além disso, os professores devem ter condições de atender às demandas de interação com os estudantes, bem como de dar feedbacks sobre todas as atividades realizadas. Por último, as didáticas devem estar vinculadas às realidades dos estudantes, ligando a prática educativa aos saberes das comunidades. Pois pensar na qualidade do ensino é compreender e respeitar a individualidade dos alunos, na busca de superação dos desafios que podem ser específicos. Entendemos que as reflexões deste estudo permitem compreender a realidade que muitos dos estudantes estão vivenciando nessa pandemia, além de vários outros fatores e questões vivenciados o que nos permite buscar soluções.
[1] Maria Flor é estudante da Licenciatura em Educação do Campo (LEC), da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM). Esta pesquisa foi supervisionada pelo professor Vítor Sousa Dittz, da Escola Estadual Professor Leopoldo Pereira, e orientada pelo professor Carlos Henrique Silva de Castro, da UFVJM, no âmbito do PIBID-UFVJM.
Agradecimentos aos estudantes-sujeitos e suas famílias, bem como ao diretor da E. E. Professor Leopoldo Pereira, o professor Maycon Souza.
Este texto analisa o resultado de uma pesquisa quantitativa, cujo objetivo principal foi levantamento de informações e dados sobre as percepções de 13 estudantes sobre o ensino remoto. Os entrevistados estudam na Escola Estadual Professor Leopoldo Pereira, situada em Milho Verde, distrito de Serro – MG. O método adotado para o levantamento dos dados foi a aplicação de um questionário com 37 perguntas fechadas e um comentário aberto opcional, enviado em um formulário do Google.
Avisados da confidencialidade da pesquisa, participaram, no total, 13 alunos do ensino médio, todos residentes de Milho Verde. Sendo que no primeiro e terceiro ano estudam 30% em cada e no segundo ano, 40%. Dos alunos que responderam, 30% eram do sexo masculino e 70 % do feminino, na faixa etária de 15 a 19 anos, sendo que a maior parte, 60%, possui 17 anos.
Desses alunos, 90 % moram com seus pais. Sobre anos de estudos, 50% dos pais não têm ensino fundamental completo, 30% possuem o ensino médio incompleto e 20% finalizaram o ensino médio. Poucos conseguiram estudar até o ensino superior, 20% das mães. Ainda entre alas, 40% não finalizaram o ensino fundamental e 30% finalizaram o ensino médio. Embora o grau de escolaridade das mães seja maior que dos pais, nota-se pelos dados que ambos possuem baixo grau de escolaridade, com poucas exceções. O número de membros da família que moram numa mesma casa varia entre 4 e 7 pessoas, sendo que entre os alunos que responderam 30% possuem 5 a 6 pessoas em casa. Para o sustento da família, além de algum membro familiar trabalhar, 80 % recebem benefício social, sendo: 50% das famílias recebem Bolsa Família, 10% recebem Bolsa Escola, 20% conseguiram o Auxílio Emergencial do governo federal durante este tempo de pandemia. 20% não recebem nenhum tipo de benefício do governo e a pesquisa não teve alcance para elucidar as razões.
Todos os estudantes possuem em casa acesso a pelo menos 1 celular para os estudos e a interação em tempos de distanciamento social, sendo eu muitas vezes o equipamento é dividido com outro(s) familiar(es). Apenas 30% dos estudantes possuem notebook. Quanto à internet na residência, parte dos entrevistados, 50%, possuem internet via antena, 25% a cabo e 25% apenas no 4G. 50% possuem internet pré-paga nos celulares, que descrevem com qualidade limitada, já que normalmente a velocidade não passa de 3G.
Neste momento de pandemia, com o ensino remoto, todos sabemos que estar conectados à internet é essencial. No entanto, a minoria dos alunos tem acessado às videoaulas produzidas, sendo que 30 % dos estudantes afirmam fazer pesquisas de conteúdos como videoaulas no Youtube. Para a interação, um aplicativo chamado Conexão Escola 2.0, que funciona como um chat, também foi criado; mas apenas 40% dos estudantes declaram utilizá-lo. Já o aplicativo WhatsApp, opção “não” oficial para as interações, é usado por 80% dos estudantes que responderam à pesquisa. Já o Google Sala de Aula, um aplicativo onde é possível disponibilizar materiais diversos, é acessado por apenas 10 % os respondentes.
Quando perguntados sobre a disponibilidade de acesso à internet no celular ao longo do mês, 50% de estudantes utilizam planos pré-pagos, sendo que 90% responderam que a internet tem duração de 21 a 30 dias e os outros 10% de que a internet dura entre 11 e 20 dias. No entanto, 75% do total têm acesso a outro tipo de internet: cabo ou antena. Sobre a qualidade da internet, 80% responderam que é estável. Atualmente 80% dos alunos afirmam que realizam suas recargas de crédito no celular sem ajuda dos pais e 20% dependem dessa ajuda. 50% dos alunos declararam que estudam de 1 a 3 horas por semana, enquanto 30% estudam de 4 a 6 horas e 20%, de 7 a 11 horas. Vemos que o tempo destinado aos estudos é baixo se comparado com o tempo das aulas presenciais.
Em 2021, segundo ano do ensino remoto imposto pela pandemia, 100% dos alunos afirmaram que a escola tem utilizado mais ferramentas de ensino remoto e de comunicação que no ano passado, o que mostra maior emprenho e, provavelmente, maiores conhecimentos sobre as tecnologias e as práticas novas. Os grupos de WhatsApp têm sido um importante meio de comunicação ultrapassando ainda o aplicativo Conexão Escola. Entre os entrevistados 80% utilizam mais o WhatsApp, sendo que a escola instituiu um grupo de WhatsApp para cada turma.
Conclui-se que na maioria das vezes o que implica em um resultado negativo não é somente a falta de acesso a rede de internet de qualidade, mas também o baixo grau de escolaridade dos pais que muito influenciam neste processo, tal como os números mostram. Os alunos ainda declararam que este ano 95% dos professores têm interagido mais e que, apesar das dificuldades, o que se nota é que a escola tem fornecido mais apoio aos estudantes com diversas ferramentas.
[1] Adelaine é estudante da Licenciatura em Educação do Campo (LEC), da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM). Esta pesquisa foi supervisionada pelo professor Vítor Sousa Dittz, da Escola Estadual Professor Leopoldo Pereira, e orientada pelo professor Carlos Henrique Silva de Castro, da UFVJM, no âmbito do PIBID-UFVJM.
Agradecimentos aos estudantes-sujeitos e suas famílias, bem como ao diretor da E. E. Professor Leopoldo Pereira, o professor Maycon Souza.
Este é um relato produzido a partir de um questionário semiestruturado respondido pelo diretor responsável pela Escola Estadual Professor Leopoldo Pereira, situada no município de Milho Verde, o Professor Maycon de Souza Ferreira. O questionário teve como objetivo obter algumas informações sobre o funcionamento da escola na pandemia.
O Professor Maycon atua há 1 ano e 6 meses como diretor da escola e, antes de exercer a função, foi docente. Maycon é licenciado em geografia e mestre em Estudos Rurais pela UFVJM. O quadro de funcionários de sua escola é composto por 25 professores, 1 secretário, 1 supervisor, 7 auxiliares de limpeza, 1 diretor e 1 vice-diretor, com o número total de 345 alunos matriculados.
Milho Verde, distrito pertencente à cidade de Serro-MG, é um vilarejo que conta com uma população com menos de 3.000 mil habitantes. A referida escola funciona no modelo rural/campo nucleada e atende comunidades que chegam a um raio de quase 30 km da sede da escola, onde existe uma grande diversidade cultural, econômica e social. A escola recebe estudantes de aproximadamente 14 comunidades rurais que são: Milho Verde, Barra da Cega, Boqueirão, Macacos, Ausente de Baixo, Ausente de Cima, Três Barras, Lavoura, Chico Prata, Capivari, Amaral, Serra Da Bicha, Jacutinga e Vargem Do Breu.
Segundo o diretor, o Regime Especial de Atividades Não Presenciais (REANP) foi uma estratégia da Secretaria Estadual de Educação (SEE) – MG de mitigar os impactos pedagógicos e sociais provocados pela pandemia da Covid 19. Nesse sentido, o REANP cumpriu em partes sua proposta. Para Maycon, o maior desafio foi se adequar a um novo modelo o qual não estávamos preparados, com problemas como o acesso aos meios virtuais e outros. Contudo a escola se viu na necessidade de criar meios e estratégias para atender as demandas que surgiram. Os professores, então, tomaram como ponto de partida a leitura e estudo das orientações da SEE-MG e da Secretaria Escolar Digital (SED) – Diamantina. Desde então, o trabalho em equipe tem sido feito através de reuniões virtuais, com intuito de alinhar as estratégias semanalmente.
O diretor ainda diz que sua percepção final sobre o REANP-MG teve sim muitas falhas, mas foi a solução para que os estudantes não ficassem ainda mais prejudicados com toda essa situação que estamos vivendo. Sobre a merenda escolar, o diretor informa que, no início, não tinha muita informação de como proceder. No entanto, o governo de Minas Gerais providenciou a distribuição de kits de merenda, quando a escola trabalhou em parceria com a Secretaria Municipal de Educação da cidade de Serro.
O diretor destacou o cuidado das políticas públicas no processo de aquisição de merenda, com produtos alimentícios da agricultura familiar local, de acordo com as estratégias PNAE (Programa Nacional de Alimentação Escolar). Os alimentos que compuseram os kits entregues foram farinha, fubá, rapadura, tempero, colorau, entre outros.
O diretor finaliza dizendo “Agora que a vacina está sendo liberada, temos uma pequena parcela de esperança que um dia as aulas possam voltar para o seu modo presencial, e que as aulas remotas possam ficar em segundo plano, ou até mesmo paralela a realidade rural, pois está sendo um grande desafio. Vamos continuar fazendo o nosso dever como cidadãos, contribuindo para uma educação e uma sociedade melhor no futuro”.
[1] Izabela é estudante da Licenciatura em Educação do Campo (LEC), da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM). Este relato foi produzido a partir de pesquisa supervisionada pelo professor Vítor Sousa Dittz, da Escola Estadual Professor Leopoldo Pereira, e orientada pelo professor Carlos Henrique Silva de Castro, da UFVJM, no âmbito do PIBID-UFVJM.
Agradecimentos aos estudantes-sujeitos e suas famílias, bem como ao diretor da E. E. Professor Leopoldo Pereira, o professor Maycon Souza.
Este é um relato sobre a percepção de duas alunas de uma escola do campo sobre o ensino remoto, em vigor durante a pandemia. As informações foram baseadas em entrevistas realizadas via WhatsApp. As entrevistadas residem na zona rural do município do Serro, no Alto do Jequitinhonha, em Minas Gerais e seus nomes serão preservados.
As entrevistadas estudam na Escola Estadual Professor Leopoldo Pereira, localizada no distrito de Milho Verde, que atende aproximadamente 400 alunos. Essa é uma escola nucleada rural, o que significa que existe uma sede no distrito e outros prédios sob a mesma direção em comunidades rurais. Assim, atende a diversas comunidades vizinhas como Ausente, Barra da Cega, Capivari, Jacutinga, Serra da Bicha, Colônia, Chico Prata, Chacrinha, Três Barras e a própria comunidade de Milho Verde. Cerca de 75 por cento dos alunos utilizam transporte escolar, sendo que alguns residem próximo e outros em localidades mais distantes.
A primeira entrevistada reside na comunidade quilombola do Ausente, juntamente com sua avó e mais dois parentes. Sua mãe é cuidadora de idosos e possui curso superior completo. A estudante trabalha em casa ajudando sua avó nos afazeres domésticos. É uma jovem estudiosa. Para chegar até a escola utilizava, em tempos de ensino presencial, o transporte escolar, que levava em média uns 45 minutos na estrada. Seu maior sonho é ter um trabalho digno e entrar em uma universidade de fisioterapeuta. Esse desejo, de certa forma, vem da vontade de seguir os passos da mãe.
A segunda entrevistada reside na comunidade de Milho Verde com seus pais e dois irmãos. Ela caminha vinte minutos para chegar à escola. Sua mãe é agricultura e o pai é pedreiro. Ambos fizeram o ensino fundamental.
Durante este período de pandemia e isolamento, as famílias das entrevistadas estiveram ocupadas no plantio de lavoura em suas terras. Na primeira família, ninguém recebeu nenhum tipo de ajuda financeira do governo, já na segunda família duas pessoas receberam o benefício Auxílio Emergencial.
As entrevistadas afirmaram que antes da pandemia, além dos estudos em casa, ainda tinham os deveres e os trabalhos que faziam com que estudassem por mais tempo. Ambas também relataram que no ano letivo de 2020 elas não fizeram a prova do Enem, mas se dedicaram aos estudos de uma a duas horas por dia, para dar conta de fazer todas as atividades.
As estudantes utilizam a internet no próprio celular para estudar, sendo que a primeira entrevistada usa dados móveis, já que não possui internet em casa. Estuda aproximadamente uma hora por dia. A segunda entrevistada utiliza o celular para acessar a internet e redes sociais também, mas tem wi-fi em casa, o que lhe garante melhor qualidade de internet. Atualmente ela trabalha como babá de segunda à sábado, das 7 às 18 horas. Estuda em média 2 horas por dia fazendo as questões das apostilas enviadas pela escola. Sua matéria preferida é língua portuguesa e seu maior sonho é fazer faculdade de enfermagem ou psicologia.
É importante destacar que neste momento em que a comunidade escolar passa por novos processos educativos, em decorrência da pandemia do covid-9, a Secretaria de Educação de Minas criou uma metodologia de ensino e o material denominados REANP (Regime Especial de Atividades Não Presenciais). Essa metodologia possui seus pontos positivos e negativos. Com ela, os estudantes passaram a estudar em casa, através do Plano de Estudo Tutorado-PET, que consiste em atividades impressas em apostilas que são entregues pela escola. Trata-se de apostilas que são entregues mensalmente nas próprias comunidades, para que os estudantes não tenham que se deslocar até a escola. As entrevistadas afirmaram que as questões das apostilas são complexas e alguns conteúdos de difícil entendimento. Criou-se também o programa de TV “Se Liga na Educação”, exibido na TV e no Youtube além do aplicativo Conexão Escola. No entanto esses são meios tecnológicos que a maioria dos estudantes não conseguem ter acesso, ora por falta de créditos no celular pré-pago, ora pela qualidade ruim da internet, segundo o relato das entrevistadas e minhas vivências no município.
Em relação à percepção sobre o REANP, a primeira aluna afirma que alguns conteúdos são fora do contexto e que as atividades são muito complexas. Além do difícil acesso à internet, que dificulta o acesso aos programas do Youtube e às pesquisas de forma geral, ela acha que os conteúdos dos PETs são em grandes quantidades e que há pouco tempo para se aprofundar. Com o que concorda a segunda entrevistada que diz que sua dificuldade foi conseguir aprender e finalizar as apostilas com os prazos dados. Reclamou também da falta de acompanhamento dos professores.
Para ambas, o novo método foi uma grande mudança. A primeira entrevistada opina que o REANP é um método razoável para dar continuidade ao ensino durante este tempo de pandemia e isolamento social. A segunda entrevistada, que estava no terceiro ano no momento da entrevista, pontua que mesmo se formando através das apostilas, acredita não ter bagagem em termos de conteúdo e afirma ter aprendido pouco com os PETs. Perguntadas sobre o maior problema do REANP, afirmaram que foi a falta de acompanhamento dos professores e a adaptação aos meios tecnológicos.
Sabemos que o ensino remoto foi um projeto de emergência para suprir a demanda do processo de ensino aprendizagem em casa. No entanto, a partir das entrevistadas e de observações pessoais de todo o cenário educacional na pandemia, notamos que os professores, alunos e pais não receberam muito bem as novas metodologias e ainda estão se adaptando. É um processo novo que leva tempo. Através desta pesquisa, mesmo sendo com duas estudantes apenas, ficou claro que os alunos do campo receberam o REANP sem uma estrutura adequada de acesso à rede de internet com qualidade, como também houve dificuldades em relação aos conteúdos e metodologias.
[1] Adelaine é estudante da Licenciatura em Educação do Campo (LEC), da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM). Este relato foi produzido a partir de pesquisa supervisionada pelo professor Vítor Sousa Dittz, da Escola Estadual Professor Leopoldo Pereira, e orientada pelo professor Carlos Henrique Silva de Castro, da UFVJM, no âmbito do PIBID-UFVJM.
Agradecimentos aos estudantes-sujeitos e suas famílias, bem como ao diretor da E. E. Professor Leopoldo Pereira, o professor Maycon Souza.
Este texto resulta de uma pesquisa realizada com alunos da Escola Estadual Leopoldo Pereira, localizada na comunidade de Milho Verde, e com alunos da Escola Estadual Mestra Virginia Reis, localizada na comunidade de São Gonçalo do Rio das Pedras, ambas no município de Serro/MG. A metodologia utilizada foi a aplicação de uma entrevista semiestruturada a partir de temas como: perfil socioeconômico, perfil dos estudantes, perspectivas para o futuro e a percepção sobre o REANP. O propósito das entrevistas foi compreender a forma como os alunos do ensino médio dessas escolas do campo percebem essa nova modalidade de ensino não presencial, suas consequências e impactos em suas aprendizagens.
O material coletado para o estudo, por meio de entrevistas com três estudantes, permitiu analisar as informações que o questionário propunha obter. Nas entrevistas, o WhatsApp foi o principal meio de comunicação. Dois alunos, um menino e uma menina, moram na comunidade de Capivari e relataram que, no período pré-pandemia, no ensino presencial, uma das suas dificuldades para estudar era ter que acordar cedo e pegar o ônibus escolar, sendo que grande parte do percurso não é pavimentado e o percurso leva em torno de 30 minutos mais ou menos, já que a escola fica em Milho Verde. Já o terceiro estudante entrevistado mora na comunidade de São Gonçalo do Rio das Pedras e leva de 10 a 15 minutos para chegar até sua escola, a Escola Estadual Mestra Virginia Reis.
Os alunos de Capivari acessam a internet pelo celular, pois a comunidade não possui antena de internet; já o aluno de São Gonçalo acessa internet na rede wi-fi. Os pais dos três alunos entrevistados receberam o auxílio emergencial e recebem Bolsa Família. Os pais de Capivari estudaram até o 5º ano no ensino fundamental, já suas mães chegaram a estudar até o ensino médio. Quanto aos pais de São Gonçalo do Rio das Pedras, ele tem ensino médio completo e ela tem ensino superior.
Os três entrevistados gostam de estudar e afirmaram que mesmo no período de pandemia, além de frequentarem às aulas, estudavam em média três vezes na semana, cerca de uma hora por dia. Em época de prova estudavam mais tempo. As matérias favoritas variam entre português, biologia e geografia. Os alunos possuem o hábito de utilizar a internet como ferramenta para estudar para as provas, fazer as atividades de pesquisas e atividades de casa. Relataram que depois que se formarem no ensino médio pretendem fazer faculdade. A aluna de Capivari relatou que seu sonho é fazer Veterinária, pois gosta dos animais. O aluno de Capivari pretende fazer faculdade de psicologia para ajudar as pessoas que têm doenças mentais e o aluno de São Gonçalo pretende fazer medicina.
A opinião dos três entrevistados sobre o Plano de Estudos Tutorados (PET) não foi tão positiva, pois relataram que estudar em casa sem a ajuda dos professores não foi uma boa ideia e o processo foi muito difícil. Segundo a aluna, “…na escola, com os professores, já era difícil. Imagina sem as explicações! Assim o aprendizado acaba ficando a desejar”. Assim, a maior dificuldade encontrada pela estudante foi fazer as atividades sem ter a presença de um professor por perto para estar explicando passo a passo de como são feitas as atividades, como ocorre dentro da sala de aula.
De acordo com os entrevistados de Capivari, o que poderia ter mudado nos PETs são os exemplos e as explicações de como fazer as atividades, que deveriam ser mais bem contextualizadas. Também afirmaram que a comunicação entre eles e os demais alunos fluiu bem através do grupo da sala pelo WhatsApp, ambiente onde muitas atividades foram feitas com ajuda dos colegas.
Os três estudantes consideraram o ano escolar letivo muito difícil, por não irem para as escolas e por não compartilharem dos conhecimentos dos professores. Para o ano que se inicia, esperam que tudo possa voltar ao normal, com o fim da pandemia e com a volta das aulas presenciais.
Através deste relato, concluímos que problemas como o acesso precário à internet e o grau de escolaridade dos pais influenciaram na aprendizagem dos alunos entrevistados nesse período. Contudo, a maior dificuldade encontrada foi a ausência do ensino presencial juntamente com o acompanhamento dos professores, assim como a metodologia utilizada na apresentação dos conteúdos.
[1] Taliele é estudante da Licenciatura em Educação do Campo (LEC), da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM). Este relato foi produzido a partir de pesquisa supervisionada pelo professor Vítor Sousa Dittz, da Escola Estadual Professor Leopoldo Pereira, e orientada pelo professor Carlos Henrique Silva de Castro, da UFVJM, no âmbito do PIBID-UFVJM.
Agradecimentos aos estudantes-sujeitos e suas famílias, bem como ao diretor da E. E. Professor Leopoldo Pereira, o professor Maycon Souza.
Este é um relato de um trabalho desenvolvido no Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID) do Curso de Licenciatura em Educação do Campo (LEC) da UFVJM. O trabalho reuniu um conjunto de entrevistas, sendo que este relato em específico relata a percepção de dois alunos de escola do campo sobre o Regime Especial Não Presencial (REANP-MG). A pesquisa desenvolvida com esses dois estudantes nos possibilita ver o cenário de ensino remoto vivenciado no período da pandemia de uma forma mais crítica e reflexiva, como busco mostrar aqui.
As entrevistas foram semiestruturadas, realizadas de forma virtual, com o foco em apresentar a problemática vivenciada pela comunidade da Escola Estadual Mestra Virginia Reis (EEMV) a partir, sobretudo, do contexto da pandemia. Assim, apresentarei aqui os resultados das entrevistas realizadas com dois estudantes da referida escola, sendo um aluno e uma aluna. O perfil socioeconômico dos entrevistados se assemelha muito, pois são moradores do próprio distrito, com facilidades e dificuldades de acesso semelhantes.
A influência materna teve um papel crucial no que diz respeito às perspectivas que os estudantes têm para o futuro, pois relatam que as mães os conscientizam permanentemente sobre a importância de se dedicarem aos estudos. Em suas opiniões, o REANP mostrou-se ineficaz em muitos aspectos, pois não ofertou as mesmas condições a todos os estudantes, como por exemplo, o acesso amplo a internet, sobretudo para assistir as videoaulas indicadas. O novo sistema de ensino, embora tenha proposto uma modalidade para dar sequência ao processo de ensino aprendizagem, não considerou a diversidade existente, ficando mais evidente a desigualdade social e econômica no âmbito educacional. Nesse sentido, os entrevistados relataram que tiveram grandes dificuldades.
Se ampliarmos o campo de visão, acabamos observando que não há igualdade de direitos no país, pois nem todos os estudantes têm em casa as mesmas condições de aprendizado. Afirmo isso porque tenho condições de auxiliar nas atividades dos meus próprios filhos, mas há famílias vizinhas em que os pais não são alfabetizados, que os alunos não têm acesso às fontes de pesquisa, e que os professores não conseguem ajudar adequadamente à distância. Assim, além do problema de acessos às tecnologias, outro desafio para os estudantes foi aprender por conta própria ou através do copia e cola.
Por outro lado, um dos benefícios deste sistema foi o fato de conscientizar o corpo escolar de que há diversas ferramentas que podem ser usadas a serviço da educação, ou seja, grande parte dos professores que conduziam suas disciplinas de forma bastante tradicional, precisaram se atualizar, adequando-se às novas tecnologias. Nesse sentido, o celular, que antes não podia ser usado de forma alguma pelos estudantes durante as aulas, foi a ferramenta mais utilizada para comunicação entre escola, estudantes e famílias.
[1] Maria Madalena é estudante da Licenciatura em Educação do Campo (LEC), da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM). Este relato foi produzido a partir de pesquisa supervisionada pelo professor Vítor Sousa Dittz, da Escola Estadual Professor Leopoldo Pereira, e orientada pelo professor Carlos Henrique Silva de Castro, da UFVJM, no âmbito do PIBID-UFVJM.
Agradecimentos aos estudantes-sujeitos e suas famílias, bem como ao diretor da E. E. Professor Leopoldo Pereira, o professor Maycon Souza.
Trago aqui um relato de entrevistas realizadas com alunos que frequentam o ensino médio da Escola Estadual Professor Leopoldo Pereira, localizada na comunidade de Milho Verde, distrito do município do Serro, Minas Gerais. A instituição é considerada escola do campo pelo perfil dos estudantes que atende. Trata-se de uma escola nucleada rural, ou seja, o seu espaço físico está situado na comunidade de Milho Verde, mas a área de abrangência da comunidade escolar é maior que a área onde a escola está localizada.
Atualmente, a escola atende a 14 comunidades da zona rural que englobam desde a sede do distrito de Milho Verde, que tem uma pequena infraestrutura urbana, até localidades como a Serra da Bicha, o Amaral e a Jacutinga, lugares onde o acesso, seja às casas, à infraestrutura de comunicação, aos meios de transporte ou à saúde, é muito precário.
Diante da pandemia da Covid19, a Escola Estadual Professor Leopoldo Pereira, como as escolas de o estado, suspendeu as aulas presenciais e passou a buscar formas alternativas de manter o processo de ensino-aprendizagem de forma remota. Nesse período, em consonância com as propostas do governo estadual de Minas Gerais, utilizou principalmente os recursos tecnológicos como aplicativos e plataformas on-line. A estratégia adotada escancara a desigualdade e as dificuldades enfrentadas pelos estudantes e professores, pois alguns problemas comuns à maioria dos alunos têm origens econômicas como: acesso limitado a internet, falta de computadores e de espaço em casa, problemas sociais, sobrecarga de trabalho docente e baixa escolaridade dos familiares.
Foram entrevistados três alunos do ensino médio com o objetivo de obter subsídio para essa análise. Em relação ao contexto socioeconômico dos estudantes, podemos perceber que os estudantes A e B residem na zona rural, onde fazem o uso do transporte escolar para acesso à escola presencial. Já o estudante C mora próximo à escola, ou seja, na sede do distrito. Os estudantes A e B não possuem internet na comunidade e, assim, fazem o uso de dados móveis para estudar quando fazem recarga no telefone pré-pago, quando podem, pois acham caro. O estudante C tem internet em casa e em sua comunidade há duas prestadoras desse serviço.
As famílias dos estudantes A e B recebem auxílio do governo como o Auxílio Emergencial e o Bolsa Família, os pais são trabalhadores rurais e possuem o ensino fundamental. Os pais de C concluíram o ensino médio, seu pai, trabalha numa empresa de abastecimento de água. Sua mãe é dona de casa e recebe Bolsa Família. A qualidade de internet na zona rural é péssima, pois quase não há lugar com sinal de operadoras de celular e, quando há sinal, a transmissão dos dados funciona lentamente. Todos os três estudantes, no momento, não trabalham, ajudam nos afazeres domésticos e estudam.
No que se refere ao perfil dos entrevistados enquanto estudantes e dedicação à escola, o entrevistado A disse que não gosta muito de estudar e que só faz os deveres de casa quando solicitado. O conteúdo com o qual mais se identifica é história. Já o estudante B se dedica todos os dias aos estudos, independentemente de ser época de prova ou não. Ele afirma que sempre foi participativo nas atividades e com o ensino remoto dedicou-se ainda mais aos estudos. Disse também que gosta de “enturmar” com os colegas de sala. A disciplina que mais se identifica é biologia. O estudante C é um estudante muito esforçado, pois declarou que gosta muito de estudar e sempre dedicou aos estudos diariamente.
Em relação às percepções e preferências para seus futuros, todos os três entrevistados não pretendem ficar no campo, afirmam que querem cursar o ensino superior e ter uma profissão na cidade. Já sobre as percepções desses estudantes sobre o Plano de Estudos Tutorados (PET), foram distintas. Afirmaram que no início acreditavam que aprender não seria possível, mas perceberam também que as atividades seriam também uma forma de manter uma conexão com a escola. Com o passar do tempo, a didática dos PETS foi evoluindo, porém afirmaram que não conseguiram aprender todos os conteúdos e que as atividades eram de difícil entendimento, sobretudo por não terem internet de qualidade para assistirem às videoaulas. Os entrevistados disseram que assimilam melhor o conteúdo no ensino presencial do que a distância. Também perceberam que as formas de interações sociais foram prejudicadas com o distanciamento social. Todos possuem esperança de que a pandemia acabe logo.
Podemos observar que são realidades bem diferentes, mas o grande aprendizado deste período está realmente nas diferenças de contexto entre estudantes, professores e escolas. As desigualdades são multidimensionais, o que faz com que sejam mais intensas para alguns estudantes do que para outros, mesmo entre estudantes que frequentam a mesma escola, como mostra o resultado da análise das entrevistas que aqui finalizo, uma vez que são determinadas por suas condições sociais.
[1] Maria Flor de Maio é estudante da Licenciatura em Educação do Campo (LEC), da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM). Este relato foi produzido a partir de pesquisa supervisionada pelo professor Vítor Sousa Dittz, da Escola Estadual Professor Leopoldo Pereira, e orientada pelo professor Carlos Henrique Silva de Castro, da UFVJM, no âmbito do PIBID-UFVJM.
Agradecimentos aos estudantes-sujeitos e suas famílias, bem como ao diretor da E. E. Professor Leopoldo Pereira, o professor Maycon Souza.
Este breve relato é resultado de uma pesquisa realizada com três alunos da Escola Estadual Leopoldo Pereira, situada em Milho Verde, distrito de Serro/MG. A instituição é uma escola nucleada rural, que atualmente atende cerca de quatorze comunidades: Amaral, Ausente de Cima, Ausente de Baixo, Barra da Cega, Baú, Boqueirão, Cabeça de Bernardo, Capivari, Chacrinha, Colônia, Córrego da Areia, Jacutinga, Serra da Bicha e Três Barras. O relato aborda, sobretudo, o Regime Especial de Atividades Não Presenciais (REANP) implementado em todo o estado na pandemia e, ainda, a percepção e as expectativas dos alunos entrevistados moradores das comunidades de Serra da Bicha, Amaral e Capivari.
Uma vez aplicados os questionários aos três estudantes da Escola Estadual Leopoldo Pereira, notei que em relação ao núcleo familiar, dois deles disseram que seus pais são analfabetos e possuem renda muito baixa e que sobrevivem apenas da agricultura familiar e do programa Bolsa Família. Parece que o fato tem um impacto direto no aprendizado, pois nenhum deles tem ferramentas como um computador ou uma internet com boa qualidade para os estudos.
Os alunos moram muito longe da escola e um deles precisa de tomar dois ônibus para chegar até ela, outro fator que dificulta o aprendizado. Os relatos são de que acordam muito cedo e o cansaço da viagem é grande. Além disso, um aluno trabalha meio período para ajudar os pais no sustento de casa. Diante de tantos esforços, podemos notar que são muito dedicados e não medem esforços para superar suas dificuldades.
Para os estudos, na falta do computador e da internet a cabo, utilizam a internet com dados móveis no celular, que não possui boa qualidade, além de livros didáticos para auxiliá-los nas atividades impressas do Plano de Ensino Tutorado (PET) disponibilizadas pelos professores. Essa foi a principal dificuldade relatada pelos três, pois é o principal fator contra suas aprendizagens.
Com relação ao REANP, consideram como única opção, pois perder um ano letivo inteiro seria um prejuízo muito grande no final da formação. Relataram ainda que muitos obstáculos surgiram para o entendimento de conteúdos e resolução de exercícios, mas o corpo docente utilizou metodologias interativas como, por exemplo, grupos de apoio através do aplicativo do WhatsApp e indicação de videoaulas. Apesar das dificuldades, relatam que os professores estavam sempre disponíveis para tirar quaisquer dúvidas que surgissem.
Mesmo com os esforços relatados, os estudantes mostraram-se céticos sobre o aprendizado à distância, pois perceberam que estudar em casa, sem o auxílio presencial do professor e com tanta coisa que tira a atenção, é muito difícil. Concluíram que nas aulas presenciais, sem dúvida, o aprendizado é bem maior.
Neste ano que finalizou, os três alunos entrevistados optaram por não fazer o Enem. Todos sonham em dar continuidade aos estudos e se qualificarem, mas acham que o ensino remoto pode prejudicar muito os alunos do campo no exame do Enem.
Um deles sugeriu que algo que ajudaria bastante seria que os próprios professores gravassem videoaulas com a explicação das disciplinas e ao invés de indicarem videoaulas de professores desconhecidos, como acontece no REANP. O mesmo estudante acredita ainda que ajudaria muito se os PETs também fossem elaborados pelos próprios professores da escola com conteúdos que retratassem suas realidades. Ele relata ainda que os PETs possuem atividades muito resumidas, o que acredita dificultar o aprendizado.
A partir desse relato e das posições dos estudantes, é importante refletir sobre a eficácia das metodologias, bem como os pontos positivos e negativos do REANP; não apenas nas comunidades rurais, mas nas periferias de forma geral, uma vez que o Brasil é um país de grandes diferenças.
[1] Juliana é estudante da Licenciatura em Educação do Campo (LEC), da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM). Este relato foi produzido a partir de pesquisa supervisionada pelo professor Vítor Sousa Dittz, da Escola Estadual Professor Leopoldo Pereira, e orientada pelo professor Carlos Henrique Silva de Castro, da UFVJM, no âmbito do PIBID-UFVJM.
Agradecimentos aos estudantes-sujeitos e suas famílias, bem como ao diretor da E. E. Professor Leopoldo Pereira, o professor Maycon Souza.
Hoje, 12/07/2021, a partir das 18hs, no programa de Apoio Pedagógico da FALE/UFMG, a conversa é sobre “Universidade, letramentos e novas tecnologias no contexto da Educação do Campo”
Carlos Henrique Silva de Castro (UFVJM) é o convidado que trará resultados do seu estágio pós-doutoral na FALE/UFMG.
Certificados: fique de olho na lista/formulário no chat ao vivo, ao final da live. A carga horária total das participações serão somadas em um único certificado a ser entregue ao final da temporada.
Carlos Castro é doutor em Estudos Linguísticos pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG / 2011-2015) com período sanduíche na University of California, Santa Barbara (UCSB / 2013-2014). Fez estágio pós-doutoral também na UFMG (2018-2019) com pesquisa acerca de letramentos digitais e educação do campo. Atua no Ensino Superior pela Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM) no curso Licenciatura em Educação no Campo, habilitação em Linguagens e Códigos. Na mesma instituição, é professor permanente do Programa de Pós-Graduação em Ciências Humanas (PPG-CH), Linha de Pesquisa Estudos da Linguagem e Cultura.
A mediação será da Professora Andreza Carvalho (FALE-UFMG) e a coordenação fica por conta da Professora Heloísa Penna (FALE-UFMG).
Este é um relato que traz a percepção de dois alunos do ensino médio de uma escola nucleada rural sobre a proposta do Regime Especial de Atividades Não Presenciais (REANP). Refiro-me à Escola Estadual Professor Leopoldo Pereira que está localizada no distrito de Milho Verde, município do Serro/MG, que atualmente atende a alunos de quatorze comunidades rurais diferentes.
Este relato é feito a partir de entrevistas semiestruturas que abordaram temas sobre contexto social-econômico dos alunos entrevistados, seus perfis enquanto estudante antes e durante a pandemia, as perspectivas para futuro e como vivenciaram o REANP. Para isso, realizei entrevistas com dois alunos do ensino médio, com os quais decidimos que suas identidades não seriam divulgadas. O primeiro aluno entrevistado irei identificá-lo como Bob, e o segundo aluno como Téo.
Bob reside no distrito de Milho Verde e, segundo relatou, para chegar até a escola, antes da pandemia, gastava de 10 a 15 minutos a pé. Possui internet móvel em seu celular, que classifica como relativamente boa, e não tem internet em casa. Na sua casa moram seis pessoas, seu pai é agricultor familiar e sua mãe é do lar. Sua família recebeu o Auxílio Emergencial do governo. O seu pai não teve condições de estudar e sua mãe estudou até a quarta série. Bob só trabalha quando acha bicos.
Téo reside na comunidade do Ausente, comunidade próxima ao distrito de Milho Verde, e o percurso de sua casa até a escola, utilizando o transporte escolar ofertado pela prefeitura, é de quarenta e cinco minutos. Ele usa internet móvel de seu celular, já que não possui internet em casa. Na sua comunidade, de maneira geral, a qualidade de internet não é muito boa. Em sua casa, igualmente na de Bob, residem seis pessoas. Sua mãe é trabalhadora do lar e estudou até a oitava série, já o seu pai é pedreiro e estudou até a quarta série. Téo costuma trabalhar apenas nos finais de semana de servente de pedreiro.
Bob não gosta muito de estudar e depois da aula, antes da pandemia, estudava quando tinha disponibilidade de tempo e disposição, isso para as tarefas diárias, mas não tirava nenhum tempinho para estudar algo mais. Atualmente, no ensino remoto, estuda duas horas e meia por dia para resolver as tarefas do REANP. Quando estavam acontecendo as aulas presenciais, afirma que era participativo, mas não gostava de apresentar trabalhos. Também gostava de estudar em grupo, pois conseguia assimilar melhor os conteúdos estabelecendo uma interação para além do professor-aluno, mas também aluno-aluno.
Téo diz que gosta de estudar, mas antes da pandemia, além de frequentar as aulas, estudava somente para fazer as provas. Com o ensino remoto ele tira duas horas e meia todos os dias para estudar. Téo diz que, no ensino presencial, era um aluno participativo e interagia com os alunos e professores e não tinha medo de tirar suas dúvidas na sala. Afirmou que sempre gostava de apresentar trabalhos, porém gostava de fazer suas atividades de forma individual.
Bob diz que os professores são bons e, antes da pandemia, alguns utilizavam métodos de ensinos que não ajudavam na compreensão dos alunos, já outros utilizavam recursos tecnológicos para facilitar o aprendizado dos alunos. De toda forma, preferia utilizar mais os livros e o caderno do que as novas tecnologias.
Téo relata que seus professores são bons e, no ensino presencial, eram dinâmicos, sempre utilizavam a internet para fazer pesquisa e que indicavam videoaulas para maior compreensão dos conteúdos. Afirma também que usava as redes sociais no auxílio das atividades.
Bob tem vontade de cursar uma faculdade, mas não decidiu em que área. Esse ano fez o Enem e diz que deve ter tirado uma nota razoável. Ele afirma que não pretende permanecer na sua comunidade, pois quer trabalhar naquilo que gosta para realizar seu sonho.
O maior sonho de Téo, depois de se formar no ensino médio, é conseguir um emprego e fazer uma faculdade. Ele ainda não decidiu que carreira irá seguir. Esse ano ele fez o Enem e acha que se saiu bem. Téo também não tem vontade de permanecer na comunidade, diz que tem vontade de conhecer novos lugares e horizontes com finalidade de conseguir um bom trabalho.
Bob relata que os PETs (Planos de Estudos Tutorados) foram muito difíceis, sendo que sua principal dificuldade foi fazer as atividades e compreender conteúdos que não tinha visto antes da pandemia. Segundo Bob, ele não compreendia muito as explicações das videoaulas.
Sobre os PETs e esse novo método de ensino, Téo percebeu que foi um grande desafio para todos, principalmente para os alunos do campo que tiveram algumas dificuldades em relação ao acesso à rede de internet. Ele avalia os PETs como bons, porém teve muita dificuldade para compreender os conteúdos, pois as explicações não eram de fácil entendimento. O entrevistado afirmou que fez as atividades sozinho sem a ajuda dos professores.
As dificuldades que Bob encontrou foram superadas com a leitura de livros pedagógicos enviados pela escola. Mesmo assim, afirma que com o ensino remoto não conseguiu aprender quase nada e que nas aulas presenciais conseguia aprender muito mais. O que ele mais deseja nesse momento é que, neste ano, todas as pessoas possam ser imunizadas contra o coronavírus.
Mediante os relatos que trago dessas duas entrevistas, percebe-se que o ensino remoto foi e está sendo um momento de grande dificuldade para todos, pois os alunos, famílias e comunidade escolar estavam despreparados e desprevenidos. O que desmotivou alunos e professores. Percebe-se ainda que o perfil socioeconômico dos entrevistados é de baixa renda, o que influencia o aprendizado na medida que faltam alguns recursos de infraestrutura, como o acesso à rede de internet, e que as metodologias não ajudam nas dificuldades e na compreensão dos conteúdos.
[1] Claudemar é estudante da Licenciatura em Educação do Campo (LEC), da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM). Este relato foi produzido a partir de pesquisa supervisionada pelo professor Vítor Sousa Dittz, da Escola Estadual Professor Leopoldo Pereira, e orientada pelo professor Carlos Henrique Silva de Castro, da UFVJM, no âmbito do PIBID-UFVJM.
Agradecimentos aos estudantes-sujeitos e suas famílias, bem como ao diretor da E. E. Professor Leopoldo Pereira, o professor Maycon Souza.
Trago aqui um relato sobre a percepção de duas alunas de uma escola nucleada rural sobre o Regime Especial de Atividades Não Presenciais (REANP) em Minas Gerais. Refiro-me à Escola Estadual Professor Leopoldo Pereira, localizada no distrito de Milho Verde, município do Serro/MG. A instituição atende alunos de quatorze comunidades rurais, mas este relato é sobre o contexto social-econômico de duas estudantes apenas, seus perfis enquanto estudantes, perspectivas para futuro e, o mais importante, como vivenciaram o REANP. Para conseguir essas informações, realizei entrevistas através do WhatsApp com as alunas, cujos nomes não serão revelados.
A primeira estudante reside no distrito de Milho Verde e para chegar à escola no regime presencial se deslocava a pé por cerca de 15 minutos. Não tem irmãos. Sua mãe trabalha na área da limpeza em um posto de saúde e seu pai é trabalhador rural. Não se formaram no ensino médio. A aluna tem o seu próprio empreendimento de venda de eletrônicos e nos feriados trabalha no caixa de um mercadinho.
A segunda estudante mora na comunidade de Capivari e, para chegar à escola, levava 40 minutos através de um ônibus escolar. No momento, seu pai se encontra desempregado e sua mãe é servente escolar. Sua família é composta por 5 pessoas, sendo que uma irmã e seu pai receberam o Auxílio Emergencial. Sua mãe formou-se em história e o seu pai estudou até o primeiro ano do ensino médio. A estudante não está empregada no momento.
Nas localidades onde residem, a internet é de fácil acesso e somente em tempos de chuva não funciona com boa qualidade. Assim, usam a internet para estudar e o WhatsApp com o mesmo objetivo. A primeira aluna relata que gosta muito de estudar, que é uma aluna dedicada aos estudos mesmo quando as aulas eram presenciais. Afirma que gostava de interagir com os colegas em sala, perguntava e participava de todas as discussões. A disciplina que mais gosta é Biologia.
Já a segunda aluna confessou que não tinha muito hábito de estudar e que tinha um pouco de dificuldade em matemática. Ela relatou que sua prima, da mesma sala, era mais esperta para compreender as matérias; com isso, estudavam juntas. Diferente da primeira entrevistada, que diz que sempre preferiu estudar sozinha, a segunda sempre gostou de estudar com os colegas.
Ambas afirmaram que alguns professores já utilizavam as ferramentas da internet como recurso didático, sobretudo para realizarem pesquisas no Google e assistirem a vídeos no Youtube, que eram alguns de seus deveres de casa. Para elas, a internet sempre auxiliou nos estudos.
A primeira estudante pretende fazer faculdade de medicina veterinária. Disse que desde criança é apaixonada por animais. Esse ano ela fez o ENEM e, em suas palavras, no primeiro dia se saiu bem, mas no segundo teve maior dificuldade. Já a outra aluna pretende fazer um curso profissionalizante que lhe possa ser útil profissionalmente e, posteriormente, deseja fazer curso superior em enfermagem, mesma profissão de sua irmã.
Ambas têm vontade de permanecer na comunidade onde residem, mas devido aos estudos acham que terão que sair para cursar a faculdade. O maior sonho da primeira é se formar e trabalhar na profissão que gosta. E a segunda deseja ter sua casa própria.
Perguntadas sobre o ensino remoto, o ponto positivo que observaram foi a capacidade de desenvolverem estratégias de pesquisa para resolverem as atividades. Afirmaram que o apoio dos professores pelo chat do WhatsApp foi de suma importância. Apontaram como ponto negativo o fato dos próprios professores das vídeo aulas dos PETs (Plano de Estudo Tutorados), muitas vezes, não explicarem os conteúdos com clareza, sendo que não condiziam, muitas vezes, com as atividades que estavam nos próprios PETs.
A primeira aluna afirma que, a partir do quinto PET, percebeu que não estava progredindo muito somente assistindo as videoaulas e, então, decidiu assistir a outros vídeos no Youtube, onde os professores explicam com mais clareza. Ambas concordam que o ano letivo foi muito difícil, tanto para os estudos, quanto para o psicológico. Concordam ainda que aprendiam mais nas aulas presenciais do que no ensino remoto. Com o novo método, elas sentiram uma grande dificuldade na realização do ENEM.
Ao fim, percebi que o maior problema dessas alunas não foi o acesso à internet, pois classificaram esse serviço na comunidade como bom. Pelos relatos, o que mais impactou de maneira negativa foi a questão de as aulas serem a distância com professores estranhos, sem as explicações dos conteúdos do PETs pelos professores no dia a dia, apesar do WhatsApp ter funcionado bem para algumas dúvidas. Com isso, muitos se sentiram despreparados e desmotivados.
[1] Ana Roberta é estudante da Licenciatura em Educação do Campo (LEC), da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM). Este relato foi produzido a partir de pesquisa supervisionada pelo professor Vítor Sousa Dittz, da Escola Estadual Professor Leopoldo Pereira, e orientada pelo professor Carlos Henrique Silva de Castro, da UFVJM, no âmbito do PIBID-UFVJM.
Agradecimentos aos estudantes-sujeitos e suas famílias, bem como ao diretor da E. E. Professor Leopoldo Pereira, o professor Maycon Souza.
Ao voltar no tempo e relembrar minhas memórias vividas na escola, vejo como uma escada, onde cada conquista era um passo fundamental na trajetória de minha vida, e como cada degrau foi essencial para ser e fazer o que escolhi hoje. Meu primeiro contato com a leitura foi com livros didáticos, pois tenho quatro irmãs mais velhas que já estavam ingressadas na escola e sempre que as via fazendo suas tarefas eu as atormentava para me dar um papel e uma caneta e ali começava minhas “escritas”, também em casa possuía jornaizinhos da igreja onde minha mãe era presidente da reunião de todos os domingos, ela levava alguns já vencidos para nossa casa e com eles acendia o fogo no fogão a lenha e sempre deixava um ou mais para minhas brincadeiras de leitura, canto e escrita.
Comecei minha trajetória na escola já bem cedo, aos quatro anos de idade fui direto para primeira série. Minha primeira professora foi Edna que até hoje atua na área da educação, sempre que ela me vê relembra e me elogia pelo esforço, esperteza e força de vontade e ainda diz que espera que todas essas qualidades estejam me acompanhando. Meus colegas de sala também me ajudaram muito, era a única da sala que estava naquela serie, lembro-me com carinho de cada um de meus companheiros que mesmo estando em series mais avançadas que eu sempre me ajudaram, eram primos, amigos que até hoje me acompanham e me dão incentivo. Essa fase da minha vida foi marcada pelo deslumbre de frequentar pela primeira vez uma sala de aula, pelo anseio de aprender a escrever meu nome e o nome de minha mãe.
Com muita paciência e persistência fui aprender os primeiros traços, enchíamos uma folha inteira com traços e círculos que nos auxiliaram na coordenação motora. Aos poucos e ao passar de séries, comecei a desenvolver então a escrita conhecendo as letras, os números, as figuras, cores, e mais todos os tipos de leitura que nos rodeiam, mas que naquela época era sempre uma novidade diferente. Ao passar dos anos as coisas foram tomando sentido, formas, nomes, valores, cores, me ensinando uma coisa diferente. Veio à quarta depois a quinta serie o Ensino Fundamental II e as responsabilidades e compromissos foram vindos juntos, números misturados com letras, histórias antigas misturado com a realidade de hoje, o ensino de português fora do contexto em que eu cresci. Aos poucos fui me adaptando e entendendo o que a escola queria me passar e me ensinar, todas as lições aceitadas com respeito. Assim passando os anos cheguei ao Ensino Médio e mais responsabilidades e desafios surgiram, por exemplo, a necessidade de continuar a estudar. Como diziam meus professores: a garantia do meu futuro.
Com essa ideia e esse “incentivo” sentia como se finalmente chegasse ao auge de minha responsabilidade, até entrar na Universidade. O curso Licenciatura em Educação do Campo o qual eu hoje estou ingressada me mostrou vários olhares diferentes os quais eu não tinha, sempre entendi que educar é somente passar o que está nos livros, mas hoje percebo que como futura educadora eu posso ir mais além e mostrar aos meus futuros alunos o mundo por trás dos livros, textos e números. Agradeço sempre a Socorro Amaral por ter me apresentado este curso e ter me inscrito nele, pois se não fosse também por ela e por sua insistência jamais teria conhecimento sobre este modelo de curso. No primeiro momento após conseguir a vaga e entrar na universidade pela primeira vez, me senti como se estivesse na escola, e realmente era até a hora em que percebi o quanto tinha que me dedicar para realização das tarefas e trabalhos. Cada dia um aprendizado sobre matérias, convivência e conduta que me leva a crer que estou no caminho certo de minha escolha.
Em vista dos degraus que até hoje subi e agora no terceiro período do curso. Tenho a dizer que toda essa minha trajetória na vida escolar e fora dela me mostra que quando achamos que estamos no auge do aprendizado sempre podemos aprender mais, que a vida é um constante aprendizado, cada dia uma lição e visão nova sobre o mundo. Espero que ao final de tudo isso eu olhe para trás e sinta uma gratidão tão grande como a que sinto, em ver que cada acerto e cada erro foram de extrema importância para o que vivo hoje, e que eu trilhe sempre o caminho da perseverança com a vontade de aprender e ser sempre mais!
[1] Este texto é parte do ebook Memórias de Letramentos II: Outras Vozes do Campo, disponível para download gratuito aqui:auladigital.net.br/ebooks.
Nasci em uma comunidade rural chamada Boa Vista do Choro, localizada na zona rural de Padre Paraíso, no médio Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais. Neste ambiente rural, cresci e tive os primeiros ensinamentos que se tornaram base para minha vida e para minha formação como ser humano: fé, família, amor à minha terra e aos estudos.
Sou a oitava filha de uma família com 11 irmãos. Iniciei os estudos aos sete anos e, até a terceira série do Fundamental I, tive aulas diárias, em turmas multisseriadas. Nesta época, eu tinha a companhia minha prima Vilania, da mesma faixa etária que eu. Fazíamos o trajeto de uma hora até a escola a pé. Enfrentamos vaca brava, poeira, chuva e frio e, na maioria das vezes, sem tomar o café da manhã. Na escola, havia apenas sete alunos. A professora era respeitadíssima por nós, mas era um respeito adquirido de forma mais enérgica: ela possuía uma vara que não saía de sua mesa, usada quando necessário, ou seja, quando um aluno agredia outro, desobedecia às regras ou mesmo para chamar nossa atenção para algo.
O recreio era um momento muito esperado, tínhamos um tempinho para brincar de correr, de pique-salvo, de pedrinhas, dentre outras brincadeiras. Na terceira série, formação máxima ofertada por essa escola, parei de estudar. Em 1998, a escola foi contemplada com uma verba para ampliação do espaço e das atividades. Vi uma oportunidade para dar sequência aos estudos, porém, estudei nesta instituição por apenas mais um ano, até concluir a quarta série do Ensino Fundamental I.
Para continua a estudar, tive que me transferir para outra escola, que ficava em um povoado chamado Encachoeirado, local em que pude concluir meus estudos.
No período em que cursei o Ensino Fundamental II, algo marcante ocorreu em minha vida. Voltando ao meu passado sombrio, faço um esforço, agora, para relatar parte destes acontecimentos. Quando eu tinha 13 e 14 anos, já cursando a 7ª série do Ensino Fundamental II, Vilania, minha única companhia para ir à escola, mudou-se para outra comunidade. Passei a fazer o trajeto para a escola sozinha e, por duas vezes, por volta de cinco horas, sofri duas tentativas de estupro. Por causa disto, quase parei de estudar, pois sempre passaria por aquele local. Nem mesmo o tempo será capaz de apagar estas lembranças dolorosas.
Na juventude, mudei-me para a sede da cidade de Padre Paraíso, onde trabalhei como doméstica, para conseguir terminar meus estudos e, assim, concluir o Ensino Médio, cursado na Escola Estadual. O sonho de continuar os estudos foi novamente adiado, pois me casei e os afazeres de dona de casa, mãe e esposa soterraram, naquele momento, meus sonhos.
A vontade de cursar o ensino superior voltou quando meu amigo, da cidade vizinha, Itinga, percebendo meu desejo de voltar a estudar, apresentou-me a LEC – Licenciatura em Educação do Campo (UFVJM) e me incentivou fazer o vestibular.
Estar em uma Universidade Federal abriu-me um leque de oportunidades, como o acesso à educação de qualidade, à profissão, a convivências individuais e coletivas enriquecedoras. Hoje, vejo o Vale do Jequitinhonha como lugar de riquezas diversas, dentre as quais destaco a cultura local e os eventos, principalmente, os literários.
Atualmente, sou voluntária no telecentro na cidade de Caraí, onde resido há mais de 12 anos. Pretendo dar continuidade aos meus estudos, fazer mestrado ou, no mínimo, uma especialização, tratando de um tema que me é caro: a falta de formação adequada dos professores que atuam em sala de aula. Tentarei compreender como é possível transformar a educação, como é possível propiciar aos professores uma educação contextualizada, porque há falta de espaço físico e de materiais na educação brasileira, ou seja, a ideia é justamente entender por que alguns educadores, principalmente no meio rural, não têm acesso a conceitos relevantes sobre a educação em geral.
[1] Este texto é parte do ebook Memórias de Letramentos II: Outras Vozes do Campo, disponível para download gratuito aqui:auladigital.net.br/ebooks.
Entre cinco e seis anos, tive a presença e o primeiro incentivo de minha mãe na minha vida escolar, já que ela teve acesso à escola e tinha o segundo grau completo. Ela me ajudou com os primeiros rabiscos até a entrada na escola. Sua presença foi muito importante em minha vida.
Ingressei na escola com sete anos, já conhecendo algumas palavras. No início do Ensino Fundamental I, estudei em uma escolinha pequena que havia na minha comunidade. O Ensino Médio foi cursado em outra escola, na cidade Ouro Verde de Minas, período em que tive as dificuldades com o transporte, pois, com a falta de ônibus, perdia aulas e ficava um pouco prejudicada nas disciplinas.
Nas outras séries do Ensino Fundamental I, encontrei apoio da professora Vilma, que me ajudou muito. Como disse, em casa, tinha incentivo desde que era criança: minha mãe, Ivani, me ensinou as primeiras letras, e com sete anos, eu conhecia algumas palavras. Por exemplo, já conhecia o alfabeto e as vogais, já tinha contato com os números, mas só comecei a praticar a leitura na escola.
Desde o Ensino Fundamental, tínhamos os livros didáticos para estudar em casa, entretanto, era muito difícil ter acesso a livros literários. A partir do Ensino Fundamental II, tive acesso à biblioteca da escola, que disponibilizava os livros aos alunos. Entretanto, não tínhamos muito interesse pela leitura e muito menos incentivo dos professores para fazê-la, por isso, não li esses livros. Em muitos casos, os alunos pegavam os livros, levavam para casa e não os devolviam. Por isso, muitas vezes, faltavam livros na biblioteca.
Lembro-me que os professores nos mandavam à biblioteca só para assistirmos algum filme e, assim, elaborar um resumo ou atividade sobre ele. Na maioria das vezes, quando algum professor faltava, colocavam-nos para assistir filmes, sem objetivos pedagógicos claros. Isto era ruim, pois perdíamos muitos conteúdos, sobretudo no início do Ensino Médio.
Depois do Ensino Fundamental II, minha mãe quis que eu estudasse no período matutino, das 7h às 11h 25 min. Recordo-me de ter aulas aos sábados, porque algum professor havia faltado ou feito greve, requerendo aumento de salário. Sempre me saí bem em todas as disciplinas, mas, ao chegar ao final do terceiro ano do Ensino Médio, tive dificuldades com a disciplina de inglês. De fato, acho que não me adaptei a ela.
No final do Ensino Médio, eu não pensava em continuar os estudos, só pensava em conseguir um emprego, mas na minha cidade não há muitas opções de trabalho. Este é um dos motivos que me levou a ingressar na faculdade. Minha mãe, novamente, incentivou-me a ingressar na universidade, pois ela já havia feito o curso de Licenciatura em Educação do Campo, em Viçosa, Minas Gerais. Foi ela quem me deu todo apoio quando prestei o vestibular para a faculdade, em Diamantina.
Em 2018, ingressei na Licenciatura em Educação do Campo (LEC-UFVJM), e, hoje, estou no terceiro período do curso, com outra visão sobre Educação, outro olhar para os estudos. Apesar de ter tido pouco acesso à leitura, agora tenho penso diferente, pois percebo que a leitura é bem gratificante. Percebo que do início de meus estudos até hoje, as coisas mudaram, tenho mais afinidade com a leitura. Tenho necessidade de aprender, de construir algo novo. Entendo que vale a pena continuar, prosseguir rumo ao final deste processo de aprendizagem, mesmo sabendo que não é fácil. Pensar que seria uma educadora do campo é sempre muito gratificante.
[1] Este texto é parte do ebook Memórias de Letramentos II: Outras Vozes do Campo, disponível para download gratuito aqui:auladigital.net.br/ebooks.
Quando comecei a estudar, morava na cidade de Cristália, Minas Gerais. Com sete anos, mudei-me para a comunidade quilombola do Paiol, onde moro ainda hoje. Na minha casa só havia CD de histórias, pois minha mãe não gostava de comprar livros. Quando nos mudamos para a roça, só tínhamos livros de matéria escolar, por isso, eu não lia: achava tudo muito chato. Comecei a estudar com quatro anos em uma creche que permanece no mesmo lugar, pois meus pais, naquela época, moravam na cidade. No primeiro ano na creche, não líamos livros. As atividades desenvolvidas eram de desenho e a maioria das crianças só dormia.
Minha professora, Dora, gostava de contar história infantil e cantar músicas com cinco anos, aprendi a escrever meu nome e o alfabeto, mas, quando comecei a estudar na primeira série, tive muitas dificuldades em função de não ter livros para ler. Minha professora escrevia mais no quadro e dava desenhos para colorir. Ela gostava muito de mim e meu desempenho estava crescendo. Ao chegar ao fim do ano, meu desenvolvimento diminuiu, pois eu estava mais adiantada que os colegas ingressantes daquele ano.
Quando eu estava na segunda série, montaram uma biblioteca na escola e começaram a “tomar” a leitura dos alunos e ditados de palavras. Essas práticas me trouxeram dificuldades, portanto comecei a decorar os textos e, assim, não conseguia desenvolver a leitura autônoma. Acabei sofrendo muito, porque meus colegas me chamavam de “besta” dentro da escola. Eu conseguia responder às questões que a professora passava e sempre fui uma das primeiras a terminar as atividades. Já na terceira série, a professora começou a nos levar à biblioteca, porém não podíamos mexer nos livros novos, só nos antigos. Continuaram a “tomar” a leitura, e descobriram que, em vez de aprender, eu estava decorando. A professora pediu à minha mãe que eu repetisse a série, e minha mãe concordou. Eu não concordei com a ideia e falei que eu iria parar de estudar, pois ia ser a maior vergonha da minha vida.
Ao conversar com uma antiga professora, ela falou sobre o meu desenvolvimento em sala de aula e minha mãe revolveu não concordar com a ideia de me reprovar: assim, passei de ano. Vencendo esse obstáculo, fui me dedicando cada dia mais à leitura. Quando cheguei à quarta série, tive uma ótima professora que me ensinou a ler. Quando eu tinha que ler um texto, ela me escolhia para me ajudar a superar o medo e as dificuldades. Eu gostava de ler histórias infantis, como a “Chapeuzinho vermelho”. No sexto ano, eu tinha aula de literatura junto com português, estudava as fábulas, e o professor nos colocava para interpretar tais textos. Apesar de ter biblioteca na escola, os que moravam na roça não podiam levar livros para casa, pois eles tinham medo de que eles fossem danificados. Quando os professores resolviam passar atividades de leitura, como resumo, eu pegava parte do livro.
Durante o Ensino Fundamental II, percebi que os professores passavam no quadro só questões sobre gêneros textuais, verbos ou cópias dos livros. Já no Ensino Médio, tive muitas atividades de produção de texto que visavam uma preparação para o Enem. Minha escrita e meu modo de pensar melhoraram, pois percebi que até mesmo em matemática era necessário saber interpretar textos. Nas aulas de português, aprendi a interpretar imagens e a fazer textos sobre elas.
Contei sempre com a ajuda da minha família, que não teve a mesma oportunidade que eu, em função das dificuldades pelas quais passaram. Minha mãe começou a trabalhar em “casa de família” com 12 anos e não pode terminar nem mesmo a quarta série. Meu pai andava mais de cinco quilômetros por dia para chegar à escola, mas aprendeu a ler e a escrever: foi ele que me ensinou a escrever meu nome. Portanto, ao longo da minha trajetória escolar, o processo de letramento foi falho, sobretudo pela falta de incentivo à leitura de textos diversificados. Hoje, na Licenciatura em Educação no Campo, na disciplina Estudos de Letramento, percebo a importância do incentivo à leitura e às reflexões sobre os textos lidos.
[1] Este texto é parte do ebook Memórias de Letramentos II: Outras Vozes do Campo, disponível para download gratuito aqui:auladigital.net.br/ebooks.
Tenho dezenove anos, nasci e vivo ainda hoje na Comunidade Quilombola do Suaçuí, zona rural do município de Coluna, Minas Gerais. Sou filha de Seu João Cardoso e de Dona Lozinha: ele é conhecido por suas histórias e causos, e ela pela sua determinação, pela quantidade de filhos que teve e pelo modo de trazê-los ao mundo. Eu, assim como meus irmãos, nasci em casa mesmo, em função das habilidades de minha mãe, que era parteira. Sou a última dos oito filhos a nascer na propriedade de meu pai, que ficava no extremo da comunidade. Após meu nascimento, minha família se mudou para a propriedade de minha mãe, mais ao centro da comunidade e próxima de onde hoje estão a igreja e a escola.
Lembro-me, com certa ternura, que antes de iniciar o pré-escolar já sabia juntar as letras e a formar palavras. Isso se deve à ajuda de minhas duas irmãs mais velhas, que sempre me ajudavam. Também já conhecia alguns números, as cores e amava desenhar. Desde pequena, com cerca de três anos, já brincava de escolinha com minhas irmãs e amigos, mas apenas quando eles tinham tempo, pois a lida da roça era dura. Era um momento mágico para mim, pois, naquele momento, estava realizando, mesmo que no universo do ‘‘faz de conta’’, o adorado sonho de ir à escola. Esses momentos não tiraram de mim o desejo de frequentar regularmente a escola.
Meus pais, ambos lavradores e semianalfabetos, mesmo cientes que eu já sabia ler e escrever, não dispensaram a necessidade de que eu e meus sete irmãos fôssemos à escola. Minha mãe sabia apenas escrever seu nome, mas sempre foi curiosa e nos pedia para que lêssemos para ela os bilhetes que a escola mandava, a bíblia e até nossos ‘‘para casas’’. Ela sempre nos incentivou a estudar e não apenas na escola. Seu maior desejo era se alfabetizar, tanto que, mesmo depois dos cinquenta anos de idade, ela se matriculou no programa Educação de Jovens e Adultos (EJA), e sempre destacava a importância de saber ler e escrever. Sua postura sempre me fomentou minha vontade de frequentar a escola.
Na minha infância foi marcada pela leitura e por um gosto especial pelas narrativas, o qual sofreu influência das narrativas das vivências, viagens e experiências em outros estados brasileiros e até fora do país de meu pai. O que eu mais gostava, dos poucos momentos que desfrutávamos juntos, eram suas narrativas sobre o “Sr. Coelho e a Dona Onça”. Eram histórias que eu ouvia sempre na hora de dormir, pois não tínhamos, em casa, acesso a mídias, como a televisão, por exemplo. Quando não nos deliciávamos com as histórias que meu amado pai trazia, ouvíamos os seus discos, alguns com histórias também, como o “Buc Sarampo”, o mais ouvido por nós. Achava tão legal ouvir histórias, que as passei a contá-las para meus sobrinhos e outras crianças com quem tive contato quando mais velha.
Meu pai, pelo exercício da construção civil, além de bom contador de histórias, era excelente matemático, era rápido nos cálculos mentais e, além de resolvê-los, exemplificava-os de maneira simples. Talvez por isso, eu me identificasse também com os cálculos, que eram, e continuam sendo, uma de minhas grades paixões, juntamente com a leitura de poesia e de contos. Por isto, sempre me dedicava às provas da OMBEP, com gosto e desejo de passar para a próxima fase. De fato, passei algumas vezes. O contato com livros do acervo da biblioteca da escola Estadual Padre João Clarimundo, em que cursei o Fundamental II e o Ensino Médio, era, na maioria das vezes, com textos infantis, alguns para coleta de dados e para o treinamento de referências bibliográficas. Mas o contato com o acervo da biblioteca municipal em que minha madrinha de batismo trabalhava, e com quem eu passava bastante tempo, sobretudo para fazer as reuniões de trabalhos em grupo, mas também nos dias de visitá-la, propiciou-me o acesso a diversos autores e temas. Isto me levou a ler cada vez mais e melhor. Também me inspirei nesses textos para criar poemas e contos, nos quais registrei/ representei fatos marcantes de minha existência. Desses, gostei mais do que fiz, juntamente com uma de minhas irmãs, para uma brincadeira de confraternização. O conto recebeu o nome ‘‘O pereroi do brejo’’: contava a história de um de meus irmãos, quando ele e minha mãe chegaram de Belo Horizonte, aonde iam regularmente por causa de um problema crônico de saúde dele. A situação virou, naquele momento, uma brincadeira e foi contada como história de ninar para os filhos de minha irmã.
Tive a oportunidade de acompanhar duas edições do programa Cidadão Nota 10, que visava alfabetizar jovens e adultos, em aulas noturnas ministradas por voluntários. O projeto contemplou minha comunidade quando, possibilitando que meus pais frequentassem as aulas. Eu sempre ia junto com eles, e pude ter contato com um ensino diferente do que eu recebia na minha escola. Minha irmã foi uma das voluntárias, e eu a ajudava a corrigir exercícios e a orientar os alunos.
No último ano do Ensino Médio, conheci a Licenciatura em Educação do Campo (LEC) da UFVJM, e, pensando no que aprendi na infância e adolescência, curiosa e ansiosa por questionar e descobrir as respostas do mundo, lancei-me nessa experiência, que até o momento tem sido enriquecedora. Na LEC, comecei a ler textos científicos e a ter contato com um vocabulário mais vasto e difícil que, entretanto, não me impedem, de ler meus amados poemas, contos e romances. Sempre trago para o Tempo Universidade livros de meu conterrâneo, Carlos Herculano Lopes, escritor com quem tive o prazer de me encontrar quando criança em um evento de incentivo à leitura em minha comunidade, e, em outra vez, na escola estadual em que estudei, em um evento de recital de poesias.
Por tudo isto, sou hoje uma pessoa que ama leitura, mas que não se isola nela, pelo contrário, busco sempre algo mais, busco dar sentido à vida e entender o mundo, aprendendo coisas novas, mas sem perder minhas origens.
[1] Este texto é parte do ebook Memórias de Letramentos II: Outras Vozes do Campo, disponível para download gratuito aqui:auladigital.net.br/ebooks.
Apresento aqui um pouco da minha história de vida. Eu nasci e cresci na comunidade quilombola de Suaçuí, zona rural da cidade de Coluna, no vale do Rio Doce, leste de Minas Gerais. A minha família trabalhava com plantação de milho, feijão, mandioca etc. Desde os três anos de idade já tinha uma enxadinha para as tarefas da roça. Não tive contato com leitura e escrita em casa. Aprendi minhas primeiras letras na escola, e foi bastante difícil, pois demorava a entender as letras. Lia e escrevia apenas na escola, pois em casa não tinha tempo: meus pais precisavam da minha ajuda. Eram muito rígidos, e eu tinha que fazer tarefas de casa e da roça, mas tinha incentivo deles na escola também.
Não escrevia letras, mas fazia alguns rabiscos. A escola foi uma das motivadoras na minha iniciação escolar. A comunicação era mais difícil, mas ouvia alguns poemas infantis, recitados por meus irmãos mais velhos.
Entrei na escola aos sete anos, mas não tinha horário fixo para as aulas. As professoras vinham da cidade que ficava a uns vinte quilômetros da comunidade. Não havia energia elétrica, nem transportes e, algumas vezes, não tinha merenda. Na escola não existia biblioteca, e os livros didáticos eram poucos e não podiam ser levados para casa. A escola criou o cantinho de leitura, com livros compartilhados de outra escola do município. Na sala de aula tínhamos que compartilhar os livros com os demais colegas. O livro que eu mais gostei foi o que contava a história da “Menina bonita do laço de fita”. Quando mudei da escola municipal para a estadual, fora do município, encontrei uma biblioteca, mas eu não lia muito, porque chegava da escola e tinha muitos afazeres domésticos e alguns deveres escolares para fazer à noite, à luz de lamparina. Gostava de livros de poesia, entretanto não pegava livros com medo de sujá-los ou sumi-los. Apenas fazia algumas leituras quando a professora mandava.
Conclui o Ensino Médio e continuei na comunidade, ajudando meus pais a cuidar dos irmãozinhos menores e com a lida da roça. Dez anos depois, através da ajuda do meu irmão, que já tem mais contato e facilidade com o mundo tecnológico, soube do curso de Licenciatura em Educação do Campo. Ele nos inscreveu no vestibular. Eu consegui passar na segunda tentativa, e aqui estou no terceiro período. Enfrento muitas dificuldades, tanto para acessar as ferramentas, como computador, plataformas digitais que necessitamos, quanto para dar conta das leituras dos textos científicos. A partir do contato com os textos e das explicações dos docentes do curso, estou aprendendo a ter outras perspectivas: a leitura crítica faz diferença, principalmente, para entender o meio onde vivo, as notícias, as leis e tudo que faz diferença em nossas vidas, principalmente, o debate político e histórico em que se inserem nossas histórias culturais e lutas.
[1] Este texto é parte do ebook Memórias de Letramentos II: Outras Vozes do Campo, disponível para download gratuito aqui:auladigital.net.br/ebooks.
Sempre fui muito dedicada aos estudos, gosto muito de ler, de ouvir histórias e sempre tive facilidade em aprender e falar em público. Estudar/aprender, para mim, era, e é, com certeza, algo muito prazeroso. Acredito que as minhas relações com a leitura dentro e fora da escola contribuíram muito para que esse prazer fosse constante em minha vida.
Na infância, era muito curiosa, aquele tipo de criança que perguntava o porquê de tudo. Lembro-me de minha mãe lendo a bíblia e celebrando os cultos na Igreja da minha comunidade com os folhetos litúrgicos, de minhas primas com os livros didáticos que usavam na escola: estes eram os contatos mais diretos que tinha com textos escritos antes de iniciar meus estudos.
As lembranças que guardo de toda minha vida são, na maioria, a partir de quando entrei na escola. Comecei a estudar com quatro anos na educação infantil (Pré-Escolar), momento em que aprendi a escrever meu nome e a ler. Isto era algo que eu queria muito. Depois que aprendi a ler, lia tudo que encontrava pela frente: placas, rótulos, entre outros, orgulhosa porque havia aprendido a ler. Quando estava no primário, participei de uma encenação teatral, representando a Chapeuzinho Vermelho. Acredito esta representação motivou meu gosto pela leitura, por histórias e por falar em público. Nesta época, tive uma professora de quem gostava muito, Tia Nardete, que me incentivou muito e por quem tenho, até hoje, um carinho grande. Ainda na infância, iniciei a catequese na igreja onde fazia atividades em grupo, a qual colaborou para desenvolvimento em mim de uma nova forma de entender o trabalho coletivo. Entendo que a escola teve papel fundamental para meu processo de letramento.
Foi no Ensino Fundamental I que tive maior acesso aos livros, às mídias e a produções textuais. Comecei a produzir textos, ler livros e recontá-los, e até mesmo a fazer resumos de filmes assistidos em sala de aula. Recordo-me de um momento de leitura que tive durante as aulas: o professor tinha um grande livro de contos e, a cada dia, lia um texto diferente Era o momento que eu mais esperava e sempre pedia ao professor para que me emprestasse o livro para levar para casa. O que eu escrevia antes dessa fase na escola se relacionava às questões de alfabetização, escrever palavras, formar frases etc. Como disse, no Ensino Fundamental I, exercitei minha escrita e leitura textual, que foram melhorando com o passar dos anos. Já no Ensino Fundamental II, aumentei meu repertório de leitura e pude ler livros de difícil acesso, como os de Shakespeare, Machado de Assis, Drummond entre outros. Tais livros estavam disponíveis na biblioteca da escola. Além disso, realizei várias atividades, como por exemplo, uma peça de teatro baseada em um livro. Os recontos e resumos passaram a estar mais presentes nos projetos de leitura. Durante essa etapa, tive ótimos professores que sempre me motivaram e acreditaram em minha capacidade, em especial o professor de história, Pedro, conhecido como Juninho. Suas aulas eram boas e construtivas, e me possibilitavam entender os fatos históricos e contemporâneos de forma mais analítica, permitindo-me contribuir com minhas considerações e pontos de vista. Meu senso crítico melhorou.
Durante o Ensino Médio, aumentei meu contato com os livros e tive mais acesso às mídias, como, por exemplo, o datashow. Realizava várias apresentações usando esses instrumentos mais modernos. Uma vez, meu grupo e eu fizemos um teatro através de vídeo, contando a história de Fernando Sabino, uma experiência muito rica.
Atualmente, estou cursando a Licenciatura em Educação do Campo (LEC), habilitação em Linguagens e Códigos, na Universidade Federal dos Vales Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM). Essa nova etapa é cheia de novas descobertas e experiências, como o aumento de minhas atividades de escrita e de leitura, de questionamentos sobre o mundo, minha vida acadêmica e meus pontos de vista. Por um lado, há pontos positivos: progresso na leitura, na escrita, na organização, na criticidade entre outros. Por outro, há pontos negativos: deixar de ler alguns textos/livros que costumava, para ler os que estão relacionados às temáticas estudadas, e que os professores solicitam. Apesar de todas essas coisas acredito que a caminhada vale a pena.
Enfim, todas estas fases que passei fizeram de mim o que sou hoje. Agradeço a Deus por me permitir viver para experimentar tudo isso, à minha família, em especial à minha mãe, Claudiana Silva, que sempre esteve do meu lado, aos colegas que andaram e andam juntos comigo por esses caminhos, e aos professores que acreditaram e acreditam em mim e na educação.
[1] Este texto é parte do ebook Memórias de Letramentos II: Outras Vozes do Campo, disponível para download gratuito aqui:auladigital.net.br/ebooks.
Lembro-me que nós brincávamos de escolinha, substituindo o giz pelo carvão. Juntávamos grupinhos onde um de nós era o professor. Trocávamos de função para que todos pudessem ser o professor. Brincávamos de escrever e desenhar, pois para nós essa era uma ótima aula. Cada um tinha uma enorme vontade de ir para escola. Tive meu primeiro lápis e caderno quando fui para a escola, com cinco anos. O primeiro livro também me foi dado nessa época. Eram experiências muito emocionantes, parecia até que eu tinha ido para um outro mundo.
Infelizmente não tivemos acesso a nenhum tipo de texto escrito até determinada idade, mas conhecemos muitos textos orais por causa dos contos que nossos pais contavam. Só tive acesso a livros quando meus irmãos traziam da escola. Esse foi o meu acesso a livro escrito. Fiquei muito curiosa, principalmente por causa das imagens que via. Era um mundo maravilhoso, fantasioso. Eu adorava revistas que tinham muitas gravuras. O acesso ao computador só ocorreu no final do ensino fundamental. Computador e internet, para mim, eram coisas de outro mundo, porque tudo que eu queria ver estava lá. Isso ocorreu quando eu já tinha 17 anos. Foi assim que eu conheci este mundo virtual. Hoje, crianças de um ano ou menos possuem acesso à internet.
Na escola, nos primeiros anos, as professoras nos davam revistas em quadrinhos. As figuras despertavam em nós o interesse pela leitura e escrita. Havia biblioteca nas escolas em que fiz o ensino fundamental e médio. Na universidade também há biblioteca. Somos incentivados a ler livros para que possamos desenvolver a leitura e a escrita. Isso foi muito importante, pois hoje meu interesse pela leitura aumentou, porque não eu tinha esse interesse em aprimorar esse processo de aprendizagem. Essas são as grandes mudanças que ocorreram na minha vida.
Para mim, a minha formação, no ensino médio e na faculdade, é muito importante, porque incentivam tanto a família e os amigos a tentarem obter uma formação. Infelizmente, meus pais não tiveram oportunidade de estudar, então, já que eu estou tendo essa oportunidade, quero aproveitar e dar orgulho a eles.
[1] Este texto é parte do ebook Memórias de Letramentos II: Outras Vozes do Campo, disponível para download gratuito aqui:auladigital.net.br/ebooks.