Nas redes: minha história com as tecnologias

Nas redes: minha história com as tecnologias
Vanessa Cristina Dias de Oliveira é acadêmica do curso Licenciatura em Educação do Campo (LEC), da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM). Vanessa é de Cristália, Minas Gerais.

Meu primeiro contato com alguma tecnologia digital ocorreu em 2012, quando eu tinha 11 anos e encontrei um celular seminovo no vestiário de uma feira municipal na minha cidade. Fiquei surpresa e não sabia como ligar a tela. Sabia que era um celular porque havia visto outras pessoas com aparelhos parecidos. Decidi chamar minha tia, que me acompanhava, para verificar o celular. O aparelho estava descarregado, então ela saiu do vestiário e perguntou às pessoas por perto se sabiam quem era o dono.

Ninguém sabia, então ela resolveu levar o telefone para casa para tentar descobrir quem havia esquecido. Em casa, ela encontrou um carregador compatível e conseguiu carregar o celular. Toda a minha família ficou surpresa por termos encontrado um celular seminovo, lançamento do ano. Assim que o telefone carregou, tivemos outra surpresa: ele não tinha senha, fotos, nem chip, e não havia pistas para encontrar o dono. Com isso, minha mãe decidiu que eu poderia ficar com o celular, embora ela também quisesse usá-lo, pois não tinha celular. Ela comprou um chip e o celular passou a ser mais dela do que o meu.

A primeira coisa que usei nesse aparelho foi um joguinho que já estava instalado com a ajuda dos meus primos. Lembro também que uma amiga que morava na cidade e já tinha um telefone. Foi ela que criou um Facebook para mim, usando o e-mail dela. Com sua ajuda, aprendi a usar a rede social escondido da minha mãe.

Como morava na roça e não havia internet, minha amiga monitorava meu Facebook pelo celular dela. As pessoas mandavam mensagens e ela respondia se passando por mim, geralmente meninos. Demorei muito tempo para ter mais acesso. Apenas aos 15 anos passei a usar eu mesma minhas redes sociais.

Antes disso, minhas interações com tecnologias analógicas também eram bastante limitadas. Em casa, tínhamos TV apenas quando morávamos em uma comunidade mais próxima da cidade. Perdemos o acesso à TV quando nos mudamos para uma localidade mais remota, sem sinal dos canais. Passei a ter acesso à TV novamente quando visitava a casa de um tio, que tinha uma boa antena que permitia acesso a alguns canais. Assistia novelas e desenhos animados com meus primos.

Já o rádio sempre esteve presente, proporcionando entretenimento e informação, transmitindo música, cultos evangélicos e missas que marcaram minha infância. Outras tecnologias analógicas, como máquinas de escrever, telefone fixo, papel e caneta, faziam parte do meu cotidiano de maneira esporádica, principalmente na escola.

Com o avanço das tecnologias digitais, muitas coisas mudaram. Por exemplo, eu costumava usar o Facebook regularmente, mas hoje em dia já não o utilizo mais. Aos 15 anos, ganhei de aniversário um celular Samsung J5 DS, que era bem mais evoluído que o primeiro celular que encontrei. Passei a explorar outras redes sociais, como Instagram e WhatsApp, deixando o Facebook de lado.

Meu primeiro uso de um mouse e computador foi uma única vez na escola, mas não consegui aprender a usar, pois a professora levou a turma à sala de informática apenas uma vez. Não havia computadores suficientes para todos, então duas pessoas tinham que compartilhar um único computador, o que limitou meu aprendizado. Fui aprender a usar computador e mouse no meu primeiro emprego em um supermercado.

Essa experiência foi marcante, pois representou um passo importante na minha adaptação ao mundo digital. No início, tive muita dificuldade com os aplicativos de compras, mas um colega de trabalho, muito habilidoso, me ajudou bastante nesse sentido. Esse aprendizado foi crucial quando ingressei no curso da LEC durante a pandemia.

Entrei no Facebook pela primeira vez em 2012, minha primeira vivência com redes sociais. No Instagram, entrei em 2018 por indicação de amigos da escola, que alegavam que era melhor que o Facebook. Hoje, o Instagram e outras plataformas fazem parte do meu dia a dia. A aprendizagem dessas novas tecnologias foi facilitada por várias pessoas importantes em minha vida, incluindo amigas, primos e colegas de trabalho, que tiveram as maiores influências. Essas interações me ajudaram a compreender e me adaptar às mudanças tecnológicas.

Atualmente, as páginas web e redes sociais que mais visito são Instagram, Facebook e Google Classroom, esse último no contexto universitário. Meu uso de tecnologia varia conforme o contexto: como estudante, profissional, em atividades de ativismo político, religiosas, culturais e esportivas. Cada área tem sua própria maneira de utilizar a tecnologia de forma eficaz e apropriada.

Houve momentos em que o uso de certas tecnologias foi proibido para mim. Por exemplo, quando eu era adolescente, minha mãe não permitia que eu levasse o celular para a escola. Participar de redes sociais é uma parte significativa do meu cotidiano, especialmente publicando fotos pessoais no Instagram e participando de grupos no WhatsApp relacionados à família, trabalho, igreja e faculdade.

No entanto, não costumo postar comentários em notícias ou anúncios de produtos, nem participar de votações na web. As redes sociais são muito importantes, pois me permitem manter contato diário com familiares e amigos que estão distantes.

Já fiz uploads de imagens e vídeos no Instagram para receber comentários, e algumas das minhas atividades laborais envolvem produção para a internet, especialmente em tarefas relacionadas à faculdade. As tecnologias que mais uso ao longo do dia incluem TV,  YouTube para música, e celular, além do notebook, que usei recentemente.

A tecnologia mudou muitas de minhas práticas sociais, como estudar, marcar encontros, conversar, pagar contas e fazer compras, facilitando muito a correria do dia a dia. No futuro, pretendo aprimorar ainda mais meus conhecimentos na realização de trabalhos acadêmicos e desenvolver mais habilidades no uso do computador, pois ainda tenho dificuldade em utilizá-lo.

Ao observar as diferenças no uso da tecnologia entre gerações, percebo que tanto as gerações mais velhas quanto as mais novas utilizam as tecnologias digitais frequentemente. No entanto, não identifico diferenças significativas entre amigos de diferentes gêneros e idades em relação ao uso da tecnologia.

Meu sentimento em relação às novas tecnologias é de gratidão, pois elas nos aproximam do mundo e facilitam nossa vida de muitas maneiras. As experiências mais positivas incluem a praticidade e facilidade proporcionadas pelas tecnologias digitais. Por outro lado, as experiências negativas envolvem a dependência, o vício e, em alguns casos, a solidão que elas podem causar, pois não aproveitamos o tempo com as pessoas que estão presentes em nossas vidas.

Minha jornada com as tecnologias, tanto digitais quanto analógicas, tem sido repleta de aprendizados, adaptações e transformações significativas em diversas áreas da minha vida.

Como futura professora, as tecnologias digitais que uso ou usaria incluem notebook, celular e TV, pela sua eficácia em tornar o ensino mais dinâmico e interativo, no desenvolvimento de habilidades de leitura , escrita e oralidade, usaria algumas ferramentas digitais para desenvolver várias atividades práticas e interativas como produção de texto digitais, leitura em sites que promoveria a interação de todos os estudantes, uso de sites e páginas na web no qual os estudantes poderia usar seu próprio celular fazendo como que as aulas torna mais participativa.

Deixo a indicação de um filme que marcou muito a minha infância, “Os Dois Filhos de Francisco”, baseado nos fatos reais da vida dos cantores sertanejos Zezé di Camargo e Luciano. Este filme costuma passar na Rede Globo, na Sessão da Tarde ou aos domingos, o que traz muita nostalgia. As músicas do filme também tocavam diariamente no rádio que tinha em casa, o que contribuiu para a forte representatividade e emoção que o filme retrata.

Crescendo e descobrindo as tecnologias

Crescendo e descobrindo as tecnologias
Maria da Solidade de Souza é acadêmica do curso Licenciatura em Educação do Campo (LEC), da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM). Maria da Solidade é da Comunidade Quilombola Santa Cruz, município de Ouro Verde de Minas, Minas Gerais

Sou da comunidade quilombola de Santa Cruz, na cidade de Ouro Verde de Minas. Sempre vivi no campo, meus pais eram analfabetos e não tiveram oportunidade de estudar. Eu sou uma pessoa simples e humilde, que não se preocupava muito com muitas coisas. Quando criança, me lembro de sempre ouvir música em um toca-discos que funcionava com pilhas, pois ainda não tínhamos eletricidade em casa.

Com o tempo, chegou a energia elétrica e meus pais compraram uma toca-fitas 3 em 1, depois uma televisão, o que melhorou bastante nossa vida em termos de entretenimento. Após isso, tive contato com diversos equipamentos e mídias mesmo antes das tecnologias digitais: novelas na televisão, fotos na máquina fotográfica analógica, jogos da Copa do Mundo pelo rádio, música através do toca-discos e do toca-fitas.

Lembro-me vividamente do meu primeiro celular, um modelo analógico que custou 40 reais e era usado apenas para chamadas. Mais tarde, consegui comprar um celular digital onde instalei o Facebook e fiz amizades. Com a ajuda de amigos, fui me familiarizando e hoje em dia uso várias redes como WhatsApp, Facebook e Instagram. Embora eu não contribua com conteúdo nessas plataformas, meu uso como consumidora é equilibrado. Às vezes comento fotos de amigos ou notícias, mas moderadamente. Gosto de ver publicações com informações e, ocasionalmente, anúncios.

Já fiz postagens de vídeos, mas nunca com o intuito de receber curtidas ou comentários; simplesmente por decisão pessoal. Também uso o celular ou o notebook frequentemente para estudar e pesquisar sobre diferentes questões.

Minha agenda telefônica, que antigamente, era em ‘cadernos’, hoje está completamente digitalizada. Papel eu às vezes ainda uso para fazer listas de compras, pois vou anotando à medida que me lembro das coisas que preciso. Há algumas tecnologias que ainda não explorei, não por falta de interesse, mas porque me sinto insegura ou não tive oportunidade, como drones e robôs

Na época dos meus pais, essas tecnologias modernas não faziam falta, pois a convivência era diferente, com mais conversas frente a frente e contação de histórias. Lembro-me de uma vez em que um senhor visitou meu pai e meu irmão logo ligou a televisão. O senhor comentou que não tinha ido lá para assistir TV, mas para visitar meu pai. Meu irmão ficou sem graça e desligou a televisão.

As diferenças culturais podem ser vistas na educação dos filhos, no vestuário, nos costumes, tradições, religiões, comportamentos. Muito dessas culturas são acessíveis pelas tecnologias, outras se perderam. Nesse caminho, muitas interações me marcaram. Dessas experiências, deixo aqui uma cena de novela que marcou minha vida com reflexões sobre a relação entre patroa e empregada.

O meu eu tecnológico

O meu eu tecnológico
Leiliane Pereira de Oliveira Lima é acadêmica do curso Licenciatura em Educação do Campo (LEC), da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM). Leiliane é da Comunidade Quilombola Santa Cruz, município de Ouro Verde de Minas, Minas Gerais.

O meu primeiro contato com alguma tecnologia digital foi na escola, mais ou menos no ano de 2006. Naquela época, não existiam aplicativos como WhatsApp, Facebook, Instagram, entre outros. Na minha família, ninguém tinha celular nem notebook; tudo era mais difícil. Tínhamos acesso às notícias através do rádio e da televisão. Minha mãe era amante das novelas, e meu pai era fascinado por rádio.

Lembro-me de um episódio em que ele comprou um aparelho de som que tocava CDs e, posteriormente, um aparelho de DVD que podia ser conectado à TV e ao som. Esse período marcou muito a minha adolescência; eu e minhas irmãs escutamos música praticamente o dia inteiro.

Foi somente na escola que tive a oportunidade de tocar em um computador. Os professores geralmente levavam os alunos para a sala de informática, mas a interação dos alunos era pouca, pois não havia computadores para todos, e quase nenhum dos alunos sabia usar um computador, nem ao menos ligá-lo. Eu sempre me mantinha afastada, pois tinha medo de ficar só perguntando como fazer para usar o computador.

Após alguns anos, me formei no ensino médio. Como sempre trabalhei, consegui comprar um celular moderno. Além de fazer ligações e enviar mensagens no chat, ainda dava para tirar fotos, e o melhor, para atender ligações, tinha que levantar a capinha.

Naquela época, ter um celular era como ter um carro. Diante desse novo mundo tecnológico, fiquei totalmente encantada. Comecei a frequentar lan houses, trocar mensagens no Orkut e gastar todo o dinheiro que tinha para ficar em lan houses. Inclusive, meu primeiro contato com o mouse foi nessa época. Nos primeiros dias, achei muito estranho; parecia que o mouse não atendia aos meus comandos, era até engraçado.

No entanto, apesar dessa experiência única e satisfatória que vivi, não repetiria essa façanha outra vez. Em primeiro lugar, não daria um valor exorbitante em um celular como fiz no passado, e também não gastaria tanto dinheiro em lan houses só para jogar conversa fora. Contudo, vale a pena ressaltar as pessoas que foram importantes nesse meu processo de aprendizagem com as tecnologias digitais: meus colegas de escola e meus antigos patrões me ajudaram muito.

Ingressei na universidade mais ou menos dez anos após a formatura do ensino médio. E justamente no ano em que ingressei na universidade, o mundo parou por conta da pandemia da COVID-19. Então, realizamos o primeiro período de forma remota. Tive que aprender a mexer com algumas ferramentas digitais, mas havia um outro problema: não tinha acesso à internet na minha casa, pois moro na zona rural. Para assistir às aulas, tinha que ir para o município vizinho.

Foi muita coisa nova, mas consegui acompanhar as aulas. Nesse período, estava grávida e, infelizmente, fui contaminada pelo vírus da COVID-19. Acabei interrompendo os meus estudos, pois fiquei em uma situação gravíssima, tendo que ser entubada e ficar 35 dias na entubação. Passei por momentos difíceis, mas sobrevivi graças a Deus. Após um longo processo de recuperação, retornei às aulas, dessa vez de forma presencial.

Hoje, nas minhas práticas digitais envolvem as páginas e apps como WhatsApp, Facebook, YouTube, Google e G1. Também contribuí com a página virtual da nossa Associação Quilombola de Santa Cruz (Aquilo Afros). Mas o meu uso das tecnologias em relação à minha vida de estudante, minha vida cultural e atividades religiosas, é diferente. O uso como estudante está voltado mais para pesquisas, escrita de relatórios e trabalhos. Na cultura, busco divulgar questões culturais de onde resido, o Quilombo Santa Cruz. Já em relação às atividades religiosas, realizo pesquisas sobre comemorações religiosas, músicas e performances de apresentação.

Atualmente, levo uma “vida digital” sem proibição. Ao contrário da época em que estudava no ensino médio, posso dizer que as proibições que tive em relação ao uso da tecnologia não tinham nada a ver com restrições de meus pais, mas sim com a condição financeira que não permitia mesmo. Devido a essa situação, fui ter contato de fato com a tecnologia na maior idade.

Entretanto, a minha participação nas redes sociais é pouca. Uso Facebook e WhatsApp, mas não faço postagens nos stories e no status com frequência. Não sou de fazer comentários em notícias, não participo de anotações na web, sou mais reservada. Porém, já fiz uploads de imagens para realizar pesquisas no Google, por exemplo. Não tenho nenhuma atividade laboral de produção para a internet.

Toda essa situação me fez recordar de um dia na minha comunidade com a minha família, onde nos reunimos como de costume e simplesmente fomos assistir a um filme na Temperatura Máxima, na Globo. Conseguimos assistir sem ficar presos no celular, algo inédito. Percebi que as telas grandes como a televisão estão sendo esquecidas após a chegada dos celulares mais modernos, que estão exercendo cada vez mais funções, substituindo muitos aparelhos eletrônicos e, o mais preocupante, tornando o diálogo olho no olho extinto.

Diante disso, vejo o quão preocupante é o uso excessivo que estamos tendo com os celulares. Ontem mesmo, a primeira coisa que fiz assim que acordei foi mexer no celular e, ao longo do dia, também. Para realizar as atividades no Tempo Comunidade (TC) e no Tempo Universidade (TU), a ferramenta que uso é o celular. Todos os meus trabalhos faço com o celular, pois não tenho notebook.

As minhas práticas sociais também mudaram em função da tecnologia. Geralmente, quando vou fazer compras, faço anotações no celular, mas a maioria das compras que faço é via internet. Faço pagamentos pelo celular, para agendar uma consulta médica, reunião da associação ou algum outro compromisso pelo WhatsApp. Faço muita coisa pelo WhatsApp, mas tenho vontade de aprender a fazer projetos para ajudar a minha comunidade e melhorar a condição financeira de todos.

Em comparação às minhas práticas com a tecnologia e a forma como os meus pais a utilizam, afirmo que é totalmente diferente. Os meus pais não tiveram oportunidade de estudar, principalmente meu pai. Ele não sabe ler e, nesse caso, para trocar mensagem com alguém, ele só manda áudio. Gosta muito de assistir a vídeos no TikTok, não realiza compras pela internet sem a nossa ajuda, não consegue salvar o contato de alguém etc. Já a minha mãe sabe ler e escrever, envia mensagem escrita e também gosta de ver vídeos no TikTok, mas não realiza outras funções, como compras pela internet e acessar apps de bancos, sem a nossa ajuda.

As novas tecnologias têm sido um avanço na sociedade, facilitando cada vez mais o nosso dia a dia. Muitas coisas conseguimos resolver de casa sem enfrentar filas enormes, oque demonstra como as tecnologias facilitaram a nossa forma de comprar, pagar, estudar, trabalhar, comunicar, dentre outras.

Porém, vejo que o uso excessivo das telas tem acarretado uma série de problemas, como: problemas de visão, de coluna, cognitivos, etc. Temos crianças que estão tendo contato com as telas e estão ficando totalmente viciadas, não interagem, não brincam, são agressivas, não se alimentam direito, são antissociais, não desenvolvem funções cognitivas.

Esses pontos positivos e negativos sobre a tecnologia me fazem lembrar algumas situações. Sobre o ponto positivo, trago um exemplo meu: durante o meu estágio, passei por uma situação complicada. Precisava da assinatura do diretor da escola, mas sempre que ia lá ele não estava.

Após várias tentativas, ele assinou os documentos da cidade onde ele se encontrava, e isso só foi possível porque a assinatura era digital. A tecnologia foi fundamental para a concretização do meu estágio, e assim acontece em várias situações de nossa vida.

Em relação ao uso excessivo de telas, trago o exemplo do filho de um amigo meu. Assim que a criança completou três anos, os pais deram um celular para ele brincar e não dar trabalho. Hoje, a criança tem oito anos, já não consegue ficar sem o celular, não interage com ninguém e, se for fazer um passeio com os pais, só vai se o local tiver internet.

Ao trazer um pouco sobre o meu contato com a tecnologia, compartilho um filme que foi muito marcante para minha vida, “O auto da compadecida “, foi um dos primeiros contatos que tive com a televisão na minha infância.

Um encontro com a tecnologia

Um encontro com a tecnologia
Keviny Tuany Rodrigues Sena é acadêmica do curso Licenciatura em Educação do Campo (LEC), da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM). Keviny é da Comunidade Quilombola do Paiol, município de Cristália, Minas Gerais.

Em 2001, quando nasci, as cidades já apresentavam grandes avanços tecnológicos, mas no campo, essa realidade parecia distante em alguns aspectos. Muitos lugares ainda não possuíam energia elétrica. Em minha casa, a tecnologia tinha uma presença sutil e limitada. Nosso acesso à tecnologia restringia-se ao celular, rádio ou televisão. Meu pai nunca gostou de celular e nunca teve um. Em contraste, minha mãe adorava conversar com os amigos por horas no celular. As manhãs em casa eram marcadas pelo som da televisão sintonizada no Canal do Boi ou no jornal, enquanto as noites eram envolvidas pelo barulho do velho rádio do meu pai.

Meu primeiro contato com a tecnologia digital foi através do celular da família. Embora a interação fosse mínima, já que eu só fazia ligações, colocava músicas para minha mãe ou trocava o papel de parede, essas funções básicas eram fáceis para mim, pois já sabia ler e escrever o que tornava essas funções básicas algo fácil para mim.

Com o passar do tempo, meu irmão, que trabalhava, comprou um celular para si. Às vezes, ele me deixava jogar o “jogo da cobrinha”, mas sempre em troca de favores. Aqueles momentos, mesmo sendo raros, eram muito bons para mim, pois era algo diferente. Não me recordo do ano exato, mas lembro-me claramente de quando íamos eu e minha irmã para a casa da nossa avó na cidade jogar em uma lan house. Eu gastava as moedas que ganhava dos meus pais; cada 30 minutos custava 50 centavos. Eu adorava os jogos de culinária.

O ano era 2012 e as condições financeiras foram melhorando; com isso, as oportunidades também. Minha mãe conseguiu, através de trocas, dois celulares seminovos. Ela deu um para minha irmã e o outro para mim. O meu era um celular com o teclado embutido, que eu puxava para fora para pode digitar. Ele era diferente de tudo que eu já tinha visto. Mesmo sem redes sociais ou chip, eu usava o aparelho para tirar fotos, trocar o tema, escrever notas e ouvir música no percurso do ônibus da escola para casa.

A tecnologia continuava avançando e, no meu aniversário, minha mãe me surpreendeu ao me levar à loja Zema. Lá, ela me comprou um celular de presente. Embora sua câmera fosse horrível – o que me impedisse de fazer o que mais gostava, que era tirar fotos – encontrei outras formas de utilizá-lo, como para acessar o Facebook, de maneira limitada, pois não tinha wi-fi e pouco dinheiro para as recargas.

Quando completei 15 anos, em 2016, comecei a trabalhar no mercadinho de uma professora, onde ganhava 150 reais mensais. Com o dinheiro, comprei um celular decente, parcelado em 10 vezes, um Samsung J5. Esse foi um ponto de virada, pois no mercadinho também tinha Internet à vontade, o que me permitiu usar o celular com maior frequência, postando fotos e interagindo no Facebook. Cheguei até a criar uma página de memes, que acredito estar vinculada ao meu perfil até hoje.

Também usava o Google para procurar músicas, que tinha dificuldades para baixá-las. Certo dia, navegando na internet, descobri o aplicativo Snaptube, que me permitiu baixar não apenas músicas, mas também vídeos. Aos poucos fui entendendo como funcionavam as ferramentas digitais, que tornaram-se aliadas constantes em minha vida.

Durante a pandemia, recém-formada no ensino médio e iniciando a faculdade, enfrentei desafios relacionados às burocracias documentais da instituição e às aulas on-line. O acesso à internet tornou-se indispensável, o que demandou a instalação de internet em casa, algo mais difícil por vivermos na zona rural.

No início, a faculdade parecia complexa, pois tive que aprender a utilizar e-mail, o site do E-campus, e ainda enfrentar a dificuldade de realizar todas as atividades pelo celular, já que eu não tinha um notebook. Com o tempo, essas dificuldades foram superadas e a adaptação às ferramentas digitais foi acontecendo, visto que sempre tive facilidade em utilizá-las.

Atualmente, uso o celular com frequência para diversas atividades, incluindo estudos, acesso a recursos bancários, pagamento de contas, vendas e compras, entre outros. Embora utilize vários aplicativos, nos últimos tempos, os que mais utilizo são WhatsApp, Instagram, Airbnb, aplicativos bancários, Google Sala de Aula e e-mail.

A rotina de estudos provocou uma mudança significativa no meu uso diário das tecnologias digitais, com um aumento nas leituras, produção de slides e documentos, bem como na preparação de documentos de estágios. Fora do ambiente acadêmico, utilizo sites e aplicativos para realizar vendas, compras e navegação.

Além disso, as tecnologias alteraram algumas das minhas práticas cotidianas, especialmente no que diz respeito às compras, que agora faço predominantemente online. Tenho também interesse em produção e edição de vídeos. Além disso, faço uso frequente de mapas e do Airbnb para alugar casas por temporada. Também pretendo criar uma loja digital, começar a gravar vídeos e desenvolver um perfil no Instagram para postar conteúdos de culinária.

Para compartilhar um pouco mais da minha história tecnológica, gostaria de indicar um filme que marcou profundamente a minha vida. “Nanny McPhee – A Babá Encantada” é um filme de comédia e fantasia que gira em torno de uma babá mágica que chega na casa de uma família para cuidar das crianças; com sua magia e habilidades especiais, transforma a vida deles de maneira surpreendente e divertida. Esse filme sempre passava na TV de casa, no Canal Livre. Como não tínhamos acesso à internet, esperávamos ansiosamente por filmes que fossem realmente bons. Este, em especial, marcou muito a minha infância. Espero que ele também toque a vida de vocês, assim como tocou a minha.

O caminho da minha experiência com a tecnologia digital

O caminho da minha experiência com a tecnologia digital
Jordana da Silva Santos é acadêmica do curso Licenciatura em Educação do Campo (LEC), da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM). Jordana é da Comunidade Quilombola de Buriti do Meio, município de São Francisco, Minas Gerais. 

Meu primeiro contato com uma tecnologia digital foi em 2015, em casa, quando meu pai comprou um celular que, naquela época, servia apenas para fazer ligações quando necessário. Esse celular foi dado à minha irmã, que era mais velha, para manuseá-lo. No entanto, de vez em quando, eu tinha acesso a ele para brincar com os jogos que possuía. Esse celular era apenas para facilitar as ligações que meu pai queria fazer. Como meu pai não sabia ler por não ter estudado na infância, ele deixou que minha irmã e eu o utilizássemos.

Naquele momento, a ferramenta era uma grande diversão para mim e minha irmã. Nós nos divertimos com o celular durante o dia, usando-o principalmente para fotografar. Durante toda a minha adolescência, nunca tive meu próprio celular, pois minha família não tinha condições de me dar a ferramenta.

Mas nessa mesma época, conheci o celular digital, pois eu tinha outra irmã que trabalhava fora e tinha um. Com ele, eu conheci algumas redes sociais como Facebook e WhatsApp. Achava extraordinário ver as postagens de outras pessoas e me imaginava um dia naquele mundo digital com meu próprio celular. Muitas vezes, eu o utilizava escondido da minha irmã para entrar nessas redes. Tudo era novo para mim, e eu tinha muita curiosidade em aprender a utilizá-las e ver como funcionavam.

Logo depois, meu irmão também conseguiu seu celular digital, o que foi muito importante no meu processo de aprendizagem. Ele sempre teve facilidades com esses recursos e me mostrava diversas coisas. Assim, mesmo sem ter meu próprio celular, adquiri um grande conhecimento para saber utilizá-lo quando tivesse a oportunidade de manusear algum aparelho.

Em 2020, uma professora de Língua Portuguesa fez minha inscrição no vestibular da LEC (Licenciatura em Educação do Campo), fiz o vestibular e fui aprovada. Desde então, consegui ser a única da minha comunidade, dentre 12 participantes, a entrar no ensino superior. Fiquei muito feliz com a conquista, porém ao mesmo tempo preocupada se conseguiria realmente estudar, pois, devido à pandemia, as aulas seriam todas online e eu ainda não possuía um celular ou computador adequado para estudar; nem tinha uma internet de qualidade em casa.

Minha irmã me ajudou bastante, realizando todos os processos de trocas de mensagens necessários para minha entrada na LEC. Nesse meio tempo, consegui a matrícula e fiquei muito alegre, assim como minha família. Era possível ver o quanto minha família queria me ver estudando. No entanto, percebia-se em seus semblantes a tristeza de que eu poderia desistir por não ter acesso a nenhuma ferramenta própria para estudar, além de que, como moradora da zona rural, o acesso de qualidade ao sinal de internet era péssimo.

Em 2021, o ano em que se iniciaram as aulas da LEC, quando eu pensava em desistir de estudar, algumas semanas antes de começarem as aulas, de maneira muito simpática, meu irmão me presenteou com um celular, meu primeiro celular. Não desisti e aqui estou.

Fiquei muito empolgada e feliz ao ganhar o aparelho. Sem pensar muito no que acessar primeiro, pois sempre tive muita vontade de ter redes sociais, fui a um local que possuía sinal de rede e logo instalei aplicativos como Facebook, WhatsApp, TikTok e Kwai. Além disso, baixei o Google Meet, que seria o aplicativo para eu conseguir acessar as aulas da universidade.

Não tive muitas dificuldades em usar o celular, pois como tenho relatado, mesmo sem ter o aparelho, eu utilizava os celulares dos meus irmãos. Atualmente, sou uma pessoa muito antenada nas redes sociais, sendo que uso diariamente aplicativos como WhatsApp, Instagram, Facebook, além dos aplicativos de compras como Shein e Shopee, entre outros.

No momento, não contribuo com páginas e sites, mas já contribuí muito com a divulgação de artesanatos e eventos da minha comunidade, assim como eventos culturais do meu grupo de dança. Sempre divulgo quando as apresentações acontecem.

Quando estou presente na universidade, utilizo muito mais o celular durante o dia, pois ele tem diversos recursos úteis para minhas atividades acadêmicas, como aplicativos de slides e imagens como o Canva, editor textos como Word e GoogleDocs. Outro aplicativo essencial onde são disponibilizados materiais é o Google Classroom. É por meio dele que tenho acesso a todas as disciplinas e conteúdos que os professores passam nas aulas.

Quando estou em Tempo Comunidade (TC), uso muito o Word e o GoogleDocs para a realização de trabalhos. No passado, Google Classroom era menos utilizado por mim, mas no Tempo Universidade (TU), percebi que ele é muito eficiente, pois durante todas as semanas precisamos ter acesso aos arquivos em PDFs, orientações, vídeos e outros materiais expostos em algumas disciplinas.

É muito importante vermos como tudo se atualiza e como essas tecnologias avançam; devido a isso, algumas práticas e costumes vão sendo deixados para trás e sendo substituídos. Antes, muitas vezes, na minha comunidade, quando precisava dar um recado a alguém, era necessário deslocar-se até a residência dessa pessoa. Com a chegada do celular, nem sempre é preciso se deslocar.

O celular é muito eficiente também para realizar transações financeiras, pois nele é possível instalar aplicativos bancários evitando a necessidade de ir até às agências físicas, muitas vezes distantes para nós, moradores de zonas rurais. Antes , eu gostava de anotar muitas coisas no caderno, como datas importantes, tarefas da semana, ou contatos pessoais para futuras ligações. Com as novas tecnologias, todas essas informações são diretamente anotadas no celular.

Outro exemplo de mudança tecnológica na minha vida são as fotografias. Em casa, tínhamos alguns álbuns fotográficos que eu adorava ver. Desde que o celular chegou à minha vida, raramente olho aquelas imagens, pois utilizo muito o aparelho para fotografar e ver outras imagens que páginas e sites mostram diariamente. Com isso, os álbuns de fotos analógicas perderam um pouco a essência.

É notório que as tecnologias continuarão a avançar e, com isso, muitas práticas deixarão de existir devido a esses novos usos e interações com os novos meios tecnológicos. Essas mudanças podem variar de uma geração para outra. Percebo que meus pais, por terem vindo de uma infância onde tiveram que trocar os estudos pelo trabalho, têm uma relação diferente com esses meios digitais. Minha mãe, por exemplo, usa um celular apenas para ligações, devido ao desconhecimento sobre como utilizar outras funcionalidades da ferramenta.

Muitas vezes, ela precisa que resolvam para ela alguns problemas considerados básicos no aparelho. Pessoas que não tiveram muitas oportunidades para conhecer um celular têm muita dificuldade, optando por dispositivos mais simples por acharem os dispositivos complexos e desafiadores de utilizar.

Um grande exemplo das diferenças dessas gerações é meu sobrinho de apenas 4 anos, que utiliza o YouTube para pesquisar desenhos infantis. É relevante observar como ele conhece o aplicativo de vídeo e filmes e como faz para acessá-lo. Mesmo não sabendo escrever ainda, ele descobriu que no aplicativo há um botão que, ao falar, o conteúdo aparece.

Lembro-me de um dia em que disse a ele que não daria para assistir aos desenhos porque não tinha Wi-Fi. Desde então, ele solicita o “Wi-Fi” quando percebe que o aplicativo não está funcionando. Ou seja, mesmo não sabendo exatamente o que é o Wi-Fi, ele sabe que precisava da tecnologia.

Mesmo as tecnologias digitais tendo entrado na minha vida de maneira tardia, sempre me interessei. Só fui ter o primeiro celular quando entrei na faculdade, mas desde então sempre busquei saber mais sobre o que podem nos proporcionar. Tenho orgulho de, mesmo diante de algumas dificuldades, nunca ter deixado de buscar conhecimento.

Gostaria muito de conseguir promover uma página relacionada à cultura da minha comunidade na internet, seja por YouTube ou Instagram, tendo em vista que minha comunidade é bastante conhecida no município e região pelos elementos que a carregam.

É muito interessante estar ligada a esse meio digital, conhecer notícias novas a cada hora, informações e dicas sobre a vida e sobre o mundo. Porém, não podemos deixar de esclarecer que as tecnologias também têm seus malefícios, que podem impactar a saúde, as relações sociais e o bem-estar geral, como a dependência, o vício, a influência das fake news etc.

Um dos principais problemas que recordo de ter tido no início do uso das minhas redes sociais, que considero como experiência negativa, foi a falta de concentração devido a estar muito ligada ao uso do celular. Isso me atrapalhou na realização de alguns trabalhos quando estudava online.

Se tiver oportunidades na área, seria interessante levar para salas de aula algumas tecnologias digitais de uso comum, como data shows, slides, atividades em formulários, apresentações feitas com vídeos, sites, entre outros. Essas tecnologias podem tornar o ensino mais dinâmico e interativo.

Jornada tecnológica: da infância ao ensino contemporâneo

Jornada tecnológica: da infância ao ensino contemporâneo
Jane Beatriz Fernandes é acadêmica do curso Licenciatura em Educação do Campo (LEC), da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM). Jane é de Veredinha, Minas Gerais.

Meu primeiro contato com alguma tecnologia digital ocorreu em 2008, quando meus avós receberam um telefone fixo dos filhos que moravam em Belo Horizonte. Esse aparelho foi usado para falicitar a comunicação entre parentes de outras cidades e nossa família em Veredinha. Meu pai trabalhava fora, em outra cidade, e ligava para meus avós, minha mãe e para mim. Uma vez por dia, ele telefonava para nós através de um orelhão perto da casa que ele morava.

Minha mãe explicou que aqueles telefones eram um meio de comunicação à distância para que pudéssemos sentir meu pai próximo de nós. Naquela época, eu achava o telefone muito importante e diferente pois, além da comunicação oral, o outro meio que eu conhecia era através de cartas, que eu sempre fazia muitas para meu pai. Foi uma grande novidade para mim, durante a infância, um meio de comunicação imediato como a ligação por telefone.

Em 2010, minha mãe ganhou do meu pai um celular conhecido como “Nokia tijolão”, já que estava em outra cidade. Esse celular não possuía internet, sendo utilizado apenas para ligações. Aprendi não apenas a fazer ligações, mas também a enviar mensagens de texto. Com o passar do tempo, minha mãe ganhou outro telefone da marca Nokia, e o antigo ficou para mim. Comecei a utilizá-lo para conversar com familiares e amigos que também possuíam telefones.

Minhas interações com as tecnologias sempre foram positivas e moderadas. Minha mãe permitia que eu assistisse TV um pouco antes da aula e após chegar em casa, mas nunca antes de dormir para não prejudicar o sono. Durante minhas visitas à casa dos meus avós paternos, eles costumavam sintonizar a missa pelo rádio, enquanto os avós maternos preferiam ouvir modas de viola. Minha mãe considerava muito importante entender e saber usar os recursos tecnológicos que estavam sempre surgindo.

Aos doze anos de idade, ela me matriculou em um curso de informática para aprofundar o pouco que eu já sabia, pois eu mexia em um computador na casa de minha tia, que fazia licenciatura em Letras. Ela utilizava o computador para pesquisas, realização de trabalhos e atividades do seu curso. Aos treze, tive minha primeira rede social, o Orkut, uma febre na época, onde postava fotos, frases de músicas e sobre o cotidiano. 

Além do Orkut, criei uma conta no Facebook com ajuda de uma tia minha que morava em Curitiba, uma cidade no Paraná, e havia se mudado para minha cidade, introduzindo essa nova forma de comunicação para mim e minha família.

Em 2014, criei uma conta no Instagram para compartilhar fotos de momentos importantes. Além disso, baixei o WhatsApp no telefone e deixei de utilizar mensagens de texto por SMS, passando a enviar mensagens apenas pelo WhatsApp.

Minha mãe e minhas tias foram fundamentais para meu aprendizado com as tecnologias digitais, pois acreditavam que dominar esses avanços seria positivo para minha vida. Atualmente, uso frequentemente o WhatsApp e o Instagram para me comunicar virtualmente e compartilhar fotos e conteúdos de meu interesse. Para acompanhar as notícias diárias, acesso o site “g1.globo.com”.

Há diferenças no meu uso diário da tecnologia nas áreas acadêmica, profissional e pessoal. Normalmente faço uma distribuição de tarefas por horários para ter controle e organização, evitando o uso excessivo. Tenho participação ativa em redes sociais, compartilhando fotos e postagens que despertam meu interesse.

Contribuo com uma página do Instagram chamada “Girassol dos Vales”, que compartilha informações, trabalhos, cotidiano e vivências dos estudantes de Licenciatura em Educação do Campo. Nessa página, administro todas as postagens para alcançar o público desejado: futuros discentes e docentes interessados na licenciatura, ensino de alternância e na educação do campo. No WhatsApp, faço parte de grupos de troca de roupas, móveis, eletrônicos, entre outros, além de grupos familiares para facilitar a comunicação e grupos de interação do curso que estou cursando.

Antes do tempo universidade (TU), em minha comunidade, eu costumava acordar e acessar minhas redes sociais e e-mails, que traziam informações da universidade. Utilizava meu notebook para revisar trabalhos que seriam publicados antes do almoço. Por volta das 14:00 horas, reservava um tempo para assistir filmes ou séries na plataforma Netflix e, antes de anoitecer, registrava o que tinha sido feito no dia, como notas, trabalhos e provas dos estudantes que eu era professora, utilizando o diário online da escola.

Como futura educadora, pretendo utilizar, no atual cenário da educação contemporânea, tecnologias digitais que desempenhem papel de transformação e modernização do ensino. Hoje em dia, professores no geral, estão integrando ferramentas digitais em suas práticas pedagógicas para melhorar a eficiência do ensino, aumentar o engajamento dos alunos e facilitar a gestão de atividades educacionais.

Plataformas como o Google Meet ajudariam os estudantes a realizarem encontros virtuais para trabalhos e atividades coletivas, especialmente considerando o contexto do campo, que dificulta encontros presenciais.

Aplicativos de avaliação como o Quizlet e o Socrative seriam usadas para criar quizes interativos e avaliações formativas, oferecendo feedback imediato aos alunos para ajudá-los a identificar áreas de dificuldade e monitorar seu progresso. Recursos multimídia, como os do YouTube, poderiam aprimorar as aulas e facilitar a compreensão de tópicos complexos.

O uso das tecnologias para estudo, conversas, compras, entre outros, mudou completamente minhas práticas sociais, migrando todas as atividades diárias para as funções que o telefone oferece, como estudar, realizar pesquisas em artigos, tirar dúvidas com o Google e assistir a vídeos para compreender melhor os temas das disciplinas.

Pretendo criar um site ou uma página de publicações para estudantes e docentes, abordando temas diversos como sequências didáticas, histórias da comunidade onde moro, mestres de saberes e literatura local, por exemplo.

É claramente perceptível a diferença de usos entre culturas, amigos, familiares e comunidades, bem como entre diferentes gêneros e idades, devido aos recursos tecnológicos disponíveis para cada pessoa, à forma como acessam esses meios e à maneira como os utilizam. Meus sentimentos em relação às novas tecnologias são positivos, desde que saibamos utilizá-las de forma eficaz e crítica.

Na realização de trabalhos, o uso da Inteligência Artificial (IA), por exemplo, pode ser uma fonte de ideias valiosas, mas deve ser utilizada com sabedoria, pois absorve todo o conteúdo disponível na internet sem necessariamente considerar a qualidade das fontes. Fontes confiáveis como artigos, livros e revistas são essenciais para garantir credibilidade e evitar o risco de plágio.

Como futura educadora, planejo integrar essas tecnologias ao meu ensino, utilizando plataformas digitais para facilitar a aprendizagem, promover o engajamento dos alunos e tornar o processo educacional mais dinâmico e eficiente.

No âmbito pessoal, o episódio “Queda Livre” de Black Mirror me fez refletir sobre como as redes sociais, muitas vezes, nos levam a buscar validação através de uma vida perfeita. Assim como no episódio, onde as pessoas filtram apenas as partes positivas de suas vidas para obter aprovação digital, nas redes sociais modernas há uma tendência similar de exibir uma vida perfeita sem problemas.

Durante minha adolescência, eu me via comparando-me com outras pessoas , como suas viagens e experiências aparentemente extraordinárias, o que às vezes, me fazia sentir inadequada, com minha vida simples de estudante e “low profile” nas redes sociais. Com o tempo, percebi que as redes sociais eram um reflexo selecionado de algumas partes da vida real, onde as pessoas compartilham o que querem mostrar, muitas vezes buscando apenas engajamento, likes e aprovações.

Mudei e comecei a entender que é fundamental não me deixar influenciar demais pela comparação constante. Cada pessoa tem uma vida, cada pessoa tem uma maneira de lidar com a tecnologia diferente, sejam mais engajados ou não. Assim, tanto “Queda Livre” quanto minha experiência pessoal, destacam-se a importância de uma abordagem equilibrada ao utilizar as redes sociais, valorizando como hoje em dia as conexões reais e verdadeiras, não idealizadas, e mantendo uma perspectiva realista sobre a vida de cada um.

Recomendo o episódio ‘Queda Livre’ da série Black Mirror para uma reflexão sobre como as redes sociais moldam nossa busca por aprovação digital, mostrando tanto seu lado positivo quanto as armadilhas da comparação constante.

Explorando o mundo tecnológico: minha primeira experiência

Explorando o mundo tecnológico: minha primeira experiência
Gessica Gomes de Almeida é acadêmica do curso Licenciatura em Educação do Campo (LEC), da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM). Gessica é do município de Cristália/MG.

Meu primeiro contato com alguma tecnologia digital foi em casa, quando meus pais me deram meu primeiro celular. Foi uma época de muita curiosidade e empolgação. Lembro-me como se fosse ontem quando o liguei pela primeira vez. A tela preta se transformou em um ambiente cheio de ícones e possibilidades. Foi mágico e um pouco confuso, mas a sensação de descoberta e novidade foi incrível.

No passado, costumava mandar SMS, pois não tinha dinheiro para colocar crédito, e jogava o joguinho da cobra. Com o tempo, essa atividade foi diminuindo até que se tornou algo que eu não faço mais. Lembro-me vividamente da primeira vez que baixei o Facebook. Foi uma colega minha que me ajudou, mas ela sabia minha senha e ficava acessando o meu Facebook, aceitando as pessoas sem me perguntar. Depois fui pegando a prática e aprendi a trocar a senha. Com o passar do tempo, eu baixei o WhatsApp. Foi incrível, na minha casa só eu tinha WhatsApp. Enviar minha primeira mensagem pelo “Zap” fez sentir como se tivesse o mundo ao alcance dos meus dedos. Entrar pela primeira vez no Facebook foi um pouco invasivo, mas também empolgante.

Minha família e amigos foram essenciais no meu processo de aprendizagem com as tecnologias digitais. Eles me ajudaram a superar desafios, entender novos conceitos e explorar todo o potencial que a tecnologia tem a oferecer. Uma coisa que mais gostava de fazer era passar trotes nas pessoas; na escola, era a melhor parte do dia, eu me divertia muito.

As páginas web, redes sociais e perfis que mais visito variam de acordo com meus interesses e necessidades. No entanto, algumas plataformas comuns que mais visito incluem redes sociais como Facebook, Instagram e WhatsApp. A escolha das páginas visitadas geralmente reflete meus interesses pessoais e profissionais. A única rede em que tenho contribuição é uma página no Instagram do nosso núcleo de alternância de Cristália, onde postamos tudo o que fazemos na prática de ensino.

Há diferenças significativas no uso diário de tecnologia em diferentes áreas da minha vida, como estudantil, profissional e atividade religiosa. Por exemplo, como estudante, a tecnologia é frequentemente utilizada para pesquisas, comunicação e produção de algum material. No ambiente profissional, a tecnologia desempenha um papel crucial em termos de comunicação, colaboração e produtividade.

Em atividades religiosas, a tecnologia que eu uso atende às necessidades da igreja, especialmente na comunicação. Cada área tem suas próprias necessidades no uso da tecnologia, adaptadas para cada momento em que preciso usar a tecnologia.

Minha participação em redes sociais envolve comentários, grupos de debates de colegas da faculdade. Eu não sou de postar comentários em notícias ou anúncios, mas às vezes curto a foto de alguma pessoa e até mesmo posto alguma foto de vez em quando. Gosto muito de compartilhar reels com minhas amigas e vídeos engraçados. Sou viciada em salvar figurinhas e compartilho com amigos e família. Lembro-me de que minha primeira Prática de Ensino foi em aulas virtuais, devido à pandemia. No primeiro momento, por falta de aceso, não pude me juntar com os professores e colegas.

Posteriormente, pude participar das tarefas que resultariam em um podcast. Foi uma experiência incrível e ao mesmo tempo desafiadora, pois não tinha noção de como fazer aquilo. Então procurei ajuda em uma rede social, o YouTube, onde pesquisei como fazer, qual aplicativo baixar, foi aí que deu tudo certo graças a Deus.

Na comunidade, as únicas tecnologias digitais a que tive acesso são meu celular e a televisão. Considerando um dia comum, como o domingo, dia 14/07/2024, a única tecnologia digital que tive acesso foi meu celular. A primeira coisa que fiz ao acordar foi mandar mensagem para minha mãe para ver como ela estava. Mais tarde, usei um editor de texto para fazer um trabalho da faculdade.

As novas tecnologias podem ser utilizadas para estudar, fazer compras online, entre outros. Eu acesso muito a Shein e o Mercado Livre para compras. A tecnologia digital transformou nossa maneira de comprar e interagir. As práticas sociais mudaram muito em função das tecnologias. Lembro-me que eu anotava meus contatos em uma caderneta, sem contar as receitas que eu tinha em um caderno de receitas. Hoje, com o uso da tecnologia, uso agenda digital e busco na Web o que eu quero fazer para comer.

No futuro, pretendo utilizar tecnologias digitais para aprimorar o aprendizado, explorar ainda mais recursos online para aprimorar meus conhecimentos e habilidades em diferentes áreas. As diferenças no uso de tecnologia entre gerações mais velhas e mais novas são significativas e influenciam diversos aspectos da vida cotidiana.

As pessoas mais velhas, como meu pai e meus avós, não tiveram acesso às tecnologias como temos hoje. Minha mãe aprendeu depois de velha a mexer no WhatsApp, que usa para mandar áudio para seus filhos e amigos, já que ela não tem nenhum estudo. Achei bem legal quando ela aprendeu a acessar o WhatsApp, algo que para ela foi muito inovador.

Por outro lado, as gerações mais novas estão imersas em um ambiente tecnológico em constante evolução. Com isso ,tem origem em uma nova cultura, a chamada cibercultura, na qual é possível estar conectado o tempo todo. Meus sentimentos em relação às novas tecnologias são positivos, pois elas têm o potencial de facilitar a comunicação e promover a inovação em diversos setores. A tecnologia digital abre portas.

As experiências mais positivas com as novas tecnologias incluem a melhoria da eficiência, a facilitação da comunicação e a inovação em diversos setores. Por outro lado, as experiências negativas podem estar relacionadas à falta de segurança, barreiras de acessibilidade e problemas de experiência para a maioria das pessoas.

Como professora, eu usaria e incentivaria o uso de tecnologias digitais para aprimorar o processo educativo, promover a participação ativa dos alunos e prepará-los para o mundo moderno. Para encerrar, deixo a indicação de um filem que gosto muito, X-Men, que pode ser assistido por todas as gerações e aborda temas como acessibilidade, diversidade e coexistência.

Conectada desde a infância: como a tecnologia digital moldou minha vida

Conectada desde a infância: como a tecnologia digital moldou minha vida
Gabriela dos Santos Cardoso é acadêmica do curso Licenciatura em Educação do Campo (LEC), da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM). Gabriela é da Comunidade Quilombola do Paiol, município de Cristália/MG.

Meu primeiro contato com alguma tecnologia digital foi aos 11 anos. Minha mãe me presenteou com um celular Samsung com tema da Barbie e esse dispositivo não apenas facilitou a comunicação por ligação com ela, mas também marcou meu início no mundo digital. Além disso, ganhei um tablet para meu entretenimento, o que era muito útil, especialmente porque eu passava grande parte do tempo em casa sozinha enquanto minha mãe trabalhava.

Durante minha pré-adolescência e adolescência, esses aparelhos se tornaram ferramentas essenciais para mim. Eu os utilizava para realizar atividades escolares, como pesquisas para as tarefas de casa, além de me divertir com jogos online e assistir a vídeos no YouTube.

Atualmente, meu uso de tecnologias digitais expandiu-se significativamente. Uso-a diariamente para acessar notícias atualizadas, realizar pesquisas acadêmicas e concluir meus trabalhos do curso. Essas ferramentas digitais são muito importantes para me manter informada e também para a comunicação com minha família e amigos. Estou sempre atualizada sobre eventos que acontecem no mundo. As redes sociais que mais frequento são WhatsApp, Instagram e o X antes chamado de Twitter. No entanto, minha participação é principalmente como observadora nessas redes, preferindo manter um perfil mais discreto ou como chama nas redes sociais um perfil “Low profile”.

Acompanhando um dia da minha vida, utilizo a tecnologia digital desde o momento em que acordo pela manhã até a hora de dormir à noite. Sempre estou conectada e com meu celular em mãos. Pela manhã, enquanto tomo meu café, navego pelos sites para ver as últimas notícias do mundo e as fofocas que estão circulando. Durante o dia, continuo mexendo e entrando em redes sociais como WhatsApp, Instagram e outras. À noite, gosto de assistir a séries ou filmes na Netflix ou em outras plataformas.

Quando penso no futuro, tenho a intenção de continuar explorando novas tecnologias que possam aprimorar minha produtividade e adquirir novas habilidades. Quero aprender novas plataformas e ferramentas que facilitem ainda mais minha vida acadêmica, profissional e também proporcionem diversão e entretenimento nos momentos de lazer.

Observo diferenças significativas na forma como diferentes gerações em minha família e entre meus amigos utilizam a tecnologia. Por exemplo, meus avós usam tecnologia de maneira mais básica, limitando-se a fazer ligações, assistir TV e ver vídeos enviados em grupos ou por meio de aplicativos como TikTok e Kwai. Já os mais jovens, como meus amigos e colegas da faculdade, estão constantemente com seus celulares, não apenas para comunicação, mas também para aprender, pesquisar e se divertir. Eles postam fotos, interagem, comentam e curtem publicações.

Quando tenho algum trabalho acadêmico para fazer, reduzo o tempo nas redes sociais e foco em visitar sites com artigos, livros e documentos que me ajudem na realização das tarefas. Busco referências bibliográficas e assisto a vídeos online sobre o assunto. Durante o Tempo Universidade (TU) do curso da LEC (Licenciatura em Educação do Campo), utilizo bastante as tecnologias digitais e suas ferramentas para realizar atividades, trabalhos e apresentações em formato de seminários. Para criar slides de apoio nas apresentações, gosto de usar o aplicativo chamado Canva, que facilita muito o processo.

Minha jornada com as tecnologias digitais não apenas facilitou minha comunicação desde a pré-adolescência, mas também moldou minha percepção sobre elas desde cedo. A habilidade de acessar informações com um clique é incrível. No entanto, ao entrar na graduação, percebi que ainda tinha muito a aprender sobre ferramentas digitais específicas. Por exemplo, precisei aprimorar minhas habilidades para editar e trabalhar com planilhas no Excel. Sempre há algo novo para aprender com as novas tecnologias digitais.

Além das diferenças de idade, percebo que cada cultura utiliza a tecnologia de maneira distinta. Por exemplo, minha família que mora no interior de São Paulo tem hábitos diferentes dos meus familiares aqui em Minas Gerais. Em São Paulo, a tecnologia faz parte do dia a dia deles, sendo mais amplamente utilizada do que aqui em MG, onde vejo que é empregada de forma mais prática. Além disso, as diferenças de idade e gênero também influenciam bastante, com cada grupo preferindo certos tipos de aplicativos e plataformas.

Eu me sinto muito positiva em relação às novas tecnologias porque elas fazem uma diferença enorme na minha vida. Desde o primeiro celular que eu tive até as ferramentas que uso para estudar hoje em dia, elas facilitam minha comunicação, me mantém informada sobre tudo e ajudam muito na minha produtividade. Mas também reconheço que é um desafio ficar sempre atualizada com tantas mudanças e aprender novas coisas o tempo todo.

As minhas experiências positivas incluem o fácil acesso a informações e materiais educativos online, que são ótimos para aprender e na realização dos meus trabalhos acadêmicos. No entanto, às vezes as tecnologias podem causar problemas, como passar tempo demais online e esquecer de viver a vida fora das telas ou até mesmo desaprender a ler um livro físico. Também é importante lidar com conteúdos negativos que podem aparecer em redes sociais para aqueles que gostam de postar ativamente.

Como futura educadora do campo, vejo muitas oportunidades nas tecnologias digitais para transformar a forma como ensinamos. Pretendo usar plataformas online para compartilhar materiais, adaptando-os à realidade da escola e dos estudantes. Além disso, ensinar habilidades digitais importantes para o mundo atual é essencial, levando os multiletramentos para os alunos.

Os gêneros textuais são fundamentais no ensino de Linguagens, são dinâmicos e refletem as mudanças na sociedade e na tecnologia. Os tipos de textos que ensinamos, como cartas ou notícias, mudam ao longo do tempo. Por isso, é essencial não só ensinar os tipos tradicionais, mas também preparar os alunos para novos tipos de textos que surgem com a tecnologia. Isso inclui aprender a escrever e analisar sites e redes sociais. Essas práticas e atividades ajudarão a melhorar o uso e a escrita dos alunos nas tecnologias digitais.

As tecnologias digitais têm transformado significativamente minha vida, não apenas facilitando o acesso à informação, melhorando meus estudos e comunicação, mas também impactando aspectos emocionais e espirituais. Os filmes sempre desempenharam um papel importante para mim, seja como entretenimento ou fonte de reflexão profunda. Um filme que marcou positivamente minha jornada foi “As Aventuras de Pi”, pois me fez refletir profundamente sobre a vida e a fé.

As Aventuras de Pi” é uma obra que mergulha profundamente na jornada espiritual e emocional de seu protagonista, Pi Patel. Perdido no mar em um bote salva-vidas com um tigre de Bengala, Pi enfrenta desafios que testam não apenas sua sobrevivência física, mas também sua fé. A narrativa habilmente entrelaça elementos de diferentes religiões, destacando como a fé pode ser uma fonte de força e esperança inabalável, mesmo diante das circunstâncias mais extremas.

A fusão de efeitos visuais avançados com a narrativa envolvente de Yann Martel criou um mundo cinematográfico que não apenas ilustra os desafios físicos de Pi, mas também visualiza suas jornadas espirituais e emocionais de uma maneira muito emocionante. Deixo aqui a indicação do filme.

Do Nokia ao notebook: minhas memórias com as tecnologias digitais

Do Nokia ao notebook: minhas memórias com as tecnologias digitais
Cláudia Cristina Ribeiro é acadêmica do curso Licenciatura em Educação do Campo (LEC), da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM). Cláudia é de São Gonçalo, município do Serro, Minas Gerais.

Meu primeiro contato com a tecnologia foi marcado por uma época de simplicidade. Aos 11 anos de idade, utilizava o celular da minha mãe, um Nokia sem internet, que foi a porta de entrada para o mundo digital. O famoso “Nokia tijolão”, possuía o clássico jogo da “cobrinha”, um jogo simples que me proporcionava momentos de diversão.

Antes da popularização das redes sociais, meus dias eram preenchidos por outras formas de entretenimento. Eu ouvia todos os dias a rádio que meus pais ligavam enquanto preparavam o café da manhã, que os mantinham informados sobre as notícias diárias e as músicas do momento. Assistia a televisão, aproveitando os desenhos animados e os filmes da “sessão da tarde”.

Em 2012, a inauguração de uma lan house em minha comunidade, São Gonçalo do Rio das Pedras, marcou o início de uma nova fase. Foi ali o meu primeiro contato com o computador, o mouse e a internet. As redes sociais, o Orkut, MSN, Google e YouTube, marcaram a vida dos jovens naquela época. Eu me conectava com amigos, divulgava mensagens motivacionais, assistia videoclipes e acessava jogos. Meus amigos, que já dominavam a tecnologia, me auxiliaram no processo de manusear as redes sociais. Com o passar dos anos, minhas prioridades mudaram, e meu interesse por essas atividades diminuiu, enquanto outros interesses surgiram.

Ao completar 14 anos, ganhei meu primeiro celular, um presente de aniversário do meu padrinho. Em 2015, minha mãe me presenteou com um notebook, uma ferramenta que, embora eu não soubesse usar completamente no início, se tornou fundamental para assistir a filmes, ouvir músicas, fazer pesquisas e mergulhar ainda mais no universo digital.

Com o tempo muita coisa mudou e, hoje em dia, estou mais conectada à era digital; a tecnologia me acompanha desde a infância e continua presente na minha vida adulta. Por meio da tecnologia, acesso informações do dia a dia, mantenho comunicações, trabalho e estudo. Prefiro usar o WhatsApp para diálogos mais informais e os e-mails para manter-me conectada no trabalho e nos estudos.

Nas redes sociais, mantenho uma participação ativa, integrando grupos de WhatsApp dedicados a vendas, divulgação de notícias e informativos. Promovo votações em petições e, quando considero apropriado, faço comentários em publicações, especialmente quando acredito que minha opinião possa oferecer uma contribuição significativa.

Atualmente, a tecnologia é uma ferramenta essencial para a produção de trabalhos acadêmicos na minha graduação em Licenciatura em Educação do Campo (LEC). Utilizo-a para criar vídeos, podcasts, redigir trabalhos e participar de práticas de ensino e de outros projetos, como o Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID).

Na minha comunidade, um dia antes de vir ao TU – Tempo Universidade, estive em contato com a tecnologia em diversos momentos. Pela manhã, ao despertar, verifiquei as mensagens no celular e consultei meu horóscopo. Também chequei à caixa de e-mails, aguardando alguma informação nova sobre o TU. No trabalho, nesse mesmo dia, finalizei o fechamento do bimestre das turmas na escola em que atuo como professora, lançando as notas e editando documentos. Acessei o Instagram como parte da minha rotina diária para descontrair.

Além das diversas maneiras pelas quais utilizo a tecnologia, pretendo empregá-la para criar conteúdos educativos, pois estou me formando para trabalhar como docente. Tenho a intenção de produzir canais de revisão de textos e criar questões para vestibulares, visando ampliar o conhecimento na área. Também planejo contextualizar as aulas de Língua Portuguesa com o uso prático das tecnologias digitais, integrando-as na sala de aula. Em um século em que a tecnologia está cada vez mais presente no cotidiano das pessoas, é essencial que ela também faça parte do contexto escolar.

Assim, observo que a geração de pessoas mais idosas, muitas vezes, é menos familiarizada com as tecnologias digitais e, frequentemente, enfrentam dificuldades para manuseá-las de forma correta. Isso leva muitas dessas pessoas a optarem por métodos mais tradicionais, que consideram mais eficazes dentro de suas visões de mundo.

Entretanto, a geração mais nova, ao contrário dos idosos, é mais adepta das tecnologias digitais e a utiliza de forma natural, devido à sua maior abertura às novas ideias e mudanças. As crianças, que já nascem em um ambiente digital, se adaptam e se relacionam com facilidade com as tecnologias.

Em relação às tecnologias utilizadas no tempo da comunidade, houve mudanças notáveis no período do Tempo Universidade. Na minha comunidade, acessava diariamente o DED – Diário Escolar Digital, pois a ocupação principal era com o trabalho e os estudos acadêmicos. Atualmente, com o período de aulas presenciais, meu contato com as tecnologias se ampliou para incluir ferramentas como Google Classroom e Google Docs.

Com o passar do tempo, algumas práticas sociais mudaram em função da tecnologia. Nos meus estudos anteriores, tinha preferência por utilizar cadernos e livros físicos. Também produzia listas de compras de forma manual, uma vez que, na época, o acesso às tecnologias digitais era limitado.

Posteriormente, passei a me adaptar às tecnologias digitais e tenho utilizado o celular e o notebook para diversas atividades, como produzir trabalhos acadêmicos, realizar tarefas profissionais, criar listas telefônicas, agendar encontros, promover conversas e acessar aplicativos. O Google Maps, por exemplo, tornou-se uma ferramenta essencial para localizar e me orientar em diferentes lugares. Além disso, as compras online tornaram-se uma prática corriqueira, permitindo-me adquirir produtos sem sair de casa e frequentemente a preços mais justos. Essa percepção indica que as culturas também influenciam a forma como as pessoas lidam com as tecnologias digitais.

Em alguns lugares, as novas tecnologias são usadas predominantemente como meio de comunicação, enquanto em outros são utilizadas principalmente para fins profissionais. Embora a diferença de gênero não tenha um impacto significativo no uso das tecnologias digitais, as diferenças etárias têm uma influência considerável na maneira como as pessoas interagem com essas ferramentas.

Reconhecendo a facilidade com que as gerações mais novas se adaptam às tecnologias digitais, como futura docente, pretendo utilizar essas ferramentas de maneira estratégica e inovadora no processo de ensino. Incorporar tecnologias para gerenciar atividades, plataformas de criação de conteúdo digital e interativos para manter contato com estudantes e enriquecer a experiência educacional.

Com as tecnologias, somos capazes de proporcionar experiências cinematográficas ricas e imersivas, explorando uma vasta gama de filmes e vídeos que têm um impacto significativo em nossa educação.

As tecnologias não apenas nos permitem assistir e a participar de histórias inspiradoras, mas também nos capacita a explorar profundamente seus temas, universais ou locais, como perseverança, autodescoberta e superação de obstáculos.

Nesse contexto, gostaria de indicar um filme que marcou minha infância escolar: “Prova de Fogo: Uma História de Vida”. Este filme emocionante narra a jornada de Akeelah, uma jovem de 11 anos com um talento excepcional para soletrar, enfrentando desafios pessoais e sociais enquanto se prepara para um concurso de soletração.

Entre fitas e cliques: minha jornada com as tecnologias digitais

Entre fitas e cliques: minha jornada com as tecnologias digitais
Adylla Santos Baldaia é acadêmica do curso Licenciatura em Educação do Campo (LEC), da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM). Adylla vive na Comunidade Quilombola do Paiol, no município de Cristália/MG.

Minha jornada com as tecnologias começou de maneira bastante simples e nostálgica. Quando eu ainda era criança, meu primeiro contato com tecnologia aconteceu através de uma caixa de som antiga que meu pai tinha em casa. Essa caixa de som funcionava com fitas e discos , e meu pai tinha uma vasta coleção de músicas de diversos cantores. Eu passava horas ouvindo músicas do Luan Santana, explorando diferentes sons e estilos musicais. A caixa de som se tornou uma espécie de portal para mim, despertando um interesse precoce pelo mundo da tecnologia.

Antes de me envolver com tecnologias digitais, minhas interações eram principalmente com tecnologias analógicas. Na nossa casa, o rádio e a televisão eram as principais fontes de entretenimento e informação. Lembro-me de sentar com minha família para ouvir programas de rádio e assistir a novelas e noticiários na TV.

Em 2015, tive meu segundo contato significativo com a tecnologia digital quando minha irmã mais velha criou um perfil no Facebook para mim e me deixava mexer no celular dela. Essa experiência foi um marco na minha vida digital. Lembro-me com clareza do momento em que enviei minha primeira mensagem pelo celular, entrei no Facebook e fiz uma busca na Wikipédia. Cada uma dessas experiências foi marcante e abriu novas possibilidades para mim no mundo digital.

Minha irmã mais velha foi uma figura fundamental no meu processo de aprendizagem com tecnologias digitais. Ela não apenas criou meu perfil no Facebook, mas também me ensinou a usar o celular, a navegar na internet e a explorar as diferentes funcionalidades das redes sociais. Esse apoio inicial foi crucial para que eu me sentisse confiante e capaz de explorar o mundo digital por conta própria.

Atualmente, as plataformas sociais como Facebook, Instagram e WhatsApp são as mais frequentemente visitadas por mim. Uso essas redes para manter contato com amigos e familiares, acompanhar notícias e eventos, e participar de grupos de interesse. Além disso, contribuo ativamente com uma página no Instagram dedicada à minha comunidade, da qual sou integrante. Nesta página, compartilho regularmente fotos e vídeos que destacam aspectos culturais, eventos e histórias da nossa comunidade.

No último dia em minha comunidade antes de vir para a Universidade do Tempo Universitário (TU), utilizei principalmente o celular para comunicação e acesso às redes sociais. A televisão também fazia parte da rotina, fornecendo entretenimento e informações. Ontem, logo após acordar, a primeira tecnologia que usei foi o celular para verificar mensagens e atualizações nas redes sociais. Ao longo do dia, utilizei o computador para estudar e elaborar um slide no aplicativo Canva, e para acessar materiais didáticos online.

A transição do uso de tecnologias na comunidade para a TU foi significativa, pois o ambiente acadêmico exige um maior uso de ferramentas digitais para aprendizado e comunicação. Por exemplo, estudar agora envolve o uso de plataformas digitais e recursos online. Anotar telefones e fazer listas de papel foram substituídos por aplicativos de organização e notas. Marcar encontros e conversas também se tornaram mais fáceis e rápidas através de mensagens no WhatsApp e outras redes sociais.

Participei do PIBID (Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência), onde tive a oportunidade de trabalhar com vários mestres e mestras do saber. Durante esse período, produzi um vídeo sobre Dona Alvina, uma mestra produtora de esteiras de capa de bananeira. Para o vídeo, utilizei os aplicativos Caput e Canva. Busquei destacar a importância de preservar e valorizar os conhecimentos tradicionais, como os da Dona Alvina.

Embora eu já tenha explorado muitas possibilidades com tecnologias digitais, ainda pretendo expandir meu conhecimento e habilidades em áreas como programação, design gráfico e criação de conteúdo digital. Durante a minha trajetória, percebi diferenças significativas no uso de tecnologia entre gerações. As gerações mais velhas, como meus pais e avós, geralmente adotam uma abordagem mais limitada e cautelosa em relação às tecnologias digitais, enquanto as gerações mais novas, como meus irmãos e sobrinhos, estão mais integradas e são mais adeptas ao uso intensivo de dispositivos e redes sociais.

Tenho sentimentos predominantemente positivos em relação às novas tecnologias, pois oferecem inúmeras oportunidades de aprendizado, comunicação e entretenimento. No entanto, reconheço a necessidade de um uso consciente e equilibrado para evitar dependência e impactos negativos na saúde mental. As experiências mais positivas com tecnologias digitais incluem a facilidade de acesso à informação, a possibilidade de manter contato com pessoas distantes e a capacidade de aprender online. As experiências negativas envolvem a exposição a conteúdos prejudiciais, cyberbullying e perda de foco.

Como futura professora, pretendo integrar as tecnologias digitais de maneira significativa em minhas práticas pedagógicas. Ferramentas como plataformas de aprendizado online, aplicativos de organização e redes sociais educativas serão utilizadas para criar aulas mais dinâmicas e interativas, adaptadas às diferentes necessidades e estilos de aprendizagem dos alunos.

Acredito que essas ferramentas são fundamentais para enriquecer o processo de ensino e aprendizagem, estimulando a colaboração, a criatividade e o desenvolvimento de habilidades digitais essenciais para o século XXI.

Pra terminar, recomendo um filme que eu mais assistia com meus irmãos na minha infância, e juntos adorávamos as aventuras e mistérios vividos pelas protagonistas. Confira o filme H2O o filme no YouTube, uma produção australiana que acompanha a história de três adolescentes que se transformam em sereias ao entrarem em contato com a água.

Como tudo começou

Como tudo começou

Por Sunamita Nelma Ferreira Alves [1]

Ouça um trecho lido pela própria autora a seguir. O texto completo, em formato escrito, segue logo abaixo.

Meu primeiro contato com tecnologia digital foi no ano de 2016, quando ganhei um celular. Logo então comecei a usar WhatsApp, mas meu acesso é bastante limitado, pois me preocupo com a dependência que pode causar nas pessoas e por não ter muito tempo disponível. Os aplicativos que eu mais utilizo são YouTube, WhatsApp e e-mail, por serem aplicativos que ajudam a resolver várias coisas atualmente e por serem mais práticos. Com a chegada dessas novas tecnologias digitais, várias práticas foram alteradas, desde uma simples conversa até resolver problemas como pagar boletos sem idas a bancos, fazer compras etc.

Com a chegada dessas novas tecnologias digitais, várias práticas foram alteradas, desde uma simples conversa até resolver problemas como pagar boletos sem idas a bancos, fazer compras etc. A geração mais velha tem mais dificuldades com o acesso às novas tecnologias, enquanto as crianças manuseiam os aparelhos com muita facilidade e, mesmo antes de saberem ler, já possuem grandes avanços em seus letramentos digitais. Além disso, o uso da linguagem é diferente, com fenômenos como o uso do português com muitas abreviações.

Muitas pessoas, principalmente crianças e jovens, usam o celular sem controle, de forma prejudicial à saúde. Se tirarmos os celulares dos adolescentes hoje, a maioria fica doente. Não sabemos que mal isso pode trazer para as novas gerações, mas podemos dizer que os usos dessas ferramentas devem ser conscientes e críticos.

Na minha formação básica não existia ainda essas tecnologias de interação avançadas de hoje e as atividades eram sempre presenciais e com pesquisas em livros físicos. Mas vale ressaltar que quem está a par das tecnologias está um passo à frente, em contato com a boa informação, o que contribui bastante para nossa educação, visto que o acesso que era limitado em tempos passados, mas agora as informações estão mais acessíveis e de maneira gratuita e universal. Resta-nos usá-las adequadamente.

Na universidade o uso das tecnologias sempre foi desafiador, mas necessário para tarefas como entrega de trabalhos via Moodle, pesquisas on-line etc. Como um todo, foi difícil a adaptação já que no meu cotidiano não usava essas ferramentas. Inclusive já perdi trabalhos finalizados que não consegui enviar por problemas com as tecnologias.

O isolamento social causado pela pandemia do covid19 foi difícil e provavelmente todos tiveram que se apegar às tecnologias de interação e comunicação para que fosse possível conseguir acompanhar o ensino remoto, no meu caso, e até trabalhar. Essas metodologias foram uma inovação salvadora, por ser o único jeito de termos as aulas, ainda que com perda de qualidade no ensino e aprendizagem. No ensino presencial com certeza o aproveitamento é bem maior, porque em sala de aula é mais fácil nos concentrar.

Para os educadores, há vários sites relevantes para o ensino, mas pode ser um problema o professor usar o celular em sala de aula e conseguir voltar às atividades sem que alunos se dispersem em salas de bate-papo e outras. Apesar de facilitar vários processos, como no ensino, as tecnologias também acarretam uma série de coisas, mudanças como o distanciamento entre as pessoas.

No campo, o uso das tecnologias facilita bastante, visto que há ferramentas de comunicação e de informações que encurtam distâncias, proporcionam acesso a mercadorias e geram economias significativas, o que são grandes benefícios para a sociedade campesina. Infelizmente o acesso do sujeito do campo é limitado, o que podemos dizer que é uma exclusão digital. Isso é um ponto negativo que deve ser observado e corrigido.

[1] Sunamita Nelma Ferreira Alves é graduanda do curso Licenciatura em Educação do Campo (LEC), da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM).

Este trabalho foi orientado pelos professores Carlos Henrique Silva de Castro, Luiz Henrique Magnani e Mauricio Teixeira Mendes.

A inserção das tecnologias em minha vida

A inserção das tecnologias em minha vida

Por Solidade Figueira [1]

Ouça um trecho lido pela própria autora a seguir. O texto completo, em formato escrito, segue logo abaixo.

Meu primeiro contato com as tecnologias digitais foi na escola, situação totalmente diferente e nova na época, visto que ainda não tinha conhecimento do uso de computadores e achava que qualquer manuseio errado poderia estragar aqueles aparelhos até então desconhecidos. Mas também foi um momento de entusiasmo. Uma das coisas que tenho quase certeza que a maioria fazia, e eu também fazia quando criei mais intimidade com a tecnologia, era ir a um laboratório de informática para explorar e jogar vários jogos que existiam e eram populares na época da escola. 

As redes sociais também já eram muito usadas. Recordo que quando aprendi a ligar e a desligar o computador e a usar o mouse, ia até uma lan house e pagava por hora para fazer uso. A partir desse contato com essas tecnologias comecei a ter mais conhecimento e experiência e, obviamente, a gostar da novidade.

Na escola, além dos professores que auxiliavam nas atividades didáticas, havia as amizades que ajudavam nos jogos e redes sociais. Até iniciei um curso de informática, o deslocamento da zona rural, onde eu morava, para a zona urbana me impediu de prosseguir com o curso.

Atualmente, faço mais uso das novas tecnologias e com maior sagacidade, pois tive condições de ter um celular e um notebook que me deixaram mais perto do mundo digital. Os equipamentos se tornaram imprescindíveis para o dia a dia, principalmente por causa dos estudos, das páginas de ensino que possuem diversas dicas de como atuar na área da educação, essas são as mais visitadas por mim. Sempre que tenho um tempo entre os afazeres diários, administro o tempo também para acessar páginas de entretenimento, como redes sociais, onde faço uso apenas pessoal. Posto muito sobre minha filha. Dessas redes sociais uso mais o Instagram e o WhatsApp.

Na minha rotina, geralmente uso o celular assim que acordo pela manhã, pois ele também é despertador. Aproveito enquanto desperto do sono para ver meus e-mails. Nas manhãs em que não estou na escola lecionando e estou cuidando de outras tarefas, volta e meia pego o celular para olhar mensagens ou entrar em redes sociais. Ao decorrer do dia e com as outras tarefas cumpridas, uso o notebook para realizar meus trabalhos acadêmicos e montar meus planos de aulas. Às vezes, durante a noite, acesso plataformas de filmes, séries e documentários. No dia de ontem, recordo que utilizei mais o celular, que hoje é um minicomputador e te oferece além do que dele se espera, para acessar minhas páginas de trabalho e estudo mesmo fora de casa. Assim é na maioria dos meus dias e minha relação com as tecnologias.

Em função da tecnologia, as práticas sociais que mudaram, de um modo geral, foram as conversas presenciais. Vejo que é raro o ato de ir até a casa, o trabalho ou outros ambientes ter um contato com outra pessoa. Além das visitas, cartas escritas a mão e mensageiros orais foram, de certa forma, substituídos por vídeos editados, vídeo chamadas, mensagens instantâneas. Por outro ponto de vista, as tecnologias facilitaram nossas vidas com, por exemplo, aplicativos que ajudam a evitar filas em banco, as consultas, reuniões, compras e outros, que demandavam um contato pessoal e deslocamento, que estão sendo feitas a distância, tudo em decorrência do avanço das tecnologias.

É notório que os avanços tecnológicos são grandes e trazem ferramentas de grande valia para evolução de muitas áreas no mundo, da saúde à comunicação, mas devemos ver seus impactos negativos. Na educação e como professora pretendo usar ferramentas que hoje são foco de interesse dos alunos, de forma contextualizada e que envolvam os alunos de maneira didática.

Na minha trajetória escolar, utilizava apenas computadores dos laboratórios de informática da escola. Os celulares ainda eram acessíveis apenas para as classes mais favorecidas. Nos dias atuais, ainda se utiliza muito desses laboratórios, mas os celulares também são bem utilizados. Na escola em que atuo só se pode utilizá-lo para fins pedagógicos e com permissão da diretoria.

Na universidade, o uso do celular e do computador é diário. O celular traz praticidade, pois permite acessar páginas, livros digitais e vídeoaulas em qualquer lugar, responder e-mails, acessar e armazenar documentos digitais de forma segura. O notebook dá mais conforto na realização de todas essas tarefas, pois dá maior visibilidade na leitura e evita forçar muito a visão, já que possui uma tela maior, e o teclado facilita a escrita.

Vale ressaltar que essas ferramentas auxiliaram muito na universidade na pandemia, pois nos ajudou a evitar o atraso matérias e atividades. Passamos a ter conhecimento de novas ferramentas de ensino que foram utilizadas no dia a dia e no contexto escolar, como o Google Meet, muito usado para reuniões de trabalho e aulas. Hoje na minha rotina sempre há espaços para uso do celular, pois através dele tenho acesso a todo momento a questões relacionadas ao meu estudo, ao meu trabalho e outras áreas também.

Em algumas comunidades do campo do meu município, com a chegada da rede de celular em algumas áreas, tenho presenciado muito o uso do celular, o que era raro. Algumas escolas, inclusive a estadual na qual atuo, têm internet em todos os computadores de forma que o acesso se tornou mais fácil para todos os usuários. As escolas municipais da minha cidade também contam com essas tecnologias, inclusive as escolas do campo que contam com roteadores de internet. Assim notamos que o avanço das tecnologias para fins pedagógicos foi grande, porém vale ressaltar que é necessário um plano específico para esse uso didático, consciente e, principalmente, eficiente destes recursos, tanto para a formação dos profissionais quanto dos alunos.

Quanto à minha atuação na sala de aula, como professora iniciando carreira, acredito que vou me deparar com inúmeras possibilidades com as tecnologias e dificuldades também. Usadas em vários momentos e tarefas reais da vida, no âmbito escolar não pode ser diferente e esse é um grande desafio. O ideal é que o professor tenha domínio sobre as ferramentas usadas pelos jovens, para trazê-las para o contexto educacional para que reflitam criticamente sobre esses usos. Incentivar um bom uso das tecnologias em atividades de conscientização é tarefa do professor e da escola.

[1] Solidade Figueira é graduanda do curso Licenciatura em Educação do Campo (LEC), da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM).

Este trabalho foi orientado pelos professores Carlos Henrique Silva de Castro, Luiz Henrique Magnani e Mauricio Teixeira Mendes.

Tecnologias e seus efeitos diários

Tecnologias e seus efeitos diários

Por Solange Pereira dos Santos [1]

Ouça um trecho lido pela própria autora a seguir. O texto completo, em formato escrito, segue logo abaixo.

Em meados dos anos 2000, a tecnologia mais avançada que tinha em casa era um som com controle remoto que tocava CDs.  . Usei muito som de CD, mas hoje uso caixa de som com conexão por bluetoothFoi no ano de 2014 a primeira vez que usei um mouse, enviei uma mensagem, fiz uma busca na Wikipédia. Foi nesse ano que me inscrevi no curso de informática básica no Telecentro da cidade de Caraí/MG. No curso, criei meu primeiro e-mail e uma página no Facebook.

Nesses meus processos de aprendizagem com e sobre as tecnologias, os colegas tiveram bastante importância, diferentemente da família que teve pouca participação. Hoje as tecnologias me permitem interagir com os movimentos sociais do Vale do Jequitinhonha e região, prestar serviços voluntários, de forma assídua em encontro virtuais ou presenciais, como na minha graduação na UFVJM, em palestras e outros cursos. As tecnologias se tornaram essenciais em minha caminhada após meu comprometimento com o curso em uma universidade pública de qualidade, sendo que eu fui a primeira da família a entrar em uma. Tudo aconteceu em um curto espaço de tempo, trazendo liberdade e possibilidades.

As páginas web que mais visito são Facebook, Instagram, Tik Tok, o blog regional do Jô Pinto (onde sou atualmente colunista), sites acadêmicos, páginas de jornais regionais. Dei minha parcela de contribuição no blog Encontro de Saberes – UFVJM com um registro do manejo de farinha de mandioca artesanal da Comunidade Cedro, município de Padre Paraíso/ MG. Também contribuí na página do Olhares do Campo, com uma publicação intitulada “Trajetória escolar de uma campesina”. No ano de 2021 realizei algumas lives do Museu de Araçuaí – linkando com uma participante na Alemanha com a qual continuo alimentando uma página no Facebook. No mesmo período apresentei artigo na Sintegra, edição de 2021, sobre trabalho orientado pelo professor Luiz Cláudio Nobre.

Há diferenças no uso diário de tecnologia em minha vida como estudante, profissional e ativista e costumo separar espaço para cada momento. No Instagram compartilho mais registros pessoais, já no Facebook estou adaptando-o para registros importantes de trabalhos ou divulgações de trabalhos de amigos. Também já fiz uploads de imagens e vídeos no Facebook e no status do WhatsApp. Pensando no uso de tecnologias no dia de ontem, por exemplo, comecei logo ao acordar. Ao longo do dia fiz visitas breves na página do blog do Jô Pinto, no WhatsApp, TikTok, Instagram e Facebook, algumas páginas de notícias regionais, assisti a um documentário etc.

Em função das novas tecnologias, mudei algumas práticas sociais como catalogar endereços de pessoas, fazer lives usando o StreamYard e o Facebook, marcar encontros pelo WhatsApp, estudar usando documentos digitais e vídeos, fazer trabalhos no Google Docs, fazer chamadas de vídeos, enviar e-mails, fazer compras online, digitalizar documentos, fazer cursos à distância etc. Ainda não tive oportunidade de assistir a um filme com óculos 3D, mas pretendo fazer em breve.

Vejo diferenças no uso de tecnologia entre as gerações mais novas e as gerações mais velhas. Normalmente, pais e avós de conhecidos ainda têm resistências para experimentar algo novo. Já os mais jovens, como adolescentes e crianças conhecidas e alunos, já ficam loucos para ter acesso a tecnologias e aparelhos de última geração.  Com o acesso que tenho, consigo identificar diferenças culturais entre amigos estrangeiros e diferentes gêneros textuais, pois o acesso a vários conteúdos me deu um leque de experiências com outras pessoas de outras etnias, além de estar por dentro dos perigos por trás da rede e dos vários gêneros textuais que traz.

Tenho vários sentimentos em relação às tecnologias, como insegurança, instabilidade, medo da exposição de meus dados, de tornar-me dependente e permanecer muito tempo conectada etc. As experiências positivas que tenho estão relacionadas a ter acesso a tudo em tempo hábil, de fazer vários cursos, reencontrar pessoas que a muito tempo não tinha contato, ouvir músicas ininterruptamente, assistir a filmes e séries. As negativas foram acessar notícias dos massacres nas escolas, feminicídios, vulnerabilidades das crianças nas redes com crescimento de pedofilia e uso de drogas. Além dessas notícias ruins, mas verdadeiras, há o perigo das fakes news usadas para manipulação e, massa, ameaças, controle de poder. E o mais novo dilema social é a deepfake, tecnologia que usa a chamada inteligência artificial para adulterar o movimento dos lábios e falsear falas, dentre outras coisas.

Como educadora e estudante, uso diariamente o Google Classroom, Google meet, Google drive, e-mail e WhatsApp. Como professora, usaria sites que exigem menos dados ou criaria um espaço como um Padlet semanal com temas diversos para trabalhar com os alunos, algo ainda a ser processado. Na minha formação educacional básica, não me lembro de fazer atividades diversificadas com uso de tecnologias de informação e comunicação. Basicamente assistíamos a filmes em fita de videocassete no telão na quadra de esporte ou no pátio da escola, ou em uma televisão de tubo que havia em algumas salas. Também havia uma sala de computadores, mas nenhum, ou poucos, funcionavam e não podíamos ter acesso livre a eles, éramos sempre supervisionados. Não retornei às escolas em que estudei, mas tive notícias de que adaptaram salas e espaços com algumas salas de vídeos, computadores na biblioteca, televisores smart, internet, projetores etc.

Na Universidade, as principais tecnologias utilizadas, principalmente no período de ensino remoto ocorrido em decorrência da pandemia do covid-19) foram Moodle, Google Meet, Classroom, e-mail, Google Drive, Google docs, planilhas, sites acadêmicos etc.. Os maiores desafios estavam ligados a apresentar trabalhos remotamente, a partir de uma pequena tela. A insegurança tomava conta com câmera que travava, filhos e animais domésticos aparecendo atrás e cabelos desajeitados. Isso quando a conexão não caía ou travava, o que dificultava a participação das aulas. Alguns professores ainda exigiam que ficássemos com a câmera aberta.

Nesse período de ensino remoto, para continuar o curso universitário tivemos que adaptar ou adquirir alguns aparelhos como notebook e internet, assim como arrumar um espaço menos barulhento em casa para estudar ou negociar o silêncio com a família. Na rotina, passei a ter que preparar com antecedência o jantar ou outros afazeres pertinentes para as aulas dos fins de tarde e início das noites. Não cheguei a abandonar nenhuma tecnologia, pelo contrário, tive que aprender a manusear outras mais. Além de tudo isso, ainda tive que adquirir um aparelho celular para uma, ajudar a mais nova com suas atividades, estagiar remotamente, dividindo o mesmo espaço.

A partir dessas experiências, vejo o uso de tecnologias nas escolas como um universo de possibilidades. Com essas tecnologias é possível trabalhar gêneros diversificados como filmes, podcasts, padlet, dentre outros. Além disso, é necessário a realização de debates sobre o uso das tecnologias nas escolas, sobre aspectos positivos e negativos, fazer pesquisas, conhecer outras culturas, inclusive de outros países, mostrar nossas culturas, tudo que encontros virtuais podem proporcionar. Conhecendo um pouco as tecnologias, a partir do conhecimento que construí na universidade e nos meus trabalhos extras, me sinto segura em me tornar professora e desenvolver um bom trabalho na perspectiva tecnológica.

[1] Solange Pereira dos Santos é graduanda do curso Licenciatura em Educação do Campo (LEC), da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM).

Este trabalho foi orientado pelos professores Carlos Henrique Silva de Castro, Luiz Henrique Magnani e Mauricio Teixeira Mendes.

Contatos com novas tecnologias

Contatos com novas tecnologias

Por Sabrina Santos Esteves [1]

Ouça um trecho lido pela própria autora a seguir. O texto completo, em formato escrito, segue logo abaixo.

Abordo aqui lembranças relacionadas aos meus primeiros contatos com essas ferramentas digitais e os laços que fui criando com elas no decorrer dos tempos. Trago, também, reflexões relacionadas à inclusão digital nos contextos educacionais na perspectiva de educadora do campo, minha área de formação. Meu primeiro contato com tecnologias interativas foi quando tinha mais ou menos 9 anos de idade, quando abriram um Telecentro ao lado da minha casa para atender as crianças e adolescentes do bairro. Os monitores ensinavam como colorir usando o mouse em um aplicativo, nos orientavam como fazer pesquisas e no final das aulas nos deixavam ficar jogando. As crianças do meu bairro adoravam, pois era algo novo. 

Mas nada substituía nossas brincadeiras de fins de tarde, quando chegávamos da escola, como queimada, rouba-bandeira, pula-corda, esconde-esconde. Brincadeiras da minha geração, diferentes das de hoje quando as crianças já nascem grudadas em um celular, rapidamente ficam fissuradas em internet, em Youtube, em jogos como Free Fire e plataformas como Tik Tok. Parece que as crianças da atualidade não sabem nem o que é assistir um desenho animado nas manhãs de sábado na TV, pois ficam presos nas minitelas dos celulares ou tabletes todo o tempo, com isso acabam perdendo a melhor fase de suas infâncias.

Na faixa etária de 14 anos eu gostava muito de frequentar a lan House, pois não tinha computador em casa e nem celular. Sou natural de Araçuaí-MG e, naquele tempo, era apenas 0,50 centavos uma hora de uso da internet. Lá criei meu Facebook, plataforma que utilizo até hoje. Naquele tempo também se utilizava muito o “Orkut”, que nos dias de hoje não é muito lembrado. Com a globalização e as tecnologias avançaram de tal maneira que hoje, na minha cidade, é raro encontrar uma lan house, pois quase todos possuem um aparelho, com isso os Telecentros também foram extintos. 

Na atualidade a tecnologia que mais uso é o celular, onde acesso o pacote office da Microsoft, Google, YouTube, Instagram, WhatsApp, sites de compras (Shopee) etc.  Me considero uma pessoa muito apegada a essas ferramentas, pois a primeira coisa que eu faço quando acordo é pegar no meu celular. É um ciclo vicioso, pois toda vez que pego no meu aparelho, ele consegue prender minha atenção de tal maneira que quando percebo já se passaram duas horas, e eu com o celular na mão.

Muitas práticas sociais foram perdidas com a modernização das ferramentas digitais, como conversar com os amigos na porta de casa, escrever cartas e catalogar números. Até a interação interpessoal ficou mais difícil e é comum em um grupo de pessoas não dialogarem entre si por estarem presos a seus celulares. Com isso, muitos costumes e tradições foram perdidos em certos contextos.

No meu ensino básico, não se utilizava muito as tecnologias. Os nossos trabalhos eram apresentados em cartazes e eram utilizadas ferramentas mais simples como som e TV para assistirmos a filmes ou ouvirmos música. Havia uma sala com computadores, mas nem todos funcionavam e percebia-se que a professora não tinha uma formação específica para manuseio daquelas máquinas. Então o uso era muito superficial e nossas habilidades com o digital não foram muito bem desenvolvidas na escola onde estudava. Vim a melhorar esse domínio quando entrei na universidade, quando me vi obrigada a mexer em programas como, por exemplo, Power Point para apresentações, Word para formatar textos, Gmail, fóruns. A área acadêmica me viabilizou vários conhecimentos significativos.

Com o isolamento social que vivemos durante a pandemia de covid19 tivemos que nos adaptar a uma forma de ensino remoto emergencial, que foi completamente diferente do presencial. Tivemos que realmente aumentar nossos letramentos digitais, pois acessar o Google Meet, assistir às aulas pela telinha, apresentar, dialogar e desenvolver trabalhos com os demais colegas sem aquela interação face a face de antes foi verdadeiramente algo muito desafiador. Me vi completamente dependente do meio digital para tudo e as tecnologias contribuíram bastante para que o nosso curso continuasse, mesmo com tantas dificuldades. De toda forma, pela falta de acessibilidade aos meios digitais em alguns contextos, não deixou de ser prejudicial. Muitas escolas do campo sofreram com essa nova metodologia de ensino por falta de recursos, de domínio das ferramentas, falta de internet de qualidade, com grandes perdas para o ensino-aprendizagem e certa exclusão social.

Na minha percepção, as tecnologias têm seus pontos positivos e negativos, dependendo de quem vai utilizar e de como vai utilizar. Se empregadas no contexto de ensino nas práticas docentes, podem ajudar a produzir aulas reflexivas e críticas. Na interação interpessoal também auxiliam muito. Como negativo, muitas dessas ferramentas podem ser utilizadas para manipular, enganar e disseminar a desinformação. O uso em massa das fake news pode trazer consequências graves para o campo, como viabilizar mais investimentos na mineração, ocasionando desmatamentos, deixando o solo improdutivo e desrespeitando a sustentabilidade para as gerações futuras. Faz-se necessário levar essa discussão para as salas de aula, para que os alunos tirem suas próprias conclusões em relação ao mundo digital e sejam incluídos de maneira crítica.

Por fim, como futura educadora do campo, concluo que devemos fazer uma leitura do mundo em relação às tecnologias e suas novas linguagens com nossos estudantes, pois a internet pode ficar no campo da utopia e até levar à distopia. Cabe a nós refletirmos sobre essas modernidades que vem se intensificando nas nossas vidas e ver até que ponto podem nos ajudar ou prejudicar.

[1] Sabrina Santos Esteves é graduanda do curso Licenciatura em Educação do Campo (LEC), da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM).

Este trabalho foi orientado pelos professores Carlos Henrique Silva de Castro, Luiz Henrique Magnani e Mauricio Teixeira Mendes.

Eu e as tecnologias

Eu e as tecnologias
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Por Miréia de Jesus Sena [1]

Ouça um trecho lido pela própria autora a seguir. O texto completo, em formato escrito, segue logo abaixo.

No ano de 2011 tive meu primeiro contato com tecnologias digitais quando ganhei um celular de teclado do meu irmão, que trouxe o presente de Belo Horizonte. Mas como na comunidade não havia sinal de celular, o uso do aparelho era para ouvir rádio, tirar fotos e usar ferramentas como calculadora, relógio etc. O meu primeiro contato com a internet ocorreu na escola, onde uma colega acessava com seu aparelho, baixava os arquivos de música e fotos que eram compartilhados comigo via bluetooth.

Sobre redes sociais, criei uma conta no Facebook com 14 anos com ajuda de amigas e ali iniciei nas redes sociais. Atualmente a rede que mais uso é o Instagram, onde tenho dois perfis. Um eu uso para a divulgação de trabalhos que me geram renda, o outro uso como perfil pessoal onde posto fotos e exponho opiniões diversas, políticas e ativistas.

Em 2019 criei um blog para ensino de inglês, em um curso de Tecnologias para o ensino de língua inglesa, mas não dei continuidade.  Atualmente a primeira coisa que interajo no dia, ao acordar pela manhã, é o celular, quando olho as horas, o WhatsApp, o Instagram etc. Isso quando o aparelho celular não é o despertar. Ao longo do dia é no celular que as atividades se concentram, independente da vontade.

Na minha educação básica minha experiência com essas tecnologias era reduzida, principalmente o celular que era permitido aos professores, mas proibidas aos estudantes. Certa vez, ao levar meu aparelho para a sala de aula, a professora o recolheu. Acesso a computadores, na escola, só tive no final do ensino médio. Sem ter tido nenhum contato anterior com o aparelho, não conseguia desenvolver nenhum movimento sem ajuda dos poucos colegas que sabiam.

Na universidade tive meu primeiro contato com um notebook. Motivada pelos discursos sobre a necessidade de tal tecnologia para o curso, adquiri o aparelho. No ingresso fui apresentada a diversas ferramentas, sites, plataformas e meios de comunicação online. Não fazia ideia de como utilizá-las, mas na necessidade do uso fui aprendendo.

O isolamento social e ensino remoto vivenciados pela pandemia de covid-19 colocou em evidência algumas dessas plataformas, meios de comunicação e aplicativos. Com a incorporação de novas plataformas, veio a necessidade de aprender e se adaptar. Nas escolas, cada uma com sua especificidade, a situação evidenciou as diferenças econômicas e sociais que impactaram no acesso às tecnologias, com problemas de aprendizagem naquelas famílias que precisaram se adaptar ou nem conseguiram.

A partir dessa experiência e do estágio que realizei em uma escola do campo pós ensino remoto, avalio as metodologias e tecnologias que tentaram implementar no período não foram muito práticas. Com famílias com diferentes condições de acesso e lidando com vulnerabilidades socioeconômicas, estudar com auxílio de vídeos acessíveis somente na internet foi para poucos. O momento representou um desafio imenso para essas famílias e a educação remota e descontextualizada desmotivou o estudante e trouxe aumento na evasão escolar.

A retomada do ensino presencial pode significar uma nova relação da escola com as tecnologias digitais. Se metodologias com o uso do aparelho celular foram possíveis no período remoto, que agora não o proíbam, mas preparem os estudantes para o melhor uso e que faça sentido na sua realidade. Como futura educadora, buscarei trazer ciência e consciência aos estudantes, para que vejam criticamente suas realidades e os conflitos ali existentes, pois acredito que esse é o primeiro passo para a famigerada autonomia para a libertação.

[1] Miréia de Jesus Sena é graduanda do curso Licenciatura em Educação do Campo (LEC), da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM).

Este trabalho foi orientado pelos professores Carlos Henrique Silva de Castro, Luiz Henrique Magnani e Mauricio Teixeira Mendes.

Uma cabeça para pensar

Uma cabeça para pensar

Por Maria de Fatima Rocha Baldaia [1]

Ouça um trecho lido pela própria autora a seguir. O texto completo, em formato escrito, segue logo abaixo.

Venho de uma comunidade quilombola de poucas oportunidades para ingresso em uma Universidade Federal.  Estou no oitavo período do curso de Licenciatura em Educação do Campo e me recordo de como as coisas eram difíceis na minha casa. Como não tínhamos energia elétrica, fui saber o que era quando tinha de seis a sete anos, no período em que fui matriculada na escola.

Quando tinha sete anos, minha madrinha deu um rádio a pilha para meu adorável pai. Esse rádio fez sucesso na vizinhança. Parecia uma coisa de outro mundo. As novelas pareciam tão reais que os radialistas conseguiam prender a atenção de todos, que ficavam com os ouvidos atentos naquele rádio para não perder as informações que eles narravam para outros vizinhos e conhecidos. As novelas viravam tema de dos casos e rodas de conversas, com opiniões a favor e críticas às personagens.

Com dezesseis anos fui embora com parentes para Belo Horizonte e, pela primeira vez, tive contato com um orelhão porque precisava ligar para minha mãe na comunidade. Naquela época não tínhamos condições de ter um aparelho tecnológico em casa e foi muito difícil ter contato com essa e outras tecnologias. Quando eu tive o meu primeiro aparelho celular, as tecnologias já estavam bastante avançadas. Esse primeiro celular ganhei em um concurso na  escola através de um projeto chamado  PROERD, que premiou com um celular a melhor redação, de minha autoria. Era meu primeiro contato com uma tecnologia mais “avançada” e foi bastante complicado me adaptar, pois no início não sabia manusear o aparelho celular. Mesmo sendo um aparelho simples, fiz várias descobertas apenas vasculhando. Mesmo com poucos recursos, foi com ele que tive o privilégio de ter contato com a tecnologia digital. Hoje é diferente, acordo, já acesso o celular e a primeira coisa que olho é o WhatsApp. Também uso sempre o celular para ver as horas.

A pandemia afetou minha vida acadêmica e minha aprendizagem, pois passei a ter aulas online. Mesmo com carga horária reduzida não foi fácil, pois eu não tinha muito acesso às tecnologias. Estou aprendendo a mexer com mais eficácia no computador e isso contribui para acessar outros recursos tecnológicos como WhatsApp, Tik Tok, Facebook e outros. Também abri uma conta no Instagram, mas não sei como usá-lo, assim como Telegram e Twitter.

Por fazer um outro curso superior, na modalidade online, vi a necessidade de aprender alguns métodos novos e, assim, melhorar minha formação para lecionar. Com conhecimentos sobre tecnologias, pode-se adaptar as aulas dos jovens com recursos de seus cotidianos mostrando-lhes que esses meios podem ser usados de forma positiva. Através das aulas remotas pude ter uma nova visão de como trabalhar com alunos do campo. Também tive experiência com um projeto denominado “Educação além da internet”, que foi um projeto de inclusão socioeducacional com o intuito de atender alunos que não tinham acesso à internet na pandemia, mas deveriam fazer atividades com auxílio de tecnologias. Em cada aula que ministrei consegui identificar o avanço significativo na aprendizagem desses alunos, pois eles não tinham contato com internet, mas como o apoio do projeto puderam mostrar suas competências. Esse projeto foi de grande relevância para os alunos e para mim, professora em formação.

[1] Maria de Fatima Rocha Baldaia é graduanda do curso Licenciatura em Educação do Campo (LEC), da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM).

Este trabalho foi orientado pelos professores Carlos Henrique Silva de Castro, Luiz Henrique Magnani e Mauricio Teixeira Mendes.

Lembranças do que aprendi e do quanto me empenhei

Lembranças do que aprendi e do quanto me empenhei

Por Leonel Lemes Pereira [1]

Ouça um trecho lido pelo próprio autor a seguir. O texto completo, em formato escrito, segue logo abaixo.

Eu nasci em 1992, ano em que aconteciam vários movimentos dos atingidos pela barragem de Irapé. Esses movimentos fizeram com que surgisse a operadora Vivo na minha região. A partir de então chegaram os primeiros celulares que eram grandes com o sinal 2G. O meu primeiro celular era o Nokia modelo 1110 GSM. Em 2004 tive contato com equipamentos de rádio FM, a qual meu pai era responsável e locutor. A rádio se chamava Liberdade FM e possuía uma mesa de som semidigital que aprendi a usar um pouco e a mexer em efeitos de sons. Essa rádio durou alguns anos até uma gestão municipal fechá-la na cidade. Dessa forma a rádio mudou-se para a Serra do Chapéu, onde foram adquiridos novos equipamentos que deram alcance a mais cidades como Cristália, Botumirin, Grão Mogol e José Gonçalves de Minas. 

Em 2008, em minha comunidade chegaram os primeiros celulares com chip e adquiri um Siemens A50 que servia apenas para jogar, pois ele não funcionava na operadora da região. Em 2009 fui estudar na Escola Estadual Professor Tutu, onde eu e um colega éramos responsáveis por auxiliar as turmas no uso dos computadores. Assim, de fevereiro a junho daquele ano tive contato com a sala de informática onde ensinávamos os colegas a ligarem e como usar algumas funções dos computadores e a acessar a internet, que era ruim, mas rodava alguma coisa.

Em 2010 tive meu primeiro celular que realmente funcionava para ligações e conexão à internet, era um Q5 2g, uma versão chinesa de alguns celulares que eram moda na época. Depois um Nokia N95, depois um Sony Ericsson, um Sony Xperia, um Motorola V3, e depois Alcatel.

Em 2011 fiz dois cursos em Janaúba em que tivemos acesso ao controle de caixa com sistema operacional que utilizavam para controle de estoque e gerenciamento de supermercado. Após um tempo fiz um curso de recepcionista no qual usava um computador de mesa. A função era de gerenciamento, check in e check out de hóspede e controle de estoque.

Em 2012 fui morar na cidade de Janaúba, onde trabalhava no período da manhã. Na parte da tarde, em Jaíba, cidade vizinha, fazia curso de eletricista e eletrônica residencial e predial.  Nestes cursos tive a oportunidade de adquirir o conhecimento de montagem e programação de Controlador Lógico Programável (CLP), um controlador que tem a função de acionar maquinários tais como motores elétricos, esteiras de automação, tanto na teoria como na prática, com simuladores virtuais de empresa. O curso foi feito no Senai em parceria com a Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (FIEMG). Através da parceria foi criado o “Projeto Amanhã” da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (CODEVASFS). Nesse curso também tivemos acesso a automação residencial, vimos nas práticas modelo de automação para poços artesianos.

Em 2013 voltei para Cristália e trabalhei como eletricista e subsecretário de transporte. Meu contato com tecnologias digitais era a partir de planilhas de controle de almoxarifado, de veículos, gerenciamento de viagens e recebimento de combustível. Essas planilhas eram feitas no computador e anexadas em um sistema de controle de frotas da prefeitura que funcionava com uma empresa de controle de Montes Claros. Toda a prestação de contas era online, apesar de ter que entregar o documento físico nos setores responsáveis. Em 2014 comprei meu primeiro notebook, um Samsung que utilizava para jogar, assistir a vídeos e trabalhar.

No final de 2015 retornei para Janaúba e entre para um curso de técnico em administração, no qual tive acesso a muitas tecnologias digitais em aulas de programação e acessando plataformas como de emissão de notas, uso da plataforma do Cadastro Ambiental Rural (CAR) para emissão ISO 9001, construção de contratos, emissão de notas fiscais, entre outros.

Também em 2015 tentei fazer o vestibular para a Licenciatura em Educação do Campo (LEC), mas minha inscrição foi indeferida. Em 2018 tentei novamente, tomando mais cuidado e consegui ser aprovado. Em 2021, devido à pandemia do covid19, o estágio do curso foi realizado de forma remota com o uso de algumas ferramentas digitais como o Google Classroom, Google Meet, YouTube, Conexão Escola. O período foi ruim para os alunos, pois muitas crianças tiveram dificuldade para ter   acesso e muitos pais também não conseguiram ajudar seu filho por não saberem utilizar as ferramentas digitais. Além disso, a acessibilidade nas comunidades rurais muitas vezes era apenas por dados móveis de redes 3G, e outras obrigavam os estudantes a saírem de suas residências para subirem no ponto mais alto da comunidade e tentarem obter sinal.

Em 2022 a escola em que estagiamos voltou ao funcionamento presencial e os alunos encontraram a escola de cara nova após uma reforma que trouxe novas salas de aula com TV de 55 polegadas, laboratório reformado e funcional, projetores Epson, sala de informática. Atualmente tudo está sendo usado por algum professor, como o de inglês, algumas de história e algumas de ciências da natureza. Lá alguns professores permitem o uso de celular para auxiliar na sala de aula.

A partir de minha trajetória em meio às tecnologias e com o curso Licenciatura em Educação do Campo, entendo que como docente podemos usar todas as plataformas e as tecnologias disponíveis para, por exemplo, criar um jornal comunitário, preparar roteiros e edição de textos, apps de desenhos, mapas, e outras plataformas desde que sejam adequadas ao desenvolvimento da turma e com o objetivo da aprendizagem. A minha trajetória agradeço à minha família que sempre apoiou minha jornada.

[1] Leonel Lemes Pereira é graduando do curso Licenciatura em Educação do Campo (LEC), da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM).

Este trabalho foi orientado pelos professores Carlos Henrique Silva de Castro, Luiz Henrique Magnani e Mauricio Teixeira Mendes.

Do som do toca-discos às modernidades da nova era digital

Do som do toca-discos às modernidades da nova era digital

Por Isaura dos Santos Lopes [1]

Ouça um trecho lido pela própria autora a seguir. O texto completo, em formato escrito, segue logo abaixo.

Nasci em fevereiro de 2000, mesmo ano em que a energia elétrica chegou em minha comunidade, na zona rural do município de Coluna no Vale do Rio Doce. Passei minha primeira infância, basicamente, tendo contato apenas com o rádio toca-fitas da minha mãe e o rádio toca-discos do meu pai. De manhã acordava ao som da rádio Itatiaia que minha mãe ligava, principalmente para ouvir as simpatias e os signos. Algumas tardes em que íamos arrumar a casa ouvíamos alguns discos ou fitas para animar a tarefa. E à noite, quando não ouvíamos as histórias do meu pai, ele colocava o disco do Buck Sarampo que eu escutava até dormir. Meu pai tinha uma coleção de discos, que inclusive está em casa até hoje.

Nessa época tínhamos uma televisão de tubo em casa, mas como não tinha antena instalada, eu e meus irmãos íamos assistir telenovelas na casa de uma vizinha (eu basicamente cochilava a novela toda). Um tempo depois um dos meus irmãos comprou o primeiro e único aparelho de DVD que tivemos em casa. Com ele escutávamos música, cantávamos no karaokê e jogávamos videogame, quando podíamos. Além dos discos do meu pai e as fitas da minha mãe, também tinha muito interesse na máquina de datilografia, que meu pai, de vez em quando, deixava a gente usar. Apesar de não usá-la muito, eu desenvolvi muito a escrita por causa dela e, mais tarde, tive facilidade em digitar no teclado do computador.

Meu primeiro contato com telefone celular, ou talvez o mais marcante, foi quando meu irmão fez um vídeo com meus primos, meus irmãos mais novos e eu brincando em um dia de chuva no terreiro de casa. Se não me engano isso foi quando tinha 10 ou 11 anos. Outra coisa que me lembro sobre o celular foi quando minha mãe ganhou um que minha irmã mais velha trouxe de São Paulo para elas se comunicarem. Era um Nokia analógico, daqueles de abrir e fechar, que, para telefonar, minha mãe precisava subir na parte mais alta do terreno, no meio do mato.

Passamos muitos anos indo no alto para telefonar, prática que perdurou até poucos anos (se não me engano em 2016) quando alguns moradores adquiriram os chamados telefones rurais, conectados a antenas nos altos onde antes os moradores tinham de subir.  Esses eram telefones de mesa com fio, que no começo eram poucos, mas depois mais moradores adquiriram o produto. Esses aparelhos foram substituídos por outros sem fio, com alcance de até 100 metros da base. Devido às chuvas e tempestades de raios que atingiram as antenas, muitas pessoas abandonaram esses telefones, hoje somente na minha casa e outras duas ou três que ainda o têm, porém sempre apresentam problemas e quase não o usamos mais. Hoje em dia a maioria dos jovens possuem celular com acesso à internet e a comunidade tem sinal da operadora vivo em vários pontos, o que ajuda nosso acesso.

Após a criação da Associação Quilombola da comunidade, muitas melhorias surgiram, como a instalação de um Telecentro na comunidade. Em 2009 os computadores chegaram e ficaram na igreja da comunidade, foi quando tive meu primeiro contato com um computador de mesa. Não sei o nome, a marca ou o modelo dos computadores que tinham no Telecentro, só sei que foram adquiridos através de um projeto com a Fundação Banco do Brasil e na comunidade era meu irmão quem estava à frente disso. Nesse período ainda não tínhamos internet para conectar os computadores, então fazia aulas de digitação e formatação no computador com meu irmão e jogávamos alguns joguinhos, principalmente xadrez. Em 2012 o Telecentro foi transferido para o mesmo prédio da escola, onde também é sede da Associação Quilombola, quando recebeu acesso à internet. Mas eu frequentava outra escola, uma estadual fora de minha comunidade, e ia ao Telecentro sempre que podia para jogar e fazer pesquisas e trabalhos da escola.

A primeira vez que vi um notebook foi aos 10 ou 11 anos, quando um técnico da Emater foi na comunidade e passou para nós um filme sobre o quilombo. Em 2017 voltei a ter contato com um equipamento desses, que era o do meu irmão. Foi esse mesmo que em 2018 passei a compartilhar com minha irmã, pois fomos aprovadas no vestibular da Licenciatura em Educação do Campo (LEC). Antes, na escola onde estudei dos 11 aos 17 anos, as tecnologias de imagem e som utilizadas eram o projetor (datashow), televisão para assistir a filmes e o aparelho de som que tocava músicas no recreio. Que eu me lembre, fui uma vez à sala de informática para fazer uma pesquisa de geografia. Praticamente não utilizava os computadores, pois não havia para todos. O uso de celulares não era proibido nessa época e era comum os colegas ficarem jogando durante o intervalo, entre a saída de um professor e a entrada de outro.  Mas também eram de difícil aquisição.

No meu estágio de regência, procurei utilizar recursos digitais para as aulas, como o datashow e o uso de plataformas de vídeo. Porém o datashow só funcionou nos primeiros dias, depois tive que utilizar o quadro e o celular mesmo. Também me comunicava com os estudantes por aplicativo de mensagem online via WhatsApp. Esse aplicativo eu uso desde os 18 anos de idade, quando o criei para fazer parte de um grupo da turma da LEC.  O Facebook eu já utilizava desde a época do Telecentro. Hoje em dia a minha rede social preferida é o Instagram, pois a acho bem diversificada. 

Mesmo tudo estando conectado às redes sociais, eu consigo ficar um bom tempo do dia sem conferir e-mails, mensagens no WhatsApp e notificações do Facebook. Para me ajudar nessa questão, uso as funções de bem-estar digital e modo sem distrações do celular, que permitem controlar os aplicativos que usarei por um determinado tempo. Além disso, posso controlar quanto tempo por dia cada aplicativo (como das redes sociais Kwai, Instagram, TikTok) pode ser usado

Quando a pandemia chegou literalmente ao meu alcance, eu estava em um intercâmbio na Argentina. A pretensão era passar 3 semanas em Córdoba fazendo um curso de espanhol e interação cultural, porém, no fim da primeira semana já decretaram lockdown. Com isso, estendemos a permanência na Argentina e passamos a utilizar a ferramenta Zoom para ter aulas de espanhol. Como estávamos só eu e meu irmão isolados, eu acordava de manhã e depois do chá matinal participava da aula no Zoom, assistia a televisão, conversava com meus familiares pelo WhatsApp e usava o Instagram e um app de bate papo muito popular em Córdoba, o Holla em que pude praticar mais o idioma.

 De volta ao Brasil, ainda no auge da pandemia, além de cursar a LEC, atuei como conselheira estadual de assistência social de Minas Gerais no CEAS-MG, com reuniões mensais. Com o uso intenso de tecnologias on-line para comunicação e redes sociais, precisei colocar internet em casa. Mas a internet que instalei era muito falha e prejudicou bastante minha participação, tanto no CEAS como nas aulas da LEC.

Pensando na minha atuação profissional, procuro considerar minha experiência de vida e a realidade que observei no estágio e na minha comunidade. Nesses contextos, noto que o uso de tecnologias digitais é diferente de acordo com as classes sociais. Apropriar-se dessas tecnologias é um passo para minimizar a condição de inferioridade que os não conectados são colocados.

Na educação, não vejo as novas tecnologias digitais como “vilãs”, nem mesmo como “salvadoras”, mas acredito que vai depender de como as usamos e esse uso deve buscar a criticidade dos estudantes.  Cabe a nós, enquanto educadores e futuros educadores, buscar um uso pedagógico para elas.

[1] Isaura dos Santos Lopes é graduanda do curso Licenciatura em Educação do Campo (LEC), da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM).

Este trabalho foi orientado pelos professores Carlos Henrique Silva de Castro, Luiz Henrique Magnani e Mauricio Teixeira Mendes.

Minha inserção no mundo das tecnologias digitais

Minha inserção no mundo das tecnologias digitais

Por Irene dos Santos Lopes [1]

Ouça um trecho lido pela própria autora a seguir. O texto completo, em formato escrito, segue logo abaixo.

O uso de tecnologias digitais está cada vez mais frequente e até mesmo as crianças com dois, três anos de idade já utilizam essas ferramentas com muita facilidade, diferentemente da minha época de criança. Meu primeiro contato com alguma tecnologia interativa foi aos treze anos, quando usava uma calculadora dos meus irmãos mais velhos tinham que falava os números em inglês. Aos vinte anos tive o meu primeiro contato com um celular, que era do meu irmão. Ficamos impressionados com o aparelho. 

Na época, o celular não era conectado na internet, mas nos possibilitava fazer ligações para parentes de outros estados. O utilizávamos também para ouvir rádio. Quando descobrimos os joguinhos foi uma festa. Já meu primeiro acesso a um computador foi em um telecentro que surgiu na minha comunidade, que é uma comunidade Quilombola no município de Coluna MG no Vale do Rio Doce. No início o telecentro não tinha internet, mesmo assim chamava atenção. Em 2010 o responsável pelo telecentro era meu irmão e ele iniciou um projeto para ensinar informática. Nesse projeto aprendi a ligar e a desligar o computador, a usar a lupa para pesquisar, a jogar jogos do tipo captura de letras para formar palavras, entre outros. Apesar de não ter internet, esse processo fez diferença.

Dois anos mais tarde, em dois mil e doze, quando eu já estava com vinte e três anos de idade, no mesmo telecentro comunitário, acessei a internet pela primeira vez. Com auxílio do meu irmão, criei o Facebook, configurei meu perfil na página, convidei alguns amigos para serem amigos; hoje uso a rede social para postar algumas fotos e curtir fotos de outros amigos. Além dessas atividades, também fiz contato com parentes que nem conhecia pessoalmente.
Devido a pandemia de covid 19 e em função dos estudos, atualmente tenho mais acesso à internet e, de certa forma, fui obrigada a comprar novo aparelho celular e a contratar uma internet melhor para dar continuidade aos estudos no ensino remoto. Então, o acesso às páginas da web está mais frequente, assim como as pesquisas no Google e no Google Acadêmico. Não uso muito o Facebook como fazia antes, acho que perdi o interesse, pois só entro na plataforma de vez em quando, mando mensagem de aniversário para alguns amigos, converso com alguns familiares que moram fora, curto e compartilho alguns anúncios de venda de produtos de pessoas conhecidas, curto e respondo alguns comentários.

Atualmente, os aplicativos que uso bastante são o WhatsApp para debater trabalhos em grupo e conversar com familiares e amigos; o Duolingo para aprender e treinar inglês; e o Youtube onde assisto a lives no YouTube. Além disso, faço alguns cursos no Escolas Conectadas e no Instituto Conhecimento Liberta.

Pensando no dia de ontem, por exemplo, a tecnologia que mais usei foi o celular. Usei como relógio, para leituras e conversas com familiares e outras ligações. Também pesquisei rotas e localização com o auxílio do GPS, busquei informações no Google, acessei a conta no banco, armazenei arquivos, realizei trabalhos da universidade em arquivos on-line, tirei fotos, fiz vídeos, acessei o calendário, usei a calculadora e pesquisei receitas culinárias.

Muitas práticas sociais mudaram em minha vida após esse aumento no uso de celular e essas tecnologias que o acompanham. Fogueiras e rodas de contação de história ainda acontecem, mas não com a frequência de antes. As visitas aos vizinhos e familiares também diminuíram. Comparando as gerações mais velhas com as mais jovens, essas têm maior facilidade para manusear as ferramentas digitais disponíveis. Meus irmãos mais novos, por exemplo, manuseiam muito bem algumas ferramentas digitais, principalmente o celular, que é o que é mais acessível no meu contexto. Eu mesma me considero da geração mais velha, que tem mais dificuldade para operar as ferramentas costumeiras, mas o sistema a cada dia nos leva a usar novas tecnologias.
Noto que estamos, a cada dia, mais dependentes das tecnologias digitais, principalmente as novas gerações. A experiência mais positiva que tive com o uso de novas tecnologias foi conseguir dar continuidade ao curso de Licenciatura em Educação do Campo (LEC) na pandemia, quando consegui fazer trabalhos, e até outros cursos, me comunicar com amigos e familiares, com auxílio da internet. Em se tratando de experiência negativa, já recebi fake news e vi colegas e um irmão serem prejudicados com problemas tecnológicos em relação a matrícula em unidades curriculares, ou postar trabalhos e depois constar que não o fizeram. Mesmo assim, enquanto educadora, usaria essas tecnologias com estudantes como fonte de pesquisa e aprendizagem, mas também de forma a conscientizá-los sobre os riscos de acesso às redes, com o intuito de formar cidadãos conscientes e críticos quanto ao uso.

Como pontuei nos primeiros parágrafos, na minha educação básica não fizemos muito uso de tecnologia digital. Que eu me lembre, no ensino médio o único acesso que tive a alguma tecnologia foi assistir a um vídeo, ainda no videocassete, que explicava as transformações do corpo na adolescência. Tecnologia digital fui ter contato no ensino superior, onde precisei comprar um celular, aprendi a escrever no Word, a enviar trabalho no Moodle, enviar e receber e-mails, fazer download de arquivos, a mexer com pen drive. O Moodle é uma ferramenta que eu tive muita dificuldade para operar, o que não chegou a atrapalhar meu rendimento.

No tempo de pandemia tive que aderir ao sistema, trocar o celular e contratar internet para acompanhar o ensino remoto emergencial que estava posto. Até mesmo para me comunicar com pessoas próximas na comunidade, devido a pandemia, passei a usar o WhatsApp, assim como algumas pessoas da comunidade. O problema é que essa não foi uma escolha, simplesmente ficamos suscetíveis às decisões de um sistema controlador. Muitos pais deixaram de comer uma comida melhorzinha para comprar o celular, para ver se os filhos conseguiam acompanhar as atividades das escolas, mas infelizmente as realidades diversas, com desigualdades sociais, não permitem acesso a muitas tecnologias, como internet e equipamentos, aos cidadãos menos favorecidos.

Mesmo depois dessa experiência de ensino remoto percebi, na escola onde faço estágio, uma resistência do uso de celular dentro das dependências da escola, especificamente dentro da sala de aula. Como futura educadora do campo, pretendo trabalhar com tecnologia digital na sala de aula para os estudantes, por exemplo, produzirem textos em diversos formatos, a partir de suas realidades, com histórias de suas culturas, que valorizem os trabalhos dos pais e da comunidade, que façam pensar nas realidades e contextos sociais que estão vivenciando. Para a sala de aula imagino várias possibilidades para o uso do celular, como entrevistas, produção de textos, interações, busca por lugares, mapeamento de uma determinada região. São diversas as ferramentas de uso no celular que não podem ficar de fora da sala de aula.

[1] Irene dos Santos Lopes é graduanda do curso Licenciatura em Educação do Campo (LEC), da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM).

Este trabalho foi orientado pelos professores Carlos Henrique Silva de Castro, Luiz Henrique Magnani e Mauricio Teixeira Mendes.

Uma história com as tecnologias

Uma história com as tecnologias

Por Ingred Silva [1]

Ouça um trecho lido pela própria autora a seguir. O texto completo, em formato escrito, segue logo abaixo.

O avanço tecnológico é cada vez mais rápido e alcança cada vez mais lugares. Apesar disso, memo que no Brasil as mais modernas tecnologias da informação já vêm sendo utilizadas há algum tempo, minha interação com elas é recente. Desde muito pequena tive contato com algumas tecnologias analógicas, comuns em nossas famílias como a televisão (com antena parabólica), aparelhos de tocar DVD/CD e aparelhos de som. Mas a minha interação com essas tecnologias da informação mais avançadas como computadores e celulares só se deu a partir do ano de 2010, aproximadamente.

Lembro-me como se fosse hoje da minha empolgação para ir em um curso de computação promovido pela Associação dos Moradores e Amigos de Itinga (AMAI) através de um programa/projeto de apadrinhamento no qual eu iria, pela primeira vez, manusear um computador. Nessa época não sabia nem ligar o computador, não tinha nenhuma rede social como o Orkut, o famosinho da época, então ficava pesquisando coisas aleatoriamente. Depois disso, utilizava também os computadores da lan house da minha cidade, que hoje não existe mais já que os computadores se popularizaram. Gostava também de jogar videogame no pequeno centro de jogos chamado Star games, o que era o máximo.

Minhas primeiras interações com o celular foram com aparelhos de parentes e amigos que eu utilizava para fazer ligações, ver fotos, escutar música e para “curiá[*]”. Nesse período eu estava no Ensino Fundamental I e II. Apesar de a escola ter alguns computadores, nós não utilizávamos por falta de um local adequado, falta de instrução e principalmente por falta de internet. E mesmo com a disponibilidade de datashow/projetor na escola, ele era utilizado por professores somente em alguns projetos. Mais tarde, no Ensino Médio, foi que passei a manusear o computador.  Nesse período comprei meu celular que utilizava para estudar, quando possível, mesmo que seu uso fosse proibido.

Com a vinda para Universidade, aprimorei mais as habilidades e intensifiquei o uso das Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação (TDICs) como o notebook (que comprei quando ingressei na universidade), e-mail, plataformas e ferramentas digitais como e-campus, Moodle, Word, Excel, entre outros. Utilizo essas tecnologias também para algumas atividades realizadas para a associação comunitária quilombola da minha comunidade.

Percebo que cada vez mais as pessoas estão imersas no mundo digital, utilizando a tecnologia, às vezes, de forma negativa. Na minha comunidade, por exemplo, muitas atividades ao ar livre, encontros à luz do luar ou à tardezinha foram trocados pela interação com o celular, o que considero muito negativo. Outros pontos negativos envolvem vulnerabilidade de dados, aumento do consumismo, impacto no meio ambiente, impacto direto na saúde, entre outros.

Por outro lado, é importante ressaltar que existem muitos pontos positivos que as novas tecnologias nos oferecem como: praticidade, rapidez, longo alcance e, com isso, uma democratização maior da informação e do conhecimento. O que indicará se a tecnologia vai ser positiva ou negativa é a forma e objetivo para o qual está sendo utilizada.

Não posso deixar de comentar, é claro, sobre o momento atípico e histórico que foi a pandemia do covid-19. Nesse período, foi preciso intensificar ou, em alguns casos, começar a utilizar algumas tecnologias digitais novas. No meu caso foi preciso adquirir um plano de internet para continuar estudando, um plano de 10 gigas cuja mensalidade custava, nos seis primeiros meses, $159,90 reais e depois passou a custar $189,90 reais (15.67% do salário-mínimo). Adquiri este plano por ser mais barato, mas muitas dificuldades, pois não atendeu minhas demandas e teve um péssimo custo-benefício. Com toda essa questão, meu rendimento caiu, principalmente no quesito de participação nas atividades propostas.

No caso da escola da minha comunidade (como em muitos outros lugares), a situação foi ainda mais complicada, pois a maioria dos estudantes não tinha acesso à internet, ou até mesmo ao aparelho de celular. Assim, as atividades eram enviadas impressas para serem feitas em casa e muitos pais não tinham condições de auxiliar seus filhos. Dessa forma, os estudantes ficaram bem prejudicados. Fato é que a pandemia escancarou as desigualdades existentes; entre outras, destacam-se as desigualdades de acesso à informação e às tecnologias.

Enquanto futura professora e pensando nesse cenário, gostaria de trabalhar com a tecnologia de forma crítica na minha docência e, enquanto cidadã, ajudar a fortalecer o debate na minha comunidade de forma geral. É possível trazer esse debate para a sala de aula e orientar os estudantes para que percebam, entendam/leiam as estratégias que permeiam esse mundo, bem como para a comunidade. Pretendo trabalhar com práticas educativas na perspectiva da transformação social, buscando estratégias para melhor trabalhar com as TDICs. E, dessa forma, caminharmos para uma educação emancipadora. Essa é uma pauta muito relevante considerando esse mundo globalizado e extremamente conectado.

[*] Palavra utilizada na minha região (Itinga-MG) para dizer olhar com curiosidade, reparar, bisbilhotar etc.

[1] Ingred Silva é graduanda do curso Licenciatura em Educação do Campo (LEC), da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM).

Este trabalho foi orientado pelos professores Carlos Henrique Silva de Castro, Luiz Henrique Magnani e Mauricio Teixeira Mendes.

Vivências possíveis com as tecnologias

Vivências possíveis com as tecnologias

Por Fernanda Antonina Rodrigues da Silva [1]

Ouça um trecho lido pela própria autora a seguir. O texto completo, em formato escrito, segue logo abaixo.

Lembro-me bem da primeira vez que vi um celular. Eu tinha por volta de nove anos de idade, minha mãe trabalhava em uma casa de família e seu patrão tinha um celular, coisa que a gente não tinha, só ouvia falar. Então, sempre que eu ia na casa onde ela trabalhava, observava o celular por cima dos móveis, naquela curiosidade de criança, querendo mexer, pegar, mas só olhava. Uns dois anos depois minha irmã mais velha ganhou um celular e só então tive o primeiro contato. Eu achava o máximo, mexia em tudo, tirava foto, era uma maravilha. Minha irmã morria de medo de eu mexer e atrapalhar alguma coisa. Tempos depois a situação financeira em casa foi melhorando, meus pais também adquiriram seus celulares e fiquei com aquele que era da minha irmã, que conseguiu um outro.

Já meu primeiro contato com computadores foi na casa da minha avó, em um desktop do meu tio. Como ele não deixava a gente mexer, eu e minha prima íamos para lá usar o computador enquanto ele estava no trabalho. Aprendemos a ligar e tudo mais observando-o. Nessa época estava com 11 anos e gostava dos jogos de roupas, calçados e acessórios para bonecas e de pesquisar piadas e coisas engraçadas. Tempo depois abriu a primeira lan house perto da minha casa. Com isso, passei a ir lá jogar GTA por, na época, um real a hora.

Aos 13 anos, quando já dominava o básico, meu pai comprou o primeiro computador da minha casa e instalou internet. Meus pais nunca tiveram interesse de aprender, só compraram para minha irmã e eu. Nesta época a rede social que estava em alta era o Orkut e o comunicador era o MSN, basicamente o que eu acessava. Minha prima foi muito importante nesse meu processo, pois ela criou meus acessos da época e me ensinou muita coisa.

Atualmente as páginas de internet que mais acesso são as plataformas de vídeos, músicas, compras, além das plataformas de estudo. O uso diário dessas tecnologias faz toda a diferença na minha vida cotidiana, pois em tudo que faço estão envolvidas. Sempre preciso recorrer ao celular para resolver algo como pagar as contas, ou estudar, trabalhar, me informar, enfim, são tantas necessidades que hoje é quase impossível viver sem essa ferramenta.

No meu contato cotidiano, uso o celular desde o início do dia, pois preciso garantir que não vou me atrasar para o trabalho e, por isso, o deixo sempre no modo despertador. O celular me acompanha durante todos os dias, sem exceção, pois na loja onde trabalho ele serve como ferramenta de vendas, que utilizo para fotografar os produtos, gerenciar o perfil comercial no Instagram, atender os clientes no WhatsApp, conferir e-mails. Na vida pessoal, no celular eu acesso minhas redes sociais, converso com os amigos no WhatsApp e estudo em muitos momentos. Essas facilidades que os celulares trouxeram para o dia a dia fizeram com que as práticas sociais mudassem muito. Muitas coisas que antes eram resolvidas de maneira presencial, hoje faço pelo smartphone como, por exemplo, ir ao supermercado, pagar contas, estabelecer algum diálogo. São coisas que exigiam estar de forma presencial e hoje, com o avanço das tecnologias, não exigem mais. Com isso também houve certo distanciamento entre as pessoas.

Percebo que as gerações mais velhas têm muita dificuldade para entender e lidar com essas novas tecnologias. Noto também uma falta de confiança muito grande, principalmente com relação a transações nos bancos digitais. Preferem continuar nos métodos tradicionais já conhecidos por eles. Enquanto as pessoas mais jovens têm mais facilidade para entender e aceitar essas mudanças, pois é algo do seu tempo. Meus sentimentos com relação às tecnologias são bons, pois acredito que elas vieram para facilitar muito a vida e as relações e tenho experiências positivas com elas. No entanto certas situações também me deixam inconformada, como o fato de nem todos terem acesso.

Na minha experiência na educação básica basicamente não tive contato com tecnologias digitais, apesar de sempre existirem computadores na escola. Me lembro de apenas uma vez, em todos os anos que lá estudei, ter feito um trabalho de pesquisa na internet. A escola, por vários motivos, não apresentava esse tipo de suporte e, pelo que vejo, permanece assim até os dias atuais. Sempre recorreram e ainda recorrem muito aos livros didáticos. O celular, que é uma ferramenta muito utilizada e mais presente na vida dos alunos, não tem nenhum incentivo, muito pelo contrário, têm sua utilização proibida na escola.

Na universidade, que faço licenciatura, a realidade que encontrei foi bastante diferente. O celular é o maior meio de comunicação de todos e o notebook é muito utilizado. Sempre somos convidados/provocados a utilizar essas tecnologias, assim como o e-mail e as plataformas disponibilizadas durante a pandemia, pois tudo que fizemos nessa época dependia delas de maneira direta. Acredito que o isolamento social tenha mostrado a importância que as tecnologias têm na vida das pessoas, pois foi através dessas ferramentas que conseguimos, com toda dificuldade, prosseguir com os estudos, o trabalho e a vida. Infelizmente nem todos tiveram a mesma experiência e acesso nesse período, ou pela falta das tecnologias ou por falta de conhecimento a respeito delas.

Em muitas escolas, percebo que, mesmo que precariamente, estão buscando melhorias no sentido de incentivar o uso dos recursos digitais. Mas é certo que há muito ainda para se fazer, a começar por pensar e incentivar uma educação crítica para o uso dessas tecnologias. No futuro pretendo lutar para a inserção de ferramentas tecnológicas na sala de aula, pois acredito nos efeitos positivos que podem causar na educação. Sendo possível, utilizarei redes sociais e tantas outras ferramentas para o ensino didático, como Jamboard, Facebook, WhatsApp, Instagram, Padlet, e tantos outras possíveis e que ainda estão por vir.

[1] Fernanda Antonina Rodrigues da Silva é graduanda do curso Licenciatura em Educação do Campo (LEC), da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM).

Este trabalho foi orientado pelos professores Carlos Henrique Silva de Castro, Luiz Henrique Magnani e Mauricio Teixeira Mendes.

Letramento digital quando?

Letramento digital quando?

Por Eliude de Sousa Ferreira [1]

Ouça um trecho lido pela própria autora a seguir. O texto completo, em formato escrito, segue logo abaixo.

Durante minha infância, na minha casa não havia computador nem celular. A primeira vez que liguei um computador foi na escola, no Ensino Fundamental II. Lembro-me que, vez ou outra, algum professor levava a turma para a sala de informática; mesmo havendo poucos computadores e alguns estarem sem funcionamento, eram momentos de muita aprendizagem. Logo que chegávamos na sala de informática, ligávamos os computadores para pesquisarmos o que o professor havia proposto. O professor sempre exigia que transcrevêssemos para o caderno o resultado de nossas pesquisas. Normalmente éramos três ou quatro pessoas em cada computador. 

Eram aulas mais dinâmicas, quando a gente ficava mais livre, e no final sempre dávamos conta da missão. Assim aprendemos naquelas aulas que a internet pode ser usada como fonte de pesquisas. Nessa época, de 2007 a 2010, eu não usava nenhuma rede social e o contato com a internet era apenas para pesquisas. Em 2011, com 15 anos, comprei meu primeiro celular. Minha primeira conta no Facebook foi criada nessa mesma época, mas no Telecentro da cidade com a ajuda de alguns colegas que faziam cursos lá. Nessa época acessava o Facebook raramente, já que em minha casa não tinha internet e meu celular também não. Em 2014 comecei a usar o WhatsApp.

Atualmente não utilizo mais o Facebook, mas estou presente no e-mail, Telegram, Instagram e WhatsApp, que me ajudam a me comunicar com familiares, colegas, interagir em grupos do curso que faço atualmente, para atender demandas da escola onde trabalho, e para ver o mundo ao meu redor, conhecer paisagens e pessoas de outros lugares. Nesse mundo globalizado, não poderia esquecer de mencionar os sites que utilizo para compras, em procedimentos fáceis, sem precisar sair de casa. O Mercado Livre, a Shopee e a Magalu trazem até mim coisas que em minha cidade não encontro.

As tecnologias estão muito presentes no meu dia a dia. Ontem, como exemplo, ao acordar, peguei o celular para me situar no tempo, depois conversar com meus familiares e ver o dia das pessoas que sigo no Instagram. Nessa conta no Instagram vejo postagens de colegas e publico o humor do meu dia. Gosto de ver paisagens e mensagens reflexivas e de interagir com as pessoas por lá, não uso a ferramenta par fins comerciais. No meu dia a dia sempre assisto a conteúdos no YouTube. Gosto de acompanhar pessoas que viajam por outros países como a Monyse Garcia, acho fantásticas as viagens que ela faz em vários lugares, como na Turquia. É uma das formas que viajo sem sair do lugar.

Mesmo com essas tecnologias presentes há algum tempo na minha vida, a faculdade contribuiu significativamente para que me apropriasse mais dos conhecimentos tecnológicos, na produção dos trabalhos. Logo no início do curso tínhamos as mentorias, onde aprendi muitas coisas sobre formatação, acesso ao o Moodle, ao e-campus etc.

As pessoas da minha comunidade nem sempre veem a tecnologia como vejo. Há algumas, como a minha avó, que não sabem usar o celular; outras usam apenas para fazer ligação ou comunicar pelo WhatsApp. Mas também há tem aquela que estão até no Tik Tok, curtindo e compartilhando os diversos aspectos da globalização.

Na minha perspectiva, a Educação do Campo hoje não pode se limitar ao território do campo, pois é preciso possibilitar aos nossos adolescentes verem o que está fora do campo. É possível trabalhar conteúdo da cultura digital para que eles não fiquem excluídos. Um professor de língua pode, por exemplo, trabalhar gêneros textuais, realizar aulas que possibilitem aos alunos pesquisar, perceber que a internet é uma fonte que precisa de cuidados, mas contribui com diversas causas, como a comunicação que permite conhecimento.

[1] Eliude de Sousa Ferreira é graduanda do curso Licenciatura em Educação do Campo (LEC), da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM).

Este trabalho foi orientado pelos professores Carlos Henrique Silva de Castro, Luiz Henrique Magnani e Mauricio Teixeira Mendes.

Os meios tecnológicos e suas dimensões no aprendizado

Os meios tecnológicos e suas dimensões no aprendizado

Por Elisete Martins da Silva [1]

Ouça um trecho lido pela própria autora a seguir. O texto completo, em formato escrito, segue logo abaixo.

 Atualmente uma grande concentração de pessoas têm acesso a tecnologias digitais como mídias, aplicativos, jogos etc. Cada vez mais estamos conectados e necessitados desses recursos tecnológicos. As tecnologias proporcionaram muitos avanços, oportunidades e desenvolvimento para a sociedade, como na comunicação rápida com pessoas por todo o mundo, em pesquisas científicas, no meio educacional, automatização de muitos trabalhos, entre outros. No entanto, cabe ressaltar alguns malefícios como, por exemplo, o uso excessivo das mídias que se tornam pessoas viciadas no uso delas. Outros pontos são as fake news e, principalmente, a exclusão de muitas pessoas que não possuem recursos tecnológicos como internet, celulares, computadores, entre outros.

O meu primeiro acesso à internet aconteceu no ano de 2014, quando já contava com os meus 15 anos de idade. Utilizava o celular de uma amiga que me emprestava para acessar o Facebook, que foi a minha primeira conta criada nas redes sociais. Nessa época, utilizávamos internet por dados móveis fornecida pela rede da operadora da Vivo nas comunidades rurais em nossa região. Porém o acesso ao Facebook, que era a única rede que utilizava, era limitado a alguns minutos de algum dia da semana, pois minha amiga morava muito longe da minha casa. No ano seguinte comprei o meu primeiro telefone e então passei a utilizar o Facebook com mais frequência. Logo fui descobrindo novos aplicativos como, por exemplo, WhatsApp, Youtube, Kwai e Instagram, que são ferramentas que utilizo para postagem de fotos, interação, pesquisa, divulgação de trabalho, assistir a vídeos e para ficar antenada às informações e as notícias que estão circulando.

As tecnologias digitais estão cada vez mais presentes na vida das pessoas, na comunicação, no trabalho, nas escolas. Os métodos de ensino também vêm inovando com o uso de novas tecnologias, mesmo nem todo aluno tendo acesso, o que dificulta bastante. No entanto, os professores precisam trabalhar com as ferramentas do nosso tempo em favor do ensino-aprendizado, de modo que as utilizem de maneira consciente, de maneira que, por exemplo, reconheçam fake news e usem os celulares, que é mais comum entre eles, em práticas transformadoras.

Durante a minha formação básica não utilizavam esses novos recursos tecnológicos atuais, pois poucos tinham telefones ou computadores, nem mesmo os professores tinham acesso a um data show. Então utilizávamos mais os livros didáticos. No ano de 2018, ao ingressar no ensino superior na UFVJM, o uso das ferramentas digitais tornou-se mais presente, mas o meu   acesso a elas ainda era precário, pois tinha que acessar a internet por meio de um telefone dados móveis, o que limitava a qualidade e acesso.

No ano de 2020, com a pandemia do covid19, a necessidade de melhorar meu acesso se tornou inadiável. Assim, anos após meu primeiro acesso no celular da amiga, pude optar por um plano de internet via Wi-Fi. Também pude trocar de aparelho celular, pois o antigo era um modelo simples e necessitava de mais memória de armazenamento. Foram adaptações demandadas pela pandemia, que geraram gastos a mais no orçamento, e proporcionaram muito mais tempo de conexão e a utilização de mais recursos tecnológicos que ainda não conhecíamos. Com as aulas sendo realizadas on-line, tivemos que nos adaptar a novos aplicativos que contribuíram para novos métodos de ensino como, por exemplo, Google Meet, Google Classroom, Google Drive e Gmail. Essas foram as ferramentas que mais utilizamos e que contribuíram para o ensino e muitos aprendizados. 

De modo geral, as tecnologias fazem parte do nosso cotidiano, para trabalho, estudo e lazer, como venho pontuando. Vemos, inclusive, grande parte das crianças, adolescentes, adultos e mesmo os idosos, mais resistentes, inseridos em redes de comunicação e usando com competência seus aparelhos tecnológicos. Porém, ainda há uma limitação no acesso por falta de infraestrutura de internet e de outras ferramentas e aparelhos tecnológicos. Mediante o contexto educacional e enquanto futuros educadores, devemos buscar métodos e estratégias para utilizar essas tecnologias em sala de aula, proporcionando maior inclusão, aprendizados e desenvolvimento dos letramentos dos alunos em práticas com o meio digital, pois como já estão em contato constante com esse mundo virtual. Os professores podem utilizar esses novos métodos a seu favor em sala de aula fazendo das tecnologias uma ponte entre o aluno e o conhecimento.

[1] Elisete Martins da Silva é graduanda do curso Licenciatura em Educação do Campo (LEC), da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM).

Este trabalho foi orientado pelos professores Carlos Henrique Silva de Castro, Luiz Henrique Magnani e Mauricio Teixeira Mendes.

Tecnologias digitais e as escolas onde estudei

Tecnologias digitais e as escolas onde estudei

Por Elisama Sousa [1]

Ouça um trecho lido pelo próprio autor a seguir. O texto completo, em formato escrito, segue logo abaixo.

Inicialmente estudei em uma escola do campo, localizada em uma comunidade próxima, onde não existia variedades de tecnologias digitais, apenas uma televisão analógica. Por essa escola atender somente os anos iniciais do Ensino Fundamental, ao ingressar a 5ª série, mudei para uma escola estadual situada na cidade. Meu primeiro contato com um celular foi um analógico da marca Nokia, que meu tio possuía, quando eu tinha em média 8 anos de idade. Eu gostava muito de jogar no celular, mas como meu tio morava em uma cidade distante, eu só podia fazer isso em ocasiões que ele visitava minha avó.

Um dos jogos se chamava Nature Park e nele era necessário fazer com que o urso pegasse bolinhas; após o urso pegar uma sequência de três de mesma cor, acontecia um incêndio e o quadro ficava mais vazio, possibilitando ao urso maior habilidade ao recolher bolinhas.

Na primeira vez que usei um computador eu tinha 10 anos de idade e cursava a 5ª série. Essa oportunidade aconteceu na sala de informática da Escola Estadual Teodomiro Caldeira Leão, quando fomos fazer uma pesquisa. Eu não sabia usar o computador, mas com a ajuda dos meus colegas, muitos deles da cidade e já sabiam fazer pesquisas na internet, consegui meu objetivo.

Na 6ª série comprei meu primeiro celular, quando enviei as primeiras mensagens SMS. Utilizei o celular mais para assistir a vídeos e ouvir músicas que meus colegas me enviavam pelo bluetooth. Conta no Facebook eu criei quando fiz alguns cursos no Telecentro da cidade, quando estava cursando o Ensino Fundamental II.

Atualmente o uso de tecnologias digitais tem feito parte da minha rotina e isso só se intensificou durante a pandemia. Com as aulas remotas, aumentou a necessidade de acompanhar os grupos de WhatsApp e fazendo pesquisas acadêmicas constantes. Assim, para interação entre a turma do curso e comunicação em geral uso com mais frequência o WhatsApp; para entretenimento uso Instagram para.

Percebo que as pessoas mais velhas que residem no campo têm mais dificuldades, tanto em relação ao manuseio, quanto a aquisição dessas tecnologias digitais. Considero que não é algo impossível para elas, pois conheço pessoas acima de 50 anos de idade que têm acesso aos tipos de tecnologias aqui retratadas e conseguem fazer uso do WhatsApp, SMS, ligações, enfim, estabelecer uma comunicação.

Na universidade, o momento de mais aprendizado sobre o uso de computadores foi na monitoria, pois até então usava com facilidade apenas o smartphone. As monitorias me ajudaram bastante na realização dos trabalhos e, principalmente, nas aulas remotas. Mesmo assim a pandemia foi muito desafiadora, pois na minha comunidade a internet é instável, o que dificultou o acompanhamento das aulas.

As tecnologias possuem pontos positivos e negativos e isso tem a ver com o uso que escolhemos fazer delas. Uma das experiências mais marcantes para mim é que sem acesso às tecnologias digitais eu teria grande possibilidade de não estar na graduação; pois no momento da realização de matrícula, de forma presencial, me faltaram alguns documentos. Com um prazo pequeno para uso dos correios, pude escanear os documentos e enviá-los por e-mail.

Considero que o uso dessas tecnologias deve ser debatido com os estudantes, principalmente em escolas do campo, pois não podemos nos resignar com dificuldade de acesso, mas lutar por ele, pois estamos em uma sociedade globalizada e de avanços constantes de interesse de todos. Devemos quebrar o paradigma de que o campo é um lugar de atraso e de pessoas ingênuas. Um conhecimento negado ao estudante pode resultar em uma perda de oportunidades no âmbito educacional, do trabalho, da vida.

[1] Elisama Sousa é graduanda do curso Licenciatura em Educação do Campo (LEC), da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM).

Este trabalho foi orientado pelos professores Carlos Henrique Silva de Castro, Luiz Henrique Magnani e Mauricio Teixeira Mendes.

Meus acessos às tecnologias

<strong>Meus acessos às tecnologias</strong>

Por Claudiana Aparecida de Paula [1] 

Ouça um trecho lido pelo próprio autor a seguir. O texto completo, em formato escrito, segue logo abaixo.

As tecnologias digitais podem ser compreendidas por diversos fatores, como pontos positivos e/ou negativos. A tecnologia é mecanismo de informação, e desinformação, e nos oferecem possibilidades de divulgação das culturas de comunicação e interação com o mundo. Em um mundo globalizado, se não fizermos uso desses mecanismos provavelmente estaremos excluídos. Algumas tecnologias podem ser vistas como ferramentas viciantes, e normalmente envolvem mecanismos de manipulação ainda em estudo, como a ansiedade causada por likes e o papel dos conteúdos curtos nesse processo.

Sou de uma família humilde do campo e o meu primeiro acesso às ferramentas digitais foi quando já estava entre 17 e 18 anos de vida, em 2013. Isso não aconteceu somente comigo e sim com a maioria de meus colegas e amigos que moram ou moravam em áreas rurais.

Antes disso eu ganhei um celular analógico, presente do meu pai, da marca “tijolão”, não tinha acesso à internet, mas dava para fazer ligações e tinha uns joguinhos bem legais que vinham no aparelho. Lembro-me, como se fosse hoje, a reação de felicidade do meu pai ao me dar um celular, pois era um período difícil e quase ninguém na minha comunidade tinha acesso a uma ferramenta daquelas, tinha pessoas que não faziam ideia do que seria um celular.

Outra alegria imensa com o acesso a tecnologias foi no ano de 2010, quando estávamos todos ansiosos para a Copa do Mundo na África. Minha mãe nos presenteou – a mim e meus irmãos – com uma televisão de 14 polegadas de tubo. Foi uma felicidade enorme. Era uma televisão de tubo, com características muito inferiores às digitais de hoje em dia, mas ressalto que ela foi uma excelente ferramenta de comunicação e discernimento de informação.

Ao todo somos cinco irmãos, sou a filha do meio, ou seja, tenho dois irmãos mais velhos e dois irmãos mais novos. Gosto sempre de brincar com eles que somos dois tipos de filhos, os mais velhos são gerações raiz, com pouco ou nenhum acesso às tecnologias digitais, e os mais novos são gerações “nutela”, com mais acesso apesar das limitações, e eu estou no meio dessas mudanças. As brincadeiras divertidas como roubar bandeira, cabra cega, que nós mais velhos tivemos na infância, os meus irmãos mais novos não fazem nem ideia do que sejam.  E isso não é exclusividade apenas da família, observo que no período em que eu estudava na educação básica, e agora pelas experiências no estágio da licenciatura que curso, as pessoas que nasceram antes dos anos 2000, no geral, tiveram o primeiro contato com o celular analógico somente na adolescência. O máximo que nossos celulares antigos podiam fazer era enviar mensagens de SMS, hoje às crianças já nascem tendo contato com o smartphone para assistir a vídeos e jogar na internet, dentre outras coisas. 

No ano de 2014 comprei meu primeiro celular digital, com várias ferramentas e funções novas, mas mesmo assim fiquei muito tempo apreensiva com as redes sociais. Minhas primeiras contas eu criei quando estava fazendo o Magistério (Formação de Professores na Educação Básica com os Anos Iniciais) em uma turma de pessoas com diferentes perfis socioeconômicos, mas onde todos tinham celulares e faziam o uso das redes sociais. Então, acabei me afastando do grupo da sala por não me sentir parte. Minha colega de curso, vendo que me afastava todos os dias quando iam mexer nos seus celulares, me convenceu a criar conta nas redes sociais. Comecei pelo WhatsApp, depois Facebook, e em 2021 decidi aderir ao Instagram

No ano de 2018, quando ingressei no Curso da Licenciatura em Educação do Campo pela Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, comecei a ter uma visão mais crítica sobre o uso das redes sociais. Hoje, eu administro seis contas no meu aparelho celular de duas redes, três no Facebook e três no Instagram. Duas contas pessoais, uma em cada rede, outras duas da Associação Comunitária Quilombola e outras duas da N’GOLO/Federação das Comunidades Quilombolas do Estado de Minas Gerais.

A minha conta do Instagram pessoal uso mais para publicar fotos, pois gosto de postar minhas fotos que acho interessante, principalmente quando vou a algum lugar e tiro fotos bonitas. No Facebook gosto de ser bastante diversificada. Faço diversas postagens. Achei legal, posto. Mas sem ter aquele posicionamento crítico, pois prefiro evitar fazer postagens de cunho político, religioso ou de assuntos que causariam debate nas minhas publicações, pois sou de uma família com pessoas de identidades e opiniões diferentes da minha e prefiro evitar confusões.

Já as contas da Associação e da N’GOLO eu tenho que ter mais atenção, pois são contas de instituições que envolvem outras pessoas.  Nessas contas faço a divulgação dos conteúdos do território Quilombola ou assuntos pertinentes aos interesses gerais. Então, priorizo postagens sobre as culturas e lutas do nosso povo. Por ser de mais fácil o acesso e mais ágil para a comunicação e interação com as pessoas, uso muito o WhatsApp para essas funções. 

Pensando nas tecnologias no meu dia a dia, considero que passo boa parte do meu tempo com o celular na mão, seja para assuntos acadêmicos, pessoais, ou dos movimentos sociais que participo. Todas as vezes que chega notificação no celular, imediatamente paro tudo e vou ver do que se trata. De fato, esse comportamento atrapalha um pouco a minha vida no geral, até mesmo o meu relacionamento com o meu marido, pois não consigo cumprir os horários que destino para cada atividade. Todos os dias já acordo com o alarme do celular, em seguida olho todas as correspondências seguindo por essa ordem: WhatsApp, E-mail, Facebook, Instagram e notícias do Feed que são disponibilizadas pelo Google. Sinto que depois que comecei a participar dos movimentos sociais e da vida acadêmica estou mais dependente das ferramentas tecnológicas.

O ponto positivo das minhas experiências é que não precisei de muito tempo para me adaptar ao ensino remoto pois eu já usava, por exemplo, ferramentas de reuniões online com os movimentos sociais e outras. Entretanto, uma das dificuldades que devo mencionar sobre o ensino remoto é que eu moro atualmente em Diamantina, na zona urbana, mas desenvolvo algumas atividades em minha comunidade rural que fica entre os municípios de Serro e Santo Antônio do Itambé. Durante o período do ensino remoto, precisei ir para a comunidade muitas vezes e lá não tem acesso à internet. Então para usar a internet no celular, conectava via antena rural de uma vizinha, que eu ia à noite quando tinha encontros online, a aproximadamente a vinte minutos de moto. Como não sei pilotar, precisava que um dos meus irmãos ou meu marido me levasse todos os dias. As dificuldades do ensino remoto não foram apenas para os estudantes do ensino superior, afetaram também os estudantes da educação básica, principalmente a do campo, aqueles de comunidades com essa que citei, que não têm acesso, ou têm acesso precário, à internet.  

Em síntese, compreendo que as tecnologias digitais não são neutras, e que, como futuros educadores, devemos sempre trazer para a sala de aula debates que apontem pontos positivos e negativos de seus usos, pois os estudantes devem ter suas próprias concepções críticas do uso dessas ferramentas. A melhor forma, então, é orientá-los para fazerem um bom uso das tecnologias, para, sobretudo, não cairmos em truques de linguagem no processo de interação e comunicação, mas podermos acessar bons debates para maior consciência crítica.

[1] Claudiana Aparecida de Paula é graduanda do curso Licenciatura em Educação do Campo (LEC), da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM).

Este trabalho foi orientado pelos professores Carlos Henrique Silva de Castro, Luiz Henrique Magnani e Mauricio Teixeira Mendes.

Tecnologias na minha vida

<strong>Tecnologias na minha vida</strong>

Por Alexandre dos Santos Baldaia [1] 

Ouça um trecho lido pelo próprio autor a seguir. O texto completo, em formato escrito, segue logo abaixo.

Nasci em uma comunidade do campo, em uma época em que pouco se ouvia falar de tecnologia digital. No campo essas tecnologias acabam chegando por derradeiro. Apesar das dificuldades financeiras, meus primeiros contatos com um celular foram aos meus 12 anos, em meados de 2011 para 2012. No entanto só em 2015 ou 2016 que tive meu primeiro aparelho celular, um Samsung J5; a partir de então criei minhas primeiras contas em ambientes virtuais, no Google e no Facebook.

Adquiri esse primeiro celular não porque precisava, mas por ver meus colegas da escola com essa tecnologia. Percebi que precisava ter um para me enturmar, pois era moda. Em meu tempo de escola havia uma sala de computação, no entanto, dificilmente éramos levados para trabalhar com esses computadores. Somente a partir de 2018, época em que ingressei na Licenciatura em Educação do Campo, que pude trabalhar com o computador/notebook.

Atualmente utilizo alguns aplicativos no smartphone como o WhatsApp e Instagram, usados para socializar. Também utilizo outras ferramentas para pesquisas e para assistir vídeos (YouTube, Tik Tok, Google). O Instagram e o Tik Tok utilizo para publicar fotos, vídeos, sem uma função determinada, como para ganhar curtidas ou comentários. Logo ao acordar já começo utilizá-los.

Com essas tecnologias em mãos, acabamos deixando de lado outras coisas que fazíamos, como ter um diálogo face-face. Nos ajudam a resolver quase tudo sem mesmo sair de casa/quarto. Por exemplo, compramos e pagamos através de um clique. Por um lado, facilitou a solução de problemas, mas também traz consequências como o alto consumismo online e o abandono dos comerciantes locais, levando-os à falência.

Nem todos das gerações anteriores, como nossos pais e/ou avôs, se apropriaram dessas novas tecnologias, sendo que grande parte dessas gerações não foram alfabetizados, o que dificulta o uso, mesmo sendo interativas e de fácil manuseio. Atualmente, as crianças já nascem com um aparelho digital na mão, o que os leva a um processo de aprendizagem antecipado, antes mesmo da alfabetização.

No ambiente escolar, considero que o uso das tecnologias digitais é de suma importância, pois são ferramentas que podem chamar a atenção dos alunos, além de prepará-lo para o que estar por vim. Assim é importante que haja professores capacitados, para que os alunos se apropriem dessas ferramentas de forma crítica para, assim, não ficarem sujeitos a exclusão digital/social.

Na minha formação básica tive pouco contato com as tecnologias. Lembro-me que havia poucos computadores na escola e os utilizávamos raramente. No decorrer dos anos algumas coisas evoluíram com o uso do pendrive e de projetores de imagens, mas mesmo assim eram pouco utilizados.

Na universidade tive dificuldade em utilizar o computador/notebook, pois não estavam incorporados nas minhas vivências e até hoje não domino bem essas tecnologias. Nesse espaço tive várias experiências importantes para minha aprendizagem como acessar e utilizar os ambientes de aprendizagem Moodle e Google Classroom.

Durante a pandemia, o uso de tecnologias no meu cotidiano não foi excessivo. Como moramos no campo, onde o acesso à internet é difícil, e não podíamos sair do isolamento social, praticamente deixamos as tecnologias de lado. Com isso, a maioria do tempo estivemos trabalhando nas plantações.

Quando começou o ensino remoto, tivemos dificuldades para acesso internet. Para conseguir melhor sinal, tínhamos que subir em morros para acompanhar as aulas e fazer as atividades. Foi a solução para se ter maior acesso. Por morar fora do centro da comunidade, não conseguia o sinal da internet para instalar em casa, pois nem se avista a torre que transmitia o sinal. Como a demanda de pessoas sem acesso à internet era grande, buscamos por uma empresa que instalasse uma antena mais próxima e os aparelhos de conexão nas casas. Para isso, tivemos que abrir um caminho e carregar o material até o morro onde seria fixada a antena. Financeiramente, a comunidade se uniu e cada um pagou 100 reais para instalação e uma mensalidade de 77 reais. Assim foi feito e em outubro de 2021 conseguimos acesso à internet em casa, mas não é de tão boa qualidade.

Com internet em casa, passei a utilizar um computador de mesa, que foi doado por minha irmã. Com internet em casa, meus pais passaram a ter também aparelhos para se comunicarem. Assim como eu que tive dificuldade em ter acesso à internet em casa, e ainda de má qualidade, devemos analisar que isso pode ter ocorrido com outras pessoas ou até mesmo pior, que as impossibilitaram de continuar a estudar durante o ensino remoto. Devemos ainda analisar como os alunos do campo estudaram no ensino remoto, já quem nem todos têm acesso à internet, ou a outros aparelhos, para estudar.

Percebo que essas novas tecnologias devem/precisam ser trabalhadas nas escolas, já que são utilizadas por/pelos alunos. Assim, devemos pensar em uma educação do campo na qual todos tenham acesso. Como futuro educador me vejo trabalhando com as tecnologias a partir do contexto em que estão inseridos. Penso em buscar possiblidades no qual os estudantes consigam interagir efetivamente. Se nós educadores não trabalharmos tecnologias na educação, entendo que não estamos cumprindo nosso papel de formar jovens e adultos de uma forma crítica. Assim, devemos criar condições para que percebam a importância do uso dessas tecnologias, e como o mau uso traz consequências às vezes irreversíveis.

[1] Alexandre dos Santos Baldaia é graduando do curso Licenciatura em Educação do Campo (LEC), da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM).

Este trabalho foi orientado pelos professores Carlos Henrique Silva de Castro, Luiz Henrique Magnani e Mauricio Teixeira Mendes.

Efeitos e avanços das tecnologias em minha vida

Efeitos e avanços das tecnologias em minha vida

Por Carla Batista Dias [1] 

Ouça um trecho lido pelo próprio autor a seguir. O texto completo, em formato escrito, segue logo abaixo.

Meu primeiro contato com o mundo digital foi tardio, aos dez anos, com o telefone via antena na casa da vizinha, o qual a gente usava para ligar para os parentes que moram fora, como em São Paulo e Campinas. Outros contatos com as tecnologias digitais aconteceram na escola, onde usei pela primeira vez um computador.

Na escola também assistíamos a filmes em DVDs na televisão, outra tecnologia em alta no período, mas ter a oportunidade de interagir com um computador, que a gente não tinha nem noção de como funcionava de verdade, foi algo muito gratificante e, acredito, um privilégio. Mais tarde, entre 2009 e 2010, tive o primeiro celular digital (da Nokia) com teclado touch screen que eu utilizava para fazer ligação, acessar o Facebook e tirar fotos. A internet era bem limitada, pois só funcionava com a compra de créditos antecipados.

Com o passar dos anos, tive acesso a várias outras ferramentas digitais, como celulares mais modernos da Samsung com Facebook, e-mail, WhatsApp. A rede social que eu mais utilizava era o WhatsApp para comunicar com o namorado. As outras redes sociais eu usava mais por curiosidade.

Atualmente, devido aos meus estudos na universidade, costumo usar essas ferramentas de comunicação, mas também utilizo outros com finalidades específicas educacionais como Google Classroom, E-campus, Google Meet, Google Drive, assinatura digital, e-mail institucional etc. Mesmo com todas as funções e possibilidades de aprendizagem que essas tecnologias proporcionam, a proibição de seus usos no contexto de sala de aula é uma realidade. Eu mesma já vivenciei essa proibição em uma escola públicas.

Hoje em dia estou presente nas redes sociais buscando conhecimento e trabalhando. A tecnologia que sempre uso ao acordar é o telefone celular devido o alarme. Ao longo do dia, junto ao celular utilizo o notebook. Com a presença dessas tecnologias e das redes sociais no meu cotidiano, algumas práticas sociais mudaram, como ler diariamente, brincar com os amigos no final da tarde etc. 

Pensando nesses avanços tecnológicos, tem o lado positivo e o negativo. De negativo, algumas práticas educativas que eram realizadas na comunidade, como a contação de histórias pelos mais velhos à luz do luar, com a chegada da internet, já não se faz mais isso. As pessoas mal conversam umas com as outras. Com isso, tradições como as danças locais e as festividades estão sendo modificadas.

Na minha formação na educação básica, tive poucas experiências com as tecnologias digitais e na sala de aula era proibido o uso de celulares, que nem todos tinham. O computador de mesa da escola raramente era utilizado para a pesquisa. Nem acesso à internet tínhamos, pois fomos privados com o argumento de que não sabíamos administrar o tempo de uso. O contato mais prolongado com a internet era em uma lan house, onde eu pagava um real para acessar o que queria.

Com o ingresso na universidade, adquiri um notebook para poder realizar as atividades do curso. No início tive muita dificuldade de acessar o Moodle, onde são postados os trabalhos. O acesso ao ambiente é um pouco complicado e demorado e seu suporte para arquivo é limitado. Atualmente o uso da assinatura eletrônica está sendo um desafio, outras ferramentas foram mais tranquilas.

No contexto pandêmico, em que estudamos de forma remota por dois anos, a necessidade e o acesso às ferramentas digitais acabaram sendo a preocupação principal. Ficamos dependentes delas para poder conseguir dar sequência aos estudos e muitos desistiram por não possuírem ferramentas adequadas e não terem condições financeiras para comprar. Eu mesma tive que comprar um novo computador. Nesse período em que ficamos dependentes das tecnologias para a comunicação, o contexto do campo foi o mais afetado, uma vez que não estávamos acostumados com tanta informação digital ao mesmo tempo e nem tínhamos acesso a essas tecnologias.

Diante dessas e outras experiências, vejo o uso das tecnologias nas escolas de forma excludente, pois não são acessíveis à maioria. Uma vez que somos refém dessas ferramentas, devemos usá-las ao nosso favor. Tenho a experiência na universidade de uma sala de aula onde o uso dessas tecnologias funciona super bem e são fundamentais para o nosso aprendizado. Dessa forma, com certeza vou usar algumas delas nas minhas aulas para o ensino dos meus futuros alunos, sempre em busca do diálogo sobre a atualidade, as tecnologias digitais e o seu uso positivo e/ou negativo e questões relacionadas ao consumismo.

Como futura educadora do campo, buscarei também metodologias e ferramentas que atendam a maioria dos meus alunos, buscando diminuir a exclusão notória no contexto de sala de aula. Sinto-me segura para dar aula com determinadas ferramentas digitais como o computador/notebook, o celular, o datashow que, a meu ver, são tecnologias essenciais para um ensino dialógico no contexto escolar. Para mim, é evidente que o educador deve se adequar ao mundo tecnológico para contribuir para uma educação de qualidade, para que seus estudantes sejam críticos ao utilizarem as redes e as tecnologias de maneira geral.

[1] Carla Batista Dias é graduanda do curso Licenciatura em Educação do Campo (LEC), da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM).

Este trabalho foi orientado pelos professores Carlos Henrique Silva de Castro, Luiz Henrique Magnani e Mauricio Teixeira Mendes.

Tecnologias e acesso na realidade

<strong>Tecnologias e acesso na realidade</strong>

Por Alcione Aparecida Ferreira [1] 

Ouça um trecho lido pelo próprio autor a seguir. O texto completo, em formato escrito, segue logo abaixo.

Vivi pelo menos até os cinco anos de idade em uma comunidade onde não existia energia elétrica. Então, os primeiros aparelhos tecnológicos com os quais tive contato foram os rádios à pilha, o toca-fitas e a radiola em que podíamos ouvir músicas e nos manter informados a respeito dos acontecimentos das cidades vizinhas.

Ao ingressar na escola municipal de minha comunidade para os primeiros anos de minha educação formal, época em que já havia energia elétrica, pude ter acesso aos rádios que tocavam CDs, e televisão em que podíamos assistir desenhos, e filmes em fitas VHS e mais tarde em DVDs. Em casa ocorreu meu primeiro acesso ao celular, quando meu pai comprou um telefone que chamávamos de tijolão. Com ele eu jogava escondido um único jogo que não me lembro o nome. 

Meu irmão já possuía um celular e não me deixava usá-lo para não estragar. Aos onze anos de idade, fui transferida para a escola estadual da cidade, onde pude acessar algumas tecnologias digitais como os computadores do Telecentro comunitário, onde eu fazia trabalhos como pesquisas, quando aprendi a manusear um pouco o computador.

 Aos dezesseis anos pude ter um celular de teclado, em que criei meu primeiro Facebook e ouvia músicas. Depois, fui trocando de aparelho com o decorrer do tempo. Principalmente no ensino médio eu utilizava bastante o SMS (Serviço de Mensagens Curtas) para comunicar-me com os colegas. Em casa, necessitava de ir para um lugar mais alto, normalmente no meio do mato, para ter o acesso à internet, pois o sinal não funcionava. Quando funcionava, era fraco. As vezes lá ficava até o celular descarregar ou a mãe ir gritar porque já estava preocupada. Ao cursar o magistério para o trabalho com educação infantil, criei conta no WhatsApp e Facebook, que eu utilizava bastante. Também visitava sites para pesquisas e lojas online, mas somente para pesquisar.

Ao ingressar na universidade, em 2018, comecei a ter mais acesso às plataformas digitais principalmente para os estudos, que depende bastante do acesso à internet para pesquisas, baixar textos e outros materiais disponibilizados pelos professores, comunicar com os colegas e professores e outros. Diante da situação que passamos por causa da COVID-19, tivemos que ter aulas remotas e utilizamos muitas plataformas digitais novas, além dos equipamentos. Para estudar, utilizo o notebook e celular e os aplicativos Google Classroom, Google Drive, Google Meet, E-mail, entre outros. Para entretenimento e comunicação, ao longo do dia, utilizo os aplicativos WhatsApp, Facebook, Instagram, Kwai, Youtube, bem como também apps bancários, lojas online, entre outros.

Como pode-se notar, a tecnologia que utilizo com maior frequência ao longo do dia é o aparelho celular, que, ao acordar, já visualizo as horas, se tem alguma mensagem ou ligação importante. Se a manhã estiver tranquila, entro em algum aplicativo de entretenimento para me distrair. Algumas práticas sociais mudaram com o uso de diferentes tecnologias. Hoje resolvo algumas situações do cotidiano pelo WhatsApp e ligações como marcação de consulta e até a consulta dependendo do especialista, comunicar-me com o agente de saúde da cidade, entre outras atividades que desenvolvia antes pessoalmente me deslocando até o ambiente.

Diante dessa realidade de intensas mudanças que estamos presenciando, certamente passaremos por novas adaptações, principalmente quando se trata dos contextos educacionais e formação profissional, em que o uso das tecnologias digitais se tornou necessário nos diversos níveis e áreas. Durante o meu processo de formação como profissional docente, percebo que utilizarei vários mecanismos tecnológicos que os meios sociais exigem e estão sempre em mudança, principalmente nas escolas onde atuarei. Espero usar essas novas possibilidades tecnológicas no ensino da melhor forma possível, de forma que ajude a incluir quem não tem acesso a elas, o que não será fácil, mas é necessário.

[1] Alcione Aparecida Ferreira é graduanda do curso Licenciatura em Educação do Campo (LEC), da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM).

Este trabalho foi orientado pelos professores Carlos Henrique Silva de Castro, Luiz Henrique Magnani e Mauricio Teixeira Mendes.

Experiências e perspectivas vinculadas ao uso de tecnologias

<strong>Experiências e perspectivas vinculadas ao uso de tecnologias</strong>

Airton Alves Chaves Junior [1]

Ouça um trecho lido pelo próprio autor a seguir. O texto completo, em formato escrito, segue logo abaixo.

Aqui abordo alguns aspectos vinculados às minhas experiências com tecnologia digital. Aos 15 anos de idade, tive contato com um computador de mesa da escola onde eu estudava. Acredito que esse foi meu primeiro contato com um aparelho digital, meio tardio. Naquela época fiquei admirado ao ver a máquina. A professora pediu que realizássemos uma pesquisa, mas eu não sabia nem ligar a ferramenta. 

Após a professora ligá-la, alguns colegas me ensinaram a usar o mouse, a usar a aba de pesquisa e outras coisas. Tive bastante dificuldade para controlar o mouse, mas o que me chamou muita atenção foi o fato de que se o levantasse da mesa, não funcionava muito bem. Esse primeiro contato com a ferramenta impactou meu processo de aprendizagem, pois fiquei muito curioso ao ver que meus colegas estavam obtendo muita informação nas pesquisas que faziam. Porém não tive bom resultado na atividade em si, pois não consegui acessar as informações como meus colegas.

Aos 17 anos consegui comprar meu primeiro celular e tive muita dificuldade em instalar o Facebook, pois naquela época, e até mesmo hoje em dia, acessar a internet na minha comunidade é difícil. Há algum tempo utilizando o aparelho pude aprender bastante coisa e logo comecei a utilizar o Google para pesquisar e realizar atividades mais complexas. Até hoje essa ferramenta tem sido uma das que mais utilizo. Acredito que o vínculo com o curso de graduação tem sido um dos principais elementos que me direciona/aproxima a esses usos, pois sempre utilizo para pesquisar, estudar, dificilmente acesso com outro intuito. Também uso bastante o WhatsApp e Gmail, ferramentas que me dão acesso a questões do curso e informações de familiares. Até pouco tempo usava o app do Facebook, porém acabei desinstalando, pois notei que estava havia muita frequência de sorteios de rifas.

Sempre tive pouco acesso a tecnologias digitais, pois passei a infância na roça onde não há nem sinal de telefonia. Nos dias atuais resido no mesmo lugar, porém acesso as ferramentas com mais frequência para estudar. Meu uso diário de internet se dá apenas quando estou no Tempo Universidade, que é totalmente diferente de quando estou na comunidade, quando fico semanas sem acessar nenhuma plataforma digital. As tecnologias têm facilitado muito meu processo de adaptação na graduação, inclusive na pandemia, quando realizamos muitos trabalhos e pesquisas de Tempo Comunidade em reuniões virtuais e diálogos no WhatsApp. Se não houvesse tais plataformas não tínhamos condições de desenvolver tais propostas.

Nas pesquisas e diálogos realizados na comunidade fica visível a mudança nas relações entre as gerações novas e mais velhas com o uso de tecnologias, como alguns moradores têm se queixado. Os mais velhos afirmam que a “cultura tem se perdido” na comunidade, pois os jovens se recusam a aprender os costumes. Inclusive. um senhor me relatou em uma entrevista, que ele é o único que ainda sabe fazer bolsas de couro na região. Ele afirma que seu pai lhe ensinou e hoje não pode fazer da mesma maneira com seus filhos, pois eles não querem. Após adquirirem celulares, “não têm gosto de fazer mais nada”. Mesmo não havendo internet, o contato de crianças e jovens com os aparelhos é constante, que os utilizam para jogos digitais.

Vejamos que há pontos negativos e positivos quando discutimos a nossa relação com essas novas tecnologias. Proporcionam muito conhecimento e têm contribuído para a minha formação; mas deparo-me com pontos negativos quando noto que minha comunidade tem perdido muitas tradições pelo mal-uso das tecnologias digitais. Como educador do campo, uma boa possibilidade de se trabalhar com os estudantes e novas tecnologias seria usá-las para o estudo das culturas locais, com vídeos de depoimentos, dentre outros.

Hoje percebo como tudo tem evoluído, inclusive a escola, pois na que frequentei há vários computadores com conexão Wi-Fi que, são utilizados com frequência, pelos alunos. Também, nas salas de aula há televisores com acesso à internet, diferente da minha época. Na Licenciatura em Educação do Campo (LEC) tenho aprendido muito com o uso de tecnologias digitas. Meus principais aprendizados estão relacionados ao uso do computador, onde acesso diversos sites e fontes de estudos.

Quando estava cursado o terceiro período tive que comprar um notebook e um celular, pois dependia desses aparelhos para estudar. No momento de pandemia a plataforma como Classroom dificultou significativamente meu processo de aprendizagem, pois eu perdia aulas anunciadas na plataforma, quase não entendiam as explicações virtuais, não encontrava as informações para o trabalho, devido não saber manusear o aplicativo. Essas dificuldades encontradas têm feito parte de minha formação e me proporcionado diversos conhecimentos. A pandemia em mudou toda minha rotina. Para ter acesso a aulas em vídeo, devido à dificuldade de acesso à internet, tinha que me deslocar todos os dias até o alto de um morro onde o sinal é melhor.  Talvez eu não entendesse as explicações virtuais por fatores como esses: subir um morro, no mato, às com fome, outras com frio.

Na escola básica na comunidade não foi muito diferente. Sem ir à escola presencialmente, os alunos tinham que subir o morro para pesquisarem diversas questões dadas por seus professores. Além de que, em sua maioria, não possuem um aparelho adequado para acessar a internet. Eu mesmo emprestei meu celular para alguns que não tinham. A pandemia afetou gravemente muitos alunos, inclusive os oriundos do campo.

É de suma importância afirmar que o acesso às tecnologias existentes no contexto urbano não é o mesmo do campo, a exemplo da internet. Isso tem sido um fator que afeta o ensino/aprendizagem dos estudantes campesinos, pois os impedem de ter o contato com tais ferramentas e seus usos, como vimos na pandemia. Ao longo de minhas experiências de estágio, pude perceber que os docentes optam por trabalhar com livro didático ao invés de passarem um filme na televisão, ou desenvolverem atividades na sala de informática. Os professores afirmam que, quando mudam as práticas tradicionais, os alunos acabam bagunçando e não fazem as atividades. Esta é a “desculpa” que tenho presenciado por diversas vezes no contexto escolar.

Acredito que práticas conscientes com as tecnologias digitais na escola proporcionam um universo de possibilidades para tornar o ensino realmente significativo para os estudantes, porém devemos ter o cuidado para não colocarmos esse público expostos a mais consumismo. Com o objetivo de aumentar o consumo, na internet o mercado recorre a diversas propagandas, por vezes duvidosas, além dos falsos padrões criados. A tecnologia contribui para o nosso avanço e para educação em geral, e por isso faz muita falta para muitos que ainda não têm acesso.

[1] Airton Alves Chaves Júnior é graduando do curso Licenciatura em Educação do Campo (LEC), da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM).

Este trabalho foi orientado pelos professores Carlos Henrique Silva de Castro, Luiz Henrique Magnani e Mauricio Teixeira Mendes.

Experiências com tecnologias

<strong>Experiências com tecnologias</strong>

Por Adilson Gomes Santos [1]

Ouça um trecho lido pelo próprio autor a seguir. O texto completo, em formato escrito, segue logo abaixo.

Trago aqui reflexões sobre o meu processo de adaptação com algumas ferramentas tecnológicas a partir de experiências que marcaram esse percurso. Além disso, deixo minhas percepções como futuro educador do campo, em um contexto educacional onde novas metodologias podem ser escassas.

Durante minha infância, o contato com as tecnologias digitais era muito difícil, pois se dava na escola estadual onde estudava, apenas quando éramos levados para a sala de informática para pesquisar algo relacionado a matéria estudada. Todas as recomendações da professora, com o medo de estragarmos aquele computador empoeirado, já despertava em nós a preocupação em atrapalhá-lo. 

A chegada dos celulares, por exemplo, na Comunidade Quilombola do Furtuoso, no município de Coluna, onde resido, se deu de forma muito lenta. Me lembro que o meu primeiro acesso a um aparelho celular foi aos 17 anos, quando um primo conseguiu comprar um. 

Com o passar do tempo, consegui comprar um aparelho bem simples, que aos poucos fui trocando. O tempo foi passando e com o apoio da Associação Quilombola da Comunidade conseguimos levar a internet para nosso quilombo. Isso possibilitou a redistribuição da rede e a instalação nas residências dos moradores, facilitando assim o contato com o “mundo globalizado’’. A partir daí foi possível criar contas nas redes sociais como o Facebook, consegui comprar meu primeiro notebook, utilizado com mais frequência para os estudos, mas também para momentos de descontração.

Em meu processo de uso das tecnologias, muitas oportunidades e incentivos foram dados por meus professores, da Licenciatura em Educação do Campo, que me colocaram ativamente no uso das ferramentas digitais. Em minha prática atual com a tecnologia digital, uso com muita frequência a plataforma Google Classroom, mensageiros e redes sociais como WhatsApp, Facebook e Instagram, usados para troca de mensagens. Considerando que faço parte dos movimentos sociais quilombola na comunidade onde moro, às vezes, bem raramente, posto algumas fotos nas redes, mas não curto muito essa ideia.

No meu cotidiano, as tecnologias midiáticas estão sempre presentes. Pensando no dia de ontem, o primeiro aparelho tecnológico que utilizei no dia foi o celular, que serviu até mesmo como despertador. No decorrer do dia, também usei o notebook. Uma das ferramentas ainda não explorada por mim, que pretendo utilizar e tenho essa curiosidade, é o GPS, que pode facilitar as rotas de viagem que pretendo fazer em um futuro bem breve.

 Percebo que em função de algumas tecnologias, algumas práticas comuns foram se perdendo. Antes era comum o diálogo face a face, a interação humana de forma presencial; e hoje em dia as pessoas se encontram alienadas pelos aparelhos digitais, com isso muitas tradições e culturas foram sendo perdidas. Recordando-me da época de convivência com meus avós, tios e primos mais velhos, percebo que a tecnologia que chegou como “moderna” na comunidade também excluiu, de certa forma, as práticas culturais da comunidade. Um dos exemplos que pode ser citado, ainda fresco em minha memória, é o momento em que grande parte da família se reunia próximo ao pé de manga gigante que existe na casa de minha avó para ouvir histórias, algumas vezes de assustar. Íamos embora para casa com medo após os causos contados. Hoje esse espaço é ocupado pela juventude nos jogos de Free Fire, sem espaço para as pessoas mais velhas e as tradições.

Por outro lado, as tecnologias têm facilitado de forma significativa o desenvolvimento, mesmo excluindo pessoas como mostra nosso quadro de grande desigualdade social. Considerando essa realidade, como professor eu buscaria metodologias e ferramentas que atendessem, de certa forma, às nossas necessidades educativas e que fosse de fácil acesso aos alunos. Optaria, por exemplo, por usar celular e notebook para envolver a todos, como em trabalhos em grupo.

Como já mencionado, na minha trajetória escolar a experiência com computadores e internet se dava na sala de informática, onde a tarefa que predominava era pesquisar na Wikipédia assuntos relacionados às atividades trabalhadas em sala de aula, como se estivéssemos na biblioteca. Anos após, ao realizar o processo de estágio nessa mesma escola, percebi que não houve uma grande evolução. Na mesma sala de informática os computadores se encontram no mesmo lugar, alguns deles amontoados e empoeirados, fazendo entender que são pouco utilizados.

 No meu percurso universitário, as principais tecnologias utilizadas são Moodle, E-campus, Google Classroom, Google Meet, e-mail institucional e, recentemente, a assinatura digital. Para mim esse novo ambiente foi bastante desafiador, acredito que para todos, por se tratar de ferramentas novas com as quais eu não tinha contato. O Moodle foi a ferramenta que mais encontrei dificuldades no domínio e acredito que isso tenha dificultado, de certa forma, meu aprendizado, pois os materiais para estudos eram postados nesse espaço. Com as dificuldades encontradas, eu só usava o ambiente para postagem de trabalhos.

No período do isolamento social, destaco como algo positivo o uso de algumas ferramentas para manter o diálogo e algumas atividades da universidade iniciadas presencialmente, mudando totalmente a metodologia. As ferramentas que antes eram mais utilizadas para interação social, com a pandemia se tornaram essenciais para o desenvolvimento dos trabalhos, como por exemplo, o WhatsApp. Assim, o período pandêmico me levou a me adequar a essas tecnologias também para o uso profissional, o que fez com que eu comprasse alguns novos aparelhos para conseguir acompanhar as atividades propostas.

 No contexto escolar das comunidades do campo, percebi que a implantação do Ensino Remoto Emergencial acabou dificultando o processo de aprendizado dos alunos e a atuação dos professores. Esses tiveram que se adequar à nova realidade muitas vezes sem possuir ferramentas básicas como conexão com a internet, além de não terem ajuda com recursos e nem formação específica.

Durante o processo de estágio, foi possível perceber que o uso das tecnologias na escola são um grande tabu, visto como algo totalmente negativo, até mesmo com a proibição do uso do celular em sala de aula. Deixam, assim, de aproveitar as ferramentas úteis ao processo de ensino e aprendizado dos alunos.

 Como futuro educador percebo a necessidade de se buscar por conhecimentos e capacitação para conhecer ferramentas que possam ser levadas para a sala de aula e que atendam ao público. Concluo com a defesa do uso de tecnologias adequadas ao espaço escolar, que possam atender a todos, de maneira significativa no processo de aprendizado dos alunos. Nesse sentido, deve-se quebrar essa barreira da proibição e adequar as ferramentas midiáticas utilizadas ao contexto social. Com relação à segurança em se trabalhar com as tecnologias em práticas educativas, percebo que é algo bem desafiador, pois precisa levar em consideração o público que será atendido. No entanto, a presença de computadores e acesso à internet em grande parte da escola facilita o trabalho com metodologias voltadas para a pesquisas que contribuem para a criticidade dos alunos.

[1] Adilson Gomes Santos é graduando do curso Licenciatura em Educação do Campo (LEC), da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM).

Este trabalho foi orientado pelos professores Carlos Henrique Silva de Castro, Luiz Henrique Magnani e Mauricio Teixeira Mendes.