Por Leonel Lemes Pereira [1]
Ouça um trecho lido pelo próprio autor a seguir. O texto completo, em formato escrito, segue logo abaixo.
Eu nasci em 1992, ano em que aconteciam vários movimentos dos atingidos pela barragem de Irapé. Esses movimentos fizeram com que surgisse a operadora Vivo na minha região. A partir de então chegaram os primeiros celulares que eram grandes com o sinal 2G. O meu primeiro celular era o Nokia modelo 1110 GSM. Em 2004 tive contato com equipamentos de rádio FM, a qual meu pai era responsável e locutor. A rádio se chamava Liberdade FM e possuía uma mesa de som semidigital que aprendi a usar um pouco e a mexer em efeitos de sons. Essa rádio durou alguns anos até uma gestão municipal fechá-la na cidade. Dessa forma a rádio mudou-se para a Serra do Chapéu, onde foram adquiridos novos equipamentos que deram alcance a mais cidades como Cristália, Botumirin, Grão Mogol e José Gonçalves de Minas.
Em 2008, em minha comunidade chegaram os primeiros celulares com chip e adquiri um Siemens A50 que servia apenas para jogar, pois ele não funcionava na operadora da região. Em 2009 fui estudar na Escola Estadual Professor Tutu, onde eu e um colega éramos responsáveis por auxiliar as turmas no uso dos computadores. Assim, de fevereiro a junho daquele ano tive contato com a sala de informática onde ensinávamos os colegas a ligarem e como usar algumas funções dos computadores e a acessar a internet, que era ruim, mas rodava alguma coisa.
Em 2010 tive meu primeiro celular que realmente funcionava para ligações e conexão à internet, era um Q5 2g, uma versão chinesa de alguns celulares que eram moda na época. Depois um Nokia N95, depois um Sony Ericsson, um Sony Xperia, um Motorola V3, e depois Alcatel.
Em 2011 fiz dois cursos em Janaúba em que tivemos acesso ao controle de caixa com sistema operacional que utilizavam para controle de estoque e gerenciamento de supermercado. Após um tempo fiz um curso de recepcionista no qual usava um computador de mesa. A função era de gerenciamento, check in e check out de hóspede e controle de estoque.
Em 2012 fui morar na cidade de Janaúba, onde trabalhava no período da manhã. Na parte da tarde, em Jaíba, cidade vizinha, fazia curso de eletricista e eletrônica residencial e predial. Nestes cursos tive a oportunidade de adquirir o conhecimento de montagem e programação de Controlador Lógico Programável (CLP), um controlador que tem a função de acionar maquinários tais como motores elétricos, esteiras de automação, tanto na teoria como na prática, com simuladores virtuais de empresa. O curso foi feito no Senai em parceria com a Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (FIEMG). Através da parceria foi criado o “Projeto Amanhã” da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (CODEVASFS). Nesse curso também tivemos acesso a automação residencial, vimos nas práticas modelo de automação para poços artesianos.
Em 2013 voltei para Cristália e trabalhei como eletricista e subsecretário de transporte. Meu contato com tecnologias digitais era a partir de planilhas de controle de almoxarifado, de veículos, gerenciamento de viagens e recebimento de combustível. Essas planilhas eram feitas no computador e anexadas em um sistema de controle de frotas da prefeitura que funcionava com uma empresa de controle de Montes Claros. Toda a prestação de contas era online, apesar de ter que entregar o documento físico nos setores responsáveis. Em 2014 comprei meu primeiro notebook, um Samsung que utilizava para jogar, assistir a vídeos e trabalhar.
No final de 2015 retornei para Janaúba e entre para um curso de técnico em administração, no qual tive acesso a muitas tecnologias digitais em aulas de programação e acessando plataformas como de emissão de notas, uso da plataforma do Cadastro Ambiental Rural (CAR) para emissão ISO 9001, construção de contratos, emissão de notas fiscais, entre outros.
Também em 2015 tentei fazer o vestibular para a Licenciatura em Educação do Campo (LEC), mas minha inscrição foi indeferida. Em 2018 tentei novamente, tomando mais cuidado e consegui ser aprovado. Em 2021, devido à pandemia do covid19, o estágio do curso foi realizado de forma remota com o uso de algumas ferramentas digitais como o Google Classroom, Google Meet, YouTube, Conexão Escola. O período foi ruim para os alunos, pois muitas crianças tiveram dificuldade para ter acesso e muitos pais também não conseguiram ajudar seu filho por não saberem utilizar as ferramentas digitais. Além disso, a acessibilidade nas comunidades rurais muitas vezes era apenas por dados móveis de redes 3G, e outras obrigavam os estudantes a saírem de suas residências para subirem no ponto mais alto da comunidade e tentarem obter sinal.
Em 2022 a escola em que estagiamos voltou ao funcionamento presencial e os alunos encontraram a escola de cara nova após uma reforma que trouxe novas salas de aula com TV de 55 polegadas, laboratório reformado e funcional, projetores Epson, sala de informática. Atualmente tudo está sendo usado por algum professor, como o de inglês, algumas de história e algumas de ciências da natureza. Lá alguns professores permitem o uso de celular para auxiliar na sala de aula.
A partir de minha trajetória em meio às tecnologias e com o curso Licenciatura em Educação do Campo, entendo que como docente podemos usar todas as plataformas e as tecnologias disponíveis para, por exemplo, criar um jornal comunitário, preparar roteiros e edição de textos, apps de desenhos, mapas, e outras plataformas desde que sejam adequadas ao desenvolvimento da turma e com o objetivo da aprendizagem. A minha trajetória agradeço à minha família que sempre apoiou minha jornada.
[1] Leonel Lemes Pereira é graduando do curso Licenciatura em Educação do Campo (LEC), da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM).
Este trabalho foi orientado pelos professores Carlos Henrique Silva de Castro, Luiz Henrique Magnani e Mauricio Teixeira Mendes.