Uma cabeça para pensar

Por Maria de Fatima Rocha Baldaia [1]

Ouça um trecho lido pela própria autora a seguir. O texto completo, em formato escrito, segue logo abaixo.

Venho de uma comunidade quilombola de poucas oportunidades para ingresso em uma Universidade Federal.  Estou no oitavo período do curso de Licenciatura em Educação do Campo e me recordo de como as coisas eram difíceis na minha casa. Como não tínhamos energia elétrica, fui saber o que era quando tinha de seis a sete anos, no período em que fui matriculada na escola.

Quando tinha sete anos, minha madrinha deu um rádio a pilha para meu adorável pai. Esse rádio fez sucesso na vizinhança. Parecia uma coisa de outro mundo. As novelas pareciam tão reais que os radialistas conseguiam prender a atenção de todos, que ficavam com os ouvidos atentos naquele rádio para não perder as informações que eles narravam para outros vizinhos e conhecidos. As novelas viravam tema de dos casos e rodas de conversas, com opiniões a favor e críticas às personagens.

Com dezesseis anos fui embora com parentes para Belo Horizonte e, pela primeira vez, tive contato com um orelhão porque precisava ligar para minha mãe na comunidade. Naquela época não tínhamos condições de ter um aparelho tecnológico em casa e foi muito difícil ter contato com essa e outras tecnologias. Quando eu tive o meu primeiro aparelho celular, as tecnologias já estavam bastante avançadas. Esse primeiro celular ganhei em um concurso na  escola através de um projeto chamado  PROERD, que premiou com um celular a melhor redação, de minha autoria. Era meu primeiro contato com uma tecnologia mais “avançada” e foi bastante complicado me adaptar, pois no início não sabia manusear o aparelho celular. Mesmo sendo um aparelho simples, fiz várias descobertas apenas vasculhando. Mesmo com poucos recursos, foi com ele que tive o privilégio de ter contato com a tecnologia digital. Hoje é diferente, acordo, já acesso o celular e a primeira coisa que olho é o WhatsApp. Também uso sempre o celular para ver as horas.

A pandemia afetou minha vida acadêmica e minha aprendizagem, pois passei a ter aulas online. Mesmo com carga horária reduzida não foi fácil, pois eu não tinha muito acesso às tecnologias. Estou aprendendo a mexer com mais eficácia no computador e isso contribui para acessar outros recursos tecnológicos como WhatsApp, Tik Tok, Facebook e outros. Também abri uma conta no Instagram, mas não sei como usá-lo, assim como Telegram e Twitter.

Por fazer um outro curso superior, na modalidade online, vi a necessidade de aprender alguns métodos novos e, assim, melhorar minha formação para lecionar. Com conhecimentos sobre tecnologias, pode-se adaptar as aulas dos jovens com recursos de seus cotidianos mostrando-lhes que esses meios podem ser usados de forma positiva. Através das aulas remotas pude ter uma nova visão de como trabalhar com alunos do campo. Também tive experiência com um projeto denominado “Educação além da internet”, que foi um projeto de inclusão socioeducacional com o intuito de atender alunos que não tinham acesso à internet na pandemia, mas deveriam fazer atividades com auxílio de tecnologias. Em cada aula que ministrei consegui identificar o avanço significativo na aprendizagem desses alunos, pois eles não tinham contato com internet, mas como o apoio do projeto puderam mostrar suas competências. Esse projeto foi de grande relevância para os alunos e para mim, professora em formação.

[1] Maria de Fatima Rocha Baldaia é graduanda do curso Licenciatura em Educação do Campo (LEC), da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM).

Este trabalho foi orientado pelos professores Carlos Henrique Silva de Castro, Luiz Henrique Magnani e Mauricio Teixeira Mendes.

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