Meus acessos às tecnologias

Por Claudiana Aparecida de Paula [1] 

Ouça um trecho lido pelo próprio autor a seguir. O texto completo, em formato escrito, segue logo abaixo.

As tecnologias digitais podem ser compreendidas por diversos fatores, como pontos positivos e/ou negativos. A tecnologia é mecanismo de informação, e desinformação, e nos oferecem possibilidades de divulgação das culturas de comunicação e interação com o mundo. Em um mundo globalizado, se não fizermos uso desses mecanismos provavelmente estaremos excluídos. Algumas tecnologias podem ser vistas como ferramentas viciantes, e normalmente envolvem mecanismos de manipulação ainda em estudo, como a ansiedade causada por likes e o papel dos conteúdos curtos nesse processo.

Sou de uma família humilde do campo e o meu primeiro acesso às ferramentas digitais foi quando já estava entre 17 e 18 anos de vida, em 2013. Isso não aconteceu somente comigo e sim com a maioria de meus colegas e amigos que moram ou moravam em áreas rurais.

Antes disso eu ganhei um celular analógico, presente do meu pai, da marca “tijolão”, não tinha acesso à internet, mas dava para fazer ligações e tinha uns joguinhos bem legais que vinham no aparelho. Lembro-me, como se fosse hoje, a reação de felicidade do meu pai ao me dar um celular, pois era um período difícil e quase ninguém na minha comunidade tinha acesso a uma ferramenta daquelas, tinha pessoas que não faziam ideia do que seria um celular.

Outra alegria imensa com o acesso a tecnologias foi no ano de 2010, quando estávamos todos ansiosos para a Copa do Mundo na África. Minha mãe nos presenteou – a mim e meus irmãos – com uma televisão de 14 polegadas de tubo. Foi uma felicidade enorme. Era uma televisão de tubo, com características muito inferiores às digitais de hoje em dia, mas ressalto que ela foi uma excelente ferramenta de comunicação e discernimento de informação.

Ao todo somos cinco irmãos, sou a filha do meio, ou seja, tenho dois irmãos mais velhos e dois irmãos mais novos. Gosto sempre de brincar com eles que somos dois tipos de filhos, os mais velhos são gerações raiz, com pouco ou nenhum acesso às tecnologias digitais, e os mais novos são gerações “nutela”, com mais acesso apesar das limitações, e eu estou no meio dessas mudanças. As brincadeiras divertidas como roubar bandeira, cabra cega, que nós mais velhos tivemos na infância, os meus irmãos mais novos não fazem nem ideia do que sejam.  E isso não é exclusividade apenas da família, observo que no período em que eu estudava na educação básica, e agora pelas experiências no estágio da licenciatura que curso, as pessoas que nasceram antes dos anos 2000, no geral, tiveram o primeiro contato com o celular analógico somente na adolescência. O máximo que nossos celulares antigos podiam fazer era enviar mensagens de SMS, hoje às crianças já nascem tendo contato com o smartphone para assistir a vídeos e jogar na internet, dentre outras coisas. 

No ano de 2014 comprei meu primeiro celular digital, com várias ferramentas e funções novas, mas mesmo assim fiquei muito tempo apreensiva com as redes sociais. Minhas primeiras contas eu criei quando estava fazendo o Magistério (Formação de Professores na Educação Básica com os Anos Iniciais) em uma turma de pessoas com diferentes perfis socioeconômicos, mas onde todos tinham celulares e faziam o uso das redes sociais. Então, acabei me afastando do grupo da sala por não me sentir parte. Minha colega de curso, vendo que me afastava todos os dias quando iam mexer nos seus celulares, me convenceu a criar conta nas redes sociais. Comecei pelo WhatsApp, depois Facebook, e em 2021 decidi aderir ao Instagram

No ano de 2018, quando ingressei no Curso da Licenciatura em Educação do Campo pela Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, comecei a ter uma visão mais crítica sobre o uso das redes sociais. Hoje, eu administro seis contas no meu aparelho celular de duas redes, três no Facebook e três no Instagram. Duas contas pessoais, uma em cada rede, outras duas da Associação Comunitária Quilombola e outras duas da N’GOLO/Federação das Comunidades Quilombolas do Estado de Minas Gerais.

A minha conta do Instagram pessoal uso mais para publicar fotos, pois gosto de postar minhas fotos que acho interessante, principalmente quando vou a algum lugar e tiro fotos bonitas. No Facebook gosto de ser bastante diversificada. Faço diversas postagens. Achei legal, posto. Mas sem ter aquele posicionamento crítico, pois prefiro evitar fazer postagens de cunho político, religioso ou de assuntos que causariam debate nas minhas publicações, pois sou de uma família com pessoas de identidades e opiniões diferentes da minha e prefiro evitar confusões.

Já as contas da Associação e da N’GOLO eu tenho que ter mais atenção, pois são contas de instituições que envolvem outras pessoas.  Nessas contas faço a divulgação dos conteúdos do território Quilombola ou assuntos pertinentes aos interesses gerais. Então, priorizo postagens sobre as culturas e lutas do nosso povo. Por ser de mais fácil o acesso e mais ágil para a comunicação e interação com as pessoas, uso muito o WhatsApp para essas funções. 

Pensando nas tecnologias no meu dia a dia, considero que passo boa parte do meu tempo com o celular na mão, seja para assuntos acadêmicos, pessoais, ou dos movimentos sociais que participo. Todas as vezes que chega notificação no celular, imediatamente paro tudo e vou ver do que se trata. De fato, esse comportamento atrapalha um pouco a minha vida no geral, até mesmo o meu relacionamento com o meu marido, pois não consigo cumprir os horários que destino para cada atividade. Todos os dias já acordo com o alarme do celular, em seguida olho todas as correspondências seguindo por essa ordem: WhatsApp, E-mail, Facebook, Instagram e notícias do Feed que são disponibilizadas pelo Google. Sinto que depois que comecei a participar dos movimentos sociais e da vida acadêmica estou mais dependente das ferramentas tecnológicas.

O ponto positivo das minhas experiências é que não precisei de muito tempo para me adaptar ao ensino remoto pois eu já usava, por exemplo, ferramentas de reuniões online com os movimentos sociais e outras. Entretanto, uma das dificuldades que devo mencionar sobre o ensino remoto é que eu moro atualmente em Diamantina, na zona urbana, mas desenvolvo algumas atividades em minha comunidade rural que fica entre os municípios de Serro e Santo Antônio do Itambé. Durante o período do ensino remoto, precisei ir para a comunidade muitas vezes e lá não tem acesso à internet. Então para usar a internet no celular, conectava via antena rural de uma vizinha, que eu ia à noite quando tinha encontros online, a aproximadamente a vinte minutos de moto. Como não sei pilotar, precisava que um dos meus irmãos ou meu marido me levasse todos os dias. As dificuldades do ensino remoto não foram apenas para os estudantes do ensino superior, afetaram também os estudantes da educação básica, principalmente a do campo, aqueles de comunidades com essa que citei, que não têm acesso, ou têm acesso precário, à internet.  

Em síntese, compreendo que as tecnologias digitais não são neutras, e que, como futuros educadores, devemos sempre trazer para a sala de aula debates que apontem pontos positivos e negativos de seus usos, pois os estudantes devem ter suas próprias concepções críticas do uso dessas ferramentas. A melhor forma, então, é orientá-los para fazerem um bom uso das tecnologias, para, sobretudo, não cairmos em truques de linguagem no processo de interação e comunicação, mas podermos acessar bons debates para maior consciência crítica.

[1] Claudiana Aparecida de Paula é graduanda do curso Licenciatura em Educação do Campo (LEC), da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM).

Este trabalho foi orientado pelos professores Carlos Henrique Silva de Castro, Luiz Henrique Magnani e Mauricio Teixeira Mendes.

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