Eu e as tecnologias

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Por Miréia de Jesus Sena [1]

Ouça um trecho lido pela própria autora a seguir. O texto completo, em formato escrito, segue logo abaixo.

No ano de 2011 tive meu primeiro contato com tecnologias digitais quando ganhei um celular de teclado do meu irmão, que trouxe o presente de Belo Horizonte. Mas como na comunidade não havia sinal de celular, o uso do aparelho era para ouvir rádio, tirar fotos e usar ferramentas como calculadora, relógio etc. O meu primeiro contato com a internet ocorreu na escola, onde uma colega acessava com seu aparelho, baixava os arquivos de música e fotos que eram compartilhados comigo via bluetooth.

Sobre redes sociais, criei uma conta no Facebook com 14 anos com ajuda de amigas e ali iniciei nas redes sociais. Atualmente a rede que mais uso é o Instagram, onde tenho dois perfis. Um eu uso para a divulgação de trabalhos que me geram renda, o outro uso como perfil pessoal onde posto fotos e exponho opiniões diversas, políticas e ativistas.

Em 2019 criei um blog para ensino de inglês, em um curso de Tecnologias para o ensino de língua inglesa, mas não dei continuidade.  Atualmente a primeira coisa que interajo no dia, ao acordar pela manhã, é o celular, quando olho as horas, o WhatsApp, o Instagram etc. Isso quando o aparelho celular não é o despertar. Ao longo do dia é no celular que as atividades se concentram, independente da vontade.

Na minha educação básica minha experiência com essas tecnologias era reduzida, principalmente o celular que era permitido aos professores, mas proibidas aos estudantes. Certa vez, ao levar meu aparelho para a sala de aula, a professora o recolheu. Acesso a computadores, na escola, só tive no final do ensino médio. Sem ter tido nenhum contato anterior com o aparelho, não conseguia desenvolver nenhum movimento sem ajuda dos poucos colegas que sabiam.

Na universidade tive meu primeiro contato com um notebook. Motivada pelos discursos sobre a necessidade de tal tecnologia para o curso, adquiri o aparelho. No ingresso fui apresentada a diversas ferramentas, sites, plataformas e meios de comunicação online. Não fazia ideia de como utilizá-las, mas na necessidade do uso fui aprendendo.

O isolamento social e ensino remoto vivenciados pela pandemia de covid-19 colocou em evidência algumas dessas plataformas, meios de comunicação e aplicativos. Com a incorporação de novas plataformas, veio a necessidade de aprender e se adaptar. Nas escolas, cada uma com sua especificidade, a situação evidenciou as diferenças econômicas e sociais que impactaram no acesso às tecnologias, com problemas de aprendizagem naquelas famílias que precisaram se adaptar ou nem conseguiram.

A partir dessa experiência e do estágio que realizei em uma escola do campo pós ensino remoto, avalio as metodologias e tecnologias que tentaram implementar no período não foram muito práticas. Com famílias com diferentes condições de acesso e lidando com vulnerabilidades socioeconômicas, estudar com auxílio de vídeos acessíveis somente na internet foi para poucos. O momento representou um desafio imenso para essas famílias e a educação remota e descontextualizada desmotivou o estudante e trouxe aumento na evasão escolar.

A retomada do ensino presencial pode significar uma nova relação da escola com as tecnologias digitais. Se metodologias com o uso do aparelho celular foram possíveis no período remoto, que agora não o proíbam, mas preparem os estudantes para o melhor uso e que faça sentido na sua realidade. Como futura educadora, buscarei trazer ciência e consciência aos estudantes, para que vejam criticamente suas realidades e os conflitos ali existentes, pois acredito que esse é o primeiro passo para a famigerada autonomia para a libertação.

[1] Miréia de Jesus Sena é graduanda do curso Licenciatura em Educação do Campo (LEC), da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM).

Este trabalho foi orientado pelos professores Carlos Henrique Silva de Castro, Luiz Henrique Magnani e Mauricio Teixeira Mendes.

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