Como tudo começou

Como tudo começou

Por Sunamita Nelma Ferreira Alves [1]

Ouça um trecho lido pela própria autora a seguir. O texto completo, em formato escrito, segue logo abaixo.

Meu primeiro contato com tecnologia digital foi no ano de 2016, quando ganhei um celular. Logo então comecei a usar WhatsApp, mas meu acesso é bastante limitado, pois me preocupo com a dependência que pode causar nas pessoas e por não ter muito tempo disponível. Os aplicativos que eu mais utilizo são YouTube, WhatsApp e e-mail, por serem aplicativos que ajudam a resolver várias coisas atualmente e por serem mais práticos. Com a chegada dessas novas tecnologias digitais, várias práticas foram alteradas, desde uma simples conversa até resolver problemas como pagar boletos sem idas a bancos, fazer compras etc.

Com a chegada dessas novas tecnologias digitais, várias práticas foram alteradas, desde uma simples conversa até resolver problemas como pagar boletos sem idas a bancos, fazer compras etc. A geração mais velha tem mais dificuldades com o acesso às novas tecnologias, enquanto as crianças manuseiam os aparelhos com muita facilidade e, mesmo antes de saberem ler, já possuem grandes avanços em seus letramentos digitais. Além disso, o uso da linguagem é diferente, com fenômenos como o uso do português com muitas abreviações.

Muitas pessoas, principalmente crianças e jovens, usam o celular sem controle, de forma prejudicial à saúde. Se tirarmos os celulares dos adolescentes hoje, a maioria fica doente. Não sabemos que mal isso pode trazer para as novas gerações, mas podemos dizer que os usos dessas ferramentas devem ser conscientes e críticos.

Na minha formação básica não existia ainda essas tecnologias de interação avançadas de hoje e as atividades eram sempre presenciais e com pesquisas em livros físicos. Mas vale ressaltar que quem está a par das tecnologias está um passo à frente, em contato com a boa informação, o que contribui bastante para nossa educação, visto que o acesso que era limitado em tempos passados, mas agora as informações estão mais acessíveis e de maneira gratuita e universal. Resta-nos usá-las adequadamente.

Na universidade o uso das tecnologias sempre foi desafiador, mas necessário para tarefas como entrega de trabalhos via Moodle, pesquisas on-line etc. Como um todo, foi difícil a adaptação já que no meu cotidiano não usava essas ferramentas. Inclusive já perdi trabalhos finalizados que não consegui enviar por problemas com as tecnologias.

O isolamento social causado pela pandemia do covid19 foi difícil e provavelmente todos tiveram que se apegar às tecnologias de interação e comunicação para que fosse possível conseguir acompanhar o ensino remoto, no meu caso, e até trabalhar. Essas metodologias foram uma inovação salvadora, por ser o único jeito de termos as aulas, ainda que com perda de qualidade no ensino e aprendizagem. No ensino presencial com certeza o aproveitamento é bem maior, porque em sala de aula é mais fácil nos concentrar.

Para os educadores, há vários sites relevantes para o ensino, mas pode ser um problema o professor usar o celular em sala de aula e conseguir voltar às atividades sem que alunos se dispersem em salas de bate-papo e outras. Apesar de facilitar vários processos, como no ensino, as tecnologias também acarretam uma série de coisas, mudanças como o distanciamento entre as pessoas.

No campo, o uso das tecnologias facilita bastante, visto que há ferramentas de comunicação e de informações que encurtam distâncias, proporcionam acesso a mercadorias e geram economias significativas, o que são grandes benefícios para a sociedade campesina. Infelizmente o acesso do sujeito do campo é limitado, o que podemos dizer que é uma exclusão digital. Isso é um ponto negativo que deve ser observado e corrigido.

[1] Sunamita Nelma Ferreira Alves é graduanda do curso Licenciatura em Educação do Campo (LEC), da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM).

Este trabalho foi orientado pelos professores Carlos Henrique Silva de Castro, Luiz Henrique Magnani e Mauricio Teixeira Mendes.

A inserção das tecnologias em minha vida

A inserção das tecnologias em minha vida

Por Solidade Figueira [1]

Ouça um trecho lido pela própria autora a seguir. O texto completo, em formato escrito, segue logo abaixo.

Meu primeiro contato com as tecnologias digitais foi na escola, situação totalmente diferente e nova na época, visto que ainda não tinha conhecimento do uso de computadores e achava que qualquer manuseio errado poderia estragar aqueles aparelhos até então desconhecidos. Mas também foi um momento de entusiasmo. Uma das coisas que tenho quase certeza que a maioria fazia, e eu também fazia quando criei mais intimidade com a tecnologia, era ir a um laboratório de informática para explorar e jogar vários jogos que existiam e eram populares na época da escola. 

As redes sociais também já eram muito usadas. Recordo que quando aprendi a ligar e a desligar o computador e a usar o mouse, ia até uma lan house e pagava por hora para fazer uso. A partir desse contato com essas tecnologias comecei a ter mais conhecimento e experiência e, obviamente, a gostar da novidade.

Na escola, além dos professores que auxiliavam nas atividades didáticas, havia as amizades que ajudavam nos jogos e redes sociais. Até iniciei um curso de informática, o deslocamento da zona rural, onde eu morava, para a zona urbana me impediu de prosseguir com o curso.

Atualmente, faço mais uso das novas tecnologias e com maior sagacidade, pois tive condições de ter um celular e um notebook que me deixaram mais perto do mundo digital. Os equipamentos se tornaram imprescindíveis para o dia a dia, principalmente por causa dos estudos, das páginas de ensino que possuem diversas dicas de como atuar na área da educação, essas são as mais visitadas por mim. Sempre que tenho um tempo entre os afazeres diários, administro o tempo também para acessar páginas de entretenimento, como redes sociais, onde faço uso apenas pessoal. Posto muito sobre minha filha. Dessas redes sociais uso mais o Instagram e o WhatsApp.

Na minha rotina, geralmente uso o celular assim que acordo pela manhã, pois ele também é despertador. Aproveito enquanto desperto do sono para ver meus e-mails. Nas manhãs em que não estou na escola lecionando e estou cuidando de outras tarefas, volta e meia pego o celular para olhar mensagens ou entrar em redes sociais. Ao decorrer do dia e com as outras tarefas cumpridas, uso o notebook para realizar meus trabalhos acadêmicos e montar meus planos de aulas. Às vezes, durante a noite, acesso plataformas de filmes, séries e documentários. No dia de ontem, recordo que utilizei mais o celular, que hoje é um minicomputador e te oferece além do que dele se espera, para acessar minhas páginas de trabalho e estudo mesmo fora de casa. Assim é na maioria dos meus dias e minha relação com as tecnologias.

Em função da tecnologia, as práticas sociais que mudaram, de um modo geral, foram as conversas presenciais. Vejo que é raro o ato de ir até a casa, o trabalho ou outros ambientes ter um contato com outra pessoa. Além das visitas, cartas escritas a mão e mensageiros orais foram, de certa forma, substituídos por vídeos editados, vídeo chamadas, mensagens instantâneas. Por outro ponto de vista, as tecnologias facilitaram nossas vidas com, por exemplo, aplicativos que ajudam a evitar filas em banco, as consultas, reuniões, compras e outros, que demandavam um contato pessoal e deslocamento, que estão sendo feitas a distância, tudo em decorrência do avanço das tecnologias.

É notório que os avanços tecnológicos são grandes e trazem ferramentas de grande valia para evolução de muitas áreas no mundo, da saúde à comunicação, mas devemos ver seus impactos negativos. Na educação e como professora pretendo usar ferramentas que hoje são foco de interesse dos alunos, de forma contextualizada e que envolvam os alunos de maneira didática.

Na minha trajetória escolar, utilizava apenas computadores dos laboratórios de informática da escola. Os celulares ainda eram acessíveis apenas para as classes mais favorecidas. Nos dias atuais, ainda se utiliza muito desses laboratórios, mas os celulares também são bem utilizados. Na escola em que atuo só se pode utilizá-lo para fins pedagógicos e com permissão da diretoria.

Na universidade, o uso do celular e do computador é diário. O celular traz praticidade, pois permite acessar páginas, livros digitais e vídeoaulas em qualquer lugar, responder e-mails, acessar e armazenar documentos digitais de forma segura. O notebook dá mais conforto na realização de todas essas tarefas, pois dá maior visibilidade na leitura e evita forçar muito a visão, já que possui uma tela maior, e o teclado facilita a escrita.

Vale ressaltar que essas ferramentas auxiliaram muito na universidade na pandemia, pois nos ajudou a evitar o atraso matérias e atividades. Passamos a ter conhecimento de novas ferramentas de ensino que foram utilizadas no dia a dia e no contexto escolar, como o Google Meet, muito usado para reuniões de trabalho e aulas. Hoje na minha rotina sempre há espaços para uso do celular, pois através dele tenho acesso a todo momento a questões relacionadas ao meu estudo, ao meu trabalho e outras áreas também.

Em algumas comunidades do campo do meu município, com a chegada da rede de celular em algumas áreas, tenho presenciado muito o uso do celular, o que era raro. Algumas escolas, inclusive a estadual na qual atuo, têm internet em todos os computadores de forma que o acesso se tornou mais fácil para todos os usuários. As escolas municipais da minha cidade também contam com essas tecnologias, inclusive as escolas do campo que contam com roteadores de internet. Assim notamos que o avanço das tecnologias para fins pedagógicos foi grande, porém vale ressaltar que é necessário um plano específico para esse uso didático, consciente e, principalmente, eficiente destes recursos, tanto para a formação dos profissionais quanto dos alunos.

Quanto à minha atuação na sala de aula, como professora iniciando carreira, acredito que vou me deparar com inúmeras possibilidades com as tecnologias e dificuldades também. Usadas em vários momentos e tarefas reais da vida, no âmbito escolar não pode ser diferente e esse é um grande desafio. O ideal é que o professor tenha domínio sobre as ferramentas usadas pelos jovens, para trazê-las para o contexto educacional para que reflitam criticamente sobre esses usos. Incentivar um bom uso das tecnologias em atividades de conscientização é tarefa do professor e da escola.

[1] Solidade Figueira é graduanda do curso Licenciatura em Educação do Campo (LEC), da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM).

Este trabalho foi orientado pelos professores Carlos Henrique Silva de Castro, Luiz Henrique Magnani e Mauricio Teixeira Mendes.

Tecnologias e seus efeitos diários

Tecnologias e seus efeitos diários

Por Solange Pereira dos Santos [1]

Ouça um trecho lido pela própria autora a seguir. O texto completo, em formato escrito, segue logo abaixo.

Em meados dos anos 2000, a tecnologia mais avançada que tinha em casa era um som com controle remoto que tocava CDs.  . Usei muito som de CD, mas hoje uso caixa de som com conexão por bluetoothFoi no ano de 2014 a primeira vez que usei um mouse, enviei uma mensagem, fiz uma busca na Wikipédia. Foi nesse ano que me inscrevi no curso de informática básica no Telecentro da cidade de Caraí/MG. No curso, criei meu primeiro e-mail e uma página no Facebook.

Nesses meus processos de aprendizagem com e sobre as tecnologias, os colegas tiveram bastante importância, diferentemente da família que teve pouca participação. Hoje as tecnologias me permitem interagir com os movimentos sociais do Vale do Jequitinhonha e região, prestar serviços voluntários, de forma assídua em encontro virtuais ou presenciais, como na minha graduação na UFVJM, em palestras e outros cursos. As tecnologias se tornaram essenciais em minha caminhada após meu comprometimento com o curso em uma universidade pública de qualidade, sendo que eu fui a primeira da família a entrar em uma. Tudo aconteceu em um curto espaço de tempo, trazendo liberdade e possibilidades.

As páginas web que mais visito são Facebook, Instagram, Tik Tok, o blog regional do Jô Pinto (onde sou atualmente colunista), sites acadêmicos, páginas de jornais regionais. Dei minha parcela de contribuição no blog Encontro de Saberes – UFVJM com um registro do manejo de farinha de mandioca artesanal da Comunidade Cedro, município de Padre Paraíso/ MG. Também contribuí na página do Olhares do Campo, com uma publicação intitulada “Trajetória escolar de uma campesina”. No ano de 2021 realizei algumas lives do Museu de Araçuaí – linkando com uma participante na Alemanha com a qual continuo alimentando uma página no Facebook. No mesmo período apresentei artigo na Sintegra, edição de 2021, sobre trabalho orientado pelo professor Luiz Cláudio Nobre.

Há diferenças no uso diário de tecnologia em minha vida como estudante, profissional e ativista e costumo separar espaço para cada momento. No Instagram compartilho mais registros pessoais, já no Facebook estou adaptando-o para registros importantes de trabalhos ou divulgações de trabalhos de amigos. Também já fiz uploads de imagens e vídeos no Facebook e no status do WhatsApp. Pensando no uso de tecnologias no dia de ontem, por exemplo, comecei logo ao acordar. Ao longo do dia fiz visitas breves na página do blog do Jô Pinto, no WhatsApp, TikTok, Instagram e Facebook, algumas páginas de notícias regionais, assisti a um documentário etc.

Em função das novas tecnologias, mudei algumas práticas sociais como catalogar endereços de pessoas, fazer lives usando o StreamYard e o Facebook, marcar encontros pelo WhatsApp, estudar usando documentos digitais e vídeos, fazer trabalhos no Google Docs, fazer chamadas de vídeos, enviar e-mails, fazer compras online, digitalizar documentos, fazer cursos à distância etc. Ainda não tive oportunidade de assistir a um filme com óculos 3D, mas pretendo fazer em breve.

Vejo diferenças no uso de tecnologia entre as gerações mais novas e as gerações mais velhas. Normalmente, pais e avós de conhecidos ainda têm resistências para experimentar algo novo. Já os mais jovens, como adolescentes e crianças conhecidas e alunos, já ficam loucos para ter acesso a tecnologias e aparelhos de última geração.  Com o acesso que tenho, consigo identificar diferenças culturais entre amigos estrangeiros e diferentes gêneros textuais, pois o acesso a vários conteúdos me deu um leque de experiências com outras pessoas de outras etnias, além de estar por dentro dos perigos por trás da rede e dos vários gêneros textuais que traz.

Tenho vários sentimentos em relação às tecnologias, como insegurança, instabilidade, medo da exposição de meus dados, de tornar-me dependente e permanecer muito tempo conectada etc. As experiências positivas que tenho estão relacionadas a ter acesso a tudo em tempo hábil, de fazer vários cursos, reencontrar pessoas que a muito tempo não tinha contato, ouvir músicas ininterruptamente, assistir a filmes e séries. As negativas foram acessar notícias dos massacres nas escolas, feminicídios, vulnerabilidades das crianças nas redes com crescimento de pedofilia e uso de drogas. Além dessas notícias ruins, mas verdadeiras, há o perigo das fakes news usadas para manipulação e, massa, ameaças, controle de poder. E o mais novo dilema social é a deepfake, tecnologia que usa a chamada inteligência artificial para adulterar o movimento dos lábios e falsear falas, dentre outras coisas.

Como educadora e estudante, uso diariamente o Google Classroom, Google meet, Google drive, e-mail e WhatsApp. Como professora, usaria sites que exigem menos dados ou criaria um espaço como um Padlet semanal com temas diversos para trabalhar com os alunos, algo ainda a ser processado. Na minha formação educacional básica, não me lembro de fazer atividades diversificadas com uso de tecnologias de informação e comunicação. Basicamente assistíamos a filmes em fita de videocassete no telão na quadra de esporte ou no pátio da escola, ou em uma televisão de tubo que havia em algumas salas. Também havia uma sala de computadores, mas nenhum, ou poucos, funcionavam e não podíamos ter acesso livre a eles, éramos sempre supervisionados. Não retornei às escolas em que estudei, mas tive notícias de que adaptaram salas e espaços com algumas salas de vídeos, computadores na biblioteca, televisores smart, internet, projetores etc.

Na Universidade, as principais tecnologias utilizadas, principalmente no período de ensino remoto ocorrido em decorrência da pandemia do covid-19) foram Moodle, Google Meet, Classroom, e-mail, Google Drive, Google docs, planilhas, sites acadêmicos etc.. Os maiores desafios estavam ligados a apresentar trabalhos remotamente, a partir de uma pequena tela. A insegurança tomava conta com câmera que travava, filhos e animais domésticos aparecendo atrás e cabelos desajeitados. Isso quando a conexão não caía ou travava, o que dificultava a participação das aulas. Alguns professores ainda exigiam que ficássemos com a câmera aberta.

Nesse período de ensino remoto, para continuar o curso universitário tivemos que adaptar ou adquirir alguns aparelhos como notebook e internet, assim como arrumar um espaço menos barulhento em casa para estudar ou negociar o silêncio com a família. Na rotina, passei a ter que preparar com antecedência o jantar ou outros afazeres pertinentes para as aulas dos fins de tarde e início das noites. Não cheguei a abandonar nenhuma tecnologia, pelo contrário, tive que aprender a manusear outras mais. Além de tudo isso, ainda tive que adquirir um aparelho celular para uma, ajudar a mais nova com suas atividades, estagiar remotamente, dividindo o mesmo espaço.

A partir dessas experiências, vejo o uso de tecnologias nas escolas como um universo de possibilidades. Com essas tecnologias é possível trabalhar gêneros diversificados como filmes, podcasts, padlet, dentre outros. Além disso, é necessário a realização de debates sobre o uso das tecnologias nas escolas, sobre aspectos positivos e negativos, fazer pesquisas, conhecer outras culturas, inclusive de outros países, mostrar nossas culturas, tudo que encontros virtuais podem proporcionar. Conhecendo um pouco as tecnologias, a partir do conhecimento que construí na universidade e nos meus trabalhos extras, me sinto segura em me tornar professora e desenvolver um bom trabalho na perspectiva tecnológica.

[1] Solange Pereira dos Santos é graduanda do curso Licenciatura em Educação do Campo (LEC), da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM).

Este trabalho foi orientado pelos professores Carlos Henrique Silva de Castro, Luiz Henrique Magnani e Mauricio Teixeira Mendes.

Contatos com novas tecnologias

Contatos com novas tecnologias

Por Sabrina Santos Esteves [1]

Ouça um trecho lido pela própria autora a seguir. O texto completo, em formato escrito, segue logo abaixo.

Abordo aqui lembranças relacionadas aos meus primeiros contatos com essas ferramentas digitais e os laços que fui criando com elas no decorrer dos tempos. Trago, também, reflexões relacionadas à inclusão digital nos contextos educacionais na perspectiva de educadora do campo, minha área de formação. Meu primeiro contato com tecnologias interativas foi quando tinha mais ou menos 9 anos de idade, quando abriram um Telecentro ao lado da minha casa para atender as crianças e adolescentes do bairro. Os monitores ensinavam como colorir usando o mouse em um aplicativo, nos orientavam como fazer pesquisas e no final das aulas nos deixavam ficar jogando. As crianças do meu bairro adoravam, pois era algo novo. 

Mas nada substituía nossas brincadeiras de fins de tarde, quando chegávamos da escola, como queimada, rouba-bandeira, pula-corda, esconde-esconde. Brincadeiras da minha geração, diferentes das de hoje quando as crianças já nascem grudadas em um celular, rapidamente ficam fissuradas em internet, em Youtube, em jogos como Free Fire e plataformas como Tik Tok. Parece que as crianças da atualidade não sabem nem o que é assistir um desenho animado nas manhãs de sábado na TV, pois ficam presos nas minitelas dos celulares ou tabletes todo o tempo, com isso acabam perdendo a melhor fase de suas infâncias.

Na faixa etária de 14 anos eu gostava muito de frequentar a lan House, pois não tinha computador em casa e nem celular. Sou natural de Araçuaí-MG e, naquele tempo, era apenas 0,50 centavos uma hora de uso da internet. Lá criei meu Facebook, plataforma que utilizo até hoje. Naquele tempo também se utilizava muito o “Orkut”, que nos dias de hoje não é muito lembrado. Com a globalização e as tecnologias avançaram de tal maneira que hoje, na minha cidade, é raro encontrar uma lan house, pois quase todos possuem um aparelho, com isso os Telecentros também foram extintos. 

Na atualidade a tecnologia que mais uso é o celular, onde acesso o pacote office da Microsoft, Google, YouTube, Instagram, WhatsApp, sites de compras (Shopee) etc.  Me considero uma pessoa muito apegada a essas ferramentas, pois a primeira coisa que eu faço quando acordo é pegar no meu celular. É um ciclo vicioso, pois toda vez que pego no meu aparelho, ele consegue prender minha atenção de tal maneira que quando percebo já se passaram duas horas, e eu com o celular na mão.

Muitas práticas sociais foram perdidas com a modernização das ferramentas digitais, como conversar com os amigos na porta de casa, escrever cartas e catalogar números. Até a interação interpessoal ficou mais difícil e é comum em um grupo de pessoas não dialogarem entre si por estarem presos a seus celulares. Com isso, muitos costumes e tradições foram perdidos em certos contextos.

No meu ensino básico, não se utilizava muito as tecnologias. Os nossos trabalhos eram apresentados em cartazes e eram utilizadas ferramentas mais simples como som e TV para assistirmos a filmes ou ouvirmos música. Havia uma sala com computadores, mas nem todos funcionavam e percebia-se que a professora não tinha uma formação específica para manuseio daquelas máquinas. Então o uso era muito superficial e nossas habilidades com o digital não foram muito bem desenvolvidas na escola onde estudava. Vim a melhorar esse domínio quando entrei na universidade, quando me vi obrigada a mexer em programas como, por exemplo, Power Point para apresentações, Word para formatar textos, Gmail, fóruns. A área acadêmica me viabilizou vários conhecimentos significativos.

Com o isolamento social que vivemos durante a pandemia de covid19 tivemos que nos adaptar a uma forma de ensino remoto emergencial, que foi completamente diferente do presencial. Tivemos que realmente aumentar nossos letramentos digitais, pois acessar o Google Meet, assistir às aulas pela telinha, apresentar, dialogar e desenvolver trabalhos com os demais colegas sem aquela interação face a face de antes foi verdadeiramente algo muito desafiador. Me vi completamente dependente do meio digital para tudo e as tecnologias contribuíram bastante para que o nosso curso continuasse, mesmo com tantas dificuldades. De toda forma, pela falta de acessibilidade aos meios digitais em alguns contextos, não deixou de ser prejudicial. Muitas escolas do campo sofreram com essa nova metodologia de ensino por falta de recursos, de domínio das ferramentas, falta de internet de qualidade, com grandes perdas para o ensino-aprendizagem e certa exclusão social.

Na minha percepção, as tecnologias têm seus pontos positivos e negativos, dependendo de quem vai utilizar e de como vai utilizar. Se empregadas no contexto de ensino nas práticas docentes, podem ajudar a produzir aulas reflexivas e críticas. Na interação interpessoal também auxiliam muito. Como negativo, muitas dessas ferramentas podem ser utilizadas para manipular, enganar e disseminar a desinformação. O uso em massa das fake news pode trazer consequências graves para o campo, como viabilizar mais investimentos na mineração, ocasionando desmatamentos, deixando o solo improdutivo e desrespeitando a sustentabilidade para as gerações futuras. Faz-se necessário levar essa discussão para as salas de aula, para que os alunos tirem suas próprias conclusões em relação ao mundo digital e sejam incluídos de maneira crítica.

Por fim, como futura educadora do campo, concluo que devemos fazer uma leitura do mundo em relação às tecnologias e suas novas linguagens com nossos estudantes, pois a internet pode ficar no campo da utopia e até levar à distopia. Cabe a nós refletirmos sobre essas modernidades que vem se intensificando nas nossas vidas e ver até que ponto podem nos ajudar ou prejudicar.

[1] Sabrina Santos Esteves é graduanda do curso Licenciatura em Educação do Campo (LEC), da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM).

Este trabalho foi orientado pelos professores Carlos Henrique Silva de Castro, Luiz Henrique Magnani e Mauricio Teixeira Mendes.

Eu e as tecnologias

Eu e as tecnologias
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Por Miréia de Jesus Sena [1]

Ouça um trecho lido pela própria autora a seguir. O texto completo, em formato escrito, segue logo abaixo.

No ano de 2011 tive meu primeiro contato com tecnologias digitais quando ganhei um celular de teclado do meu irmão, que trouxe o presente de Belo Horizonte. Mas como na comunidade não havia sinal de celular, o uso do aparelho era para ouvir rádio, tirar fotos e usar ferramentas como calculadora, relógio etc. O meu primeiro contato com a internet ocorreu na escola, onde uma colega acessava com seu aparelho, baixava os arquivos de música e fotos que eram compartilhados comigo via bluetooth.

Sobre redes sociais, criei uma conta no Facebook com 14 anos com ajuda de amigas e ali iniciei nas redes sociais. Atualmente a rede que mais uso é o Instagram, onde tenho dois perfis. Um eu uso para a divulgação de trabalhos que me geram renda, o outro uso como perfil pessoal onde posto fotos e exponho opiniões diversas, políticas e ativistas.

Em 2019 criei um blog para ensino de inglês, em um curso de Tecnologias para o ensino de língua inglesa, mas não dei continuidade.  Atualmente a primeira coisa que interajo no dia, ao acordar pela manhã, é o celular, quando olho as horas, o WhatsApp, o Instagram etc. Isso quando o aparelho celular não é o despertar. Ao longo do dia é no celular que as atividades se concentram, independente da vontade.

Na minha educação básica minha experiência com essas tecnologias era reduzida, principalmente o celular que era permitido aos professores, mas proibidas aos estudantes. Certa vez, ao levar meu aparelho para a sala de aula, a professora o recolheu. Acesso a computadores, na escola, só tive no final do ensino médio. Sem ter tido nenhum contato anterior com o aparelho, não conseguia desenvolver nenhum movimento sem ajuda dos poucos colegas que sabiam.

Na universidade tive meu primeiro contato com um notebook. Motivada pelos discursos sobre a necessidade de tal tecnologia para o curso, adquiri o aparelho. No ingresso fui apresentada a diversas ferramentas, sites, plataformas e meios de comunicação online. Não fazia ideia de como utilizá-las, mas na necessidade do uso fui aprendendo.

O isolamento social e ensino remoto vivenciados pela pandemia de covid-19 colocou em evidência algumas dessas plataformas, meios de comunicação e aplicativos. Com a incorporação de novas plataformas, veio a necessidade de aprender e se adaptar. Nas escolas, cada uma com sua especificidade, a situação evidenciou as diferenças econômicas e sociais que impactaram no acesso às tecnologias, com problemas de aprendizagem naquelas famílias que precisaram se adaptar ou nem conseguiram.

A partir dessa experiência e do estágio que realizei em uma escola do campo pós ensino remoto, avalio as metodologias e tecnologias que tentaram implementar no período não foram muito práticas. Com famílias com diferentes condições de acesso e lidando com vulnerabilidades socioeconômicas, estudar com auxílio de vídeos acessíveis somente na internet foi para poucos. O momento representou um desafio imenso para essas famílias e a educação remota e descontextualizada desmotivou o estudante e trouxe aumento na evasão escolar.

A retomada do ensino presencial pode significar uma nova relação da escola com as tecnologias digitais. Se metodologias com o uso do aparelho celular foram possíveis no período remoto, que agora não o proíbam, mas preparem os estudantes para o melhor uso e que faça sentido na sua realidade. Como futura educadora, buscarei trazer ciência e consciência aos estudantes, para que vejam criticamente suas realidades e os conflitos ali existentes, pois acredito que esse é o primeiro passo para a famigerada autonomia para a libertação.

[1] Miréia de Jesus Sena é graduanda do curso Licenciatura em Educação do Campo (LEC), da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM).

Este trabalho foi orientado pelos professores Carlos Henrique Silva de Castro, Luiz Henrique Magnani e Mauricio Teixeira Mendes.

Uma cabeça para pensar

Uma cabeça para pensar

Por Maria de Fatima Rocha Baldaia [1]

Ouça um trecho lido pela própria autora a seguir. O texto completo, em formato escrito, segue logo abaixo.

Venho de uma comunidade quilombola de poucas oportunidades para ingresso em uma Universidade Federal.  Estou no oitavo período do curso de Licenciatura em Educação do Campo e me recordo de como as coisas eram difíceis na minha casa. Como não tínhamos energia elétrica, fui saber o que era quando tinha de seis a sete anos, no período em que fui matriculada na escola.

Quando tinha sete anos, minha madrinha deu um rádio a pilha para meu adorável pai. Esse rádio fez sucesso na vizinhança. Parecia uma coisa de outro mundo. As novelas pareciam tão reais que os radialistas conseguiam prender a atenção de todos, que ficavam com os ouvidos atentos naquele rádio para não perder as informações que eles narravam para outros vizinhos e conhecidos. As novelas viravam tema de dos casos e rodas de conversas, com opiniões a favor e críticas às personagens.

Com dezesseis anos fui embora com parentes para Belo Horizonte e, pela primeira vez, tive contato com um orelhão porque precisava ligar para minha mãe na comunidade. Naquela época não tínhamos condições de ter um aparelho tecnológico em casa e foi muito difícil ter contato com essa e outras tecnologias. Quando eu tive o meu primeiro aparelho celular, as tecnologias já estavam bastante avançadas. Esse primeiro celular ganhei em um concurso na  escola através de um projeto chamado  PROERD, que premiou com um celular a melhor redação, de minha autoria. Era meu primeiro contato com uma tecnologia mais “avançada” e foi bastante complicado me adaptar, pois no início não sabia manusear o aparelho celular. Mesmo sendo um aparelho simples, fiz várias descobertas apenas vasculhando. Mesmo com poucos recursos, foi com ele que tive o privilégio de ter contato com a tecnologia digital. Hoje é diferente, acordo, já acesso o celular e a primeira coisa que olho é o WhatsApp. Também uso sempre o celular para ver as horas.

A pandemia afetou minha vida acadêmica e minha aprendizagem, pois passei a ter aulas online. Mesmo com carga horária reduzida não foi fácil, pois eu não tinha muito acesso às tecnologias. Estou aprendendo a mexer com mais eficácia no computador e isso contribui para acessar outros recursos tecnológicos como WhatsApp, Tik Tok, Facebook e outros. Também abri uma conta no Instagram, mas não sei como usá-lo, assim como Telegram e Twitter.

Por fazer um outro curso superior, na modalidade online, vi a necessidade de aprender alguns métodos novos e, assim, melhorar minha formação para lecionar. Com conhecimentos sobre tecnologias, pode-se adaptar as aulas dos jovens com recursos de seus cotidianos mostrando-lhes que esses meios podem ser usados de forma positiva. Através das aulas remotas pude ter uma nova visão de como trabalhar com alunos do campo. Também tive experiência com um projeto denominado “Educação além da internet”, que foi um projeto de inclusão socioeducacional com o intuito de atender alunos que não tinham acesso à internet na pandemia, mas deveriam fazer atividades com auxílio de tecnologias. Em cada aula que ministrei consegui identificar o avanço significativo na aprendizagem desses alunos, pois eles não tinham contato com internet, mas como o apoio do projeto puderam mostrar suas competências. Esse projeto foi de grande relevância para os alunos e para mim, professora em formação.

[1] Maria de Fatima Rocha Baldaia é graduanda do curso Licenciatura em Educação do Campo (LEC), da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM).

Este trabalho foi orientado pelos professores Carlos Henrique Silva de Castro, Luiz Henrique Magnani e Mauricio Teixeira Mendes.

Lembranças do que aprendi e do quanto me empenhei

Lembranças do que aprendi e do quanto me empenhei

Por Leonel Lemes Pereira [1]

Ouça um trecho lido pelo próprio autor a seguir. O texto completo, em formato escrito, segue logo abaixo.

Eu nasci em 1992, ano em que aconteciam vários movimentos dos atingidos pela barragem de Irapé. Esses movimentos fizeram com que surgisse a operadora Vivo na minha região. A partir de então chegaram os primeiros celulares que eram grandes com o sinal 2G. O meu primeiro celular era o Nokia modelo 1110 GSM. Em 2004 tive contato com equipamentos de rádio FM, a qual meu pai era responsável e locutor. A rádio se chamava Liberdade FM e possuía uma mesa de som semidigital que aprendi a usar um pouco e a mexer em efeitos de sons. Essa rádio durou alguns anos até uma gestão municipal fechá-la na cidade. Dessa forma a rádio mudou-se para a Serra do Chapéu, onde foram adquiridos novos equipamentos que deram alcance a mais cidades como Cristália, Botumirin, Grão Mogol e José Gonçalves de Minas. 

Em 2008, em minha comunidade chegaram os primeiros celulares com chip e adquiri um Siemens A50 que servia apenas para jogar, pois ele não funcionava na operadora da região. Em 2009 fui estudar na Escola Estadual Professor Tutu, onde eu e um colega éramos responsáveis por auxiliar as turmas no uso dos computadores. Assim, de fevereiro a junho daquele ano tive contato com a sala de informática onde ensinávamos os colegas a ligarem e como usar algumas funções dos computadores e a acessar a internet, que era ruim, mas rodava alguma coisa.

Em 2010 tive meu primeiro celular que realmente funcionava para ligações e conexão à internet, era um Q5 2g, uma versão chinesa de alguns celulares que eram moda na época. Depois um Nokia N95, depois um Sony Ericsson, um Sony Xperia, um Motorola V3, e depois Alcatel.

Em 2011 fiz dois cursos em Janaúba em que tivemos acesso ao controle de caixa com sistema operacional que utilizavam para controle de estoque e gerenciamento de supermercado. Após um tempo fiz um curso de recepcionista no qual usava um computador de mesa. A função era de gerenciamento, check in e check out de hóspede e controle de estoque.

Em 2012 fui morar na cidade de Janaúba, onde trabalhava no período da manhã. Na parte da tarde, em Jaíba, cidade vizinha, fazia curso de eletricista e eletrônica residencial e predial.  Nestes cursos tive a oportunidade de adquirir o conhecimento de montagem e programação de Controlador Lógico Programável (CLP), um controlador que tem a função de acionar maquinários tais como motores elétricos, esteiras de automação, tanto na teoria como na prática, com simuladores virtuais de empresa. O curso foi feito no Senai em parceria com a Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (FIEMG). Através da parceria foi criado o “Projeto Amanhã” da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (CODEVASFS). Nesse curso também tivemos acesso a automação residencial, vimos nas práticas modelo de automação para poços artesianos.

Em 2013 voltei para Cristália e trabalhei como eletricista e subsecretário de transporte. Meu contato com tecnologias digitais era a partir de planilhas de controle de almoxarifado, de veículos, gerenciamento de viagens e recebimento de combustível. Essas planilhas eram feitas no computador e anexadas em um sistema de controle de frotas da prefeitura que funcionava com uma empresa de controle de Montes Claros. Toda a prestação de contas era online, apesar de ter que entregar o documento físico nos setores responsáveis. Em 2014 comprei meu primeiro notebook, um Samsung que utilizava para jogar, assistir a vídeos e trabalhar.

No final de 2015 retornei para Janaúba e entre para um curso de técnico em administração, no qual tive acesso a muitas tecnologias digitais em aulas de programação e acessando plataformas como de emissão de notas, uso da plataforma do Cadastro Ambiental Rural (CAR) para emissão ISO 9001, construção de contratos, emissão de notas fiscais, entre outros.

Também em 2015 tentei fazer o vestibular para a Licenciatura em Educação do Campo (LEC), mas minha inscrição foi indeferida. Em 2018 tentei novamente, tomando mais cuidado e consegui ser aprovado. Em 2021, devido à pandemia do covid19, o estágio do curso foi realizado de forma remota com o uso de algumas ferramentas digitais como o Google Classroom, Google Meet, YouTube, Conexão Escola. O período foi ruim para os alunos, pois muitas crianças tiveram dificuldade para ter   acesso e muitos pais também não conseguiram ajudar seu filho por não saberem utilizar as ferramentas digitais. Além disso, a acessibilidade nas comunidades rurais muitas vezes era apenas por dados móveis de redes 3G, e outras obrigavam os estudantes a saírem de suas residências para subirem no ponto mais alto da comunidade e tentarem obter sinal.

Em 2022 a escola em que estagiamos voltou ao funcionamento presencial e os alunos encontraram a escola de cara nova após uma reforma que trouxe novas salas de aula com TV de 55 polegadas, laboratório reformado e funcional, projetores Epson, sala de informática. Atualmente tudo está sendo usado por algum professor, como o de inglês, algumas de história e algumas de ciências da natureza. Lá alguns professores permitem o uso de celular para auxiliar na sala de aula.

A partir de minha trajetória em meio às tecnologias e com o curso Licenciatura em Educação do Campo, entendo que como docente podemos usar todas as plataformas e as tecnologias disponíveis para, por exemplo, criar um jornal comunitário, preparar roteiros e edição de textos, apps de desenhos, mapas, e outras plataformas desde que sejam adequadas ao desenvolvimento da turma e com o objetivo da aprendizagem. A minha trajetória agradeço à minha família que sempre apoiou minha jornada.

[1] Leonel Lemes Pereira é graduando do curso Licenciatura em Educação do Campo (LEC), da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM).

Este trabalho foi orientado pelos professores Carlos Henrique Silva de Castro, Luiz Henrique Magnani e Mauricio Teixeira Mendes.

Do som do toca-discos às modernidades da nova era digital

Do som do toca-discos às modernidades da nova era digital

Por Isaura dos Santos Lopes [1]

Ouça um trecho lido pela própria autora a seguir. O texto completo, em formato escrito, segue logo abaixo.

Nasci em fevereiro de 2000, mesmo ano em que a energia elétrica chegou em minha comunidade, na zona rural do município de Coluna no Vale do Rio Doce. Passei minha primeira infância, basicamente, tendo contato apenas com o rádio toca-fitas da minha mãe e o rádio toca-discos do meu pai. De manhã acordava ao som da rádio Itatiaia que minha mãe ligava, principalmente para ouvir as simpatias e os signos. Algumas tardes em que íamos arrumar a casa ouvíamos alguns discos ou fitas para animar a tarefa. E à noite, quando não ouvíamos as histórias do meu pai, ele colocava o disco do Buck Sarampo que eu escutava até dormir. Meu pai tinha uma coleção de discos, que inclusive está em casa até hoje.

Nessa época tínhamos uma televisão de tubo em casa, mas como não tinha antena instalada, eu e meus irmãos íamos assistir telenovelas na casa de uma vizinha (eu basicamente cochilava a novela toda). Um tempo depois um dos meus irmãos comprou o primeiro e único aparelho de DVD que tivemos em casa. Com ele escutávamos música, cantávamos no karaokê e jogávamos videogame, quando podíamos. Além dos discos do meu pai e as fitas da minha mãe, também tinha muito interesse na máquina de datilografia, que meu pai, de vez em quando, deixava a gente usar. Apesar de não usá-la muito, eu desenvolvi muito a escrita por causa dela e, mais tarde, tive facilidade em digitar no teclado do computador.

Meu primeiro contato com telefone celular, ou talvez o mais marcante, foi quando meu irmão fez um vídeo com meus primos, meus irmãos mais novos e eu brincando em um dia de chuva no terreiro de casa. Se não me engano isso foi quando tinha 10 ou 11 anos. Outra coisa que me lembro sobre o celular foi quando minha mãe ganhou um que minha irmã mais velha trouxe de São Paulo para elas se comunicarem. Era um Nokia analógico, daqueles de abrir e fechar, que, para telefonar, minha mãe precisava subir na parte mais alta do terreno, no meio do mato.

Passamos muitos anos indo no alto para telefonar, prática que perdurou até poucos anos (se não me engano em 2016) quando alguns moradores adquiriram os chamados telefones rurais, conectados a antenas nos altos onde antes os moradores tinham de subir.  Esses eram telefones de mesa com fio, que no começo eram poucos, mas depois mais moradores adquiriram o produto. Esses aparelhos foram substituídos por outros sem fio, com alcance de até 100 metros da base. Devido às chuvas e tempestades de raios que atingiram as antenas, muitas pessoas abandonaram esses telefones, hoje somente na minha casa e outras duas ou três que ainda o têm, porém sempre apresentam problemas e quase não o usamos mais. Hoje em dia a maioria dos jovens possuem celular com acesso à internet e a comunidade tem sinal da operadora vivo em vários pontos, o que ajuda nosso acesso.

Após a criação da Associação Quilombola da comunidade, muitas melhorias surgiram, como a instalação de um Telecentro na comunidade. Em 2009 os computadores chegaram e ficaram na igreja da comunidade, foi quando tive meu primeiro contato com um computador de mesa. Não sei o nome, a marca ou o modelo dos computadores que tinham no Telecentro, só sei que foram adquiridos através de um projeto com a Fundação Banco do Brasil e na comunidade era meu irmão quem estava à frente disso. Nesse período ainda não tínhamos internet para conectar os computadores, então fazia aulas de digitação e formatação no computador com meu irmão e jogávamos alguns joguinhos, principalmente xadrez. Em 2012 o Telecentro foi transferido para o mesmo prédio da escola, onde também é sede da Associação Quilombola, quando recebeu acesso à internet. Mas eu frequentava outra escola, uma estadual fora de minha comunidade, e ia ao Telecentro sempre que podia para jogar e fazer pesquisas e trabalhos da escola.

A primeira vez que vi um notebook foi aos 10 ou 11 anos, quando um técnico da Emater foi na comunidade e passou para nós um filme sobre o quilombo. Em 2017 voltei a ter contato com um equipamento desses, que era o do meu irmão. Foi esse mesmo que em 2018 passei a compartilhar com minha irmã, pois fomos aprovadas no vestibular da Licenciatura em Educação do Campo (LEC). Antes, na escola onde estudei dos 11 aos 17 anos, as tecnologias de imagem e som utilizadas eram o projetor (datashow), televisão para assistir a filmes e o aparelho de som que tocava músicas no recreio. Que eu me lembre, fui uma vez à sala de informática para fazer uma pesquisa de geografia. Praticamente não utilizava os computadores, pois não havia para todos. O uso de celulares não era proibido nessa época e era comum os colegas ficarem jogando durante o intervalo, entre a saída de um professor e a entrada de outro.  Mas também eram de difícil aquisição.

No meu estágio de regência, procurei utilizar recursos digitais para as aulas, como o datashow e o uso de plataformas de vídeo. Porém o datashow só funcionou nos primeiros dias, depois tive que utilizar o quadro e o celular mesmo. Também me comunicava com os estudantes por aplicativo de mensagem online via WhatsApp. Esse aplicativo eu uso desde os 18 anos de idade, quando o criei para fazer parte de um grupo da turma da LEC.  O Facebook eu já utilizava desde a época do Telecentro. Hoje em dia a minha rede social preferida é o Instagram, pois a acho bem diversificada. 

Mesmo tudo estando conectado às redes sociais, eu consigo ficar um bom tempo do dia sem conferir e-mails, mensagens no WhatsApp e notificações do Facebook. Para me ajudar nessa questão, uso as funções de bem-estar digital e modo sem distrações do celular, que permitem controlar os aplicativos que usarei por um determinado tempo. Além disso, posso controlar quanto tempo por dia cada aplicativo (como das redes sociais Kwai, Instagram, TikTok) pode ser usado

Quando a pandemia chegou literalmente ao meu alcance, eu estava em um intercâmbio na Argentina. A pretensão era passar 3 semanas em Córdoba fazendo um curso de espanhol e interação cultural, porém, no fim da primeira semana já decretaram lockdown. Com isso, estendemos a permanência na Argentina e passamos a utilizar a ferramenta Zoom para ter aulas de espanhol. Como estávamos só eu e meu irmão isolados, eu acordava de manhã e depois do chá matinal participava da aula no Zoom, assistia a televisão, conversava com meus familiares pelo WhatsApp e usava o Instagram e um app de bate papo muito popular em Córdoba, o Holla em que pude praticar mais o idioma.

 De volta ao Brasil, ainda no auge da pandemia, além de cursar a LEC, atuei como conselheira estadual de assistência social de Minas Gerais no CEAS-MG, com reuniões mensais. Com o uso intenso de tecnologias on-line para comunicação e redes sociais, precisei colocar internet em casa. Mas a internet que instalei era muito falha e prejudicou bastante minha participação, tanto no CEAS como nas aulas da LEC.

Pensando na minha atuação profissional, procuro considerar minha experiência de vida e a realidade que observei no estágio e na minha comunidade. Nesses contextos, noto que o uso de tecnologias digitais é diferente de acordo com as classes sociais. Apropriar-se dessas tecnologias é um passo para minimizar a condição de inferioridade que os não conectados são colocados.

Na educação, não vejo as novas tecnologias digitais como “vilãs”, nem mesmo como “salvadoras”, mas acredito que vai depender de como as usamos e esse uso deve buscar a criticidade dos estudantes.  Cabe a nós, enquanto educadores e futuros educadores, buscar um uso pedagógico para elas.

[1] Isaura dos Santos Lopes é graduanda do curso Licenciatura em Educação do Campo (LEC), da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM).

Este trabalho foi orientado pelos professores Carlos Henrique Silva de Castro, Luiz Henrique Magnani e Mauricio Teixeira Mendes.

Minha inserção no mundo das tecnologias digitais

Minha inserção no mundo das tecnologias digitais

Por Irene dos Santos Lopes [1]

Ouça um trecho lido pela própria autora a seguir. O texto completo, em formato escrito, segue logo abaixo.

O uso de tecnologias digitais está cada vez mais frequente e até mesmo as crianças com dois, três anos de idade já utilizam essas ferramentas com muita facilidade, diferentemente da minha época de criança. Meu primeiro contato com alguma tecnologia interativa foi aos treze anos, quando usava uma calculadora dos meus irmãos mais velhos tinham que falava os números em inglês. Aos vinte anos tive o meu primeiro contato com um celular, que era do meu irmão. Ficamos impressionados com o aparelho. 

Na época, o celular não era conectado na internet, mas nos possibilitava fazer ligações para parentes de outros estados. O utilizávamos também para ouvir rádio. Quando descobrimos os joguinhos foi uma festa. Já meu primeiro acesso a um computador foi em um telecentro que surgiu na minha comunidade, que é uma comunidade Quilombola no município de Coluna MG no Vale do Rio Doce. No início o telecentro não tinha internet, mesmo assim chamava atenção. Em 2010 o responsável pelo telecentro era meu irmão e ele iniciou um projeto para ensinar informática. Nesse projeto aprendi a ligar e a desligar o computador, a usar a lupa para pesquisar, a jogar jogos do tipo captura de letras para formar palavras, entre outros. Apesar de não ter internet, esse processo fez diferença.

Dois anos mais tarde, em dois mil e doze, quando eu já estava com vinte e três anos de idade, no mesmo telecentro comunitário, acessei a internet pela primeira vez. Com auxílio do meu irmão, criei o Facebook, configurei meu perfil na página, convidei alguns amigos para serem amigos; hoje uso a rede social para postar algumas fotos e curtir fotos de outros amigos. Além dessas atividades, também fiz contato com parentes que nem conhecia pessoalmente.
Devido a pandemia de covid 19 e em função dos estudos, atualmente tenho mais acesso à internet e, de certa forma, fui obrigada a comprar novo aparelho celular e a contratar uma internet melhor para dar continuidade aos estudos no ensino remoto. Então, o acesso às páginas da web está mais frequente, assim como as pesquisas no Google e no Google Acadêmico. Não uso muito o Facebook como fazia antes, acho que perdi o interesse, pois só entro na plataforma de vez em quando, mando mensagem de aniversário para alguns amigos, converso com alguns familiares que moram fora, curto e compartilho alguns anúncios de venda de produtos de pessoas conhecidas, curto e respondo alguns comentários.

Atualmente, os aplicativos que uso bastante são o WhatsApp para debater trabalhos em grupo e conversar com familiares e amigos; o Duolingo para aprender e treinar inglês; e o Youtube onde assisto a lives no YouTube. Além disso, faço alguns cursos no Escolas Conectadas e no Instituto Conhecimento Liberta.

Pensando no dia de ontem, por exemplo, a tecnologia que mais usei foi o celular. Usei como relógio, para leituras e conversas com familiares e outras ligações. Também pesquisei rotas e localização com o auxílio do GPS, busquei informações no Google, acessei a conta no banco, armazenei arquivos, realizei trabalhos da universidade em arquivos on-line, tirei fotos, fiz vídeos, acessei o calendário, usei a calculadora e pesquisei receitas culinárias.

Muitas práticas sociais mudaram em minha vida após esse aumento no uso de celular e essas tecnologias que o acompanham. Fogueiras e rodas de contação de história ainda acontecem, mas não com a frequência de antes. As visitas aos vizinhos e familiares também diminuíram. Comparando as gerações mais velhas com as mais jovens, essas têm maior facilidade para manusear as ferramentas digitais disponíveis. Meus irmãos mais novos, por exemplo, manuseiam muito bem algumas ferramentas digitais, principalmente o celular, que é o que é mais acessível no meu contexto. Eu mesma me considero da geração mais velha, que tem mais dificuldade para operar as ferramentas costumeiras, mas o sistema a cada dia nos leva a usar novas tecnologias.
Noto que estamos, a cada dia, mais dependentes das tecnologias digitais, principalmente as novas gerações. A experiência mais positiva que tive com o uso de novas tecnologias foi conseguir dar continuidade ao curso de Licenciatura em Educação do Campo (LEC) na pandemia, quando consegui fazer trabalhos, e até outros cursos, me comunicar com amigos e familiares, com auxílio da internet. Em se tratando de experiência negativa, já recebi fake news e vi colegas e um irmão serem prejudicados com problemas tecnológicos em relação a matrícula em unidades curriculares, ou postar trabalhos e depois constar que não o fizeram. Mesmo assim, enquanto educadora, usaria essas tecnologias com estudantes como fonte de pesquisa e aprendizagem, mas também de forma a conscientizá-los sobre os riscos de acesso às redes, com o intuito de formar cidadãos conscientes e críticos quanto ao uso.

Como pontuei nos primeiros parágrafos, na minha educação básica não fizemos muito uso de tecnologia digital. Que eu me lembre, no ensino médio o único acesso que tive a alguma tecnologia foi assistir a um vídeo, ainda no videocassete, que explicava as transformações do corpo na adolescência. Tecnologia digital fui ter contato no ensino superior, onde precisei comprar um celular, aprendi a escrever no Word, a enviar trabalho no Moodle, enviar e receber e-mails, fazer download de arquivos, a mexer com pen drive. O Moodle é uma ferramenta que eu tive muita dificuldade para operar, o que não chegou a atrapalhar meu rendimento.

No tempo de pandemia tive que aderir ao sistema, trocar o celular e contratar internet para acompanhar o ensino remoto emergencial que estava posto. Até mesmo para me comunicar com pessoas próximas na comunidade, devido a pandemia, passei a usar o WhatsApp, assim como algumas pessoas da comunidade. O problema é que essa não foi uma escolha, simplesmente ficamos suscetíveis às decisões de um sistema controlador. Muitos pais deixaram de comer uma comida melhorzinha para comprar o celular, para ver se os filhos conseguiam acompanhar as atividades das escolas, mas infelizmente as realidades diversas, com desigualdades sociais, não permitem acesso a muitas tecnologias, como internet e equipamentos, aos cidadãos menos favorecidos.

Mesmo depois dessa experiência de ensino remoto percebi, na escola onde faço estágio, uma resistência do uso de celular dentro das dependências da escola, especificamente dentro da sala de aula. Como futura educadora do campo, pretendo trabalhar com tecnologia digital na sala de aula para os estudantes, por exemplo, produzirem textos em diversos formatos, a partir de suas realidades, com histórias de suas culturas, que valorizem os trabalhos dos pais e da comunidade, que façam pensar nas realidades e contextos sociais que estão vivenciando. Para a sala de aula imagino várias possibilidades para o uso do celular, como entrevistas, produção de textos, interações, busca por lugares, mapeamento de uma determinada região. São diversas as ferramentas de uso no celular que não podem ficar de fora da sala de aula.

[1] Irene dos Santos Lopes é graduanda do curso Licenciatura em Educação do Campo (LEC), da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM).

Este trabalho foi orientado pelos professores Carlos Henrique Silva de Castro, Luiz Henrique Magnani e Mauricio Teixeira Mendes.

Uma história com as tecnologias

Uma história com as tecnologias

Por Ingred Silva [1]

Ouça um trecho lido pela própria autora a seguir. O texto completo, em formato escrito, segue logo abaixo.

O avanço tecnológico é cada vez mais rápido e alcança cada vez mais lugares. Apesar disso, memo que no Brasil as mais modernas tecnologias da informação já vêm sendo utilizadas há algum tempo, minha interação com elas é recente. Desde muito pequena tive contato com algumas tecnologias analógicas, comuns em nossas famílias como a televisão (com antena parabólica), aparelhos de tocar DVD/CD e aparelhos de som. Mas a minha interação com essas tecnologias da informação mais avançadas como computadores e celulares só se deu a partir do ano de 2010, aproximadamente.

Lembro-me como se fosse hoje da minha empolgação para ir em um curso de computação promovido pela Associação dos Moradores e Amigos de Itinga (AMAI) através de um programa/projeto de apadrinhamento no qual eu iria, pela primeira vez, manusear um computador. Nessa época não sabia nem ligar o computador, não tinha nenhuma rede social como o Orkut, o famosinho da época, então ficava pesquisando coisas aleatoriamente. Depois disso, utilizava também os computadores da lan house da minha cidade, que hoje não existe mais já que os computadores se popularizaram. Gostava também de jogar videogame no pequeno centro de jogos chamado Star games, o que era o máximo.

Minhas primeiras interações com o celular foram com aparelhos de parentes e amigos que eu utilizava para fazer ligações, ver fotos, escutar música e para “curiá[*]”. Nesse período eu estava no Ensino Fundamental I e II. Apesar de a escola ter alguns computadores, nós não utilizávamos por falta de um local adequado, falta de instrução e principalmente por falta de internet. E mesmo com a disponibilidade de datashow/projetor na escola, ele era utilizado por professores somente em alguns projetos. Mais tarde, no Ensino Médio, foi que passei a manusear o computador.  Nesse período comprei meu celular que utilizava para estudar, quando possível, mesmo que seu uso fosse proibido.

Com a vinda para Universidade, aprimorei mais as habilidades e intensifiquei o uso das Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação (TDICs) como o notebook (que comprei quando ingressei na universidade), e-mail, plataformas e ferramentas digitais como e-campus, Moodle, Word, Excel, entre outros. Utilizo essas tecnologias também para algumas atividades realizadas para a associação comunitária quilombola da minha comunidade.

Percebo que cada vez mais as pessoas estão imersas no mundo digital, utilizando a tecnologia, às vezes, de forma negativa. Na minha comunidade, por exemplo, muitas atividades ao ar livre, encontros à luz do luar ou à tardezinha foram trocados pela interação com o celular, o que considero muito negativo. Outros pontos negativos envolvem vulnerabilidade de dados, aumento do consumismo, impacto no meio ambiente, impacto direto na saúde, entre outros.

Por outro lado, é importante ressaltar que existem muitos pontos positivos que as novas tecnologias nos oferecem como: praticidade, rapidez, longo alcance e, com isso, uma democratização maior da informação e do conhecimento. O que indicará se a tecnologia vai ser positiva ou negativa é a forma e objetivo para o qual está sendo utilizada.

Não posso deixar de comentar, é claro, sobre o momento atípico e histórico que foi a pandemia do covid-19. Nesse período, foi preciso intensificar ou, em alguns casos, começar a utilizar algumas tecnologias digitais novas. No meu caso foi preciso adquirir um plano de internet para continuar estudando, um plano de 10 gigas cuja mensalidade custava, nos seis primeiros meses, $159,90 reais e depois passou a custar $189,90 reais (15.67% do salário-mínimo). Adquiri este plano por ser mais barato, mas muitas dificuldades, pois não atendeu minhas demandas e teve um péssimo custo-benefício. Com toda essa questão, meu rendimento caiu, principalmente no quesito de participação nas atividades propostas.

No caso da escola da minha comunidade (como em muitos outros lugares), a situação foi ainda mais complicada, pois a maioria dos estudantes não tinha acesso à internet, ou até mesmo ao aparelho de celular. Assim, as atividades eram enviadas impressas para serem feitas em casa e muitos pais não tinham condições de auxiliar seus filhos. Dessa forma, os estudantes ficaram bem prejudicados. Fato é que a pandemia escancarou as desigualdades existentes; entre outras, destacam-se as desigualdades de acesso à informação e às tecnologias.

Enquanto futura professora e pensando nesse cenário, gostaria de trabalhar com a tecnologia de forma crítica na minha docência e, enquanto cidadã, ajudar a fortalecer o debate na minha comunidade de forma geral. É possível trazer esse debate para a sala de aula e orientar os estudantes para que percebam, entendam/leiam as estratégias que permeiam esse mundo, bem como para a comunidade. Pretendo trabalhar com práticas educativas na perspectiva da transformação social, buscando estratégias para melhor trabalhar com as TDICs. E, dessa forma, caminharmos para uma educação emancipadora. Essa é uma pauta muito relevante considerando esse mundo globalizado e extremamente conectado.

[*] Palavra utilizada na minha região (Itinga-MG) para dizer olhar com curiosidade, reparar, bisbilhotar etc.

[1] Ingred Silva é graduanda do curso Licenciatura em Educação do Campo (LEC), da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM).

Este trabalho foi orientado pelos professores Carlos Henrique Silva de Castro, Luiz Henrique Magnani e Mauricio Teixeira Mendes.

Vivências possíveis com as tecnologias

Vivências possíveis com as tecnologias

Por Fernanda Antonina Rodrigues da Silva [1]

Ouça um trecho lido pela própria autora a seguir. O texto completo, em formato escrito, segue logo abaixo.

Lembro-me bem da primeira vez que vi um celular. Eu tinha por volta de nove anos de idade, minha mãe trabalhava em uma casa de família e seu patrão tinha um celular, coisa que a gente não tinha, só ouvia falar. Então, sempre que eu ia na casa onde ela trabalhava, observava o celular por cima dos móveis, naquela curiosidade de criança, querendo mexer, pegar, mas só olhava. Uns dois anos depois minha irmã mais velha ganhou um celular e só então tive o primeiro contato. Eu achava o máximo, mexia em tudo, tirava foto, era uma maravilha. Minha irmã morria de medo de eu mexer e atrapalhar alguma coisa. Tempos depois a situação financeira em casa foi melhorando, meus pais também adquiriram seus celulares e fiquei com aquele que era da minha irmã, que conseguiu um outro.

Já meu primeiro contato com computadores foi na casa da minha avó, em um desktop do meu tio. Como ele não deixava a gente mexer, eu e minha prima íamos para lá usar o computador enquanto ele estava no trabalho. Aprendemos a ligar e tudo mais observando-o. Nessa época estava com 11 anos e gostava dos jogos de roupas, calçados e acessórios para bonecas e de pesquisar piadas e coisas engraçadas. Tempo depois abriu a primeira lan house perto da minha casa. Com isso, passei a ir lá jogar GTA por, na época, um real a hora.

Aos 13 anos, quando já dominava o básico, meu pai comprou o primeiro computador da minha casa e instalou internet. Meus pais nunca tiveram interesse de aprender, só compraram para minha irmã e eu. Nesta época a rede social que estava em alta era o Orkut e o comunicador era o MSN, basicamente o que eu acessava. Minha prima foi muito importante nesse meu processo, pois ela criou meus acessos da época e me ensinou muita coisa.

Atualmente as páginas de internet que mais acesso são as plataformas de vídeos, músicas, compras, além das plataformas de estudo. O uso diário dessas tecnologias faz toda a diferença na minha vida cotidiana, pois em tudo que faço estão envolvidas. Sempre preciso recorrer ao celular para resolver algo como pagar as contas, ou estudar, trabalhar, me informar, enfim, são tantas necessidades que hoje é quase impossível viver sem essa ferramenta.

No meu contato cotidiano, uso o celular desde o início do dia, pois preciso garantir que não vou me atrasar para o trabalho e, por isso, o deixo sempre no modo despertador. O celular me acompanha durante todos os dias, sem exceção, pois na loja onde trabalho ele serve como ferramenta de vendas, que utilizo para fotografar os produtos, gerenciar o perfil comercial no Instagram, atender os clientes no WhatsApp, conferir e-mails. Na vida pessoal, no celular eu acesso minhas redes sociais, converso com os amigos no WhatsApp e estudo em muitos momentos. Essas facilidades que os celulares trouxeram para o dia a dia fizeram com que as práticas sociais mudassem muito. Muitas coisas que antes eram resolvidas de maneira presencial, hoje faço pelo smartphone como, por exemplo, ir ao supermercado, pagar contas, estabelecer algum diálogo. São coisas que exigiam estar de forma presencial e hoje, com o avanço das tecnologias, não exigem mais. Com isso também houve certo distanciamento entre as pessoas.

Percebo que as gerações mais velhas têm muita dificuldade para entender e lidar com essas novas tecnologias. Noto também uma falta de confiança muito grande, principalmente com relação a transações nos bancos digitais. Preferem continuar nos métodos tradicionais já conhecidos por eles. Enquanto as pessoas mais jovens têm mais facilidade para entender e aceitar essas mudanças, pois é algo do seu tempo. Meus sentimentos com relação às tecnologias são bons, pois acredito que elas vieram para facilitar muito a vida e as relações e tenho experiências positivas com elas. No entanto certas situações também me deixam inconformada, como o fato de nem todos terem acesso.

Na minha experiência na educação básica basicamente não tive contato com tecnologias digitais, apesar de sempre existirem computadores na escola. Me lembro de apenas uma vez, em todos os anos que lá estudei, ter feito um trabalho de pesquisa na internet. A escola, por vários motivos, não apresentava esse tipo de suporte e, pelo que vejo, permanece assim até os dias atuais. Sempre recorreram e ainda recorrem muito aos livros didáticos. O celular, que é uma ferramenta muito utilizada e mais presente na vida dos alunos, não tem nenhum incentivo, muito pelo contrário, têm sua utilização proibida na escola.

Na universidade, que faço licenciatura, a realidade que encontrei foi bastante diferente. O celular é o maior meio de comunicação de todos e o notebook é muito utilizado. Sempre somos convidados/provocados a utilizar essas tecnologias, assim como o e-mail e as plataformas disponibilizadas durante a pandemia, pois tudo que fizemos nessa época dependia delas de maneira direta. Acredito que o isolamento social tenha mostrado a importância que as tecnologias têm na vida das pessoas, pois foi através dessas ferramentas que conseguimos, com toda dificuldade, prosseguir com os estudos, o trabalho e a vida. Infelizmente nem todos tiveram a mesma experiência e acesso nesse período, ou pela falta das tecnologias ou por falta de conhecimento a respeito delas.

Em muitas escolas, percebo que, mesmo que precariamente, estão buscando melhorias no sentido de incentivar o uso dos recursos digitais. Mas é certo que há muito ainda para se fazer, a começar por pensar e incentivar uma educação crítica para o uso dessas tecnologias. No futuro pretendo lutar para a inserção de ferramentas tecnológicas na sala de aula, pois acredito nos efeitos positivos que podem causar na educação. Sendo possível, utilizarei redes sociais e tantas outras ferramentas para o ensino didático, como Jamboard, Facebook, WhatsApp, Instagram, Padlet, e tantos outras possíveis e que ainda estão por vir.

[1] Fernanda Antonina Rodrigues da Silva é graduanda do curso Licenciatura em Educação do Campo (LEC), da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM).

Este trabalho foi orientado pelos professores Carlos Henrique Silva de Castro, Luiz Henrique Magnani e Mauricio Teixeira Mendes.

Letramento digital quando?

Letramento digital quando?

Por Eliude de Sousa Ferreira [1]

Ouça um trecho lido pela própria autora a seguir. O texto completo, em formato escrito, segue logo abaixo.

Durante minha infância, na minha casa não havia computador nem celular. A primeira vez que liguei um computador foi na escola, no Ensino Fundamental II. Lembro-me que, vez ou outra, algum professor levava a turma para a sala de informática; mesmo havendo poucos computadores e alguns estarem sem funcionamento, eram momentos de muita aprendizagem. Logo que chegávamos na sala de informática, ligávamos os computadores para pesquisarmos o que o professor havia proposto. O professor sempre exigia que transcrevêssemos para o caderno o resultado de nossas pesquisas. Normalmente éramos três ou quatro pessoas em cada computador. 

Eram aulas mais dinâmicas, quando a gente ficava mais livre, e no final sempre dávamos conta da missão. Assim aprendemos naquelas aulas que a internet pode ser usada como fonte de pesquisas. Nessa época, de 2007 a 2010, eu não usava nenhuma rede social e o contato com a internet era apenas para pesquisas. Em 2011, com 15 anos, comprei meu primeiro celular. Minha primeira conta no Facebook foi criada nessa mesma época, mas no Telecentro da cidade com a ajuda de alguns colegas que faziam cursos lá. Nessa época acessava o Facebook raramente, já que em minha casa não tinha internet e meu celular também não. Em 2014 comecei a usar o WhatsApp.

Atualmente não utilizo mais o Facebook, mas estou presente no e-mail, Telegram, Instagram e WhatsApp, que me ajudam a me comunicar com familiares, colegas, interagir em grupos do curso que faço atualmente, para atender demandas da escola onde trabalho, e para ver o mundo ao meu redor, conhecer paisagens e pessoas de outros lugares. Nesse mundo globalizado, não poderia esquecer de mencionar os sites que utilizo para compras, em procedimentos fáceis, sem precisar sair de casa. O Mercado Livre, a Shopee e a Magalu trazem até mim coisas que em minha cidade não encontro.

As tecnologias estão muito presentes no meu dia a dia. Ontem, como exemplo, ao acordar, peguei o celular para me situar no tempo, depois conversar com meus familiares e ver o dia das pessoas que sigo no Instagram. Nessa conta no Instagram vejo postagens de colegas e publico o humor do meu dia. Gosto de ver paisagens e mensagens reflexivas e de interagir com as pessoas por lá, não uso a ferramenta par fins comerciais. No meu dia a dia sempre assisto a conteúdos no YouTube. Gosto de acompanhar pessoas que viajam por outros países como a Monyse Garcia, acho fantásticas as viagens que ela faz em vários lugares, como na Turquia. É uma das formas que viajo sem sair do lugar.

Mesmo com essas tecnologias presentes há algum tempo na minha vida, a faculdade contribuiu significativamente para que me apropriasse mais dos conhecimentos tecnológicos, na produção dos trabalhos. Logo no início do curso tínhamos as mentorias, onde aprendi muitas coisas sobre formatação, acesso ao o Moodle, ao e-campus etc.

As pessoas da minha comunidade nem sempre veem a tecnologia como vejo. Há algumas, como a minha avó, que não sabem usar o celular; outras usam apenas para fazer ligação ou comunicar pelo WhatsApp. Mas também há tem aquela que estão até no Tik Tok, curtindo e compartilhando os diversos aspectos da globalização.

Na minha perspectiva, a Educação do Campo hoje não pode se limitar ao território do campo, pois é preciso possibilitar aos nossos adolescentes verem o que está fora do campo. É possível trabalhar conteúdo da cultura digital para que eles não fiquem excluídos. Um professor de língua pode, por exemplo, trabalhar gêneros textuais, realizar aulas que possibilitem aos alunos pesquisar, perceber que a internet é uma fonte que precisa de cuidados, mas contribui com diversas causas, como a comunicação que permite conhecimento.

[1] Eliude de Sousa Ferreira é graduanda do curso Licenciatura em Educação do Campo (LEC), da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM).

Este trabalho foi orientado pelos professores Carlos Henrique Silva de Castro, Luiz Henrique Magnani e Mauricio Teixeira Mendes.

Os meios tecnológicos e suas dimensões no aprendizado

Os meios tecnológicos e suas dimensões no aprendizado

Por Elisete Martins da Silva [1]

Ouça um trecho lido pela própria autora a seguir. O texto completo, em formato escrito, segue logo abaixo.

 Atualmente uma grande concentração de pessoas têm acesso a tecnologias digitais como mídias, aplicativos, jogos etc. Cada vez mais estamos conectados e necessitados desses recursos tecnológicos. As tecnologias proporcionaram muitos avanços, oportunidades e desenvolvimento para a sociedade, como na comunicação rápida com pessoas por todo o mundo, em pesquisas científicas, no meio educacional, automatização de muitos trabalhos, entre outros. No entanto, cabe ressaltar alguns malefícios como, por exemplo, o uso excessivo das mídias que se tornam pessoas viciadas no uso delas. Outros pontos são as fake news e, principalmente, a exclusão de muitas pessoas que não possuem recursos tecnológicos como internet, celulares, computadores, entre outros.

O meu primeiro acesso à internet aconteceu no ano de 2014, quando já contava com os meus 15 anos de idade. Utilizava o celular de uma amiga que me emprestava para acessar o Facebook, que foi a minha primeira conta criada nas redes sociais. Nessa época, utilizávamos internet por dados móveis fornecida pela rede da operadora da Vivo nas comunidades rurais em nossa região. Porém o acesso ao Facebook, que era a única rede que utilizava, era limitado a alguns minutos de algum dia da semana, pois minha amiga morava muito longe da minha casa. No ano seguinte comprei o meu primeiro telefone e então passei a utilizar o Facebook com mais frequência. Logo fui descobrindo novos aplicativos como, por exemplo, WhatsApp, Youtube, Kwai e Instagram, que são ferramentas que utilizo para postagem de fotos, interação, pesquisa, divulgação de trabalho, assistir a vídeos e para ficar antenada às informações e as notícias que estão circulando.

As tecnologias digitais estão cada vez mais presentes na vida das pessoas, na comunicação, no trabalho, nas escolas. Os métodos de ensino também vêm inovando com o uso de novas tecnologias, mesmo nem todo aluno tendo acesso, o que dificulta bastante. No entanto, os professores precisam trabalhar com as ferramentas do nosso tempo em favor do ensino-aprendizado, de modo que as utilizem de maneira consciente, de maneira que, por exemplo, reconheçam fake news e usem os celulares, que é mais comum entre eles, em práticas transformadoras.

Durante a minha formação básica não utilizavam esses novos recursos tecnológicos atuais, pois poucos tinham telefones ou computadores, nem mesmo os professores tinham acesso a um data show. Então utilizávamos mais os livros didáticos. No ano de 2018, ao ingressar no ensino superior na UFVJM, o uso das ferramentas digitais tornou-se mais presente, mas o meu   acesso a elas ainda era precário, pois tinha que acessar a internet por meio de um telefone dados móveis, o que limitava a qualidade e acesso.

No ano de 2020, com a pandemia do covid19, a necessidade de melhorar meu acesso se tornou inadiável. Assim, anos após meu primeiro acesso no celular da amiga, pude optar por um plano de internet via Wi-Fi. Também pude trocar de aparelho celular, pois o antigo era um modelo simples e necessitava de mais memória de armazenamento. Foram adaptações demandadas pela pandemia, que geraram gastos a mais no orçamento, e proporcionaram muito mais tempo de conexão e a utilização de mais recursos tecnológicos que ainda não conhecíamos. Com as aulas sendo realizadas on-line, tivemos que nos adaptar a novos aplicativos que contribuíram para novos métodos de ensino como, por exemplo, Google Meet, Google Classroom, Google Drive e Gmail. Essas foram as ferramentas que mais utilizamos e que contribuíram para o ensino e muitos aprendizados. 

De modo geral, as tecnologias fazem parte do nosso cotidiano, para trabalho, estudo e lazer, como venho pontuando. Vemos, inclusive, grande parte das crianças, adolescentes, adultos e mesmo os idosos, mais resistentes, inseridos em redes de comunicação e usando com competência seus aparelhos tecnológicos. Porém, ainda há uma limitação no acesso por falta de infraestrutura de internet e de outras ferramentas e aparelhos tecnológicos. Mediante o contexto educacional e enquanto futuros educadores, devemos buscar métodos e estratégias para utilizar essas tecnologias em sala de aula, proporcionando maior inclusão, aprendizados e desenvolvimento dos letramentos dos alunos em práticas com o meio digital, pois como já estão em contato constante com esse mundo virtual. Os professores podem utilizar esses novos métodos a seu favor em sala de aula fazendo das tecnologias uma ponte entre o aluno e o conhecimento.

[1] Elisete Martins da Silva é graduanda do curso Licenciatura em Educação do Campo (LEC), da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM).

Este trabalho foi orientado pelos professores Carlos Henrique Silva de Castro, Luiz Henrique Magnani e Mauricio Teixeira Mendes.

Tecnologias digitais e as escolas onde estudei

Tecnologias digitais e as escolas onde estudei

Por Elisama Sousa [1]

Ouça um trecho lido pelo próprio autor a seguir. O texto completo, em formato escrito, segue logo abaixo.

Inicialmente estudei em uma escola do campo, localizada em uma comunidade próxima, onde não existia variedades de tecnologias digitais, apenas uma televisão analógica. Por essa escola atender somente os anos iniciais do Ensino Fundamental, ao ingressar a 5ª série, mudei para uma escola estadual situada na cidade. Meu primeiro contato com um celular foi um analógico da marca Nokia, que meu tio possuía, quando eu tinha em média 8 anos de idade. Eu gostava muito de jogar no celular, mas como meu tio morava em uma cidade distante, eu só podia fazer isso em ocasiões que ele visitava minha avó.

Um dos jogos se chamava Nature Park e nele era necessário fazer com que o urso pegasse bolinhas; após o urso pegar uma sequência de três de mesma cor, acontecia um incêndio e o quadro ficava mais vazio, possibilitando ao urso maior habilidade ao recolher bolinhas.

Na primeira vez que usei um computador eu tinha 10 anos de idade e cursava a 5ª série. Essa oportunidade aconteceu na sala de informática da Escola Estadual Teodomiro Caldeira Leão, quando fomos fazer uma pesquisa. Eu não sabia usar o computador, mas com a ajuda dos meus colegas, muitos deles da cidade e já sabiam fazer pesquisas na internet, consegui meu objetivo.

Na 6ª série comprei meu primeiro celular, quando enviei as primeiras mensagens SMS. Utilizei o celular mais para assistir a vídeos e ouvir músicas que meus colegas me enviavam pelo bluetooth. Conta no Facebook eu criei quando fiz alguns cursos no Telecentro da cidade, quando estava cursando o Ensino Fundamental II.

Atualmente o uso de tecnologias digitais tem feito parte da minha rotina e isso só se intensificou durante a pandemia. Com as aulas remotas, aumentou a necessidade de acompanhar os grupos de WhatsApp e fazendo pesquisas acadêmicas constantes. Assim, para interação entre a turma do curso e comunicação em geral uso com mais frequência o WhatsApp; para entretenimento uso Instagram para.

Percebo que as pessoas mais velhas que residem no campo têm mais dificuldades, tanto em relação ao manuseio, quanto a aquisição dessas tecnologias digitais. Considero que não é algo impossível para elas, pois conheço pessoas acima de 50 anos de idade que têm acesso aos tipos de tecnologias aqui retratadas e conseguem fazer uso do WhatsApp, SMS, ligações, enfim, estabelecer uma comunicação.

Na universidade, o momento de mais aprendizado sobre o uso de computadores foi na monitoria, pois até então usava com facilidade apenas o smartphone. As monitorias me ajudaram bastante na realização dos trabalhos e, principalmente, nas aulas remotas. Mesmo assim a pandemia foi muito desafiadora, pois na minha comunidade a internet é instável, o que dificultou o acompanhamento das aulas.

As tecnologias possuem pontos positivos e negativos e isso tem a ver com o uso que escolhemos fazer delas. Uma das experiências mais marcantes para mim é que sem acesso às tecnologias digitais eu teria grande possibilidade de não estar na graduação; pois no momento da realização de matrícula, de forma presencial, me faltaram alguns documentos. Com um prazo pequeno para uso dos correios, pude escanear os documentos e enviá-los por e-mail.

Considero que o uso dessas tecnologias deve ser debatido com os estudantes, principalmente em escolas do campo, pois não podemos nos resignar com dificuldade de acesso, mas lutar por ele, pois estamos em uma sociedade globalizada e de avanços constantes de interesse de todos. Devemos quebrar o paradigma de que o campo é um lugar de atraso e de pessoas ingênuas. Um conhecimento negado ao estudante pode resultar em uma perda de oportunidades no âmbito educacional, do trabalho, da vida.

[1] Elisama Sousa é graduanda do curso Licenciatura em Educação do Campo (LEC), da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM).

Este trabalho foi orientado pelos professores Carlos Henrique Silva de Castro, Luiz Henrique Magnani e Mauricio Teixeira Mendes.

Meus acessos às tecnologias

<strong>Meus acessos às tecnologias</strong>

Por Claudiana Aparecida de Paula [1] 

Ouça um trecho lido pelo próprio autor a seguir. O texto completo, em formato escrito, segue logo abaixo.

As tecnologias digitais podem ser compreendidas por diversos fatores, como pontos positivos e/ou negativos. A tecnologia é mecanismo de informação, e desinformação, e nos oferecem possibilidades de divulgação das culturas de comunicação e interação com o mundo. Em um mundo globalizado, se não fizermos uso desses mecanismos provavelmente estaremos excluídos. Algumas tecnologias podem ser vistas como ferramentas viciantes, e normalmente envolvem mecanismos de manipulação ainda em estudo, como a ansiedade causada por likes e o papel dos conteúdos curtos nesse processo.

Sou de uma família humilde do campo e o meu primeiro acesso às ferramentas digitais foi quando já estava entre 17 e 18 anos de vida, em 2013. Isso não aconteceu somente comigo e sim com a maioria de meus colegas e amigos que moram ou moravam em áreas rurais.

Antes disso eu ganhei um celular analógico, presente do meu pai, da marca “tijolão”, não tinha acesso à internet, mas dava para fazer ligações e tinha uns joguinhos bem legais que vinham no aparelho. Lembro-me, como se fosse hoje, a reação de felicidade do meu pai ao me dar um celular, pois era um período difícil e quase ninguém na minha comunidade tinha acesso a uma ferramenta daquelas, tinha pessoas que não faziam ideia do que seria um celular.

Outra alegria imensa com o acesso a tecnologias foi no ano de 2010, quando estávamos todos ansiosos para a Copa do Mundo na África. Minha mãe nos presenteou – a mim e meus irmãos – com uma televisão de 14 polegadas de tubo. Foi uma felicidade enorme. Era uma televisão de tubo, com características muito inferiores às digitais de hoje em dia, mas ressalto que ela foi uma excelente ferramenta de comunicação e discernimento de informação.

Ao todo somos cinco irmãos, sou a filha do meio, ou seja, tenho dois irmãos mais velhos e dois irmãos mais novos. Gosto sempre de brincar com eles que somos dois tipos de filhos, os mais velhos são gerações raiz, com pouco ou nenhum acesso às tecnologias digitais, e os mais novos são gerações “nutela”, com mais acesso apesar das limitações, e eu estou no meio dessas mudanças. As brincadeiras divertidas como roubar bandeira, cabra cega, que nós mais velhos tivemos na infância, os meus irmãos mais novos não fazem nem ideia do que sejam.  E isso não é exclusividade apenas da família, observo que no período em que eu estudava na educação básica, e agora pelas experiências no estágio da licenciatura que curso, as pessoas que nasceram antes dos anos 2000, no geral, tiveram o primeiro contato com o celular analógico somente na adolescência. O máximo que nossos celulares antigos podiam fazer era enviar mensagens de SMS, hoje às crianças já nascem tendo contato com o smartphone para assistir a vídeos e jogar na internet, dentre outras coisas. 

No ano de 2014 comprei meu primeiro celular digital, com várias ferramentas e funções novas, mas mesmo assim fiquei muito tempo apreensiva com as redes sociais. Minhas primeiras contas eu criei quando estava fazendo o Magistério (Formação de Professores na Educação Básica com os Anos Iniciais) em uma turma de pessoas com diferentes perfis socioeconômicos, mas onde todos tinham celulares e faziam o uso das redes sociais. Então, acabei me afastando do grupo da sala por não me sentir parte. Minha colega de curso, vendo que me afastava todos os dias quando iam mexer nos seus celulares, me convenceu a criar conta nas redes sociais. Comecei pelo WhatsApp, depois Facebook, e em 2021 decidi aderir ao Instagram

No ano de 2018, quando ingressei no Curso da Licenciatura em Educação do Campo pela Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, comecei a ter uma visão mais crítica sobre o uso das redes sociais. Hoje, eu administro seis contas no meu aparelho celular de duas redes, três no Facebook e três no Instagram. Duas contas pessoais, uma em cada rede, outras duas da Associação Comunitária Quilombola e outras duas da N’GOLO/Federação das Comunidades Quilombolas do Estado de Minas Gerais.

A minha conta do Instagram pessoal uso mais para publicar fotos, pois gosto de postar minhas fotos que acho interessante, principalmente quando vou a algum lugar e tiro fotos bonitas. No Facebook gosto de ser bastante diversificada. Faço diversas postagens. Achei legal, posto. Mas sem ter aquele posicionamento crítico, pois prefiro evitar fazer postagens de cunho político, religioso ou de assuntos que causariam debate nas minhas publicações, pois sou de uma família com pessoas de identidades e opiniões diferentes da minha e prefiro evitar confusões.

Já as contas da Associação e da N’GOLO eu tenho que ter mais atenção, pois são contas de instituições que envolvem outras pessoas.  Nessas contas faço a divulgação dos conteúdos do território Quilombola ou assuntos pertinentes aos interesses gerais. Então, priorizo postagens sobre as culturas e lutas do nosso povo. Por ser de mais fácil o acesso e mais ágil para a comunicação e interação com as pessoas, uso muito o WhatsApp para essas funções. 

Pensando nas tecnologias no meu dia a dia, considero que passo boa parte do meu tempo com o celular na mão, seja para assuntos acadêmicos, pessoais, ou dos movimentos sociais que participo. Todas as vezes que chega notificação no celular, imediatamente paro tudo e vou ver do que se trata. De fato, esse comportamento atrapalha um pouco a minha vida no geral, até mesmo o meu relacionamento com o meu marido, pois não consigo cumprir os horários que destino para cada atividade. Todos os dias já acordo com o alarme do celular, em seguida olho todas as correspondências seguindo por essa ordem: WhatsApp, E-mail, Facebook, Instagram e notícias do Feed que são disponibilizadas pelo Google. Sinto que depois que comecei a participar dos movimentos sociais e da vida acadêmica estou mais dependente das ferramentas tecnológicas.

O ponto positivo das minhas experiências é que não precisei de muito tempo para me adaptar ao ensino remoto pois eu já usava, por exemplo, ferramentas de reuniões online com os movimentos sociais e outras. Entretanto, uma das dificuldades que devo mencionar sobre o ensino remoto é que eu moro atualmente em Diamantina, na zona urbana, mas desenvolvo algumas atividades em minha comunidade rural que fica entre os municípios de Serro e Santo Antônio do Itambé. Durante o período do ensino remoto, precisei ir para a comunidade muitas vezes e lá não tem acesso à internet. Então para usar a internet no celular, conectava via antena rural de uma vizinha, que eu ia à noite quando tinha encontros online, a aproximadamente a vinte minutos de moto. Como não sei pilotar, precisava que um dos meus irmãos ou meu marido me levasse todos os dias. As dificuldades do ensino remoto não foram apenas para os estudantes do ensino superior, afetaram também os estudantes da educação básica, principalmente a do campo, aqueles de comunidades com essa que citei, que não têm acesso, ou têm acesso precário, à internet.  

Em síntese, compreendo que as tecnologias digitais não são neutras, e que, como futuros educadores, devemos sempre trazer para a sala de aula debates que apontem pontos positivos e negativos de seus usos, pois os estudantes devem ter suas próprias concepções críticas do uso dessas ferramentas. A melhor forma, então, é orientá-los para fazerem um bom uso das tecnologias, para, sobretudo, não cairmos em truques de linguagem no processo de interação e comunicação, mas podermos acessar bons debates para maior consciência crítica.

[1] Claudiana Aparecida de Paula é graduanda do curso Licenciatura em Educação do Campo (LEC), da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM).

Este trabalho foi orientado pelos professores Carlos Henrique Silva de Castro, Luiz Henrique Magnani e Mauricio Teixeira Mendes.

Tecnologias na minha vida

<strong>Tecnologias na minha vida</strong>

Por Alexandre dos Santos Baldaia [1] 

Ouça um trecho lido pelo próprio autor a seguir. O texto completo, em formato escrito, segue logo abaixo.

Nasci em uma comunidade do campo, em uma época em que pouco se ouvia falar de tecnologia digital. No campo essas tecnologias acabam chegando por derradeiro. Apesar das dificuldades financeiras, meus primeiros contatos com um celular foram aos meus 12 anos, em meados de 2011 para 2012. No entanto só em 2015 ou 2016 que tive meu primeiro aparelho celular, um Samsung J5; a partir de então criei minhas primeiras contas em ambientes virtuais, no Google e no Facebook.

Adquiri esse primeiro celular não porque precisava, mas por ver meus colegas da escola com essa tecnologia. Percebi que precisava ter um para me enturmar, pois era moda. Em meu tempo de escola havia uma sala de computação, no entanto, dificilmente éramos levados para trabalhar com esses computadores. Somente a partir de 2018, época em que ingressei na Licenciatura em Educação do Campo, que pude trabalhar com o computador/notebook.

Atualmente utilizo alguns aplicativos no smartphone como o WhatsApp e Instagram, usados para socializar. Também utilizo outras ferramentas para pesquisas e para assistir vídeos (YouTube, Tik Tok, Google). O Instagram e o Tik Tok utilizo para publicar fotos, vídeos, sem uma função determinada, como para ganhar curtidas ou comentários. Logo ao acordar já começo utilizá-los.

Com essas tecnologias em mãos, acabamos deixando de lado outras coisas que fazíamos, como ter um diálogo face-face. Nos ajudam a resolver quase tudo sem mesmo sair de casa/quarto. Por exemplo, compramos e pagamos através de um clique. Por um lado, facilitou a solução de problemas, mas também traz consequências como o alto consumismo online e o abandono dos comerciantes locais, levando-os à falência.

Nem todos das gerações anteriores, como nossos pais e/ou avôs, se apropriaram dessas novas tecnologias, sendo que grande parte dessas gerações não foram alfabetizados, o que dificulta o uso, mesmo sendo interativas e de fácil manuseio. Atualmente, as crianças já nascem com um aparelho digital na mão, o que os leva a um processo de aprendizagem antecipado, antes mesmo da alfabetização.

No ambiente escolar, considero que o uso das tecnologias digitais é de suma importância, pois são ferramentas que podem chamar a atenção dos alunos, além de prepará-lo para o que estar por vim. Assim é importante que haja professores capacitados, para que os alunos se apropriem dessas ferramentas de forma crítica para, assim, não ficarem sujeitos a exclusão digital/social.

Na minha formação básica tive pouco contato com as tecnologias. Lembro-me que havia poucos computadores na escola e os utilizávamos raramente. No decorrer dos anos algumas coisas evoluíram com o uso do pendrive e de projetores de imagens, mas mesmo assim eram pouco utilizados.

Na universidade tive dificuldade em utilizar o computador/notebook, pois não estavam incorporados nas minhas vivências e até hoje não domino bem essas tecnologias. Nesse espaço tive várias experiências importantes para minha aprendizagem como acessar e utilizar os ambientes de aprendizagem Moodle e Google Classroom.

Durante a pandemia, o uso de tecnologias no meu cotidiano não foi excessivo. Como moramos no campo, onde o acesso à internet é difícil, e não podíamos sair do isolamento social, praticamente deixamos as tecnologias de lado. Com isso, a maioria do tempo estivemos trabalhando nas plantações.

Quando começou o ensino remoto, tivemos dificuldades para acesso internet. Para conseguir melhor sinal, tínhamos que subir em morros para acompanhar as aulas e fazer as atividades. Foi a solução para se ter maior acesso. Por morar fora do centro da comunidade, não conseguia o sinal da internet para instalar em casa, pois nem se avista a torre que transmitia o sinal. Como a demanda de pessoas sem acesso à internet era grande, buscamos por uma empresa que instalasse uma antena mais próxima e os aparelhos de conexão nas casas. Para isso, tivemos que abrir um caminho e carregar o material até o morro onde seria fixada a antena. Financeiramente, a comunidade se uniu e cada um pagou 100 reais para instalação e uma mensalidade de 77 reais. Assim foi feito e em outubro de 2021 conseguimos acesso à internet em casa, mas não é de tão boa qualidade.

Com internet em casa, passei a utilizar um computador de mesa, que foi doado por minha irmã. Com internet em casa, meus pais passaram a ter também aparelhos para se comunicarem. Assim como eu que tive dificuldade em ter acesso à internet em casa, e ainda de má qualidade, devemos analisar que isso pode ter ocorrido com outras pessoas ou até mesmo pior, que as impossibilitaram de continuar a estudar durante o ensino remoto. Devemos ainda analisar como os alunos do campo estudaram no ensino remoto, já quem nem todos têm acesso à internet, ou a outros aparelhos, para estudar.

Percebo que essas novas tecnologias devem/precisam ser trabalhadas nas escolas, já que são utilizadas por/pelos alunos. Assim, devemos pensar em uma educação do campo na qual todos tenham acesso. Como futuro educador me vejo trabalhando com as tecnologias a partir do contexto em que estão inseridos. Penso em buscar possiblidades no qual os estudantes consigam interagir efetivamente. Se nós educadores não trabalharmos tecnologias na educação, entendo que não estamos cumprindo nosso papel de formar jovens e adultos de uma forma crítica. Assim, devemos criar condições para que percebam a importância do uso dessas tecnologias, e como o mau uso traz consequências às vezes irreversíveis.

[1] Alexandre dos Santos Baldaia é graduando do curso Licenciatura em Educação do Campo (LEC), da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM).

Este trabalho foi orientado pelos professores Carlos Henrique Silva de Castro, Luiz Henrique Magnani e Mauricio Teixeira Mendes.

Efeitos e avanços das tecnologias em minha vida

<strong>Efeitos e avanços das tecnologias em minha vida</strong>

Por Carla Batista Dias [1] 

Ouça um trecho lido pelo próprio autor a seguir. O texto completo, em formato escrito, segue logo abaixo.

Meu primeiro contato com o mundo digital foi tardio, aos dez anos, com o telefone via antena na casa da vizinha, o qual a gente usava para ligar para os parentes que moram fora, como em São Paulo e Campinas. Outros contatos com as tecnologias digitais aconteceram na escola, onde usei pela primeira vez um computador.

Na escola também assistíamos a filmes em DVDs na televisão, outra tecnologia em alta no período, mas ter a oportunidade de interagir com um computador, que a gente não tinha nem noção de como funcionava de verdade, foi algo muito gratificante e, acredito, um privilégio. Mais tarde, entre 2009 e 2010, tive o primeiro celular digital (da Nokia) com teclado touch screen que eu utilizava para fazer ligação, acessar o Facebook e tirar fotos. A internet era bem limitada, pois só funcionava com a compra de créditos antecipados.

Com o passar dos anos, tive acesso a várias outras ferramentas digitais, como celulares mais modernos da Samsung com Facebook, e-mail, WhatsApp. A rede social que eu mais utilizava era o WhatsApp para comunicar com o namorado. As outras redes sociais eu usava mais por curiosidade.

Atualmente, devido aos meus estudos na universidade, costumo usar essas ferramentas de comunicação, mas também utilizo outros com finalidades específicas educacionais como Google Classroom, E-campus, Google Meet, Google Drive, assinatura digital, e-mail institucional etc. Mesmo com todas as funções e possibilidades de aprendizagem que essas tecnologias proporcionam, a proibição de seus usos no contexto de sala de aula é uma realidade. Eu mesma já vivenciei essa proibição em uma escola públicas.

Hoje em dia estou presente nas redes sociais buscando conhecimento e trabalhando. A tecnologia que sempre uso ao acordar é o telefone celular devido o alarme. Ao longo do dia, junto ao celular utilizo o notebook. Com a presença dessas tecnologias e das redes sociais no meu cotidiano, algumas práticas sociais mudaram, como ler diariamente, brincar com os amigos no final da tarde etc. 

Pensando nesses avanços tecnológicos, tem o lado positivo e o negativo. De negativo, algumas práticas educativas que eram realizadas na comunidade, como a contação de histórias pelos mais velhos à luz do luar, com a chegada da internet, já não se faz mais isso. As pessoas mal conversam umas com as outras. Com isso, tradições como as danças locais e as festividades estão sendo modificadas.

Na minha formação na educação básica, tive poucas experiências com as tecnologias digitais e na sala de aula era proibido o uso de celulares, que nem todos tinham. O computador de mesa da escola raramente era utilizado para a pesquisa. Nem acesso à internet tínhamos, pois fomos privados com o argumento de que não sabíamos administrar o tempo de uso. O contato mais prolongado com a internet era em uma lan house, onde eu pagava um real para acessar o que queria.

Com o ingresso na universidade, adquiri um notebook para poder realizar as atividades do curso. No início tive muita dificuldade de acessar o Moodle, onde são postados os trabalhos. O acesso ao ambiente é um pouco complicado e demorado e seu suporte para arquivo é limitado. Atualmente o uso da assinatura eletrônica está sendo um desafio, outras ferramentas foram mais tranquilas.

No contexto pandêmico, em que estudamos de forma remota por dois anos, a necessidade e o acesso às ferramentas digitais acabaram sendo a preocupação principal. Ficamos dependentes delas para poder conseguir dar sequência aos estudos e muitos desistiram por não possuírem ferramentas adequadas e não terem condições financeiras para comprar. Eu mesma tive que comprar um novo computador. Nesse período em que ficamos dependentes das tecnologias para a comunicação, o contexto do campo foi o mais afetado, uma vez que não estávamos acostumados com tanta informação digital ao mesmo tempo e nem tínhamos acesso a essas tecnologias.

Diante dessas e outras experiências, vejo o uso das tecnologias nas escolas de forma excludente, pois não são acessíveis à maioria. Uma vez que somos refém dessas ferramentas, devemos usá-las ao nosso favor. Tenho a experiência na universidade de uma sala de aula onde o uso dessas tecnologias funciona super bem e são fundamentais para o nosso aprendizado. Dessa forma, com certeza vou usar algumas delas nas minhas aulas para o ensino dos meus futuros alunos, sempre em busca do diálogo sobre a atualidade, as tecnologias digitais e o seu uso positivo e/ou negativo e questões relacionadas ao consumismo.

Como futura educadora do campo, buscarei também metodologias e ferramentas que atendam a maioria dos meus alunos, buscando diminuir a exclusão notória no contexto de sala de aula. Sinto-me segura para dar aula com determinadas ferramentas digitais como o computador/notebook, o celular, o datashow que, a meu ver, são tecnologias essenciais para um ensino dialógico no contexto escolar. Para mim, é evidente que o educador deve se adequar ao mundo tecnológico para contribuir para uma educação de qualidade, para que seus estudantes sejam críticos ao utilizarem as redes e as tecnologias de maneira geral.

[1] Carla Batista Dias é graduanda do curso Licenciatura em Educação do Campo (LEC), da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM).

Este trabalho foi orientado pelos professores Carlos Henrique Silva de Castro, Luiz Henrique Magnani e Mauricio Teixeira Mendes.

Tecnologias e acesso na realidade

<strong>Tecnologias e acesso na realidade</strong>

Por Alcione Aparecida Ferreira [1] 

Ouça um trecho lido pelo próprio autor a seguir. O texto completo, em formato escrito, segue logo abaixo.

Vivi pelo menos até os cinco anos de idade em uma comunidade onde não existia energia elétrica. Então, os primeiros aparelhos tecnológicos com os quais tive contato foram os rádios à pilha, o toca-fitas e a radiola em que podíamos ouvir músicas e nos manter informados a respeito dos acontecimentos das cidades vizinhas.

Ao ingressar na escola municipal de minha comunidade para os primeiros anos de minha educação formal, época em que já havia energia elétrica, pude ter acesso aos rádios que tocavam CDs, e televisão em que podíamos assistir desenhos, e filmes em fitas VHS e mais tarde em DVDs. Em casa ocorreu meu primeiro acesso ao celular, quando meu pai comprou um telefone que chamávamos de tijolão. Com ele eu jogava escondido um único jogo que não me lembro o nome. 

Meu irmão já possuía um celular e não me deixava usá-lo para não estragar. Aos onze anos de idade, fui transferida para a escola estadual da cidade, onde pude acessar algumas tecnologias digitais como os computadores do Telecentro comunitário, onde eu fazia trabalhos como pesquisas, quando aprendi a manusear um pouco o computador.

 Aos dezesseis anos pude ter um celular de teclado, em que criei meu primeiro Facebook e ouvia músicas. Depois, fui trocando de aparelho com o decorrer do tempo. Principalmente no ensino médio eu utilizava bastante o SMS (Serviço de Mensagens Curtas) para comunicar-me com os colegas. Em casa, necessitava de ir para um lugar mais alto, normalmente no meio do mato, para ter o acesso à internet, pois o sinal não funcionava. Quando funcionava, era fraco. As vezes lá ficava até o celular descarregar ou a mãe ir gritar porque já estava preocupada. Ao cursar o magistério para o trabalho com educação infantil, criei conta no WhatsApp e Facebook, que eu utilizava bastante. Também visitava sites para pesquisas e lojas online, mas somente para pesquisar.

Ao ingressar na universidade, em 2018, comecei a ter mais acesso às plataformas digitais principalmente para os estudos, que depende bastante do acesso à internet para pesquisas, baixar textos e outros materiais disponibilizados pelos professores, comunicar com os colegas e professores e outros. Diante da situação que passamos por causa da COVID-19, tivemos que ter aulas remotas e utilizamos muitas plataformas digitais novas, além dos equipamentos. Para estudar, utilizo o notebook e celular e os aplicativos Google Classroom, Google Drive, Google Meet, E-mail, entre outros. Para entretenimento e comunicação, ao longo do dia, utilizo os aplicativos WhatsApp, Facebook, Instagram, Kwai, Youtube, bem como também apps bancários, lojas online, entre outros.

Como pode-se notar, a tecnologia que utilizo com maior frequência ao longo do dia é o aparelho celular, que, ao acordar, já visualizo as horas, se tem alguma mensagem ou ligação importante. Se a manhã estiver tranquila, entro em algum aplicativo de entretenimento para me distrair. Algumas práticas sociais mudaram com o uso de diferentes tecnologias. Hoje resolvo algumas situações do cotidiano pelo WhatsApp e ligações como marcação de consulta e até a consulta dependendo do especialista, comunicar-me com o agente de saúde da cidade, entre outras atividades que desenvolvia antes pessoalmente me deslocando até o ambiente.

Diante dessa realidade de intensas mudanças que estamos presenciando, certamente passaremos por novas adaptações, principalmente quando se trata dos contextos educacionais e formação profissional, em que o uso das tecnologias digitais se tornou necessário nos diversos níveis e áreas. Durante o meu processo de formação como profissional docente, percebo que utilizarei vários mecanismos tecnológicos que os meios sociais exigem e estão sempre em mudança, principalmente nas escolas onde atuarei. Espero usar essas novas possibilidades tecnológicas no ensino da melhor forma possível, de forma que ajude a incluir quem não tem acesso a elas, o que não será fácil, mas é necessário.

[1] Alcione Aparecida Ferreira é graduanda do curso Licenciatura em Educação do Campo (LEC), da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM).

Este trabalho foi orientado pelos professores Carlos Henrique Silva de Castro, Luiz Henrique Magnani e Mauricio Teixeira Mendes.

Experiências e perspectivas vinculadas ao uso de tecnologias

<strong>Experiências e perspectivas vinculadas ao uso de tecnologias</strong>

Airton Alves Chaves Junior [1]

Ouça um trecho lido pelo próprio autor a seguir. O texto completo, em formato escrito, segue logo abaixo.

Aqui abordo alguns aspectos vinculados às minhas experiências com tecnologia digital. Aos 15 anos de idade, tive contato com um computador de mesa da escola onde eu estudava. Acredito que esse foi meu primeiro contato com um aparelho digital, meio tardio. Naquela época fiquei admirado ao ver a máquina. A professora pediu que realizássemos uma pesquisa, mas eu não sabia nem ligar a ferramenta. 

Após a professora ligá-la, alguns colegas me ensinaram a usar o mouse, a usar a aba de pesquisa e outras coisas. Tive bastante dificuldade para controlar o mouse, mas o que me chamou muita atenção foi o fato de que se o levantasse da mesa, não funcionava muito bem. Esse primeiro contato com a ferramenta impactou meu processo de aprendizagem, pois fiquei muito curioso ao ver que meus colegas estavam obtendo muita informação nas pesquisas que faziam. Porém não tive bom resultado na atividade em si, pois não consegui acessar as informações como meus colegas.

Aos 17 anos consegui comprar meu primeiro celular e tive muita dificuldade em instalar o Facebook, pois naquela época, e até mesmo hoje em dia, acessar a internet na minha comunidade é difícil. Há algum tempo utilizando o aparelho pude aprender bastante coisa e logo comecei a utilizar o Google para pesquisar e realizar atividades mais complexas. Até hoje essa ferramenta tem sido uma das que mais utilizo. Acredito que o vínculo com o curso de graduação tem sido um dos principais elementos que me direciona/aproxima a esses usos, pois sempre utilizo para pesquisar, estudar, dificilmente acesso com outro intuito. Também uso bastante o WhatsApp e Gmail, ferramentas que me dão acesso a questões do curso e informações de familiares. Até pouco tempo usava o app do Facebook, porém acabei desinstalando, pois notei que estava havia muita frequência de sorteios de rifas.

Sempre tive pouco acesso a tecnologias digitais, pois passei a infância na roça onde não há nem sinal de telefonia. Nos dias atuais resido no mesmo lugar, porém acesso as ferramentas com mais frequência para estudar. Meu uso diário de internet se dá apenas quando estou no Tempo Universidade, que é totalmente diferente de quando estou na comunidade, quando fico semanas sem acessar nenhuma plataforma digital. As tecnologias têm facilitado muito meu processo de adaptação na graduação, inclusive na pandemia, quando realizamos muitos trabalhos e pesquisas de Tempo Comunidade em reuniões virtuais e diálogos no WhatsApp. Se não houvesse tais plataformas não tínhamos condições de desenvolver tais propostas.

Nas pesquisas e diálogos realizados na comunidade fica visível a mudança nas relações entre as gerações novas e mais velhas com o uso de tecnologias, como alguns moradores têm se queixado. Os mais velhos afirmam que a “cultura tem se perdido” na comunidade, pois os jovens se recusam a aprender os costumes. Inclusive. um senhor me relatou em uma entrevista, que ele é o único que ainda sabe fazer bolsas de couro na região. Ele afirma que seu pai lhe ensinou e hoje não pode fazer da mesma maneira com seus filhos, pois eles não querem. Após adquirirem celulares, “não têm gosto de fazer mais nada”. Mesmo não havendo internet, o contato de crianças e jovens com os aparelhos é constante, que os utilizam para jogos digitais.

Vejamos que há pontos negativos e positivos quando discutimos a nossa relação com essas novas tecnologias. Proporcionam muito conhecimento e têm contribuído para a minha formação; mas deparo-me com pontos negativos quando noto que minha comunidade tem perdido muitas tradições pelo mal-uso das tecnologias digitais. Como educador do campo, uma boa possibilidade de se trabalhar com os estudantes e novas tecnologias seria usá-las para o estudo das culturas locais, com vídeos de depoimentos, dentre outros.

Hoje percebo como tudo tem evoluído, inclusive a escola, pois na que frequentei há vários computadores com conexão Wi-Fi que, são utilizados com frequência, pelos alunos. Também, nas salas de aula há televisores com acesso à internet, diferente da minha época. Na Licenciatura em Educação do Campo (LEC) tenho aprendido muito com o uso de tecnologias digitas. Meus principais aprendizados estão relacionados ao uso do computador, onde acesso diversos sites e fontes de estudos.

Quando estava cursado o terceiro período tive que comprar um notebook e um celular, pois dependia desses aparelhos para estudar. No momento de pandemia a plataforma como Classroom dificultou significativamente meu processo de aprendizagem, pois eu perdia aulas anunciadas na plataforma, quase não entendiam as explicações virtuais, não encontrava as informações para o trabalho, devido não saber manusear o aplicativo. Essas dificuldades encontradas têm feito parte de minha formação e me proporcionado diversos conhecimentos. A pandemia em mudou toda minha rotina. Para ter acesso a aulas em vídeo, devido à dificuldade de acesso à internet, tinha que me deslocar todos os dias até o alto de um morro onde o sinal é melhor.  Talvez eu não entendesse as explicações virtuais por fatores como esses: subir um morro, no mato, às com fome, outras com frio.

Na escola básica na comunidade não foi muito diferente. Sem ir à escola presencialmente, os alunos tinham que subir o morro para pesquisarem diversas questões dadas por seus professores. Além de que, em sua maioria, não possuem um aparelho adequado para acessar a internet. Eu mesmo emprestei meu celular para alguns que não tinham. A pandemia afetou gravemente muitos alunos, inclusive os oriundos do campo.

É de suma importância afirmar que o acesso às tecnologias existentes no contexto urbano não é o mesmo do campo, a exemplo da internet. Isso tem sido um fator que afeta o ensino/aprendizagem dos estudantes campesinos, pois os impedem de ter o contato com tais ferramentas e seus usos, como vimos na pandemia. Ao longo de minhas experiências de estágio, pude perceber que os docentes optam por trabalhar com livro didático ao invés de passarem um filme na televisão, ou desenvolverem atividades na sala de informática. Os professores afirmam que, quando mudam as práticas tradicionais, os alunos acabam bagunçando e não fazem as atividades. Esta é a “desculpa” que tenho presenciado por diversas vezes no contexto escolar.

Acredito que práticas conscientes com as tecnologias digitais na escola proporcionam um universo de possibilidades para tornar o ensino realmente significativo para os estudantes, porém devemos ter o cuidado para não colocarmos esse público expostos a mais consumismo. Com o objetivo de aumentar o consumo, na internet o mercado recorre a diversas propagandas, por vezes duvidosas, além dos falsos padrões criados. A tecnologia contribui para o nosso avanço e para educação em geral, e por isso faz muita falta para muitos que ainda não têm acesso.

[1] Airton Alves Chaves Júnior é graduando do curso Licenciatura em Educação do Campo (LEC), da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM).

Este trabalho foi orientado pelos professores Carlos Henrique Silva de Castro, Luiz Henrique Magnani e Mauricio Teixeira Mendes.

Experiências com tecnologias

<strong>Experiências com tecnologias</strong>

Por Adilson Gomes Santos [1]

Ouça um trecho lido pelo próprio autor a seguir. O texto completo, em formato escrito, segue logo abaixo.

Trago aqui reflexões sobre o meu processo de adaptação com algumas ferramentas tecnológicas a partir de experiências que marcaram esse percurso. Além disso, deixo minhas percepções como futuro educador do campo, em um contexto educacional onde novas metodologias podem ser escassas.

Durante minha infância, o contato com as tecnologias digitais era muito difícil, pois se dava na escola estadual onde estudava, apenas quando éramos levados para a sala de informática para pesquisar algo relacionado a matéria estudada. Todas as recomendações da professora, com o medo de estragarmos aquele computador empoeirado, já despertava em nós a preocupação em atrapalhá-lo. 

A chegada dos celulares, por exemplo, na Comunidade Quilombola do Furtuoso, no município de Coluna, onde resido, se deu de forma muito lenta. Me lembro que o meu primeiro acesso a um aparelho celular foi aos 17 anos, quando um primo conseguiu comprar um. 

Com o passar do tempo, consegui comprar um aparelho bem simples, que aos poucos fui trocando. O tempo foi passando e com o apoio da Associação Quilombola da Comunidade conseguimos levar a internet para nosso quilombo. Isso possibilitou a redistribuição da rede e a instalação nas residências dos moradores, facilitando assim o contato com o “mundo globalizado’’. A partir daí foi possível criar contas nas redes sociais como o Facebook, consegui comprar meu primeiro notebook, utilizado com mais frequência para os estudos, mas também para momentos de descontração.

Em meu processo de uso das tecnologias, muitas oportunidades e incentivos foram dados por meus professores, da Licenciatura em Educação do Campo, que me colocaram ativamente no uso das ferramentas digitais. Em minha prática atual com a tecnologia digital, uso com muita frequência a plataforma Google Classroom, mensageiros e redes sociais como WhatsApp, Facebook e Instagram, usados para troca de mensagens. Considerando que faço parte dos movimentos sociais quilombola na comunidade onde moro, às vezes, bem raramente, posto algumas fotos nas redes, mas não curto muito essa ideia.

No meu cotidiano, as tecnologias midiáticas estão sempre presentes. Pensando no dia de ontem, o primeiro aparelho tecnológico que utilizei no dia foi o celular, que serviu até mesmo como despertador. No decorrer do dia, também usei o notebook. Uma das ferramentas ainda não explorada por mim, que pretendo utilizar e tenho essa curiosidade, é o GPS, que pode facilitar as rotas de viagem que pretendo fazer em um futuro bem breve.

 Percebo que em função de algumas tecnologias, algumas práticas comuns foram se perdendo. Antes era comum o diálogo face a face, a interação humana de forma presencial; e hoje em dia as pessoas se encontram alienadas pelos aparelhos digitais, com isso muitas tradições e culturas foram sendo perdidas. Recordando-me da época de convivência com meus avós, tios e primos mais velhos, percebo que a tecnologia que chegou como “moderna” na comunidade também excluiu, de certa forma, as práticas culturais da comunidade. Um dos exemplos que pode ser citado, ainda fresco em minha memória, é o momento em que grande parte da família se reunia próximo ao pé de manga gigante que existe na casa de minha avó para ouvir histórias, algumas vezes de assustar. Íamos embora para casa com medo após os causos contados. Hoje esse espaço é ocupado pela juventude nos jogos de Free Fire, sem espaço para as pessoas mais velhas e as tradições.

Por outro lado, as tecnologias têm facilitado de forma significativa o desenvolvimento, mesmo excluindo pessoas como mostra nosso quadro de grande desigualdade social. Considerando essa realidade, como professor eu buscaria metodologias e ferramentas que atendessem, de certa forma, às nossas necessidades educativas e que fosse de fácil acesso aos alunos. Optaria, por exemplo, por usar celular e notebook para envolver a todos, como em trabalhos em grupo.

Como já mencionado, na minha trajetória escolar a experiência com computadores e internet se dava na sala de informática, onde a tarefa que predominava era pesquisar na Wikipédia assuntos relacionados às atividades trabalhadas em sala de aula, como se estivéssemos na biblioteca. Anos após, ao realizar o processo de estágio nessa mesma escola, percebi que não houve uma grande evolução. Na mesma sala de informática os computadores se encontram no mesmo lugar, alguns deles amontoados e empoeirados, fazendo entender que são pouco utilizados.

 No meu percurso universitário, as principais tecnologias utilizadas são Moodle, E-campus, Google Classroom, Google Meet, e-mail institucional e, recentemente, a assinatura digital. Para mim esse novo ambiente foi bastante desafiador, acredito que para todos, por se tratar de ferramentas novas com as quais eu não tinha contato. O Moodle foi a ferramenta que mais encontrei dificuldades no domínio e acredito que isso tenha dificultado, de certa forma, meu aprendizado, pois os materiais para estudos eram postados nesse espaço. Com as dificuldades encontradas, eu só usava o ambiente para postagem de trabalhos.

No período do isolamento social, destaco como algo positivo o uso de algumas ferramentas para manter o diálogo e algumas atividades da universidade iniciadas presencialmente, mudando totalmente a metodologia. As ferramentas que antes eram mais utilizadas para interação social, com a pandemia se tornaram essenciais para o desenvolvimento dos trabalhos, como por exemplo, o WhatsApp. Assim, o período pandêmico me levou a me adequar a essas tecnologias também para o uso profissional, o que fez com que eu comprasse alguns novos aparelhos para conseguir acompanhar as atividades propostas.

 No contexto escolar das comunidades do campo, percebi que a implantação do Ensino Remoto Emergencial acabou dificultando o processo de aprendizado dos alunos e a atuação dos professores. Esses tiveram que se adequar à nova realidade muitas vezes sem possuir ferramentas básicas como conexão com a internet, além de não terem ajuda com recursos e nem formação específica.

Durante o processo de estágio, foi possível perceber que o uso das tecnologias na escola são um grande tabu, visto como algo totalmente negativo, até mesmo com a proibição do uso do celular em sala de aula. Deixam, assim, de aproveitar as ferramentas úteis ao processo de ensino e aprendizado dos alunos.

 Como futuro educador percebo a necessidade de se buscar por conhecimentos e capacitação para conhecer ferramentas que possam ser levadas para a sala de aula e que atendam ao público. Concluo com a defesa do uso de tecnologias adequadas ao espaço escolar, que possam atender a todos, de maneira significativa no processo de aprendizado dos alunos. Nesse sentido, deve-se quebrar essa barreira da proibição e adequar as ferramentas midiáticas utilizadas ao contexto social. Com relação à segurança em se trabalhar com as tecnologias em práticas educativas, percebo que é algo bem desafiador, pois precisa levar em consideração o público que será atendido. No entanto, a presença de computadores e acesso à internet em grande parte da escola facilita o trabalho com metodologias voltadas para a pesquisas que contribuem para a criticidade dos alunos.

[1] Adilson Gomes Santos é graduando do curso Licenciatura em Educação do Campo (LEC), da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM).

Este trabalho foi orientado pelos professores Carlos Henrique Silva de Castro, Luiz Henrique Magnani e Mauricio Teixeira Mendes.