Tecnologias e seus efeitos diários

Por Solange Pereira dos Santos [1]

Ouça um trecho lido pela própria autora a seguir. O texto completo, em formato escrito, segue logo abaixo.

Em meados dos anos 2000, a tecnologia mais avançada que tinha em casa era um som com controle remoto que tocava CDs.  . Usei muito som de CD, mas hoje uso caixa de som com conexão por bluetoothFoi no ano de 2014 a primeira vez que usei um mouse, enviei uma mensagem, fiz uma busca na Wikipédia. Foi nesse ano que me inscrevi no curso de informática básica no Telecentro da cidade de Caraí/MG. No curso, criei meu primeiro e-mail e uma página no Facebook.

Nesses meus processos de aprendizagem com e sobre as tecnologias, os colegas tiveram bastante importância, diferentemente da família que teve pouca participação. Hoje as tecnologias me permitem interagir com os movimentos sociais do Vale do Jequitinhonha e região, prestar serviços voluntários, de forma assídua em encontro virtuais ou presenciais, como na minha graduação na UFVJM, em palestras e outros cursos. As tecnologias se tornaram essenciais em minha caminhada após meu comprometimento com o curso em uma universidade pública de qualidade, sendo que eu fui a primeira da família a entrar em uma. Tudo aconteceu em um curto espaço de tempo, trazendo liberdade e possibilidades.

As páginas web que mais visito são Facebook, Instagram, Tik Tok, o blog regional do Jô Pinto (onde sou atualmente colunista), sites acadêmicos, páginas de jornais regionais. Dei minha parcela de contribuição no blog Encontro de Saberes – UFVJM com um registro do manejo de farinha de mandioca artesanal da Comunidade Cedro, município de Padre Paraíso/ MG. Também contribuí na página do Olhares do Campo, com uma publicação intitulada “Trajetória escolar de uma campesina”. No ano de 2021 realizei algumas lives do Museu de Araçuaí – linkando com uma participante na Alemanha com a qual continuo alimentando uma página no Facebook. No mesmo período apresentei artigo na Sintegra, edição de 2021, sobre trabalho orientado pelo professor Luiz Cláudio Nobre.

Há diferenças no uso diário de tecnologia em minha vida como estudante, profissional e ativista e costumo separar espaço para cada momento. No Instagram compartilho mais registros pessoais, já no Facebook estou adaptando-o para registros importantes de trabalhos ou divulgações de trabalhos de amigos. Também já fiz uploads de imagens e vídeos no Facebook e no status do WhatsApp. Pensando no uso de tecnologias no dia de ontem, por exemplo, comecei logo ao acordar. Ao longo do dia fiz visitas breves na página do blog do Jô Pinto, no WhatsApp, TikTok, Instagram e Facebook, algumas páginas de notícias regionais, assisti a um documentário etc.

Em função das novas tecnologias, mudei algumas práticas sociais como catalogar endereços de pessoas, fazer lives usando o StreamYard e o Facebook, marcar encontros pelo WhatsApp, estudar usando documentos digitais e vídeos, fazer trabalhos no Google Docs, fazer chamadas de vídeos, enviar e-mails, fazer compras online, digitalizar documentos, fazer cursos à distância etc. Ainda não tive oportunidade de assistir a um filme com óculos 3D, mas pretendo fazer em breve.

Vejo diferenças no uso de tecnologia entre as gerações mais novas e as gerações mais velhas. Normalmente, pais e avós de conhecidos ainda têm resistências para experimentar algo novo. Já os mais jovens, como adolescentes e crianças conhecidas e alunos, já ficam loucos para ter acesso a tecnologias e aparelhos de última geração.  Com o acesso que tenho, consigo identificar diferenças culturais entre amigos estrangeiros e diferentes gêneros textuais, pois o acesso a vários conteúdos me deu um leque de experiências com outras pessoas de outras etnias, além de estar por dentro dos perigos por trás da rede e dos vários gêneros textuais que traz.

Tenho vários sentimentos em relação às tecnologias, como insegurança, instabilidade, medo da exposição de meus dados, de tornar-me dependente e permanecer muito tempo conectada etc. As experiências positivas que tenho estão relacionadas a ter acesso a tudo em tempo hábil, de fazer vários cursos, reencontrar pessoas que a muito tempo não tinha contato, ouvir músicas ininterruptamente, assistir a filmes e séries. As negativas foram acessar notícias dos massacres nas escolas, feminicídios, vulnerabilidades das crianças nas redes com crescimento de pedofilia e uso de drogas. Além dessas notícias ruins, mas verdadeiras, há o perigo das fakes news usadas para manipulação e, massa, ameaças, controle de poder. E o mais novo dilema social é a deepfake, tecnologia que usa a chamada inteligência artificial para adulterar o movimento dos lábios e falsear falas, dentre outras coisas.

Como educadora e estudante, uso diariamente o Google Classroom, Google meet, Google drive, e-mail e WhatsApp. Como professora, usaria sites que exigem menos dados ou criaria um espaço como um Padlet semanal com temas diversos para trabalhar com os alunos, algo ainda a ser processado. Na minha formação educacional básica, não me lembro de fazer atividades diversificadas com uso de tecnologias de informação e comunicação. Basicamente assistíamos a filmes em fita de videocassete no telão na quadra de esporte ou no pátio da escola, ou em uma televisão de tubo que havia em algumas salas. Também havia uma sala de computadores, mas nenhum, ou poucos, funcionavam e não podíamos ter acesso livre a eles, éramos sempre supervisionados. Não retornei às escolas em que estudei, mas tive notícias de que adaptaram salas e espaços com algumas salas de vídeos, computadores na biblioteca, televisores smart, internet, projetores etc.

Na Universidade, as principais tecnologias utilizadas, principalmente no período de ensino remoto ocorrido em decorrência da pandemia do covid-19) foram Moodle, Google Meet, Classroom, e-mail, Google Drive, Google docs, planilhas, sites acadêmicos etc.. Os maiores desafios estavam ligados a apresentar trabalhos remotamente, a partir de uma pequena tela. A insegurança tomava conta com câmera que travava, filhos e animais domésticos aparecendo atrás e cabelos desajeitados. Isso quando a conexão não caía ou travava, o que dificultava a participação das aulas. Alguns professores ainda exigiam que ficássemos com a câmera aberta.

Nesse período de ensino remoto, para continuar o curso universitário tivemos que adaptar ou adquirir alguns aparelhos como notebook e internet, assim como arrumar um espaço menos barulhento em casa para estudar ou negociar o silêncio com a família. Na rotina, passei a ter que preparar com antecedência o jantar ou outros afazeres pertinentes para as aulas dos fins de tarde e início das noites. Não cheguei a abandonar nenhuma tecnologia, pelo contrário, tive que aprender a manusear outras mais. Além de tudo isso, ainda tive que adquirir um aparelho celular para uma, ajudar a mais nova com suas atividades, estagiar remotamente, dividindo o mesmo espaço.

A partir dessas experiências, vejo o uso de tecnologias nas escolas como um universo de possibilidades. Com essas tecnologias é possível trabalhar gêneros diversificados como filmes, podcasts, padlet, dentre outros. Além disso, é necessário a realização de debates sobre o uso das tecnologias nas escolas, sobre aspectos positivos e negativos, fazer pesquisas, conhecer outras culturas, inclusive de outros países, mostrar nossas culturas, tudo que encontros virtuais podem proporcionar. Conhecendo um pouco as tecnologias, a partir do conhecimento que construí na universidade e nos meus trabalhos extras, me sinto segura em me tornar professora e desenvolver um bom trabalho na perspectiva tecnológica.

[1] Solange Pereira dos Santos é graduanda do curso Licenciatura em Educação do Campo (LEC), da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM).

Este trabalho foi orientado pelos professores Carlos Henrique Silva de Castro, Luiz Henrique Magnani e Mauricio Teixeira Mendes.

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