Educação do campo na pandemia: descobrindo os desafios do ensino remoto e inovando as práticas pedagógicas

Educação do campo na pandemia: descobrindo os desafios do ensino remoto e inovando as práticas pedagógicas

Por Maria Madalena de Oliveira Gomes [1]

Este é um relato de um trabalho desenvolvido no Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID) do Curso de Licenciatura em Educação do Campo (LEC) da UFVJM. O trabalho reuniu um conjunto de entrevistas, sendo que este relato em específico relata a percepção de dois alunos de escola do campo sobre o Regime Especial Não Presencial (REANP-MG). A pesquisa desenvolvida com esses dois estudantes nos possibilita ver o cenário de ensino remoto vivenciado no período da pandemia de uma forma mais crítica e reflexiva, como busco mostrar aqui.

As entrevistas foram semiestruturadas, realizadas de forma virtual, com o foco em apresentar a problemática vivenciada pela comunidade da Escola Estadual Mestra Virginia Reis (EEMV) a partir, sobretudo, do contexto da pandemia. Assim, apresentarei aqui os resultados das entrevistas realizadas com dois estudantes da referida escola, sendo um aluno e uma aluna.  O perfil socioeconômico dos entrevistados se assemelha muito, pois são moradores do próprio distrito, com facilidades e dificuldades de acesso semelhantes.

A influência materna teve um papel crucial no que diz respeito às perspectivas que os estudantes têm para o futuro, pois relatam que as mães os conscientizam permanentemente sobre a importância de se dedicarem aos estudos. Em suas opiniões, o REANP mostrou-se ineficaz em muitos aspectos, pois não ofertou as mesmas condições a todos os estudantes, como por exemplo, o acesso amplo a internet, sobretudo para assistir as videoaulas indicadas. O novo sistema de ensino, embora tenha proposto uma modalidade para dar sequência ao processo de ensino aprendizagem, não considerou a diversidade existente, ficando mais evidente a desigualdade social e econômica no âmbito educacional. Nesse sentido, os entrevistados relataram que tiveram grandes dificuldades.

Se ampliarmos o campo de visão, acabamos observando que não há igualdade de direitos no país, pois nem todos os estudantes têm em casa as mesmas condições de aprendizado. Afirmo isso porque tenho condições de auxiliar nas atividades dos meus próprios filhos, mas há famílias vizinhas em que os pais não são alfabetizados, que os alunos não têm acesso às fontes de pesquisa, e que os professores não conseguem ajudar adequadamente à distância. Assim, além do problema de acessos às tecnologias, outro desafio para os estudantes foi aprender por conta própria ou através do copia e cola.

Por outro lado, um dos benefícios deste sistema foi o fato de conscientizar o corpo escolar de que há diversas ferramentas que podem ser usadas a serviço da educação, ou seja, grande parte dos professores que conduziam suas disciplinas de forma bastante tradicional, precisaram se atualizar, adequando-se às novas tecnologias. Nesse sentido, o celular, que antes não podia ser usado de forma alguma pelos estudantes durante as aulas, foi a ferramenta mais utilizada para comunicação entre escola, estudantes e famílias.

[1] Maria Madalena é estudante da Licenciatura em Educação do Campo (LEC), da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM). Este relato foi produzido a partir de pesquisa supervisionada pelo professor Vítor Sousa Dittz, da Escola Estadual Professor Leopoldo Pereira, e orientada pelo professor Carlos Henrique Silva de Castro, da UFVJM, no âmbito do PIBID-UFVJM.

Agradecimentos aos estudantes-sujeitos e suas famílias, bem como ao diretor da E. E. Professor Leopoldo Pereira, o professor Maycon Souza.

REANP escancara desigualdades e dificuldades

REANP escancara desigualdades e dificuldades

Por Maria Flor de Maio de Jesus Silva [1]

 

Trago aqui um relato de entrevistas realizadas com alunos que frequentam o ensino médio da Escola Estadual Professor Leopoldo Pereira, localizada na comunidade de Milho Verde, distrito do município do Serro, Minas Gerais. A instituição é considerada escola do campo pelo perfil dos estudantes que atende. Trata-se de uma escola nucleada rural, ou seja, o seu espaço físico está situado na comunidade de Milho Verde, mas a área de abrangência da comunidade escolar é maior que a área onde a escola está localizada. 

Atualmente, a escola atende a 14 comunidades da zona rural que englobam desde a sede do distrito de Milho Verde, que tem uma pequena infraestrutura urbana, até localidades como a Serra da Bicha, o Amaral e a Jacutinga, lugares onde o acesso, seja às casas, à infraestrutura de comunicação, aos meios de transporte ou à saúde, é muito precário.

Diante da pandemia da Covid19, a Escola Estadual Professor Leopoldo Pereira, como as escolas de o estado, suspendeu as aulas presenciais e passou a buscar formas alternativas de manter o processo de ensino-aprendizagem de forma remota. Nesse período, em consonância com as propostas do governo estadual de Minas Gerais, utilizou principalmente os recursos tecnológicos como aplicativos e plataformas on-line. A estratégia adotada escancara a desigualdade e as dificuldades enfrentadas pelos estudantes e professores, pois alguns problemas comuns à maioria dos alunos têm origens econômicas como: acesso limitado a internet, falta de computadores e de espaço em casa, problemas sociais, sobrecarga de trabalho docente e baixa escolaridade dos familiares.

Foram entrevistados três alunos do ensino médio com o objetivo de obter subsídio para essa análise. Em relação ao contexto socioeconômico dos estudantes, podemos perceber que os estudantes A e B residem na zona rural, onde fazem o uso do transporte escolar para acesso à escola presencial. Já o estudante C mora próximo à escola, ou seja, na sede do distrito. Os estudantes A e B não possuem internet na comunidade e, assim, fazem o uso de dados móveis para estudar quando fazem recarga no telefone pré-pago, quando podem, pois acham caro. O estudante C tem internet em casa e em sua comunidade há duas prestadoras desse serviço.

As famílias dos estudantes A e B recebem auxílio do governo como o Auxílio Emergencial e o Bolsa Família, os pais são trabalhadores rurais e possuem o ensino fundamental. Os pais de C concluíram o ensino médio, seu pai, trabalha numa empresa de abastecimento de água. Sua mãe é dona de casa e recebe Bolsa Família. A qualidade de internet na zona rural é péssima, pois quase não há lugar com sinal de operadoras de celular e, quando há sinal, a transmissão dos dados funciona lentamente. Todos os três estudantes, no momento, não trabalham, ajudam nos afazeres domésticos e estudam.

No que se refere ao perfil dos entrevistados enquanto estudantes e dedicação à escola, o entrevistado A disse que não gosta muito de estudar e que só faz os deveres de casa quando solicitado. O conteúdo com o qual mais se identifica é história. Já o estudante B se dedica todos os dias aos estudos, independentemente de ser época de prova ou não. Ele afirma que sempre foi participativo nas atividades e com o ensino remoto dedicou-se ainda mais aos estudos. Disse também que gosta de “enturmar” com os colegas de sala. A disciplina que mais se identifica é biologia. O estudante C é um estudante muito esforçado, pois declarou que gosta muito de estudar e sempre dedicou aos estudos diariamente.

Em relação às percepções e preferências para seus futuros, todos os três entrevistados não pretendem ficar no campo, afirmam que querem cursar o ensino superior e ter uma profissão na cidade. Já sobre as percepções desses estudantes sobre o Plano de Estudos Tutorados (PET), foram distintas. Afirmaram que no início acreditavam que aprender não seria possível, mas perceberam também que as atividades seriam também uma forma de manter uma conexão com a escola. Com o passar do tempo, a didática dos PETS foi evoluindo, porém afirmaram que não conseguiram aprender todos os conteúdos e que as atividades eram de difícil entendimento, sobretudo por não terem internet de qualidade para assistirem às videoaulas. Os entrevistados disseram que assimilam melhor o conteúdo no ensino presencial do que a distância. Também perceberam que as formas de interações sociais foram prejudicadas com o distanciamento social. Todos possuem esperança de que a pandemia acabe logo.

Podemos observar que são realidades bem diferentes, mas o grande aprendizado deste período está realmente nas diferenças de contexto entre estudantes, professores e escolas. As desigualdades são multidimensionais, o que faz com que sejam mais intensas para alguns estudantes do que para outros, mesmo entre estudantes que frequentam a mesma escola, como mostra o resultado da análise das entrevistas que aqui finalizo, uma vez que são determinadas por suas condições sociais.

[1] Maria Flor de Maio é estudante da Licenciatura em Educação do Campo (LEC), da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM). Este relato foi produzido a partir de pesquisa supervisionada pelo professor Vítor Sousa Dittz, da Escola Estadual Professor Leopoldo Pereira, e orientada pelo professor Carlos Henrique Silva de Castro, da UFVJM, no âmbito do PIBID-UFVJM.

Agradecimentos aos estudantes-sujeitos e suas famílias, bem como ao diretor da E. E. Professor Leopoldo Pereira, o professor Maycon Souza.

A percepção de alunos das comunidades rurais de Serra da Bicha, Amaral e Capivari sobre o REANP

A percepção de alunos das comunidades rurais de Serra da Bicha, Amaral e Capivari sobre o REANP

Por Juliana da Paz Ferreira [1]

Este breve relato é resultado de uma pesquisa realizada com três alunos da Escola Estadual Leopoldo Pereira, situada em Milho Verde, distrito de Serro/MG. A instituição é uma escola nucleada rural, que atualmente atende cerca de quatorze comunidades: Amaral, Ausente de Cima, Ausente de Baixo, Barra da Cega, Baú, Boqueirão, Cabeça de Bernardo, Capivari, Chacrinha, Colônia, Córrego da Areia, Jacutinga, Serra da Bicha e Três Barras. O relato aborda, sobretudo, o Regime Especial de Atividades Não Presenciais (REANP) implementado em todo o estado na pandemia e, ainda, a percepção e as expectativas dos alunos entrevistados moradores das comunidades de Serra da Bicha, Amaral e Capivari.

Uma vez aplicados os questionários aos três estudantes da Escola Estadual Leopoldo Pereira, notei que em relação ao núcleo familiar, dois deles disseram que seus pais são analfabetos e possuem renda muito baixa e que sobrevivem apenas da agricultura familiar e do programa Bolsa Família. Parece que o fato tem um impacto direto no aprendizado, pois nenhum deles tem ferramentas como um computador ou uma internet com boa qualidade para os estudos.

Os alunos moram muito longe da escola e um deles precisa de tomar dois ônibus para chegar até ela, outro fator que dificulta o aprendizado. Os relatos são de que acordam muito cedo e o cansaço da viagem é grande. Além disso, um aluno trabalha meio período para ajudar os pais no sustento de casa. Diante de tantos esforços, podemos notar que são muito dedicados e não medem esforços para superar suas dificuldades.

Para os estudos, na falta do computador e da internet a cabo, utilizam a internet com dados móveis no celular, que não possui boa qualidade, além de livros didáticos para auxiliá-los nas atividades impressas do Plano de Ensino Tutorado (PET) disponibilizadas pelos professores. Essa foi a principal dificuldade relatada pelos três, pois é o principal fator contra suas aprendizagens.

Com relação ao REANP, consideram como única opção, pois perder um ano letivo inteiro seria um prejuízo muito grande no final da formação. Relataram ainda que muitos obstáculos surgiram para o entendimento de conteúdos e resolução de exercícios, mas o corpo docente utilizou metodologias interativas como, por exemplo, grupos de apoio através do aplicativo do WhatsApp e indicação de videoaulas. Apesar das dificuldades, relatam que os professores estavam sempre disponíveis para tirar quaisquer dúvidas que surgissem.

Mesmo com os esforços relatados, os estudantes mostraram-se céticos sobre o aprendizado à distância, pois perceberam que estudar em casa, sem o auxílio presencial do professor e com tanta coisa que tira a atenção, é muito difícil. Concluíram que nas aulas presenciais, sem dúvida, o aprendizado é bem maior.

Neste ano que finalizou, os três alunos entrevistados optaram por não fazer o Enem. Todos sonham em dar continuidade aos estudos e se qualificarem, mas acham que o ensino remoto pode prejudicar muito os alunos do campo no exame do Enem.

Um deles sugeriu que algo que ajudaria bastante seria que os próprios professores gravassem videoaulas com a explicação das disciplinas e ao invés de indicarem videoaulas de professores desconhecidos, como acontece no REANP. O mesmo estudante acredita ainda que ajudaria muito se os PETs também fossem elaborados pelos próprios professores da escola com conteúdos que retratassem suas realidades. Ele relata ainda que os PETs possuem atividades muito resumidas, o que acredita dificultar o aprendizado.

A partir desse relato e das posições dos estudantes, é importante refletir sobre a eficácia das metodologias, bem como os pontos positivos e negativos do REANP; não apenas nas comunidades rurais, mas nas periferias de forma geral, uma vez que o Brasil é um país de grandes diferenças.

[1] Juliana é estudante da Licenciatura em Educação do Campo (LEC), da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM). Este relato foi produzido a partir de pesquisa supervisionada pelo professor Vítor Sousa Dittz, da Escola Estadual Professor Leopoldo Pereira, e orientada pelo professor Carlos Henrique Silva de Castro, da UFVJM, no âmbito do PIBID-UFVJM.

Agradecimentos aos estudantes-sujeitos e suas famílias, bem como ao diretor da E. E. Professor Leopoldo Pereira, o professor Maycon Souza.

Universidade, letramentos e novas tecnologias no contexto da Educação do Campo

Universidade, letramentos e novas tecnologias no contexto da Educação do Campo

Hoje, 12/07/2021, a partir das 18hs, no programa de Apoio Pedagógico da FALE/UFMG, a conversa é sobre “Universidade, letramentos e novas tecnologias no contexto da Educação do Campo”

Carlos Henrique Silva de Castro (UFVJM) é o convidado que trará resultados do seu estágio pós-doutoral na FALE/UFMG.

Acesso: https://youtu.be/26lzX7q_7oM

Certificados: fique de olho na lista/formulário no chat ao vivo, ao final da live. A carga horária total das participações serão somadas em um único certificado a ser entregue ao final da temporada.

Carlos Castro é doutor em Estudos Linguísticos pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG / 2011-2015) com período sanduíche na University of California, Santa Barbara (UCSB / 2013-2014). Fez estágio pós-doutoral também na UFMG (2018-2019) com pesquisa acerca de letramentos digitais e educação do campo. Atua no Ensino Superior pela Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM) no curso Licenciatura em Educação no Campo, habilitação em Linguagens e Códigos. Na mesma instituição, é professor permanente do Programa de Pós-Graduação em Ciências Humanas (PPG-CH), Linha de Pesquisa Estudos da Linguagem e Cultura.

A mediação será da Professora Andreza Carvalho (FALE-UFMG) e a coordenação fica por conta da Professora Heloísa Penna (FALE-UFMG). 

O meio rural e o REANP a partir da ótica de Téo e Bob

O meio rural e o REANP a partir da ótica de Téo e Bob

Por Claudemar Alves Ferreira [1]

 

Este é um relato que traz a percepção de dois alunos do ensino médio de uma escola nucleada rural sobre a proposta do Regime Especial de Atividades Não Presenciais (REANP). Refiro-me à Escola Estadual Professor Leopoldo Pereira que está localizada no distrito de Milho Verde, município do Serro/MG, que atualmente atende a alunos de quatorze comunidades rurais diferentes.

Este relato é feito a partir de entrevistas semiestruturas que abordaram temas sobre contexto social-econômico dos alunos entrevistados, seus perfis enquanto estudante antes e durante a pandemia, as perspectivas para futuro e como vivenciaram o REANP. Para isso, realizei entrevistas com dois alunos do ensino médio, com os quais decidimos que suas identidades não seriam divulgadas. O primeiro aluno entrevistado irei identificá-lo como Bob, e o segundo aluno como Téo.

Bob reside no distrito de Milho Verde e, segundo relatou, para chegar até a escola, antes da pandemia, gastava de 10 a 15 minutos a pé. Possui internet móvel em seu celular, que classifica como relativamente boa, e não tem internet em casa. Na sua casa moram seis pessoas, seu pai é agricultor familiar e sua mãe é do lar. Sua família recebeu o Auxílio Emergencial do governo. O seu pai não teve condições de estudar e sua mãe estudou até a quarta série. Bob só trabalha quando acha bicos.

Téo reside na comunidade do Ausente, comunidade próxima ao distrito de Milho Verde, e o percurso de sua casa até a escola, utilizando o transporte escolar ofertado pela prefeitura, é de quarenta e cinco minutos. Ele usa internet móvel de seu celular, já que não possui internet em casa. Na sua comunidade, de maneira geral, a qualidade de internet não é muito boa. Em sua casa, igualmente na de Bob, residem seis pessoas. Sua mãe é trabalhadora do lar e estudou até a oitava série, já o seu pai é pedreiro e estudou até a quarta série. Téo costuma trabalhar apenas nos finais de semana de servente de pedreiro.

Bob não gosta muito de estudar e depois da aula, antes da pandemia, estudava quando tinha disponibilidade de tempo e disposição, isso para as tarefas diárias, mas não tirava nenhum tempinho para estudar algo mais. Atualmente, no ensino remoto, estuda duas horas e meia por dia para resolver as tarefas do REANP. Quando estavam acontecendo as aulas presenciais, afirma que era participativo, mas não gostava de apresentar trabalhos. Também gostava de estudar em grupo, pois conseguia assimilar melhor os conteúdos estabelecendo uma interação para além do professor-aluno, mas também aluno-aluno.

Téo diz que gosta de estudar, mas antes da pandemia, além de frequentar as aulas, estudava somente para fazer as provas. Com o ensino remoto ele tira duas horas e meia todos os dias para estudar. Téo diz que, no ensino presencial, era um aluno participativo e interagia com os alunos e professores e não tinha medo de tirar suas dúvidas na sala. Afirmou que sempre gostava de apresentar trabalhos, porém gostava de fazer suas atividades de forma individual.

Bob diz que os professores são bons e, antes da pandemia, alguns utilizavam métodos de ensinos que não ajudavam na compreensão dos alunos, já outros utilizavam recursos tecnológicos para facilitar o aprendizado dos alunos. De toda forma, preferia utilizar mais os livros e o caderno do que as novas tecnologias.

Téo relata que seus professores são bons e, no ensino presencial, eram dinâmicos, sempre utilizavam a internet para fazer pesquisa e que indicavam videoaulas para maior compreensão dos conteúdos. Afirma também que usava as redes sociais no auxílio das atividades.

Bob tem vontade de cursar uma faculdade, mas não decidiu em que área. Esse ano fez o Enem e diz que deve ter tirado uma nota razoável. Ele afirma que não pretende permanecer na sua comunidade, pois quer trabalhar naquilo que gosta para realizar seu sonho.

O maior sonho de Téo, depois de se formar no ensino médio, é conseguir um emprego e fazer uma faculdade. Ele ainda não decidiu que carreira irá seguir. Esse ano ele fez o Enem e acha que se saiu bem. Téo também não tem vontade de permanecer na comunidade, diz que tem vontade de conhecer novos lugares e horizontes com finalidade de conseguir um bom trabalho.

Bob relata que os PETs (Planos de Estudos Tutorados) foram muito difíceis, sendo que sua principal dificuldade foi fazer as atividades e compreender conteúdos que não tinha visto antes da pandemia. Segundo Bob, ele não compreendia muito as explicações das videoaulas.

Sobre os PETs e esse novo método de ensino, Téo percebeu que foi um grande desafio para todos, principalmente para os alunos do campo que tiveram algumas dificuldades em relação ao acesso à rede de internet. Ele avalia os PETs como bons, porém teve muita dificuldade para compreender os conteúdos, pois as explicações não eram de fácil entendimento. O entrevistado afirmou que fez as atividades sozinho sem a ajuda dos professores.

As dificuldades que Bob encontrou foram superadas com a leitura de livros pedagógicos enviados pela escola. Mesmo assim, afirma que com o ensino remoto não conseguiu aprender quase nada e que nas aulas presenciais conseguia aprender muito mais. O que ele mais deseja nesse momento é que, neste ano, todas as pessoas possam ser imunizadas contra o coronavírus.

Mediante os relatos que trago dessas duas entrevistas, percebe-se que o ensino remoto foi e está sendo um momento de grande dificuldade para todos, pois os alunos, famílias e comunidade escolar estavam despreparados e desprevenidos. O que desmotivou alunos e professores. Percebe-se ainda que o perfil socioeconômico dos entrevistados é de baixa renda, o que influencia o aprendizado na medida que faltam alguns recursos de infraestrutura, como o acesso à rede de internet, e que as metodologias não ajudam nas dificuldades e na compreensão dos conteúdos.

[1] Claudemar é estudante da Licenciatura em Educação do Campo (LEC), da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM). Este relato foi produzido a partir de pesquisa supervisionada pelo professor Vítor Sousa Dittz, da Escola Estadual Professor Leopoldo Pereira, e orientada pelo professor Carlos Henrique Silva de Castro, da UFVJM, no âmbito do PIBID-UFVJM.

Agradecimentos aos estudantes-sujeitos e suas famílias, bem como ao diretor da E. E. Professor Leopoldo Pereira, o professor Maycon Souza.

Distância e dificuldades: a importância do professor e da contextualização no ensino remoto do campo

Distância e dificuldades: a importância do professor e da contextualização no ensino remoto do campo

Por Ana Roberta Cléo dos Santos Ferreira [1]

Trago aqui um relato sobre a percepção de duas alunas de uma escola nucleada rural sobre o Regime Especial de Atividades Não Presenciais (REANP) em Minas Gerais. Refiro-me à Escola Estadual Professor Leopoldo Pereira, localizada no distrito de Milho Verde, município do Serro/MG. A instituição atende alunos de quatorze comunidades rurais, mas este relato é sobre o contexto social-econômico de duas estudantes apenas, seus perfis enquanto estudantes, perspectivas para futuro e, o mais importante, como vivenciaram o REANP. Para conseguir essas informações, realizei entrevistas através do WhatsApp com as alunas, cujos nomes não serão revelados.

A primeira estudante reside no distrito de Milho Verde e para chegar à escola no regime presencial se deslocava a pé por cerca de 15 minutos. Não tem irmãos. Sua mãe trabalha na área da limpeza em um posto de saúde e seu pai é trabalhador rural. Não se formaram no ensino médio. A aluna tem o seu próprio empreendimento de venda de eletrônicos e nos feriados trabalha no caixa de um mercadinho.

A segunda estudante mora na comunidade de Capivari e, para chegar à escola, levava 40 minutos através de um ônibus escolar. No momento, seu pai se encontra desempregado e sua mãe é servente escolar. Sua família é composta por 5 pessoas, sendo que uma irmã e seu pai receberam o Auxílio Emergencial. Sua mãe formou-se em história e o seu pai estudou até o primeiro ano do ensino médio. A estudante não está empregada no momento.

Nas localidades onde residem, a internet é de fácil acesso e somente em tempos de chuva não funciona com boa qualidade. Assim, usam a internet para estudar e o WhatsApp com o mesmo objetivo. A primeira aluna relata que gosta muito de estudar, que é uma aluna dedicada aos estudos mesmo quando as aulas eram presenciais. Afirma que gostava de interagir com os colegas em sala, perguntava e participava de todas as discussões. A disciplina que mais gosta é Biologia.

Já a segunda aluna confessou que não tinha muito hábito de estudar e que tinha um pouco de dificuldade em matemática. Ela relatou que sua prima, da mesma sala, era mais esperta para compreender as matérias; com isso, estudavam juntas. Diferente da primeira entrevistada, que diz que sempre preferiu estudar sozinha, a segunda sempre gostou de estudar com os colegas.

Ambas afirmaram que alguns professores já utilizavam as ferramentas da internet como recurso didático, sobretudo para realizarem pesquisas no Google e assistirem a vídeos no Youtube, que eram alguns de seus deveres de casa. Para elas, a internet sempre auxiliou nos estudos.

A primeira estudante pretende fazer faculdade de medicina veterinária. Disse que desde criança é apaixonada por animais. Esse ano ela fez o ENEM e, em suas palavras, no primeiro dia se saiu bem, mas no segundo teve maior dificuldade. Já a outra aluna pretende fazer um curso profissionalizante que lhe possa ser útil profissionalmente e, posteriormente, deseja fazer curso superior em enfermagem, mesma profissão de sua irmã.

Ambas têm vontade de permanecer na comunidade onde residem, mas devido aos estudos acham que terão que sair para cursar a faculdade. O maior sonho da primeira é se formar e trabalhar na profissão que gosta. E a segunda deseja ter sua casa própria.

Perguntadas sobre o ensino remoto, o ponto positivo que observaram foi a capacidade de desenvolverem estratégias de pesquisa para resolverem as atividades. Afirmaram que o apoio dos professores pelo chat do WhatsApp foi de suma importância. Apontaram como ponto negativo o fato dos próprios professores das vídeo aulas dos PETs (Plano de Estudo Tutorados), muitas vezes, não explicarem os conteúdos com clareza, sendo que não condiziam, muitas vezes, com as atividades que estavam nos próprios PETs.

A primeira aluna afirma que, a partir do quinto PET, percebeu que não estava progredindo muito somente assistindo as videoaulas e, então, decidiu assistir a outros vídeos no Youtube, onde os professores explicam com mais clareza. Ambas concordam que o ano letivo foi muito difícil, tanto para os estudos, quanto para o psicológico. Concordam ainda que aprendiam mais nas aulas presenciais do que no ensino remoto. Com o novo método, elas sentiram uma grande dificuldade na realização do ENEM.

Ao fim, percebi que o maior problema dessas alunas não foi o acesso à internet, pois classificaram esse serviço na comunidade como bom. Pelos relatos, o que mais impactou de maneira negativa foi a questão de as aulas serem a distância com professores estranhos, sem as explicações dos conteúdos do PETs pelos professores no dia a dia, apesar do WhatsApp ter funcionado bem para algumas dúvidas. Com isso, muitos se sentiram despreparados e desmotivados.

[1] Ana Roberta é estudante da Licenciatura em Educação do Campo (LEC), da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM). Este relato foi produzido a partir de pesquisa supervisionada pelo professor Vítor Sousa Dittz, da Escola Estadual Professor Leopoldo Pereira, e orientada pelo professor Carlos Henrique Silva de Castro, da UFVJM, no âmbito do PIBID-UFVJM.

Agradecimentos aos estudantes-sujeitos e suas famílias, bem como ao diretor da E. E. Professor Leopoldo Pereira, o professor Maycon Souza.