Por Carla Batista Dias [1]
Ouça um trecho lido pelo próprio autor a seguir. O texto completo, em formato escrito, segue logo abaixo.
Meu primeiro contato com o mundo digital foi tardio, aos dez anos, com o telefone via antena na casa da vizinha, o qual a gente usava para ligar para os parentes que moram fora, como em São Paulo e Campinas. Outros contatos com as tecnologias digitais aconteceram na escola, onde usei pela primeira vez um computador.
Na escola também assistíamos a filmes em DVDs na televisão, outra tecnologia em alta no período, mas ter a oportunidade de interagir com um computador, que a gente não tinha nem noção de como funcionava de verdade, foi algo muito gratificante e, acredito, um privilégio. Mais tarde, entre 2009 e 2010, tive o primeiro celular digital (da Nokia) com teclado touch screen que eu utilizava para fazer ligação, acessar o Facebook e tirar fotos. A internet era bem limitada, pois só funcionava com a compra de créditos antecipados.
Com o passar dos anos, tive acesso a várias outras ferramentas digitais, como celulares mais modernos da Samsung com Facebook, e-mail, WhatsApp. A rede social que eu mais utilizava era o WhatsApp para comunicar com o namorado. As outras redes sociais eu usava mais por curiosidade.
Atualmente, devido aos meus estudos na universidade, costumo usar essas ferramentas de comunicação, mas também utilizo outros com finalidades específicas educacionais como Google Classroom, E-campus, Google Meet, Google Drive, assinatura digital, e-mail institucional etc. Mesmo com todas as funções e possibilidades de aprendizagem que essas tecnologias proporcionam, a proibição de seus usos no contexto de sala de aula é uma realidade. Eu mesma já vivenciei essa proibição em uma escola públicas.
Hoje em dia estou presente nas redes sociais buscando conhecimento e trabalhando. A tecnologia que sempre uso ao acordar é o telefone celular devido o alarme. Ao longo do dia, junto ao celular utilizo o notebook. Com a presença dessas tecnologias e das redes sociais no meu cotidiano, algumas práticas sociais mudaram, como ler diariamente, brincar com os amigos no final da tarde etc.
Pensando nesses avanços tecnológicos, tem o lado positivo e o negativo. De negativo, algumas práticas educativas que eram realizadas na comunidade, como a contação de histórias pelos mais velhos à luz do luar, com a chegada da internet, já não se faz mais isso. As pessoas mal conversam umas com as outras. Com isso, tradições como as danças locais e as festividades estão sendo modificadas.
Na minha formação na educação básica, tive poucas experiências com as tecnologias digitais e na sala de aula era proibido o uso de celulares, que nem todos tinham. O computador de mesa da escola raramente era utilizado para a pesquisa. Nem acesso à internet tínhamos, pois fomos privados com o argumento de que não sabíamos administrar o tempo de uso. O contato mais prolongado com a internet era em uma lan house, onde eu pagava um real para acessar o que queria.
Com o ingresso na universidade, adquiri um notebook para poder realizar as atividades do curso. No início tive muita dificuldade de acessar o Moodle, onde são postados os trabalhos. O acesso ao ambiente é um pouco complicado e demorado e seu suporte para arquivo é limitado. Atualmente o uso da assinatura eletrônica está sendo um desafio, outras ferramentas foram mais tranquilas.
No contexto pandêmico, em que estudamos de forma remota por dois anos, a necessidade e o acesso às ferramentas digitais acabaram sendo a preocupação principal. Ficamos dependentes delas para poder conseguir dar sequência aos estudos e muitos desistiram por não possuírem ferramentas adequadas e não terem condições financeiras para comprar. Eu mesma tive que comprar um novo computador. Nesse período em que ficamos dependentes das tecnologias para a comunicação, o contexto do campo foi o mais afetado, uma vez que não estávamos acostumados com tanta informação digital ao mesmo tempo e nem tínhamos acesso a essas tecnologias.
Diante dessas e outras experiências, vejo o uso das tecnologias nas escolas de forma excludente, pois não são acessíveis à maioria. Uma vez que somos refém dessas ferramentas, devemos usá-las ao nosso favor. Tenho a experiência na universidade de uma sala de aula onde o uso dessas tecnologias funciona super bem e são fundamentais para o nosso aprendizado. Dessa forma, com certeza vou usar algumas delas nas minhas aulas para o ensino dos meus futuros alunos, sempre em busca do diálogo sobre a atualidade, as tecnologias digitais e o seu uso positivo e/ou negativo e questões relacionadas ao consumismo.
Como futura educadora do campo, buscarei também metodologias e ferramentas que atendam a maioria dos meus alunos, buscando diminuir a exclusão notória no contexto de sala de aula. Sinto-me segura para dar aula com determinadas ferramentas digitais como o computador/notebook, o celular, o datashow que, a meu ver, são tecnologias essenciais para um ensino dialógico no contexto escolar. Para mim, é evidente que o educador deve se adequar ao mundo tecnológico para contribuir para uma educação de qualidade, para que seus estudantes sejam críticos ao utilizarem as redes e as tecnologias de maneira geral.
[1] Carla Batista Dias é graduanda do curso Licenciatura em Educação do Campo (LEC), da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM).
Este trabalho foi orientado pelos professores Carlos Henrique Silva de Castro, Luiz Henrique Magnani e Mauricio Teixeira Mendes.