Agroecologia e Empoderamento Feminino

Por Alcione Aparecida Ferreira e Claudiana Aparecida de Paula*

A agroecologia compreende modelos alternativos de manejo, plantio e cultivo da terra, baseados em práticas sustentáveis e ecológicas. Esse modelo de produção difere significativamente do uso de fertilizantes e defensivos agrícolas, por exemplo. Um dos objetivos da agroecologia está relacionado ao uso e à conservação dos recursos naturais. Dessa forma, as práticas agroecológicas buscam respeitar o tempo e os limites da terra, utilizando adubo orgânico, cobertura do solo e consórcio de culturas. Como resultado, os alimentos cultivados são saudáveis para consumo e venda, o que contribui para a renda e sustento de muitas famílias rurais.

De acordo com o site Brasil Ecológico[1], o interesse por alimentos saudáveis e livres de contaminantes tem impulsionado o crescimento do consumo de produtos orgânicos no Brasil e no mundo. Em menos de uma década, o número de produtores orgânicos registrados no Brasil triplicou, segundo levantamento do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Em 2012, havia quase 5,9 mil produtores registrados no país, e até março de 2019, esse número já ultrapassava 17,7 mil, representando um crescimento de 200%. No mesmo período, o número de unidades de produção orgânica no Brasil aumentou de 5,4 mil em 2010 para mais de 22 mil no ano passado, uma variação de mais de 300% (BRASIL ECOLÓGICO, 2019).

Observa-se que os produtos orgânicos, que anteriormente eram consumidos apenas pelos próprios produtores, estão sendo cada vez mais valorizados por diferentes grupos de pessoas no Brasil e no mundo, o que aumenta o número de produtores que adotam práticas e métodos agroecológicos.

A agroecologia não se limita apenas à produção e ao cultivo da terra, mas também dialoga com questões políticas e sociais. Em sua maioria, essas práticas são conduzidas pelas mulheres, o que contribui para a emancipação e empoderamento das mulheres do campo, cujo papel tem sido cada vez mais visível e valorizado pela sociedade. Grande parte da renda familiar é gerada pelo trabalho e esforço delas, o que lhes proporciona poder, aprendizado e pensamento crítico. Como mencionado por Farias e Schawade (2020)[2], “elas também garantem uma renda maior para a família por meio da comercialização dos produtos excedentes ao consumo próprio, além de buscarem a autonomia financeira.” O empoderamento feminino fortalece e encoraja as mulheres na luta por seus direitos de igualdade e crescimento perante a sociedade, além de proporcionar aprendizados valiosos para as novas gerações. Empoderar as mulheres, que segundo o site Varejo S.A.[3], representam a maioria no Brasil e são responsáveis por quase metade das famílias, pode resultar no desenvolvimento socioeconômico e ambiental do país.

No entanto, mesmo sendo sustentável, as pessoas que aderem ao modelo agroecológico enfrentam algumas dificuldades, como a falta de apoio da família, que muitas vezes não contribui nem na produção agrícola nem nas tarefas domésticas. Outras dificuldades recorrentes estão relacionadas à análise de custos, problemas de gerenciamento e dificuldade de competir no mercado com produtos de baixa qualidade que são vendidos a preços inferiores.

É de suma importância que os órgãos públicos estudem e trabalhem com políticas públicas voltadas para as práticas agroecológicas, de forma a esclarecer e incentivar as pessoas a consumirem alimentos saudáveis, livres de fertilizantes e agrotóxicos. Isso é fundamental, pois contribui para a economia em saúde e deveria ser um direito de todos. Além disso, é importante abordar o tema da agroecologia nas escolas e comunidades, apresentando os benefícios dessas práticas. Oferecer cursos para a comunidade escolar que ajudem na compreensão e no planejamento coletivo ou individual do cultivo e gerenciamento dos negócios, bem como buscar assistência técnica que auxilie na produção e no gerenciamento. Grupos de trabalho, coordenados por agentes locais como prefeituras ou CRAS, podem incentivar parcerias entre os produtores para a produção e comercialização de seus produtos, além de participar de projetos e editais que fortaleçam as práticas agroecológicas.


Referências utilizadas no texto

[1] <http://www.agroecologia.gov.br/noticia/em-7-anos…>

[2] <https://olma.org.br/2020/07/14/feminismo-e-agroecologia/>

[3] <https://cndl.org.br/varejosa/author/fernanda/>



*  Alcione Aparecida Ferreira e Claudiana Aparecida de Paula são acadêmicas da Licenciatura em Educação do Campo (LEC), curso ofertado pela Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM) e produziram este artigo de opinião na disciplina Diversidade e Educação, ofertada no segundo semestre de 2022 (janeiro a junho de 2023). Foram orientadas pelo professor Carlos Henrique Silva de Castro.

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