Por Elisama Sousa [1]
Ouça um trecho lido pelo próprio autor a seguir. O texto completo, em formato escrito, segue logo abaixo.
Inicialmente estudei em uma escola do campo, localizada em uma comunidade próxima, onde não existia variedades de tecnologias digitais, apenas uma televisão analógica. Por essa escola atender somente os anos iniciais do Ensino Fundamental, ao ingressar a 5ª série, mudei para uma escola estadual situada na cidade. Meu primeiro contato com um celular foi um analógico da marca Nokia, que meu tio possuía, quando eu tinha em média 8 anos de idade. Eu gostava muito de jogar no celular, mas como meu tio morava em uma cidade distante, eu só podia fazer isso em ocasiões que ele visitava minha avó.
Um dos jogos se chamava Nature Park e nele era necessário fazer com que o urso pegasse bolinhas; após o urso pegar uma sequência de três de mesma cor, acontecia um incêndio e o quadro ficava mais vazio, possibilitando ao urso maior habilidade ao recolher bolinhas.
Na primeira vez que usei um computador eu tinha 10 anos de idade e cursava a 5ª série. Essa oportunidade aconteceu na sala de informática da Escola Estadual Teodomiro Caldeira Leão, quando fomos fazer uma pesquisa. Eu não sabia usar o computador, mas com a ajuda dos meus colegas, muitos deles da cidade e já sabiam fazer pesquisas na internet, consegui meu objetivo.
Na 6ª série comprei meu primeiro celular, quando enviei as primeiras mensagens SMS. Utilizei o celular mais para assistir a vídeos e ouvir músicas que meus colegas me enviavam pelo bluetooth. Conta no Facebook eu criei quando fiz alguns cursos no Telecentro da cidade, quando estava cursando o Ensino Fundamental II.
Atualmente o uso de tecnologias digitais tem feito parte da minha rotina e isso só se intensificou durante a pandemia. Com as aulas remotas, aumentou a necessidade de acompanhar os grupos de WhatsApp e fazendo pesquisas acadêmicas constantes. Assim, para interação entre a turma do curso e comunicação em geral uso com mais frequência o WhatsApp; para entretenimento uso Instagram para.
Percebo que as pessoas mais velhas que residem no campo têm mais dificuldades, tanto em relação ao manuseio, quanto a aquisição dessas tecnologias digitais. Considero que não é algo impossível para elas, pois conheço pessoas acima de 50 anos de idade que têm acesso aos tipos de tecnologias aqui retratadas e conseguem fazer uso do WhatsApp, SMS, ligações, enfim, estabelecer uma comunicação.
Na universidade, o momento de mais aprendizado sobre o uso de computadores foi na monitoria, pois até então usava com facilidade apenas o smartphone. As monitorias me ajudaram bastante na realização dos trabalhos e, principalmente, nas aulas remotas. Mesmo assim a pandemia foi muito desafiadora, pois na minha comunidade a internet é instável, o que dificultou o acompanhamento das aulas.
As tecnologias possuem pontos positivos e negativos e isso tem a ver com o uso que escolhemos fazer delas. Uma das experiências mais marcantes para mim é que sem acesso às tecnologias digitais eu teria grande possibilidade de não estar na graduação; pois no momento da realização de matrícula, de forma presencial, me faltaram alguns documentos. Com um prazo pequeno para uso dos correios, pude escanear os documentos e enviá-los por e-mail.
Considero que o uso dessas tecnologias deve ser debatido com os estudantes, principalmente em escolas do campo, pois não podemos nos resignar com dificuldade de acesso, mas lutar por ele, pois estamos em uma sociedade globalizada e de avanços constantes de interesse de todos. Devemos quebrar o paradigma de que o campo é um lugar de atraso e de pessoas ingênuas. Um conhecimento negado ao estudante pode resultar em uma perda de oportunidades no âmbito educacional, do trabalho, da vida.
[1] Elisama Sousa é graduanda do curso Licenciatura em Educação do Campo (LEC), da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM).
Este trabalho foi orientado pelos professores Carlos Henrique Silva de Castro, Luiz Henrique Magnani e Mauricio Teixeira Mendes.