Memorial minha vida no contexto escolar

Por Debora Jades Vieira Rios Aguilar

Meu primeiro contato com a alfabetização iniciou-se com a escrita do meu nome. Com minha mãe, pratiquei a leitura de historinhas dos livros didáticos dos meus irmãos, que já estudavam, e ia me ensinando a ler. Minha mãe me contava histórias da época de sua própria infância, além de me ensinar músicas infantis. Meu interesse pela leitura se deu a partir do incentivo de minha mãe e de meu contato com os livros didáticos de meus irmãos. Meus pais tinham como tarefa diária me ensinar a escrever. Aos sete anos, fui matriculada na escolinha de minha comunidade, onde comecei a ter contato com massinhas de modelar e desenhos, mas, com o passar do ano, ainda não conseguia ler. E, mais uma vez, o meus pais intervieram, colocando a tarefa de me ensinar a ler para meus irmãos. Comecei a soletrar, conhecer as palavras e a desenvolver a leitura.

Os livros escolares dos anos iniciais continham pequenos parágrafos coloridos na parte superior do livro, e meu aprendizado se tornou efetivo a partir destes textos. Na escola, quando foi chegada a fase que teríamos que saber ler, eu já havia antecipado este aprendizado em função do apoio da família, porque já possuía o hábito da leitura. Nesta fase de aprendizagem, na escola do ensino Fundamental I, eu tinha muito contato com desenhos, músicas, pequenos textos e pinturas. Dedicávamos a maior parte do tempo a desenhar e escrever o nome e os números, pois possuíamos apenas uma professora para duas salas, que ministrava matemática e português.

No Ensino Fundamental II, percebi que as atividades com desenhos diminuíram e passamos a aprender com textos maiores e palavras novas. A professora sempre nos passava textos com palavras desconhecidas para que conhecêssemos melhor o significado das palavras que estávamos lendo. Já trabalhávamos mais com atividades de leitura e produção de textos. Outra atividade diária era fazer resumos de nossas leituras, que no ensino médio se intensificou. Os textos complexos se tornam mais frequentes. A biblioteca da escola era aberta a todos, e lá poderíamos realizar trabalhos escolares com consulta aos livros, mas havia algumas restrições: só podíamos levar para casa apenas dois livros e com prazo de empréstimo de uma semana ou no máximo duas. Já peguei livros para ler, pois leitura em casa me dava prazer. A bibliotecária da escola dividia os livros pelas séries de cada aluno. No Ensino Médio, tive maiores experiências com livros, pois os trabalhos escolares eram desempenhados a partir deles. Acredito que a leitura contribuiu para o meu aprendizado, pois algumas palavras já não me eram tão estranhas ou diferentes e a compreensão dos textos agora é maior. Também fui melhorando a escrita, tendo em vista que errava muito a ortografia. Adquiri facilidade em produção de resumos e rapidez na leitura. Hoje já não tenho mais este hábito de pegar livros emprestados, talvez pelas indicações de leituras teóricas feitas pelos professores da universidade. Não tive mais contato com os livros ou com a biblioteca apenas pelo livre prazer da leitura.

Entrei na Universidade no ano de 2018, ano marcado por muitas descobertas, porque não tinha muito conhecimento de textos científicos e a produção de textos acadêmicos. Elaborar o primeiro relatório foi um desafio para mim, pois não tinha o costume de escrever trabalhos daquela natureza. As atividades em sala de aula, com apresentação de trabalhos, seminários e debates, incluem discussões dos textos científicos, tarefas que ainda hoje considero difíceis. Hoje, estou no terceiro período e enxergar este momento com outros olhos, olhos mais maduros. A Universidade me proporcionou crescimento em relação ao processo de letramento, ao diálogo com questões que nos cercam, à compreensão das questões que envolvem nossas relações sociais e ao processo de escrita. As maneiras que estas relações nos moldam, mudam as formas que compreendemos o mundo. Vejo que a leitura esteve muito presente em minha vida escolar, mas pude entender o conceito de literatura somente na Universidade, ir além do conteúdo, buscando contextualizar as reflexões com nossa visão de mundo. Pude ver que meu percurso escolar, mesmo que por vezes tivesse falhas, contribuiu para que eu esteja onde estou, e que o letramento que adquiri foi fruto de todo este processo escolar, no qual pude ter outra visão da literatura e dos letramentos. Não devemos nos impor limites por causa da ignorância ou arrogância, por vezes imposta de modo oculto pelas próprias escolas. Penso que devemos ser abertos ao mundo e às inúmeras possibilidades de questionamentos, de leituras, e que não há algo programado que nos impõem e deveríamos executar.

[1] Este texto é parte do ebook Memórias de Letramentos II: Outras Vozes do Campo, disponível para download gratuito aqui: auladigital.net.br/ebooks.
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