Por Taliele Santana Higino [1]
Este texto resulta de uma pesquisa realizada com alunos da Escola Estadual Leopoldo Pereira, localizada na comunidade de Milho Verde, e com alunos da Escola Estadual Mestra Virginia Reis, localizada na comunidade de São Gonçalo do Rio das Pedras, ambas no município de Serro/MG. A metodologia utilizada foi a aplicação de uma entrevista semiestruturada a partir de temas como: perfil socioeconômico, perfil dos estudantes, perspectivas para o futuro e a percepção sobre o REANP. O propósito das entrevistas foi compreender a forma como os alunos do ensino médio dessas escolas do campo percebem essa nova modalidade de ensino não presencial, suas consequências e impactos em suas aprendizagens.
O material coletado para o estudo, por meio de entrevistas com três estudantes, permitiu analisar as informações que o questionário propunha obter. Nas entrevistas, o WhatsApp foi o principal meio de comunicação. Dois alunos, um menino e uma menina, moram na comunidade de Capivari e relataram que, no período pré-pandemia, no ensino presencial, uma das suas dificuldades para estudar era ter que acordar cedo e pegar o ônibus escolar, sendo que grande parte do percurso não é pavimentado e o percurso leva em torno de 30 minutos mais ou menos, já que a escola fica em Milho Verde. Já o terceiro estudante entrevistado mora na comunidade de São Gonçalo do Rio das Pedras e leva de 10 a 15 minutos para chegar até sua escola, a Escola Estadual Mestra Virginia Reis.
Os alunos de Capivari acessam a internet pelo celular, pois a comunidade não possui antena de internet; já o aluno de São Gonçalo acessa internet na rede wi-fi. Os pais dos três alunos entrevistados receberam o auxílio emergencial e recebem Bolsa Família. Os pais de Capivari estudaram até o 5º ano no ensino fundamental, já suas mães chegaram a estudar até o ensino médio. Quanto aos pais de São Gonçalo do Rio das Pedras, ele tem ensino médio completo e ela tem ensino superior.
Os três entrevistados gostam de estudar e afirmaram que mesmo no período de pandemia, além de frequentarem às aulas, estudavam em média três vezes na semana, cerca de uma hora por dia. Em época de prova estudavam mais tempo. As matérias favoritas variam entre português, biologia e geografia. Os alunos possuem o hábito de utilizar a internet como ferramenta para estudar para as provas, fazer as atividades de pesquisas e atividades de casa. Relataram que depois que se formarem no ensino médio pretendem fazer faculdade. A aluna de Capivari relatou que seu sonho é fazer Veterinária, pois gosta dos animais. O aluno de Capivari pretende fazer faculdade de psicologia para ajudar as pessoas que têm doenças mentais e o aluno de São Gonçalo pretende fazer medicina.
A opinião dos três entrevistados sobre o Plano de Estudos Tutorados (PET) não foi tão positiva, pois relataram que estudar em casa sem a ajuda dos professores não foi uma boa ideia e o processo foi muito difícil. Segundo a aluna, “…na escola, com os professores, já era difícil. Imagina sem as explicações! Assim o aprendizado acaba ficando a desejar”. Assim, a maior dificuldade encontrada pela estudante foi fazer as atividades sem ter a presença de um professor por perto para estar explicando passo a passo de como são feitas as atividades, como ocorre dentro da sala de aula.
De acordo com os entrevistados de Capivari, o que poderia ter mudado nos PETs são os exemplos e as explicações de como fazer as atividades, que deveriam ser mais bem contextualizadas. Também afirmaram que a comunicação entre eles e os demais alunos fluiu bem através do grupo da sala pelo WhatsApp, ambiente onde muitas atividades foram feitas com ajuda dos colegas.
Os três estudantes consideraram o ano escolar letivo muito difícil, por não irem para as escolas e por não compartilharem dos conhecimentos dos professores. Para o ano que se inicia, esperam que tudo possa voltar ao normal, com o fim da pandemia e com a volta das aulas presenciais.
Através deste relato, concluímos que problemas como o acesso precário à internet e o grau de escolaridade dos pais influenciaram na aprendizagem dos alunos entrevistados nesse período. Contudo, a maior dificuldade encontrada foi a ausência do ensino presencial juntamente com o acompanhamento dos professores, assim como a metodologia utilizada na apresentação dos conteúdos.
[1] Taliele é estudante da Licenciatura em Educação do Campo (LEC), da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM). Este relato foi produzido a partir de pesquisa supervisionada pelo professor Vítor Sousa Dittz, da Escola Estadual Professor Leopoldo Pereira, e orientada pelo professor Carlos Henrique Silva de Castro, da UFVJM, no âmbito do PIBID-UFVJM.
Agradecimentos aos estudantes-sujeitos e suas famílias, bem como ao diretor da E. E. Professor Leopoldo Pereira, o professor Maycon Souza.