Por Alexandre dos Santos Baldaia [1]
Ouça um trecho lido pelo próprio autor a seguir. O texto completo, em formato escrito, segue logo abaixo.
Nasci em uma comunidade do campo, em uma época em que pouco se ouvia falar de tecnologia digital. No campo essas tecnologias acabam chegando por derradeiro. Apesar das dificuldades financeiras, meus primeiros contatos com um celular foram aos meus 12 anos, em meados de 2011 para 2012. No entanto só em 2015 ou 2016 que tive meu primeiro aparelho celular, um Samsung J5; a partir de então criei minhas primeiras contas em ambientes virtuais, no Google e no Facebook.
Adquiri esse primeiro celular não porque precisava, mas por ver meus colegas da escola com essa tecnologia. Percebi que precisava ter um para me enturmar, pois era moda. Em meu tempo de escola havia uma sala de computação, no entanto, dificilmente éramos levados para trabalhar com esses computadores. Somente a partir de 2018, época em que ingressei na Licenciatura em Educação do Campo, que pude trabalhar com o computador/notebook.
Atualmente utilizo alguns aplicativos no smartphone como o WhatsApp e Instagram, usados para socializar. Também utilizo outras ferramentas para pesquisas e para assistir vídeos (YouTube, Tik Tok, Google). O Instagram e o Tik Tok utilizo para publicar fotos, vídeos, sem uma função determinada, como para ganhar curtidas ou comentários. Logo ao acordar já começo utilizá-los.
Com essas tecnologias em mãos, acabamos deixando de lado outras coisas que fazíamos, como ter um diálogo face-face. Nos ajudam a resolver quase tudo sem mesmo sair de casa/quarto. Por exemplo, compramos e pagamos através de um clique. Por um lado, facilitou a solução de problemas, mas também traz consequências como o alto consumismo online e o abandono dos comerciantes locais, levando-os à falência.
Nem todos das gerações anteriores, como nossos pais e/ou avôs, se apropriaram dessas novas tecnologias, sendo que grande parte dessas gerações não foram alfabetizados, o que dificulta o uso, mesmo sendo interativas e de fácil manuseio. Atualmente, as crianças já nascem com um aparelho digital na mão, o que os leva a um processo de aprendizagem antecipado, antes mesmo da alfabetização.
No ambiente escolar, considero que o uso das tecnologias digitais é de suma importância, pois são ferramentas que podem chamar a atenção dos alunos, além de prepará-lo para o que estar por vim. Assim é importante que haja professores capacitados, para que os alunos se apropriem dessas ferramentas de forma crítica para, assim, não ficarem sujeitos a exclusão digital/social.
Na minha formação básica tive pouco contato com as tecnologias. Lembro-me que havia poucos computadores na escola e os utilizávamos raramente. No decorrer dos anos algumas coisas evoluíram com o uso do pendrive e de projetores de imagens, mas mesmo assim eram pouco utilizados.
Na universidade tive dificuldade em utilizar o computador/notebook, pois não estavam incorporados nas minhas vivências e até hoje não domino bem essas tecnologias. Nesse espaço tive várias experiências importantes para minha aprendizagem como acessar e utilizar os ambientes de aprendizagem Moodle e Google Classroom.
Durante a pandemia, o uso de tecnologias no meu cotidiano não foi excessivo. Como moramos no campo, onde o acesso à internet é difícil, e não podíamos sair do isolamento social, praticamente deixamos as tecnologias de lado. Com isso, a maioria do tempo estivemos trabalhando nas plantações.
Quando começou o ensino remoto, tivemos dificuldades para acesso internet. Para conseguir melhor sinal, tínhamos que subir em morros para acompanhar as aulas e fazer as atividades. Foi a solução para se ter maior acesso. Por morar fora do centro da comunidade, não conseguia o sinal da internet para instalar em casa, pois nem se avista a torre que transmitia o sinal. Como a demanda de pessoas sem acesso à internet era grande, buscamos por uma empresa que instalasse uma antena mais próxima e os aparelhos de conexão nas casas. Para isso, tivemos que abrir um caminho e carregar o material até o morro onde seria fixada a antena. Financeiramente, a comunidade se uniu e cada um pagou 100 reais para instalação e uma mensalidade de 77 reais. Assim foi feito e em outubro de 2021 conseguimos acesso à internet em casa, mas não é de tão boa qualidade.
Com internet em casa, passei a utilizar um computador de mesa, que foi doado por minha irmã. Com internet em casa, meus pais passaram a ter também aparelhos para se comunicarem. Assim como eu que tive dificuldade em ter acesso à internet em casa, e ainda de má qualidade, devemos analisar que isso pode ter ocorrido com outras pessoas ou até mesmo pior, que as impossibilitaram de continuar a estudar durante o ensino remoto. Devemos ainda analisar como os alunos do campo estudaram no ensino remoto, já quem nem todos têm acesso à internet, ou a outros aparelhos, para estudar.
Percebo que essas novas tecnologias devem/precisam ser trabalhadas nas escolas, já que são utilizadas por/pelos alunos. Assim, devemos pensar em uma educação do campo na qual todos tenham acesso. Como futuro educador me vejo trabalhando com as tecnologias a partir do contexto em que estão inseridos. Penso em buscar possiblidades no qual os estudantes consigam interagir efetivamente. Se nós educadores não trabalharmos tecnologias na educação, entendo que não estamos cumprindo nosso papel de formar jovens e adultos de uma forma crítica. Assim, devemos criar condições para que percebam a importância do uso dessas tecnologias, e como o mau uso traz consequências às vezes irreversíveis.
[1] Alexandre dos Santos Baldaia é graduando do curso Licenciatura em Educação do Campo (LEC), da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM).
Este trabalho foi orientado pelos professores Carlos Henrique Silva de Castro, Luiz Henrique Magnani e Mauricio Teixeira Mendes.