Por Ingred Silva [1]
Ouça um trecho lido pela própria autora a seguir. O texto completo, em formato escrito, segue logo abaixo.
O avanço tecnológico é cada vez mais rápido e alcança cada vez mais lugares. Apesar disso, memo que no Brasil as mais modernas tecnologias da informação já vêm sendo utilizadas há algum tempo, minha interação com elas é recente. Desde muito pequena tive contato com algumas tecnologias analógicas, comuns em nossas famílias como a televisão (com antena parabólica), aparelhos de tocar DVD/CD e aparelhos de som. Mas a minha interação com essas tecnologias da informação mais avançadas como computadores e celulares só se deu a partir do ano de 2010, aproximadamente.
Lembro-me como se fosse hoje da minha empolgação para ir em um curso de computação promovido pela Associação dos Moradores e Amigos de Itinga (AMAI) através de um programa/projeto de apadrinhamento no qual eu iria, pela primeira vez, manusear um computador. Nessa época não sabia nem ligar o computador, não tinha nenhuma rede social como o Orkut, o famosinho da época, então ficava pesquisando coisas aleatoriamente. Depois disso, utilizava também os computadores da lan house da minha cidade, que hoje não existe mais já que os computadores se popularizaram. Gostava também de jogar videogame no pequeno centro de jogos chamado Star games, o que era o máximo.
Minhas primeiras interações com o celular foram com aparelhos de parentes e amigos que eu utilizava para fazer ligações, ver fotos, escutar música e para “curiá[*]”. Nesse período eu estava no Ensino Fundamental I e II. Apesar de a escola ter alguns computadores, nós não utilizávamos por falta de um local adequado, falta de instrução e principalmente por falta de internet. E mesmo com a disponibilidade de datashow/projetor na escola, ele era utilizado por professores somente em alguns projetos. Mais tarde, no Ensino Médio, foi que passei a manusear o computador. Nesse período comprei meu celular que utilizava para estudar, quando possível, mesmo que seu uso fosse proibido.
Com a vinda para Universidade, aprimorei mais as habilidades e intensifiquei o uso das Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação (TDICs) como o notebook (que comprei quando ingressei na universidade), e-mail, plataformas e ferramentas digitais como e-campus, Moodle, Word, Excel, entre outros. Utilizo essas tecnologias também para algumas atividades realizadas para a associação comunitária quilombola da minha comunidade.
Percebo que cada vez mais as pessoas estão imersas no mundo digital, utilizando a tecnologia, às vezes, de forma negativa. Na minha comunidade, por exemplo, muitas atividades ao ar livre, encontros à luz do luar ou à tardezinha foram trocados pela interação com o celular, o que considero muito negativo. Outros pontos negativos envolvem vulnerabilidade de dados, aumento do consumismo, impacto no meio ambiente, impacto direto na saúde, entre outros.
Por outro lado, é importante ressaltar que existem muitos pontos positivos que as novas tecnologias nos oferecem como: praticidade, rapidez, longo alcance e, com isso, uma democratização maior da informação e do conhecimento. O que indicará se a tecnologia vai ser positiva ou negativa é a forma e objetivo para o qual está sendo utilizada.
Não posso deixar de comentar, é claro, sobre o momento atípico e histórico que foi a pandemia do covid-19. Nesse período, foi preciso intensificar ou, em alguns casos, começar a utilizar algumas tecnologias digitais novas. No meu caso foi preciso adquirir um plano de internet para continuar estudando, um plano de 10 gigas cuja mensalidade custava, nos seis primeiros meses, $159,90 reais e depois passou a custar $189,90 reais (15.67% do salário-mínimo). Adquiri este plano por ser mais barato, mas muitas dificuldades, pois não atendeu minhas demandas e teve um péssimo custo-benefício. Com toda essa questão, meu rendimento caiu, principalmente no quesito de participação nas atividades propostas.
No caso da escola da minha comunidade (como em muitos outros lugares), a situação foi ainda mais complicada, pois a maioria dos estudantes não tinha acesso à internet, ou até mesmo ao aparelho de celular. Assim, as atividades eram enviadas impressas para serem feitas em casa e muitos pais não tinham condições de auxiliar seus filhos. Dessa forma, os estudantes ficaram bem prejudicados. Fato é que a pandemia escancarou as desigualdades existentes; entre outras, destacam-se as desigualdades de acesso à informação e às tecnologias.
Enquanto futura professora e pensando nesse cenário, gostaria de trabalhar com a tecnologia de forma crítica na minha docência e, enquanto cidadã, ajudar a fortalecer o debate na minha comunidade de forma geral. É possível trazer esse debate para a sala de aula e orientar os estudantes para que percebam, entendam/leiam as estratégias que permeiam esse mundo, bem como para a comunidade. Pretendo trabalhar com práticas educativas na perspectiva da transformação social, buscando estratégias para melhor trabalhar com as TDICs. E, dessa forma, caminharmos para uma educação emancipadora. Essa é uma pauta muito relevante considerando esse mundo globalizado e extremamente conectado.
[*] Palavra utilizada na minha região (Itinga-MG) para dizer olhar com curiosidade, reparar, bisbilhotar etc.
[1] Ingred Silva é graduanda do curso Licenciatura em Educação do Campo (LEC), da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM).
Este trabalho foi orientado pelos professores Carlos Henrique Silva de Castro, Luiz Henrique Magnani e Mauricio Teixeira Mendes.