Soberania Alimentar na Agricultura Familiar em Tempos de Pandemia Muda a Rotina de Mulheres Trabalhadoras Rurais do Município de Coração de Jesus-MG

Em tempos obscuros, o caminho para ressignificação de mulheres trabalhadoras rurais no campo em Coração de Jesus tem sido a produção de hortaliças e verduras orgânicas.

 Por Mariana Soares e Rosiane Pereira

Arquivo pessoal das autoras

Nas comunidades rurais, a soberania alimentar dos  em pos de pandemia pos de Pandemiassinos tem se fortalecido no cultivo e produção de seus próprios alimentos, em hortas orgânicas feitas no quintal de suas casas. Essa produção ajuda na manutenção das famílias, contribui para renda familiar e fortalece o campesinato.

Em tempos de pandemia, essa prática tem sido mais constante e pode ser uma saída para o estresse ocasionado pelo isolamento social. O cultivo das hortas tem contribuído com melhoria da saúde mental dos agricultores familiares, principalmente das donas de casa. Com a pandemia, a saúde mental tem sido também umas das preocupações de profissionais da saúde como destaca uma pesquisa realizada pela Organização Mundial de Saúde (OMS):  “O impacto da pandemia na saúde mental das pessoas já é extremamente preocupante” e a OMS ressalta que “[o]utros grupos que correm um risco particular são as mulheres, particularmente aquelas que estão fazendo malabarismos com a educação em casa e trabalhando em tarefas domésticas; pessoas idosas e quem possui condições de saúde mental preexistentes.”[1]

Contudo, o isolamento da sociedade tem sido necessário e atinge toda a população, impossibilitando muitos trabalhos, tanto em área urbana, quanto na área rural. Assim, manter a rotina tem se tornado um papel difícil para todos, bem como manter os ganhos. A saída     que o povo do campo tem se encontrado é a produção de hortas orgânicas, o que tem sido importante para as mulheres trabalhadoras rurais. Com a produção de hortaliças sem uso de agrotóxicos, essas mulheres contribuem com a soberania alimentar das suas famílias. Segundo Meirelles: “Soberania alimentar remete a um conjunto mais amplo de relações: ao direito dos povos de definir sua política agrária e alimentar, garantindo o abastecimento de suas populações e a preservação do meio ambiente”[2] [..] (p. 11, 2004)

Na comunidade rural de Passagem Funda, a produção agroecológica tem sobressaído.  A agricultura local é feita de forma menos coletiva e com formatos que mudam e ressignificam o trabalho em grupo, antes realizado por mutirões. As trabalhadoras, em entrevista a estas autoras, contam que encontram a distração dos problemas do dia -a- dia no cultivo da horta. Para elas, plantar a semente e ver o crescimento das plantas com a consciência que terão uma alimentação saudável, livre de agrotóxico, é de grande valia.

Com o isolamento social, a rotina das pessoas da comunidade mudou completamente. Os cultos religiosos, tradição da comunidade, por exemplo, tiveram que ser pausados e, atualmente assumem um novo formato, onde cada família faz suas preces em casa. Com o tempo extra, as famílias da comunidade dedicam-se mais à produção de alimentos para o sustento.

Outro fator que atinge a agricultura familiar nas comunidades camponesas da região é a falta de mercado. As famílias, em sua maioria, produzem muitos alimentos, mas não têm escoamento da produção; pois com a pandemia tornou-se difícil para essas pessoas se deslocarem e venderem seus produtos no distrito e na cidade. Dessa forma, a produção acaba perdendo e enfraquece a geração de renda, tão necessária para os povos do campo, sobretudo para as mulheres camponesas.

De toda forma, neste novo modo de viver com menos envolvimento entre as pessoas até e com a maior parte do tempo em casa, as hortas orgânicas têm ganhado destaque e fortalecimento no campo. Lembramos que a prática tem melhores resultados nos meses que vão de abril a setembro. As hortas, assim, têm colaborado com a manutenção das famílias, pela produção de alimentos saudáveis, e também no desempenho psicológico, sendo um modo de escape de tudo que estamos passando neste momento. Contribuem, então, com a saúde física e mental das populações camponesas.

 

[1] <https://nacoesunidas.org/oms-o-impacto-da-pandemia-na-saude-mental-das-pessoas-ja-e-extremamente-preocupante/>. Acessado em 06 de julho de 2020.

[2] MEIRELLES. Laercio. Soberania alimentar, agroecologia e mercados locais. Agriculturas. v. 1, n. 0, setembro de 2004.

Horta em Coração de Jesus – Arquivo pessoal das autoras

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