Por Elisama de Sousa Ferreira [1]
Nasci em uma família de pessoas semianalfabetas, meu pai estudou apenas alguns dias devido à falta de recursos financeiros enfrentados na casa de meus avós. Já minha mãe concluiu a antiga terceira série do ensino primário. Quando eu tinha dois anos, minha mãe resolveu voltar a estudar, por meio de um programa social que na época se chamava Bolsa Escola. Aos três anos de idade, eu já tinha contato com a leitura por meio de bíblia, cadernos que minha mãe usava na escola e um livro didático que ela possuía. Apesar de minha mãe ter estudado pouco, considero-a minha primeira professora, tendo em vista que ela me ensinou os primeiros passos com os números de um a dez, a escrever o meu nome, algumas letras do alfabeto e as cores.
Com cinco anos, comecei a estudar na Escola Municipal Alberto Fernandes, percorrendo o trajeto de dez quilômetros de transporte de segunda a sexta-feira. Na escola, a turma era multisseriada, mas alguns desafios eu já havia vencido, como saber segurar o lápis e a escrever o meu nome, o que facilitou o trabalho da professora. As atividades desenvolvidas no Ensino Fundamental, desde a frase introdutória como era chamada na época, eram aprender o alfabeto, formar sílabas, números, utilizar o caderno de caligrafia para aprender escrever no tamanho padrão. Do Ensino Fundamental I para o II muitas foram as diferenças encontradas, pois as matérias eram estudadas separadamente com cada professor e com o tempo determinado de 50 minutos para cada aula, o que exigia mais atenção, levando em conta que somente as disciplinas de português e de matemática tinham aulas quase todos os dias, além de acrescentar uma matéria nova de inglês.
Desde o início da minha alfabetização, sempre fui incentivada pelos meus pais, não sei se é este o motivo de sempre gostar de estudar. Sempre gostava de ler histórias em quadrinhos, coleção de livros infantis da escola, o que mais tarde foi substituído por histórias em quadrinhos e livros que a leitura era exigida pela professora no Fundamental II. Na biblioteca da escola onde cursei o Fundamental II e Ensino Médio, os livros eram acessíveis, tendo, então, várias opções de leitura. A professora avaliava as leituras, por meio de resumo do livro além de ter que contar a história na sala de aula. Enquanto a história estava sendo contada, os alunos e a professora podiam fazer perguntas relacionadas ao livro. Esta atividade acontecia uma vez a cada bimestre e era considerada importante, visto que seria uma forma do aluno praticar a leitura, pois não havia aula especificadamente para literatura. A escola promovia concurso de redação, mas a participação não era obrigatória.
Ao chegar à Universidade, notei a mudança na minha rotina de leitura, pois muitos textos que anteriormente eu lia tiveram que ser deixados de lado em detrimento da leitura dos textos científicos sugeridos pelos professores. Esses textos são de difícil compreensão, trazem palavras novas que requerem mais dedicação para serem interpretadas, mas, a meu ver, são de grande relevância para o meu aprendizado, trazendo diferentes maneiras de ver o mundo. Fazer as leituras sugeridas pelos professores no Tempo Comunidade é mais fácil, pois no Tempo Universidade a correria do dia a dia é maior e sempre se acumulam trabalhos de matérias diferentes que precisam ser realizados, e, com isso, o tempo precisa ser dividido segundo a necessidade de leitura para cada disciplina.
Minha expectativa, enquanto futura educadora do campo, é proporcionar aos alunos uma maneira de estudar os conteúdos curriculares contextualizados com a realidade que eles vivem.