Um novo olhar

Por Elisete Martins da Silva [1]

Lembro-me que desde muito nova queria ir para a escola, sonhava em aprender a ler e a escrever. Ao ver minha irmã e prima indo para a escola todos os dias, pedia à minha mãe para que eu pudesse começar a estudar também, porém, como não tinha a idade certa, ela não deixava.

 Um dia, minha prima comentou com a professora que eu estava querendo estudar, mas devido à idade, ainda não podia. Então, a professora disse que eu poderia ir de vez em quando para a escola até que chegasse a época certa para que eu começasse a estudar. Nossa! Fiquei muito feliz com aquela notícia.

No outro dia, acordei logo cedo empolgada para ir à escola, pois era um sonho que estava sendo realizado. Morava na zona rural, e a escola era lá mesmo, entretanto não muito próxima da minha casa. Desta forma, íamos a pé ou de bicicleta.

Comecei a ler e a escrever desde muito nova, com aproximadamente seis anos, porém meus primeiros contatos com os livros foram na escola. Lá, os professores liam para nós na sala de aula, mas também podíamos levar livros para casa. Isto aguçou meu interesse pela leitura. Os livros que eu mais gostava de ler eram os livros da “Chapeuzinho vermelho”, “Os três porquinhos”, “Poesias das borboletas” o livro de “Piadas”. Na escola também havia biblioteca e armários com livros aos quais tínhamos acesso.

Como antigamente poucas pessoas tinham acesso à escola, meus pais estudaram somente até o 4º ano: sabiam apenas escrever os nomes, e liam pouca coisa através da junção das sílabas.

Apesar desta dificuldade na alfabetização, meus pais eram, de certa forma, “letrados”, pois nas práticas demonstravam um conhecimento limitado. Ou seja, meus pais conseguiam ler o mundo naturalmente, através do cotidiano e dos conhecimentos passados pelos antepassados, mas sem que tivessem um conhecimento escolar específico.

No Ensino Fundamental II, do sexto ao nono ano, achei tudo muito bom, porque fazíamos muitas apresentações teatrais como uma forma de retratar o que havíamos aprendido em sala de aula, embora tivéssemos estudado pouco sobre literatura. Líamos os textos, fazíamos resumos, respondíamos questões e sempre ficávamos apenas nisso. Não tínhamos, em minha opinião, um letramento crítico que visasse questionar o texto, a história, uma reflexão.

No Ensino Médio, tive muitas experiências exitosas: na matéria de artes, fizemos muitas aulas práticas, como, por exemplo, para a reutilização de materiais recicláveis e objetos que não tinham mais utilidade, transformando-os em peças decorativas. Havia também uma feira cultural no mês de agosto na qual os referidos objetos eram expostos juntamente com outros artefatos de antiguidade, que faziam parte da cultura regional, além de receitas culinárias, mudas de plantas e remédios caseiros, que eram partilhados com os visitantes. Estudamos literatura, mas superficialmente, incluída na disciplina de português.

Por fim, a universidade está sendo muito importante para o meu crescimento intelectual, pois estou descobrindo a literatura, compreendendo-a melhor e vendo o verdadeiro sentido dela e de como olhar criticamente a realidade.

Sabendo que a leitura nos impulsiona e nos faz refletir sobre a vida e o mundo, posso destacar a importância destas experiências enquanto discente da Licenciatura em Educação do Campo. Posso afirmar que, a partir do curso, estou sendo motivada a ler cada vez mais, e isso é apenas o começo para esse novo mundo onde a literatura está presente. Dessa forma, pensando em um ensino de qualidade, é imprescindível levá-la a cada pessoa, e principalmente aos nossos futuros alunos, mostrando o verdadeiro sentido da literatura, não a deixando ser limitada.

[1] Este texto é parte do ebook Memórias de Letramentos II: Outras Vozes do Campo, disponível para download gratuito aqui: auladigital.net.br/ebooks.
%d blogueiros gostam disto: