
Jane Beatriz Fernandes é acadêmica do curso Licenciatura em Educação do Campo (LEC), da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM). Jane é de Veredinha, Minas Gerais.
Meu primeiro contato com alguma tecnologia digital ocorreu em 2008, quando meus avós receberam um telefone fixo dos filhos que moravam em Belo Horizonte. Esse aparelho foi usado para falicitar a comunicação entre parentes de outras cidades e nossa família em Veredinha. Meu pai trabalhava fora, em outra cidade, e ligava para meus avós, minha mãe e para mim. Uma vez por dia, ele telefonava para nós através de um orelhão perto da casa que ele morava.
Minha mãe explicou que aqueles telefones eram um meio de comunicação à distância para que pudéssemos sentir meu pai próximo de nós. Naquela época, eu achava o telefone muito importante e diferente pois, além da comunicação oral, o outro meio que eu conhecia era através de cartas, que eu sempre fazia muitas para meu pai. Foi uma grande novidade para mim, durante a infância, um meio de comunicação imediato como a ligação por telefone.
Em 2010, minha mãe ganhou do meu pai um celular conhecido como “Nokia tijolão”, já que estava em outra cidade. Esse celular não possuía internet, sendo utilizado apenas para ligações. Aprendi não apenas a fazer ligações, mas também a enviar mensagens de texto. Com o passar do tempo, minha mãe ganhou outro telefone da marca Nokia, e o antigo ficou para mim. Comecei a utilizá-lo para conversar com familiares e amigos que também possuíam telefones.
Minhas interações com as tecnologias sempre foram positivas e moderadas. Minha mãe permitia que eu assistisse TV um pouco antes da aula e após chegar em casa, mas nunca antes de dormir para não prejudicar o sono. Durante minhas visitas à casa dos meus avós paternos, eles costumavam sintonizar a missa pelo rádio, enquanto os avós maternos preferiam ouvir modas de viola. Minha mãe considerava muito importante entender e saber usar os recursos tecnológicos que estavam sempre surgindo.
Aos doze anos de idade, ela me matriculou em um curso de informática para aprofundar o pouco que eu já sabia, pois eu mexia em um computador na casa de minha tia, que fazia licenciatura em Letras. Ela utilizava o computador para pesquisas, realização de trabalhos e atividades do seu curso. Aos treze, tive minha primeira rede social, o Orkut, uma febre na época, onde postava fotos, frases de músicas e sobre o cotidiano.
Além do Orkut, criei uma conta no Facebook com ajuda de uma tia minha que morava em Curitiba, uma cidade no Paraná, e havia se mudado para minha cidade, introduzindo essa nova forma de comunicação para mim e minha família.
Em 2014, criei uma conta no Instagram para compartilhar fotos de momentos importantes. Além disso, baixei o WhatsApp no telefone e deixei de utilizar mensagens de texto por SMS, passando a enviar mensagens apenas pelo WhatsApp.
Minha mãe e minhas tias foram fundamentais para meu aprendizado com as tecnologias digitais, pois acreditavam que dominar esses avanços seria positivo para minha vida. Atualmente, uso frequentemente o WhatsApp e o Instagram para me comunicar virtualmente e compartilhar fotos e conteúdos de meu interesse. Para acompanhar as notícias diárias, acesso o site “g1.globo.com”.
Há diferenças no meu uso diário da tecnologia nas áreas acadêmica, profissional e pessoal. Normalmente faço uma distribuição de tarefas por horários para ter controle e organização, evitando o uso excessivo. Tenho participação ativa em redes sociais, compartilhando fotos e postagens que despertam meu interesse.
Contribuo com uma página do Instagram chamada “Girassol dos Vales”, que compartilha informações, trabalhos, cotidiano e vivências dos estudantes de Licenciatura em Educação do Campo. Nessa página, administro todas as postagens para alcançar o público desejado: futuros discentes e docentes interessados na licenciatura, ensino de alternância e na educação do campo. No WhatsApp, faço parte de grupos de troca de roupas, móveis, eletrônicos, entre outros, além de grupos familiares para facilitar a comunicação e grupos de interação do curso que estou cursando.
Antes do tempo universidade (TU), em minha comunidade, eu costumava acordar e acessar minhas redes sociais e e-mails, que traziam informações da universidade. Utilizava meu notebook para revisar trabalhos que seriam publicados antes do almoço. Por volta das 14:00 horas, reservava um tempo para assistir filmes ou séries na plataforma Netflix e, antes de anoitecer, registrava o que tinha sido feito no dia, como notas, trabalhos e provas dos estudantes que eu era professora, utilizando o diário online da escola.
Como futura educadora, pretendo utilizar, no atual cenário da educação contemporânea, tecnologias digitais que desempenhem papel de transformação e modernização do ensino. Hoje em dia, professores no geral, estão integrando ferramentas digitais em suas práticas pedagógicas para melhorar a eficiência do ensino, aumentar o engajamento dos alunos e facilitar a gestão de atividades educacionais.
Plataformas como o Google Meet ajudariam os estudantes a realizarem encontros virtuais para trabalhos e atividades coletivas, especialmente considerando o contexto do campo, que dificulta encontros presenciais.
Aplicativos de avaliação como o Quizlet e o Socrative seriam usadas para criar quizes interativos e avaliações formativas, oferecendo feedback imediato aos alunos para ajudá-los a identificar áreas de dificuldade e monitorar seu progresso. Recursos multimídia, como os do YouTube, poderiam aprimorar as aulas e facilitar a compreensão de tópicos complexos.
O uso das tecnologias para estudo, conversas, compras, entre outros, mudou completamente minhas práticas sociais, migrando todas as atividades diárias para as funções que o telefone oferece, como estudar, realizar pesquisas em artigos, tirar dúvidas com o Google e assistir a vídeos para compreender melhor os temas das disciplinas.
Pretendo criar um site ou uma página de publicações para estudantes e docentes, abordando temas diversos como sequências didáticas, histórias da comunidade onde moro, mestres de saberes e literatura local, por exemplo.
É claramente perceptível a diferença de usos entre culturas, amigos, familiares e comunidades, bem como entre diferentes gêneros e idades, devido aos recursos tecnológicos disponíveis para cada pessoa, à forma como acessam esses meios e à maneira como os utilizam. Meus sentimentos em relação às novas tecnologias são positivos, desde que saibamos utilizá-las de forma eficaz e crítica.
Na realização de trabalhos, o uso da Inteligência Artificial (IA), por exemplo, pode ser uma fonte de ideias valiosas, mas deve ser utilizada com sabedoria, pois absorve todo o conteúdo disponível na internet sem necessariamente considerar a qualidade das fontes. Fontes confiáveis como artigos, livros e revistas são essenciais para garantir credibilidade e evitar o risco de plágio.
Como futura educadora, planejo integrar essas tecnologias ao meu ensino, utilizando plataformas digitais para facilitar a aprendizagem, promover o engajamento dos alunos e tornar o processo educacional mais dinâmico e eficiente.
No âmbito pessoal, o episódio “Queda Livre” de Black Mirror me fez refletir sobre como as redes sociais, muitas vezes, nos levam a buscar validação através de uma vida perfeita. Assim como no episódio, onde as pessoas filtram apenas as partes positivas de suas vidas para obter aprovação digital, nas redes sociais modernas há uma tendência similar de exibir uma vida perfeita sem problemas.
Durante minha adolescência, eu me via comparando-me com outras pessoas , como suas viagens e experiências aparentemente extraordinárias, o que às vezes, me fazia sentir inadequada, com minha vida simples de estudante e “low profile” nas redes sociais. Com o tempo, percebi que as redes sociais eram um reflexo selecionado de algumas partes da vida real, onde as pessoas compartilham o que querem mostrar, muitas vezes buscando apenas engajamento, likes e aprovações.
Mudei e comecei a entender que é fundamental não me deixar influenciar demais pela comparação constante. Cada pessoa tem uma vida, cada pessoa tem uma maneira de lidar com a tecnologia diferente, sejam mais engajados ou não. Assim, tanto “Queda Livre” quanto minha experiência pessoal, destacam-se a importância de uma abordagem equilibrada ao utilizar as redes sociais, valorizando como hoje em dia as conexões reais e verdadeiras, não idealizadas, e mantendo uma perspectiva realista sobre a vida de cada um.
Recomendo o episódio ‘Queda Livre’ da série Black Mirror para uma reflexão sobre como as redes sociais moldam nossa busca por aprovação digital, mostrando tanto seu lado positivo quanto as armadilhas da comparação constante.