Intolerância religiosa no Brasil

Elizabeth Avelar de Freitas e Maria Isabel Beherendt*

A falta de empatia, a desinformação e o preconceito levam a ataques de alguns grupos religiosos contra outros. Nesse contexto, as religiões de matriz africana se tornam o principal alvo, principalmente do racismo, manifestando-se por meio de ataques físicos, verbais e psicológicos. Dados compilados pela Comissão de Combate à Intolerância Religiosa do Rio de Janeiro (CCIR) mostram que mais de 70% dos 1.014 casos de ofensas, abusos e atos violentos registrados no Estado entre 2012 e 2015 são direcionados aos praticantes das religiões de matriz africana [1].

O presente artigo aborda a intolerância religiosa e tem como objetivo, como o título adianta, afirmar que o Brasil é um país intolerante em relação às religiões de matriz africana. Busca-se, sobretudo, evidenciar a falta de empatia e respeito pelas escolhas do próximo, sendo o principal fator que perpetua essa intolerância o racismo. Isso ocorre devido à falta de conscientização e educação sobre questões raciais, bem como à manutenção de estruturas sociais que favorecem certas raças em detrimento de outras.

As religiões de matriz africana têm sofrido cada vez mais ataques racistas nos últimos anos, especialmente contra terreiros e seguidores dessas religiões.Dados do Disque 100, criado pela Secretaria Nacional de Direitos Humanos, apontam 697 casos de intolerância religiosa entre 2011 e 2015, com a maioria registrada nos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. No Estado do Rio, o Centro de Promoção da Liberdade Religiosa e Direitos Humanos (Ceplir), criado em 2012, registrou 1.014 casos entre julho de 2012 e agosto de 2015. Desses casos, 71% foram contra seguidores de religiões de matriz africana, 7,7% contra evangélicos, 3,8% contra católicos, 3,8% contra judeus e sem religião, e 3,8% foram ataques à liberdade religiosa de forma geral[2].

Não é coincidência que a maioria dos ataques sejam feitos às religiões de matrizes africanas, diante do racismo que se mantém irredutível da nossa sociedade. Ataques como esse são resultado dos esforços diários dos racistas em reafirmar que tudo que vem do negro não presta, gerando ataques contra as culturas e religiões de matrizes africanas. Alguns não se intimidam em atacar, independente da lei, como a Igreja Universal do Reno de Deus[3]. Como braço comunicacional da igreja, em outubro de 1999, o jornal Folha Universal estampou em foto de capa foto da Yalorixá Gildásia dos Santos e Santos, a Mãe Gilda. Ao lado da foto, a manchete era: “Macumbeiros charlatões lesam o bolso e a vida dos clientes”. A casa da religiosa foi invadida e seu terreiro foi depredado, como informa Tokarnia (2015), em matéria da agência Brasil.

A Constituição Federal, conforme disposição do art.5°, inciso VI, garante a todos os brasileiros o direito de professar sua religião de acordo com suas convicções pessoais, sem que haja qualquer tipo de discriminação ou embaraço[4]. No entanto, ainda vemos ataques como os apresentados.

Com a diversidade de culturas e de religiões que há no Brasil, caberia algumas medidas educativas, como por exemplo: a escola trazer conteúdos sobre as religiões de matrizes africanas, com exemplos e espaço para debates com pessoas dessas religiões dentro da sala de aula e realizar atividades de valorização de culturas afro-brasileiras. Além disso, a sociedade deve ter mais respeito pelas escolhas do próximo. A intolerância religiosa é uma prática racista que precisa ser enfrentada por todos nós.

Combater o racismo é essencial para a construção de uma sociedade justa e igualitária. A discriminação racial é uma grave violação da dignidade humana, que causa prejuízos individuais e coletivos, impedindo o desenvolvimento social, econômico e cultural. É papel de todos nós combater o racismo por meio da conscientização, educação e ações afirmativas. Devemos respeitar e valorizar a diversidade étnica e cultural, promover a igualdade de oportunidades e reconhecer a contribuição histórica e atual dos povos afrodescendentes para a sociedade.

Ao referirmos a uma sociedade igualitária, democrática e justa em nossas relações de convivência, não podemos ignorar a opção da crença escolhida por cada cidadão. A intolerância religiosa é algo que afeta todo o contexto de uma sociedade e, não somente apenas a uma religião única. Mas, no atual momento que se perpassa a sociedade a religião mais perseguida e afetada são as denominadas Afro-Brasileiras, entre elas o candomblé.  


Referências

[1 e 2] https://www.bbc.com/portuguese/noticias/2016/01/160120_intolerancia_religioes_africanas_jp_rm

[3] Tokarnia, Mariana. No Dia de Combate à Intolerância Religiosa, líderes alertam sobre discriminação. Brasília, 2015.  https://agenciabrasil.ebc.com.br/direitos-humanos/noticia/2015-01/no-dia-de-combate-intolerencia-religiosa-lideres-alertam-sobre

[4] BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado Federal: Centro Gráfico, 1988.




* Elizabeth Avelar de Freitas e Maria Isabel Beherendt são acadêmicas da Licenciatura em Educação do Campo (LEC), curso ofertado pela Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM) e produziram este artigo de opinião na disciplina Diversidade e Educação, ofertada no segundo semestre de 2022 (janeiro a junho de 2023). Foram orientadas pelo professor Carlos Henrique Silva de Castro.

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