Por Fernanda Lemes Costa [1]
Nasci no dia dez de setembro de 1981, em Diamantina, e cresci em Senador Modestino Gonçalves, Minas Gerais, onde vivo até os dias atuais. Iniciei a Educação Infantil aos sete anos, na Escola Estadual Darcília Godoy. Recordo-me com muita saudade de minha primeira professora, tão querida Tia Lada. Hoje posso dizer que ela deixou marcas positivas e permanentes em mim, com sua infinita paciência, seu carisma e sua sabedoria, fazendo, assim, uma ponte entre professor e aluno sempre com muito respeito e amor.
Ao voltar ao passado, lembro-me como foi meu primeiro contato com a leitura e a escrita. Minha alfabetização foi marcada por muita ansiedade e descobertas, pois passei a conhecer um mundo cheio de letras, números e cores.
Minha alfabetização se deu através das cantigas de roda, contos literários, histórias contadas a partir de desenhos feitos em cartolinas (o que me permitia construir histórias usando minha imaginação), e através das datas comemorativas de cada mês. A minha época preferida do ano era o mês de outubro, que tinha a semana da criança com várias brincadeiras educativas. Esta era uma iniciativa dos professores, que nos levavam para um lindo gramado verde e fazíamos grandes descobertas, pois as brincadeiras possibilitavam conhecer melhor os colegas, a escola e os professores.
Em minha casa não havia acesso a livros, rádio ou televisão. Dos jornais, só me recordo de ver o da igreja, com as passagens da bíblia. Lembro-me que, depois da missa, as pessoas deixavam esses jornais nos bancos, e eu pegava alguns deles e levava comigo para casa, porque gostava de recortar as letras e formar palavras novas com elas. Com o passar do tempo, já cursando a Educação Básica, a Escola Estadual Darcília Godoy se encontrava em melhores condições estruturais, tanto físicas quanto na qualidade do ensino, o que me proporcionou melhores condições de aprendizagem. Na biblioteca se encontrava uma pequena diversidade de livros, o que permitia ao professor cobrar mais práticas de leitura.
Mesmo a escola me motivando a ler, a visitar a biblioteca em outros horários, e a estar mais próxima dos livros, sempre tive dificuldade em frequentar a escola em horários especiais ou me dedicar mais à leitura e à escrita, pois precisava ajudar meus pais com o plantio de roça, na arrumação da casa, a cuidar dos irmãos mais novos, e em outras atividades. Meus pais tinham uma leitura de mundo diferente da minha, achavam que saber ler e escrever já me bastaria.
Somente no Ensino Médio fui perceber a importância da leitura e da escrita e o quanto eu havia perdido, não somente para a minha formação, mas para que eu tivesse uma visão mais ampla do mundo. Formei-me no Ensino Médio no ano de 2000, e não tive oportunidade de continuar os estudos imediatamente, pois, naquela época, somente quem tinha ‘‘melhores condições de vida’’ davam continuidade aos estudos. Apesar de muito tempo ter se passado, no segundo semestre de 2018, comecei uma nova jornada em minha vida, tive a chance de ingressar no curso Licenciatura em Educação do Campo (LEC), da UFVJM.
Na LEC, quando adentro na sala de aula, sinto a mesma ansiedade vivida na Educação Infantil, com sentimentos duvidosos e incertos e, ao mesmo tempo, uma enorme alegria em saber que nunca é tarde para o recomeço. Embora todos tenham o direito a uma Educação de qualidade, o que eu vivi, e o que a maioria dos alunos que estudam em escolas públicas ainda vivem, foi uma educação engavetada, centrada somente em livros pedagógicos, que não estimulavam a reflexão dos alunos, nem a busca de soluções criativas para seus problemas, para que leiam bons livros literários e discutam questões sociais.
Portanto, tenho o objetivo de me formar como uma educadora do campo que esteja mais atenta à realidade dos alunos, buscando a construção de uma Educação Contextualizada, que valorize as diferentes formas de saberes e de aprendizados.