Relembrar é escrever

Por Fernanda Antonina Rodrigues da Silva [1]

Atualmente, moro em Veredinha, mas, até cinco anos, residi com minha família na cidade de Diamantina, Minas Gerais. Em certa fase de nossas vidas, decidimos nos mudar para Veredinha, também em Minas Gerais, cidade onde ainda hoje moramos. Acredito que, de uma forma ou de outra, a leitura e a escrita sempre fizeram parte de minha história. Não me recordo de muita coisa sobre minhas primeiras experiências com a escrita e a leitura antes de frequentar a escola, mas, ainda assim, lembro-me que minha família recebia muitas cartas, único meio que tínhamos, naquela época, para nos comunicar com os amigos e familiares que viviam em Diamantina.

Minha mãe lia todas aquelas cartas e cartões de datas comemorativas para mim, e eu achava o máximo quando ela me deixava fazer um desenho para enviar junto com as cartas que ela enviaria aos parentes. Geralmente, esses desenhos que eu fazia iam para minhas primas que moravam longe. Mesmo que por meio de desenhos, esses foram os meus primeiros contatos com a leitura. Antes de frequentar a escola, os tipos de leituras que circulavam em minha casa, além dessas cartas, eram os livros didáticos da minha irmã mais velha e a bíblia da minha mãe. Um aspecto que considero significativo quanto ao meu processo de letramento era a leitura de revista de músicas do meu pai, pois ele sempre tocou violão.

Logo quando entrei na escola municipal da minha cidade, por volta de cinco ou seis anos, identifiquei-me imediatamente com os desenhos, porque eu amava colorir. Quando fui avançando pelas séries e cheguei à fase em que já dominava a escrita e a leitura, comecei a perceber um forte interesse pela leitura. Falando em leitura, tenho lembranças de quando ganhei o meu primeiro livro, com aproximadamente sete ou oito anos de idade: o conto de fadas ‘A Bela Adormecida’, que me foi doado por minha professora. Na escola, naquela época, sempre quando algum aluno fazia aniversário, a professora o presenteava com um livrinho de histórias infantis. Lembro-me que ficávamos ansiosos para descobrir qual livro iríamos ganhar e, quando chegava o dia, era só festa. Apesar de não ter biblioteca nessa primeira escola, eu sempre recorria à biblioteca municipal da minha cidade, e durante todo meu processo de aprendizagem nessa escola, durante os Anos Iniciais, busquei ler bastante.

Quando cheguei ao Ensino Fundamental II e, posteriormente, ao Ensino Médio, tudo começou a mudar: escola nova, novos professores e rotinas de aulas diferentes. Tantas modificações diminuíram meu interesse pela leitura. Eu já não tinha aquele mesmo interesse, passei a ler menos frequentemente os livros que gostava, substituindo-os pelos livros didáticos das disciplinas. Talvez isto tenha ocorrido em função da forma lúdica como os professores dos anos iniciais trabalhavam a leitura, despertando mais interesse. O que sei é que o Ensino Fundamental II tirou parte da minha vontade de ler textos que me davam prazer. Nos últimos anos do Ensino Médio, um projeto realizado pela escola me tocou e despertou em mim novamente o interesse pela leitura. Com esse projeto, a escola recebeu um acervo enorme de livros novos e muito bons. Para mim, ele foi de suma importância, pois tive a oportunidade de voltar a ler com a mesma intensidade de antes. A escola, antes disso, não tinha uma biblioteca provida de livros que chamassem minha atenção, o que aumentou meu desinteresse pelos textos até aquele momento. Como eu estava mais velha, a biblioteca municipal já não atendia minhas necessidades de leitura.

Nos dias atuais, estou fazendo graduação e percebi que o desinteresse pela leitura aumentou novamente. Agora, as leituras acadêmicas me tiraram um pouco do prazer de ler os livros que costumava ler. Minhas leituras românticas são agora substituídas por textos científicos. Mas isso não é ruim, não em parte, pois estou fazendo leituras que me levarão a alcançar uma coisa que eu desejo muito, que é me formar e poder ser uma boa profissional. Queria saber organizar o tempo para voltar a ler como lia na infância, com o olhar e a inocência de criança. Dito isso, não posso negar que fui e sou feita de leitura, seja de livros, desenhos, músicas, enfim!  Minha vida deu várias voltas em relação à leitura: ora leio demais, ora leio de menos, ora estou como agora. Todavia, o importante é registrar aqui que a leitura sempre me acompanhou de uma forma ou de outra, e vai continuar me acompanhando.

[1] Este texto é parte do ebook Memórias de Letramentos II: Outras Vozes do Campo, disponível para download gratuito aqui: auladigital.net.br/ebooks.
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