Tecnologias digitais e as escolas onde estudei

Tecnologias digitais e as escolas onde estudei

Por Elisama Sousa [1]

Ouça um trecho lido pelo próprio autor a seguir. O texto completo, em formato escrito, segue logo abaixo.

Inicialmente estudei em uma escola do campo, localizada em uma comunidade próxima, onde não existia variedades de tecnologias digitais, apenas uma televisão analógica. Por essa escola atender somente os anos iniciais do Ensino Fundamental, ao ingressar a 5ª série, mudei para uma escola estadual situada na cidade. Meu primeiro contato com um celular foi um analógico da marca Nokia, que meu tio possuía, quando eu tinha em média 8 anos de idade. Eu gostava muito de jogar no celular, mas como meu tio morava em uma cidade distante, eu só podia fazer isso em ocasiões que ele visitava minha avó.

Um dos jogos se chamava Nature Park e nele era necessário fazer com que o urso pegasse bolinhas; após o urso pegar uma sequência de três de mesma cor, acontecia um incêndio e o quadro ficava mais vazio, possibilitando ao urso maior habilidade ao recolher bolinhas.

Na primeira vez que usei um computador eu tinha 10 anos de idade e cursava a 5ª série. Essa oportunidade aconteceu na sala de informática da Escola Estadual Teodomiro Caldeira Leão, quando fomos fazer uma pesquisa. Eu não sabia usar o computador, mas com a ajuda dos meus colegas, muitos deles da cidade e já sabiam fazer pesquisas na internet, consegui meu objetivo.

Na 6ª série comprei meu primeiro celular, quando enviei as primeiras mensagens SMS. Utilizei o celular mais para assistir a vídeos e ouvir músicas que meus colegas me enviavam pelo bluetooth. Conta no Facebook eu criei quando fiz alguns cursos no Telecentro da cidade, quando estava cursando o Ensino Fundamental II.

Atualmente o uso de tecnologias digitais tem feito parte da minha rotina e isso só se intensificou durante a pandemia. Com as aulas remotas, aumentou a necessidade de acompanhar os grupos de WhatsApp e fazendo pesquisas acadêmicas constantes. Assim, para interação entre a turma do curso e comunicação em geral uso com mais frequência o WhatsApp; para entretenimento uso Instagram para.

Percebo que as pessoas mais velhas que residem no campo têm mais dificuldades, tanto em relação ao manuseio, quanto a aquisição dessas tecnologias digitais. Considero que não é algo impossível para elas, pois conheço pessoas acima de 50 anos de idade que têm acesso aos tipos de tecnologias aqui retratadas e conseguem fazer uso do WhatsApp, SMS, ligações, enfim, estabelecer uma comunicação.

Na universidade, o momento de mais aprendizado sobre o uso de computadores foi na monitoria, pois até então usava com facilidade apenas o smartphone. As monitorias me ajudaram bastante na realização dos trabalhos e, principalmente, nas aulas remotas. Mesmo assim a pandemia foi muito desafiadora, pois na minha comunidade a internet é instável, o que dificultou o acompanhamento das aulas.

As tecnologias possuem pontos positivos e negativos e isso tem a ver com o uso que escolhemos fazer delas. Uma das experiências mais marcantes para mim é que sem acesso às tecnologias digitais eu teria grande possibilidade de não estar na graduação; pois no momento da realização de matrícula, de forma presencial, me faltaram alguns documentos. Com um prazo pequeno para uso dos correios, pude escanear os documentos e enviá-los por e-mail.

Considero que o uso dessas tecnologias deve ser debatido com os estudantes, principalmente em escolas do campo, pois não podemos nos resignar com dificuldade de acesso, mas lutar por ele, pois estamos em uma sociedade globalizada e de avanços constantes de interesse de todos. Devemos quebrar o paradigma de que o campo é um lugar de atraso e de pessoas ingênuas. Um conhecimento negado ao estudante pode resultar em uma perda de oportunidades no âmbito educacional, do trabalho, da vida.

[1] Elisama Sousa é graduanda do curso Licenciatura em Educação do Campo (LEC), da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM).

Este trabalho foi orientado pelos professores Carlos Henrique Silva de Castro, Luiz Henrique Magnani e Mauricio Teixeira Mendes.

Meus acessos às tecnologias

<strong>Meus acessos às tecnologias</strong>

Por Claudiana Aparecida de Paula [1] 

Ouça um trecho lido pelo próprio autor a seguir. O texto completo, em formato escrito, segue logo abaixo.

As tecnologias digitais podem ser compreendidas por diversos fatores, como pontos positivos e/ou negativos. A tecnologia é mecanismo de informação, e desinformação, e nos oferecem possibilidades de divulgação das culturas de comunicação e interação com o mundo. Em um mundo globalizado, se não fizermos uso desses mecanismos provavelmente estaremos excluídos. Algumas tecnologias podem ser vistas como ferramentas viciantes, e normalmente envolvem mecanismos de manipulação ainda em estudo, como a ansiedade causada por likes e o papel dos conteúdos curtos nesse processo.

Sou de uma família humilde do campo e o meu primeiro acesso às ferramentas digitais foi quando já estava entre 17 e 18 anos de vida, em 2013. Isso não aconteceu somente comigo e sim com a maioria de meus colegas e amigos que moram ou moravam em áreas rurais.

Antes disso eu ganhei um celular analógico, presente do meu pai, da marca “tijolão”, não tinha acesso à internet, mas dava para fazer ligações e tinha uns joguinhos bem legais que vinham no aparelho. Lembro-me, como se fosse hoje, a reação de felicidade do meu pai ao me dar um celular, pois era um período difícil e quase ninguém na minha comunidade tinha acesso a uma ferramenta daquelas, tinha pessoas que não faziam ideia do que seria um celular.

Outra alegria imensa com o acesso a tecnologias foi no ano de 2010, quando estávamos todos ansiosos para a Copa do Mundo na África. Minha mãe nos presenteou – a mim e meus irmãos – com uma televisão de 14 polegadas de tubo. Foi uma felicidade enorme. Era uma televisão de tubo, com características muito inferiores às digitais de hoje em dia, mas ressalto que ela foi uma excelente ferramenta de comunicação e discernimento de informação.

Ao todo somos cinco irmãos, sou a filha do meio, ou seja, tenho dois irmãos mais velhos e dois irmãos mais novos. Gosto sempre de brincar com eles que somos dois tipos de filhos, os mais velhos são gerações raiz, com pouco ou nenhum acesso às tecnologias digitais, e os mais novos são gerações “nutela”, com mais acesso apesar das limitações, e eu estou no meio dessas mudanças. As brincadeiras divertidas como roubar bandeira, cabra cega, que nós mais velhos tivemos na infância, os meus irmãos mais novos não fazem nem ideia do que sejam.  E isso não é exclusividade apenas da família, observo que no período em que eu estudava na educação básica, e agora pelas experiências no estágio da licenciatura que curso, as pessoas que nasceram antes dos anos 2000, no geral, tiveram o primeiro contato com o celular analógico somente na adolescência. O máximo que nossos celulares antigos podiam fazer era enviar mensagens de SMS, hoje às crianças já nascem tendo contato com o smartphone para assistir a vídeos e jogar na internet, dentre outras coisas. 

No ano de 2014 comprei meu primeiro celular digital, com várias ferramentas e funções novas, mas mesmo assim fiquei muito tempo apreensiva com as redes sociais. Minhas primeiras contas eu criei quando estava fazendo o Magistério (Formação de Professores na Educação Básica com os Anos Iniciais) em uma turma de pessoas com diferentes perfis socioeconômicos, mas onde todos tinham celulares e faziam o uso das redes sociais. Então, acabei me afastando do grupo da sala por não me sentir parte. Minha colega de curso, vendo que me afastava todos os dias quando iam mexer nos seus celulares, me convenceu a criar conta nas redes sociais. Comecei pelo WhatsApp, depois Facebook, e em 2021 decidi aderir ao Instagram

No ano de 2018, quando ingressei no Curso da Licenciatura em Educação do Campo pela Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, comecei a ter uma visão mais crítica sobre o uso das redes sociais. Hoje, eu administro seis contas no meu aparelho celular de duas redes, três no Facebook e três no Instagram. Duas contas pessoais, uma em cada rede, outras duas da Associação Comunitária Quilombola e outras duas da N’GOLO/Federação das Comunidades Quilombolas do Estado de Minas Gerais.

A minha conta do Instagram pessoal uso mais para publicar fotos, pois gosto de postar minhas fotos que acho interessante, principalmente quando vou a algum lugar e tiro fotos bonitas. No Facebook gosto de ser bastante diversificada. Faço diversas postagens. Achei legal, posto. Mas sem ter aquele posicionamento crítico, pois prefiro evitar fazer postagens de cunho político, religioso ou de assuntos que causariam debate nas minhas publicações, pois sou de uma família com pessoas de identidades e opiniões diferentes da minha e prefiro evitar confusões.

Já as contas da Associação e da N’GOLO eu tenho que ter mais atenção, pois são contas de instituições que envolvem outras pessoas.  Nessas contas faço a divulgação dos conteúdos do território Quilombola ou assuntos pertinentes aos interesses gerais. Então, priorizo postagens sobre as culturas e lutas do nosso povo. Por ser de mais fácil o acesso e mais ágil para a comunicação e interação com as pessoas, uso muito o WhatsApp para essas funções. 

Pensando nas tecnologias no meu dia a dia, considero que passo boa parte do meu tempo com o celular na mão, seja para assuntos acadêmicos, pessoais, ou dos movimentos sociais que participo. Todas as vezes que chega notificação no celular, imediatamente paro tudo e vou ver do que se trata. De fato, esse comportamento atrapalha um pouco a minha vida no geral, até mesmo o meu relacionamento com o meu marido, pois não consigo cumprir os horários que destino para cada atividade. Todos os dias já acordo com o alarme do celular, em seguida olho todas as correspondências seguindo por essa ordem: WhatsApp, E-mail, Facebook, Instagram e notícias do Feed que são disponibilizadas pelo Google. Sinto que depois que comecei a participar dos movimentos sociais e da vida acadêmica estou mais dependente das ferramentas tecnológicas.

O ponto positivo das minhas experiências é que não precisei de muito tempo para me adaptar ao ensino remoto pois eu já usava, por exemplo, ferramentas de reuniões online com os movimentos sociais e outras. Entretanto, uma das dificuldades que devo mencionar sobre o ensino remoto é que eu moro atualmente em Diamantina, na zona urbana, mas desenvolvo algumas atividades em minha comunidade rural que fica entre os municípios de Serro e Santo Antônio do Itambé. Durante o período do ensino remoto, precisei ir para a comunidade muitas vezes e lá não tem acesso à internet. Então para usar a internet no celular, conectava via antena rural de uma vizinha, que eu ia à noite quando tinha encontros online, a aproximadamente a vinte minutos de moto. Como não sei pilotar, precisava que um dos meus irmãos ou meu marido me levasse todos os dias. As dificuldades do ensino remoto não foram apenas para os estudantes do ensino superior, afetaram também os estudantes da educação básica, principalmente a do campo, aqueles de comunidades com essa que citei, que não têm acesso, ou têm acesso precário, à internet.  

Em síntese, compreendo que as tecnologias digitais não são neutras, e que, como futuros educadores, devemos sempre trazer para a sala de aula debates que apontem pontos positivos e negativos de seus usos, pois os estudantes devem ter suas próprias concepções críticas do uso dessas ferramentas. A melhor forma, então, é orientá-los para fazerem um bom uso das tecnologias, para, sobretudo, não cairmos em truques de linguagem no processo de interação e comunicação, mas podermos acessar bons debates para maior consciência crítica.

[1] Claudiana Aparecida de Paula é graduanda do curso Licenciatura em Educação do Campo (LEC), da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM).

Este trabalho foi orientado pelos professores Carlos Henrique Silva de Castro, Luiz Henrique Magnani e Mauricio Teixeira Mendes.

Tecnologias na minha vida

<strong>Tecnologias na minha vida</strong>

Por Alexandre dos Santos Baldaia [1] 

Ouça um trecho lido pelo próprio autor a seguir. O texto completo, em formato escrito, segue logo abaixo.

Nasci em uma comunidade do campo, em uma época em que pouco se ouvia falar de tecnologia digital. No campo essas tecnologias acabam chegando por derradeiro. Apesar das dificuldades financeiras, meus primeiros contatos com um celular foram aos meus 12 anos, em meados de 2011 para 2012. No entanto só em 2015 ou 2016 que tive meu primeiro aparelho celular, um Samsung J5; a partir de então criei minhas primeiras contas em ambientes virtuais, no Google e no Facebook.

Adquiri esse primeiro celular não porque precisava, mas por ver meus colegas da escola com essa tecnologia. Percebi que precisava ter um para me enturmar, pois era moda. Em meu tempo de escola havia uma sala de computação, no entanto, dificilmente éramos levados para trabalhar com esses computadores. Somente a partir de 2018, época em que ingressei na Licenciatura em Educação do Campo, que pude trabalhar com o computador/notebook.

Atualmente utilizo alguns aplicativos no smartphone como o WhatsApp e Instagram, usados para socializar. Também utilizo outras ferramentas para pesquisas e para assistir vídeos (YouTube, Tik Tok, Google). O Instagram e o Tik Tok utilizo para publicar fotos, vídeos, sem uma função determinada, como para ganhar curtidas ou comentários. Logo ao acordar já começo utilizá-los.

Com essas tecnologias em mãos, acabamos deixando de lado outras coisas que fazíamos, como ter um diálogo face-face. Nos ajudam a resolver quase tudo sem mesmo sair de casa/quarto. Por exemplo, compramos e pagamos através de um clique. Por um lado, facilitou a solução de problemas, mas também traz consequências como o alto consumismo online e o abandono dos comerciantes locais, levando-os à falência.

Nem todos das gerações anteriores, como nossos pais e/ou avôs, se apropriaram dessas novas tecnologias, sendo que grande parte dessas gerações não foram alfabetizados, o que dificulta o uso, mesmo sendo interativas e de fácil manuseio. Atualmente, as crianças já nascem com um aparelho digital na mão, o que os leva a um processo de aprendizagem antecipado, antes mesmo da alfabetização.

No ambiente escolar, considero que o uso das tecnologias digitais é de suma importância, pois são ferramentas que podem chamar a atenção dos alunos, além de prepará-lo para o que estar por vim. Assim é importante que haja professores capacitados, para que os alunos se apropriem dessas ferramentas de forma crítica para, assim, não ficarem sujeitos a exclusão digital/social.

Na minha formação básica tive pouco contato com as tecnologias. Lembro-me que havia poucos computadores na escola e os utilizávamos raramente. No decorrer dos anos algumas coisas evoluíram com o uso do pendrive e de projetores de imagens, mas mesmo assim eram pouco utilizados.

Na universidade tive dificuldade em utilizar o computador/notebook, pois não estavam incorporados nas minhas vivências e até hoje não domino bem essas tecnologias. Nesse espaço tive várias experiências importantes para minha aprendizagem como acessar e utilizar os ambientes de aprendizagem Moodle e Google Classroom.

Durante a pandemia, o uso de tecnologias no meu cotidiano não foi excessivo. Como moramos no campo, onde o acesso à internet é difícil, e não podíamos sair do isolamento social, praticamente deixamos as tecnologias de lado. Com isso, a maioria do tempo estivemos trabalhando nas plantações.

Quando começou o ensino remoto, tivemos dificuldades para acesso internet. Para conseguir melhor sinal, tínhamos que subir em morros para acompanhar as aulas e fazer as atividades. Foi a solução para se ter maior acesso. Por morar fora do centro da comunidade, não conseguia o sinal da internet para instalar em casa, pois nem se avista a torre que transmitia o sinal. Como a demanda de pessoas sem acesso à internet era grande, buscamos por uma empresa que instalasse uma antena mais próxima e os aparelhos de conexão nas casas. Para isso, tivemos que abrir um caminho e carregar o material até o morro onde seria fixada a antena. Financeiramente, a comunidade se uniu e cada um pagou 100 reais para instalação e uma mensalidade de 77 reais. Assim foi feito e em outubro de 2021 conseguimos acesso à internet em casa, mas não é de tão boa qualidade.

Com internet em casa, passei a utilizar um computador de mesa, que foi doado por minha irmã. Com internet em casa, meus pais passaram a ter também aparelhos para se comunicarem. Assim como eu que tive dificuldade em ter acesso à internet em casa, e ainda de má qualidade, devemos analisar que isso pode ter ocorrido com outras pessoas ou até mesmo pior, que as impossibilitaram de continuar a estudar durante o ensino remoto. Devemos ainda analisar como os alunos do campo estudaram no ensino remoto, já quem nem todos têm acesso à internet, ou a outros aparelhos, para estudar.

Percebo que essas novas tecnologias devem/precisam ser trabalhadas nas escolas, já que são utilizadas por/pelos alunos. Assim, devemos pensar em uma educação do campo na qual todos tenham acesso. Como futuro educador me vejo trabalhando com as tecnologias a partir do contexto em que estão inseridos. Penso em buscar possiblidades no qual os estudantes consigam interagir efetivamente. Se nós educadores não trabalharmos tecnologias na educação, entendo que não estamos cumprindo nosso papel de formar jovens e adultos de uma forma crítica. Assim, devemos criar condições para que percebam a importância do uso dessas tecnologias, e como o mau uso traz consequências às vezes irreversíveis.

[1] Alexandre dos Santos Baldaia é graduando do curso Licenciatura em Educação do Campo (LEC), da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM).

Este trabalho foi orientado pelos professores Carlos Henrique Silva de Castro, Luiz Henrique Magnani e Mauricio Teixeira Mendes.

Efeitos e avanços das tecnologias em minha vida

<strong>Efeitos e avanços das tecnologias em minha vida</strong>

Por Carla Batista Dias [1] 

Ouça um trecho lido pelo próprio autor a seguir. O texto completo, em formato escrito, segue logo abaixo.

Meu primeiro contato com o mundo digital foi tardio, aos dez anos, com o telefone via antena na casa da vizinha, o qual a gente usava para ligar para os parentes que moram fora, como em São Paulo e Campinas. Outros contatos com as tecnologias digitais aconteceram na escola, onde usei pela primeira vez um computador.

Na escola também assistíamos a filmes em DVDs na televisão, outra tecnologia em alta no período, mas ter a oportunidade de interagir com um computador, que a gente não tinha nem noção de como funcionava de verdade, foi algo muito gratificante e, acredito, um privilégio. Mais tarde, entre 2009 e 2010, tive o primeiro celular digital (da Nokia) com teclado touch screen que eu utilizava para fazer ligação, acessar o Facebook e tirar fotos. A internet era bem limitada, pois só funcionava com a compra de créditos antecipados.

Com o passar dos anos, tive acesso a várias outras ferramentas digitais, como celulares mais modernos da Samsung com Facebook, e-mail, WhatsApp. A rede social que eu mais utilizava era o WhatsApp para comunicar com o namorado. As outras redes sociais eu usava mais por curiosidade.

Atualmente, devido aos meus estudos na universidade, costumo usar essas ferramentas de comunicação, mas também utilizo outros com finalidades específicas educacionais como Google Classroom, E-campus, Google Meet, Google Drive, assinatura digital, e-mail institucional etc. Mesmo com todas as funções e possibilidades de aprendizagem que essas tecnologias proporcionam, a proibição de seus usos no contexto de sala de aula é uma realidade. Eu mesma já vivenciei essa proibição em uma escola públicas.

Hoje em dia estou presente nas redes sociais buscando conhecimento e trabalhando. A tecnologia que sempre uso ao acordar é o telefone celular devido o alarme. Ao longo do dia, junto ao celular utilizo o notebook. Com a presença dessas tecnologias e das redes sociais no meu cotidiano, algumas práticas sociais mudaram, como ler diariamente, brincar com os amigos no final da tarde etc. 

Pensando nesses avanços tecnológicos, tem o lado positivo e o negativo. De negativo, algumas práticas educativas que eram realizadas na comunidade, como a contação de histórias pelos mais velhos à luz do luar, com a chegada da internet, já não se faz mais isso. As pessoas mal conversam umas com as outras. Com isso, tradições como as danças locais e as festividades estão sendo modificadas.

Na minha formação na educação básica, tive poucas experiências com as tecnologias digitais e na sala de aula era proibido o uso de celulares, que nem todos tinham. O computador de mesa da escola raramente era utilizado para a pesquisa. Nem acesso à internet tínhamos, pois fomos privados com o argumento de que não sabíamos administrar o tempo de uso. O contato mais prolongado com a internet era em uma lan house, onde eu pagava um real para acessar o que queria.

Com o ingresso na universidade, adquiri um notebook para poder realizar as atividades do curso. No início tive muita dificuldade de acessar o Moodle, onde são postados os trabalhos. O acesso ao ambiente é um pouco complicado e demorado e seu suporte para arquivo é limitado. Atualmente o uso da assinatura eletrônica está sendo um desafio, outras ferramentas foram mais tranquilas.

No contexto pandêmico, em que estudamos de forma remota por dois anos, a necessidade e o acesso às ferramentas digitais acabaram sendo a preocupação principal. Ficamos dependentes delas para poder conseguir dar sequência aos estudos e muitos desistiram por não possuírem ferramentas adequadas e não terem condições financeiras para comprar. Eu mesma tive que comprar um novo computador. Nesse período em que ficamos dependentes das tecnologias para a comunicação, o contexto do campo foi o mais afetado, uma vez que não estávamos acostumados com tanta informação digital ao mesmo tempo e nem tínhamos acesso a essas tecnologias.

Diante dessas e outras experiências, vejo o uso das tecnologias nas escolas de forma excludente, pois não são acessíveis à maioria. Uma vez que somos refém dessas ferramentas, devemos usá-las ao nosso favor. Tenho a experiência na universidade de uma sala de aula onde o uso dessas tecnologias funciona super bem e são fundamentais para o nosso aprendizado. Dessa forma, com certeza vou usar algumas delas nas minhas aulas para o ensino dos meus futuros alunos, sempre em busca do diálogo sobre a atualidade, as tecnologias digitais e o seu uso positivo e/ou negativo e questões relacionadas ao consumismo.

Como futura educadora do campo, buscarei também metodologias e ferramentas que atendam a maioria dos meus alunos, buscando diminuir a exclusão notória no contexto de sala de aula. Sinto-me segura para dar aula com determinadas ferramentas digitais como o computador/notebook, o celular, o datashow que, a meu ver, são tecnologias essenciais para um ensino dialógico no contexto escolar. Para mim, é evidente que o educador deve se adequar ao mundo tecnológico para contribuir para uma educação de qualidade, para que seus estudantes sejam críticos ao utilizarem as redes e as tecnologias de maneira geral.

[1] Carla Batista Dias é graduanda do curso Licenciatura em Educação do Campo (LEC), da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM).

Este trabalho foi orientado pelos professores Carlos Henrique Silva de Castro, Luiz Henrique Magnani e Mauricio Teixeira Mendes.

Tecnologias e acesso na realidade

<strong>Tecnologias e acesso na realidade</strong>

Por Alcione Aparecida Ferreira [1] 

Ouça um trecho lido pelo próprio autor a seguir. O texto completo, em formato escrito, segue logo abaixo.

Vivi pelo menos até os cinco anos de idade em uma comunidade onde não existia energia elétrica. Então, os primeiros aparelhos tecnológicos com os quais tive contato foram os rádios à pilha, o toca-fitas e a radiola em que podíamos ouvir músicas e nos manter informados a respeito dos acontecimentos das cidades vizinhas.

Ao ingressar na escola municipal de minha comunidade para os primeiros anos de minha educação formal, época em que já havia energia elétrica, pude ter acesso aos rádios que tocavam CDs, e televisão em que podíamos assistir desenhos, e filmes em fitas VHS e mais tarde em DVDs. Em casa ocorreu meu primeiro acesso ao celular, quando meu pai comprou um telefone que chamávamos de tijolão. Com ele eu jogava escondido um único jogo que não me lembro o nome. 

Meu irmão já possuía um celular e não me deixava usá-lo para não estragar. Aos onze anos de idade, fui transferida para a escola estadual da cidade, onde pude acessar algumas tecnologias digitais como os computadores do Telecentro comunitário, onde eu fazia trabalhos como pesquisas, quando aprendi a manusear um pouco o computador.

 Aos dezesseis anos pude ter um celular de teclado, em que criei meu primeiro Facebook e ouvia músicas. Depois, fui trocando de aparelho com o decorrer do tempo. Principalmente no ensino médio eu utilizava bastante o SMS (Serviço de Mensagens Curtas) para comunicar-me com os colegas. Em casa, necessitava de ir para um lugar mais alto, normalmente no meio do mato, para ter o acesso à internet, pois o sinal não funcionava. Quando funcionava, era fraco. As vezes lá ficava até o celular descarregar ou a mãe ir gritar porque já estava preocupada. Ao cursar o magistério para o trabalho com educação infantil, criei conta no WhatsApp e Facebook, que eu utilizava bastante. Também visitava sites para pesquisas e lojas online, mas somente para pesquisar.

Ao ingressar na universidade, em 2018, comecei a ter mais acesso às plataformas digitais principalmente para os estudos, que depende bastante do acesso à internet para pesquisas, baixar textos e outros materiais disponibilizados pelos professores, comunicar com os colegas e professores e outros. Diante da situação que passamos por causa da COVID-19, tivemos que ter aulas remotas e utilizamos muitas plataformas digitais novas, além dos equipamentos. Para estudar, utilizo o notebook e celular e os aplicativos Google Classroom, Google Drive, Google Meet, E-mail, entre outros. Para entretenimento e comunicação, ao longo do dia, utilizo os aplicativos WhatsApp, Facebook, Instagram, Kwai, Youtube, bem como também apps bancários, lojas online, entre outros.

Como pode-se notar, a tecnologia que utilizo com maior frequência ao longo do dia é o aparelho celular, que, ao acordar, já visualizo as horas, se tem alguma mensagem ou ligação importante. Se a manhã estiver tranquila, entro em algum aplicativo de entretenimento para me distrair. Algumas práticas sociais mudaram com o uso de diferentes tecnologias. Hoje resolvo algumas situações do cotidiano pelo WhatsApp e ligações como marcação de consulta e até a consulta dependendo do especialista, comunicar-me com o agente de saúde da cidade, entre outras atividades que desenvolvia antes pessoalmente me deslocando até o ambiente.

Diante dessa realidade de intensas mudanças que estamos presenciando, certamente passaremos por novas adaptações, principalmente quando se trata dos contextos educacionais e formação profissional, em que o uso das tecnologias digitais se tornou necessário nos diversos níveis e áreas. Durante o meu processo de formação como profissional docente, percebo que utilizarei vários mecanismos tecnológicos que os meios sociais exigem e estão sempre em mudança, principalmente nas escolas onde atuarei. Espero usar essas novas possibilidades tecnológicas no ensino da melhor forma possível, de forma que ajude a incluir quem não tem acesso a elas, o que não será fácil, mas é necessário.

[1] Alcione Aparecida Ferreira é graduanda do curso Licenciatura em Educação do Campo (LEC), da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM).

Este trabalho foi orientado pelos professores Carlos Henrique Silva de Castro, Luiz Henrique Magnani e Mauricio Teixeira Mendes.