Por Fernanda Antonina Rodrigues da Silva [1]
Ouça um trecho lido pela própria autora a seguir. O texto completo, em formato escrito, segue logo abaixo.
Lembro-me bem da primeira vez que vi um celular. Eu tinha por volta de nove anos de idade, minha mãe trabalhava em uma casa de família e seu patrão tinha um celular, coisa que a gente não tinha, só ouvia falar. Então, sempre que eu ia na casa onde ela trabalhava, observava o celular por cima dos móveis, naquela curiosidade de criança, querendo mexer, pegar, mas só olhava. Uns dois anos depois minha irmã mais velha ganhou um celular e só então tive o primeiro contato. Eu achava o máximo, mexia em tudo, tirava foto, era uma maravilha. Minha irmã morria de medo de eu mexer e atrapalhar alguma coisa. Tempos depois a situação financeira em casa foi melhorando, meus pais também adquiriram seus celulares e fiquei com aquele que era da minha irmã, que conseguiu um outro.
Já meu primeiro contato com computadores foi na casa da minha avó, em um desktop do meu tio. Como ele não deixava a gente mexer, eu e minha prima íamos para lá usar o computador enquanto ele estava no trabalho. Aprendemos a ligar e tudo mais observando-o. Nessa época estava com 11 anos e gostava dos jogos de roupas, calçados e acessórios para bonecas e de pesquisar piadas e coisas engraçadas. Tempo depois abriu a primeira lan house perto da minha casa. Com isso, passei a ir lá jogar GTA por, na época, um real a hora.
Aos 13 anos, quando já dominava o básico, meu pai comprou o primeiro computador da minha casa e instalou internet. Meus pais nunca tiveram interesse de aprender, só compraram para minha irmã e eu. Nesta época a rede social que estava em alta era o Orkut e o comunicador era o MSN, basicamente o que eu acessava. Minha prima foi muito importante nesse meu processo, pois ela criou meus acessos da época e me ensinou muita coisa.
Atualmente as páginas de internet que mais acesso são as plataformas de vídeos, músicas, compras, além das plataformas de estudo. O uso diário dessas tecnologias faz toda a diferença na minha vida cotidiana, pois em tudo que faço estão envolvidas. Sempre preciso recorrer ao celular para resolver algo como pagar as contas, ou estudar, trabalhar, me informar, enfim, são tantas necessidades que hoje é quase impossível viver sem essa ferramenta.
No meu contato cotidiano, uso o celular desde o início do dia, pois preciso garantir que não vou me atrasar para o trabalho e, por isso, o deixo sempre no modo despertador. O celular me acompanha durante todos os dias, sem exceção, pois na loja onde trabalho ele serve como ferramenta de vendas, que utilizo para fotografar os produtos, gerenciar o perfil comercial no Instagram, atender os clientes no WhatsApp, conferir e-mails. Na vida pessoal, no celular eu acesso minhas redes sociais, converso com os amigos no WhatsApp e estudo em muitos momentos. Essas facilidades que os celulares trouxeram para o dia a dia fizeram com que as práticas sociais mudassem muito. Muitas coisas que antes eram resolvidas de maneira presencial, hoje faço pelo smartphone como, por exemplo, ir ao supermercado, pagar contas, estabelecer algum diálogo. São coisas que exigiam estar de forma presencial e hoje, com o avanço das tecnologias, não exigem mais. Com isso também houve certo distanciamento entre as pessoas.
Percebo que as gerações mais velhas têm muita dificuldade para entender e lidar com essas novas tecnologias. Noto também uma falta de confiança muito grande, principalmente com relação a transações nos bancos digitais. Preferem continuar nos métodos tradicionais já conhecidos por eles. Enquanto as pessoas mais jovens têm mais facilidade para entender e aceitar essas mudanças, pois é algo do seu tempo. Meus sentimentos com relação às tecnologias são bons, pois acredito que elas vieram para facilitar muito a vida e as relações e tenho experiências positivas com elas. No entanto certas situações também me deixam inconformada, como o fato de nem todos terem acesso.
Na minha experiência na educação básica basicamente não tive contato com tecnologias digitais, apesar de sempre existirem computadores na escola. Me lembro de apenas uma vez, em todos os anos que lá estudei, ter feito um trabalho de pesquisa na internet. A escola, por vários motivos, não apresentava esse tipo de suporte e, pelo que vejo, permanece assim até os dias atuais. Sempre recorreram e ainda recorrem muito aos livros didáticos. O celular, que é uma ferramenta muito utilizada e mais presente na vida dos alunos, não tem nenhum incentivo, muito pelo contrário, têm sua utilização proibida na escola.
Na universidade, que faço licenciatura, a realidade que encontrei foi bastante diferente. O celular é o maior meio de comunicação de todos e o notebook é muito utilizado. Sempre somos convidados/provocados a utilizar essas tecnologias, assim como o e-mail e as plataformas disponibilizadas durante a pandemia, pois tudo que fizemos nessa época dependia delas de maneira direta. Acredito que o isolamento social tenha mostrado a importância que as tecnologias têm na vida das pessoas, pois foi através dessas ferramentas que conseguimos, com toda dificuldade, prosseguir com os estudos, o trabalho e a vida. Infelizmente nem todos tiveram a mesma experiência e acesso nesse período, ou pela falta das tecnologias ou por falta de conhecimento a respeito delas.
Em muitas escolas, percebo que, mesmo que precariamente, estão buscando melhorias no sentido de incentivar o uso dos recursos digitais. Mas é certo que há muito ainda para se fazer, a começar por pensar e incentivar uma educação crítica para o uso dessas tecnologias. No futuro pretendo lutar para a inserção de ferramentas tecnológicas na sala de aula, pois acredito nos efeitos positivos que podem causar na educação. Sendo possível, utilizarei redes sociais e tantas outras ferramentas para o ensino didático, como Jamboard, Facebook, WhatsApp, Instagram, Padlet, e tantos outras possíveis e que ainda estão por vir.
[1] Fernanda Antonina Rodrigues da Silva é graduanda do curso Licenciatura em Educação do Campo (LEC), da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM).
Este trabalho foi orientado pelos professores Carlos Henrique Silva de Castro, Luiz Henrique Magnani e Mauricio Teixeira Mendes.