Relembrando a minha vida na escola

Adenilda

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Adenilda Alves dos Santos, Cristália/MG

No ano de 1994, quando eu tinha quatro anos, eu já frequentava a escola, pois morava na zona rural e minhas irmãs mais velhas iam para a escola e eu não queria ficar em casa; chorava se dissessem que eu não ia. Por isso, me matricularam depois de mais de dois anos de estudo. Na minha casa não havia acesso a textos, somente na escola onde a professora levava os livros.

A professora me incentivava muito. Quando completei sete anos, idade em que fui matriculada, já conhecia várias letras. Lembro que, entre seis e sete anos, tive uma tristeza inesquecível. Estava na escola com minhas irmãs quando um vizinho chegou à minha casa e descobriu que minha mãe havia falecido no chão. Ele gritou para a professora, que estava bem perto da escola, e ela nos dispensou. Ao chegarmos em casa, encontramos meu irmão, que tinha um ano e meio, chorando. Nesse dia, meu pai estava trabalhando.

Depois desse acontecimento, fiquei muito triste, e até hoje sinto essa tristeza. No entanto, devo me esforçar para me conformar. Com o passar dos anos, a tristeza aumentou, pois éramos muito crianças naquela época.

No ano em que comecei a ir à escola, ninguém veio me presentear com livros. Acho que na época era mais difícil, somente nossos professores os tinham. Lembro-me de que aprendi a contar aos sete anos. A professora usava caroços de milho e feijão para nos ensinar. Nessa idade, aprendi a contar até 20. Entrei na escola com quatro anos, mas me matricularam aos sete.

Lembro-me de que conheci as moedas antes de ir à escola, mas não sabia seu valor. Aprendi a conhecer o valor do dinheiro aos dez anos e, com oito, aprendi a ler as horas no relógio. Com dez anos, aprendi a somar e a subtrair, que chamamos de adição e subtração. Nossa, eu adorava e ainda adoro essas continhas!

Depois de algum tempo, comecei a aprender multiplicação e divisão, mas a divisão foi um pouco mais complicada. Eu gostava muito dos problemas matemáticos; achava muito fácil da primeira à quarta série. As continhas eram bem simples na quinta série. Na oitava série, achei mais ou menos, mas aprendi muito com os professores, que eram esforçados e queriam nos ver alfabetizados.

Meu pai não teve estudo suficiente para me ensinar, mas ele sabe ler, escrever e até fazer algumas contas. Nos letramentos matemáticos, me avalio de dez a oito pontos. Quando comecei a frequentar a escola, não sabia nenhuma letra. Apesar de ter iniciado muito jovem, quando completei sete ou oito anos, me dediquei muito a aprender. Tinha força de vontade de verdade. Lembro que a professora falava que ia fazer uma leitura; assim que terminava a aula, eu ia pelo caminho treinando a leitura, até mesmo as atividades que ela passava para mim. Entre os oito e dez anos, sentava debaixo de uma árvore para fazer as atividades, e fazia tudo antes de chegar em casa.

Nos primeiros anos de escola, eu era motivada a escrever. A professora me elogiava muito por isso. Gostava de escrever textos que continham rimas e me avalio no papel de escrita inicial de dez a oito pontos. No ensino fundamental, me lembro de textos e poemas, mas no ensino médio, devido ao número de livros, não consigo lembrar de tudo.

Na minha escola, no ensino médio, os professores nos davam liberdade para ir à biblioteca ler livros. Isso era muito enriquecedor para mim. Ao longo da minha vida escolar, houve mudanças na escrita; aprendi a escrever melhor. Na escola, escrevíamos rápido, devido ao pouco tempo, e as letras não ficavam muito legíveis. As práticas com os números faziam sentido, pois várias vezes surgiam necessidades de contar e conhecer os números.

Neste primeiro ano de universidade, por enquanto, não consigo explicar muito devido ao pouco tempo, mas creio que minha escrita e leitura vão melhorar. As mudanças trarão coisas positivas e negativas: a positiva é aprender mais do que já sei; a negativa é a dificuldade e tenho que não desistir diante delas.

Gosto muito de ler o que os professores orientam e faço o possível para isso. Não tenho tanta facilidade com os gêneros universitários. Ao longo da minha vida escolar, no ensino fundamental, línguas e matemática eram bem mais fáceis; já no ensino médio foi um pouco mais difícil, mas consegui superar e alcançar um pouco mais da média. Imagino que sou capaz de lidar com os desafios que envolvem números e letras.

Lembro que, quando comecei a estudar no ginásio, na quinta série, na cidade de Cristália, andava a pé oito quilômetros para chegar até o ponto do ônibus escolar. Foi uma luta imensa. Saía de casa às nove e meia da manhã para chegar ao ponto às onze e meia e entrar na sala de aula às doze e meia. Isso durou três anos. Nos últimos anos, o carro chegava mais perto de casa, mas consegui vencer o ensino médio.

Hoje sou casada e tenho um esposo amigo e companheiro que sempre me apoia na faculdade. Ele me ajuda muito. Tenho três filhos: os dois primeiros são gêmeos e têm doze anos, e o outro tem cinco. Todos são apaixonados por estudar, assim como eu era na idade deles.



SOBRE A AUTORA:

Adenilda Alves dos Santos, de Cristália/MG, é acadêmica da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), onde cursa Pedagogia. Produziu este relato na disciplina Práticas de Leitura e Produção de Textos, ofertada de julho a novembro de 2024.


A orientação deste trabalho e a organização do e-book foram realizadas por Carlos Henrique Silva de Castro, Kátia Lepesqueur e Virgínia Batista.

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