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Cassie Fernandes, Águas Formosas/MG
Desde a minha infância, o acesso a textos escritos sempre foi presente em minha vida. Minha mãe e minha avó, sendo evangélicas, constantemente liam a Bíblia, além de panfletos da igreja e outros materiais religiosos, como livros e revistas. Meu avô, sempre sentava comigo em um banco velhinho de madeira que tinha no quintal e me contava inúmeras histórias (às vezes repetia várias vezes a mesma, porque eu implorava pra ele contar de novo) sobre as aventuras de Pedro Malasartes, e todas as suas travessuras.
Ele sempre me contava também, diversas histórias de quando ele era jovem e trabalhava na roça, sobre os animais selvagens que ele já tinha visto de longe e de perto, sobre as plantações e sobre a linhagem familiar de todo mundo que ele conheceu, e que eu não fazia ideia de quem eram, mas ouvia tudo atentamente, tentando guardar cada detalhe comigo. Esse ambiente familiar me proporcionou um contato precoce e frequente com materiais de leitura, histórias e produção de textos, pois eu vivia imaginando diversas aventuras e histórias como as de Pedro Malasartes.
Minhas primeiras lembranças relacionadas à leitura e contagem estão associadas ao meu avô, que me ensinou a contar até vinte. Embora os detalhes desse aprendizado sejam um pouco vagos e mesclados pelo tempo, eu me lembro que ele desempenhou um papel fundamental nesse processo. Da mesma forma, foi com ele que aprendi a reconhecer e entender o valor do dinheiro. Apesar de ser analfabeto naquele período, meu avô me ensinava a utilizar as moedas que me dava para comprar doces na vendinha próxima da minha casa, explicando o valor de cada uma e o que poderia ser comprado com elas, assim como o troco.
Eu tenho uma lembrança muito carinhosa que eu guardo comigo, e essa é uma das únicas que eu me lembro com perfeição, pois eu já tinha uns 13 anos, e eu e meu avô estávamos deitados no chão, olhando pro céu, na área de casa e ele estava me contando pela milionésima vez uma história de Pedro Malasartes (eram minhas favoritas, e eu nunca me cansava delas) e eu estava tão entretida na história que não percebi um filhotinho de lagartixa entrando na minha blusa, até ser tarde demais. E quando eu a senti encostando em mim, foi o caos absoluto, mas também foi um dos melhores dias da minha vida, pois daquele dia em diante eu tinha minha própria história engraçada pra contar, e o melhor, era compartilhada com a pessoa que eu mais amava nesse mundo.
Quando eu estava na pré-adolescência, meu avô decidiu iniciar seus estudos e conseguiu se formar no ensino fundamental. Ele aprendeu, entre outras coisas, a escrever o próprio nome, um dos maiores orgulhos que ele tinha. Tive o privilégio de acompanhar e ajudá-lo nas atividades escolares, fazendo as tarefas e ajudando-o com a leitura. Esse período foi muito especial, pois pude retribuir um pouco de tudo que ele fez por mim, ajudando-o a conquistar algo tão importante. Infelizmente, ele não está mais aqui para me ver formada, mas o amor e a gratidão que sinto por tudo o que ele me ensinou permanecerão comigo para sempre.
Ao ingressar na escola, não tenho uma lembrança clara se já sabia realizar operações matemáticas, mas sempre me destaquei na resolução de problemas nos anos iniciais do ensino fundamental. Naquela fase, os problemas eram bastante simples, e eu costumava obter notas máximas nas provas de todas as matérias. No entanto, ao avançar para o ensino médio, comecei a enfrentar dificuldades maiores com matemática e exatas no geral, e passei a concentrar meus esforços na área que eu mais gostava e tinha facilidade que era e é, linguagens.
Tanto a escola quanto a minha família desempenhou um papel crucial em meus letramentos matemáticos iniciais. Esse período da vida é marcado por uma grande facilidade de aprendizado, e contar com o apoio e a dedicação de pessoas dispostas a me ensinar, mesmo com suas próprias limitações, foi de extrema importância para meu desenvolvimento e motivação para aprender cada vez mais.
Em relação à escrita nos primeiros anos escolares, embora minhas memórias não sejam tão detalhadas, lembro-me de ser incentivada a escrever, desde pequenas frases até textos mais elaborados. Sempre fui uma aluna dedicada, o que fez com que os professores me dessem atenção especial. Embora isso possa ter criado um ambiente de favoritismo, o que é péssimo em uma sala de aula, contribuiu significativamente para desenvolver meu gosto pela leitura e escrita.
Quanto aos textos que lia e produzia ao longo da escolaridade, me lembro de, no ensino fundamental, ter ganhado de minha mãe um kit de livrinhos com histórias bíblicas, que se tornou um verdadeiro tesouro para mim. No ensino médio, já era uma leitora ávida, frequentando bibliotecas e construindo um acervo pessoal de livros, além de ler em formato digital, primeiro através do celular, mas logo comprei meu dispositivo Kindle, e pude realmente criar minha própria biblioteca digital.
Todas as escolas que frequentei tinham bibliotecas, e os professores sempre incentivaram o uso desse espaço. Contudo, muitas vezes, as atividades escolares relacionadas à leitura não despertavam meu interesse, pois os livros sugeridos não condiziam com minhas preferências e com os gêneros literários que eu costumava amar ler. Minha relação com a leitura sofreu uma mudança significativa aos 14 anos, quando ganhei o livro “O Chamado do Monstro” de presente. Esse livro teve um impacto tão profundo em mim, me levando a desenvolver um amor intenso e profundo pela leitura.
Como uma pessoa LGBTQIAPN, minha vida foi marcada por desafios como bullying e repressão em todos os lugares que eu costumava frequentar, especialmente na escola e na igreja evangélica que minha mãe frequentava e me levava junto, e a leitura se tornou uma forma de escapar disso e viver outras realidades mais afáveis que a minha. Em 2016, descobri a plataforma Wattpad, onde escrevi meu primeiro livro, que estou atualmente reescrevendo para disponibilizar na Amazon Kindle em formato de ebook.
No meu primeiro ano de universidade, em 2018, a principal mudança em meus hábitos de leitura e escrita foi o foco nos conteúdos acadêmicos. O maior desafio foi a escrita do meu artigo de conclusão de curso, que, apesar de ser sobre um tema que eu amo, exigiu muito de mim devido à sua complexidade, mas apesar disso eu consegui entregar um trabalho completo e coerente com meu tema escolhido.
Ainda mantenho a prática da leitura autônoma, principalmente sendo artista, estou sempre lendo peças teatrais e estudando sobre teatro, mas agora, ao iniciar um novo curso, ajusto minha rotina para conciliar as leituras orientadas pelos professores com aquelas que escolho por conta própria, reconhecendo o valor e a importância de ambas. Dito isso, meus gêneros literários preferidos são fantasia, romance, ficção científica e poesia.
Quanto à administração das minhas finanças, percebo que o ensino médio não me preparou adequadamente para os desafios econômicos e burocráticos da vida adulta. Atualmente, busco aprender por conta própria, utilizando os recursos tecnológicos disponíveis para adquirir novas habilidades e conhecimentos necessários para a vida cotidiana. Atualmente a tecnologia e a informação estão literalmente nas nossas mãos, e eu odeio me sentir ignorante diante de qualquer tema, então estou sempre pesquisando e aprendendo sobre coisas novas e relevantes para meu crescimento pessoal e profissional.
Hoje, o Kindle é meu dispositivo de leitura preferido. A praticidade de transportá-lo, o vasto acervo digital disponível, e a possibilidade de ler diversos ebooks em inglês para aperfeiçoar minhas habilidades de leitura e escrita nesse idioma tornaram-se ideais para minhas necessidades. Além disso, o Kindle permite que eu tenha acesso a uma infinidade de títulos sem ocupar espaço físico, o que é especialmente importante considerando o tamanho limitado do meu quarto. Dito isso, estou ansiosa para adquirir um modelo mais recente e ampliar minha rotina de leitura.
Por fim, a leitura e a escrita sempre foram paixões que me acompanharam ao longo da vida, moldando quem sou e ampliando meus horizontes. Meu amor por essas atividades continua a crescer, e é meu desejo um dia ver alguns dos meus livros publicados em formato digital e físico, compartilhando com outros as histórias e ideias que significam tanto pra mim.
SOBRE A AUTORA:
Adenilda Alves dos Santos, de Cristália/MG, é acadêmica da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), onde cursa Pedagogia. Produziu este relato na disciplina Práticas de Leitura e Produção de Textos, ofertada de julho a novembro de 2024.
A orientação deste trabalho e a organização do e-book foram realizadas por Carlos Henrique Silva de Castro, Kátia Lepesqueur e Virgínia Batista.