Dos quadrinhos à universidade

Antes de frequentar a escola, os textos aos quais eu tinha acesso eram a Bíblia, jornais e revistas. Em minha casa, eu sempre via meus pais lendo a Bíblia ou revistas, e meu irmão lendo livros didáticos. Eu amava tiras de quadrinhos, especialmente as da Mafalda. Como ainda não sabia ler, sempre pedia ao meu irmão para ler para mim, mas já entendia algumas coisas pelas figuras. Os primeiros livros que ganhei eram de uma coletânea de livros bíblicos, que vinha com um CD contendo histórias em áudio e algumas músicas para complementar.

Eu aprendi a contar com meu irmão e meus primos, brincando de esconde-esconde. Antes de ir para a escola, eu já reconhecia o dinheiro porque meus avós e minha bisavó sempre me davam moedas por executar determinadas tarefas, e eu sempre comprava guloseimas com essas moedas. Entrei na escola sem saber somar ou subtrair, mas tive muita facilidade para aprender e sempre me destaquei na matemática. A escola e a família desempenharam papéis importantes e diferentes quanto ao meu letramento matemático, mas avalio que a escola foi mais importante.

Eu aprendi minhas primeiras letras com uma amiga mais velha. Brincávamos de escolinha, e ela me ensinou a escrever meu segundo nome, Camila, e palavras simples quando eu tinha 5 anos. Entrei na escola aos 6 anos, e minha professora me pediu para escrever meu nome, mas eu não sabia escrever o primeiro nome, Elida. Assim, meus primeiros dias foram traumáticos. Nos meus primeiros anos de escola, sempre fui motivada a escrever pelas professoras. Cheguei a ganhar um prêmio de melhor redação da turma, recebendo um chaveiro, o que foi o máximo para mim. Sempre gostei mais de ler do que escrever. Acho que sou uma ótima leitora, mas não tão boa escritora.

A escola foi crucial para meu letramento inicial. No ensino fundamental I, eu sempre lia histórias infantis, mas foi no fundamental II que comecei a ler diversas obras literárias e me apaixonei pela leitura. No 6° ano, conheci a Turma da Mônica, e foi amor à primeira vista. No ensino médio, tive acesso na biblioteca da escola a grandes obras literárias, como Orgulho e Preconceito e O Morro dos Ventos Uivantes. Nessa época, a leitura para mim já era quase como um vício.

Agora, na universidade, leio os textos orientados pelos professores, mas não gosto tanto de ler esses textos quanto gosto de ler livros literários. Acho que o ensino médio não nos prepara para os desafios econômicos e burocráticos da vida adulta. O que mais sinto que não aprendi na escola foi a língua portuguesa. Acho que, se consigo escrever bem, é porque li muito e ainda leio, mas a escola em si nunca me cobrou ser melhor. Acho que os alunos que se formaram comigo, que não tinham o hábito de ler autonomamente, enfrentaram muitas dificuldades após o término do ensino médio.



SOBRE A AUTORA:

Elida Camila de Souza Marques é graduanda da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM) e produziu este relato na disciplina Prática de Leitura e Produção de Textos, ofertada no primeiro semestre de 2024. A organização e edição do material foi feita pelo Projeto de Extensão Aula Digital.

Este trabalho foi orientado pelo professor Carlos Henrique Silva de Castro.

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