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Ana Paula Chaves Lopes
Pedra Azul/MG
Nasci em uma fazenda no município de Pedra Azul, MG, em uma família extremamente humilde. Minha infância foi marcada pela simplicidade e pelas dificuldades que enfrentávamos no dia a dia. A vida no campo era dura e desafiadora, mas também repleta de aprendizados valiosos e experiências únicas.
Nos primeiros anos de vida, meu acesso a livros e números era muito limitado. A educação formal parecia distante, e eu só comecei a frequentar a escola aos sete anos, quando passei a morar com meus avós na cidade. Naquele momento, ainda não sabia ler nem escrever. Minha única interação com a leitura vinha dos folhetos da igreja frequentada por meu avô, onde eu passava o tempo observando as imagens e tentando compreender o que elas significavam.
Minha jornada educacional começou na escola Levy Roberto, com a ajuda fundamental da professora Clarisse. Ela desempenhou um papel crucial no meu desenvolvimento, usando histórias para despertar meu interesse pela leitura. Através de suas aulas envolventes, aprendi a escrever meu nome e a reconhecer algumas palavras. Foi um momento decisivo, pois a leitura se tornou uma nova paixão, e comecei a entender a importância da educação para meu futuro.
Na casa dos meus avós, havia uma televisão e um aparelho de DVD. Enquanto meus avós escutavam música religiosa, eu comecei a explorar desenhos e filmes. Um dos meus favoritos era “Scooby-Doo”. Eu adorava acompanhar as aventuras de Scooby e seus amigos, tentando desvendar os mistérios e descobrir quem eram os verdadeiros “monstros”. Esses momentos de lazer foram importantes para meu desenvolvimento emocional e para a construção da minha imaginação.
Durante o período escolar, minha timidez era uma barreira significativa. Eu tinha dificuldade em interagir com meus colegas e em me expressar na sala de aula. No entanto, um projeto especial sobre a história da formiguinha foi um ponto de virada. A professora Clarisse introduziu um trabalho em grupo que envolvia cantar e apresentar para a turma. Esse desafio me ajudou a superar minha timidez e a me integrar melhor com meus colegas. A experiência me ensinou a importância da colaboração e da comunicação.
Na infância, a noção de dinheiro era bastante rudimentar. Eu só conhecia o valor de um real, que meus pais e avós me davam para comprar balas. Para mim, esse valor era significativo, pois era uma forma de adquirir algo que me trazia prazer. Aos sete ou oito anos, comecei a aprender noções básicas de matemática, como adição e subtração. Ajudar meus avós na feira livre foi crucial para desenvolver minha compreensão de somas e valores. Eu vendia café, requeijão, queijo e laranja, e essas atividades me deram uma perspectiva prática sobre a economia e a matemática.
Quando comecei a frequentar a escola, enfrentar problemas matemáticos era um grande desafio. A falta de atenção dos meus pais, que estavam ocupados com as tarefas da fazenda, e a necessidade de trabalhar para garantir nosso sustento contribuíram para a minha dificuldade inicial. No entanto, a escola foi essencial para meu progresso. A dedicação da professora Clarisse e minha motivação para aprender foram fatores determinantes para superar esses desafios.
Aos oito anos, comecei a entender o alfabeto e a escrever com mais clareza. Meu entusiasmo por escrever era evidente, e eu passava horas praticando, especialmente com o meu nome. A escola foi um ambiente fundamental para meu crescimento educacional, e o apoio dos meus avós, que tinham uma barraquinha na feira, foi vital para meu desenvolvimento.
Durante o ensino fundamental, lembro-me das aulas de história com a professora Dinorá. Aprendi sobre a evolução da sociedade desde o homem das cavernas até o Brasil contemporâneo. Esses conhecimentos foram aprofundados no ensino médio, onde explorei temas como a Descoberta, a Colonização, o Imperialismo e a República.
Em 2009, tive a oportunidade de estudar em uma escola maior, que possuía uma biblioteca bem equipada. Eu passava horas lendo o dicionário, sempre curiosa para descobrir o significado das palavras e expandir meu vocabulário. A presença de computadores nas bibliotecas também foi um marco importante, permitindo-me acessar novas informações e aprofundar meus conhecimentos.
Quando chegou o ensino médio, um mundo de descobertas se abriu à minha frente, mas que logo teve que ser interrompido devido a uma gravidez na adolescência, que ocorreu no segundo ano. Fiquei quase um ano afastada, pois a gravidez era de risco. De tempos em tempos, a escola me enviava uma prova ou outra para que eu fizesse em casa e não ficasse tão prejudicada. Graças a Deus, a gravidez seguiu com tranquilidade até o fim, e no ano seguinte retornei.
Atualmente, estou cursando Pedagogia e continuo buscando aprimorar minhas habilidades. Fiz um curso de magistério que me aprofundou ainda mais no amor pela leitura e pelo ensino. A rotina de trabalho tem limitado meu tempo para leitura, mas pretendo equilibrar melhor meu tempo entre estudos e leitura. A faculdade tem sido uma experiência enriquecedora, e estou ansiosa para aplicar o conhecimento adquirido para contribuir com a educação e ajudar outras crianças a superar desafios semelhantes aos que enfrentei.
Minha jornada desde a infância na fazenda até a atualidade tem sido marcada por desafios e superações. Cada etapa foi essencial para moldar quem sou hoje, e a educação desempenhou um papel fundamental em minha vida. Agradeço a todos que contribuíram para meu desenvolvimento e espero poder retribuir, ajudando outros a encontrar oportunidades e superar obstáculos.
SOBRE A AUTORA:
Ana Paula Chaves Lopes, de Pedra Azul/MG, é acadêmica da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), onde cursa Pedagogia. Produziu este relato na disciplina Práticas de Leitura e Produção de Textos, ofertada de julho a novembro de 2024.
A orientação deste trabalho e a organização do e-book foram realizadas por Carlos Henrique Silva de Castro, Kátia Lepesqueur e Virgínia Batista.