Alfabetização e letramento

maurizete

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Maurizete Máximo da Fonseca Santana, Cristália/MG

A memória tem papel essencial no processo de alfabetização, no qual são criadas várias memórias que podem ser de curto ou longo prazo. Ao refletir sobre nossas memórias, podemos aprender lições valiosas com as experiências vividas. A memória é fundamental na construção da nossa identidade, pois acredito que nossa percepção de quem somos é moldada por experiências passadas, lembranças e vivências. Ela nos permite compreender quem somos, como chegamos aonde estamos e para onde estamos indo, ao mesmo tempo em que nos ajuda a nos relacionar com os outros e com o mundo ao nosso redor. O tempo passa, mas as lembranças permanecem em nossas memórias. Não me recordo claramente, mas minha mãe sempre dizia que, quando eu tinha apenas 5 anos, chorava para poder ir para a escola com meus irmãos. Naquela época, porém, não havia como eu frequentar a creche, pois, vivendo na zona rural, o transporte escolar passava muito cedo para pegar os alunos, e a rota era extensa. Meus pais, então, acharam melhor não me matricular e esperar até que eu completasse 7 anos para estudar na escola da minha comunidade.

Naquela época, não era comum termos acesso a textos em nossa casa; sequer tínhamos um aparelho de televisão. Mas me recordo que havia uma bíblia e alguns livros didáticos que meus irmãos traziam da escola para fazer suas tarefas. Curiosa, pegava esses livros escondido para brincar de escolinha. Foi através dessa brincadeira e com a pouca ajuda que recebia dos meus irmãos que comecei a aprender desde cedo, e antes mesmo de ingressar na escola eu já conhecia o alfabeto e até sabia escrever meu primeiro nome. Não poderia deixar de citar a professora que trabalhava em minha comunidade, tia Rosimeire Barroso, que me incentivava muito nas horas vagas e até me levava para a escola, de vez em quando, para assistir às suas aulas. Isso contribuiu muito para meu desenvolvimento, tanto escolar quanto pessoal. Quando finalmente ingressei na escola no ano de 2000, já sabia muitas coisas. Para mim, foi muito gratificante, pois estava bem adiantada, e as dificuldades foram menores.

Nunca gostei muito de português; minha preferência sempre foi matemática. Amava fazer as contas usando o método dos milhos e feijões, e cada problema matemático apresentado me encantava cada vez mais pela disciplina. Até hoje, tenho preferência por ela. Naquela época, os incentivos eram poucos, e, apesar do apoio que recebi, não foram suficientes. Meus pais não tinham muito estudo, e meus irmãos, no tempo livre, ajudavam nas tarefas de casa e na roça.

Ao avaliar o papel da escola e da família nos meus letramentos iniciais, posso dizer que fui privilegiada. Na minha família, fui a única que teve tempo para dedicar-se aos estudos, pois meus irmãos, além de estudar, precisavam trabalhar em tarefas pesadas. Recebi também grande apoio dos professores, que, mesmo com poucos recursos, usavam os livros didáticos e o quadro de giz para leituras e práticas de escrita. Esses materiais eram armazenados em uma prateleira no canto da sala de aula e estavam sempre disponíveis quando precisávamos. Era uma época de poucos recursos, mas o que aprendi foi de grande importância para minha vida. Ainda acredito que faltou incentivo, especialmente por parte da minha família, pois, se tivesse contado com mais apoio familiar, talvez hoje tivesse menos dificuldade em leitura e interpretação. Sinceramente, a leitura nunca foi meu forte; perco facilmente a concentração e foco em textos longos. Penso que, se tivesse recebido mais motivação, hoje minha relação com a leitura e a escrita seria melhor, facilitando, inclusive, a produção de textos acadêmicos.

Minha trajetória escolar inicial foi na Escola Municipal Francisco Máximo, localizada na comunidade de São João, no município de Cristália-MG, onde estudei da 1ª à 4ª série dos anos iniciais. A escola ficava próxima de casa, e eu adorava ir às aulas, não faltava um dia. Em 2004, ingressei no ensino fundamental, na Escola Estadual Professor Tutu, localizada na Avenida Teodomiro Borges, na cidade de Cristália-MG. Andava de ônibus todos os dias cerca de 50 km até a escola. Lá, fiz novas amizades e conheci novos professores. No início, senti-me meio perdida, pois a escola era muito maior e a movimentação era intensa. O que mais me assustou foi a quantidade de professores; a cada 50 minutos trocava o professor da aula. No começo foi difícil, mas me adaptei rapidamente, pois sempre fui uma aluna dedicada e buscava constantemente aprender para meu aperfeiçoamento.

Nesta mesma escola, concluí o ensino médio em 2010. Sempre gostei de estudar e não parei por aí. Em 2013, a cidade de Cristália foi contemplada com um processo seletivo aplicado pela Universidade Aberta do Brasil (UAB), que ofereceu várias graduações. Gosto sempre de tentar os vestibulares disponíveis no meu município. No dia 14 de julho de 2013, fiz a prova para a licenciatura em Educação Física, mas, infelizmente, não consegui uma das vagas. Fiquei triste, pois sempre sonhei em me formar nessa área, por gostar muito de esportes. Não desisti! Três meses depois, Deus me abriu uma porta de emprego na educação como alfabetizadora de jovens e adultos no programa Travessia Nota 10. Foi uma experiência inovadora e me mostrou que é possível educar de forma diferente, sem repressões, incentivando a participação dos alunos e valorizando o conhecimento prévio que cada um traz de seu cotidiano.

Nesse mesmo ano, tive a oportunidade de realizar um curso técnico em Secretaria Escolar oferecido pelo Instituto Federal do Norte de Minas Gerais (IFNMG). Durante o curso, fiz estágio na secretaria da Escola Municipal Dona Caroline Ursine, o que enriqueceu minha vida tanto pessoal quanto profissionalmente. Esse curso não era o que sonhava, mas agradeço a Deus por tudo. O importante é nunca desistir. Em 2018, tive a oportunidade de fazer minha primeira graduação em Administração Pública. E hoje estou aqui novamente buscando enriquecer meu currículo e minha vida profissional. Como já disse, nunca desisti das oportunidades. Surgiu o vestibular para Pedagogia e Matemática no meu município e, ao me inscrever, apesar da paixão pela Matemática, acabei escolhendo Pedagogia. Confesso que me arrependo, mas agora é seguir em frente, manter o foco e aproveitar essa nova oportunidade de fazer outra graduação.



SOBRE A AUTORA:

Maurizete Máximo da Fonseca Santana, de Cristália/MG, é acadêmica da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), onde cursa Pedagogia. Produziu este relato na disciplina Práticas de Leitura e Produção de Textos, ofertada de julho a novembro de 2024.


A orientação deste trabalho e a organização do e-book foram realizadas por Carlos Henrique Silva de Castro, Kátia Lepesqueur e Virgínia Batista.

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