Por Joice Rocha Da Cruz e Leonel Lemes Pereira*
A gravidez na adolescência pode trazer grandes dificuldades na vida, especialmente para aqueles que vivem no campo. Quando uma adolescente engravida, ela pode enfrentar desafios financeiros, emocionais e sociais. No campo, essas dificuldades podem ser ainda maiores devido à falta de acesso a recursos e serviços essenciais. Financeiramente, a situação pode sobrecarregar a jovem e sua família. No campo, onde as oportunidades de emprego são limitadas, pode ser ainda mais difícil para a adolescente encontrar um trabalho estável que lhe permita sustentar a si mesma e ao seu bebê. Isso pode levar à dependência de ajuda externa, o que pode acarretar outras questões, como violência.
Segundo “Biblioteca virtual em saúde”[1], a gravidez precoce ocorre dos 10 aos 19 anos e é extremamente alta:
A taxa de gestação na adolescência no Brasil é alta, com 400 mil casos/ano. Quanto à faixa etária, os dados revelam que em 2014 nasceram 28.244 filhos de meninas entre 10 e 14 anos e 534.364 crianças de mães com idade entre 15 e 19 anos. Esses dados são significativos e requerem medidas urgentes.
É preciso ressaltar as causas da maior parte das gestações, como a falta de discussão sobre educação sexual, sobretudo em escolas que vêm sendo intimidadas por movimentos conservadores. O ensino sobre sexualidade é necessário não somente pela gravidez indesejada, mas também pela propagação de doenças sexualmente transmissíveis. É uma questão de saúde pública.
A evasão escolar é uma consequência, uma vez que a adolescente precisará cuidar de seus filhos. No campo, uma gravidez inesperada pode induzir ao êxodo rural, pois na necessidade de se manter, cais jovens e mães solo acabam abandonando a vida campesina em busca de trabalho nas cidades.
Socialmente, a gravidez na adolescência pode resultar em estigmatização, isolamento e adoecimento mental. No campo, onde as comunidades muitas vezes são pequenas e conservadoras, a adolescente pode enfrentar um julgamento severo por parte dos outros. Isso pode afetar sua autoestima e sua capacidade de se integrar socialmente, tornando mais difícil a busca por apoio.
É evidente a necessidade de refletir e discutir mais sobre essa situação, pois a omissão tem trazido consequências catastróficas. Muitas adolescentes estão passando por um período difícil, principalmente depois do COVID-19. Os casos de ansiedade só aumentaram, atingindo a maior parte da população jovem. Foi divulgada uma pesquisa chamada “Juventudes e a Pandemia: E agora?”, com o apoio da UNESCO e do UNICEF[2], na qual mais de 16 mil jovens foram entrevistados sobre saúde, educação, trabalho, democracia e redução das desigualdades. Para 63% dos participantes, a educação deve ser a prioridade dos governantes. Além disso, o fortalecimento do SUS, a recuperação econômica e ações contra a fome também são importantes. A pesquisa também mostrou que a saúde mental continua sendo afetada, com 63% relatando ansiedade e 47% solicitando acompanhamento psicológico na saúde pública.
Com todas essas questões, físicas, mentais e sociais, o apoio é essencial:
Na sociedade atual a adolescência é (…) uma etapa que exige um apoio maior por parte do poder público, família e sociedade em geral, que facilite a formulação de identidade, crescimento pessoal, intelectual, psicológico e de saúde (DIAS; TEXEIRA, 2010)[3].
A escola deve discutir e ensinar os alunos a se prevenirem e a terem uma vida sexual saudável. Uma outra discussão também importante é a violência sexual, que pode ser evitada a partir de educação sexual. Em acordo com toda essa discussão, torna-se necessário ter programas de prevenção da gravidez na adolescência e auxílio a adolescentes grávidas e mães solo. As secretarias de saúde devem atuar juntos às escolas, em parceria com outros agentes da comunidade que podem ajudar a diminuir o conservadorismo, os tabus e os preconceitos. O quadro só pode melhorar com a expansão do conhecimento sobre essa temática.
[1] https://bvsms.saude.gov.br/01-a-08-02-semana-nacional-de-prevencao-da-gravidez-na-adolescencia/#:~:text=Segundo%20a%20Organiza%C3%A7%C3%A3o%20Mundial%20de,com%20400%20mil%20casos/ano
[2] COVID-19: CRISE DE ANSIEDADE AFETARAM 63% DOS JOVENS NO ÚLTIMO SEMESTRE. Nações Unidas Brasil, 2022. Disponível em: <https://brasil.un.org/pt-br/201139-covid-19-crises-de-ansiedade-afetaram-63-dos-jovens-no-%C3%BAltimo-semestre>. Acesso em: 28 de março de 2023.
[3] DIAS, A. C. G. TEIXEIRA, M. A. P. Gravidez na adolescência: um olhar sobre um fenômeno complexo.2010. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/paideia/v20n45/a15v20n45.pdf>. Acesso em: 31 de setembro de 2023.
*Joice Rocha Da Cruz e Leonel Lemes Pereira são acadêmicos da Licenciatura em Educação do Campo (LEC), curso ofertado pela Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM) e produziram este artigo de opinião na disciplina Diversidade e Educação, ofertada no segundo semestre de 2022 (janeiro a junho de 2023). Foram orientados pelo professor Carlos Henrique Silva de Castro.