Por Claudiana Aparecida de Paula [1]
Desde a infância, sempre morei em área rural, no povoado nomeado como Canavial, no município da cidade de Santo Antônio do Itambé, Minas Gerais. Antes de seis anos, eu já frequentava a escola, não formalmente, mas como acompanhante de minha irmã mais velha, Graciele Ferreira, que não gostava de ir para a escola. No período em Graciele estudava, eu ficava dentro da sala folheando alguns livros infantis, observando as imagens que tinham neles. Um dos primeiros livros que tive contato, e lembro bem, foi “João e o pé de feijão” e a “Menina bonita dos laços de fitas”.
Enquanto minha irmã estava sendo alfabetizada, comecei querer aprender também, entretanto, eu não podia participar da aula como os outros alunos. A professora, então, doou-me alguns materiais, como gibis, canetinhas, giz de cera, dominó com números ou com letras do alfabeto para que eu desenvolvesse algumas atividades, não avaliativas. Meu interesse foi aumentando cada vez mais.
Em casa, pedia ajuda aos meus irmãos mais velhos com o alfabeto. A partir daí, aguardava ansiosamente a oportunidade de ingressar regularmente na escola. Com sete anos, aconteceu o que eu mais queria: enfim fui matriculada na escola. Devido à trajetória anterior, tive mais facilidade na alfabetização do que meus demais colegas.
Desde o início do meu primário até a quarta série, estudei com apenas uma professora a cada série. Recordo-me constantemente das minhas queridas professoras, que à época chamávamos de “tia’’. Tia Rosângela, tia Vanir, tia Rosilene e tia Marilene. Sempre as considerei de suma importância em minha vida, pois era na escola que eu mantinha um contato diário com professores, colegas e as serventes, que também foram significativas em minha vida. Cresci ouvindo meus pais dizerem que “a educação vem do berço”, ou seja, que o respeito e os bons costumes devem ser aprendidos em casa. Recebi apoio para estudar de meus pais, Inedina Vitorina e José Anselmo, que sempre me incentivavam para que eu continuasse a seguir em frente. Rosângela foi a professora que me alfabetizou, e, juntamente com as outras professoras, fui desenvolvendo outras práticas de letramento, processo lento e complexo de compreender o mundo.
Com o passar dos anos, fui transferida para a Escola Estadual Alcebíades Nunes, na cidade de Santo Antônio do Itambé, onde estudei as séries finais do Ensino Fundamental II e o Ensino Médio. Durante esse período, tive uma visão diferenciada do mundo, porque eram ambientes novos. Fui conhecendo novas pessoas professores e colegas e, com isso, fui fazendo novas amizades e aprendendo diversos conhecimentos. Ao finalizar o Ensino Médio, tive interesse em fazer alguns cursos profissionalizantes, por isso fiz o curso de Magistério, no ano de 2016, uma forma que encontrei de continuar centrada nos estudos. Então, no ano de 2018, ingressei no curso de Licenciatura em Educação do Campo, na UFVJM, estruturado com a Pedagogia da Alternância. Essa é uma forma de ensino contextualizado, disposto de maneiras alternativas: no Tempo Universidade e Tempo Comunidade. Assim, os estudantes conciliam os conhecimentos acadêmicos com a realidade das suas comunidades, de seus territórios. E esse curso nos possibilita o trabalho com os conhecimentos científicos juntamente com os conhecimentos populares.
Em minha percepção, a cada etapa de nossas vidas, temos uma nova maneira de ver o mundo. O tempo e o espaço fazem com que vivenciemos novas experiências e diferentes conceitos. E todo aquele conhecimento que aprendemos no primário se torna um alicerce para as nossas vidas futuras. Esse conhecimento vem sendo aprimorado a cada vez que conseguimos fazer uma leitura crítica do mundo.