A Escola Estadual Professor Leopoldo Pereira e a pandemia: a voz da direção

A Escola Estadual Professor Leopoldo Pereira e a pandemia: a voz da direção

Por Izabela Pilar Alves Ferreira [1]

Este é um relato produzido a partir de um questionário semiestruturado respondido pelo diretor responsável pela Escola Estadual Professor Leopoldo Pereira, situada no município de Milho Verde, o Professor Maycon de Souza Ferreira. O questionário teve como objetivo obter algumas informações sobre o funcionamento da escola na pandemia. 

O Professor Maycon atua há 1 ano e 6 meses como diretor da escola e, antes de exercer a função, foi docente. Maycon é licenciado em geografia e mestre em Estudos Rurais pela UFVJM. O quadro de funcionários de sua escola é composto por 25 professores, 1 secretário, 1 supervisor, 7 auxiliares de limpeza, 1 diretor e 1 vice-diretor, com o número total de 345 alunos matriculados.

Milho Verde, distrito pertencente à cidade de Serro-MG, é um vilarejo que conta com uma população com menos de 3.000 mil habitantes. A referida escola funciona no modelo rural/campo nucleada e atende comunidades que chegam a um raio de quase 30 km da sede da escola, onde existe uma grande diversidade cultural, econômica e social. A escola recebe estudantes de aproximadamente 14 comunidades rurais que são: Milho Verde, Barra da Cega, Boqueirão, Macacos, Ausente de Baixo, Ausente de Cima, Três Barras, Lavoura, Chico Prata, Capivari, Amaral, Serra Da Bicha, Jacutinga e Vargem Do Breu.

Segundo o diretor, o Regime Especial de Atividades Não Presenciais (REANP) foi uma estratégia da Secretaria Estadual de Educação (SEE) – MG de mitigar os impactos pedagógicos e sociais provocados pela pandemia da Covid 19. Nesse sentido, o REANP cumpriu em partes sua proposta. Para Maycon, o maior desafio foi se adequar a um novo modelo o qual não estávamos preparados, com problemas como o acesso aos meios virtuais e outros. Contudo a escola se viu na necessidade de criar meios e estratégias para atender as demandas que surgiram. Os professores, então, tomaram como ponto de partida a leitura e estudo das orientações da SEE-MG e da Secretaria Escolar Digital (SED) – Diamantina. Desde então, o trabalho em equipe tem sido feito através de reuniões virtuais, com intuito de alinhar as estratégias semanalmente.

O diretor ainda diz que sua percepção final sobre o REANP-MG teve sim muitas falhas, mas foi a solução para que os estudantes não ficassem ainda mais prejudicados com toda essa situação que estamos vivendo. Sobre a merenda escolar, o diretor informa que, no início, não tinha muita informação de como proceder. No entanto, o governo de Minas Gerais providenciou a distribuição de kits de merenda, quando a escola trabalhou em parceria com a Secretaria Municipal de Educação da cidade de Serro.

O diretor destacou o cuidado das políticas públicas no processo de aquisição de merenda, com produtos alimentícios da agricultura familiar local, de acordo com as estratégias PNAE (Programa Nacional de Alimentação Escolar). Os alimentos que compuseram os kits entregues foram farinha, fubá, rapadura, tempero, colorau, entre outros. 

O diretor finaliza dizendo “Agora que a vacina está sendo liberada, temos uma pequena parcela de esperança que um dia as aulas possam voltar para o seu modo presencial, e que as aulas remotas possam ficar em segundo plano, ou até mesmo paralela a realidade rural, pois está sendo um grande desafio. Vamos continuar fazendo o nosso dever como cidadãos, contribuindo para uma educação e uma sociedade melhor no futuro”.

[1] Izabela é estudante da Licenciatura em Educação do Campo (LEC), da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM). Este relato foi produzido a partir de pesquisa supervisionada pelo professor Vítor Sousa Dittz, da Escola Estadual Professor Leopoldo Pereira, e orientada pelo professor Carlos Henrique Silva de Castro, da UFVJM, no âmbito do PIBID-UFVJM.

Agradecimentos aos estudantes-sujeitos e suas famílias, bem como ao diretor da E. E. Professor Leopoldo Pereira, o professor Maycon Souza.

Ensino remoto, educação no campo e acesso à internet

Ensino remoto, educação no campo e acesso à internet

Por Adelaine Aparecida Santos [1]

Este é um relato sobre a percepção de duas alunas de uma escola do campo sobre o ensino remoto, em vigor durante a pandemia. As informações foram baseadas em entrevistas realizadas via WhatsApp. As entrevistadas residem na zona rural do município do Serro, no Alto do Jequitinhonha, em Minas Gerais e seus nomes serão preservados.

As entrevistadas estudam na Escola Estadual Professor Leopoldo Pereira, localizada no distrito de Milho Verde, que atende aproximadamente 400 alunos. Essa é uma escola nucleada rural, o que significa que existe uma sede no distrito e outros prédios sob a mesma direção em comunidades rurais. Assim, atende a diversas comunidades vizinhas como Ausente, Barra da Cega, Capivari, Jacutinga, Serra da Bicha, Colônia, Chico Prata, Chacrinha, Três Barras e a própria comunidade de Milho Verde. Cerca de 75 por cento dos alunos utilizam transporte escolar, sendo que alguns residem próximo e outros em localidades mais distantes.

A primeira entrevistada reside na comunidade quilombola do Ausente, juntamente com sua avó e mais dois parentes. Sua mãe é cuidadora de idosos e possui curso superior completo. A estudante trabalha em casa ajudando sua avó nos afazeres domésticos. É uma jovem estudiosa. Para chegar até a escola utilizava, em tempos de ensino presencial, o transporte escolar, que levava em média uns 45 minutos na estrada. Seu maior sonho é ter um trabalho digno e entrar em uma universidade de fisioterapeuta. Esse desejo, de certa forma, vem da vontade de seguir os passos da mãe.

A segunda entrevistada reside na comunidade de Milho Verde com seus pais e dois irmãos. Ela caminha vinte minutos para chegar à escola.  Sua mãe é agricultura e o pai é pedreiro. Ambos fizeram o ensino fundamental.

Durante este período de pandemia e isolamento, as famílias das entrevistadas estiveram ocupadas no plantio de lavoura em suas terras. Na primeira família, ninguém recebeu nenhum tipo de ajuda financeira do governo, já na segunda família duas pessoas receberam o benefício Auxílio Emergencial.

As entrevistadas afirmaram que antes da pandemia, além dos estudos em casa, ainda tinham os deveres e os trabalhos que faziam com que estudassem por mais tempo. Ambas também relataram que no ano letivo de 2020 elas não fizeram a prova do Enem, mas se dedicaram aos estudos de uma a duas horas por dia, para dar conta de fazer todas as atividades.

As estudantes utilizam a internet no próprio celular para estudar, sendo que a primeira entrevistada usa dados móveis, já que não possui internet em casa. Estuda aproximadamente uma hora por dia. A segunda entrevistada utiliza o celular para acessar a internet e redes sociais também, mas tem wi-fi em casa, o que lhe garante melhor qualidade de internet. Atualmente ela trabalha como babá de segunda à sábado, das 7 às 18 horas. Estuda em média 2 horas por dia fazendo as questões das apostilas enviadas pela escola. Sua matéria preferida é língua portuguesa e seu maior sonho é fazer faculdade de enfermagem ou psicologia.

É importante destacar que neste momento em que a comunidade escolar passa por novos processos educativos, em decorrência da pandemia do covid-9, a Secretaria de Educação de Minas criou uma metodologia de ensino e o material denominados REANP (Regime Especial de Atividades Não Presenciais). Essa metodologia possui seus pontos positivos e negativos. Com ela, os estudantes passaram a estudar em casa, através do Plano de Estudo Tutorado-PET, que consiste em atividades impressas em apostilas que são entregues pela escola. Trata-se de apostilas que são entregues mensalmente nas próprias comunidades, para que os estudantes não tenham que se deslocar até a escola. As entrevistadas afirmaram que as questões das apostilas são complexas e alguns conteúdos de difícil entendimento. Criou-se também o programa de TV “Se Liga na Educação”, exibido na TV e no Youtube além do aplicativo Conexão Escola. No entanto esses são meios tecnológicos que a maioria dos estudantes não conseguem ter acesso, ora por falta de créditos no celular pré-pago, ora pela qualidade ruim da internet, segundo o relato das entrevistadas e minhas vivências no município.

Em relação à percepção sobre o REANP, a primeira aluna afirma que alguns conteúdos são fora do contexto e que as atividades são muito complexas. Além do difícil acesso à internet, que dificulta o acesso aos programas do Youtube e às pesquisas de forma geral, ela acha que os conteúdos dos PETs são em grandes quantidades e que há pouco tempo para se aprofundar. Com o que concorda a segunda entrevistada que diz que sua dificuldade foi conseguir aprender e finalizar as apostilas com os prazos dados. Reclamou também da falta de acompanhamento dos professores.

Para ambas, o novo método foi uma grande mudança. A primeira entrevistada opina que o REANP é um método razoável para dar continuidade ao ensino durante este tempo de pandemia e isolamento social. A segunda entrevistada, que estava no terceiro ano no momento da entrevista, pontua que mesmo se formando através das apostilas, acredita não ter bagagem em termos de conteúdo e afirma ter aprendido pouco com os PETs. Perguntadas sobre o maior problema do REANP, afirmaram que foi a falta de acompanhamento dos professores e a adaptação aos meios tecnológicos.

Sabemos que o ensino remoto foi um projeto de emergência para suprir a demanda do processo de ensino aprendizagem em casa. No entanto, a partir das entrevistadas e de observações pessoais de todo o cenário educacional na pandemia, notamos que os professores, alunos e pais não receberam muito bem as novas metodologias e ainda estão se adaptando. É um processo novo que leva tempo. Através desta pesquisa, mesmo sendo com duas estudantes apenas, ficou claro que os alunos do campo receberam o REANP sem uma estrutura adequada de acesso à rede de internet com qualidade, como também houve dificuldades em relação aos conteúdos e metodologias.

[1] Adelaine é estudante da Licenciatura em Educação do Campo (LEC), da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM). Este relato foi produzido a partir de pesquisa supervisionada pelo professor Vítor Sousa Dittz, da Escola Estadual Professor Leopoldo Pereira, e orientada pelo professor Carlos Henrique Silva de Castro, da UFVJM, no âmbito do PIBID-UFVJM.

Agradecimentos aos estudantes-sujeitos e suas famílias, bem como ao diretor da E. E. Professor Leopoldo Pereira, o professor Maycon Souza.

As percepções de estudantes de São Gonçalo do Rio das Pedras e Capivari sobre o REANP

As percepções de estudantes de São Gonçalo do Rio das Pedras e Capivari sobre o REANP

Por Taliele Santana Higino [1]

Este texto resulta de uma pesquisa realizada com alunos da Escola Estadual Leopoldo Pereira, localizada na comunidade de Milho Verde, e com alunos da Escola Estadual Mestra Virginia Reis, localizada na comunidade de São Gonçalo do Rio das Pedras, ambas no município de Serro/MG. A metodologia utilizada foi a aplicação de uma entrevista semiestruturada a partir de temas como: perfil socioeconômico, perfil dos estudantes, perspectivas para o futuro e a percepção sobre o REANP. O propósito das entrevistas foi compreender a forma como os alunos do ensino médio dessas escolas do campo percebem essa nova modalidade de ensino não presencial, suas consequências e impactos em suas aprendizagens.

O material coletado para o estudo, por meio de entrevistas com três estudantes, permitiu analisar as informações que o questionário propunha obter. Nas entrevistas, o WhatsApp foi o principal meio de comunicação. Dois alunos, um menino e uma menina, moram na comunidade de Capivari e relataram que, no período pré-pandemia, no ensino presencial, uma das suas dificuldades para estudar era ter que acordar cedo e pegar o ônibus escolar, sendo que grande parte do percurso não é pavimentado e o percurso leva em torno de 30 minutos mais ou menos, já que a escola fica em Milho Verde. Já o terceiro estudante entrevistado mora na comunidade de São Gonçalo do Rio das Pedras e leva de 10 a 15 minutos para chegar até sua escola, a Escola Estadual Mestra Virginia Reis.

Os alunos de Capivari acessam a internet pelo celular, pois a comunidade não possui antena de internet; já o aluno de São Gonçalo acessa internet na rede wi-fi. Os pais dos três alunos entrevistados receberam o auxílio emergencial e recebem Bolsa Família. Os pais de Capivari estudaram até o 5º ano no ensino fundamental, já suas mães chegaram a estudar até o ensino médio. Quanto aos pais de São Gonçalo do Rio das Pedras, ele tem ensino médio completo e ela tem ensino superior.

Os três entrevistados gostam de estudar e afirmaram que mesmo no período de pandemia, além de frequentarem às aulas, estudavam em média três vezes na semana, cerca de uma hora por dia. Em época de prova estudavam mais tempo. As matérias favoritas variam entre português, biologia e geografia. Os alunos possuem o hábito de utilizar a internet como ferramenta para estudar para as provas, fazer as atividades de pesquisas e atividades de casa. Relataram que depois que se formarem no ensino médio pretendem fazer faculdade. A aluna de Capivari relatou que seu sonho é fazer Veterinária, pois gosta dos animais. O aluno de Capivari pretende fazer faculdade de psicologia para ajudar as pessoas que têm doenças mentais e o aluno de São Gonçalo pretende fazer medicina.

A opinião dos três entrevistados sobre o Plano de Estudos Tutorados (PET) não foi tão positiva, pois relataram que estudar em casa sem a ajuda dos professores não foi uma boa ideia e o processo foi muito difícil. Segundo a aluna, “…na escola, com os professores, já era difícil. Imagina sem as explicações! Assim o aprendizado acaba ficando a desejar”. Assim, a maior dificuldade encontrada pela estudante foi fazer as atividades sem ter a presença de um professor por perto para estar explicando passo a passo de como são feitas as atividades, como ocorre dentro da sala de aula.

De acordo com os entrevistados de Capivari, o que poderia ter mudado nos PETs são os exemplos e as explicações de como fazer as atividades, que deveriam ser mais bem contextualizadas. Também afirmaram que a comunicação entre eles e os demais alunos fluiu bem através do grupo da sala pelo WhatsApp, ambiente onde muitas atividades foram feitas com ajuda dos colegas.

Os três estudantes consideraram o ano escolar letivo muito difícil, por não irem para as escolas e por não compartilharem dos conhecimentos dos professores. Para o ano que se inicia, esperam que tudo possa voltar ao normal, com o fim da pandemia e com a volta das aulas presenciais.

Através deste relato, concluímos que problemas como o acesso precário à internet e o grau de escolaridade dos pais influenciaram na aprendizagem dos alunos entrevistados nesse período. Contudo, a maior dificuldade encontrada foi a ausência do ensino presencial juntamente com o acompanhamento dos professores, assim como a metodologia utilizada na apresentação dos conteúdos.

[1] Taliele é estudante da Licenciatura em Educação do Campo (LEC), da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM). Este relato foi produzido a partir de pesquisa supervisionada pelo professor Vítor Sousa Dittz, da Escola Estadual Professor Leopoldo Pereira, e orientada pelo professor Carlos Henrique Silva de Castro, da UFVJM, no âmbito do PIBID-UFVJM.

Agradecimentos aos estudantes-sujeitos e suas famílias, bem como ao diretor da E. E. Professor Leopoldo Pereira, o professor Maycon Souza.