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Marina Nogueira de Sousa, Grão Mogol/MG
Meu nome é Marina. Sou a filha caçula de cinco filhos que minha mãe gerou. Como minha mãe ficou viúva muito cedo, teve que trabalhar muito para cuidar dos filhos. Meus quatro irmãos não tiveram a oportunidade de estudar, pois precisavam ajudar na renda da família. Além disso, a escola era muito longe de casa e não havia transporte escolar. Por isso, em casa, não havia nenhum meio de aprendizagem, nem livros, jornais ou revistas.
Nós morávamos na roça. A vida era bem precária. Na minha casa, não havia energia elétrica nem água encanada. O que me lembro é do meu avô, que sempre colocava um disco no toca-discos antigo para ouvir música e dançar. Assim, dentro de casa, nem nos vizinhos, havia meios de aprendizagem.
Quando eu tinha 7 anos, pedi à minha irmã que me matriculasse na escola, que nessa época já era próxima de casa, a cerca de uma hora de viagem todos os dias. Ao chegar à escola, eu não sabia nada. Lembro das letras do alfabeto pregadas na parede, e a professora batia a mão em cima da letra e falava: “A, B, C”, e assim por diante.
Na escola em que estudei os anos iniciais, chamados de ensino fundamental, a professora me excluía. Não sei ao certo o motivo, se era pela condição financeira, pela cor ou até mesmo por ter muitas dificuldades de aprendizagem. Sinto que isso me prejudicou muito até hoje, pois não me sinto segura para realizar algumas atividades.
A caminhada até a escola era muito complicada. Quando o rio enchia, não havia como ir para a escola, então eu tinha muitas faltas. Na escola, não havia biblioteca; existiam alguns livros, como “João e o Pé de Feijão” e outras histórias infantis, que eu gostava muito. Vejo que a leitura é o divisor de águas na vida de um estudante; como não tive essa base, me sinto muito prejudicada.
Ao iniciar a quinta série em uma escola maior, lá já havia uma biblioteca, e as coisas começaram a mudar para mim. Existiam professores que incentivavam a leitura e a escrita. Com a vida adulta e após tentar alguns trabalhos, percebi a falta que faz não ter uma boa base de leitura. Já a matemática básica, usada no dia a dia, me serviu muito, pois sei o básico que se usa na rotina.
A diferença que senti do ensino básico para a faculdade é que há muito material para ler, e a leitura está interligada à aprendizagem. Com o tempo curto e muito material a ser trabalhado, o essencial é criar rotinas de estudo e um cronograma para poder compreender. A linguagem acadêmica é muito diferente da clássica. A disciplina ou gênero que mais gostei até hoje foi a História da Educação. O conteúdo em que sinto que fiquei defasada é o da língua portuguesa, como pontuação, adjetivos, entre outros.
Minha vida financeira é bem complicada; não tive base para administrar bem minhas finanças. Não culpo a matemática, pois sou responsável pelos meus atos. Não me recordo de ter tido aula de finanças na escola, mas vejo a importância dela para formar cidadãos prontos para organizar sua vida financeira.
Enfim, apesar de todos os traumas acima relatados, sofrimentos e rejeições, me sinto uma vencedora por estar na minha segunda graduação.
SOBRE A AUTORA:
Marina Nogueira de Sousa, de Grão Mogol/MG, é acadêmica da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), onde cursa Pedagogia. Produziu este relato na disciplina Práticas de Leitura e Produção de Textos, ofertada de julho a novembro de 2024.
A orientação deste trabalho e a organização do e-book foram realizadas por Carlos Henrique Silva de Castro, Kátia Lepesqueur e Virgínia Batista.