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Elaine Pereira de Sousa, Pedra Azul/MG
Meu primeiro contato com material escolar aconteceu quando eu era uma criança de seis anos. Filha de pais analfabetos, minha mãe precisou fazer um tratamento de saúde em São Paulo e ficamos hospedadas na casa de uma tia, onde meu primo estava começando a dar seus primeiros passinhos no mundo literário. Nesse primeiro momento, tive acesso a recortes de revistas, desenhos e letras para colorir, pequenos livros de contos e histórias; conheci também a TV e o teatro.
Ao retornar para minha fazenda natal em Minas Gerais, fui matriculada em uma escolinha da zona rural. Parecia uma casinha simples feita de pau a pique; a sala de aula era multisseriada, com uma professora à moda antiga. Ela carregava uma vara enorme, utilizada para apontar o conteúdo no quadro negro e também para bater nas carteiras, fazendo um barulho chato para chamar nossa atenção.
Meu caminho para a escola era cansativo, mas também divertido. Todos os dias, acordava bem cedinho com o cantar do galo e o cheirinho de café feito no fogão a lenha. Era um percurso de cinco quilômetros; meu maravilhoso pai me levava todos os dias montada em um jumentinho. No caminho, cantávamos, ríamos, contemplávamos a natureza e chorávamos também. É claro que havia dias mais difíceis.
Na segunda série, tive o privilégio de conhecer o carinhoso tio Joaquim, um professor dedicado que não media esforços para ensinar. Assim, apaixonei-me pela escola e todo o seu conteúdo. Os recursos na zona rural eram bem limitados, então eu aproveitava as aulas prestando bastante atenção e, em casa, brincava de escolinha, utilizando as paredes da minha casa e carvão vegetal para reproduzir os ensinamentos aprendidos. Brincava também de escrever na areia e nas árvores.
Meu primeiro contato com matemática — somar e dividir — foi na escola. Logo colocamos isso em prática. No caminho, havia uma vendinha onde eu e uma colega comprávamos balas e nos sentávamos no chão dizendo: “uma para você, uma para mim”. No final, contávamos quantas balas restavam para cada uma. Assim, fomos aprendendo. Nesse mesmo período, tive contato com dinheiro, mas lembro que, no início, reconhecia as cédulas pelos animais ali representados.
Meus pais, embora analfabetos, foram fundamentais para minha formação. Sempre ao meu lado, minha mãe fazia questão de sentar à mesa e acompanhar o fazer do dever de casa. Embora não soubesse me ensinar, eu guardo com orgulho esse apoio moral. O cansaço de toda a jornada escolar, as horas em um ônibus, morar longe de meus pais e conciliar trabalho com os estudos à noite no ensino médio não me ajudaram muito. Eu realmente passei a me apaixonar por ler livros em 2015, quando fui apresentada a eles por uma amiga de trabalho.
Nesse mundo rico em saber, com infinitas possibilidades de um novo dia, quero continuar no meu caminho, buscando cada vez mais e aproveitando cada chance para dar um passo mais alto.
SOBRE A AUTORA:
Elaine Pereira de Sousa, de Pedra Azul/MG, é acadêmica da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), onde cursa Pedagogia. Produziu este relato na disciplina Práticas de Leitura e Produção de Textos, ofertada de julho a novembro de 2024.
A orientação deste trabalho e a organização do e-book foram realizadas por Carlos Henrique Silva de Castro, Kátia Lepesqueur e Virgínia Batista.