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Luana Lopes Gonçalves Cangussu, Teófilo Otoni/MG
Nasci em Teófilo Otoni-MG, onde também fui criada, filha de mãe solteira e com dois filhos. Meu irmão é três anos mais velho do que eu. Meus primeiros contatos com as letras foram através dos livros e cadernos dele (ele ficava uma arara quando eu os pegava para folhear).
Lembro-me de achar interessantíssimas as letras, as curvaturas, as voltas, os entrelaçados nas folhas amareladas e manchadas pelo uso e desgaste do tempo. Também me lembro de que minha mãe tinha uma caderneta azul, que ela usava como caderno de receitas. Morávamos na casa dos meus avós. Minha avó é evangélica e sempre lê a Bíblia. Eu ficava observando-a ler com tanto apreço e atenção aquelas pequeninas palavras, e me encantava, ficando muito eufórica, esperando o dia em que chegaria a minha vez de ler tais palavras. Sempre fui muito curiosa e observadora e, com esses atos, aprendi muito.
Bom, os anos se passaram e, finalmente, aos 6 anos, fui matriculada na escola. Maravilhada com o mundo mágico e novo, comecei a estudar. Engraçado como são as nossas lembranças: neste exato momento em que escrevo, sinto a mesma emoção e sensação do meu primeiro dia de aula. Alegria e euforia eram os sentimentos que me consumiam. Que coisa mágica! Me emocionei agora!
Amava muito a escola; era o melhor lugar do mundo para mim. Eu fui uma criança feliz por ir à escola. Gostava da escola, das professoras. Cada história contada ali era um mundo mágico e colorido na minha mente. Sempre tive muita imaginação. Me recordo de que, a cada conto das minhas professoras, eu me via em cada uma das histórias, como se fizesse parte delas. No meu primeiro ano escolar, tive professoras muito especiais, e muitas delas guardo no coração até hoje. Ora ou outra encontro algumas delas, sempre muito carinhosas comigo.
Eu tinha anquiloglossia (língua presa) e dificuldade em pronunciar algumas palavras. Minha mãe dizia que ia me tirar da escola e me colocar em algum lugar especializado para que eu melhorasse a fala. Eu logo me amedrontei e fiquei apavorada. Com o carinho e cuidado da minha professora de português, Eliana, consegui pronunciar as palavras de forma correta e melhorei minha fala.
Com todo esse amor pela escola, pelas palavras e pelo conhecimento, em casa não poderia ser diferente. Eu brincava de escolinha com meus primos; eu era a professora. Sobrava até para os adultos lá de casa. Meu avô era analfabeto — ele já faleceu. Ele queria muito aprender a escrever seu nome completo, e tenho muito orgulho em dizer que, com essa brincadeira, eu o ensinei a escrever seu nome completo (me emocionei agora). Ensinei letra por letra até que ele conseguisse formar seu nome completo: Sebastião Lopes de Souza. Quanta saudade!
Mas não parei por aí. Me lembro de que, já no ensino médio, estudava de manhã, mas, algumas vezes na semana, ia à escola à tarde para ajudar minha professora com o pré-escolar. Eu gostava, e parece que já estava adivinhando que, anos depois, cursaria uma licenciatura na área de educação. Licenciatura pela qual tenho o maior orgulho, e digo isso porque venho de uma família humilde. Hoje tenho 35 anos, e essa é a minha primeira licenciatura. Logo que me formei no ensino médio, minha mãe não tinha condições de pagar uma faculdade para que eu pudesse estudar. Quando comecei a trabalhar, surgiram as responsabilidades da vida adulta, e eu não consegui pagar uma faculdade. Quando fiz o vestibular pela UFVJM e passei, foi uma grande alegria. Muita emoção e gratidão.
SOBRE A AUTORA:
Luana Lopes Gonçalves Cangussu, de Teófilo Otoni/MG, é acadêmica da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), onde cursa Pedagogia. Produziu este relato na disciplina Práticas de Leitura e Produção de Textos, ofertada de julho a novembro de 2024.
A orientação deste trabalho e a organização do e-book foram realizadas por Carlos Henrique Silva de Castro, Kátia Lepesqueur e Virgínia Batista.