Descobrindo o mundo das letras

Jessica

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Jessica Yasmini Silva, Pedra Azul/MG

Minha jornada estudantil começou com um misto de curiosidade e encantamento. As primeiras letras que aprendi eram como pequenos segredos, cada uma com seu próprio som, forma e magia. Tinha uma tia dedicada que me guiou pelos caminhos das palavras, transformando o aprendizado em um jogo divertido, onde cada nova letrinha descoberta era uma vitória.

Na minha família, além da minha tia, contava com tios professores que tiveram um papel fundamental na minha educação. Em casa, a sala de estar se transformava em uma sala de aula improvisada, onde os dois irmãos se uniam para ensinar. O conhecimento parecia estar no ar, pronto para ser absorvido.

Aprender com eles não era uma obrigação, mas um privilégio. Isso me ajudou muito com o início da alfabetização, sempre com muitos livros por perto. Um dos momentos mais marcantes da minha infância foi quando li meu primeiro livro sozinha. Lembro-me de como cada palavra parecia ganhar vida à medida que as lia em voz alta. Meus tios celebravam cada frase completa como se eu estivesse conquistando uma nova etapa do aprendizado. Foi ali que descobri o poder das histórias e como as palavras podiam criar mundos inteiros.

Hoje, olhando para trás, vejo como minha infância foi profundamente marcada pela educação. Meus tios plantaram em mim a semente do amor pelo conhecimento. Cada lição, cada história, cada desafio vencido moldou não apenas minha trajetória acadêmica, mas também quem eu sou como pessoa. A educação que recebi foi um verdadeiro presente, um legado que carrego comigo até hoje.

À medida que cresci, o desejo de aprender só aumentou. A educação recebida em casa serviu como um alicerce sólido sobre o qual construí minha trajetória acadêmica. Lembro-me de como aprendi a contar de forma lúdica e gradual. Os números, no início, eram pequenos enigmas que eu descobria pouco a pouco. Minha mãe e tios usavam brinquedos e objetos do cotidiano para me ensinar a contar. A contagem de brinquedos, passos e até mesmo as páginas dos livros tornava-se uma atividade divertida. Quando cheguei à escola, já conseguia contar até 20 sem grandes dificuldades, e esse conhecimento básico me deu uma boa base para iniciar minha jornada matemática formal.

Quanto ao reconhecimento de dinheiro, minhas primeiras memórias são um pouco vagas, mas lembro-me de que meus pais me mostravam moedas e cédulas, explicando seu valor e como usá-los para comprar coisas. Inicialmente, o conceito de dinheiro parecia abstrato, mas, com o tempo e a prática, comecei a entender seu valor real. Percebi que as moedas e as cédulas tinham diferentes valores usados para adquirir bens e serviços, e essa compreensão se desenvolveu à medida que participava das compras e via como o dinheiro facilitava a troca de produtos.

Com tudo que aprendi com familiares e professores, comecei a entender operações básicas como soma e subtração. Na escola, fiz minhas primeiras adições e subtrações com a ajuda de fichas e desenhos, que tornavam esses conceitos mais concretos. Meus tios também ajudavam em casa, usando jogos matemáticos que tornavam o processo mais envolvente. A transição para problemas matemáticos mais complexos na escola foi desafiadora, mas, com o suporte constante dos meus professores e da minha família, consegui superar as dificuldades iniciais.

A colaboração entre a escola e a família foi crucial para meu desenvolvimento matemático. Em casa, o aprendizado era muitas vezes informal e integrado às atividades diárias, como fazer contas enquanto auxiliava nas compras ou resolver pequenos desafios matemáticos durante os jogos. A abordagem prática e envolvente dos meus pais e tios ajudou a construir uma base sólida e a tornar o aprendizado matemático uma parte natural da minha vida. Na escola, os professores complementavam esse aprendizado com métodos mais formais e estruturados. A combinação de diferentes estratégias, como o uso de materiais didáticos e a resolução de problemas, ajudou a consolidar os conceitos matemáticos. A escola também ofereceu um ambiente de socialização onde pude aprender com os colegas e participar de atividades que tornavam a matemática mais atraente e significativa.

Com a escola e o estudo em casa, comecei a desenvolver um gosto pelo aprendizado. Lembro-me de que meus pais e tios me incentivavam a “escrever” usando lápis e papel, muitas vezes tentando reproduzir letras que eles me mostravam. Naquele tempo, meus “textos” eram simples rabiscos e letras imprecisas, mas já era um começo interessante. Eu tinha cerca de 4 ou 5 anos quando comecei a explorar essas primeiras tentativas de escrita. Escrever era mais um jogo do que uma tarefa, e eu estava mais interessada em imitar o que via do que em produzir algo compreensível.

A experiência de escrever na escola foi emocionante e desafiadora. Lembro-me de como era gratificante ver minhas primeiras palavras e frases ganhando forma e de como os professores estavam sempre prontos para me encorajar. Eu era muito motivada a escrever, principalmente porque via a escrita como uma forma de expressar minhas ideias e sentimentos. Escrever pequenas histórias, listas e até mesmo diários era uma parte significativa da minha rotina escolar.

Nos primeiros anos da escola, escrevia sobre temas simples, como meus brinquedos favoritos, minhas férias e minhas atividades diárias. Esses textos eram curtos e muitas vezes consistiam em frases simples, mas eram extremamente importantes para mim. Escrever sobre o que eu conhecia e amava tornava o processo mais envolvente e divertido. Lembro que os professores me incentivavam a expressar minha criatividade e a experimentar diferentes tipos de textos. No começo, escrevia principalmente descrições de coisas do meu cotidiano e pequenos contos que criava a partir da minha imaginação. Gradualmente, à medida que ganhava mais confiança e habilidades, comecei a explorar outros formatos de escrita, como cartas, poemas e narrativas mais elaboradas.

Participar de atividades de escrita criativa e ver meus textos exibidos na sala de aula ou compartilhados com meus colegas foi uma grande fonte de orgulho e incentivo para mim. A escola ofereceu um currículo que incluía a prática constante da escrita, o que ajudou a solidificar os fundamentos que eu já havia começado a explorar em casa. Além disso, as atividades de escrita em grupo e as discussões em sala de aula enriqueceram minha experiência e expandiram minha compreensão da escrita como uma forma de comunicação e expressão.

Lembro de histórias que marcaram o início dessas experiências, como contos de fadas, fábulas e histórias ilustradas, adaptadas para minha faixa etária. Livros como “O Pequeno Príncipe” e “A Turma da Mônica” não apenas me divertiam, mas também começavam a ensinar lições sobre o mundo e sobre como expressar minhas próprias ideias. Na produção de textos, escrevia pequenos contos, descrições sobre meus brinquedos e relatos das minhas férias. Os professores incentivavam a criatividade, e frequentemente participávamos de projetos que envolviam a criação de histórias em grupo. Sempre usávamos a biblioteca da escola, onde eu podia mergulhar em diferentes mundos literários e encontrar materiais para meus projetos escolares. Frequentar a biblioteca também ajudava a cultivar o hábito da leitura e proporcionava uma sensação de autonomia na escolha do que ler.

Com o tempo, o ensino médio trouxe mudanças significativas. A escrita passou a envolver argumentação e análise crítica, exigindo maior rigor e estrutura. Essa mudança foi acompanhada por uma crescente apreciação pelo poder da escrita como ferramenta para influenciar e comunicar de maneira eficaz. Da mesma forma, a matemática no Ensino Médio se integrou em contextos mais complexos, como análise de dados e resolução de problemas práticos em ciências e economia. Essa aplicação prática ajudou a perceber a utilidade da matemática além do ambiente escolar e incentivou uma abordagem mais funcional para o aprendizado dos números.

À medida que avançava para o Ensino Médio e além, percebi que a educação era muito mais do que apenas acumular conhecimento; era sobre desenvolver uma capacidade crítica e uma apreciação profunda pela aprendizagem contínua. As habilidades que construí ao longo dos anos – tanto nas letras quanto nos números – formaram uma base sólida que não apenas me ajudou a ter sucesso acadêmico, mas também me preparou para enfrentar desafios diversos com confiança e criatividade.

A transição da infância para a adolescência trouxe novas responsabilidades e expectativas, mas as lições que aprendi desde cedo permaneceram como um guia constante. O incentivo que recebi da minha família e o suporte dos professores foram fundamentais para me mostrar que aprender é um processo contínuo e que a verdadeira educação é uma jornada de descoberta pessoal e coletiva.

Hoje, ao refletir sobre minha trajetória, sinto uma profunda gratidão por todos que contribuíram para meu desenvolvimento. O amor pela leitura e a paixão pela matemática, que começaram como curiosidades infantis, transformaram-se em ferramentas essenciais para minha vida acadêmica e profissional. Cada etapa dessa jornada me ensinou não apenas sobre o conteúdo que estudei, mas também sobre a importância de ser um aprendiz ao longo da vida.



SOBRE A AUTORA:

Jessica Yasmini Silva, de Pedra Azul/MG, é acadêmica da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), onde cursa Pedagogia. Produziu este relato na disciplina Práticas de Leitura e Produção de Textos, ofertada de julho a novembro de 2024.


A orientação deste trabalho e a organização do e-book foram realizadas por Carlos Henrique Silva de Castro, Kátia Lepesqueur e Virgínia Batista.

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