Sementes de um sonho a caminho da realização

Sementes de um sonho a caminho da realização
Sanny

Os textos publicados individualmente nesta página podem ser lidos reunidos nos volumes da coleção Memórias de Letramentos. Para adquirir seu e-book gratuito ou impresso  pelo preço apenas do serviço de gráfica, clique no banner ao lado ou no fim da página.


Sanny Lopes Paranhos, Capelinha/MG

Nasci em Capelinha, cidade do Vale do Jequitinhonha, localizada no interior de Minas Gerais. Desde criança, sempre tive acesso a livros, revistas e histórias em quadrinhos, na escola, em casa e na igreja. Meu pai sempre incentivou a leitura; a cada oportunidade, comprava livros para mim e para minha irmã. As prateleiras do meu quarto estão recheadas de livros de diversos gêneros, que possuo desde a infância. Lembro-me perfeitamente de quando ganhei minha primeira coleção de Monteiro Lobato, que incluía vários livros narrando as histórias do “Sítio do Pica-Pau Amarelo”.

Eu também tinha o hábito de ler histórias bíblicas. Minha mãe é católica, então eu ia às missas e participava da catequese, onde tinha contato com livros bíblicos infantis e folhetos da igreja. Às vezes, eu também ia aos cultos com minha avó e ficava em uma área direcionada somente às crianças, onde lia a Bíblia e a interpretava.

Tenho boas recordações de quando aprendi a ler e escrever. Lembro-me da “tia” ensinando a escrever as letras com o pontilhado e, depois de um tempo, nos instruindo a fazer as letras cursivas. Foi uma sensação gratificante aprender a escrever a primeira letra do meu nome. Nessa época, comecei a brincar de escolinha com minhas amigas e amava ser professora, ensinando tudo o que aprendi. Inclusive, elas viviam me chamando de professora no dia a dia, porque eu tinha a mania de explicar tudo repetidamente, nos mínimos detalhes, como se estivesse dando uma aula.

Em todas as escolas onde estudei, havia biblioteca com incontáveis livros. Minhas professoras do fundamental I e II sempre nos levavam para ler, e eu tinha o hábito de pegar livros da biblioteca e levá-los para casa. Da mesma forma, eu pegava livros emprestados na biblioteca pública da cidade. Já no ensino médio, as duas escolas em que estudei me incentivaram a realizar leituras mais profundas, como filosofia e sociologia, e assim comecei a ter contato com a redação, com o objetivo de me preparar para o Enem. Desenvolvi a leitura e a escrita de forma mais crítica.

Também no ensino médio, conheci uma colega de turma chamada Raíssa, que amava ler. Assim como eu, havia muitos livros na casa dela, e fazíamos trocas. Ela escrevia poesias e eu acabei desenvolvendo esse costume e comecei a escrever, mas no meu caso eram contos. Eu sempre lia os poemas dela e ela lia os meus contos. Depois que me formei no ensino médio, perdemos o contato e acabei perdendo a prática e parei de escrever histórias.

Eu também fui uma criança que sempre teve contato com TV, DVDs e CDs em casa. Com minha irmã, escutava e assistia clipes de diversas bandas e desenhos animados. Dentre tantos, alguns foram mais marcantes e me impulsionaram a explorar novas línguas, o que se tornou minha paixão. Por exemplo, a Xuxa, que ensinava as letras do alfabeto e números em inglês, cantoras do gênero pop que cantavam músicas em inglês e despertavam minha curiosidade sobre o que elas estavam falando, e a banda/novela RBD, que desencadeou minha paixão pelo espanhol.

Hoje, com 24 anos, estou me graduando em Pedagogia pela UFVJM e em Letras – Português/Inglês pela Uniube. Faço curso de inglês e estudo de forma autônoma o espanhol. Tudo isso reafirma em mim a paixão pela leitura, escrita, línguas, diversidade e licenciatura. Tenho o grande sonho de um dia ser professora, poliglota e também aprender Libras.



SOBRE A AUTORA:

Sanny Lopes Paranhos, Capelinha/MG, é acadêmica da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), onde cursa Pedagogia. Produziu este relato na disciplina Práticas de Leitura e Produção de Textos, ofertada de julho a novembro de 2024.


A orientação deste trabalho e a organização do e-book foram realizadas por Carlos Henrique Silva de Castro, Kátia Lepesqueur e Virgínia Batista.

Histórias de vida e autodescoberta

Histórias de vida e autodescoberta

Os textos publicados individualmente nesta página podem ser lidos reunidos nos volumes da coleção Memórias de Letramentos. Para adquirir seu e-book gratuito ou impresso  pelo preço apenas do serviço de gráfica, clique no banner ao lado ou no fim da página.


Samille Brito Silva, Pedra Azul/MG

Tenho 28 anos e sou natural de Pedra Azul, Minas Gerais. Sou formada em Serviço Social, embora atualmente não atue na área. Trabalho no comércio, mas uma das minhas grandes paixões é a leitura. Adoro mergulhar em livros e me perder em suas histórias. Estar estudando novamente me proporciona a oportunidade de explorar novos temas e expandir meu gosto literário para diferentes gêneros. Sinto que a leitura é uma forma de viagem sem sair do lugar, uma maneira de explorar mundos e vivências diversas. Cada livro que leio me oferece uma nova perspectiva e me ajuda a entender melhor o mundo ao meu redor.

Desde pequena, a leitura sempre fez parte da minha vida. Em casa, sempre tivemos acesso a uma variedade de livros. Meus tios tinham o hábito de ler, e isso influenciou muito o meu amor pelos livros. Além disso, na igreja, também havia o folheto que acompanhava a missa, o que me familiarizou ainda mais com o universo da leitura. Essa exposição precoce aos livros e à leitura foi fundamental para moldar minha relação com o conhecimento.

Minha tia, que sempre foi uma grande incentivadora da minha leitura, já me presenteou com alguns livros marcantes, como O Pequeno Príncipe e A Menina que Roubava Livros. Embora ambos sejam excelentes, gostei mais de O Pequeno Príncipe. Este livro, com sua simplicidade e profundidade, me tocou de uma forma especial. A maneira como ele aborda temas universais de forma tão acessível me fascinou. Já A Menina que Roubava Livros, apesar de ser um dos livros mais queridos e amados por muitos, não teve o mesmo impacto em mim. No entanto, cada leitura tem seu valor e contribui para minha formação literária. Gosto mais de romances e de livros de autoajuda, que me ajudam a entender melhor a mim mesma e o mundo ao meu redor.

Tenho algumas lembranças vagas da minha fase de alfabetização. Lembro-me da professora e de como comecei a aprender sobre esse universo mágico das palavras e dos números quando tinha 6 anos. Naquela época, eu não sabia ler nem escrever. Tudo o que aprendi foi na escola, e esse aprendizado teve um papel crucial na minha vida. Aprendi não só a ler e escrever, mas também a valorizar a matemática e outras matérias fundamentais para o desenvolvimento do pensamento crítico. Meus pais também desempenharam um papel importante, sempre ajudando com as tarefas de casa e incentivando meu interesse pelos estudos. A dedicação deles me deu uma base sólida, essencial para qualquer aprendizado futuro.

Não me recordo exatamente de como era minha caligrafia ou das minhas habilidades em matemática naquela época, mas lembro que a escola tinha uma biblioteca que os alunos podiam usar para pegar livros ou assistir a vídeos educativos. Esse espaço era uma verdadeira fonte de descoberta e conhecimento. A possibilidade de explorar livros sobre diferentes temas despertava minha curiosidade e me fazia querer saber mais. Mesmo assim, o gosto pela leitura que tenho hoje me ajuda em várias situações, como participar da liturgia nas missas dominicais. A leitura enriquece minha vida de várias formas e me ajuda a estar mais conectada com minha espiritualidade.

Com a universidade, percebi uma mudança significativa. O tipo de leitura exigido é diferente do que estou habituada, e isso alterou minha forma de adquirir conhecimento. Os temas são variados e desafiadores, o que tem sido um exercício para o meu pensamento crítico. Os textos acadêmicos são mais difíceis de compreender rapidamente, especialmente para quem não está acostumada com esse tipo de leitura. No entanto, vejo isso como uma oportunidade de crescimento e uma chance de desenvolver novas habilidades. Cada desafio acadêmico é uma oportunidade de expandir meus horizontes e aprimorar minha capacidade de análise e reflexão.

Quanto às minhas finanças, sinto que administro bem minha vida financeira. Aprendi, não apenas na escola, mas também em casa, a lidar com questões financeiras de forma responsável. No entanto, acredito que as escolas poderiam oferecer mais suporte na educação financeira. Saber gerenciar finanças é uma habilidade vital, e ter mais recursos e ensinamentos sobre isso nas escolas certamente ajudaria muitos estudantes a se prepararem melhor para a vida adulta. A educação financeira é essencial para garantir um futuro mais seguro e equilibrado.



SOBRE A AUTORA:

Samille Brito Silva, de Pedra Azul/MG, é acadêmica da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), onde cursa Pedagogia. Produziu este relato na disciplina Práticas de Leitura e Produção de Textos, ofertada de julho a novembro de 2024.


A orientação deste trabalho e a organização do e-book foram realizadas por Carlos Henrique Silva de Castro, Kátia Lepesqueur e Virgínia Batista.

A educação nos tempos da minha meninice

A educação nos tempos da minha meninice

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Rose Mary Avelino da Silva, Grão Mogol/MG

Vivi os quase 50 anos da minha vida refletindo como uma mãe de 9 filhos, que, como a minha, em uma época em que quase não existiam recursos, exigia que todos os filhos estudassem e completassem, no mínimo, o ensino médio. Ainda está vívido em minha memória o que minha genitora sempre repetia para nós, ainda crianças: “Meus filhos, se esforcem. Pois a única coisa que eu e seu pai podemos oferecer-lhes são os estudos para que futuramente tenham formação superior gratuita”. Palavras sábias, ditas com tanto amor e esperança por ela. Me recordo de que, quando comecei o jardim de infância, não sabia nem o alfabeto. Não tínhamos recursos nem para comprar o material necessário, mas a minha vontade de conhecer o âmbito escolar era de imensa grandeza.

Na escola, conheci números, letras e pessoas, dentre elas o nosso saudoso professor Jadir, que, com sua grande sabedoria, não media esforços para nos ajudar, sempre nos incentivava à cultura: livros, notícias, músicas e artes. Meu primeiro contato com a leitura foi quando, para um trabalho escolar, precisei ler o livro “Éramos Seis”, de Maria José Dupré, que nunca me saiu da memória.

Na minha comunidade, o acesso à educação não era difícil, mas em casa era quase impossível contar com a assistência de meus pais, pois eles trabalhavam muito para trazer o nosso sustento para um humilde e amoroso lar. Tínhamos que nos esforçar para dar o nosso melhor, para que o aprendizado fluísse da forma mais conveniente possível. Era isso que exigiam de nós, os filhos.

Na escola, não praticávamos muito a produção de texto; os educadores focavam mais em ensinar a escrita e a matemática básicas. Atualmente, noto que a minha realidade não condiz com a de meus tempos de menina, pois hoje temos fácil acesso a diversas ferramentas de aprendizagem graças ao advento da internet e da era da informação.

Me lembro de ter uma biblioteca na escola; quando pegávamos um livro, tínhamos que assinar um termo de compromisso e devolvê-lo no prazo estipulado. Por isso, as leituras tinham que ser as mais breves possíveis, pois havia poucos livros para muitos alunos. Me assusta hoje ter tanto acesso e, ainda assim, ter jovens que não querem desbravar este luxo. Creio que, por ter se tornado fácil demais, a busca por conhecimento ficou em segundo plano. Em meu ponto de vista, a maior riqueza que a humanidade possui é o conhecimento.

Ainda em minha ignorância da meninice, quando perambulava pelas ruas da minha cidade pacata e monótona, vislumbrava inúmeras pessoas lendo jornais impressos enquanto seguiam rumo aos seus destinos. Me impressionava tudo aquilo, pois ainda não tinha conhecimento nenhum sobre tal meio de comunicação. Só anos mais tarde fui tomar nota de que aquilo dependia de poder aquisitivo para gozar do acesso às informações; eram os chamados serviços por assinatura, e só a população de classe média e alta poderia ter uma iguaria como essa em mãos.

Me sinto honrada de vivenciar esse grande avanço tanto na economia quanto na educação. A EaD nos trouxe o privilégio de qualquer pessoa, independente de sexo, raça, religião ou condições financeiras, com um simples acesso a um celular, computador ou tablet, poder realizar sonhos educacionais, tornando assim viáveis mudanças no cenário de sua vida.

Estou no início do primeiro semestre do curso de Pedagogia e faço questão de ler todos os conteúdos propostos nas disciplinas, pois cada aprendizado é um avanço a mais para minha carreira acadêmica.

Sei que não é fácil concretizar sonhos se não houver esforço e dedicação. Sinto falta de conteúdos não aplicados em classe quando cursei o ensino fundamental e médio, pois hoje percebo que seriam de grande valia e relevância na minha formação. Porém, estou muito satisfeita com os avanços que nossa educação teve ao longo dos anos, trazendo inclusão, empatia, novos princípios, inovação e valores que foram ressignificados durante as décadas.

Gosto muito de ler notícias, porque assim me atualizo a respeito dos acontecimentos ao redor do mundo. Temos sempre que estar atentos às atualidades, para que sejamos pessoas decentes e donas do nosso próprio pensamento.

Me esforço ao máximo para que meus descendentes valorizem o que não tive, a chance de obter em uma época tão carente de discernimento.

Os meios de comunicação no município onde cresci eram de difícil acesso; tivemos nossa primeira TV quando eu tinha 10 anos. Ah, que luxo ter um “tubão” em casa! Já não precisava mais assistir aos programas pelas frestas das janelas das casas da elite, sonho realizado com o árduo suor de meu pai garimpeiro e minha mãe lavadeira.

Notícias de parentes distantes só chegavam através de cartas, que demoravam meses para chegar ao destinatário. Telefone? Jamais pensei que sobreviveria para ver um grande feito igual. Ah, que bondade o tempo nos trouxe!

Saudades daquela época? Sim, não vou mentir. Boas lembranças ficaram, mas o tempo passou e só restam vestígios. Agora, como adulta, foco em cultivar memórias boas como estas que ainda guardo dentro de mim.



SOBRE A AUTORA:

Rose Mary Avelino da Silva, de Grão Mogol/MG, é acadêmica da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), onde cursa Pedagogia. Produziu este relato na disciplina Práticas de Leitura e Produção de Textos, ofertada de julho a novembro de 2024.


A orientação deste trabalho e a organização do e-book foram realizadas por Carlos Henrique Silva de Castro, Kátia Lepesqueur e Virgínia Batista.

Minha vida, minha história

Minha vida, minha história

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Robilane Oliveira da Conceição, Pedra Azul/MG

Eu nasci e fui criada em uma família que, em algumas ocasiões, me proporcionou acesso a textos escritos, tanto em casa quanto na igreja que frequentávamos. Aos domingos, era comum minha tia me levar à igreja, onde tínhamos acesso à liturgia do culto de forma impressa, contendo cânticos e alguns versículos da Bíblia. Outras vezes, eu via minha mãe lendo a Bíblia em casa, assim como as professoras da escolinha da igreja, que liam histórias bíblicas.

Certa vez, fiquei encantada com um quebra-cabeça que ganhei de presente na escola, o qual continha imagens de personagens de contos de fadas. Isso despertou meu interesse em conhecer um pouco mais sobre esse gênero textual. As professoras sempre nos contavam histórias assim e, às vezes, assistíamos a filmes com essa temática.

Lembro-me de que a primeira vez que comecei a ter contato com os números foi durante uma brincadeira na minha infância. A “amarelinha” era nossa diversão por horas durante as tardes, onde aprendíamos, de forma divertida e animada, a sequência dos números até o 9. Nesse mesmo período, também começamos a entender o valor do dinheiro, pois era comum meu tio me presentear com algumas moedinhas de R$ 0,10. Aquele dinheiro tinha um destino certo: sempre comprávamos doces e balas para alegrar o nosso dia. Era indispensável, nesse tempo, saber contar, somar e subtrair, afinal, não queríamos ter prejuízo nas compras.

Quando comecei minha vida escolar, aos 6 anos, no pré-escolar, era complicado realizar as operações que eu costumava fazer usando os símbolos que a professora ensinava. Afinal, eu havia me acostumado a realizar operações na prática e não na teoria, utilizando caderno, lápis, borracha e as regras da matemática.

Nesse momento de dificuldade inicial, o apoio da minha família foi muito importante, especialmente da minha tia Maria, que me ensinou as primeiras operações matemáticas e a arte da leitura. Com essa ajuda, ficou mais fácil avançar na escola da forma como a professora exigia.

Lembro-me de que aprendi a escrever meu nome e a ler algumas palavras antes mesmo de entrar na escola, quando eu tinha 5 anos. Era comum ver minha tia ensinando a minha prima as atividades da escola, e eu sempre observava atentamente para aprender. Com isso, consegui dar os primeiros passos nesse mundo encantado da escrita e leitura.

Minha relação com a escrita na escola foi um pouco trabalhosa, pois, apesar de saber ler, eu tinha dificuldades em escrever. Eu era motivada a escrever as letras utilizando cadernos de caligrafia, onde treinávamos as vogais, em seguida o alfabeto e, posteriormente, as sílabas. A escola teve um papel fundamental no meu letramento inicial, pois lá expandi meus horizontes e percebi que o que eu sabia era apenas uma pequena parcela de tudo o que existia em relação à escrita e leitura.

No ensino fundamental I, por exemplo, tive acesso a textos como “O Boi Baba”, frases silábicas, pequenas fábulas e contos. Já no fundamental II, com uma certa bagagem, consegui progredir no estudo de textos mais robustos e complexos, como poemas, poesias e textos dissertativos. No ensino médio, tive acesso ao português de uma forma que eu nem imaginava existir. Foi lá que pude compreender como, de fato, as frases se conectam para formar textos. Aprofundei meus conhecimentos sobre ortografia, fonética, leitura e compreensão de textos, concordância, regência e pontuação.

Nas escolas, sempre tive acesso à biblioteca, que era bastante frequentada para fazermos trabalhos escolares e pegar livros emprestados para ler em casa. Não tínhamos acesso a tecnologias avançadas, como celulares, computadores e tablets, então nossa maior fonte de pesquisa era sempre a biblioteca.

Refletindo sobre minha relação com a leitura, desde os tempos de alfabetização até o ensino médio, é inevitável não notar grandes avanços. No início, ler uma pequena palavra era algo quase impossível, mas, com o esforço pessoal, alinhado à muita vontade de aprender e aos recursos proporcionados pela escola, como o acesso a livros, a biblioteca, os materiais que a professora disponibilizava, aulas atrativas, jogos e brincadeiras, tudo isso resultou em quem sou hoje.

Sinto-me confiante para ler, compreender textos, opinar sobre situações do cotidiano e me posicionar em diversas situações, tudo isso graças a uma vida escolar repleta de aprendizado. A leitura liberta. A maior conquista que qualquer ser humano pode ter é o acesso à universidade, e isso eu conquistei graças a Deus e a tudo o que aprendi ao longo da vida através da leitura.

Em relação aos números, tive muitos incentivos para me desenvolver nessa área. Desde muito cedo, aprendi a arte do crochê, uma atividade simples e fácil de realizar, mas que exige muita atenção, raciocínio lógico e um bom hábito de contagem e operações matemáticas. Um simples erro pode comprometer toda uma peça e, com isso, horas ou até dias de trabalho.

Também utilizei os conhecimentos matemáticos quando trabalhei em negócios do tipo mercearia. Lá, vivenciava diariamente operações como expressões numéricas, adição, subtração, multiplicação e divisão, tudo isso sob a exigência de tempo muito curto, pois precisávamos atender aos clientes de maneira rápida, eficiente e, acima de tudo, cordial.

No meu primeiro ano na universidade, houve mudanças drásticas nos meus hábitos de leitura, pois já fazia algum tempo que eu havia concluído o ensino médio e, naturalmente, não lia como antes. Essas mudanças trouxeram muitos pontos positivos, entre eles: o retorno ao bom hábito da leitura, uma reflexão mais acurada sobre o que estou lendo, discernimento crítico sobre os temas envolvidos e uma visão mais ampla do mundo. Sobre os pontos negativos, fica a preocupação de talvez não conseguir executar o que foi proposto no tempo adequado, levando em conta toda a nossa vida pessoal fora da universidade. Com mais conhecimento, surge também uma maior responsabilidade sobre nossas palavras, o que escrevemos e vivemos.

Tenho procurado sempre me nutrir de tudo o que os professores nos orientam a ler, para assim ter maior conhecimento sobre os temas propostos. Além disso, tenho buscado pesquisar sobre cada tema, para crescer e alcançar meus objetivos.

Estou gostando dessa nova fase da minha vida, especialmente do estudo dos gêneros textuais e de tudo o que escrevi aqui sobre letramento. Minhas expectativas para o futuro são as melhores possíveis. Sonho em ter liberdade financeira, mais conhecimento, contribuir com a formação dos meus filhos e, enfim, ter uma vida de sucesso profissional e pessoal.



SOBRE A AUTORA:

Robilane Oliveira da Conceição, de Pedra Azul/MG, é acadêmica da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), onde cursa Pedagogia. Produziu este relato na disciplina Práticas de Leitura e Produção de Textos, ofertada de julho a novembro de 2024.


A orientação deste trabalho e a organização do e-book foram realizadas por Carlos Henrique Silva de Castro, Kátia Lepesqueur e Virgínia Batista.

O despertar de uma amante das letras

O despertar de uma amante das letras

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Rillary Emanuelly Belaguarda, Itamarandiba/MG

A magia das letras sempre me rodeou e atraiu. Desde pequena, mesmo antes de ingressar na escola, tive contato com diversos tipos de gêneros textuais; livros sempre foram artefatos que despertaram minha curiosidade. Vendo isso, meus pais sempre me incentivaram e auxiliaram a desenvolver essa habilidade, tanto que entrei no meu primeiro ano escolar com um pouco de conhecimento de escrita, leitura e noções numéricas. Assim seguiram os primeiros anos da minha vida estudantil, lendo gibis e livros infantis; inclusive, tinha e ainda tenho uma coleção de almanaques da Turma da Mônica.

Passado algum tempo, quando estava no 2º ano, em 2013, com meus sete anos, me vi querendo escrever minhas próprias histórias. Daí surgiram as mais inusitadas façanhas, inspiradas em diversas fontes. Um exemplo foi uma extensa narrativa que escrevi, denominada “As Formigas Mutantes”. De onde surgiu essa ideia? De um formigueiro enorme que havia em uma das carvoeiras onde meu pai trabalhava; inclusive, quem lançou a fagulha e me desafiou a fazer um conto sobre o assunto foi ele, sempre buscando me fazer explorar meu potencial.

Vale ressaltar que, durante essa fase de mini escritora, além do apoio de meus pais, sempre fui encorajada por minhas professoras. Levava os manuscritos para elas, que, de boa vontade, faziam as correções e me direcionavam para sempre melhorar minha escrita.

O tempo passou, mudanças aconteceram e, em um piscar de olhos, me vi no 7º ano, em 2018, em um ambiente completamente novo. Durante esse tempo, meu gosto pela leitura foi fincando raízes em minha vida, e descobri nos livros bons amigos. Foi também nesse ano que mergulhei nos versos, na poesia e, principalmente, nos cordéis. Foi quando uma professora esplêndida envolveu toda a turma em uma árdua tarefa: lançar um livro de cordéis. Parece familiar?

Com muito esforço e alguns neurônios queimados, lançamos nossa coletânea de cordéis, intitulada Rimando um Verso, Criando um Universo. E, em meio a esse processo, me apaixonei pelas rimas e pela musicalidade dos cordéis. Perdi as contas de quantos escrevi; no fim, contribui com três criações para o livro: um homenageando nossa mentora, um em honra aos pais e um de livre criação, onde rimei sobre os bons sentimentos da vida. Foi uma experiência memorável que me aproximou ainda mais da leitura e da escrita.

O tempo foi passando e, durante o ensino médio, tive nos livros as melhores companhias que alguém poderia ter. Grande parte do despertar dessa paixão foi graças à escola e aos mestres que nela se encontravam. Nunca saberia como é emocionante ler um bom suspense se não fosse pelo primeiro livro que peguei na biblioteca da escola, O Escaravelho do Diabo, ou como pode ser fofo acompanhar um romance de época nacional como A Moreninha, livro que li no meu 3º ano e que ficou marcado em minha mente. Enfim, infelizmente, não posso relatar sobre as emoções que tive em cada título que li; quem sabe em uma próxima obra…

Finalizo aqui dizendo que, agora aos meus 18 anos, início o curso de Pedagogia com o objetivo de, futuramente, no papel de professora, encontrar e despertar em mais almas esse amor pela escrita e, principalmente, pela leitura. Quero ser capaz de mostrar o quanto os livros são capazes de abrir portas para mundos inimagináveis e como eles podem ser um refúgio quando o mundo real se torna demais…



SOBRE A AUTORA:

Rillary Emanuelly Belaguarda, de Itamarandiba/MG, é acadêmica da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), onde cursa Pedagogia. Produziu este relato na disciplina Práticas de Leitura e Produção de Textos, ofertada de julho a novembro de 2024.


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Minhas memórias

Minhas memórias

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Raquel Azevedo Oliveira, Itamarandiba/MG

Eu vim de uma família analfabeta, onde meus pais e meus avós eram analfabetos. Eles vieram da roça e não tinham muita estrutura nem oportunidades para estudar na época. Não me lembro de livros em casa. Fui ver um livro pela primeira vez na pré-escola, e foi ali que me apaixonei pela leitura. Lembro que, na escola, eles fizeram uma vez aqueles dinheirinhos de papel, e eu fiquei encantada. Pedi à professora para levar pra casa e cheguei toda feliz, contando para minha mãe que, naquele dia, eu tinha aprendido a contar e tinha ganhado dinheiro.

Quando comecei a ler na primeira série, tive um pouco de dificuldade, e minha professora foi um anjo para mim nessa fase. Ela dava aulas para mim na casa dela, fora do horário da escola, o que me ajudou muito. No dia em que finalmente comecei a ler sem tropeçar nas palavras, cheguei em casa e minha mãe ficou muito feliz, pois o sonho dela era ler, mas ela nunca teve a oportunidade de estudar. Ela sempre me incentivou e me pedia para ler as coisas para ela, e eu me achava muito importante por poder ler para ela.

Na minha escola, havia uma biblioteca, mas, como naquela época tudo era difícil, os livros eram poucos e muito usados; alguns até faltavam páginas. Lembro que amava a aula de leitura. Eu ficava fascinada olhando os livros e gostava de escolher aqueles que tinham a capa mais bonita. Sempre pedia à professora para deixar eu levar mais de um livro para ler, mas, como eram poucos livros e muitos alunos, só permitia um. Lia-o em um dia e, no dia seguinte, chegava na escola devolvendo-o e já querendo pegar outro.

Hoje, ao visitar minha antiga escola, vejo o quanto tudo evoluiu; possui uma grande e bonita biblioteca. Porém, percebo pouco interesse dos alunos pela leitura; o mundo digital tomou conta do espaço.

Quanto aos números, nunca gostei de matemática; sempre odiei as aulas de matemática e, até hoje, não lido muito bem com números. Mas hoje me arrependo de não ter me dedicado mais à matemática, pois vejo a falta e a dificuldade que isso gerou para minha vida hoje.

Se eu tivesse a oportunidade de voltar no tempo, teria me dedicado mais às aulas de matemática e de leitura também. Por volta da quarta série, eu não tinha mais tanto interesse, e vejo como isso reflete na minha vida adulta. Mas hoje, com a experiência de vida que tenho, quero incentivar meu filho à leitura e à escrita, porque sei o quanto é importante na nossa vida.

Na universidade, venho lendo autonomamente todos os dias, além do que os professores orientam. Conhecimento é poder, e isso ninguém tira da gente. Espero ser uma pedagoga que saiba conquistar os pequenos com a leitura. Pretendo elaborar atividades interessantes, chamativas e incentivadoras.



SOBRE A AUTORA:

Raquel Azevedo Oliveira, de Itamarandiba/MG, é acadêmica da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), onde cursa Pedagogia. Produziu este relato na disciplina Práticas de Leitura e Produção de Textos, ofertada de julho a novembro de 2024.


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Memórias da minha formação

Memórias da minha formação

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Paula Tamires Fernandes Guedes Sampaio, Itamarandiba/MG

Ingressei na vida escolar com quatro anos de idade, logo não tenho muitas recordações sobre essa época relacionadas à leitura. Na comunidade em que vivia, tinha acesso a livros escolares dos familiares, a jornais, revistas e panfletos da igreja. Assim, posso perceber que sempre tive contato com a leitura.

Antes de entrar para a escola e até nos primeiros anos da vida escolar, lembro-me de que os adultos me contavam muitas histórias infantis. As que mais me recordo são as histórias dos Três Porquinhos, em que o lobo mau tentava assoprar as casas dos três porquinhos para derrubá-las; a história de Joãozinho e Maria, dois irmãos que viviam na floresta com seus pais e tinham várias aventuras; e o clássico Chapeuzinho Vermelho, em que a Chapeuzinho ia levar doces para sua vovozinha e encontrava o lobo mau no caminho, que a seguia e tentava comê-la.

Desde a minha primeira infância, recordo-me das idas às missas na igreja, onde ouvia o padre e os leitores fazendo a leitura da Bíblia. Com sete anos de idade, logo quando ingressei no ensino fundamental, também comecei a fazer a catequese, que é a preparação para a Primeira Eucaristia (Sacramento da Igreja Católica Apostólica Romana). Nesse curso, ouvia muitas histórias bíblicas lidas pelos catequistas e tive muito contato com a Bíblia nessa época. Isso continua até hoje, uma vez que faço a leitura da Bíblia em casa e ouço a leitura nas missas às quais participo. Além disso, faço parte da equipe de liturgia da minha paróquia, realizando leituras durante as celebrações de missas na igreja.

Assim que ingressei na vida escolar, sempre fui incentivada pela minha mãe a me dedicar aos estudos, sempre fui apaixonada pela escola. Recordo-me de que, se minha mãe quisesse me castigar, bastava ameaçar não me deixar ir para a escola, e eu rapidamente me comportava bem. Após iniciar o pré-escolar, lembro-me de fazer colagens com bolinhas de papel crepom sobre as letras do meu primeiro nome e os numerais, de fazer desenhos e de ouvir muitas histórias infantis, como a de Chapeuzinho Vermelho.

Quanto aos números, desde cedo me familiarizei com o dinheiro e gostava muito de ganhar moedas para comprar guloseimas na venda da esquina (mercadinho). Com sete anos de idade, já sabia contar as moedas, notas de dinheiro e conferir o troco.

Nos primeiros anos do ensino fundamental, tive muito acesso a livros de histórias, e havia uma biblioteca na escola onde podíamos pegar os livros emprestados para ler em casa e depois devolver. A partir da quinta série do ensino fundamental, passei a ler livros clássicos da literatura brasileira, tais como Senhora, de José de Alencar, e Dom Casmurro, de Machado de Assis. Esses e outros livros eram leitura obrigatória na disciplina de português. Após a leitura, tínhamos que fazer um resumo em uma ficha literária e depois realizar uma prova escrita sobre o conteúdo do livro, o que estimulava bastante a leitura. Nessa época, eu me destacava com as melhores notas nas provas de literatura e, como tinha facilidade em interpretar textos, mesmo quando não conseguia ler os livros por completo, conseguia interpretar com a leitura de resumos e conversas com colegas sobre as histórias narradas nos livros.

Nos anos finais do ensino fundamental e no ensino médio, lembro das frequentes idas à biblioteca da escola para fazer pesquisa na Barsa, uma enciclopédia de A a Z, onde encontrava assuntos multidisciplinares para resolver minhas tarefas. Naquela época, não tinha acesso à internet e nem podia fazer cópias xerográficas dos livros. Então, as respostas coletadas na Barsa eram transcritas à mão, o que facilitava a assimilação do conteúdo.

No ensino médio, continuaram as leituras obrigatórias de livros para a produção de resumos e a realização de provas. Naquela época, por volta do segundo ano do ensino médio, a internet estava em alta, e para acessá-la era necessário ir a lanhouses, locais com computadores conectados à internet, onde se pagava por hora para utilizá-los.

As redes sociais eram muito utilizadas, e nelas a leitura e a escrita eram empregadas para fazer os famosos depoimentos (mensagens declarando a importância das pessoas) para os amigos que conversavam no antigo Orkut, rede social muito famosa na época.

Quanto às finanças, sempre fui familiarizada com números, especialmente com dinheiro, e, desde a adolescência, passei a fazer os serviços bancários da minha mãe e do meu avô. Assim, aprendi a administrar desde cedo e, quando comecei a ter meu próprio salário, já sabia controlar meus gastos.

Percebo que a vida escolar foi muito importante para o processo de aprender a administrar minhas finanças, em especial porque, nas aulas de matemática, frequentemente resolvíamos problemas matemáticos que envolviam dinheiro.

A partir da facilidade que desenvolvi em interpretar textos, passei a pesquisar e estudar como resolver os assuntos do meu cotidiano. Assim, consigo analisar contratos e proposições de empréstimos e financiamentos, avaliando se compensa ou não ingressar nos mesmos.

Atualmente, faço a minha declaração anual do imposto de renda da pessoa física para a Receita Federal do Brasil e faço a declaração para meu marido e alguns familiares. Além disso, consigo gerir investimentos tanto no meu trabalho quanto no meu próprio patrimônio e dou dicas a alguns familiares com base em muita leitura de relatórios do mercado financeiro.

Quanto à vida universitária, percebo que o incentivo à leitura ao longo dos anos na vida escolar facilitou bastante a interpretação e compreensão de textos que ajudam no dia a dia. O conhecimento adquirido ao longo dos anos escolares até o ensino médio preparou-me com êxito para a vida na universidade.

Como já frequentei a universidade antes, com formação em Administração e pós-graduação em Gestão Municipal, já tenho conhecimento da rotina acadêmica, podendo assim administrar a metodologia e rotina de estudos e entrar no ritmo da vida acadêmica, apesar de já ter se passado 10 anos desde que concluí minha primeira graduação.

Atualmente, leio os livros e textos propostos na grade curricular do curso de Pedagogia e tenho facilidade em interpretar os textos e as questões propostas, pelo conhecimento que adquiri tanto no ensino fundamental e médio quanto na faculdade e até no trabalho.

Enfim, vejo que o curso de Pedagogia irá contribuir bastante para o meu currículo e, quem sabe, para ingressar em uma nova carreira. Espero poder chegar ao final do curso com a bagagem necessária para exercer atividades na área da pedagogia, especialmente na supervisão pedagógica.



SOBRE A AUTORA:

Paula Tamires Fernandes Guedes Sampaio, de Itamarandiba/MG, é acadêmica da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), onde cursa Pedagogia. Produziu este relato na disciplina Práticas de Leitura e Produção de Textos, ofertada de julho a novembro de 2024.


A orientação deste trabalho e a organização do e-book foram realizadas por Carlos Henrique Silva de Castro, Kátia Lepesqueur e Virgínia Batista.

Entre lembranças e aprendizados

Entre lembranças e aprendizados

Os textos publicados individualmente nesta página podem ser lidos reunidos nos volumes da coleção Memórias de Letramentos. Para adquirir seu e-book gratuito ou impresso  pelo preço apenas do serviço de gráfica, clique no banner ao lado ou no fim da página.


Patrícia Pereira de Andrade,  Turmalina/MG

A vida escolar nem sempre é fácil. Nos primeiros anos de vida, já enfrentamos grandes desafios, e assim iniciou a minha trajetória: uma pequena menina do campo, de condições financeiras difíceis. A comunidade onde vivíamos não oferecia muitas condições para estudar, mas minha mãe, mesmo com pouco conhecimento, sonhava com o estudo dos filhos.

Aos 6 anos, mudamos para a cidade para que pudéssemos ir à escola. Iniciei o pré-escolar em uma escola estadual e ainda não sabia ler nem escrever. Neste período, enfrentei muitas dificuldades, pois, naquela época, a desigualdade social prevalecia com força. Foi complicado para uma criança ter que enfrentar a maldade humana e a discriminação. Além disso, eu era muito tímida, e vencer essa timidez foi desafiador e um pouco traumático.

Nos anos iniciais, tive dificuldades na fase de alfabetização. Eu não conseguia juntar as letras e tentava adivinhar as palavras; quando falavam a letra “A”, eu gritava: “Abacate!” No entanto, a vontade de aprender era maior que qualquer dificuldade, e consegui superá-las.

Antes de entrar na escola e ao longo de toda a minha vida escolar, tive o apoio e a cobrança da família; porém, eles não conseguiam me ajudar com as atividades. Meus pais não tiveram a mesma oportunidade que eu de estudar. Em minha casa, não tínhamos livros, mas me lembro de minha mãe sempre lendo a Bíblia, e com ela aprendi a ter amor pela palavra de Deus. A escola foi fundamental para meu desenvolvimento, pois foi lá que aprendi a ler, escrever e ter o primeiro contato com os números.

Demorei um pouco para, enfim, reconhecer o dinheiro. Lembro que certa vez ganhei R$10,00 e meu irmão, R$1,00, e chorei porque queria trocar com ele, achando que ele tinha ganhado mais do que eu.

As escolas onde estudei tinham biblioteca, mas não lembro de frequentá-las; tenho mais recordação da biblioteca comunitária da cidade. Lá, sim, era um lugar calmo e tranquilo. Meus colegas e eu a usávamos para fazer pesquisas e trabalhos escolares.

Minha mãe, na adolescência, teve a oportunidade de ler alguns livros e, de tanto ler os mesmos, decorou muita informação. Para as partes que não conseguia decorar, usava a imaginação. Meus irmãos e eu amávamos assistir a ela contar as histórias. Era como se eu me transportasse para dentro dos livros.

Por volta dos 12 anos, eu amava escrever poemas e tinha uma agenda onde falava muito dos meus sentimentos, medos e sonhos. Quando cheguei ao ensino médio, comecei a me interessar mais pelos livros de romance; eram os únicos que eu conseguia ler com concentração. A verdade é que eu não gostava de ler, mas sabia a importância e a diferença que isso faria em minha vida.

A cada ano que se passava, percebi que não tinha outra saída a não ser me dedicar mais à leitura. A cada dificuldade que aparecia, aprendi a me superar. Eu sempre tive uma paixão pela matemática e, mesmo sendo difícil, gostava da sensação de estar diante de um problema e tentar resolvê-lo. Não tenho memórias de quando aprendi a contar ou resolver problemas, mas sei da importância que teve um professor do ensino fundamental II, que despertou em mim um amor ainda maior pela matemática.

Eu nunca questionei o uso da matemática; muito pelo contrário, vejo a matemática e o português em tudo; elas andam lado a lado. Assim como a matemática é usada para entender a economia, ou pelo médico para interpretar dados ou dosagens de medicamentos, ela também é usada pelo agricultor para maximizar sua produção ou minimizar os riscos de doenças e pragas em suas plantações. A matemática está presente em vários momentos de nossas vidas e me ajudou a resolver muitas situações.

Apesar de ter algumas dificuldades, reconheço que a escola me preparou. As regrinhas básicas da matemática estão gravadas na minha memória e têm contribuído ano após ano para melhorar minha vida financeira, ajudando-me a calcular juros e saber se algumas opções de parcelamento são favoráveis ou não. Se quiser um dia pegar um empréstimo, consigo avaliar se vale a pena ou não. O conhecimento nos proporciona isso: ser pessoas críticas e questionadoras.

Já na vida adulta, fui presenteada no Dia dos Professores com um excelente livro de Paulo Freire chamado “Medo e Ousadia”. Freire é uma inspiração para muitas gerações e para mim também. Foi maravilhoso receber um presente assim, e gosto muito da ideia de presentear crianças com livros, para que elas percebam desde cedo o poder que a leitura pode exercer sobre elas. Embora o tempo seja pouco e corrido na universidade, tenho me dedicado a estar sempre ligada às propostas de leitura que os professores orientam. Tenho dificuldades em alguns textos, mas a maioria compreendo bem e gosto de ler artigos, reportagens e bulas de medicamentos.



SOBRE A AUTORA:

Patrícia Pereira de Andrade,  de Turmalina/MG, é acadêmica da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), onde cursa Pedagogia. Produziu este relato na disciplina Práticas de Leitura e Produção de Textos, ofertada de julho a novembro de 2024.


A orientação deste trabalho e a organização do e-book foram realizadas por Carlos Henrique Silva de Castro, Kátia Lepesqueur e Virgínia Batista.

Relembrando conhecimentos

Relembrando conhecimentos

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Natalia Azevedo da Costa, Capelinha/MG

Meus pais não tiveram estudos, eram analfabetos, então não tínhamos muitos livros em casa. Só depois de um tempo na escola, minha irmã mais velha começou a se interessar pela leitura e sempre trazia livros para casa. Vendo-a ler, despertei o interesse de ler também; então, ia à biblioteca da escola com frequência para escolher livros. A escola emprestava os livros, mas a gente tinha que ter muito cuidado com eles. Na época, conferiam até as páginas quando íamos devolver o livro.

Não me lembro muito bem de quando comecei a contar, mas lembro quando tive conhecimento sobre o dinheiro. Minha mãe sempre nos dava moedas para fazermos cofres, e entendi que era algo que tinha valor. Somas e diminuição aprendi depois que já estava na escola. Os “problemas” de matemática, para mim, eram muito difíceis.

Antes de frequentar a escola, aprendi a escrever meu nome na creche; tinha uns 4 anos. Foi uma sensação incrível ver meus pais festejarem a cada etapa. Minhas professoras nos motivavam a escrever, passando os deveres de casa. Não me recordo muito bem das produções de texto que fazia, mas sempre tínhamos que ler livros e fazer resumos deles.

Em todas as vezes, a escola nos motivou a ir à biblioteca para procurarmos livros. Quando algum professor faltava, eles nos levavam para a biblioteca, e achávamos o máximo. Enquanto estávamos na escola, estávamos focados para dar o nosso melhor em tudo: na caligrafia, na leitura, nas notas. Enfim, dávamos o nosso melhor.

Depois que nos formamos, dá uma esfriada nos estudos, e precisamos nos reencontrar novamente para que esse ânimo volte e busquemos mais conhecimento. Minha mãe sempre nos motiva, dizendo: “Estuda, meu filho, porque o que ninguém tira de você é o conhecimento.”

Notei que a leitura, a escrita e os números são muito importantes em qualquer área de nossas vidas, na faculdade, no trabalho, e devem estar presentes também no nosso lazer. Para mim, a leitura e escrita têm sido positivas; tenho lido tudo o que os professores nos orientam. Não tenho muita experiência com textos universitários, pois esta é minha primeira faculdade.

A escola tem, sim, o seu papel, mas, como tudo, é praticando que se aprende. Da mesma forma, se não se pôr em prática o que aprendeu, não resolverá nada.

Ainda não pensei em lançar um livro, mas, se houver oportunidade, quem sabe esse interesse pode ser despertado em mim.



SOBRE A AUTORA:

Natalia Azevedo da Costa, de Capelinha/MG, é acadêmica da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), onde cursa Pedagogia. Produziu este relato na disciplina Práticas de Leitura e Produção de Textos, ofertada de julho a novembro de 2024.


A orientação deste trabalho e a organização do e-book foram realizadas por Carlos Henrique Silva de Castro, Kátia Lepesqueur e Virgínia Batista.

O jardim dos sonhos perdidos

O jardim dos sonhos perdidos

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Michele Santos Marques, Pedra Azul/MG

Desde os primeiros anos de vida, o acesso a textos escritos foi muito restrito para mim. Meus pais, humildes trabalhadores de uma pequena cidade, lutavam para garantir o básico para nossa família e mal tinham condições financeiras para adquirir livros ou materiais educativos. A casa onde vivíamos era pequena e envelhecida, e o ambiente não era ideal para o desenvolvimento de uma criança.

Lembro-me de ver minha mãe frequentemente folheando revistas antigas, buscando um pouco de distração e conforto. Essas revistas acabavam se tornando meus brinquedos improvisados. Eu usava as páginas rasgadas para inventar minhas próprias histórias, criando mundos onde a dura e sem cor realidade da minha vida não tinha vez. Era minha forma de escapar, mesmo que por um breve momento.

Quando comecei a frequentar a escola, estava ansiosa para aprender. No entanto, a escola também não tinha muitos recursos. Os livros didáticos eram antigos e a biblioteca, se é que se podia chamar assim, era uma sala pequena com poucas prateleiras. Os professores se esforçavam para compensar a falta de materiais, mas eu sentia que estava sempre atrás dos outros alunos que vinham de famílias mais abastadas. Entre os livros lidos nessa época estavam “Chapeuzinho Vermelho”, “Pinóquio” e “O Barquinho Amarelo”.

Aprender a escrever foi um desafio. As palavras pareciam dançar nas páginas dos cadernos surrados, e minhas tentativas de escrever eram frequentemente frustradas pela falta de apoio. No entanto, tentava com perseverança, escrevendo pequenos textos sobre meus sonhos e esperanças, que guardava com carinho.

Aprendi a contar com a ajuda de minha mãe. Usávamos pequenos objetos encontrados em casa para tornar o aprendizado mais visual. Eu sabia contar até dez, mas esse conhecimento era limitado, e a matemática na escola se tornou um desafio ainda maior. Cada problema matemático parecia um obstáculo insuperável, e eu frequentemente me sentia desmotivada ao ver outros alunos superando essas dificuldades com mais facilidade.

A situação financeira da minha família piorou com o tempo. Meu pai perdeu o emprego devido a problemas de saúde e, sem uma fonte de renda estável, enfrentamos dificuldades ainda maiores. Comecei a trabalhar meio período para ajudar, fazendo pequenos serviços e vendendo produtos que eu mesma fazia. Essa nova realidade significava menos tempo para estudar e mais estresse, o que me deixava exausta.

Em um inverno particularmente rigoroso, a situação chegou ao ponto crítico. Nossa casa ficou fria e úmida, e eu frequentemente passava as noites em claro tentando me manter aquecida com roupas empilhadas. A falta de alimentos se tornou uma realidade constante, e o sonho de um futuro melhor parecia cada vez mais distante. Meus cadernos de histórias, uma vez cheios de esperanças e sonhos, estavam agora cobertos de poeira e esquecidos em uma prateleira.

Apesar de tudo, nunca perdi completamente a paixão pela leitura e pela escrita. Cada livro emprestado da pequena biblioteca local era um pedaço do mundo que eu sempre desejei conhecer. Mesmo nos momentos mais difíceis, eu buscava consolo nas páginas desses livros, que se tornaram meu refúgio e uma forma de escape das adversidades.

Finalmente, após muitos anos de luta, a situação financeira da minha família se estabilizou um pouco. No entanto, o impacto emocional e psicológico das dificuldades anteriores era profundo. Agora, como adulta, tentava reconstruir minha vida, lidando com as cicatrizes deixadas pela pobreza e pelo esforço constante para sobreviver.

Mesmo que os sonhos de uma infância cheia de livros e aventuras literárias tenham sido substituídos por uma realidade de trabalho árduo e sobrevivência, a paixão pela leitura e pela escrita nunca me abandonou.

O jardim dos sonhos perdidos, como eu o chamo, é um símbolo da minha luta e resiliência. É uma lembrança constante de que, apesar das adversidades, nunca abandonei meus sonhos de aprender e crescer. A jornada foi difícil e marcada por muitas dificuldades, mas o desejo de continuar explorando o mundo através da leitura e da escrita sempre foi uma luz em meio à escuridão.



SOBRE A AUTORA:

Michele Santos Marques, de Pedra Azul/MG, é acadêmica da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), onde cursa Pedagogia. Produziu este relato na disciplina Práticas de Leitura e Produção de Textos, ofertada de julho a novembro de 2024.


A orientação deste trabalho e a organização do e-book foram realizadas por Carlos Henrique Silva de Castro, Kátia Lepesqueur e Virgínia Batista.

Alfabetização e letramento

Alfabetização e letramento

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Maurizete Máximo da Fonseca Santana, Cristália/MG

A memória tem papel essencial no processo de alfabetização, no qual são criadas várias memórias que podem ser de curto ou longo prazo. Ao refletir sobre nossas memórias, podemos aprender lições valiosas com as experiências vividas. A memória é fundamental na construção da nossa identidade, pois acredito que nossa percepção de quem somos é moldada por experiências passadas, lembranças e vivências. Ela nos permite compreender quem somos, como chegamos aonde estamos e para onde estamos indo, ao mesmo tempo em que nos ajuda a nos relacionar com os outros e com o mundo ao nosso redor. O tempo passa, mas as lembranças permanecem em nossas memórias. Não me recordo claramente, mas minha mãe sempre dizia que, quando eu tinha apenas 5 anos, chorava para poder ir para a escola com meus irmãos. Naquela época, porém, não havia como eu frequentar a creche, pois, vivendo na zona rural, o transporte escolar passava muito cedo para pegar os alunos, e a rota era extensa. Meus pais, então, acharam melhor não me matricular e esperar até que eu completasse 7 anos para estudar na escola da minha comunidade.

Naquela época, não era comum termos acesso a textos em nossa casa; sequer tínhamos um aparelho de televisão. Mas me recordo que havia uma bíblia e alguns livros didáticos que meus irmãos traziam da escola para fazer suas tarefas. Curiosa, pegava esses livros escondido para brincar de escolinha. Foi através dessa brincadeira e com a pouca ajuda que recebia dos meus irmãos que comecei a aprender desde cedo, e antes mesmo de ingressar na escola eu já conhecia o alfabeto e até sabia escrever meu primeiro nome. Não poderia deixar de citar a professora que trabalhava em minha comunidade, tia Rosimeire Barroso, que me incentivava muito nas horas vagas e até me levava para a escola, de vez em quando, para assistir às suas aulas. Isso contribuiu muito para meu desenvolvimento, tanto escolar quanto pessoal. Quando finalmente ingressei na escola no ano de 2000, já sabia muitas coisas. Para mim, foi muito gratificante, pois estava bem adiantada, e as dificuldades foram menores.

Nunca gostei muito de português; minha preferência sempre foi matemática. Amava fazer as contas usando o método dos milhos e feijões, e cada problema matemático apresentado me encantava cada vez mais pela disciplina. Até hoje, tenho preferência por ela. Naquela época, os incentivos eram poucos, e, apesar do apoio que recebi, não foram suficientes. Meus pais não tinham muito estudo, e meus irmãos, no tempo livre, ajudavam nas tarefas de casa e na roça.

Ao avaliar o papel da escola e da família nos meus letramentos iniciais, posso dizer que fui privilegiada. Na minha família, fui a única que teve tempo para dedicar-se aos estudos, pois meus irmãos, além de estudar, precisavam trabalhar em tarefas pesadas. Recebi também grande apoio dos professores, que, mesmo com poucos recursos, usavam os livros didáticos e o quadro de giz para leituras e práticas de escrita. Esses materiais eram armazenados em uma prateleira no canto da sala de aula e estavam sempre disponíveis quando precisávamos. Era uma época de poucos recursos, mas o que aprendi foi de grande importância para minha vida. Ainda acredito que faltou incentivo, especialmente por parte da minha família, pois, se tivesse contado com mais apoio familiar, talvez hoje tivesse menos dificuldade em leitura e interpretação. Sinceramente, a leitura nunca foi meu forte; perco facilmente a concentração e foco em textos longos. Penso que, se tivesse recebido mais motivação, hoje minha relação com a leitura e a escrita seria melhor, facilitando, inclusive, a produção de textos acadêmicos.

Minha trajetória escolar inicial foi na Escola Municipal Francisco Máximo, localizada na comunidade de São João, no município de Cristália-MG, onde estudei da 1ª à 4ª série dos anos iniciais. A escola ficava próxima de casa, e eu adorava ir às aulas, não faltava um dia. Em 2004, ingressei no ensino fundamental, na Escola Estadual Professor Tutu, localizada na Avenida Teodomiro Borges, na cidade de Cristália-MG. Andava de ônibus todos os dias cerca de 50 km até a escola. Lá, fiz novas amizades e conheci novos professores. No início, senti-me meio perdida, pois a escola era muito maior e a movimentação era intensa. O que mais me assustou foi a quantidade de professores; a cada 50 minutos trocava o professor da aula. No começo foi difícil, mas me adaptei rapidamente, pois sempre fui uma aluna dedicada e buscava constantemente aprender para meu aperfeiçoamento.

Nesta mesma escola, concluí o ensino médio em 2010. Sempre gostei de estudar e não parei por aí. Em 2013, a cidade de Cristália foi contemplada com um processo seletivo aplicado pela Universidade Aberta do Brasil (UAB), que ofereceu várias graduações. Gosto sempre de tentar os vestibulares disponíveis no meu município. No dia 14 de julho de 2013, fiz a prova para a licenciatura em Educação Física, mas, infelizmente, não consegui uma das vagas. Fiquei triste, pois sempre sonhei em me formar nessa área, por gostar muito de esportes. Não desisti! Três meses depois, Deus me abriu uma porta de emprego na educação como alfabetizadora de jovens e adultos no programa Travessia Nota 10. Foi uma experiência inovadora e me mostrou que é possível educar de forma diferente, sem repressões, incentivando a participação dos alunos e valorizando o conhecimento prévio que cada um traz de seu cotidiano.

Nesse mesmo ano, tive a oportunidade de realizar um curso técnico em Secretaria Escolar oferecido pelo Instituto Federal do Norte de Minas Gerais (IFNMG). Durante o curso, fiz estágio na secretaria da Escola Municipal Dona Caroline Ursine, o que enriqueceu minha vida tanto pessoal quanto profissionalmente. Esse curso não era o que sonhava, mas agradeço a Deus por tudo. O importante é nunca desistir. Em 2018, tive a oportunidade de fazer minha primeira graduação em Administração Pública. E hoje estou aqui novamente buscando enriquecer meu currículo e minha vida profissional. Como já disse, nunca desisti das oportunidades. Surgiu o vestibular para Pedagogia e Matemática no meu município e, ao me inscrever, apesar da paixão pela Matemática, acabei escolhendo Pedagogia. Confesso que me arrependo, mas agora é seguir em frente, manter o foco e aproveitar essa nova oportunidade de fazer outra graduação.



SOBRE A AUTORA:

Maurizete Máximo da Fonseca Santana, de Cristália/MG, é acadêmica da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), onde cursa Pedagogia. Produziu este relato na disciplina Práticas de Leitura e Produção de Textos, ofertada de julho a novembro de 2024.


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Minhas memórias

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Martha Fernandes, Pedra Azul/MG

O desejo da nossa mãe sempre foi que fôssemos à escola, eu e minhas irmãs, mas, como de costume, ela nos deixava na creche a caminho do trabalho. Logo em seguida, nosso pai ia nos buscar; na cabeça dele, éramos muito novas para ir à creche. Como meus pais eram muito jovens, minha mãe, que morava na roça, teve que parar de estudar. Ela não queria que a gente perdesse o gosto de estudar e ler, então meu pai, aos poucos, foi se acostumando com a ideia.

Eu, curiosa, queria aprender rápido para sair logo da escola. (rsrs) Mas fui pegando gosto. Aos 7 anos, aprendi a realmente ler. Lembro-me que gostava muito das minhas professoras do fundamental I. Uma especial, eu queria que chegasse logo o dia seguinte para frequentar sua aula. Ela passava uma segurança total, que é um ponto muito importante para quem está aprendendo a conhecer novas coisas. Brincalhona e meiga, contava histórias e fazia teatro com fantoches. Fui ficando mais fascinada e, para não errar no dia da leitura, parava na rua antes de chegar à escola e lia tudo.

Fui crescendo e conhecendo novos professores. Eu achava a minha primeira professora era boa, assim como as outras, nunca tive professores ruins. Nas outras aulas, como ortografia, tinha um policial que ia à escola pegar a tabuada; eu morria de medo e nem dormia direito, mas na hora era tranquilo. Tudo foi uma questão de tempo para eu evoluir cada vez mais.

À medida que fui crescendo, às vezes tinha vontade de parar de estudar, mas lembrava: quero um emprego bom, quero minhas conquistas, então parei de pensar em parar. Engravidei aos 17 anos, em uma gravidez de risco, e não passei de ano por falta. Esse foi mais um motivo para não desistir e concluir o ensino médio. Para me ajudar e incentivar, meu pai me levava até a escola para eu terminar.

Hoje, eu digo a elas que estudar nunca é demais; adquirir conhecimento nunca é demais. Lembro que coloquei minha filha na escola muito cedo e gritava para aprender a ler. Isso me faz lembrar da minha infância: muita calma e segurança para ela. E hoje estou aqui, adquirindo novos conhecimentos. Parei de ler por muito tempo, mas estou voltando às origens; ler nunca é demais. Isso é um pouco do que vivi. Tem algumas coisas que não me recordo mais, mas lembro que fui muito feliz a cada descoberta.



SOBRE A AUTORA:

Martha Fernandes, de Pedra Azul/MG, é acadêmica da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), onde cursa Pedagogia. Produziu este relato na disciplina Práticas de Leitura e Produção de Textos, ofertada de julho a novembro de 2024.


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Pequeno relato de aprendizagem

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Maristane Rodrigues de Oliveira, Águas Formosas/MG

Minhas lembranças da infância são vagas, principalmente sobre a aprendizagem. Dentro de casa, a influência para a leitura era escassa; minhas tias liam muitos romances e revistas, mas não tínhamos livros infantis. Minha tia Selma cursou o magistério, e eu me recordo de uma atividade feita por ela: um cartaz com uma linda bailarina desenhada e, ao lado, a poesia da bailarina. Era tão lindo que eu queria para mim. Lembro que íamos à igreja e, em alguns dias, distribuíam jornais com as letras das músicas. Cresci escutando músicas no rádio e gostava muito do meu disco da Xuxa.

Entrei na creche assim que completei 6 anos, em maio de 1998. Minha professora era a tia Castorina, e eu gostava muito dela. Recordo que sempre cantávamos a música do alfabeto da Xuxa, o que me ajudou bastante a conhecer as letras. Em casa, minha tia Selma sempre me ajudava com os deveres. Meus avós eram analfabetos e não conseguiam me ajudar, mas sempre me incentivaram a estudar.

No ensino fundamental, na escola Major Raimundo, lembro das prateleiras com livros na sala de aula. Havia um livro que eu adorava, “A briga do Sol e da Lua”, de Vanessa Alexandre. Me lembro de uma poesia chamada “As borboletas”, de Cecília Meireles, que recitava frequentemente. Meus avós participaram do programa Brasil Alfabetizado, e eu, minhas tias e minha irmã os ajudávamos a ler e escrever. Ficávamos muito felizes por eles. Tenho até hoje um desenho feito pela minha avó dessa época.

Na quinta série, mudei de escola e fui para a Capitão Inácio. Lá, ganhei um trio de livros, li os três e me apaixonei, mas não lembro os nomes. Nessa época, também li um livro sobre mulheres fortes, mas acabei esquecendo o título. Como queria ler esse livro novamente! Lia muito com minhas amigas as revistinhas do clube Ma Cherie e ficávamos ansiosas pela chegada delas uma vez por mês.

No ensino médio, mudei novamente de escola, para a José Quaresma. Lá, não tive muito incentivo e a influência era escassa. Nessa época, dei aulas de reforço para minha prima, que estava com notas baixas. Eu produzia textos e elaborei perguntas para a produção de texto. Com o tempo, ela melhorou e fomos elogiadas pelo professor em uma reunião de pais. Depois dessa reunião, ganhei outro aluno, mas, infelizmente, ele não teve o mesmo incentivo e não melhorou.

Em 2011, comecei a trabalhar e, em 2013, a cursar o magistério. Como trabalhava e estudava, não tinha muito tempo para ler; só lia na escola. Gostava bastante dos trabalhos em grupo e me lembro de três em especial. O primeiro foi produzir um livro infantil, chamado “Moli, a formiga cantora”. Fizemos um lançamento com decoração de formigueiro de barro e formiguinhas de E.V.A., que ficou lindo. O segundo foi uma apresentação de “A Formiguinha e a neve”. A terceira foi a apresentação da música “A Arca de Noé” no abrigo, todos vestidos de bichinhos. Finalizei o curso, mas não cheguei a trabalhar como cuidadora.

Hoje, com 32 anos, gosto muito de livros de romance. Trabalho em uma empresa de turismo e me comunico com os clientes pelo WhatsApp, então leio o dia todo. Como chego em casa cansada, não tenho muito ânimo para ler, e o único incentivo de leitura que minha filha tem é ler a Bíblia, pois fazemos isso todos os dias. Mas pretendo mudar, pois hoje sinto que teria sido melhor se eu tivesse recebido mais incentivo para a leitura.

Estou começando uma nova etapa na minha vida: a tão sonhada faculdade. Sei que vou ter que escrever muitos textos e ler bastante. Espero dar o meu melhor e, em quatro anos, estar formada e, se Deus me permitir, trabalhando em uma escola, incentivando meus alunos com muita leitura.



SOBRE A AUTORA:

Maristane Rodrigues de Oliveira, de Águas Formosas/MG, é acadêmica da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), onde cursa Pedagogia. Produziu este relato na disciplina Práticas de Leitura e Produção de Textos, ofertada de julho a novembro de 2024.


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De volta ao passado

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Marta Aparecida Martins Ferreira, Itamarandiba/MG

Sou casada, mãe de quatro filhos e tenho um neto. Na minha infância, brincávamos de queimada, roubar bandeira, passar anel; havia também as cantigas de roda e tantas outras que hoje as crianças não conhecem. Quantas saudades!

Hoje, com 48 anos, volto aos anos 80, lembrando das leituras e dos livros. Antes de entrar na escola, minha tia fazia a leitura da Bíblia; eu não sabia ler, mas ouvia. Também acompanhava as novenas de Natal, e o rádio a pilha era uma das diversões. Nele, ouvíamos músicas e notícias na “Voz do Brasil”. Aprendi a ler quando fui para a escola. Gostava da história da aparição de Nossa Senhora de Fátima nas revistas e me lembro também de quando minha mãe rezava o terço com a gente (num livreto havia a contemplação dos mistérios).

Conheci o dinheiro e aprendi a contar até 10 com meus pais, mas não me lembro de quando comecei a entender o valor do cruzeiro. O cruzado, que veio depois, eu já entendia um pouco. A moeda sofreu alterações até chegar ao real, uma data bem marcante, pois já trabalhava e o primeiro pagamento foi na transição da moeda do cruzeiro real para o real.

Aprendi a fazer as primeiras contas na escola e achava os problemas difíceis. A escola teve um papel muito importante naquele tempo, pois a família incentivava; porém, não tinha tempo para ajudar os filhos, pois trabalhavam na roça. Aprendi a escrever com 7 anos, e as provas eram todas questões abertas. Tínhamos um caderno de provas, onde as questões eram copiadas à mão.

O tipo de texto com o qual mais tive contato era o narrativo. Lia muitos textos sobre a natureza (narrativas em contextos rurais). Nas redações, escrevíamos sobre nossos costumes. Naquela época, quando iniciei os estudos aqui na minha comunidade de Santa Luzia, no município de Itamarandiba, só havia até a 4ª série e não havia biblioteca; mas lia o que tinha ao meu alcance, como jornais e revistas. Com o passar do tempo, melhorou o acesso aos meios de comunicação, como, por exemplo, a televisão, mas o acesso à internet veio bem depois.

No período da educação básica, quando ganhava um dinheiro, já sabia contar o valor. Não tenho facilidade com textos universitários. Sinto falta dos conteúdos de matemática que não aprendi no ensino médio, pois concluí esta disciplina no ENEM. O conhecimento com números me ajuda bastante, pois administro bem minhas questões financeiras. Tenho dificuldades nas disciplinas de matemática que envolvem números e letras.

Neste primeiro ano na universidade, irei me dedicar à leitura e à escrita, pois elas aprimoram o aprendizado e nos mantêm por dentro dos acontecimentos. Infelizmente, me sobra pouco tempo para estudar, pois o trabalho exige muito, mas farei o possível para obter um bom desempenho.



SOBRE A AUTORA:

Marta Aparecida Martins Ferreira, de Itamarandiba/MG, é acadêmica da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), onde cursa Pedagogia. Produziu este relato na disciplina Práticas de Leitura e Produção de Textos, ofertada de julho a novembro de 2024.


A orientação deste trabalho e a organização do e-book foram realizadas por Carlos Henrique Silva de Castro, Kátia Lepesqueur e Virgínia Batista.

Meu primeiro contato com a escola

Meu primeiro contato com a escola

Os textos publicados individualmente nesta página podem ser lidos reunidos nos volumes da coleção Memórias de Letramentos. Para adquirir seu e-book gratuito ou impresso  pelo preço apenas do serviço de gráfica, clique no banner ao lado ou no fim da página.


Marina Nogueira de Sousa, Grão Mogol/MG

Meu nome é Marina. Sou a filha caçula de cinco filhos que minha mãe gerou. Como minha mãe ficou viúva muito cedo, teve que trabalhar muito para cuidar dos filhos. Meus quatro irmãos não tiveram a oportunidade de estudar, pois precisavam ajudar na renda da família. Além disso, a escola era muito longe de casa e não havia transporte escolar. Por isso, em casa, não havia nenhum meio de aprendizagem, nem livros, jornais ou revistas.

Nós morávamos na roça. A vida era bem precária. Na minha casa, não havia energia elétrica nem água encanada. O que me lembro é do meu avô, que sempre colocava um disco no toca-discos antigo para ouvir música e dançar. Assim, dentro de casa, nem nos vizinhos, havia meios de aprendizagem.

Quando eu tinha 7 anos, pedi à minha irmã que me matriculasse na escola, que nessa época já era próxima de casa, a cerca de uma hora de viagem todos os dias. Ao chegar à escola, eu não sabia nada. Lembro das letras do alfabeto pregadas na parede, e a professora batia a mão em cima da letra e falava: “A, B, C”, e assim por diante.

Na escola em que estudei os anos iniciais, chamados de ensino fundamental, a professora me excluía. Não sei ao certo o motivo, se era pela condição financeira, pela cor ou até mesmo por ter muitas dificuldades de aprendizagem. Sinto que isso me prejudicou muito até hoje, pois não me sinto segura para realizar algumas atividades.

A caminhada até a escola era muito complicada. Quando o rio enchia, não havia como ir para a escola, então eu tinha muitas faltas. Na escola, não havia biblioteca; existiam alguns livros, como “João e o Pé de Feijão” e outras histórias infantis, que eu gostava muito. Vejo que a leitura é o divisor de águas na vida de um estudante; como não tive essa base, me sinto muito prejudicada.

Ao iniciar a quinta série em uma escola maior, lá já havia uma biblioteca, e as coisas começaram a mudar para mim. Existiam professores que incentivavam a leitura e a escrita. Com a vida adulta e após tentar alguns trabalhos, percebi a falta que faz não ter uma boa base de leitura. Já a matemática básica, usada no dia a dia, me serviu muito, pois sei o básico que se usa na rotina.

A diferença que senti do ensino básico para a faculdade é que há muito material para ler, e a leitura está interligada à aprendizagem. Com o tempo curto e muito material a ser trabalhado, o essencial é criar rotinas de estudo e um cronograma para poder compreender. A linguagem acadêmica é muito diferente da clássica. A disciplina ou gênero que mais gostei até hoje foi a História da Educação. O conteúdo em que sinto que fiquei defasada é o da língua portuguesa, como pontuação, adjetivos, entre outros.

Minha vida financeira é bem complicada; não tive base para administrar bem minhas finanças. Não culpo a matemática, pois sou responsável pelos meus atos. Não me recordo de ter tido aula de finanças na escola, mas vejo a importância dela para formar cidadãos prontos para organizar sua vida financeira.

Enfim, apesar de todos os traumas acima relatados, sofrimentos e rejeições, me sinto uma vencedora por estar na minha segunda graduação.



SOBRE A AUTORA:

Marina Nogueira de Sousa, de Grão Mogol/MG, é acadêmica da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), onde cursa Pedagogia. Produziu este relato na disciplina Práticas de Leitura e Produção de Textos, ofertada de julho a novembro de 2024.


A orientação deste trabalho e a organização do e-book foram realizadas por Carlos Henrique Silva de Castro, Kátia Lepesqueur e Virgínia Batista.

Meu processo de aprendizado

Meu processo de aprendizado

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Mariana Braga Melo, Pedra Azul/MG

O desbravamento dos textos se iniciou na minha vida em Teresina/PI, a poucos quilômetros da minha cidade natal, Bacabal/MA. Através da Bíblia que minha bisavó sempre deixava aberta, onde guardava as fotos dos meus tios, primos e seus antepassados como forma de proteção, tive meu primeiro contato com as letras e textos. Ao folhear sua Bíblia, não sabia o que estava escrito, mas passeava meu dedo sobre os registros. Morávamos em uma casa de aluguel e tínhamos uma TV pequena de tubo com antena telescópica, fixada na parede com um prego. Era comum assistirmos às novelas e ver as legendas passando no canto inferior da TV. Sem entender o que se passava, apenas observava as letras como se estivessem dançando, e a cada momento eram passos diferentes, ou melhor, palavras diferentes. Ao receber cartas do banco, minha bisavó, não tão cuidadosa, sempre as deixava em locais que eu conseguia alcançar e brincar com os papéis. Alguns até chegaram a sumir sem que ela percebesse. Hoje, percebo que, na mão de uma criança, um papel com letras, números e informações pessoais pode não significar nada, mas a partir de um certo ponto (idade), começa a ser um ponto de partida para a compreensão do seu ser e do mundo.

Aos 9 anos de idade, receber moeda de algum parente ou achar cinco ou dez centavos no chão da rua sempre foi motivo de empolgação, fazendo com que eu caminhasse direto para uma vendinha mais próxima para gastar com doces, pipocas e geladinhos. Isso aguçava meu interesse em aprender a manusear o dinheiro, para saber quanto de troco iria voltar e se não estávamos sendo enganados, de modo que no dia seguinte eu pudesse voltar à vendinha com mais moedas e comprar mais guloseimas.

Minha família sempre foi muito incentivadora. Nunca me deixaram faltar sequer um dia de aula, por buscar os melhores materiais e por me levar ao ponto da escola até eu ganhar independência para ir sozinha. Sempre fui responsável com o famoso “para casa” e os trabalhos da escola. Minha busca era na papelaria mais próxima, onde eu recebia cópias impressas com o tema solicitado e as transcrevia para outra folha. Passava a tarde inteira transcrevendo e colando imagens. Assistência para ensinar ou orientar eu não recebia; para minha bisavó, a única opção era trabalhar e cuidar dos afazeres de casa. Portanto, ela nunca me deixou faltar um suco de maracujá com pão e manteiga, criando memórias afetivas da minha infância.

As lembranças do meu ensino fundamental I estão principalmente relacionadas ao 4º e 5º anos, nos anos de 2013 e 2014. Naquela época, não se repassava a noção da importância da leitura e seus benefícios, e a visita a uma biblioteca não era incentivada nem mencionada.

O ensino fundamental II começou em 2015, ainda em Jaboatão dos Guararapes/PE, no 6º ano, e continuou de 2016 até 2018 em Pedra Azul/MG. Foi marcado pelo uso da biblioteca, onde os alunos que pegassem mais livros, ao final do bimestre, recebiam um tipo de incentivo para continuar nessa jornada de imersão na leitura desde cedo.

No ensino médio, o foco estava voltado para a realização do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM). Escrever, ler e reler textos, tanto da minha autoria quanto de outros autores, era algo que eu fazia para usar como inspiração e fonte de comparação. Meu ponto forte sempre foi a escrita; os cálculos matemáticos, de forma literal, “não entravam na minha cabeça”. Isso já foi motivo de lágrimas e soluços, devido à dificuldade em compreender uma fórmula matemática. Minha sensibilidade e o medo de não conseguir aprender eram reais e intensos.

No ano de 2020, no 2º ano do ensino médio, fui pega pela pandemia. Depois de um ano tão caloroso, com a idealização de viver cada ano do ensino médio com toda entrega, o baque veio. A ideia de ter que estudar em casa não era compreendida; como eu iria aprender e me preparar para o ENEM? Como seriam essas provas? Apenas com um celular conectado à internet, consegui vencer e, muitas vezes, ser minha própria professora, buscando aprender sozinha. No final de 2021, voltamos, já no 3º ano.

Consegui uma bolsa no curso técnico em Enfermagem e comecei a ter acesso a uma linguagem mais técnica, com terminologias da área da saúde. A partir daí, meu aprofundamento em artigos e uma linguagem que exige um esforço maior para o entendimento trouxe uma mudança positiva. Sair da leitura dentro da minha realidade e começar a desbravar outras é sair de uma zona de conforto que muitas vezes me segurou. Os textos dissertativos e argumentativos são os que mais me prendem e me envolvem, ajudando-me a desenvolver meu lado crítico.

Passar no vestibular da UFVJM é uma realização que traz diversos sentimentos e alivia aquela aflição do: “Será que vou conseguir entrar em uma universidade pública? Caso contrário, diante das minhas condições, não conseguirei fazer nenhuma graduação, já que pagar não está ao meu alcance.” Agora, é um degrau acima de tudo o que já fiz parte; é mergulhar de corpo e alma para que todo o esforço da minha bisavó seja validado.



SOBRE A AUTORA:

Mariana Braga Melo, de Pedra Azul/MG, é acadêmica da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), onde cursa Pedagogia. Produziu este relato na disciplina Práticas de Leitura e Produção de Textos, ofertada de julho a novembro de 2024.


A orientação deste trabalho e a organização do e-book foram realizadas por Carlos Henrique Silva de Castro, Kátia Lepesqueur e Virgínia Batista.

Relatos de uma infância de letramentos

Relatos de uma infância de letramentos

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Lucimar Cabral de Oliveira, Pedra Azul/MG

Lembro-me de quando eu era pequena e minha irmã contava muitas histórias para mim e para meu irmão, além dos amiguinhos que eram nossos vizinhos, como fábulas e outras histórias que ela aprendeu na escola com a professora de português. Ela também contava as histórias que meu pai e minha mãe contavam a ela e aos meus outros irmãos quando éramos pequenos. Meu pai e minha mãe são analfabetos, mas, ainda assim, eles conhecem muitas histórias e casos que os pais deles contavam entre um trabalho e outro na roça. Eles não tiveram a oportunidade de frequentar uma escola, mas, mesmo assim, são muito sábios. Não sabem ler nem escrever, mas têm uma mente brilhante.

Minhas irmãs mais velhas tinham alguns cadernos de confidências, onde faziam colagens de personagens de novelas que saíam em jornais e revistas. Também havia escritos, como poemas e versos que diversas colegas de escola escreviam para elas. Eu ainda não sabia ler, mas ficava horas olhando aqueles cadernos e gostava muito quando minha irmã lia as mensagens escritas neles. Todas as noites, só dormia depois que minha irmã chegava da escola para contar histórias para eu dormir; a que mais gostava de ouvir era a da formiguinha e a neve.

Comecei a estudar na creche com três anos de idade. Meus primeiros contatos com letras e números na escola foram através de atividades de coordenação motora, contornando letras e números com bolinhas de papel crepom, jogos de cartas, contato com livros, histórias que a professora contava e musicalização com músicas do alfabeto e números.

Aos quatro anos, tive meus primeiros contatos diretos com livros e textos, pois, nesse momento, não ficava só no pátio como antes; havia um período pela manhã em que ia para a sala de aula, onde fazia várias atividades, colorindo letras e trabalhando com meu nome completo. Cantava a música das vogais e o alfabeto da Xuxa. Gostava muito quando a professora começava a cantar as músicas com as continhas e as letras; era muito legal. Sempre fui curiosa para saber das coisas, e, apesar de meus pais serem analfabetos, desde muito cedo nos incentivaram a estudar. Com cinco anos, já sabia os números de 1 a 20 e reconhecia letras; ainda não sabia ler, mas gostava de brincar com quebra-cabeças de números e letras.

Comecei a ler aos sete anos, mas tinha muito medo de ler. A matéria que mais gostava era matemática, mas, à medida que fui crescendo, tive um pouco de dificuldade nessa matéria. Mesmo assim, ainda era apaixonada por ela. Certa vez, a professora, ao ver que alguns alunos ainda não conseguiam resolver a tabuada, teve uma ideia: perguntou se na casa de vocês havia um pé de árvore. Respondemos que sim. Então, ela disse: “Vocês vão pegar a tabuada e vão se sentar embaixo da árvore, repetindo cada tabuada em voz alta dez vezes. Vocês vão ficar ótimos!”

Não era muito fã de português porque sempre tive dificuldade em fazer leitura em público. Tinha muito medo, pois, quando criança, as leituras e tabuadas eram feitas na secretaria da escola pela diretora ou pelo conselheiro tutelar. Dizia-se tanto que eles eram bravos que quem lia mal ganhava uma varada. Ao chegar na porta, já me sentia mal e não dava conta de ler a tabuada; era tranquilo, mas a leitura sempre ia mal. Lia bem na sala, mas na secretaria gaguejava demais. Só que nunca me bateram. Além do medo das pessoas que tomavam a leitura, era muito tímida, e sou até hoje. Tenho muita vergonha de falar em público.

Creio que passei por etapas da minha vida que ficaram um pouco falhas, principalmente nos anos iniciais. Não gosto muito de ler nem de escrever; acredito que seja algo que trouxe das séries iniciais. No entanto, no ensino fundamental, algumas coisas mudaram. A professora começou a nos levar à biblioteca da escola, onde, no início, nunca íamos. Antes, era só para os professores pegarem livros para copiar algo no caderno, e eu não gostava muito disso.

Contudo, como já disse, houve uma mudança e passamos a pegar livros na biblioteca da escola para lermos e falarmos sobre o que tínhamos lido. Comecei então a gostar de ler livros de história e poemas. Gostava muito, principalmente de contos infantis e fábulas. No fundamental II, a professora dava textos e matérias para lermos, fazer resumos explicativos e trabalhos em grupo para apresentar aos colegas. Apesar da timidez, conseguia, do meu jeito, fazer tudo. Nunca fiquei sem fazer um trabalho.

No ensino médio, no mesmo ano em que comecei, surgiu na escola um projeto no qual cada semana os alunos tinham que ler um livro diferente e recontá-lo. A atividade contava como nota e a professora cobrava muito de nós, tanto em leitura quanto em produção de textos. Também, quando eu ou meus colegas tirávamos nota baixa nas provas, tínhamos que copiar quase toda a prova. Eram textos muito grandes e, se não fizéssemos o que a professora pedia, perderíamos o bimestre.

Reclamávamos muito dela, pois sentíamos aquela prática como algo ruim, mas, quando se aposentou e parou de dar aula, ficamos tristes, pois percebemos que iríamos perder uma excelente professora. Ela era um pouco rígida na sua forma de ensinar, mas contribuiu muito para nossa aprendizagem. Não fiquei muito tempo nessa escola, pois tinha que estudar à noite, já que só consegui vaga para o período noturno. Então, resolvi terminar meus estudos em uma escola voltada para jovens e adultos. Lá, esperávamos os livros para estudar, havia dias para tirar dúvidas e fazer as provas.

Terminei o ensino médio em 2012. Tempos depois, fiz alguns cursos, e nos cursos que fiz éramos incentivados a ir à biblioteca pegar livros para ler, e fazíamos resumos deles. Era muito legal. No curso, o último livro que li foi “O Pequeno Príncipe”. O incentivo é bom, pois até as matérias eram mais bem compreendidas. Lá, havia até projetos de leitura e olimpíadas de matemática; era maravilhoso poder participar de tudo.

Certa vez, quando estava fazendo curso técnico em informática, o professor chegou e disse: “Vocês vão ter que dar uma palestra sobre determinado assunto do curso para toda a escola. Se preparem.” Eu comecei a tremer, pensando como iria conseguir falar para a escola toda, se mal conseguia falar na frente dos meus colegas. Mas fui e, para minha surpresa, consegui! Naquele dia, percebi que não devemos deixar a timidez falar mais alto. Fiquei muito feliz nesse dia e agradeço a ele por ter me incentivado.

Não sou nem a metade do que almejo para mim, mas estou a caminho e estou muito feliz em estudar na Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), na Licenciatura em Pedagogia. Estou cada vez mais adquirindo novos conhecimentos, pois pretendo ser uma pedagoga, uma professora maravilhosa para meus pequenos, assim como meu exemplo, que é minha irmã, professora e supervisora de uma determinada escola.

Por fim, devo tudo que sou hoje aos meus familiares e professores que me incentivaram a continuar com meus sonhos e projetos.



SOBRE A AUTORA:

Lucimar Cabral de Oliveira, de Pedra Azul/MG, é acadêmica da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), onde cursa Pedagogia. Produziu este relato na disciplina Práticas de Leitura e Produção de Textos, ofertada de julho a novembro de 2024.


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Memórias de uma infância escolar

Memórias de uma infância escolar

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Luciene Silva dos Santos, Pedra Azul/MG

Meus pais não eram e não são alfabetizados. Meu pai (in memoriam) era agricultor, e minha mãe (do lar) nunca teve a oportunidade de se alfabetizar. Por esse motivo, meu primeiro contato com as letras foi através de folhetos de leitura da igreja e discos de vinil (lembro que havia uma imagem de índio na capa de um desses discos).

Quando cheguei à idade de ir para a creche, lembro que não queria ficar, mas, com o tempo, me acostumei. Lá, pude ter mais contato com os números, os núcleos etc.

Já na escola, no pré-escolar, comecei a vislumbrar como escrever meu nome e as letras usadas para formar palavras. A forma como a professora ensinava, com músicas e brincadeiras dinâmicas (essa professora, que até hoje chamo de “tia”, ficou eternizada na minha memória pelo cuidado em nos mostrar a beleza do aprender), foi muito especial.

Quando já soube ler, tive a experiência de ir à biblioteca conhecer os livros e a riqueza de seus textos. Gostava muito de ler Monteiro Lobato, “O Corvo” e “Chapeuzinho Vermelho”. Essa história me rendeu o papel da vovozinha de Chapeuzinho em uma peça da escola, um desafio proposto pela nossa professora do 3º ano do ensino fundamental.

Lembro que, toda semana, levávamos um livro para casa, onde deveríamos ler e preencher uma ficha literária. Nessa ficha, colocávamos o nome do aluno, o título do livro, o nome da escola, a série, o nome do professor e o nome do autor do livro. Assim, a professora avaliava nosso desempenho na leitura.

Aqui onde moro havia uma biblioteca pública onde podíamos nos sentar para ler um livro ou até mesmo levá-lo para casa, com prazo para devolução. Também usávamos a biblioteca para fazer pesquisas escolares e trabalhos extracurriculares. Até hoje, sinto nostalgia quando lembro dessa fase da minha vida.

Embora meus pais não tenham tido a oportunidade de aprender a ler e escrever, sempre nos incentivaram a ir para a escola. Na escola, aprendi a respeitar e admirar as pessoas. Lembro também que nossas atividades eram ‘impressas’ no mimeógrafo com álcool, pois não havia impressoras. As provas e atividades vinham todas em azul, com um forte cheiro de álcool. Havia desenhos para colorir, e nas provas finais, sempre havia uma árvore de Natal. Foi uma das épocas mais marcantes da minha vida, e até hoje me recordo de alguns professores que me ensinaram a ler e escrever. Essas são minhas memórias da minha infância escolar.



SOBRE A AUTORA:

Luciene Silva dos Santos, de Pedra Azul/MG, é acadêmica da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), onde cursa Pedagogia. Produziu este relato na disciplina Práticas de Leitura e Produção de Textos, ofertada de julho a novembro de 2024.


A orientação deste trabalho e a organização do e-book foram realizadas por Carlos Henrique Silva de Castro, Kátia Lepesqueur e Virgínia Batista.

Saudades do Aurélio

Saudades do Aurélio

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Karina de Matos Fernandes, Itamarandiba/MG

Ah, que saudades que tenho do Aurélio, meu companheiro tão presente na minha vida escolar. Lembro de você como peça fundamental para o meu aprendizado. Hoje, vendo os avanços da tecnologia, fico triste em saber que as novas gerações não conhecem e jamais conhecerão você.

Hoje, as palavras não são mais as mesmas de antigamente; elas perderam algumas letras e é preciso decifrar qual a mensagem que as pessoas desejam passar. Temos “Blz”, “Ñ”, “Ss”, “Pq”, entre muitas outras, e algumas das quais precisamos pesquisar pra compreender.

Ah, que saudades da época da escola! Tantas lembranças: os dias de prova tinham cheirinho de álcool, pois o professor usava os famosos mimeógrafos. Alguns livros ficaram marcados na minha memória, como Os Capitães da Areia, um romance de Jorge Amado. Que estória! O livro relatava uma realidade dura, totalmente distante da minha.

Lembro-me também dos livros de pesquisa que tinham capa dura, de cor vermelha com letras douradas grafadas e centenas de páginas: os elegantes livros Barsa, as bibliotecas com aquelas prateleiras repletas de livros, mundos de experiências e histórias!

Tentando lembrar-me de memórias mais antigas, pois já estou “batendo na porta dos meus 40 anos”, precisei recorrer às informações da minha querida mãe. Eu comecei a estudar e a ter acesso às letras e números aos cinco anos de idade, na Escola Municipal de Educação Infantil de Santa Isabel, no estado de São Paulo. Quando aprendi a ler, todas as placas na rua me fascinavam, e minha mãe sempre brincava quando entrávamos no ônibus e dizia: “Filha, fica caladinha, senão precisaremos pagar a passagem!”

Uma coisa interessante sobre números: não me ensinaram o algarismo romano. Eu morava em outra cidade em São Paulo, e, na metade do ano letivo, mudamos para Minas Gerais, a “terra do queijo”. Passou despercebido pelos meus educadores o fato de essa matéria não ter sido incluída na minha grade curricular, pois se tratava de uma aluna em transição, e os conteúdos não foram os mesmos na mesma sequência entre as escolas.

Minhas experiências com dinheiro não são muito boas (risos). Lembro-me de que, ainda criança, meu pai me deu alguns cruzados e eu não queria gastar. Num belo dia de passeio, levei o meu dinheirinho e o perdi pelo caminho. Ali aprendi a não ter amor pelo dinheiro.

Há algumas memórias que vêm à mente quando me lembro dos meus boletins, todos recheados com notas acima de 20 e muitos totais de 25. Sempre muito estudiosa e inteligente, fui premiada em todos os bimestres.

Na escola, eu tive minha primeira experiência com plágio. Cada aluno teria que fazer uma frase para a formatura da oitava série, e as melhores frases seriam escolhidas. Para minha surpresa, quando recebemos os convites, que tinham o formato de um pequeno livro, minha frase estava estampada em uma das páginas e abaixo o nome da professora. Nesse momento, olhei com deslumbramento para a professora e disse: “Essa frase fui eu que escrevi!” Foi um misto de orgulho e alegria por ver ali o fruto dos meus pensamentos e decepção, pois não me foram dados os devidos créditos. Essa foi a primeira das muitas injustiças que a vida me reservava.

Na minha época, não era importante ser apenas inteligente; era preciso ter uma boa condição financeira. Há vinte e dois anos, não existia a possibilidade de estudo a distância como se tem hoje. Para buscar uma formação profissional, era preciso se deslocar para outra cidade, o que gerava custos. Com a mentalidade e os recursos dos nossos pais, o objetivo era apenas concluir o ensino médio e arrumar um bom emprego. Muitos de nós não tivemos a oportunidade.

Na minha época, não existia internet. Ela chegou à nossa cidade por volta de 2005, mas nem todos tinham acesso e a velocidade era ruim! Ainda lembro da conexão através de modem. A partir daí, ela cresceu e hoje está acessível em todo lugar. Confesso que ela nos deixou um pouquinho mais preguiçosos; já não usamos mais a escrita correta e nem paramos para pensar qual seria, pois o teclado do celular imediatamente se antecipa.

Nem lembramos mais da tabuada; não fazemos mais contas de cabeça, até para o ‘2 + 2’ precisamos da calculadora. Não pesquisamos mais em livros, pois o Google sabe de tudo, e agora, então, com a nova ferramenta, o ChatGPT, cada dia que passa nos leva à comodidade. As fórmulas que aprendemos na escola poucas ainda fazem sentido, mas aquela velha mentalidade de que não havia nada além do terceiro ano não me deixou aprofundar mais!

Ah, se essa geração soubesse a joia preciosa que tem na palma das mãos! A internet, de mãos dadas com a educação, pode nos proporcionar realizações de sonhos que antes eram inalcançáveis: um estudo de boa qualidade, onde você nem precisa sair de casa, com conteúdos de conhecimento usando a internet a nosso favor.

O que posso dizer a essa nova geração? Hoje tenho a oportunidade de cursar a minha tão sonhada faculdade, e meu conselho é: estudem, formem-se e tornem-se bons profissionais. Que essa vontade de conhecimento seja passada de geração a geração, e que a busca pelo conhecimento seja maior do que a busca pelos likes!



SOBRE A AUTORA:

Karina de Matos Fernandes, de Itamarandiba/MG, é acadêmica da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), onde cursa Pedagogia. Produziu este relato na disciplina Práticas de Leitura e Produção de Textos, ofertada de julho a novembro de 2024.


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Visitando o baú da memória de Júnia

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Júnia de Almeida Freire, Pedra Azul/MG

Na minha casa, vivia uma grande família. Éramos dez: pai, mãe e oito filhos. Não era uma vida fácil, mas éramos felizes com o pouco que tínhamos. Meus pais faziam questão de ensinar princípios e nos incentivavam a estudar, pois eles não tiveram as oportunidades que nós tínhamos. Na época deles, ou se estudava ou se trabalhava na roça.

Muitas vezes, compartilhávamos a mesma mochilinha: um usava pela manhã e o outro, à tarde. Os cadernos eram encapados com papel de pão ou saquinho de açúcar, e os lápis de escrever eram aguardados com expectativa, como se fossem o tão esperado pacote de macarrão. O uniforme da escola era uma jardineira azul com blusa branca, que precisava ser lavada assim que chegávamos da escola, para ser usada no dia seguinte.

Lembro-me também da ansiedade de esperar a nossa vez de tirar a maravilhosa foto com os bracinhos cruzados ao lado dos livros e do globo terrestre. Tínhamos livros que meus irmãos mais velhos ganhavam na escola e traziam para casa. Eu adorava folheá-los, olhando as gravuras, pois ainda não sabia ler.

Eles também traziam revistas em quadrinhos e álbuns de figurinhas, que compravam na banca de revistas ou nas vendas próximas de casa, sempre na expectativa de encontrar a tão sonhada figurinha premiada. Também tínhamos o hábito de brincar de missa, usando os folhetos que meus pais traziam das missas aos domingos.

Iniciei os estudos aos seis anos, no pré-escolar, com a tia Luiza, uma professora exemplar, dedicada e carinhosa. Já conhecia o alfabeto e, aos poucos, fui aprendendo a escrever meu nome completo, o nome da escola e o da professora, tudo com o auxílio das fichas. Gradualmente, a leitura foi sendo introduzida na minha vida, e fui tomando gosto por ela.

Adorava ler livros, textos e até as provas impressas. O cheiro de álcool do mimeógrafo me fazia sentir parte da história. Adorava ir à biblioteca e pegar livros emprestados para ler em casa. Aprendi também a contar e, quando já dominava as continhas, adorava comprar balas na venda com as moedas que ganhava do meu pai ou dos meus irmãos. Tive uma infância feliz e aprendi a valorizar o pouco que meus pais podiam nos oferecer.

O tempo foi passando, e fui criando o hábito da leitura. Amava o livro “O Barquinho Amarelo”, os contos e a poesia “As Borboletas”, de Vinícius de Moraes, que me marcou muito.

Quando estava na quarta série, perdi meu pai. Meu mundo desabou, mas, aos poucos, aprendi a lidar com a saudade e a seguir em frente. Ocupei minha mente com os estudos pela manhã e com aulas de crochê à tarde.

Quando cheguei ao ensino médio, como já gostava de ler, fui tomando gosto pelos livros de romance, livros espíritas e histórias. É notório que minha letra melhorou muito, assim como minha dicção. Apesar de ainda sentir um pouco de receio ao falar em público, confesso que a leitura me ajudou bastante.

Em meio a tantas dificuldades, formei-me no magistério no ensino médio aos 17 anos. Mas, como não tínhamos o acesso e as facilidades que temos hoje, não consegui fazer uma faculdade naquela época. No entanto, nunca desisti do sonho de ter um curso superior, e hoje tenho essa oportunidade, pela qual agradeço a Deus.

Ao revisitar o passado, muitas memórias vieram à tona. Pude reviver momentos que me fizeram ser a mulher que sou hoje.



SOBRE A AUTORA:

Júnia de Almeida Freire, de Pedra Azul/MG, é acadêmica da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), onde cursa Pedagogia. Produziu este relato na disciplina Práticas de Leitura e Produção de Textos, ofertada de julho a novembro de 2024.


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Minhas Belas Recordações

Minhas Belas Recordações

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 Luana Lopes Gonçalves Cangussu, Teófilo Otoni/MG

Nasci em Teófilo Otoni-MG, onde também fui criada, filha de mãe solteira e com dois filhos. Meu irmão é três anos mais velho do que eu. Meus primeiros contatos com as letras foram através dos livros e cadernos dele (ele ficava uma arara quando eu os pegava para folhear).


Lembro-me de achar interessantíssimas as letras, as curvaturas, as voltas, os entrelaçados nas folhas amareladas e manchadas pelo uso e desgaste do tempo. Também me lembro de que minha mãe tinha uma caderneta azul, que ela usava como caderno de receitas. Morávamos na casa dos meus avós. Minha avó é evangélica e sempre lê a Bíblia. Eu ficava observando-a ler com tanto apreço e atenção aquelas pequeninas palavras, e me encantava, ficando muito eufórica, esperando o dia em que chegaria a minha vez de ler tais palavras. Sempre fui muito curiosa e observadora e, com esses atos, aprendi muito.


Bom, os anos se passaram e, finalmente, aos 6 anos, fui matriculada na escola. Maravilhada com o mundo mágico e novo, comecei a estudar. Engraçado como são as nossas lembranças: neste exato momento em que escrevo, sinto a mesma emoção e sensação do meu primeiro dia de aula. Alegria e euforia eram os sentimentos que me consumiam. Que coisa mágica! Me emocionei agora!


Amava muito a escola; era o melhor lugar do mundo para mim. Eu fui uma criança feliz por ir à escola. Gostava da escola, das professoras. Cada história contada ali era um mundo mágico e colorido na minha mente. Sempre tive muita imaginação. Me recordo de que, a cada conto das minhas professoras, eu me via em cada uma das histórias, como se fizesse parte delas. No meu primeiro ano escolar, tive professoras muito especiais, e muitas delas guardo no coração até hoje. Ora ou outra encontro algumas delas, sempre muito carinhosas comigo.


Eu tinha anquiloglossia (língua presa) e dificuldade em pronunciar algumas palavras. Minha mãe dizia que ia me tirar da escola e me colocar em algum lugar especializado para que eu melhorasse a fala. Eu logo me amedrontei e fiquei apavorada. Com o carinho e cuidado da minha professora de português, Eliana, consegui pronunciar as palavras de forma correta e melhorei minha fala.


Com todo esse amor pela escola, pelas palavras e pelo conhecimento, em casa não poderia ser diferente. Eu brincava de escolinha com meus primos; eu era a professora. Sobrava até para os adultos lá de casa. Meu avô era analfabeto — ele já faleceu. Ele queria muito aprender a escrever seu nome completo, e tenho muito orgulho em dizer que, com essa brincadeira, eu o ensinei a escrever seu nome completo (me emocionei agora). Ensinei letra por letra até que ele conseguisse formar seu nome completo: Sebastião Lopes de Souza. Quanta saudade!


Mas não parei por aí. Me lembro de que, já no ensino médio, estudava de manhã, mas, algumas vezes na semana, ia à escola à tarde para ajudar minha professora com o pré-escolar. Eu gostava, e parece que já estava adivinhando que, anos depois, cursaria uma licenciatura na área de educação. Licenciatura pela qual tenho o maior orgulho, e digo isso porque venho de uma família humilde. Hoje tenho 35 anos, e essa é a minha primeira licenciatura. Logo que me formei no ensino médio, minha mãe não tinha condições de pagar uma faculdade para que eu pudesse estudar. Quando comecei a trabalhar, surgiram as responsabilidades da vida adulta, e eu não consegui pagar uma faculdade. Quando fiz o vestibular pela UFVJM e passei, foi uma grande alegria. Muita emoção e gratidão.



SOBRE A AUTORA:

Luana Lopes Gonçalves Cangussu, de Teófilo Otoni/MG, é acadêmica da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), onde cursa Pedagogia. Produziu este relato na disciplina Práticas de Leitura e Produção de Textos, ofertada de julho a novembro de 2024.


A orientação deste trabalho e a organização do e-book foram realizadas por Carlos Henrique Silva de Castro, Kátia Lepesqueur e Virgínia Batista.

Um pouco sobre mim

Um pouco sobre mim

Os textos publicados individualmente nesta página podem ser lidos reunidos nos volumes da coleção Memórias de Letramentos. Para adquirir seu e-book gratuito ou impresso  pelo preço apenas do serviço de gráfica, clique no banner ao lado ou no fim da página.


Jordana Ellen Souza Fróes Duarte, Grão Mogol/MG

Minha infância era preenchida com brincadeiras; eu gostava muito de brincar de escolinha. Como a casa estava sempre cheia, sempre havia alguém por perto para brincar, mas, na maioria dos dias, éramos eu e minha irmã mais velha. Segundo relatos da minha mãe, eu só sabia escrever meu nome e, naquela época, só me lembro da Bíblia em casa. Comecei a estudar mais ou menos aos cinco anos, na escolinha Arco-íris. Era como se fosse uma creche, com muitas brincadeiras e cantigas de roda. As educadoras faziam trabalhos para colorir e contavam histórias. Lembro que era muito divertido e que tinha meus melhores amigos.

Já no ensino fundamental, comecei realmente a aprender a escrever e a ler. Recordo que as professoras incentivavam muito a leitura e pediam para as crianças lerem pedacinhos dos textos para os colegas. Como sempre fui muito tímida, tinha bastante dificuldade para fazer leituras e apresentar trabalhos na frente dos colegas, e quase nunca participava dessas atividades; geralmente, passava minha vez. Comecei a ter um melhor contato com a leitura a partir dos 10 anos, quando peguei algumas histórias em quadrinhos de meus desenhos favoritos.

Outro ponto que me ajudou foi o fato de minha mãe trabalhar na biblioteca municipal. Sempre que tinha oportunidade, ia visitá-la e ficava olhando os títulos dos livros, embora não lesse. Sempre tive preguiça: olhava o início e partia para o final, e, às vezes, olhava apenas as gravuras. Sempre fui uma aluna que gostava de educação física e matemática; as outras matérias eu não gostava.

No ensino médio, comecei a perceber a importância da escola para a vida, mas continuei com a mesma dificuldade de leitura em público. Acredito que, por não gostar de ler e pela timidez, acabei me prejudicando bastante ao longo dos anos. Embora a leitura nunca tenha sido uma paixão para mim, essa falta de interesse me ajudou, de alguma forma, a explorar diversas formas de aprendizado e entretenimento. Gostava de praticar atividade física; sempre gostei de vôlei e futebol, e continuo praticando até hoje.

Hoje me deparo com um novo desafio, o curso de Pedagogia na UFVJM (Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri). Confesso que esse início está meio difícil, mas estou me esforçando e sei que tenho capacidade. Na rotina, separei um tempo para estudar e isso tem feito muita diferença. Hoje sei que uma boa formação me ajudaria mais. A leitura continua um desafio, mas, sinceramente, acho que estou indo melhor do que eu esperava.



SOBRE A AUTORA:

Jordana Ellen Souza Fróes Duarte, de Grão Mogol/MG, é acadêmica da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), onde cursa Pedagogia. Produziu este relato na disciplina Práticas de Leitura e Produção de Textos, ofertada de julho a novembro de 2024.


A orientação deste trabalho e a organização do e-book foram realizadas por Carlos Henrique Silva de Castro, Kátia Lepesqueur e Virgínia Batista.

As letras da minha vida: a jornada de Layrah

As letras da minha vida: a jornada de Layrah

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Layrah Victoria Figueira Abreu, Cachoeira de Pajeú/MG

A minha história começou antes do que muitos poderiam imaginar. Com apenas três anos, eu já estava me preparando para a jornada escolar. Minha irmã mais velha, Kyarah, foi a primeira a entrar na escola, e eu, com curiosidade e entusiasmo, observava cada passo dela. Kyarah não apenas frequentava a escola, mas também ajudava a mim e à minha irmã Raynah. Ela compartilhava com a gente suas atividades escolares, ensinava letras e números, além de quebra-cabeças, livrinhos educacionais, DVDs da Barbie e desenhos animados, que sempre despertavam nossa atenção e curiosidade.

Apesar de não ter uma compreensão clara sobre dinheiro, aprendi desde cedo a importância das pequenas moedas que minha avó Ana e meu avô frequentemente davam a mim e às minhas irmãs. Esse gesto simples era um prelúdio de um futuro em que começaríamos a entender o valor das coisas de maneira mais concreta.

A minha entrada na escola foi marcada por desafios. As dificuldades iniciais no aprendizado eram evidentes, e a diferenciação de palavras e letras parecia uma tarefa monumental. No entanto, a escola, os professores e a minha mãe desempenharam papéis cruciais na minha vida escolar.

A dedicação dos professores em ajudar a superar as dificuldades iniciais não passou despercebida. Eles criaram um ambiente de apoio e encorajamento que foi vital para meu desenvolvimento.

A minha mãe também foi uma força constante. Ela estava sempre ao meu lado, incentivando e ajudando a superar cada obstáculo. Com uma abordagem paciente e amorosa, desempenhou um papel fundamental em garantir que eu não me desanimasse.

Apesar das dificuldades iniciais, minha curiosidade e força de vontade nunca vacilaram. Eu tinha uma sede insaciável de conhecimento e estava determinada a aprender. Essa determinação foi o que me ajudou a superar as barreiras que surgiram em meu caminho. Com a orientação dos meus professores, comecei a fazer progressos significativos na minha alfabetização.

Cada pequena conquista foi um passo importante para mim. Ler e escrever, que no começo pareciam tarefas quase impossíveis, tornaram-se realizações diárias. Minha resiliência foi fundamental para transformar desafios em vitórias pessoais.

À medida que avançava na educação, a leitura e a escrita se tornaram áreas de crescente confiança e paixão. O que antes era uma luta se transformou em um prazer. Descobri o prazer de ler livros, explorar novas histórias e expressar meus próprios pensamentos por escrito. Minha jornada na leitura e na escrita se tornou não apenas uma conquista pessoal, mas uma porta aberta para um mundo de novas possibilidades.

O apoio contínuo da minha família e o encorajamento dos professores contribuíram para que eu não apenas superasse minhas dificuldades iniciais, mas também prosperasse academicamente e pessoalmente.

Agora, aos meus 22 anos, reflito sobre minha jornada escolar com um sentimento de gratidão e realização. O caminho não foi fácil, mas cada desafio superado e cada pequeno sucesso ao longo do caminho moldaram a pessoa que sou hoje. Minha história é um testemunho do poder do apoio familiar, da importância da perseverança e do impacto positivo que educadores dedicados podem ter na vida de um aluno.

Continuarei a valorizar o aprendizado e a educação, carregando comigo as lições e a força adquiridas durante minha jornada escolar. Minha história é uma inspiração para todos que enfrentam desafios e para aqueles que acreditam no poder da curiosidade e da determinação.

Concluí o meu terceiro ano do ensino médio em 2019 com muita força e garra, passando por altos e baixos, mas consegui, e estou realizada em compartilhar isso aqui com vocês.

A jornada de Layrah Victoria Figueira Abreu é um lembrete de que cada pessoa tem um caminho único e que os desafios iniciais podem ser superados com apoio, dedicação e amor.

Minha história é uma celebração da perseverança e da importância da educação na formação de uma vida plena e enriquecedora. Inspirada pelo impacto positivo que meus próprios professores tiveram em minha vida, decidi seguir uma trajetória semelhante à de minha irmã Kyarah.

Assim como Kyarah, que se tornou uma profissional apaixonada pela educação e dedicada, também escolhi o caminho da Pedagogia, motivada pela vontade de oferecer o mesmo apoio e inspiração que recebi. Agora, dedico minha vida a ajudar outras crianças a superarem desafios acadêmicos e a encontrar prazer no aprendizado, perpetuando o legado de amor e dedicação à educação que marcou minha jornada.

 



SOBRE A AUTORA:

Layrah Victoria Figueira Abreu, de Cachoeira de Pajeú/MG, é acadêmica da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), onde cursa Pedagogia. Produziu este relato na disciplina Práticas de Leitura e Produção de Textos, ofertada de julho a novembro de 2024.


A orientação deste trabalho e a organização do e-book foram realizadas por Carlos Henrique Silva de Castro, Kátia Lepesqueur e Virgínia Batista.

Letramento pra vida

Letramento pra vida

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Jocerlane Santos Cardoso, Pedra Azul/MG

Entrei na escola aos 4 anos de idade, e antes disso eu não tinha acesso a textos, livros ou algo do tipo. Sempre fui muito curiosa para saber mais sobre letras e números. Fui uma criança com grande interesse em aprender. Sempre que minha mãe escrevia cartas, algo bem comum na época, eu ficava observando e admirando. Em 2004, comecei o que chamavam de “pré de cinco” e fiquei encantada com tudo o que via na sala de aula, pois antes não tinha acesso a nada semelhante. Antes de entrar na escola, eu conhecia as moedas, mas ainda não sabia fazer contas nem o valor real de cada uma.

Os cálculos só entraram na minha vida quando comecei o “pré de seis”. Nossa, os números pareciam fazer um nó na minha cabeça! Mas, aos poucos, peguei o jeito e descobri que a matemática não era o bicho de sete cabeças que eu pensava. O papel da escola no meu letramento matemático foi crucial para o meu aprendizado, assim como o apoio da minha família. Mesmo sem ter concluído os estudos, minha mãe sempre esteve ao meu lado, incentivando-me a ir à escola e a não faltar, para que um dia eu pudesse ser alguém na vida.

Minha primeira professora se chamava Diana, e nós, alunos, nos apegamos muito a ela. Ela foi quem nos ensinou as primeiras letras. No início, foi um pouco difícil, mas, aos poucos, fui me adaptando. A professora sempre nos incentivava a escrever e a ler as vogais e o alfabeto. Até então, eu não tinha acesso a textos, mas a escola já era essencial nos meus primeiros passos com a leitura e a escrita. No Fundamental I, líamos muitos textos. Na segunda série, lembro que a professora Márcia fez um projeto em que os alunos deveriam produzir textos para criar um livro com todas as produções. Até hoje tenho o texto que fiz para o livro, cujo título é “A Amizade das Letras MN”. A biblioteca da escola era repleta de livros, e lembro que uma vez por mês, ou duas, um senhor chamado Milton ia à escola e avaliava a leitura e a tabuada de todos os alunos.

Lembro também que, na escola, frequentemente passavam pessoas vendendo kits de livros com DVDs de contos de fadas, incentivando a leitura. Meu preferido era “A Bela e a Fera”, da autora Elizabeth Rudnick. Eu me divertia muito lendo esse livro e aprendia com a história, que mostrava uma moça bonita e bondosa que não sentia medo do monstro que todos na pequena cidade temiam, conhecendo o coração bondoso que ele escondia por trás de sua aparência assustadora. A moral da história é que nem tudo é o que parece ser. Foi a partir daí que comecei a me interessar por leituras de textos e histórias.

Sinto falta do que não consegui aprender, pois, no início do segundo ano do ensino médio, engravidei e precisei deixar a escola. Fiquei ausente por cinco anos, retornando em 2019 com o EJA, onde o aprendizado é mais acelerado. O que se aprende em um ano letivo normal, no EJA, se aprende em metade do tempo, o que não nos permite ver tudo em profundidade. Mas me esforcei ao máximo. Concluí o ensino médio em 2020, formando-me no EJA e encerrando mais uma etapa da minha vida, preparando-me para o mundo. Em questões de administração financeira, consigo me virar bem, embora no ensino médio eu não tenha tido uma preparação completa. Ainda assim, aprendi o suficiente para lidar com as situações da melhor forma.

Na escola, sempre fomos incentivados a estudar números e fazer cálculos, preparando-nos para o futuro. O tempo passou e fui morar em São Paulo. Eu não tinha o hábito de ler livros ou textos até conhecer duas irmãs, Jéssica e Valéria. Elas tinham o hábito de ler, e eu achava engraçado, pois estavam sempre comprando livros. Com o tempo, elas me incentivaram a explorar aplicativos de leitura no celular, o que despertou minha curiosidade. Um dia, uma delas me apresentou o aplicativo Dreame, voltado para leitura e histórias. Há cerca de dois anos, venho utilizando esse aplicativo, onde li a maioria dos livros que já li na vida. Um dos meus favoritos é “O Destino Quis 2: O Dilema de Ana”, da autora Célia Mesquita. Identifiquei-me muito com essa linda história.

Hoje, moro em Pedra Azul e passei no vestibular para Pedagogia. Estou cursando Pedagogia na UFVJM. Até o momento, não percebi grandes mudanças no meu hábito de leitura. Leio todos os conteúdos que os professores recomendam, mas ainda estou me adaptando. Tudo é novo nesta fase da minha vida, e estou enfrentando algumas dificuldades, mas estou gostando muito dessa nova experiência.



SOBRE A AUTORA:

Jocerlane Santos Cardoso, Pedra Azul/MG, é acadêmica da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), onde cursa Pedagogia. Produziu este relato na disciplina Práticas de Leitura e Produção de Textos, ofertada de julho a novembro de 2024.


A orientação deste trabalho e a organização do e-book foram realizadas por Carlos Henrique Silva de Castro, Kátia Lepesqueur e Virgínia Batista.

Descobrindo o mundo das letras

Descobrindo o mundo das letras

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Jessica Yasmini Silva, Pedra Azul/MG

Minha jornada estudantil começou com um misto de curiosidade e encantamento. As primeiras letras que aprendi eram como pequenos segredos, cada uma com seu próprio som, forma e magia. Tinha uma tia dedicada que me guiou pelos caminhos das palavras, transformando o aprendizado em um jogo divertido, onde cada nova letrinha descoberta era uma vitória.

Na minha família, além da minha tia, contava com tios professores que tiveram um papel fundamental na minha educação. Em casa, a sala de estar se transformava em uma sala de aula improvisada, onde os dois irmãos se uniam para ensinar. O conhecimento parecia estar no ar, pronto para ser absorvido.

Aprender com eles não era uma obrigação, mas um privilégio. Isso me ajudou muito com o início da alfabetização, sempre com muitos livros por perto. Um dos momentos mais marcantes da minha infância foi quando li meu primeiro livro sozinha. Lembro-me de como cada palavra parecia ganhar vida à medida que as lia em voz alta. Meus tios celebravam cada frase completa como se eu estivesse conquistando uma nova etapa do aprendizado. Foi ali que descobri o poder das histórias e como as palavras podiam criar mundos inteiros.

Hoje, olhando para trás, vejo como minha infância foi profundamente marcada pela educação. Meus tios plantaram em mim a semente do amor pelo conhecimento. Cada lição, cada história, cada desafio vencido moldou não apenas minha trajetória acadêmica, mas também quem eu sou como pessoa. A educação que recebi foi um verdadeiro presente, um legado que carrego comigo até hoje.

À medida que cresci, o desejo de aprender só aumentou. A educação recebida em casa serviu como um alicerce sólido sobre o qual construí minha trajetória acadêmica. Lembro-me de como aprendi a contar de forma lúdica e gradual. Os números, no início, eram pequenos enigmas que eu descobria pouco a pouco. Minha mãe e tios usavam brinquedos e objetos do cotidiano para me ensinar a contar. A contagem de brinquedos, passos e até mesmo as páginas dos livros tornava-se uma atividade divertida. Quando cheguei à escola, já conseguia contar até 20 sem grandes dificuldades, e esse conhecimento básico me deu uma boa base para iniciar minha jornada matemática formal.

Quanto ao reconhecimento de dinheiro, minhas primeiras memórias são um pouco vagas, mas lembro-me de que meus pais me mostravam moedas e cédulas, explicando seu valor e como usá-los para comprar coisas. Inicialmente, o conceito de dinheiro parecia abstrato, mas, com o tempo e a prática, comecei a entender seu valor real. Percebi que as moedas e as cédulas tinham diferentes valores usados para adquirir bens e serviços, e essa compreensão se desenvolveu à medida que participava das compras e via como o dinheiro facilitava a troca de produtos.

Com tudo que aprendi com familiares e professores, comecei a entender operações básicas como soma e subtração. Na escola, fiz minhas primeiras adições e subtrações com a ajuda de fichas e desenhos, que tornavam esses conceitos mais concretos. Meus tios também ajudavam em casa, usando jogos matemáticos que tornavam o processo mais envolvente. A transição para problemas matemáticos mais complexos na escola foi desafiadora, mas, com o suporte constante dos meus professores e da minha família, consegui superar as dificuldades iniciais.

A colaboração entre a escola e a família foi crucial para meu desenvolvimento matemático. Em casa, o aprendizado era muitas vezes informal e integrado às atividades diárias, como fazer contas enquanto auxiliava nas compras ou resolver pequenos desafios matemáticos durante os jogos. A abordagem prática e envolvente dos meus pais e tios ajudou a construir uma base sólida e a tornar o aprendizado matemático uma parte natural da minha vida. Na escola, os professores complementavam esse aprendizado com métodos mais formais e estruturados. A combinação de diferentes estratégias, como o uso de materiais didáticos e a resolução de problemas, ajudou a consolidar os conceitos matemáticos. A escola também ofereceu um ambiente de socialização onde pude aprender com os colegas e participar de atividades que tornavam a matemática mais atraente e significativa.

Com a escola e o estudo em casa, comecei a desenvolver um gosto pelo aprendizado. Lembro-me de que meus pais e tios me incentivavam a “escrever” usando lápis e papel, muitas vezes tentando reproduzir letras que eles me mostravam. Naquele tempo, meus “textos” eram simples rabiscos e letras imprecisas, mas já era um começo interessante. Eu tinha cerca de 4 ou 5 anos quando comecei a explorar essas primeiras tentativas de escrita. Escrever era mais um jogo do que uma tarefa, e eu estava mais interessada em imitar o que via do que em produzir algo compreensível.

A experiência de escrever na escola foi emocionante e desafiadora. Lembro-me de como era gratificante ver minhas primeiras palavras e frases ganhando forma e de como os professores estavam sempre prontos para me encorajar. Eu era muito motivada a escrever, principalmente porque via a escrita como uma forma de expressar minhas ideias e sentimentos. Escrever pequenas histórias, listas e até mesmo diários era uma parte significativa da minha rotina escolar.

Nos primeiros anos da escola, escrevia sobre temas simples, como meus brinquedos favoritos, minhas férias e minhas atividades diárias. Esses textos eram curtos e muitas vezes consistiam em frases simples, mas eram extremamente importantes para mim. Escrever sobre o que eu conhecia e amava tornava o processo mais envolvente e divertido. Lembro que os professores me incentivavam a expressar minha criatividade e a experimentar diferentes tipos de textos. No começo, escrevia principalmente descrições de coisas do meu cotidiano e pequenos contos que criava a partir da minha imaginação. Gradualmente, à medida que ganhava mais confiança e habilidades, comecei a explorar outros formatos de escrita, como cartas, poemas e narrativas mais elaboradas.

Participar de atividades de escrita criativa e ver meus textos exibidos na sala de aula ou compartilhados com meus colegas foi uma grande fonte de orgulho e incentivo para mim. A escola ofereceu um currículo que incluía a prática constante da escrita, o que ajudou a solidificar os fundamentos que eu já havia começado a explorar em casa. Além disso, as atividades de escrita em grupo e as discussões em sala de aula enriqueceram minha experiência e expandiram minha compreensão da escrita como uma forma de comunicação e expressão.

Lembro de histórias que marcaram o início dessas experiências, como contos de fadas, fábulas e histórias ilustradas, adaptadas para minha faixa etária. Livros como “O Pequeno Príncipe” e “A Turma da Mônica” não apenas me divertiam, mas também começavam a ensinar lições sobre o mundo e sobre como expressar minhas próprias ideias. Na produção de textos, escrevia pequenos contos, descrições sobre meus brinquedos e relatos das minhas férias. Os professores incentivavam a criatividade, e frequentemente participávamos de projetos que envolviam a criação de histórias em grupo. Sempre usávamos a biblioteca da escola, onde eu podia mergulhar em diferentes mundos literários e encontrar materiais para meus projetos escolares. Frequentar a biblioteca também ajudava a cultivar o hábito da leitura e proporcionava uma sensação de autonomia na escolha do que ler.

Com o tempo, o ensino médio trouxe mudanças significativas. A escrita passou a envolver argumentação e análise crítica, exigindo maior rigor e estrutura. Essa mudança foi acompanhada por uma crescente apreciação pelo poder da escrita como ferramenta para influenciar e comunicar de maneira eficaz. Da mesma forma, a matemática no Ensino Médio se integrou em contextos mais complexos, como análise de dados e resolução de problemas práticos em ciências e economia. Essa aplicação prática ajudou a perceber a utilidade da matemática além do ambiente escolar e incentivou uma abordagem mais funcional para o aprendizado dos números.

À medida que avançava para o Ensino Médio e além, percebi que a educação era muito mais do que apenas acumular conhecimento; era sobre desenvolver uma capacidade crítica e uma apreciação profunda pela aprendizagem contínua. As habilidades que construí ao longo dos anos – tanto nas letras quanto nos números – formaram uma base sólida que não apenas me ajudou a ter sucesso acadêmico, mas também me preparou para enfrentar desafios diversos com confiança e criatividade.

A transição da infância para a adolescência trouxe novas responsabilidades e expectativas, mas as lições que aprendi desde cedo permaneceram como um guia constante. O incentivo que recebi da minha família e o suporte dos professores foram fundamentais para me mostrar que aprender é um processo contínuo e que a verdadeira educação é uma jornada de descoberta pessoal e coletiva.

Hoje, ao refletir sobre minha trajetória, sinto uma profunda gratidão por todos que contribuíram para meu desenvolvimento. O amor pela leitura e a paixão pela matemática, que começaram como curiosidades infantis, transformaram-se em ferramentas essenciais para minha vida acadêmica e profissional. Cada etapa dessa jornada me ensinou não apenas sobre o conteúdo que estudei, mas também sobre a importância de ser um aprendiz ao longo da vida.



SOBRE A AUTORA:

Jessica Yasmini Silva, de Pedra Azul/MG, é acadêmica da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), onde cursa Pedagogia. Produziu este relato na disciplina Práticas de Leitura e Produção de Textos, ofertada de julho a novembro de 2024.


A orientação deste trabalho e a organização do e-book foram realizadas por Carlos Henrique Silva de Castro, Kátia Lepesqueur e Virgínia Batista.

Minha trajetória escolar

Minha trajetória escolar

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Ilvona Mendes Pereira, Cristália/MG

Meu interesse pelas letras começou antes mesmo de eu ingressar na escola. Na minha infância, vivendo na zona rural, não havia creche ou pré-escola. No entanto, eu tinha a sorte de ter uma irmã e uma prima que frequentavam a escola. Elas chegavam em casa e me mostravam o que haviam aprendido, e eu ficava fascinada com as letras e palavras que começava a descobrir. Esse contato precoce com a leitura, mesmo sem a presença de livros em casa — já que meus pais não tinham frequentado a escola — foi um impulso significativo para o meu amor pela educação.

Aos 7 anos, ingressei na Escola Municipal Clarindo Barbosa. Minha primeira professora, Eriene, carinhosamente chamada de tia Erinha, era extremamente carinhosa e receptiva. A sala de aula era multisseriada, com conteúdos para três etapas diferentes. Apesar de eu ter começado no primeiro ano, a professora percebeu meu avanço e me promoveu para o segundo ano. Eu adorava as histórias dos livros, que me transportavam para mundos de fantasia.

O trajeto até a escola era longo e cheio de aventuras. Junto com minha irmã e minhas primas, percorríamos 60 minutos, atravessávamos dois rios e uma floresta. A caminhada não era cansativa, pois aproveitávamos para brincar e sempre voltava para casa com novas histórias para relatar aos irmãos mais novos.

Na minha casa, não havia energia elétrica. As tarefas que a professora passava eram feitas à luz de lamparina, abastecida por querosene. Nessa mesma época, minha mãe começou a frequentar a Igreja Cristã no Brasil e trouxe para casa uma Bíblia ilustrada. Todas as noites, passamos a ler a Bíblia e a cantar hinos do Cantor Cristão.

As visitas dos irmãos da igreja ocorriam com frequência e, sempre que isso acontecia, eu era chamada para ler a Bíblia. Esses momentos eram muito agradáveis e meu coração transbordava de felicidade ao ver o orgulho nos olhos dos meus pais por eu saber ler e entender o que estava lendo. Eu amava ler, e esses momentos em que todos se reuniam para ouvir a leitura da Bíblia eram especiais.

Meu pai tinha o hábito de contar histórias fascinantes todas as noites, antes de dormir. Todos se reuniam ao seu redor, e ele contava histórias que havia aprendido com sua mãe. Ao final de cada história, ele pegava uma espiga de milho, e cada um de nós contava quantas carreiras tinha. Quem tivesse mais carreiras era o vencedor e ficava isento da tarefa do dia seguinte. Foi assim que aprendi a contar. O próximo passo era contar os grãos, e meu pai usava esse método com sabedoria. Assim, ao mesmo tempo em que nos ensinava a contar, também debulhávamos o milho para alimentar as galinhas no dia seguinte.

Meus primeiros três anos na escola foram marcantes. Eu estudava na mesma comunidade em que morava; a escola não tinha biblioteca, apenas os livros didáticos que a professora usava. Ela tinha métodos para chamar a atenção dos alunos, mas não havia folhas impressas; todo o material era escrito no quadro com giz. A professora era responsável por tudo sozinha na escola: ela limpava a sala, fazia a merenda e ensinava três séries diferentes.

Quando a professora precisava sair para cozinhar, ela sempre deixava um aluno responsável por escrever no quadro. Todos queriam ser escolhidos, mas apenas os que cumpriam as normas da sala eram selecionados. Havia um rodízio, e cada dia a professora tinha um ajudante. Eu era muito tímida, mas amava ser escolhida e aguardava ansiosa pela minha vez. Escrever no quadro para todos era muito satisfatório.

Ao passar para a quarta série, não havia como continuar na comunidade, pois lá eram aulas apenas para os três primeiros anos do ensino fundamental. Então, enfrentei um novo trajeto, uma longa caminhada e novos desafios. Todos os dias, era necessário sair da minha casa às 14h30, fazer um trajeto a pé e pegar o ônibus escolar às 15h40. Dentro do ônibus, circulávamos por estradas de terra por mais seis comunidades até chegar à cidade onde estudávamos. Muitas vezes chovia, e as estradas ficavam escorregadias e barrentas, sendo necessário finalizar o trajeto a pé.

Minha professora do quarto ano se chamava Elizete; ela era muito carinhosa comigo e me apelidou de “minha baixinha”, pois era a aluna mais nova na sala, estudando com 11 anos à noite. Ao final de cada aula, havia uma casa do estudante onde uma senhora servia pão com leite, que era nossa janta, e ela ficava à noite para cuidar das meninas, onde eu dormia. Às 5 da manhã, tinha que estar de pé para voltar pra casa.

Mesmo nessa trajetória cansativa, eu nunca pensei em desistir; aproveitava o tempo no ônibus para dormir. Amanhecia o dia dentro do ônibus; para mim, era sempre uma aventura. Aproveitava o trajeto para ler o que tinha estudado em sala de aula. Com o passar dos anos, surgiu o interesse em ler romances. Conseguia pegar os livros emprestados com as colegas, e na nova escola havia biblioteca, tornando o acesso aos livros bem mais fácil.

Durante meu período de estudos, a comunidade onde eu residia passou a receber visitas frequentes dos responsáveis pela barragem de Irapé. Eles frequentemente traziam cartilhas informativas sobre o processo de reassentamento. Devido à construção da barragem, a área onde minha família vivia seria inundada, obrigando-nos a mudar para outro local. Meu pai assumiu o cargo de presidente da associação de moradores, e eu me tornei membro da diretoria, onde era responsável pela elaboração das atas e pela tesouraria.

Ainda na adolescência, fiz parte de um projeto, o “Pró Jovem”, do qual recebíamos uma bolsa do governo para estudar. Para isso, era necessário prestar serviço em alguma repartição pública como um estágio, uma preparação para a vida adulta.

Cada vez mais, sentia interesse pela educação, e nessa nova fase de reassentamento, a comunidade recebeu a doação de uma biblioteca. Minha família disponibilizou um espaço para receber a biblioteca chamada de Arca das Letras. Cada pessoa pegava um livro, lia e devolvia para que outras tivessem acesso. Tive acesso a vários livros, tanto didáticos quanto de famosos escritores.

No final do ensino fundamental I, aprendi a fazer redação a partir de um projeto em que o melhor texto de cada sala ganharia uma medalha. Fui homenageada e recebi a medalha de melhor redação da turma. Fiquei imensamente feliz e mais motivada a ler e buscar mais conhecimento.

Quando completei 18 anos, meu primeiro emprego foi em um projeto de alfabetização de Jovens e Adultos, o “Cidadão Nota 10”. O governo elaborava material voltado para a formação de adultos que não tiveram acesso à escola; com esse material em mãos, eu tinha a missão de transmitir um pouco do meu conhecimento. Foi um tempo de desafios, ensinamentos e muito aprendizado.

Em 2022, concluí o ensino médio e recebi meu primeiro livro com dedicatória da diretora, “Romeu e Julieta”, que guardo com carinho. Depois disso, cursei Técnico em Informática e Técnico em Alimentação Escolar, e finalmente obtive o Bacharelado em Administração Pública em 2022.

Atualmente, continuo buscando novos conhecimentos e mantendo o hábito da leitura, agora com foco em notícias e artigos científicos, pois estou ingressando no curso de Licenciatura em Pedagogia. Minha trajetória educacional é uma jornada de desafios e conquistas, marcada pelo amor pela aprendizagem e pela busca constante de crescimento pessoal e profissional.

Cada etapa da minha trajetória escolar contribuiu para moldar meu caráter e minhas aspirações. A jornada que começou em uma pequena escola rural me preparou para enfrentar desafios maiores e buscar novos horizontes no campo acadêmico e profissional.



SOBRE A AUTORA:

Ilvona Mendes Pereira, de Cristália/MG, é acadêmica da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), onde cursa Pedagogia. Produziu este relato na disciplina Práticas de Leitura e Produção de Textos, ofertada de julho a novembro de 2024.


A orientação deste trabalho e a organização do e-book foram realizadas por Carlos Henrique Silva de Castro, Kátia Lepesqueur e Virgínia Batista.

Nas redes: minha história com as tecnologias

Nas redes: minha história com as tecnologias
Vanessa Cristina Dias de Oliveira é acadêmica do curso Licenciatura em Educação do Campo (LEC), da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM). Vanessa é de Cristália, Minas Gerais.

Meu primeiro contato com alguma tecnologia digital ocorreu em 2012, quando eu tinha 11 anos e encontrei um celular seminovo no vestiário de uma feira municipal na minha cidade. Fiquei surpresa e não sabia como ligar a tela. Sabia que era um celular porque havia visto outras pessoas com aparelhos parecidos. Decidi chamar minha tia, que me acompanhava, para verificar o celular. O aparelho estava descarregado, então ela saiu do vestiário e perguntou às pessoas por perto se sabiam quem era o dono.

Ninguém sabia, então ela resolveu levar o telefone para casa para tentar descobrir quem havia esquecido. Em casa, ela encontrou um carregador compatível e conseguiu carregar o celular. Toda a minha família ficou surpresa por termos encontrado um celular seminovo, lançamento do ano. Assim que o telefone carregou, tivemos outra surpresa: ele não tinha senha, fotos, nem chip, e não havia pistas para encontrar o dono. Com isso, minha mãe decidiu que eu poderia ficar com o celular, embora ela também quisesse usá-lo, pois não tinha celular. Ela comprou um chip e o celular passou a ser mais dela do que o meu.

A primeira coisa que usei nesse aparelho foi um joguinho que já estava instalado com a ajuda dos meus primos. Lembro também que uma amiga que morava na cidade e já tinha um telefone. Foi ela que criou um Facebook para mim, usando o e-mail dela. Com sua ajuda, aprendi a usar a rede social escondido da minha mãe.

Como morava na roça e não havia internet, minha amiga monitorava meu Facebook pelo celular dela. As pessoas mandavam mensagens e ela respondia se passando por mim, geralmente meninos. Demorei muito tempo para ter mais acesso. Apenas aos 15 anos passei a usar eu mesma minhas redes sociais.

Antes disso, minhas interações com tecnologias analógicas também eram bastante limitadas. Em casa, tínhamos TV apenas quando morávamos em uma comunidade mais próxima da cidade. Perdemos o acesso à TV quando nos mudamos para uma localidade mais remota, sem sinal dos canais. Passei a ter acesso à TV novamente quando visitava a casa de um tio, que tinha uma boa antena que permitia acesso a alguns canais. Assistia novelas e desenhos animados com meus primos.

Já o rádio sempre esteve presente, proporcionando entretenimento e informação, transmitindo música, cultos evangélicos e missas que marcaram minha infância. Outras tecnologias analógicas, como máquinas de escrever, telefone fixo, papel e caneta, faziam parte do meu cotidiano de maneira esporádica, principalmente na escola.

Com o avanço das tecnologias digitais, muitas coisas mudaram. Por exemplo, eu costumava usar o Facebook regularmente, mas hoje em dia já não o utilizo mais. Aos 15 anos, ganhei de aniversário um celular Samsung J5 DS, que era bem mais evoluído que o primeiro celular que encontrei. Passei a explorar outras redes sociais, como Instagram e WhatsApp, deixando o Facebook de lado.

Meu primeiro uso de um mouse e computador foi uma única vez na escola, mas não consegui aprender a usar, pois a professora levou a turma à sala de informática apenas uma vez. Não havia computadores suficientes para todos, então duas pessoas tinham que compartilhar um único computador, o que limitou meu aprendizado. Fui aprender a usar computador e mouse no meu primeiro emprego em um supermercado.

Essa experiência foi marcante, pois representou um passo importante na minha adaptação ao mundo digital. No início, tive muita dificuldade com os aplicativos de compras, mas um colega de trabalho, muito habilidoso, me ajudou bastante nesse sentido. Esse aprendizado foi crucial quando ingressei no curso da LEC durante a pandemia.

Entrei no Facebook pela primeira vez em 2012, minha primeira vivência com redes sociais. No Instagram, entrei em 2018 por indicação de amigos da escola, que alegavam que era melhor que o Facebook. Hoje, o Instagram e outras plataformas fazem parte do meu dia a dia. A aprendizagem dessas novas tecnologias foi facilitada por várias pessoas importantes em minha vida, incluindo amigas, primos e colegas de trabalho, que tiveram as maiores influências. Essas interações me ajudaram a compreender e me adaptar às mudanças tecnológicas.

Atualmente, as páginas web e redes sociais que mais visito são Instagram, Facebook e Google Classroom, esse último no contexto universitário. Meu uso de tecnologia varia conforme o contexto: como estudante, profissional, em atividades de ativismo político, religiosas, culturais e esportivas. Cada área tem sua própria maneira de utilizar a tecnologia de forma eficaz e apropriada.

Houve momentos em que o uso de certas tecnologias foi proibido para mim. Por exemplo, quando eu era adolescente, minha mãe não permitia que eu levasse o celular para a escola. Participar de redes sociais é uma parte significativa do meu cotidiano, especialmente publicando fotos pessoais no Instagram e participando de grupos no WhatsApp relacionados à família, trabalho, igreja e faculdade.

No entanto, não costumo postar comentários em notícias ou anúncios de produtos, nem participar de votações na web. As redes sociais são muito importantes, pois me permitem manter contato diário com familiares e amigos que estão distantes.

Já fiz uploads de imagens e vídeos no Instagram para receber comentários, e algumas das minhas atividades laborais envolvem produção para a internet, especialmente em tarefas relacionadas à faculdade. As tecnologias que mais uso ao longo do dia incluem TV,  YouTube para música, e celular, além do notebook, que usei recentemente.

A tecnologia mudou muitas de minhas práticas sociais, como estudar, marcar encontros, conversar, pagar contas e fazer compras, facilitando muito a correria do dia a dia. No futuro, pretendo aprimorar ainda mais meus conhecimentos na realização de trabalhos acadêmicos e desenvolver mais habilidades no uso do computador, pois ainda tenho dificuldade em utilizá-lo.

Ao observar as diferenças no uso da tecnologia entre gerações, percebo que tanto as gerações mais velhas quanto as mais novas utilizam as tecnologias digitais frequentemente. No entanto, não identifico diferenças significativas entre amigos de diferentes gêneros e idades em relação ao uso da tecnologia.

Meu sentimento em relação às novas tecnologias é de gratidão, pois elas nos aproximam do mundo e facilitam nossa vida de muitas maneiras. As experiências mais positivas incluem a praticidade e facilidade proporcionadas pelas tecnologias digitais. Por outro lado, as experiências negativas envolvem a dependência, o vício e, em alguns casos, a solidão que elas podem causar, pois não aproveitamos o tempo com as pessoas que estão presentes em nossas vidas.

Minha jornada com as tecnologias, tanto digitais quanto analógicas, tem sido repleta de aprendizados, adaptações e transformações significativas em diversas áreas da minha vida.

Como futura professora, as tecnologias digitais que uso ou usaria incluem notebook, celular e TV, pela sua eficácia em tornar o ensino mais dinâmico e interativo, no desenvolvimento de habilidades de leitura , escrita e oralidade, usaria algumas ferramentas digitais para desenvolver várias atividades práticas e interativas como produção de texto digitais, leitura em sites que promoveria a interação de todos os estudantes, uso de sites e páginas na web no qual os estudantes poderia usar seu próprio celular fazendo como que as aulas torna mais participativa.

Deixo a indicação de um filme que marcou muito a minha infância, “Os Dois Filhos de Francisco”, baseado nos fatos reais da vida dos cantores sertanejos Zezé di Camargo e Luciano. Este filme costuma passar na Rede Globo, na Sessão da Tarde ou aos domingos, o que traz muita nostalgia. As músicas do filme também tocavam diariamente no rádio que tinha em casa, o que contribuiu para a forte representatividade e emoção que o filme retrata.

Recordações

Recordações

Os textos publicados individualmente nesta página podem ser lidos reunidos nos volumes da coleção Memórias de Letramentos. Para adquirir seu e-book gratuito ou impresso  pelo preço apenas do serviço de gráfica, clique no banner ao lado ou no fim da página.


Glauciene Souza Rosa, Itamarandiba/MG

Meu sonho sempre foi fazer uma faculdade e, 22 anos depois, hoje, com 40 anos, estou realizando esse sonho. Voltando lá atrás, na minha infância, lembro-me da minha primeira escola. Ela era linda, muito grande e espaçosa, e o melhor: ficava no bairro onde eu morava, bem pertinho da minha casa. O que eu mais gostava nela era o laboratório; havia coisas tão esquisitas lá, mas eu achava interessante. Havia uma biblioteca muito grande e, como não existia esse tal de celular na minha época, nos reuníamos na biblioteca da escola para fazer pesquisas, estudar e realizar nossos trabalhos escolares, ou simplesmente para pegar um livro para ler. Era muito legal.

Lembro também de algumas professoras: umas eram muito bravas, outras mais boazinhas, mas todas eram muito dedicadas. Assim, comecei a aprender as primeiras palavrinhas, os primeiros números e a fazer continhas. Tudo isso aprendi só quando entrei na escola.

Vim de uma família muito simples e humilde, e meus pais eram analfabetos; não tiveram a oportunidade de estudar como eu tive e, sendo assim, não podiam me ajudar a ler, escrever e fazer contas. Para fazer as tarefas escolares, eu pedia ajuda para minha tia, que já era professora e me ajudou muito. Na minha época, poucas pessoas tinham televisão, e os jornais e revistas eram o nosso meio de notícias mais comum. Ficou um bom tempo assim até a tecnologia avançar e o jornal em papel diminuir. Hoje se vê pouco, mas ainda se vê.

O tempo foi passando e muita coisa foi mudando. Hoje, estou começando uma nova etapa na minha vida: estou tendo a oportunidade de fazer um curso superior, que era um sonho para mim anos atrás. Agora estou concretizando esse sonho, graças a Deus, que abriu essa porta pra mim.

Estou muito feliz e sei que há muita coisa diferente para eu aprender. Está sendo uma novidade atrás da outra, cada matéria diferente, cada aprendizado novo, coisas que eu nunca ouvi falar, mas que agora tenho a oportunidade de aprender. É bom ter novos desafios e novas experiências. Essa forma de estudo online, pra mim, será um desafio muito grande, pois é o primeiro curso online que faço na vida, e sei que vai exigir de mim muito esforço e dedicação pra seguir adiante. Mas sei que, com Deus à frente, tudo vai dando certo; o importante é não perder a fé.



SOBRE A AUTORA:

Glauciene Souza Rosa, de Itamarandiba/MG, é acadêmica da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), onde cursa Pedagogia. Produziu este relato na disciplina Práticas de Leitura e Produção de Textos, ofertada de julho a novembro de 2024.


A orientação deste trabalho e a organização do e-book foram realizadas por Carlos Henrique Silva de Castro, Kátia Lepesqueur e Virgínia Batista.

Relatos de leitura e escrita

Relatos de leitura e escrita

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Giovana Fernandes Lopes Silva, Grão Mogol/MG

Desde pequena, sempre tive muito interesse pelos estudos. Mesmo antes de ir à escola, já tinha contato com livros e cadernos dos irmãos mais velhos que já estudavam. Mesmo sem saber ler, folheava livros e observava as imagens, imaginando o que estaria escrito ali.

Quando pisei na escola pela primeira vez, não imaginava que aquele interesse aumentaria. A Escola Municipal Juvenal Andrade, uma escola pública localizada na zona rural, foi onde comecei a adquirir mais conhecimentos sobre leitura e escrita.

No primeiro dia de aula, estava um pouco ansiosa e comecei a chorar para voltar para casa, mas a professora da minha turma era como uma mãe; me acolheu e me convenceu a ficar. Daí em diante, não tive problemas com a adaptação. Lembro-me das folhas de desenhos impressas, com cheiro de álcool, dos recreios longos e até da merenda escolar. Estudava no turno da tarde e permaneci nessa escola até a quinta série. Logo depois, mudei para outra escola para continuar o ensino fundamental II.

Quando iniciei na nova escola, notei imediatamente as diferenças: era uma escola maior, com pessoas diferentes, disciplinas e regras distintas. O letramento já havia iniciado e começava a ser mais lapidado. A professora de Língua Portuguesa era exigente e determinada a nos ensinar para tirarmos as melhores notas nas produções de texto. Lembro-me também das viagens, gincanas e projetos educativos que complementavam o ensino. Ainda no ensino fundamental, havia projetos desenvolvidos pelos professores, que determinavam um tempo para lermos um livro e contarmos o que tínhamos entendido ou escrever um resumo das histórias.

Minhas notas sempre foram boas; sempre gostei de Biologia e de Língua Portuguesa. Minha dificuldade se concentrava em Matemática, mas não era algo que me reprovasse. Apresentar trabalhos à frente e falar ao microfone também eram meus pontos fracos. Apresentações de danças e teatros eram comuns em algumas datas.

A sala de informática era pouco usada, pois grande parte dos alunos tinha celular e acesso à internet, o que facilitava as pesquisas. Já a biblioteca era mais frequentada, pois os livros didáticos e de histórias eram utilizados em sala de aula. A televisão para ver filmes também estava na biblioteca da escola.

Ao longo do ensino fundamental, foram muitos aprendizados, e no Ensino Médio não foi diferente. Continuamos a jornada, porém com mais responsabilidade e maturidade, levando os ensinamentos mais a sério. As turmas eram divididas em primeiro, segundo e terceiro ano. Consegui fazer os dois primeiros anos presencialmente, mas o último não foi muito proveitoso, pois foi a época da pandemia de COVID-19 e tive que continuar os estudos em EaD.

Sem experiência em estudar praticamente sozinha, surgiram dificuldades, desde o uso da internet até entender e resolver as questões em casa, tópicos que ainda não haviam sido estudados em sala de aula. A conexão difícil também era um desafio. Tudo era visto com dificuldade, mas como novos desafios também.

Acredito que isso tenha diminuído não só o meu aprendizado, como o de muitos alunos da época, pois o estudo presencial e o EaD são, de certa forma, diferentes. Principalmente naquela situação, demorei a me adaptar a ter disciplina com os horários de estudos e a organizar minha rotina. Mesmo assim, terminamos o ano escolar; deu tudo certo, porém sem formatura.



SOBRE A AUTORA:

Giovana Fernandes Lopes Silva, de Grão Mogol/MG, é acadêmica da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), onde cursa Pedagogia. Produziu este relato na disciplina Práticas de Leitura e Produção de Textos, ofertada de julho a novembro de 2024.


A orientação deste trabalho e a organização do e-book foram realizadas por Carlos Henrique Silva de Castro, Kátia Lepesqueur e Virgínia Batista.

Recomeços

Recomeços

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Geisiele Vieira Fernandes, Itamarandiba/MG

Minha história começa em um ambiente onde a educação formal era um privilégio inalcançável. Meus pais, que cresceram na roça, eram analfabetos e nunca tiveram contato com livros ou qualquer tipo de ensino escolar. A vida deles foi marcada por uma rotina de trabalho intenso e contínuo, com poucas oportunidades além da luta diária pela sobrevivência. Na roça, a realidade era dura: as dificuldades financeiras e as questões sociais se entrelaçavam, tornando cada dia uma batalha.
A ausência de educação formal na minha família não foi por falta de desejo, mas por falta de acesso e recursos. Essa ausência de oportunidades educacionais significava que a vida de meus pais era repleta de desafios, e o foco era simplesmente garantir o sustento, que muitas vezes vinha de trabalho em troca de farinha e fubá para termos o que comer à noite.
Apesar das limitações, o exemplo de força e perseverança que meus pais me proporcionaram foi uma lição valiosa. Eles enfrentaram as adversidades com dignidade e coragem, e esses valores foram passados para todos nós, filhos. A determinação deles, principalmente da minha mãe, para criar um futuro melhor, mesmo sem as ferramentas da educação formal, foi uma fonte constante de inspiração.
Hoje, ao refletir sobre minha trajetória, reconheço a importância das lições que aprendi com meus pais e a força que encontrei para superar os obstáculos. A história da minha família é uma prova de resiliência e de como a força interior pode transformar desafios em oportunidades para crescer e aprender.
Minha experiência com o ensino básico foi marcada por desafios significativos que refletiam a realidade difícil da vida na roça. A escola mais próxima ficava a cerca de duas horas de caminhada de nossa casa, o que tornava a ida e a volta muito cansativas. Sem acesso a mochilas, improvisávamos com sacolas de arroz para carregar nossos livros e cadernos. Cada ida à escola era uma jornada que exigia muito mais do que apenas tempo; era um teste constante de perseverança e resiliência.
Em casa, a falta de eletricidade nos obrigava a usar lamparinas para realizar as tarefas escolares à noite. O óleo diesel utilizado nas lamparinas frequentemente acabava sujando nossos cadernos e livros, tornando a tarefa de estudar ainda mais desafiadora. As condições precárias de iluminação e o desgaste constante dos materiais eram apenas alguns dos obstáculos que enfrentávamos.
As provas na escola eram realizadas em mimeógrafo, uma tecnologia simples que, embora útil, também refletia as limitações dos recursos disponíveis. A professora Elizabete Gonçalves fazia o possível para enriquecer nosso aprendizado. Ela distribuía as provas mimeografadas e fornecia revistas para que recortássemos e colássemos em nossos exercícios, tentando tornar o aprendizado mais dinâmico e envolvente.
Durante o período do ensino fundamental, minha jornada escolar foi marcada por dificuldades intensas e muitos desafios. A escola que frequentava estava localizada a cerca de 40 km de distância, no município de Itamarandiba/MG. Para chegar até lá, meu dia começava muito antes do amanhecer. Em dias secos, eu acordava às 3h30 da manhã; nos dias chuvosos, o despertador tocava ainda mais cedo, às 2h30. A caminhada até o ponto de ônibus escolar, que fazia o trajeto da roça até a cidade, levava aproximadamente 1h30. O retorno para casa era super desgastante, ocorrendo por volta das 14h30. Esse longo percurso não apenas demandava uma enorme dedicação e resistência física, mas também era um verdadeiro teste de perseverança diante das adversidades diárias.
Além das dificuldades no transporte, a fome era uma preocupação constante. Muitas vezes, a merenda oferecida pela escola não era suficiente para todos os alunos, e nossa família não tinha condições financeiras para suplementar nossa alimentação com comida comprada. Esse problema era agravado pela longa jornada, que fazia com que a fome se tornasse um desafio constante e uma fonte de desconforto.
A situação no ônibus escolar também era complicada. A estrada em péssimas condições causava grande desconforto devido à poeira e ao balanço do ônibus. Esses fatores, combinados com a fome, frequentemente resultavam em dores de cabeça intensas e episódios de náusea. Era um esforço constante para manter a concentração e a disposição durante todo o trajeto.
A situação tornou-se ainda mais difícil com a perda da nossa mãe. Sua ausência significava que não tínhamos ninguém para preparar a comida que precisávamos após a escola. Essa falta de apoio afetou profundamente nossa vida escolar e pessoal, tornando ainda mais difícil manter o foco nos estudos e lidar com as exigências diárias.
Após enfrentar inúmeras dificuldades durante o ensino básico e fundamental, consegui chegar ao ensino médio, um período que, embora ainda desafiador, trouxe algumas melhorias na minha trajetória educacional e pessoal. Durante o ensino médio, minha vida passou por algumas mudanças. Eu e duas irmãs, junto com meu pai, nos mudamos para o distrito de Itamarandiba/MG, conhecido como Contrato.
Essa mudança foi um ponto de virada, pois a escola onde passei a estudar, a Escola Estadual Betina Gomes, ficava a apenas 10 minutos de nossa nova residência. A proximidade da escola facilitou muito o acesso e aliviou algumas das dificuldades logísticas que enfrentávamos anteriormente. Com essa mudança, nossa rotina também começou a se transformar.
Na Escola Estadual Betina Gomes, minha experiência escolar teve momentos marcantes. Lembro-me com carinho da professora de Português, Carla, que nos desafiava a fazer encenações relacionadas a livros clássicos como “O Guarani” e “Iracema”. Mas eu tinha uma enorme dificuldade em participar; sempre fui muito tímida e calada, no meu canto. Além disso, no campo da matemática, tive a sorte de ser aluna do professor Marcos, que reconheceu meu empenho e dedicação. Ser considerada uma das melhores alunas da sala, apesar dos desafios que ainda surgiam, foi um grande reconhecimento.
O ensino médio, portanto, trouxe uma combinação de desafios e conquistas que foram fundamentais para meu desenvolvimento acadêmico e pessoal. Essa experiência mais estável e o esforço definiram minha trajetória educacional até então.
Após concluir o ensino médio, tive a oportunidade de iniciar meus estudos em Geografia na universidade. Esse foi um momento de grande esperança e entusiasmo, pois representava a continuidade da minha jornada educacional e o início de uma nova fase na minha vida acadêmica. No entanto, logo enfrentei desafios significativos que se mostraram difíceis de superar. Apesar do esforço e da dedicação que coloquei em meus estudos, questões financeiras acabaram se tornando um obstáculo intransponível. Infelizmente, fui forçada a interromper minha faculdade no segundo semestre.
A interrupção dos estudos superiores foi um período de adaptação e reflexão, pois precisei lidar com a realidade de que, por enquanto, a continuidade acadêmica não seria possível. Após essa experiência, um pouco mais tarde, iniciei a faculdade de Pedagogia em um processo seletivo pela UFVJM. Esse episódio, embora desafiador, faz parte da minha jornada e reflete a resiliência necessária para enfrentar as adversidades.



SOBRE A AUTORA:

Geisiele Vieira Fernandes, de Itamarandiba/MG, é acadêmica da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), onde cursa Pedagogia. Produziu este relato na disciplina Práticas de Leitura e Produção de Textos, ofertada de julho a novembro de 2024.


A orientação deste trabalho e a organização do e-book foram realizadas por Carlos Henrique Silva de Castro, Kátia Lepesqueur e Virgínia Batista.

Crescendo e descobrindo as tecnologias

Crescendo e descobrindo as tecnologias
Maria da Solidade de Souza é acadêmica do curso Licenciatura em Educação do Campo (LEC), da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM). Maria da Solidade é da Comunidade Quilombola Santa Cruz, município de Ouro Verde de Minas, Minas Gerais

Sou da comunidade quilombola de Santa Cruz, na cidade de Ouro Verde de Minas. Sempre vivi no campo, meus pais eram analfabetos e não tiveram oportunidade de estudar. Eu sou uma pessoa simples e humilde, que não se preocupava muito com muitas coisas. Quando criança, me lembro de sempre ouvir música em um toca-discos que funcionava com pilhas, pois ainda não tínhamos eletricidade em casa.

Com o tempo, chegou a energia elétrica e meus pais compraram uma toca-fitas 3 em 1, depois uma televisão, o que melhorou bastante nossa vida em termos de entretenimento. Após isso, tive contato com diversos equipamentos e mídias mesmo antes das tecnologias digitais: novelas na televisão, fotos na máquina fotográfica analógica, jogos da Copa do Mundo pelo rádio, música através do toca-discos e do toca-fitas.

Lembro-me vividamente do meu primeiro celular, um modelo analógico que custou 40 reais e era usado apenas para chamadas. Mais tarde, consegui comprar um celular digital onde instalei o Facebook e fiz amizades. Com a ajuda de amigos, fui me familiarizando e hoje em dia uso várias redes como WhatsApp, Facebook e Instagram. Embora eu não contribua com conteúdo nessas plataformas, meu uso como consumidora é equilibrado. Às vezes comento fotos de amigos ou notícias, mas moderadamente. Gosto de ver publicações com informações e, ocasionalmente, anúncios.

Já fiz postagens de vídeos, mas nunca com o intuito de receber curtidas ou comentários; simplesmente por decisão pessoal. Também uso o celular ou o notebook frequentemente para estudar e pesquisar sobre diferentes questões.

Minha agenda telefônica, que antigamente, era em ‘cadernos’, hoje está completamente digitalizada. Papel eu às vezes ainda uso para fazer listas de compras, pois vou anotando à medida que me lembro das coisas que preciso. Há algumas tecnologias que ainda não explorei, não por falta de interesse, mas porque me sinto insegura ou não tive oportunidade, como drones e robôs

Na época dos meus pais, essas tecnologias modernas não faziam falta, pois a convivência era diferente, com mais conversas frente a frente e contação de histórias. Lembro-me de uma vez em que um senhor visitou meu pai e meu irmão logo ligou a televisão. O senhor comentou que não tinha ido lá para assistir TV, mas para visitar meu pai. Meu irmão ficou sem graça e desligou a televisão.

As diferenças culturais podem ser vistas na educação dos filhos, no vestuário, nos costumes, tradições, religiões, comportamentos. Muito dessas culturas são acessíveis pelas tecnologias, outras se perderam. Nesse caminho, muitas interações me marcaram. Dessas experiências, deixo aqui uma cena de novela que marcou minha vida com reflexões sobre a relação entre patroa e empregada.

Minha trajetória escolar e a pedagogia

Minha trajetória escolar e a pedagogia

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Eva Mendes Pereira, Cristália/MG

Na minha casa, éramos sete irmãos: cinco meninas e dois meninos. Desde cedo, eu já tinha contato com cadernos e livros das minhas irmãs mais velhas, que já sabiam ler e escrever. A curiosidade de aprender a ler, escrever e contar números como elas era enorme. Elas levavam livros da escola, cheios de histórias e imagens que eu adorava explorar. Passava horas observando as ilustrações e ouvindo os relatos sobre as histórias. Eu ansiava pelo dia em que pudesse ir à escola também.

Enquanto isso não acontecia, aproveitávamos qualquer tempo livre para estudar juntos. Usávamos pedras como quadros e carvão para escrever, criando salas de aula improvisadas debaixo das árvores ou cercadas com paus e folhagens. Essas atividades eram extremamente divertidas, e as merendas feitas com verduras colhidas da roça e da horta da minha mãe proporcionavam momentos deliciosos e simples.

Morávamos na zona rural, sem acesso a tecnologia ou energia elétrica. A iluminação era garantida por lamparinas com algodão e querosene. Minha mãe tinha uma bíblia que ela gostava de ler e compartilhar com a família, e os cânticos dos louvores tornavam os momentos em família ainda mais especiais. Meu pai e meus tios costumavam contar histórias que se tornaram preciosas memórias da minha infância.

O rádio de pilhas do meu pai era nosso meio de contato com o mundo exterior, permitindo-nos ouvir músicas e notícias da região.

Aos seis anos, comecei a frequentar a escola. Na zona rural, as turmas eram pequenas e a professora era atenciosa. No início, tive muita dificuldade com a escrita, mas minha irmã me ajudava sempre que eu precisava, sentando comigo para me ensinar.

O caminho até a escola era longo, e meus pais, ocupados com o trabalho na roça, não podiam me levar. Então, eu ia com meus primos. A distância era de quase uma hora, e eu precisava atravessar um rio e enfrentar as intempéries do tempo. Havia momentos em que meus primos me deixavam para trás, o que me deixava com muito medo. Eventualmente, mudamos para uma escola mais próxima, mas ainda assim, o percurso era de 30 a 40 minutos. A experiência na nova escola foi um pouco mais tranquila, e aos poucos fui aprendendo a ler e escrever bem.

Na quinta série, fui para a cidade para continuar meus estudos. O trajeto para a cidade era exaustivo: saía de casa às 9 da manhã, enfrentava uma longa ladeira até o ponto de ônibus e passava cerca de três horas no ônibus até chegar à escola. Voltava para casa à noite, por volta das 19 horas. A escola na cidade tinha uma biblioteca impressionante e uma sala de vídeos, o que era uma grande novidade para mim. Ter um caderno para cada matéria era fascinante, e eu não via a hora de começar as aulas para ganhar um caderno novo.

Sempre me dediquei a ser uma aluna exemplar e adorava participar de apresentações e peças teatrais na escola. Na oitava série, mudei-me para a cidade para morar com minha irmã e comecei a trabalhar em uma casa de família durante o dia, estudando à noite.

Após concluir o ensino médio, comecei um curso de Alimentação Escolar, que foi muito valioso para mim, e depois completei um curso técnico em Gestão de Administração, que ampliou significativamente meus conhecimentos. Em 2017, iniciei um bacharelado em Administração Pública, um campo que sempre me interessou pela sua relevância e impacto na sociedade, mas não consegui concluir devido a uma mudança de cidade.

Em 2019, comecei um curso técnico em Enfermagem. Estudei por dois anos e aprendi muito sobre a área da saúde, o que foi uma experiência enriquecedora e desafiadora. No entanto, quando engravidei, precisei trancar o curso para me dedicar à gravidez e ao novo papel de mãe.

Agora, estou iniciando um novo e empolgante capítulo da minha trajetória: a licenciatura em Pedagogia. Este curso representa a realização de um sonho antigo e uma oportunidade de aprofundar meu conhecimento na área da educação. Estou ansiosa para aprender novas abordagens pedagógicas e desenvolver habilidades que me permitirão impactar positivamente a vida de outras pessoas. A paixão pela educação, que começou na minha infância, nas simples aulas ao ar livre e na dedicação aos estudos, continua a me guiar e inspirar nesta nova etapa da minha jornada.



SOBRE A AUTORA:

Eva Mendes Pereira, de Cristália/MG, é acadêmica da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), onde cursa Pedagogia. Produziu este relato na disciplina Práticas de Leitura e Produção de Textos, ofertada de julho a novembro de 2024.


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Meus letramentos e a pedagogia

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Erika Guimarães de Souza, Crisolita/MG

Do pouco que me lembro do início da minha alfabetização, recordo-me de minhas irmãs mais velhas com seus fichários, mas, por ser pequena, o que realmente me interessava eram as folhas com vários desenhos em suas bordas. Lembro também da minha mãe me dando um livrinho com a oração de “Salve Rainha” para folhear enquanto ela cuidava dos meus cabelos. Assim como nas missas, com os folhetos da liturgia, naquela época eu tinha conhecimento somente das letras do meu nome, por ter frequentado a creche desde muito cedo.

Recordo-me de aprender a escrever meu nome quando ingressei na escola, com minha primeira professora, tia Celeste, em 2005. Nesse mesmo período, aprendi a contar; lembro-me de me sentar debaixo da mesa enquanto minha mãe lavava roupas e contar de 1 a 100. Era bem certinho, mas, quando chegava a 101, eu dizia “cem um, cem dois” e assim por diante.

Sempre rolava uma briguinha pela televisão: quando minha mãe mandava desligar, minhas irmãs sempre pediam mais cinco minutos, e eu, por não saber diferenciar, pedia mais cinco segundos e não entendia por que o tempo que elas pediam parecia demorar mais, enquanto o tempo que eu pedia passava muito rápido.

Sempre estudei na mesma escola, do fundamental até concluir o ensino médio. Às vezes, tínhamos encontros na biblioteca, mas não eram para leitura, e sim para ver filmes ou vídeos. Já no ensino médio, tive bastante dificuldade em matemática, mas gostava muito de interpretação de textos. Contudo, mesmo gostando de interpretar, não gostava de ler.

Vejo que a leitura e a interpretação são onde devo dar mais atenção, pois sei que a leitura tem o poder de nos transportar para lugares e épocas diferentes. Enriquece nosso vocabulário e nos mostra um mundo cheio de possibilidades.

Agora, ao me ingressar no curso de pedagogia da UFVJM, um curso que sempre foi meu sonho, mas que, por um tempo, parecia tão distante, estou começando, graças ao incentivo da minha irmã.



SOBRE A AUTORA:

Erika Guimarães de Souza, de Crisolita/MG, é acadêmica da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), onde cursa Pedagogia. Produziu este relato na disciplina Práticas de Leitura e Produção de Textos, ofertada de julho a novembro de 2024.


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Meu caminho

Meu caminho

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Elaine Pereira de Sousa, Pedra Azul/MG

Meu primeiro contato com material escolar aconteceu quando eu era uma criança de seis anos. Filha de pais analfabetos, minha mãe precisou fazer um tratamento de saúde em São Paulo e ficamos hospedadas na casa de uma tia, onde meu primo estava começando a dar seus primeiros passinhos no mundo literário. Nesse primeiro momento, tive acesso a recortes de revistas, desenhos e letras para colorir, pequenos livros de contos e histórias; conheci também a TV e o teatro.

Ao retornar para minha fazenda natal em Minas Gerais, fui matriculada em uma escolinha da zona rural. Parecia uma casinha simples feita de pau a pique; a sala de aula era multisseriada, com uma professora à moda antiga. Ela carregava uma vara enorme, utilizada para apontar o conteúdo no quadro negro e também para bater nas carteiras, fazendo um barulho chato para chamar nossa atenção.

Meu caminho para a escola era cansativo, mas também divertido. Todos os dias, acordava bem cedinho com o cantar do galo e o cheirinho de café feito no fogão a lenha. Era um percurso de cinco quilômetros; meu maravilhoso pai me levava todos os dias montada em um jumentinho. No caminho, cantávamos, ríamos, contemplávamos a natureza e chorávamos também. É claro que havia dias mais difíceis.

Na segunda série, tive o privilégio de conhecer o carinhoso tio Joaquim, um professor dedicado que não media esforços para ensinar. Assim, apaixonei-me pela escola e todo o seu conteúdo. Os recursos na zona rural eram bem limitados, então eu aproveitava as aulas prestando bastante atenção e, em casa, brincava de escolinha, utilizando as paredes da minha casa e carvão vegetal para reproduzir os ensinamentos aprendidos. Brincava também de escrever na areia e nas árvores.

Meu primeiro contato com matemática — somar e dividir — foi na escola. Logo colocamos isso em prática. No caminho, havia uma vendinha onde eu e uma colega comprávamos balas e nos sentávamos no chão dizendo: “uma para você, uma para mim”. No final, contávamos quantas balas restavam para cada uma. Assim, fomos aprendendo. Nesse mesmo período, tive contato com dinheiro, mas lembro que, no início, reconhecia as cédulas pelos animais ali representados.

Meus pais, embora analfabetos, foram fundamentais para minha formação. Sempre ao meu lado, minha mãe fazia questão de sentar à mesa e acompanhar o fazer do dever de casa. Embora não soubesse me ensinar, eu guardo com orgulho esse apoio moral. O cansaço de toda a jornada escolar, as horas em um ônibus, morar longe de meus pais e conciliar trabalho com os estudos à noite no ensino médio não me ajudaram muito. Eu realmente passei a me apaixonar por ler livros em 2015, quando fui apresentada a eles por uma amiga de trabalho.

Nesse mundo rico em saber, com infinitas possibilidades de um novo dia, quero continuar no meu caminho, buscando cada vez mais e aproveitando cada chance para dar um passo mais alto.



SOBRE A AUTORA:

Elaine Pereira de Sousa, de Pedra Azul/MG, é acadêmica da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), onde cursa Pedagogia. Produziu este relato na disciplina Práticas de Leitura e Produção de Textos, ofertada de julho a novembro de 2024.


A orientação deste trabalho e a organização do e-book foram realizadas por Carlos Henrique Silva de Castro, Kátia Lepesqueur e Virgínia Batista.

O meu eu tecnológico

O meu eu tecnológico
Leiliane Pereira de Oliveira Lima é acadêmica do curso Licenciatura em Educação do Campo (LEC), da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM). Leiliane é da Comunidade Quilombola Santa Cruz, município de Ouro Verde de Minas, Minas Gerais.

O meu primeiro contato com alguma tecnologia digital foi na escola, mais ou menos no ano de 2006. Naquela época, não existiam aplicativos como WhatsApp, Facebook, Instagram, entre outros. Na minha família, ninguém tinha celular nem notebook; tudo era mais difícil. Tínhamos acesso às notícias através do rádio e da televisão. Minha mãe era amante das novelas, e meu pai era fascinado por rádio.

Lembro-me de um episódio em que ele comprou um aparelho de som que tocava CDs e, posteriormente, um aparelho de DVD que podia ser conectado à TV e ao som. Esse período marcou muito a minha adolescência; eu e minhas irmãs escutamos música praticamente o dia inteiro.

Foi somente na escola que tive a oportunidade de tocar em um computador. Os professores geralmente levavam os alunos para a sala de informática, mas a interação dos alunos era pouca, pois não havia computadores para todos, e quase nenhum dos alunos sabia usar um computador, nem ao menos ligá-lo. Eu sempre me mantinha afastada, pois tinha medo de ficar só perguntando como fazer para usar o computador.

Após alguns anos, me formei no ensino médio. Como sempre trabalhei, consegui comprar um celular moderno. Além de fazer ligações e enviar mensagens no chat, ainda dava para tirar fotos, e o melhor, para atender ligações, tinha que levantar a capinha.

Naquela época, ter um celular era como ter um carro. Diante desse novo mundo tecnológico, fiquei totalmente encantada. Comecei a frequentar lan houses, trocar mensagens no Orkut e gastar todo o dinheiro que tinha para ficar em lan houses. Inclusive, meu primeiro contato com o mouse foi nessa época. Nos primeiros dias, achei muito estranho; parecia que o mouse não atendia aos meus comandos, era até engraçado.

No entanto, apesar dessa experiência única e satisfatória que vivi, não repetiria essa façanha outra vez. Em primeiro lugar, não daria um valor exorbitante em um celular como fiz no passado, e também não gastaria tanto dinheiro em lan houses só para jogar conversa fora. Contudo, vale a pena ressaltar as pessoas que foram importantes nesse meu processo de aprendizagem com as tecnologias digitais: meus colegas de escola e meus antigos patrões me ajudaram muito.

Ingressei na universidade mais ou menos dez anos após a formatura do ensino médio. E justamente no ano em que ingressei na universidade, o mundo parou por conta da pandemia da COVID-19. Então, realizamos o primeiro período de forma remota. Tive que aprender a mexer com algumas ferramentas digitais, mas havia um outro problema: não tinha acesso à internet na minha casa, pois moro na zona rural. Para assistir às aulas, tinha que ir para o município vizinho.

Foi muita coisa nova, mas consegui acompanhar as aulas. Nesse período, estava grávida e, infelizmente, fui contaminada pelo vírus da COVID-19. Acabei interrompendo os meus estudos, pois fiquei em uma situação gravíssima, tendo que ser entubada e ficar 35 dias na entubação. Passei por momentos difíceis, mas sobrevivi graças a Deus. Após um longo processo de recuperação, retornei às aulas, dessa vez de forma presencial.

Hoje, nas minhas práticas digitais envolvem as páginas e apps como WhatsApp, Facebook, YouTube, Google e G1. Também contribuí com a página virtual da nossa Associação Quilombola de Santa Cruz (Aquilo Afros). Mas o meu uso das tecnologias em relação à minha vida de estudante, minha vida cultural e atividades religiosas, é diferente. O uso como estudante está voltado mais para pesquisas, escrita de relatórios e trabalhos. Na cultura, busco divulgar questões culturais de onde resido, o Quilombo Santa Cruz. Já em relação às atividades religiosas, realizo pesquisas sobre comemorações religiosas, músicas e performances de apresentação.

Atualmente, levo uma “vida digital” sem proibição. Ao contrário da época em que estudava no ensino médio, posso dizer que as proibições que tive em relação ao uso da tecnologia não tinham nada a ver com restrições de meus pais, mas sim com a condição financeira que não permitia mesmo. Devido a essa situação, fui ter contato de fato com a tecnologia na maior idade.

Entretanto, a minha participação nas redes sociais é pouca. Uso Facebook e WhatsApp, mas não faço postagens nos stories e no status com frequência. Não sou de fazer comentários em notícias, não participo de anotações na web, sou mais reservada. Porém, já fiz uploads de imagens para realizar pesquisas no Google, por exemplo. Não tenho nenhuma atividade laboral de produção para a internet.

Toda essa situação me fez recordar de um dia na minha comunidade com a minha família, onde nos reunimos como de costume e simplesmente fomos assistir a um filme na Temperatura Máxima, na Globo. Conseguimos assistir sem ficar presos no celular, algo inédito. Percebi que as telas grandes como a televisão estão sendo esquecidas após a chegada dos celulares mais modernos, que estão exercendo cada vez mais funções, substituindo muitos aparelhos eletrônicos e, o mais preocupante, tornando o diálogo olho no olho extinto.

Diante disso, vejo o quão preocupante é o uso excessivo que estamos tendo com os celulares. Ontem mesmo, a primeira coisa que fiz assim que acordei foi mexer no celular e, ao longo do dia, também. Para realizar as atividades no Tempo Comunidade (TC) e no Tempo Universidade (TU), a ferramenta que uso é o celular. Todos os meus trabalhos faço com o celular, pois não tenho notebook.

As minhas práticas sociais também mudaram em função da tecnologia. Geralmente, quando vou fazer compras, faço anotações no celular, mas a maioria das compras que faço é via internet. Faço pagamentos pelo celular, para agendar uma consulta médica, reunião da associação ou algum outro compromisso pelo WhatsApp. Faço muita coisa pelo WhatsApp, mas tenho vontade de aprender a fazer projetos para ajudar a minha comunidade e melhorar a condição financeira de todos.

Em comparação às minhas práticas com a tecnologia e a forma como os meus pais a utilizam, afirmo que é totalmente diferente. Os meus pais não tiveram oportunidade de estudar, principalmente meu pai. Ele não sabe ler e, nesse caso, para trocar mensagem com alguém, ele só manda áudio. Gosta muito de assistir a vídeos no TikTok, não realiza compras pela internet sem a nossa ajuda, não consegue salvar o contato de alguém etc. Já a minha mãe sabe ler e escrever, envia mensagem escrita e também gosta de ver vídeos no TikTok, mas não realiza outras funções, como compras pela internet e acessar apps de bancos, sem a nossa ajuda.

As novas tecnologias têm sido um avanço na sociedade, facilitando cada vez mais o nosso dia a dia. Muitas coisas conseguimos resolver de casa sem enfrentar filas enormes, oque demonstra como as tecnologias facilitaram a nossa forma de comprar, pagar, estudar, trabalhar, comunicar, dentre outras.

Porém, vejo que o uso excessivo das telas tem acarretado uma série de problemas, como: problemas de visão, de coluna, cognitivos, etc. Temos crianças que estão tendo contato com as telas e estão ficando totalmente viciadas, não interagem, não brincam, são agressivas, não se alimentam direito, são antissociais, não desenvolvem funções cognitivas.

Esses pontos positivos e negativos sobre a tecnologia me fazem lembrar algumas situações. Sobre o ponto positivo, trago um exemplo meu: durante o meu estágio, passei por uma situação complicada. Precisava da assinatura do diretor da escola, mas sempre que ia lá ele não estava.

Após várias tentativas, ele assinou os documentos da cidade onde ele se encontrava, e isso só foi possível porque a assinatura era digital. A tecnologia foi fundamental para a concretização do meu estágio, e assim acontece em várias situações de nossa vida.

Em relação ao uso excessivo de telas, trago o exemplo do filho de um amigo meu. Assim que a criança completou três anos, os pais deram um celular para ele brincar e não dar trabalho. Hoje, a criança tem oito anos, já não consegue ficar sem o celular, não interage com ninguém e, se for fazer um passeio com os pais, só vai se o local tiver internet.

Ao trazer um pouco sobre o meu contato com a tecnologia, compartilho um filme que foi muito marcante para minha vida, “O auto da compadecida “, foi um dos primeiros contatos que tive com a televisão na minha infância.

Lembrando da minha vida escolar

Lembrando da minha vida escolar

Os textos publicados individualmente nesta página podem ser lidos reunidos nos volumes da coleção Memórias de Letramentos. Para adquirir seu e-book gratuito ou impresso  pelo preço apenas do serviço de gráfica, clique no banner ao lado ou no fim da página.


Débora Ferreira Passos Souza, Águas Formosas/MG

Acho que o primeiro livro com o qual tive contato em casa foi a Bíblia da minha mãe. Desde pequena, ela me levava, a mim e aos meus irmãos, à Igreja Presbiteriana. Lá, tive meus primeiros contatos com os livros infantis, que eram sobre personagens da Bíblia, e eu ficava fascinada com as histórias que as professoras contavam. Na escolinha dominical da igreja, havia teatro de fantoches, apresentações, jogral e cantatas. Em casa, eu gostava de folhear as revistinhas da escola dominical, admirando as imagens e imaginando o que estava escrito. Lembro que, uma vez por semana, alguns vizinhos se reuniam em nossa casa para um estudo bíblico, onde minha mãe usava um livro grande chamado “Grupos Familiares”, que continha as lições que ela lia a cada semana.

Quando entrei na escola aos 5 anos, já conhecia os números e as letras, então não demorou muito para eu começar a escrever e ler. Recentemente, ao mexer em uma gaveta que guarda alguns dos meus tesouros (bilhetes, cartinhas, livro de recordações que as colegas de sala escreviam, coisas antigas), encontrei um caderno da minha turma do pré e meu convite de formatura do “prézinho”. Minha mãe guardou tudo com muito carinho e, quando me casei, levei-o pra minha casa.

Como eu choro por qualquer coisa, chorei ao lembrar daquele tempo e do dia em que fiz o convite. A capa foi escrita à mão por cada aluno, com um girassol, e cada pétala tinha o nome de um colega. No dia da formatura, cada aluno ganhou um livro de presente. O meu livro tinha o título “Dom Gatão”, e eu amava esse livro; lia e relia, e ele ficou comigo por longos anos. Lembro que, alguns anos depois, minha mãe comprou uma coleção de doze livros infantis, um para cada mês do ano, e cada livro tinha uma história para cada dia. Nós amávamos ler essas histórias.

Todas as escolas em que estudei tinham bibliotecas, e os professores nos incentivavam a ter o hábito da leitura. Alguns livros que me marcaram durante o ensino fundamental foram “Cachorrinho Samba”, em suas versões “Na Fazenda” e “Na Floresta”, além de “Viagem pelo Ombro de Minha Jaqueta”. No ensino médio, eu lia por obrigação e não tinha prazer na leitura. A disciplina de Literatura nos obrigava a ler clássicos, que eram livros bem mais difíceis de entender. Li “Os Sertões”, “Quincas Borba”, “Memórias Póstumas de Brás Cubas”, entre outros. Porém, o que me traz uma boa lembrança é o livro “Iracema”.

Lembro que a professora dividiu a turma em grupos, e todos tinham que fazer um trabalho sobre o livro. Meu grupo fez um filme representando a história, e um pai de um colega tinha uma câmera filmadora em VHS, algo raro na época. Ele filmou e nós encenamos com figurino e tudo, à beira de um rio. No dia da apresentação na escola, foi um evento passar essa filmagem, e fomos o grupo com o melhor trabalho. Então, guardo com carinho a lembrança da índia dos lábios de mel.

Quando tive meus filhos, preocupei-me em incentivá-los à leitura. Em casa, sempre havia livros para eles, mesmo antes de aprenderem a ler. Na hora de dormir, eles já sabiam que era hora da história. Pegavam a Bíblia ilustrada e a gente contava histórias até eles adormecerem.

Vinte e quatro anos depois de me formar no ensino médio, aqui estou eu, abraçando a oportunidade de fazer o curso de Pedagogia pela UFVJM. Hoje, não tenho o mesmo gosto pela leitura que tinha quando era mais nova. No entanto, a vida acadêmica está me cobrando e estou tentando me adaptar.



SOBRE A AUTORA:

Débora Ferreira Passos Souza, de Águas Formosas/MG, é acadêmica da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), onde cursa Pedagogia. Produziu este relato na disciplina Práticas de Leitura e Produção de Textos, ofertada de julho a novembro de 2024.


A orientação deste trabalho e a organização do e-book foram realizadas por Carlos Henrique Silva de Castro, Kátia Lepesqueur e Virgínia Batista.

Relatos de leitura e escrita

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Daniela de Paula dos Santos, Cristália/MG

Quando eu era criança, muito antes de entrar na escola, não tinha acesso a textos escritos, porque na comunidade onde eu morava com a minha família não havia livros, folhetos, jornais ou revistas. Devido à falta de recursos da comunidade, não havia escola. Era tudo muito difícil, até mesmo o acesso à comunidade.

Algum tempo depois, eu e minha família tivemos que nos mudar, pois a CEMIG iria dar início à barragem de Irapé. Com isso, nos mudamos para outro lugar, onde comecei a ter acesso a alguns textos escritos. Meu primeiro contato com um texto escrito foi através de uma Bíblia. Mesmo não sabendo ler, eu folheava as páginas da Bíblia, sempre com a vontade de aprender.

Um tempo depois, minha mãe me colocou na escola. Eu ainda não sabia ler nem escrever, mas já sabia contar até 10. Na época, eu tinha 5 anos. Meus primeiros anos na escola foram os melhores; eu estava sempre muito ansiosa para ir, porque a cada dia era um aprendizado a mais. Eu ficava muito feliz quando aprendia algo novo e, com o passar do tempo, fui aprendendo a ler e a escrever.

Quando estava no quarto ano do ensino fundamental, minha mãe, juntamente com meu pai, comprou um kit de livros para mim e meus irmãos. No kit, havia um livro com várias continhas de matemática, e assim fui aprendendo aos poucos a somar e a subtrair, sempre com o auxílio dos professores e da minha família.

Lembro que eu pegava giz na escola para brincar de escolinha com minhas irmãs em casa. Na hora da brincadeira, a gente discutia muito, porque eu sempre queria ser a professora. Quando tinha a oportunidade de ser a professora, passava algumas continhas que aprendia na escola para elas resolverem e ditava algumas palavras para que escrevessem. Quando elas terminavam, traziam o caderno para que eu corrigisse as atividades. Nós nos divertíamos muito com isso; para nós, era a melhor brincadeira que existia.

Na minha escola, havia uma biblioteca, e os funcionários permitiam que nós, alunos, levássemos um livro de historinhas para casa todos os dias, com o intuito de ler e devolver no dia seguinte. Uma vez, a escola doou livros didáticos para os alunos, e eu levei alguns para casa. Fiquei muito contente, pois estava sempre lendo, escrevendo e buscando mais conhecimento através dos livros.

Quando passei para o quinto ano do ensino fundamental, já sabia muitas coisas e tive uma excelente professora, que nunca mediu esforços para me ajudar. Ela fazia de tudo para que eu aprendesse, desenvolvendo várias brincadeiras e trabalhos legais com a turma, a fim de ajudar no processo de aprendizagem. No mesmo ano, minha família resolveu se mudar para uma cidade no interior de São Paulo. Para mim, foi muito bom, pois me desenvolvi ainda mais na prática da leitura e da escrita. Fiz o sexto ano também na cidade do interior de São Paulo e tive o prazer de participar da minha formatura no Programa de Resistência às Drogas e à Violência (PROERD). Tudo isso que vivenciei foi uma experiência incrível, pois fiz muitas coisas que nunca imaginei realizar.

Um tempo depois, minha família decidiu voltar para o norte de Minas. Viemos embora, mas trouxe comigo muito aprendizado e conhecimento. Comecei a estudar na minha escola novamente e já estava no sétimo ano do ensino fundamental. Sempre fazia todas as atividades que meus professores passavam e me esforçava bastante para entregar os trabalhos nas datas previstas.

No oitavo ano, estudei com meu irmão. Ele me motivava muito a fazer todas as atividades e a ir para a escola todos os dias. Estávamos sempre ajudando um ao outro em tudo; fazíamos nossas atividades, trabalhos e tarefas juntos. Isso foi motivo de muita alegria para mim.

No nono ano, tivemos que parar de estudar por conta da pandemia, mas um ano depois voltamos. Ainda não podíamos estudar presencialmente, mas utilizamos os PETS, que nos permitiram estudar em casa. Um tempo depois, já no primeiro ano do ensino médio, tive minha filha e precisei abandonar os estudos para me dedicar a ela.

Mas, algum tempo depois, decidi voltar a estudar. Como não tinha com quem deixá-la, precisei levá-la comigo para a escola. A conclusão do ensino médio foi um desafio para mim. Era muito difícil fazer as atividades, trabalhos e provas com a minha filha, apesar de sempre ouvir das pessoas que eu nunca conseguiria finalizar os estudos com uma criança. Sempre tive o apoio, primeiramente, de Deus e também da minha família. Minha mãe e meu pai estavam comigo em tudo, me incentivando a ser melhor todos os dias. Eles sempre me diziam que meu futuro dependia apenas de mim, então consegui concluir o ensino médio com muita fé e dedicação.

Hoje, no meu primeiro ano de universidade, percebo que me desenvolvi bastante na prática da leitura e estou tentando, aos poucos, me aperfeiçoar na escrita. Acredito que, com o auxílio dos professores e a minha força de vontade, conseguirei.

Essas mudanças podem trazer muitas coisas positivas, pois nos ajudam a aprender mais. Estou sempre acompanhando e lendo o que os professores mandam, porque isso é muito importante para que possamos entender o que é passado para nós e facilitar na hora de fazer as atividades.

Eu tenho um pouco de dificuldade com os textos universitários, mas, de acordo com o ensinamento dos professores, irei conseguir e ter mais facilidade com esses textos. Acredito que o ensino médio me preparou para lidar com questões financeiras e entender a importância do controle financeiro.



SOBRE A AUTORA:

Daniela de Paula dos Santos, Cristália/MG, é acadêmica da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), onde cursa Pedagogia. Produziu este relato na disciplina Práticas de Leitura e Produção de Textos, ofertada de julho a novembro de 2024.


A orientação deste trabalho e a organização do e-book foram realizadas por Carlos Henrique Silva de Castro, Kátia Lepesqueur e Virgínia Batista.

A improvável que tem dado certo

A improvável que tem dado certo

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Daiane Monteiro Rocha, Pedra Azul/MG

Caro e gentil leitor, vamos voltar um pouco no tempo. O ano era 1990, mais precisamente 19 de maio. Naquele dia, nascia no Hospital Ester Faria de Almeida, na pequena cidade de Pedra Azul, Daiane Oliveira Rocha, que mais tarde passou a se chamar Daiane Monteiro Rocha. Eu era a filha caçula de um casal que tinha mais sete filhos, sendo duas meninas e cinco meninos, moradores da zona rural em uma fazendinha a 4 km da cidade.

Minha infância foi bem divertida, sem muito luxo, mas cheia de amor e carinho; repleta de sorrisos fáceis, abraços quentinhos e, no fim das tardes, quase sempre fazíamos uma roda ao redor do fogão a lenha para ouvirmos meu pai contar suas histórias de antigamente, sempre acompanhados de uma garrafinha de café e biscoitos de chuva passados no açúcar com canela. Hum… posso dizer que vivi intensamente, sendo rica em tudo o que o dinheiro não pode comprar, colecionando, assim, memórias afetivas que moldaram a pessoa que sou hoje. Na época, a vida escolar era um pouco mais difícil em relação às melhorias que vejo hoje.

Hoje, as crianças que moram na zona rural não precisam se mudar para a cidade para estudar; temos vans e ônibus que levam e trazem esses estudantes. Quando meus irmãos chegaram à época de estudar, fomos separados; cada um se mudou para a casa de um familiar. Sofremos muito na época porque éramos bem próximos e, com isso, só nos víamos aos fins de semana e nas férias. Quando chegou a minha vez de estudar, felizmente, os parentes não queriam ficar comigo, pois eu adoecia muito com asma, e uma criança com asma traria muitos problemas para eles. Minha mãe, então, decidiu comprar uma casinha na cidade e reunir todos os filhos espalhados para que pudéssemos ficar juntos novamente, debaixo do mesmo teto. Mas foi necessário que meu pai continuasse morando e trabalhando na fazenda, pois o sustento de toda a família vinha de lá. Sendo assim, aos fins de semana, íamos todos para a fazenda ficar com ele; às vezes arrumávamos carona, outras vezes era necessário irmos a pé. Minha mãe me matriculou na escola Dr. Carlos Américo, que ficava na mesma rua da casa que compramos. Quando comecei a estudar, tinha 6 anos e faria 7 no meio do ano.

Lembro-me de ver minha mãe preocupada, sem saber se eu daria conta de acompanhar a turma, pois meus coleguinhas já haviam feito o pré-escolar, ou seja, já tinham uma certa noção das coisas e, inclusive, uma coordenação motora bacana para a idade. Eu sabia contar até vinte, que meu primo Marcos me ensinava sempre que ia para a fazenda, e as cores que minha irmã Andrea me ensinou. Eu até via eles fazendo as tarefas e lendo os livros deles, mas queria mesmo que eles terminassem logo para brincarem comigo.

Quando nos mudamos para começar os meus estudos, conheci uma amiga muito especial que me convidou para ir ao culto infantil da Igreja Presbiteriana do Brasil. Eles faziam um trabalho maravilhoso com as crianças. Fui a esse culto e recebi minha primeira revistinha em quadrinhos, bem colorida e cheia de desenhos. Quando recebi a notícia de que era minha e que eu podia levar para casa, fiquei muito feliz. A revista contava a história de Noé colocando os animais na arca após ouvir o Senhor.

Logo depois de alguns meses, comecei a aprender a escrever, ler e reconhecer cédulas, o que foi maravilhoso para mim, pois pude ajudar meu pai a vender queijos na feira livre. Lembro-me de como ele ficou orgulhoso e brincou dizendo que eu já podia sair rapidinho e voltar já sabendo vender. Não tínhamos acesso a computador; meus pais tinham pouco estudo e não passaram da quarta série. Eles relatam que a vida deles ainda era bem mais difícil que a nossa; por isso, faziam questão de nos incentivar a estudar.

Voltando a dizer o quão maravilhoso foi aprender a escrever, lembrei-me de que passava na televisão uma novela chamada “O Diário de Daniela.” Todas as meninas da época queriam um diário e saber escrever nesse diário, então, ah, era incrível. Eu escrevia tudo o que se passava durante o dia, desde o que comia no café da manhã, as travessuras do dia e a última oração à noite. E, pasmem, achei esse diário outro dia; foi tão gostoso ver minha letrinha infantil, algumas palavrinhas erradas, mas ao mesmo tempo fiquei tão orgulhosa de mim. Na minha escola, não tínhamos uma biblioteca; as leituras dos livros eram feitas debaixo de grandes árvores cheias de flores que nos forneciam uma sombra fresca.



SOBRE A AUTORA:

Daiane Monteiro Rocha, de Pedra Azul/MG, é acadêmica da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), onde cursa Pedagogia. Produziu este relato na disciplina Práticas de Leitura e Produção de Textos, ofertada de julho a novembro de 2024.


A orientação deste trabalho e a organização do e-book foram realizadas por Carlos Henrique Silva de Castro, Kátia Lepesqueur e Virgínia Batista.

Um encontro com a tecnologia

Um encontro com a tecnologia
Keviny Tuany Rodrigues Sena é acadêmica do curso Licenciatura em Educação do Campo (LEC), da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM). Keviny é da Comunidade Quilombola do Paiol, município de Cristália, Minas Gerais.

Em 2001, quando nasci, as cidades já apresentavam grandes avanços tecnológicos, mas no campo, essa realidade parecia distante em alguns aspectos. Muitos lugares ainda não possuíam energia elétrica. Em minha casa, a tecnologia tinha uma presença sutil e limitada. Nosso acesso à tecnologia restringia-se ao celular, rádio ou televisão. Meu pai nunca gostou de celular e nunca teve um. Em contraste, minha mãe adorava conversar com os amigos por horas no celular. As manhãs em casa eram marcadas pelo som da televisão sintonizada no Canal do Boi ou no jornal, enquanto as noites eram envolvidas pelo barulho do velho rádio do meu pai.

Meu primeiro contato com a tecnologia digital foi através do celular da família. Embora a interação fosse mínima, já que eu só fazia ligações, colocava músicas para minha mãe ou trocava o papel de parede, essas funções básicas eram fáceis para mim, pois já sabia ler e escrever o que tornava essas funções básicas algo fácil para mim.

Com o passar do tempo, meu irmão, que trabalhava, comprou um celular para si. Às vezes, ele me deixava jogar o “jogo da cobrinha”, mas sempre em troca de favores. Aqueles momentos, mesmo sendo raros, eram muito bons para mim, pois era algo diferente. Não me recordo do ano exato, mas lembro-me claramente de quando íamos eu e minha irmã para a casa da nossa avó na cidade jogar em uma lan house. Eu gastava as moedas que ganhava dos meus pais; cada 30 minutos custava 50 centavos. Eu adorava os jogos de culinária.

O ano era 2012 e as condições financeiras foram melhorando; com isso, as oportunidades também. Minha mãe conseguiu, através de trocas, dois celulares seminovos. Ela deu um para minha irmã e o outro para mim. O meu era um celular com o teclado embutido, que eu puxava para fora para pode digitar. Ele era diferente de tudo que eu já tinha visto. Mesmo sem redes sociais ou chip, eu usava o aparelho para tirar fotos, trocar o tema, escrever notas e ouvir música no percurso do ônibus da escola para casa.

A tecnologia continuava avançando e, no meu aniversário, minha mãe me surpreendeu ao me levar à loja Zema. Lá, ela me comprou um celular de presente. Embora sua câmera fosse horrível – o que me impedisse de fazer o que mais gostava, que era tirar fotos – encontrei outras formas de utilizá-lo, como para acessar o Facebook, de maneira limitada, pois não tinha wi-fi e pouco dinheiro para as recargas.

Quando completei 15 anos, em 2016, comecei a trabalhar no mercadinho de uma professora, onde ganhava 150 reais mensais. Com o dinheiro, comprei um celular decente, parcelado em 10 vezes, um Samsung J5. Esse foi um ponto de virada, pois no mercadinho também tinha Internet à vontade, o que me permitiu usar o celular com maior frequência, postando fotos e interagindo no Facebook. Cheguei até a criar uma página de memes, que acredito estar vinculada ao meu perfil até hoje.

Também usava o Google para procurar músicas, que tinha dificuldades para baixá-las. Certo dia, navegando na internet, descobri o aplicativo Snaptube, que me permitiu baixar não apenas músicas, mas também vídeos. Aos poucos fui entendendo como funcionavam as ferramentas digitais, que tornaram-se aliadas constantes em minha vida.

Durante a pandemia, recém-formada no ensino médio e iniciando a faculdade, enfrentei desafios relacionados às burocracias documentais da instituição e às aulas on-line. O acesso à internet tornou-se indispensável, o que demandou a instalação de internet em casa, algo mais difícil por vivermos na zona rural.

No início, a faculdade parecia complexa, pois tive que aprender a utilizar e-mail, o site do E-campus, e ainda enfrentar a dificuldade de realizar todas as atividades pelo celular, já que eu não tinha um notebook. Com o tempo, essas dificuldades foram superadas e a adaptação às ferramentas digitais foi acontecendo, visto que sempre tive facilidade em utilizá-las.

Atualmente, uso o celular com frequência para diversas atividades, incluindo estudos, acesso a recursos bancários, pagamento de contas, vendas e compras, entre outros. Embora utilize vários aplicativos, nos últimos tempos, os que mais utilizo são WhatsApp, Instagram, Airbnb, aplicativos bancários, Google Sala de Aula e e-mail.

A rotina de estudos provocou uma mudança significativa no meu uso diário das tecnologias digitais, com um aumento nas leituras, produção de slides e documentos, bem como na preparação de documentos de estágios. Fora do ambiente acadêmico, utilizo sites e aplicativos para realizar vendas, compras e navegação.

Além disso, as tecnologias alteraram algumas das minhas práticas cotidianas, especialmente no que diz respeito às compras, que agora faço predominantemente online. Tenho também interesse em produção e edição de vídeos. Além disso, faço uso frequente de mapas e do Airbnb para alugar casas por temporada. Também pretendo criar uma loja digital, começar a gravar vídeos e desenvolver um perfil no Instagram para postar conteúdos de culinária.

Para compartilhar um pouco mais da minha história tecnológica, gostaria de indicar um filme que marcou profundamente a minha vida. “Nanny McPhee – A Babá Encantada” é um filme de comédia e fantasia que gira em torno de uma babá mágica que chega na casa de uma família para cuidar das crianças; com sua magia e habilidades especiais, transforma a vida deles de maneira surpreendente e divertida. Esse filme sempre passava na TV de casa, no Canal Livre. Como não tínhamos acesso à internet, esperávamos ansiosamente por filmes que fossem realmente bons. Este, em especial, marcou muito a minha infância. Espero que ele também toque a vida de vocês, assim como tocou a minha.

Vida escolar

Vida escolar

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Charline Lima Silva Marques, Águas Formosas/MG

Lembro-me pouco da minha infância na vida escolar, mas, claro, alguns acontecimentos ficaram guardados na minha memória. Quando comecei a ler, por volta dos seis para sete anos, tudo que via escrito nas ruas — nomes de lojas, placas, propagandas, pacotes de biscoitos, estampas de ônibus, entre outras coisas — eu sempre passava lendo em voz alta. Tudo era novidade, e eu achava o máximo conseguir juntar as letras.
No 2º ano do ensino fundamental I, a diretora da escola queria aplicar uma prova para me pular para o 3º ano, mas minha mãe preferiu que eu continuasse no ano de acordo com minha idade. Lembro-me de que, naquele ano, consegui ajudar bastante meus colegas nas atividades de sala. Isso aconteceu porque tinha acabado de mudar de cidade, e a escola anterior em que eu estudava estava bem mais adiantada em comparação à nova escola.
Sempre tive mais facilidade nas áreas exatas; minhas melhores notas sempre foram em matemática, física e química. Minha mãe teve um papel importante nesse fator, pois acho que parte dessa facilidade, principalmente em matemática, foi herança genética. Ela já era professora do ensino fundamental e, quando completei onze anos, terminou a graduação em matemática. Acho que posso usar a expressão “filho de peixe, peixinho é”; com ela, aprendi a amar matemática.
Nos anos iniciais na escola, não tive dificuldades em aprender as letras e juntá-las, talvez pelo fato de ser filha de professora e de ter sido sempre incentivada em casa com histórias e livros infantis. Com o passar dos anos escolares, mesmo com esse incentivo na infância, o português nunca foi uma paixão, mas sempre tive boas notas nessa matéria. Toda semana, pegava um livro na biblioteca da escola para ler, e lembro que muitas vezes fazíamos até teatro sobre alguns livros no ensino fundamental.
A prática com os números sempre fez mais sentido para mim; aprendi com muita facilidade a trabalhar com dinheiro, por exemplo, e fazia contas de cabeça com muita agilidade. A língua portuguesa também foi de suma importância, pois sem a leitura não conseguimos fazer praticamente nada. Durante todo o período escolar, sempre tive excelentes professores de língua portuguesa e matemática, o que foi muito importante para meu desempenho.
Minha habilidade com números sempre ajudou muito em minhas questões financeiras. O ensino médio fez parte disso, assim como a língua portuguesa, pois é através dela que consigo ler, compreender e interpretar várias situações no meu cotidiano.
Esse primeiro ano de graduação, assim como os próximos, será cheio de desafios, e espero que traga muitas mudanças nos meus hábitos de leitura e escrita, pois sei que preciso melhorar muito nessa área. Sou encantada por quem escreve um bom texto com facilidade. Espero me encantar pelas letras assim como sou encantada pelos números durante o curso de graduação em Pedagogia.



SOBRE A AUTORA:

Charline Lima Silva Marques, Águas Formosas/MG, é acadêmica da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), onde cursa Pedagogia. Produziu este relato na disciplina Práticas de Leitura e Produção de Textos, ofertada de julho a novembro de 2024.


A orientação deste trabalho e a organização do e-book foram realizadas por Carlos Henrique Silva de Castro, Kátia Lepesqueur e Virgínia Batista.

Memórias da minha vida escolar

Memórias da minha vida escolar

Os textos publicados individualmente nesta página podem ser lidos reunidos nos volumes da coleção Memórias de Letramentos. Para adquirir seu e-book gratuito ou impresso  pelo preço apenas do serviço de gráfica, clique no banner ao lado ou no fim da página.


 Catiane Aparecida Mezede Gomes, Capelinha/MG

Lembro-me de que o primeiro contato que tive com a escrita na minha infância foi antes mesmo de iniciar minha vida escolar. Através de jornais que chegavam à minha casa, embalando compras que minha mãe fazia no supermercado, eu os folheava. Como não sabia ler nem escrever, e meus pais não tinham muito tempo para me incentivar na leitura e na escrita antes de eu entrar na escola — por trabalharem na roça — era muito corrido e difícil para eles darem esse apoio a mim e a meus irmãos. Portanto, era apenas uma curiosidade de criança olhar as gravuras ou fotos que havia nos jornais. Como era comum usar jornais para embalar compras, para mim eram simplesmente papéis.

Aos seis anos de idade, comecei a frequentar a escola. Tudo era novo para mim; não sabia contar os números, não conhecia as letras do alfabeto; tudo era novidade, mas fui aprendendo conforme me ensinavam. Estudava em uma escola rural que, naquela época, não tinha muito a oferecer: não havia biblioteca, muito menos livros. Era apenas uma sala de aula, e o professor nos conduzia. Lembro-me bem desse início: a leitura não era muito incentivada porque não tínhamos acesso a livros, então a prática da escrita era trabalhada na sala de aula, com o professor escrevendo no quadro ou através de fichas e textos que reescrevíamos em casa. E assim foi até eu concluir a fase pré-escolar.

Quando entrei no primeiro ano, minha família se mudou para a cidade, onde tive acesso a uma escola melhor, com biblioteca. Comecei a ouvir as primeiras histórias que a professora contava, como contos, fábulas e outros, tendo a oportunidade de ter contato com os livros. Assim, nos primeiros anos da minha vida escolar, foi assim: mais prática na escrita e, aos poucos, na leitura.

O tempo passou, concluí o ensino fundamental e desenvolvi uma boa relação com os números e a escrita. No entanto, por ter tido pouco incentivo e prática com a leitura, surgiram dificuldades em interpretação e produção de textos. No ensino médio, comecei a ter mais contato com a leitura, e o incentivo à leitura de livros literários e atividades com eles na sala de aula se tornaram mais frequentes. Contudo, devido à falta de prática da leitura durante o tempo na escola, a dificuldade persistia no dia a dia. Com muito esforço e dedicação, fui progredindo nas minhas produções de textos e até mesmo em atividades como interpretação.

Ainda assim, sentia a necessidade de mais melhorias. No último ano do ensino médio, despertei o desejo de tentar concursos públicos e tive a oportunidade de fazer um cursinho para essa finalidade. Isso representou um grande avanço para mim e proporcionou um aprimoramento na escrita como um todo.

Sem dúvida, a falta de leitura ao longo da minha trajetória escolar na infância comprometeu um pouco meu desenvolvimento intelectual. Contudo, com muito esforço e dedicação, consegui superar essas dificuldades. Hoje, estou feliz por poder ingressar na faculdade de Pedagogia, onde pretendo aprimorar ainda mais meus conhecimentos na área da educação. Com toda a minha bagagem de infância, desejo contribuir de forma positiva na vida das crianças, incentivando a leitura.



SOBRE A AUTORA:

Catiane Aparecida Mezede Gomes, de Capelinha/MG, é acadêmica da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), onde cursa Pedagogia. Produziu este relato na disciplina Práticas de Leitura e Produção de Textos, ofertada de julho a novembro de 2024.


A orientação deste trabalho e a organização do e-book foram realizadas por Carlos Henrique Silva de Castro, Kátia Lepesqueur e Virgínia Batista.

Minha jornada literária pessoal

Minha jornada literária pessoal

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Cassie Fernandes, Águas Formosas/MG

Desde a minha infância, o acesso a textos escritos sempre foi presente em minha vida. Minha mãe e minha avó, sendo evangélicas, constantemente liam a Bíblia, além de panfletos da igreja e outros materiais religiosos, como livros e revistas. Meu avô, sempre sentava comigo em um banco velhinho de madeira que tinha no quintal e me contava inúmeras histórias (às vezes repetia várias vezes a mesma, porque eu implorava pra ele contar de novo) sobre as aventuras de Pedro Malasartes, e todas as suas travessuras.

Ele sempre me contava também, diversas histórias de quando ele era jovem e trabalhava na roça, sobre os animais selvagens que ele já tinha visto de longe e de perto, sobre as plantações e sobre a linhagem familiar de todo mundo que ele conheceu, e que eu não fazia ideia de quem eram, mas ouvia tudo atentamente, tentando guardar cada detalhe comigo. Esse ambiente familiar me proporcionou um contato precoce e frequente com materiais de leitura, histórias e produção de textos, pois eu vivia imaginando diversas aventuras e histórias como as de Pedro Malasartes.

Minhas primeiras lembranças relacionadas à leitura e contagem estão associadas ao meu avô, que me ensinou a contar até vinte. Embora os detalhes desse aprendizado sejam um pouco vagos e mesclados pelo tempo, eu me lembro que ele desempenhou um papel fundamental nesse processo. Da mesma forma, foi com ele que aprendi a reconhecer e entender o valor do dinheiro. Apesar de ser analfabeto naquele período, meu avô me ensinava a utilizar as moedas que me dava para comprar doces na vendinha próxima da minha casa, explicando o valor de cada uma e o que poderia ser comprado com elas, assim como o troco.

Eu tenho uma lembrança muito carinhosa que eu guardo comigo, e essa é uma das únicas que eu me lembro com perfeição, pois eu já tinha uns 13 anos, e eu e meu avô estávamos deitados no chão, olhando pro céu, na área de casa e ele estava me contando pela milionésima vez uma história de Pedro Malasartes (eram minhas favoritas, e eu nunca me cansava delas) e eu estava tão entretida na história que não percebi um filhotinho de lagartixa entrando na minha blusa, até ser tarde demais. E quando eu a senti encostando em mim, foi o caos absoluto, mas também foi um dos melhores dias da minha vida, pois daquele dia em diante eu tinha minha própria história engraçada pra contar, e o melhor, era compartilhada com a pessoa que eu mais amava nesse mundo.

Quando eu estava na pré-adolescência, meu avô decidiu iniciar seus estudos e conseguiu se formar no ensino fundamental. Ele aprendeu, entre outras coisas, a escrever o próprio nome, um dos maiores orgulhos que ele tinha. Tive o privilégio de acompanhar e ajudá-lo nas atividades escolares, fazendo as tarefas e ajudando-o com a leitura. Esse período foi muito especial, pois pude retribuir um pouco de tudo que ele fez por mim, ajudando-o a conquistar algo tão importante. Infelizmente, ele não está mais aqui para me ver formada, mas o amor e a gratidão que sinto por tudo o que ele me ensinou permanecerão comigo para sempre.

Ao ingressar na escola, não tenho uma lembrança clara se já sabia realizar operações matemáticas, mas sempre me destaquei na resolução de problemas nos anos iniciais do ensino fundamental. Naquela fase, os problemas eram bastante simples, e eu costumava obter notas máximas nas provas de todas as matérias. No entanto, ao avançar para o ensino médio, comecei a enfrentar dificuldades maiores com matemática e exatas no geral, e passei a concentrar meus esforços na área que eu mais gostava e tinha facilidade que era e é, linguagens.

Tanto a escola quanto a minha família desempenhou um papel crucial em meus letramentos matemáticos iniciais. Esse período da vida é marcado por uma grande facilidade de aprendizado, e contar com o apoio e a dedicação de pessoas dispostas a me ensinar, mesmo com suas próprias limitações, foi de extrema importância para meu desenvolvimento e motivação para aprender cada vez mais.

Em relação à escrita nos primeiros anos escolares, embora minhas memórias não sejam tão detalhadas, lembro-me de ser incentivada a escrever, desde pequenas frases até textos mais elaborados. Sempre fui uma aluna dedicada, o que fez com que os professores me dessem atenção especial. Embora isso possa ter criado um ambiente de favoritismo, o que é péssimo em uma sala de aula, contribuiu significativamente para desenvolver meu gosto pela leitura e escrita.

Quanto aos textos que lia e produzia ao longo da escolaridade, me lembro de, no ensino fundamental, ter ganhado de minha mãe um kit de livrinhos com histórias bíblicas, que se tornou um verdadeiro tesouro para mim. No ensino médio, já era uma leitora ávida, frequentando bibliotecas e construindo um acervo pessoal de livros, além de ler em formato digital, primeiro através do celular, mas logo comprei meu dispositivo Kindle, e pude realmente criar minha própria biblioteca digital.

Todas as escolas que frequentei tinham bibliotecas, e os professores sempre incentivaram o uso desse espaço. Contudo, muitas vezes, as atividades escolares relacionadas à leitura não despertavam meu interesse, pois os livros sugeridos não condiziam com minhas preferências e com os gêneros literários que eu costumava amar ler. Minha relação com a leitura sofreu uma mudança significativa aos 14 anos, quando ganhei o livro “O Chamado do Monstro” de presente. Esse livro teve um impacto tão profundo em mim, me levando a desenvolver um amor intenso e profundo pela leitura.

 Como uma pessoa LGBTQIAPN, minha vida foi marcada por desafios como bullying e repressão em todos os lugares que eu costumava frequentar, especialmente na escola e na igreja evangélica que minha mãe frequentava e me levava junto, e a leitura se tornou uma forma de escapar disso e viver outras realidades mais afáveis que a minha. Em 2016, descobri a plataforma Wattpad, onde escrevi meu primeiro livro, que estou atualmente reescrevendo para disponibilizar na Amazon Kindle em formato de ebook.

No meu primeiro ano de universidade, em 2018, a principal mudança em meus hábitos de leitura e escrita foi o foco nos conteúdos acadêmicos. O maior desafio foi a escrita do meu artigo de conclusão de curso, que, apesar de ser sobre um tema que eu amo, exigiu muito de mim devido à sua complexidade, mas apesar disso eu consegui entregar um trabalho completo e coerente com meu tema escolhido.

Ainda mantenho a prática da leitura autônoma, principalmente sendo artista, estou sempre lendo peças teatrais e estudando sobre teatro, mas agora, ao iniciar um novo curso, ajusto minha rotina para conciliar as leituras orientadas pelos professores com aquelas que escolho por conta própria, reconhecendo o valor e a importância de ambas. Dito isso, meus gêneros literários preferidos são fantasia, romance, ficção científica e poesia.

Quanto à administração das minhas finanças, percebo que o ensino médio não me preparou adequadamente para os desafios econômicos e burocráticos da vida adulta. Atualmente, busco aprender por conta própria, utilizando os recursos tecnológicos disponíveis para adquirir novas habilidades e conhecimentos necessários para a vida cotidiana. Atualmente a tecnologia e a informação estão literalmente nas nossas mãos, e eu odeio me sentir ignorante diante de qualquer tema, então estou sempre pesquisando e aprendendo sobre coisas novas e relevantes para meu crescimento pessoal e profissional.

Hoje, o Kindle é meu dispositivo de leitura preferido. A praticidade de transportá-lo, o vasto acervo digital disponível, e a possibilidade de ler diversos ebooks em inglês para aperfeiçoar minhas habilidades de leitura e escrita nesse idioma tornaram-se ideais para minhas necessidades. Além disso, o Kindle permite que eu tenha acesso a uma infinidade de títulos sem ocupar espaço físico, o que é especialmente importante considerando o tamanho limitado do meu quarto. Dito isso, estou ansiosa para adquirir um modelo mais recente e ampliar minha rotina de leitura.

Por fim, a leitura e a escrita sempre foram paixões que me acompanharam ao longo da vida, moldando quem sou e ampliando meus horizontes. Meu amor por essas atividades continua a crescer, e é meu desejo um dia ver alguns dos meus livros publicados em formato digital e físico, compartilhando com outros as histórias e ideias que significam tanto pra mim.



SOBRE A AUTORA:

Cassie Fernandes, de Águas Formosas/MG, é acadêmica da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), onde cursa Pedagogia. Produziu este relato na disciplina Práticas de Leitura e Produção de Textos, ofertada de julho a novembro de 2024.


A orientação deste trabalho e a organização do e-book foram realizadas por Carlos Henrique Silva de Castro, Kátia Lepesqueur e Virgínia Batista.

O caminho da minha experiência com a tecnologia digital

O caminho da minha experiência com a tecnologia digital
Jordana da Silva Santos é acadêmica do curso Licenciatura em Educação do Campo (LEC), da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM). Jordana é da Comunidade Quilombola de Buriti do Meio, município de São Francisco, Minas Gerais. 

Meu primeiro contato com uma tecnologia digital foi em 2015, em casa, quando meu pai comprou um celular que, naquela época, servia apenas para fazer ligações quando necessário. Esse celular foi dado à minha irmã, que era mais velha, para manuseá-lo. No entanto, de vez em quando, eu tinha acesso a ele para brincar com os jogos que possuía. Esse celular era apenas para facilitar as ligações que meu pai queria fazer. Como meu pai não sabia ler por não ter estudado na infância, ele deixou que minha irmã e eu o utilizássemos.

Naquele momento, a ferramenta era uma grande diversão para mim e minha irmã. Nós nos divertimos com o celular durante o dia, usando-o principalmente para fotografar. Durante toda a minha adolescência, nunca tive meu próprio celular, pois minha família não tinha condições de me dar a ferramenta.

Mas nessa mesma época, conheci o celular digital, pois eu tinha outra irmã que trabalhava fora e tinha um. Com ele, eu conheci algumas redes sociais como Facebook e WhatsApp. Achava extraordinário ver as postagens de outras pessoas e me imaginava um dia naquele mundo digital com meu próprio celular. Muitas vezes, eu o utilizava escondido da minha irmã para entrar nessas redes. Tudo era novo para mim, e eu tinha muita curiosidade em aprender a utilizá-las e ver como funcionavam.

Logo depois, meu irmão também conseguiu seu celular digital, o que foi muito importante no meu processo de aprendizagem. Ele sempre teve facilidades com esses recursos e me mostrava diversas coisas. Assim, mesmo sem ter meu próprio celular, adquiri um grande conhecimento para saber utilizá-lo quando tivesse a oportunidade de manusear algum aparelho.

Em 2020, uma professora de Língua Portuguesa fez minha inscrição no vestibular da LEC (Licenciatura em Educação do Campo), fiz o vestibular e fui aprovada. Desde então, consegui ser a única da minha comunidade, dentre 12 participantes, a entrar no ensino superior. Fiquei muito feliz com a conquista, porém ao mesmo tempo preocupada se conseguiria realmente estudar, pois, devido à pandemia, as aulas seriam todas online e eu ainda não possuía um celular ou computador adequado para estudar; nem tinha uma internet de qualidade em casa.

Minha irmã me ajudou bastante, realizando todos os processos de trocas de mensagens necessários para minha entrada na LEC. Nesse meio tempo, consegui a matrícula e fiquei muito alegre, assim como minha família. Era possível ver o quanto minha família queria me ver estudando. No entanto, percebia-se em seus semblantes a tristeza de que eu poderia desistir por não ter acesso a nenhuma ferramenta própria para estudar, além de que, como moradora da zona rural, o acesso de qualidade ao sinal de internet era péssimo.

Em 2021, o ano em que se iniciaram as aulas da LEC, quando eu pensava em desistir de estudar, algumas semanas antes de começarem as aulas, de maneira muito simpática, meu irmão me presenteou com um celular, meu primeiro celular. Não desisti e aqui estou.

Fiquei muito empolgada e feliz ao ganhar o aparelho. Sem pensar muito no que acessar primeiro, pois sempre tive muita vontade de ter redes sociais, fui a um local que possuía sinal de rede e logo instalei aplicativos como Facebook, WhatsApp, TikTok e Kwai. Além disso, baixei o Google Meet, que seria o aplicativo para eu conseguir acessar as aulas da universidade.

Não tive muitas dificuldades em usar o celular, pois como tenho relatado, mesmo sem ter o aparelho, eu utilizava os celulares dos meus irmãos. Atualmente, sou uma pessoa muito antenada nas redes sociais, sendo que uso diariamente aplicativos como WhatsApp, Instagram, Facebook, além dos aplicativos de compras como Shein e Shopee, entre outros.

No momento, não contribuo com páginas e sites, mas já contribuí muito com a divulgação de artesanatos e eventos da minha comunidade, assim como eventos culturais do meu grupo de dança. Sempre divulgo quando as apresentações acontecem.

Quando estou presente na universidade, utilizo muito mais o celular durante o dia, pois ele tem diversos recursos úteis para minhas atividades acadêmicas, como aplicativos de slides e imagens como o Canva, editor textos como Word e GoogleDocs. Outro aplicativo essencial onde são disponibilizados materiais é o Google Classroom. É por meio dele que tenho acesso a todas as disciplinas e conteúdos que os professores passam nas aulas.

Quando estou em Tempo Comunidade (TC), uso muito o Word e o GoogleDocs para a realização de trabalhos. No passado, Google Classroom era menos utilizado por mim, mas no Tempo Universidade (TU), percebi que ele é muito eficiente, pois durante todas as semanas precisamos ter acesso aos arquivos em PDFs, orientações, vídeos e outros materiais expostos em algumas disciplinas.

É muito importante vermos como tudo se atualiza e como essas tecnologias avançam; devido a isso, algumas práticas e costumes vão sendo deixados para trás e sendo substituídos. Antes, muitas vezes, na minha comunidade, quando precisava dar um recado a alguém, era necessário deslocar-se até a residência dessa pessoa. Com a chegada do celular, nem sempre é preciso se deslocar.

O celular é muito eficiente também para realizar transações financeiras, pois nele é possível instalar aplicativos bancários evitando a necessidade de ir até às agências físicas, muitas vezes distantes para nós, moradores de zonas rurais. Antes , eu gostava de anotar muitas coisas no caderno, como datas importantes, tarefas da semana, ou contatos pessoais para futuras ligações. Com as novas tecnologias, todas essas informações são diretamente anotadas no celular.

Outro exemplo de mudança tecnológica na minha vida são as fotografias. Em casa, tínhamos alguns álbuns fotográficos que eu adorava ver. Desde que o celular chegou à minha vida, raramente olho aquelas imagens, pois utilizo muito o aparelho para fotografar e ver outras imagens que páginas e sites mostram diariamente. Com isso, os álbuns de fotos analógicas perderam um pouco a essência.

É notório que as tecnologias continuarão a avançar e, com isso, muitas práticas deixarão de existir devido a esses novos usos e interações com os novos meios tecnológicos. Essas mudanças podem variar de uma geração para outra. Percebo que meus pais, por terem vindo de uma infância onde tiveram que trocar os estudos pelo trabalho, têm uma relação diferente com esses meios digitais. Minha mãe, por exemplo, usa um celular apenas para ligações, devido ao desconhecimento sobre como utilizar outras funcionalidades da ferramenta.

Muitas vezes, ela precisa que resolvam para ela alguns problemas considerados básicos no aparelho. Pessoas que não tiveram muitas oportunidades para conhecer um celular têm muita dificuldade, optando por dispositivos mais simples por acharem os dispositivos complexos e desafiadores de utilizar.

Um grande exemplo das diferenças dessas gerações é meu sobrinho de apenas 4 anos, que utiliza o YouTube para pesquisar desenhos infantis. É relevante observar como ele conhece o aplicativo de vídeo e filmes e como faz para acessá-lo. Mesmo não sabendo escrever ainda, ele descobriu que no aplicativo há um botão que, ao falar, o conteúdo aparece.

Lembro-me de um dia em que disse a ele que não daria para assistir aos desenhos porque não tinha Wi-Fi. Desde então, ele solicita o “Wi-Fi” quando percebe que o aplicativo não está funcionando. Ou seja, mesmo não sabendo exatamente o que é o Wi-Fi, ele sabe que precisava da tecnologia.

Mesmo as tecnologias digitais tendo entrado na minha vida de maneira tardia, sempre me interessei. Só fui ter o primeiro celular quando entrei na faculdade, mas desde então sempre busquei saber mais sobre o que podem nos proporcionar. Tenho orgulho de, mesmo diante de algumas dificuldades, nunca ter deixado de buscar conhecimento.

Gostaria muito de conseguir promover uma página relacionada à cultura da minha comunidade na internet, seja por YouTube ou Instagram, tendo em vista que minha comunidade é bastante conhecida no município e região pelos elementos que a carregam.

É muito interessante estar ligada a esse meio digital, conhecer notícias novas a cada hora, informações e dicas sobre a vida e sobre o mundo. Porém, não podemos deixar de esclarecer que as tecnologias também têm seus malefícios, que podem impactar a saúde, as relações sociais e o bem-estar geral, como a dependência, o vício, a influência das fake news etc.

Um dos principais problemas que recordo de ter tido no início do uso das minhas redes sociais, que considero como experiência negativa, foi a falta de concentração devido a estar muito ligada ao uso do celular. Isso me atrapalhou na realização de alguns trabalhos quando estudava online.

Se tiver oportunidades na área, seria interessante levar para salas de aula algumas tecnologias digitais de uso comum, como data shows, slides, atividades em formulários, apresentações feitas com vídeos, sites, entre outros. Essas tecnologias podem tornar o ensino mais dinâmico e interativo.

Letramento e religião

Letramento e religião

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Bruna Tiele Gomes, Itamarandiba/MG

Minha mãe não terminou os estudos, embora seu sonho fosse se formar e ser professora, um objetivo que estava distante da sua realidade. Ela compreendia o valor da educação e o quanto ela faz falta; por isso, sempre incentivou a mim e aos meus dois irmãos a estudarmos e nos deu todo o seu apoio. Recordo-me de quando estava aprendendo a ler: ela constantemente me perguntava o que formava B com A, C com E, e assim me ajudava a treinar as sílabas.

Durante minha alfabetização, meu pai estava fazendo supletivo, já que ele também não havia concluído os estudos. Nós tínhamos horários dedicados para as tarefas: no tapete da sala, ele escrevia em seu caderno enquanto eu fazia o meu dever de casa. Esse apoio da minha família foi fundamental para que eu desenvolvesse o gosto pela aprendizagem e valorizasse a educação.

Quando comecei a ler, a escola não tinha uma biblioteca, então nosso acesso à literatura era restrito aos textos dos livros didáticos ou às folhas que a professora trazia, passadas no mimeógrafo. No entanto, em casa, eu tinha acesso a diversos livros e revistas porque meus pais eram Testemunhas de Jeová e, devido à nossa religião, a leitura era uma prática comum. Eu possuía dois compêndios de histórias: “Meu Livro de Histórias Bíblicas”, um livro de capa dura amarela que era meu favorito, e um outro chamado “Aprenda Com O Grande Instrutor”.

Na adolescência, eu não me enturmei muito e, para passar o tempo, mergulhei na leitura. Eu baixava livros em PDF e os lia no computador e, depois, no celular que ganhei. Conheci muitos personagens inspiradores, histórias envolventes, vivi enredos dramáticos e, assim, me apaixonei por ler.

Hoje, infelizmente, não tenho tanto tempo para ler como antes, mas ainda mantenho o gosto pela leitura, tanto de histórias quanto das matérias da minha religião. Acredito que o hábito de ler constantemente me tornou uma pessoa mais inteligente e consciente. Todos deveriam ter a oportunidade de explorar o universo da literatura e se beneficiar dele.



SOBRE A AUTORA:

Bruna Tiele Gomes, Itamarandiba/MG, é acadêmica da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), onde cursa Pedagogia. Produziu este relato na disciplina Práticas de Leitura e Produção de Textos, ofertada de julho a novembro de 2024.


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Da roça eu via no horizonte a educação

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Ana Paula Chaves Lopes, Pedra Azul/MG

Nasci em uma fazenda no município de Pedra Azul, MG, em uma família extremamente humilde. Minha infância foi marcada pela simplicidade e pelas dificuldades que enfrentávamos no dia a dia. A vida no campo era dura e desafiadora, mas também repleta de aprendizados valiosos e experiências únicas.

Nos primeiros anos de vida, meu acesso a livros e números era muito limitado. A educação formal parecia distante, e eu só comecei a frequentar a escola aos sete anos, quando passei a morar com meus avós na cidade. Naquele momento, ainda não sabia ler nem escrever. Minha única interação com a leitura vinha dos folhetos da igreja frequentada por meu avô, onde eu passava o tempo observando as imagens e tentando compreender o que elas significavam.

Minha jornada educacional começou na escola Levy Roberto, com a ajuda fundamental da professora Clarisse. Ela desempenhou um papel crucial no meu desenvolvimento, usando histórias para despertar meu interesse pela leitura. Através de suas aulas envolventes, aprendi a escrever meu nome e a reconhecer algumas palavras. Foi um momento decisivo, pois a leitura se tornou uma nova paixão, e comecei a entender a importância da educação para meu futuro.

Na casa dos meus avós, havia uma televisão e um aparelho de DVD. Enquanto meus avós escutavam música religiosa, eu comecei a explorar desenhos e filmes. Um dos meus favoritos era “Scooby-Doo”. Eu adorava acompanhar as aventuras de Scooby e seus amigos, tentando desvendar os mistérios e descobrir quem eram os verdadeiros “monstros”. Esses momentos de lazer foram importantes para meu desenvolvimento emocional e para a construção da minha imaginação.

Durante o período escolar, minha timidez era uma barreira significativa. Eu tinha dificuldade em interagir com meus colegas e em me expressar na sala de aula. No entanto, um projeto especial sobre a história da formiguinha foi um ponto de virada. A professora Clarisse introduziu um trabalho em grupo que envolvia cantar e apresentar para a turma. Esse desafio me ajudou a superar minha timidez e a me integrar melhor com meus colegas. A experiência me ensinou a importância da colaboração e da comunicação.

Na infância, a noção de dinheiro era bastante rudimentar. Eu só conhecia o valor de um real, que meus pais e avós me davam para comprar balas. Para mim, esse valor era significativo, pois era uma forma de adquirir algo que me trazia prazer. Aos sete ou oito anos, comecei a aprender noções básicas de matemática, como adição e subtração. Ajudar meus avós na feira livre foi crucial para desenvolver minha compreensão de somas e valores. Eu vendia café, requeijão, queijo e laranja, e essas atividades me deram uma perspectiva prática sobre a economia e a matemática.

Quando comecei a frequentar a escola, enfrentar problemas matemáticos era um grande desafio. A falta de atenção dos meus pais, que estavam ocupados com as tarefas da fazenda, e a necessidade de trabalhar para garantir nosso sustento contribuíram para a minha dificuldade inicial. No entanto, a escola foi essencial para meu progresso. A dedicação da professora Clarisse e minha motivação para aprender foram fatores determinantes para superar esses desafios.

Aos oito anos, comecei a entender o alfabeto e a escrever com mais clareza. Meu entusiasmo por escrever era evidente, e eu passava horas praticando, especialmente com o meu nome. A escola foi um ambiente fundamental para meu crescimento educacional, e o apoio dos meus avós, que tinham uma barraquinha na feira, foi vital para meu desenvolvimento.

Durante o ensino fundamental, lembro-me das aulas de história com a professora Dinorá. Aprendi sobre a evolução da sociedade desde o homem das cavernas até o Brasil contemporâneo. Esses conhecimentos foram aprofundados no ensino médio, onde explorei temas como a Descoberta, a Colonização, o Imperialismo e a República.

Em 2009, tive a oportunidade de estudar em uma escola maior, que possuía uma biblioteca bem equipada. Eu passava horas lendo o dicionário, sempre curiosa para descobrir o significado das palavras e expandir meu vocabulário. A presença de computadores nas bibliotecas também foi um marco importante, permitindo-me acessar novas informações e aprofundar meus conhecimentos.

Quando chegou o ensino médio, um mundo de descobertas se abriu à minha frente, mas que logo teve que ser interrompido devido a uma gravidez na adolescência, que ocorreu no segundo ano. Fiquei quase um ano afastada, pois a gravidez era de risco. De tempos em tempos, a escola me enviava uma prova ou outra para que eu fizesse em casa e não ficasse tão prejudicada. Graças a Deus, a gravidez seguiu com tranquilidade até o fim, e no ano seguinte retornei.

Atualmente, estou cursando Pedagogia e continuo buscando aprimorar minhas habilidades. Fiz um curso de magistério que me aprofundou ainda mais no amor pela leitura e pelo ensino. A rotina de trabalho tem limitado meu tempo para leitura, mas pretendo equilibrar melhor meu tempo entre estudos e leitura. A faculdade tem sido uma experiência enriquecedora, e estou ansiosa para aplicar o conhecimento adquirido para contribuir com a educação e ajudar outras crianças a superar desafios semelhantes aos que enfrentei.

Minha jornada desde a infância na fazenda até a atualidade tem sido marcada por desafios e superações. Cada etapa foi essencial para moldar quem sou hoje, e a educação desempenhou um papel fundamental em minha vida. Agradeço a todos que contribuíram para meu desenvolvimento e espero poder retribuir, ajudando outros a encontrar oportunidades e superar obstáculos.



SOBRE A AUTORA:

Ana Paula Chaves Lopes, de Pedra Azul/MG, é acadêmica da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), onde cursa Pedagogia. Produziu este relato na disciplina Práticas de Leitura e Produção de Textos, ofertada de julho a novembro de 2024.


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Um mundo de descobertas através da leitura

Um mundo de descobertas através da leitura

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Ana Carolina de Oliveira, Itamarandiba/MG

Sou a irmã mais velha de cinco irmãos e, desde pequena, tive inúmeras atividades em casa, como ajudar a cuidar dos irmãos menores e nas tarefas domésticas. Sempre fui apaixonada por leitura, e ir para a escola era meu sonho. Mesmo antes de começar a frequentar a escola, minha mãe me ensinou o alfabeto e os números, e eu sempre tive muita curiosidade para aprender coisas novas, o que despertava meu interesse em aprender a ler e escrever.

Iniciei na escola aos cinco anos e me lembro de que, ao começar a aprender a ler, eu parava para ler todas as fachadas nas ruas e fazia minha mãe me esperar para terminar de ler. Assim como os livros e revistas aos quais tinha acesso em casa, na escola e na igreja, eu juntava as sílabas e nutria um grande desejo de aprender a ler. Recordo que tinha um relógio despertador com aquele toque estrondoso que me acordava todas as manhãs para ir à escola. Quando ele parava de funcionar ou a pilha acabava e eu perdia a hora de ir à escola, chorava muito porque não gostava de faltar às aulas; realmente amava estar ali para aprender.

O tempo passou, e eu passei a ler rapidamente, o que foi uma vitória, pois agora poderia mergulhar no mundo da leitura. Na escola, havia um dia de leitura na biblioteca em que cada aluno deveria ler um livro e contar à supervisora o que havia lido. Lembro-me de uma vez em que fui à biblioteca e li o livro tão rapidamente que me perdi na história e não consegui explicar corretamente para a supervisora, que me chamou a atenção por isso. O que mais amava ler eram as histórias em quadrinhos; eu me sentia vivendo aquelas narrativas. Minha mãe e minhas tias me incentivavam a ler, dando-me livros e gibis.

Quando me reunia com meus primos na roça, debaixo de uma árvore, brincávamos de escolinha, fazíamos a lição de casa e eu gostava de ler as histórias e livros da escola, assim como usar feijões para somar e subtrair, ensinando minha prima, que tinha dificuldade em matemática, porque eu amava ensinar e brincar de ser professora. Também ajudava meus irmãos a fazer a lição de casa, utilizando lápis nas contas, feijões e o que tínhamos disponível.

Eu lia muito, e isso contribuiu para que eu tivesse uma boa escrita em comparação aos meus colegas. Gostava tanto de escrever que até escrevia cartas para o namorado da minha tia a pedido dela, pois ela não gostava de escrever. Achava isso o máximo e, em toda oportunidade, estava eu lendo ou escrevendo. Também amava copiar no quadro quando a professora solicitava; assim, escrevia a matéria e depois transcrevia para o meu caderno, o que me proporcionava ter mais contato com a escrita e a leitura. No entanto, percebo que os professores da época incentivavam a leitura e a escrita, mas não nos ensinavam a interpretar, o que ocasionou uma deficiência, visto que toda leitura requer interpretação.

Mesmo gostando de ler, também amo matemática e me recordo de que, no terceiro ou quarto ano do ensino fundamental, a professora nos pediu um caderno para a tabuada. Durante um tempo, todos os dias, ela solicitava que fizéssemos os fatos de 2 a 9 de multiplicação e divisão, e ainda nos chamava para perguntar, o que contribuiu muito para meu desenvolvimento com os cálculos. Os trabalhos de matemática eu fazia com êxito e ainda ajudava os colegas.

Os anos se passaram e, bem jovem, comecei a trabalhar como babá. Todos os dias, lia histórias infantis para a menina que cuidava, com tanto amor e entrega que ela decorou todos os livrinhos. Ela pegava os livros e falava como se estivesse lendo, mas na verdade havia decorado as histórias de tanto que eu as contava para ela. As tardes eram maravilhosas, despertando nela o gosto pela leitura, e hoje ela é uma moça super estudiosa e dedicada aos estudos. Depois, trabalhei com a mãe dela, que era uma professora que tinha uma escolinha de reforço. Ali, eu ajudava a ensinar as crianças a fazerem suas lições e a estudar para as provas, o que me permitiu ter mais contato com livros e números. Muitos achavam que eu tinha jeito para professora, me incentivando a fazer pedagogia ou áreas afins.

O contato que tive com a leitura ao longo do tempo foi fundamental para minha jornada estudantil. No entanto, com o passar dos anos, ao parar de estudar e com a correria do dia a dia, fui diminuindo o interesse pela leitura, lendo apenas livros que me interessavam. Hoje, para mim, é um desafio conseguir me sentar, concentrar e ler um livro acadêmico, pois às vezes não compreendo por ser uma leitura mais formal. Isso se deve ao grande incentivo que tive para ler, mas não ao mesmo para interpretar o que lia. Assim como o contato com os números, aprendendo cálculos e equações diversas, saí do ensino médio sem aprender nada de gestão financeira e investimentos.

Observo que o ensino que recebi era mais teórico do que prático, e hoje isso faz falta na realidade em que vivo, pois o mercado de trabalho exige muito de nós, mas a escola nos ensina muitas coisas que nunca utilizaremos. Ao ingressar em uma faculdade ou tentar um concurso público, percebemos o quanto achávamos que estávamos preparados e descobrimos que não estávamos. O ensino oferecido até o ensino médio é bom, mas pode melhorar muito mais para que possamos sair mais bem preparados para o mercado de trabalho e/ou para a faculdade.



SOBRE A AUTORA:

Ana Carolina de Oliveira, de Itamarandiba/MG, é acadêmica da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), onde cursa Pedagogia. Produziu este relato na disciplina Práticas de Leitura e Produção de Textos, ofertada de julho a novembro de 2024.


A orientação deste trabalho e a organização do e-book foram realizadas por Carlos Henrique Silva de Castro, Kátia Lepesqueur e Virgínia Batista.

Jornada tecnológica: da infância ao ensino contemporâneo

Jornada tecnológica: da infância ao ensino contemporâneo
Jane Beatriz Fernandes é acadêmica do curso Licenciatura em Educação do Campo (LEC), da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM). Jane é de Veredinha, Minas Gerais.

Meu primeiro contato com alguma tecnologia digital ocorreu em 2008, quando meus avós receberam um telefone fixo dos filhos que moravam em Belo Horizonte. Esse aparelho foi usado para falicitar a comunicação entre parentes de outras cidades e nossa família em Veredinha. Meu pai trabalhava fora, em outra cidade, e ligava para meus avós, minha mãe e para mim. Uma vez por dia, ele telefonava para nós através de um orelhão perto da casa que ele morava.

Minha mãe explicou que aqueles telefones eram um meio de comunicação à distância para que pudéssemos sentir meu pai próximo de nós. Naquela época, eu achava o telefone muito importante e diferente pois, além da comunicação oral, o outro meio que eu conhecia era através de cartas, que eu sempre fazia muitas para meu pai. Foi uma grande novidade para mim, durante a infância, um meio de comunicação imediato como a ligação por telefone.

Em 2010, minha mãe ganhou do meu pai um celular conhecido como “Nokia tijolão”, já que estava em outra cidade. Esse celular não possuía internet, sendo utilizado apenas para ligações. Aprendi não apenas a fazer ligações, mas também a enviar mensagens de texto. Com o passar do tempo, minha mãe ganhou outro telefone da marca Nokia, e o antigo ficou para mim. Comecei a utilizá-lo para conversar com familiares e amigos que também possuíam telefones.

Minhas interações com as tecnologias sempre foram positivas e moderadas. Minha mãe permitia que eu assistisse TV um pouco antes da aula e após chegar em casa, mas nunca antes de dormir para não prejudicar o sono. Durante minhas visitas à casa dos meus avós paternos, eles costumavam sintonizar a missa pelo rádio, enquanto os avós maternos preferiam ouvir modas de viola. Minha mãe considerava muito importante entender e saber usar os recursos tecnológicos que estavam sempre surgindo.

Aos doze anos de idade, ela me matriculou em um curso de informática para aprofundar o pouco que eu já sabia, pois eu mexia em um computador na casa de minha tia, que fazia licenciatura em Letras. Ela utilizava o computador para pesquisas, realização de trabalhos e atividades do seu curso. Aos treze, tive minha primeira rede social, o Orkut, uma febre na época, onde postava fotos, frases de músicas e sobre o cotidiano. 

Além do Orkut, criei uma conta no Facebook com ajuda de uma tia minha que morava em Curitiba, uma cidade no Paraná, e havia se mudado para minha cidade, introduzindo essa nova forma de comunicação para mim e minha família.

Em 2014, criei uma conta no Instagram para compartilhar fotos de momentos importantes. Além disso, baixei o WhatsApp no telefone e deixei de utilizar mensagens de texto por SMS, passando a enviar mensagens apenas pelo WhatsApp.

Minha mãe e minhas tias foram fundamentais para meu aprendizado com as tecnologias digitais, pois acreditavam que dominar esses avanços seria positivo para minha vida. Atualmente, uso frequentemente o WhatsApp e o Instagram para me comunicar virtualmente e compartilhar fotos e conteúdos de meu interesse. Para acompanhar as notícias diárias, acesso o site “g1.globo.com”.

Há diferenças no meu uso diário da tecnologia nas áreas acadêmica, profissional e pessoal. Normalmente faço uma distribuição de tarefas por horários para ter controle e organização, evitando o uso excessivo. Tenho participação ativa em redes sociais, compartilhando fotos e postagens que despertam meu interesse.

Contribuo com uma página do Instagram chamada “Girassol dos Vales”, que compartilha informações, trabalhos, cotidiano e vivências dos estudantes de Licenciatura em Educação do Campo. Nessa página, administro todas as postagens para alcançar o público desejado: futuros discentes e docentes interessados na licenciatura, ensino de alternância e na educação do campo. No WhatsApp, faço parte de grupos de troca de roupas, móveis, eletrônicos, entre outros, além de grupos familiares para facilitar a comunicação e grupos de interação do curso que estou cursando.

Antes do tempo universidade (TU), em minha comunidade, eu costumava acordar e acessar minhas redes sociais e e-mails, que traziam informações da universidade. Utilizava meu notebook para revisar trabalhos que seriam publicados antes do almoço. Por volta das 14:00 horas, reservava um tempo para assistir filmes ou séries na plataforma Netflix e, antes de anoitecer, registrava o que tinha sido feito no dia, como notas, trabalhos e provas dos estudantes que eu era professora, utilizando o diário online da escola.

Como futura educadora, pretendo utilizar, no atual cenário da educação contemporânea, tecnologias digitais que desempenhem papel de transformação e modernização do ensino. Hoje em dia, professores no geral, estão integrando ferramentas digitais em suas práticas pedagógicas para melhorar a eficiência do ensino, aumentar o engajamento dos alunos e facilitar a gestão de atividades educacionais.

Plataformas como o Google Meet ajudariam os estudantes a realizarem encontros virtuais para trabalhos e atividades coletivas, especialmente considerando o contexto do campo, que dificulta encontros presenciais.

Aplicativos de avaliação como o Quizlet e o Socrative seriam usadas para criar quizes interativos e avaliações formativas, oferecendo feedback imediato aos alunos para ajudá-los a identificar áreas de dificuldade e monitorar seu progresso. Recursos multimídia, como os do YouTube, poderiam aprimorar as aulas e facilitar a compreensão de tópicos complexos.

O uso das tecnologias para estudo, conversas, compras, entre outros, mudou completamente minhas práticas sociais, migrando todas as atividades diárias para as funções que o telefone oferece, como estudar, realizar pesquisas em artigos, tirar dúvidas com o Google e assistir a vídeos para compreender melhor os temas das disciplinas.

Pretendo criar um site ou uma página de publicações para estudantes e docentes, abordando temas diversos como sequências didáticas, histórias da comunidade onde moro, mestres de saberes e literatura local, por exemplo.

É claramente perceptível a diferença de usos entre culturas, amigos, familiares e comunidades, bem como entre diferentes gêneros e idades, devido aos recursos tecnológicos disponíveis para cada pessoa, à forma como acessam esses meios e à maneira como os utilizam. Meus sentimentos em relação às novas tecnologias são positivos, desde que saibamos utilizá-las de forma eficaz e crítica.

Na realização de trabalhos, o uso da Inteligência Artificial (IA), por exemplo, pode ser uma fonte de ideias valiosas, mas deve ser utilizada com sabedoria, pois absorve todo o conteúdo disponível na internet sem necessariamente considerar a qualidade das fontes. Fontes confiáveis como artigos, livros e revistas são essenciais para garantir credibilidade e evitar o risco de plágio.

Como futura educadora, planejo integrar essas tecnologias ao meu ensino, utilizando plataformas digitais para facilitar a aprendizagem, promover o engajamento dos alunos e tornar o processo educacional mais dinâmico e eficiente.

No âmbito pessoal, o episódio “Queda Livre” de Black Mirror me fez refletir sobre como as redes sociais, muitas vezes, nos levam a buscar validação através de uma vida perfeita. Assim como no episódio, onde as pessoas filtram apenas as partes positivas de suas vidas para obter aprovação digital, nas redes sociais modernas há uma tendência similar de exibir uma vida perfeita sem problemas.

Durante minha adolescência, eu me via comparando-me com outras pessoas , como suas viagens e experiências aparentemente extraordinárias, o que às vezes, me fazia sentir inadequada, com minha vida simples de estudante e “low profile” nas redes sociais. Com o tempo, percebi que as redes sociais eram um reflexo selecionado de algumas partes da vida real, onde as pessoas compartilham o que querem mostrar, muitas vezes buscando apenas engajamento, likes e aprovações.

Mudei e comecei a entender que é fundamental não me deixar influenciar demais pela comparação constante. Cada pessoa tem uma vida, cada pessoa tem uma maneira de lidar com a tecnologia diferente, sejam mais engajados ou não. Assim, tanto “Queda Livre” quanto minha experiência pessoal, destacam-se a importância de uma abordagem equilibrada ao utilizar as redes sociais, valorizando como hoje em dia as conexões reais e verdadeiras, não idealizadas, e mantendo uma perspectiva realista sobre a vida de cada um.

Recomendo o episódio ‘Queda Livre’ da série Black Mirror para uma reflexão sobre como as redes sociais moldam nossa busca por aprovação digital, mostrando tanto seu lado positivo quanto as armadilhas da comparação constante.

Vida: amor sem limites

Vida: amor sem limites

Os textos publicados individualmente nesta página podem ser lidos reunidos nos volumes da coleção Memórias de Letramentos. Para adquirir seu e-book gratuito ou impresso  pelo preço apenas do serviço de gráfica, clique no banner ao lado ou no fim da página.


Alice Cleia Lopes Pereira

Capelinha/MG

Nasci em uma família simples e humilde, e vou contar um pouco da minha história para vocês. Somos cinco irmãos, vindos de uma família simples. Desde pequenos, meus pais saíam cedinho para trabalhar. Conosco, em casa, vivia a minha avó, que era viúva; havia perdido o marido em um acidente no passado. Ela era nossa avó e babá ao mesmo tempo, e todos os dias, de manhã, meus pais, com aquela mesma rotina sofrida de trabalho duro na roça, saíam de casa bem cedo e só retornavam à tardezinha, com o sol se pondo. Vovó estava sempre ali, cuidando de nós.

Anos se passaram e aqui começa a fase mais empolgante e curiosa da vida de todos nós. Quando somos crianças, os pais chegam e falam com a gente: “Filho, te matriculei na escola. No ano que vem, você vai estudar.” Isso era no final do ano, para começar a estudar no início do próximo. A gente fica contando nos dedos cada dia e cada semana, ou seja, é um modo de dizer. Todo dia eu perguntava: “Mãe, que dia é hoje? Mamãe, falta muito para a escola começar?” A gente estressava a mãe tanto com as perguntas que ela quase dava umas varadas na gente.

Antigamente, em minha casa, o acesso a textos escritos era muito raro e difícil, pelo fato de morarmos em uma roça bem distante da cidade. O pouco acesso que tínhamos naquela época era através de livros e textos religiosos, como, por exemplo, a Bíblia.

Minha avó frequentava muito a igreja, como faz até hoje, e sempre recebia aqueles livrinhos de lições bíblicas. Então, levava para casa e nos dava para olharmos aquelas imagens de Jesus. Nós ficávamos tão felizes quando víamos e ouvíamos as histórias da arca de Noé, de Jesus e seus discípulos, Caim e Abel. Eu amava essas histórias, como a do irmão que tinha inveja do outro e acabou o matando, Sansão, e muitas outras.

Chegando ao fim do mês, meus pais iam à cidade fazer compras, e, como éramos cinco irmãos, havia aquela combinação: cada mês um de nós ia. Eu ia à cidade uma vez por ano e, quando chegava lá, via aqueles senhores de idade sentados nos bancos da praça, lendo aquele maravilhoso jornal. A gente, todo abobalhado, olhava com enorme curiosidade, perguntando por que os velhos ficavam escondidos atrás daquelas enormes folhas. Voltávamos para casa pensando naquilo tudo e contando os dias para voltar à cidade e ver aquela cena maravilhosa, que hoje, praticamente, no nosso dia a dia, não se vê mais.

Eu não gostava muito de ler, mas passei a conhecer a leitura e a gostar um pouco através de um livro chamado A Princesa de Théo, que uma colega havia me emprestado algum tempo atrás e contado uma parte do que acontecia no livro. Então, despertei o interesse em ler e gostei.

No ano de 2012, meu pai, Valdir Pereira Rodrigues, foi candidato a vereador. Gente, nessa hora eu falo que você sabe até quem é parente. As pessoas te menosprezam, te maltratam com palavreados, e outras usam a política para pedir. Entre esses constrangimentos todos, nos trajetos e caminhadas, tive a oportunidade de conhecer uma escritora maravilhosa: Marlene Mendes. Fui presenteada por ela com um de seus livros, Escrito no Olhar. Concluí então a leitura do livro que havia pegado emprestado anteriormente. Os livros publicados por ela são apaixonantes. Eu amava, e toda a juventude que lê também ama.

Voltando um pouco no tempo, sou de pouca memória, não me lembro muito bem de como e quando aprendi, mas lembro que eu já estava na escola e não conseguia somar nem diminuir. Minha mãe, para nos ajudar, ensinava a fazer uns risquinhos com o lápis e contá-los. Para diminuir, da mesma forma, ela fazia os risquinhos e apagava a quantidade que era para diminuir, contando quantos sobravam. E assim sucessivamente.

Quando cheguei à escola, tive uma dificuldade imensa de aprendizagem por ser tímida, e, até hoje, tenho essa dificuldade. Falando em somar e diminuir, me lembro de quando eu e meus irmãos íamos “catar café”. Na época, vendíamos o que chamávamos de “medidas”. Uma medida de café por 1 real. Quando chegávamos em casa, nossos pais ensinavam assim: “Tira 10 centavos para vocês comprar bala, vai dar três balas, o resto vocês juntam para comprar algo de mais valor quando forem à cidade.” Assim fomos aprendendo a somar com as moedas que guardávamos e a diminuir com as que tirávamos. A matemática, para mim, foi difícil, mesmo com os grandes esforços dos professores.

Tenho muito pouca lembrança de antes de frequentar a escola, de como aprendi a ler e escrever. As primeiras letras, lembro que minha avó, lendo o livro bíblico, nos ensinava as letras da capa do livro. E assim por diante, já comecei a ter curiosidade pelas letras e pelos números. Logo, os anos se passaram e era hora de começar a estudar. Comecei na escola com 7 anos de idade. Estava ali todo dia, mesmo sendo um sacrifício, como falei anteriormente. A escola era longe de casa, e não havia transporte coletivo.

Os anos foram passando, cada dia ficando mais difícil e mais cansativo, mas eu amava a nova experiência que era o estudo. Eram grandes as motivações dos professores, que estavam ali, tentando dar o máximo, impulsionando e ajudando da melhor forma, começando pelas histórias em tirinhas, frases e versos, para os alunos ficarem mais interessados pelo aprendizado.

Desde criança, eu “amava” ir à escola. No fundamental I, eu não podia perder um dia de aula. Eu chorava o dia todo; mesmo se fosse por doença, não queria saber. Com atestado em casa, minha mãe tinha que me deixar ir. Quando chegava à escola, passava mal e tinha que ficar esperando na secretaria até acabar a aula para ir embora. Junto, ia um bilhete para não deixar eu ir enquanto não melhorasse.

Já no fundamental II, as coisas se complicaram um pouco mais. Comecei a repetir de ano e a ter muita dificuldade no aprendizado. Eu estava chegando ao ponto em que o professor explicava a matéria, e eu não entendia nada. Nunca fui uma criança bagunceira na escola. Chegou a um certo ponto em que minhas notas escolares começaram a ficar muito baixas. Foi então que os professores começaram a reclamar para meus pais. Me lembro que, sempre que tinha reunião, eu apanhava ou ganhava um castigo, e isso só ia piorando cada vez mais.

Chegando ao ensino médio, ainda enfrentava a mesma dificuldade de aprender, guardar e memorizar as coisas. Um professor notou que, apesar de prestar atenção nas aulas e não brincar, minha nota era muito baixa. Ele percebeu que havia algo errado e me chamou em particular para ver o que estava acontecendo. Como eu disse a ele que não sabia o porquê, ele convocou meus pais sobre a situação e sugeriu procurar um tratamento para entender o que estava acontecendo. Passei então por um especialista em neuro e faço tratamento até hoje. Tomo medicamento para ansiedade, mas ainda não consegui superar essa parte do meu desenvolvimento e raciocínio. Tenho muita dificuldade.

No segundo ano do ensino médio, casei-me aos 16 anos e fui embora da minha cidade natal para Nova Serrana, à procura de emprego. Chegando lá, comecei a trabalhar durante o dia e estudar à noite, mas não consegui ir muito longe. Estava se tornando uma rotina muito cansativa e estressante a cada dia. Acabei abandonando os estudos.

Em 2012, retornei para minha terra natal. Estava desempregada, então comecei a me dedicar novamente aos meus estudos. Não estava trabalhando, mas tinha um filho pequeno, então foi um pouco complicado. Muitas vezes, tive que levar a criança para a escola, mesmo com o pai cuidando, mas a criança chorava muito. Com o apoio de toda a minha família, principalmente meu marido, que me apoia até hoje, estou onde estou. Só tenho que agradecer.

Sempre corro atrás para tentar melhorar minha leitura e escrita. Já fiz aulas para corrigir erros ortográficos, mas não tive sucesso. No início, a gente pergunta para que servem os números, mas, quando vamos crescendo e desenvolvendo, e precisando deles no dia a dia, sabemos o quão grande é a importância deles. Eles se tornam uma necessidade em praticamente tudo.

Agora que estou começando um novo nível da minha vida, com força e vontade para caminhar, aproveitar e desenvolver minha leitura e minha escrita, percebo que tudo na vida, nos primeiros dias, é complicado, até entendermos, compreendermos e pegarmos a prática dia a dia. As mudanças nas nossas vidas são novidades que vêm para renovar, trazer coisas novas e nos motivar.

Sempre que possível, tento me orientar, ler as matérias que os professores mandam, mesmo que, em um dia, já tenha esquecido tudo. Tenho preguiça, mas gosto de ler. Falando em texto, não só universitário, mas qualquer tipo de texto, tenho enorme dificuldade. Sempre há alguns gêneros adoráveis, como romance e relatos de viagens. A matemática, por sua vez, faz a diferença nas vidas de todos nós. Onde quer que se ande, precisamos dela. Gosto muito, mas não deixa saudades. Adoro a matemática simples, mas aquela matemática moderna de hoje, meu Deus, me deixa perdida.

Falando em condições financeiras, ainda não posso dizer muito sobre isso, pois não tenho um salário, não tenho uma renda, mas não sou aquela pessoa que gasta à toa, sem precisão. Consigo lidar em qualquer situação. Eu, particularmente, acredito que sim, administro muito bem. Não vou dizer 100%, mas 70% é o que afirmo hoje, na posição em que me encontro.



SOBRE A AUTORA:

Alice Cleia Lopes Pereira, de Capelinha/MG, é acadêmica da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), onde cursa Pedagogia. Produziu este relato na disciplina Práticas de Leitura e Produção de Textos, ofertada de julho a novembro de 2024.


A orientação deste trabalho e a organização do e-book foram realizadas por Carlos Henrique Silva de Castro, Kátia Lepesqueur e Virgínia Batista.

Relembrando a Minha Vida Com a Escola

Relembrando a Minha Vida Com a Escola

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Adenilda Alves dos Santos, Cristália/MG

No ano de 1994, quando eu tinha quatro anos, eu já frequentava a escola, pois morava na zona rural e minhas irmãs mais velhas iam para a escola e eu não queria ficar em casa; chorava se dissessem que eu não ia. Por isso, me matricularam depois de mais de dois anos de estudo. Na minha casa não havia acesso a textos, somente na escola onde a professora levava os livros.
A professora me incentivava muito. Quando completei sete anos, idade em que fui matriculada, já conhecia várias letras. Lembro que, entre seis e sete anos, tive uma tristeza inesquecível. Estava na escola com minhas irmãs quando um vizinho chegou à minha casa e descobriu que minha mãe havia falecido no chão. Ele gritou para a professora, que estava bem perto da escola, e ela nos dispensou. Ao chegarmos em casa, encontramos meu irmão, que tinha um ano e meio, chorando. Nesse dia, meu pai estava trabalhando.
Depois desse acontecimento, fiquei muito triste, e até hoje sinto essa tristeza. No entanto, devo me esforçar para me conformar. Com o passar dos anos, a tristeza aumentou, pois éramos muito crianças naquela época.
No ano em que comecei a ir à escola, ninguém veio me presentear com livros. Acho que na época era mais difícil, somente nossos professores os tinham. Lembro-me de que aprendi a contar aos sete anos. A professora usava caroços de milho e feijão para nos ensinar. Nessa idade, aprendi a contar até 20. Entrei na escola com quatro anos, mas me matricularam aos sete.
Lembro-me de que conheci as moedas antes de ir à escola, mas não sabia seu valor. Aprendi a conhecer o valor do dinheiro aos dez anos e, com oito, aprendi a ler as horas no relógio. Com dez anos, aprendi a somar e a subtrair, que chamamos de adição e subtração. Nossa, eu adorava e ainda adoro essas continhas!
Depois de algum tempo, comecei a aprender multiplicação e divisão, mas a divisão foi um pouco mais complicada. Eu gostava muito dos problemas matemáticos; achava muito fácil da primeira à quarta série. As continhas eram bem simples na quinta série. Na oitava série, achei mais ou menos, mas aprendi muito com os professores, que eram esforçados e queriam nos ver alfabetizados.
Meu pai não teve estudo suficiente para me ensinar, mas ele sabe ler, escrever e até fazer algumas contas. Nos letramentos matemáticos, me avalio de dez a oito pontos. Quando comecei a frequentar a escola, não sabia nenhuma letra. Apesar de ter iniciado muito jovem, quando completei sete ou oito anos, me dediquei muito a aprender. Tinha força de vontade de verdade. Lembro que a professora falava que ia fazer uma leitura; assim que terminava a aula, eu ia pelo caminho treinando a leitura, até mesmo as atividades que ela passava para mim. Entre os oito e dez anos, sentava debaixo de uma árvore para fazer as atividades, e fazia tudo antes de chegar em casa.
Nos primeiros anos de escola, eu era motivada a escrever. A professora me elogiava muito por isso. Gostava de escrever textos que continham rimas e me avalio no papel de escrita inicial de dez a oito pontos. No ensino fundamental, me lembro de textos e poemas, mas no ensino médio, devido ao número de livros, não consigo lembrar de tudo.
Na minha escola, no ensino médio, os professores nos davam liberdade para ir à biblioteca ler livros. Isso era muito enriquecedor para mim. Ao longo da minha vida escolar, houve mudanças na escrita; aprendi a escrever melhor. Na escola, escrevíamos rápido, devido ao pouco tempo, e as letras não ficavam muito legíveis. As práticas com os números faziam sentido, pois várias vezes surgiam necessidades de contar e conhecer os números.
Neste primeiro ano de universidade, por enquanto, não consigo explicar muito devido ao pouco tempo, mas creio que minha escrita e leitura vão melhorar. As mudanças trarão coisas positivas e negativas: a positiva é aprender mais do que já sei; a negativa é a dificuldade e tenho que não desistir diante delas.
Gosto muito de ler o que os professores orientam e faço o possível para isso. Não tenho tanta facilidade com os gêneros universitários. Ao longo da minha vida escolar, no ensino fundamental, línguas e matemática eram bem mais fáceis; já no ensino médio foi um pouco mais difícil, mas consegui superar e alcançar um pouco mais da média. Imagino que sou capaz de lidar com os desafios que envolvem números e letras.
Lembro que, quando comecei a estudar no ginásio, na quinta série, na cidade de Cristália, andava a pé oito quilômetros para chegar até o ponto do ônibus escolar. Foi uma luta imensa. Saía de casa às nove e meia da manhã para chegar ao ponto às onze e meia e entrar na sala de aula às doze e meia. Isso durou três anos. Nos últimos anos, o carro chegava mais perto de casa, mas consegui vencer o ensino médio.
Hoje sou casada e tenho um esposo amigo e companheiro que sempre me apoia na faculdade. Ele me ajuda muito. Tenho três filhos: os dois primeiros são gêmeos e têm doze anos, e o outro tem cinco. Todos são apaixonados por estudar, assim como eu era na idade deles.



SOBRE A AUTORA:

Adenilda Alves dos Santos é acadêmica da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), onde cursa Pedagogia. Produziu este relato na disciplina Práticas de Leitura e Produção de Textos, ofertada de julho a novembro de 2024.


A orientação deste trabalho e a organização do e-book foram realizadas por Carlos Henrique Silva de Castro, Kátia Lepesqueur e Virgínia Batista.

Aprender a ler e escrever sem ter o que comer

Aprender a ler e escrever sem ter o que comer

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Abelino Reis Sales, Fronteira dos Vales/MG

Na minha vida, tudo começou de forma difícil. Nasci em uma pequena cidade do interior da Bahia chamada Itanhém. Aos 4 meses de idade, fui abandonado pelo meu pai, que nem sequer quis colocar o nome na minha certidão de nascimento.

Minha mãe e minha avó foram as minhas bases familiares. Mulheres analfabetas, lavradoras do campo, plantavam e colhiam frutas da roça para levar até o mercado municipal da cidade de Itanhém/BA e vendê-las. Com os lucros, podiam trazer o sagrado alimento para o humilde lar.

No deslocamento entre a roça e a cidade Itanhém/BA, por vezes, minha mãe contava histórias sobre mitos folclóricos. Eram quilômetros de caminhada a pé para chegar até a cidade, mas, fizesse sol ou chuva, as duas mulheres guerreiras ainda assim levavam no lombo do seu jegue uma criança e balaios com farinha de mandioca, entre outros itens, para vender.

Fui crescendo e observando o modo de vida sofrido que essas pessoas levavam; contudo, não tenho recordações do que ocorreu na roça, lembrando apenas da vida na cidade. Lembro-me de que, aos 6 anos, surgiram as lembranças da escola, dos amigos de infância e do trabalho árduo de minha mãe para que seu filho pudesse estudar. Por vezes, ela trabalhava em casas de família para trazer apenas um pouco de alimento para que eu pudesse ir à escola.

Lembro-me de que, naquela época, só poderia ir para a escola com uniforme, porém minha família não podia arcar com os custos. A solução eram as doações de uniformes de estudantes do ano anterior, que não lhes serviam mais. Com eles, eu me vestia e ia para o colégio. Outra motivação era a merenda, alimento que não tinha em minha casa.

Não gostava de faltar às aulas por nenhum motivo, pois ali encontrava colegas, brincadeiras e voltava para casa de barriga cheia. Na minha sala de aula, havia muitas pessoas com mochilas, estojos, cadernos de capa dura, canetas de colorir, tênis, entre outros objetos que eu não possuía. Meu material escolar era uma sacola de pano onde levava um caderno brochurão, lápis, borracha e apontador, que era um pedaço de ponta de faca.

Na época da minha escola, nos anos iniciais, não sofri bullying e, mesmo sendo negro, nunca me senti discriminado. Contudo, a única separação que existia era que a turma A era dos filhos de professores e a turma B, do restante dos alunos.

Certa vez, aos 10 anos, escrevi minha primeira carta para minha querida madrinha, que havia me pedido que escrevesse contando o que eu queria de presente no meu aniversário. Eu escrevi que queria um carrinho de mão para poder trabalhar e ajudar minha mãe. Ganhei o carrinho de mão e comecei a pegar feira para as pessoas idosas, ganhando minhas primeiras moedas. Com elas, podia comprar um pastel ou alguma guloseima no intervalo da escola.

Na quarta série, percebi que tinha facilidade em matemática, pois comecei a aprender a decorar a tabuada e a tirar as melhores notas da sala e do colégio. Com isso, comecei a ser mais bem visto pelos colegas, a ser admirado pelas meninas e a ganhar notoriedade.

Minha forma de aprender era prestando atenção e memorizando o que o professor falava em sala de aula, pois os livros naquela época eram comprados. Como eu não tinha condições financeiras, escrevia tudo no caderno para fazer uma boa prova. No ensino fundamental, começou uma revolução, pois no colégio começamos a ter aulas de inglês e informática, uma situação nova para mim. Alguns colegas tinham computador em casa, e eu, como sempre, não tinha nem televisão nem geladeira. Para aprender inglês, alguns colegas diziam que assistiam a filmes e ouviam músicas estrangeiras. Com certa razão, inglês não é o meu forte.

Era preciso vencer todos esses obstáculos que a vida colocava na minha frente; e eu, como sempre, uma pessoa destemida, encarava tudo isso sem medo e sem vergonha, mantendo o foco. Ano após ano, eu fazia mais amigos na escola e era convidado para ir à casa dos colegas fazer trabalhos escolares. Muitos queriam ficar perto de mim para receber “cola” nas provas de matemática. Certa vez, no ensino médio, já nas provas finais, quando eu, claro, já havia alcançado as notas para aprovação no terceiro bimestre, fiz a prova de duas colegas para que não ficassem de recuperação.

Uma vez, peguei recuperação em história, e foi aquele chororô, pois jamais tinha acontecido. Mostrei novamente a minha capacidade intelectual. Peguei um livro na biblioteca, estudei durante duas semanas e, no dia da prova, fiz 95 pontos; ou seja, minha dedicação foi determinante.

Estudar é prazeroso, e na época da minha escola não havia recursos tecnológicos para imprimir provas. Lembro-me de que precisávamos levar papel “chamequinho” para as professoras usarem em nossas atividades. As atividades eram primeiro datilografadas e, depois, passavam por uma máquina manual chamada mimeógrafo, que magicamente transferia a tinta de um papel para o outro. Às vezes, até os alunos ajudavam.

Na minha rua moravam duas professoras. Uma delas sempre me dava revistas velhas para eu ler e recortar para fazer alguns trabalhos escolares. A gente percebia o quanto era corrida a vida delas, pois chegavam em casa com aquele monte de provas para corrigir, além de fazer plano de aula para o dia seguinte; era um amontoado de material. Eu, certa vez, ajudei-as a corrigir provas.

Hoje, entendo por que nossos pais, parentes e professores sempre diziam que, para ter um futuro melhor, “tem que estudar”. Assim, fui estudando e cheguei à graduação. No ensino médio, quando saí do interior para procurar uma vida melhor em Belo Horizonte/MG, tive dificuldade em concluir o terceiro ano.

A escola ficava cerca de 4 quilômetros da minha residência e, como não tinha dinheiro para pagar o ônibus, era uma hora de caminhada entre carros, motos e caminhões, o que atrasou minha formação. Na cidade grande, há inúmeros desafios, e os professores já não eram tão acolhedores como no interior. Além disso, as pessoas eram desconhecidas, com relações mais complexas do que aquelas que a gente conhece desde a infância.

Foi com muita luta, determinação, coragem e sabedoria que a minha história de vida mudou para melhor. Foi através da educação que conheci uma amiga e colega de classe chamada Enedineia, que me apoiou quando morei em Belo Horizonte/MG. Após o ensino médio, comecei a estudar matemática com ela.

Ela desejava fazer o concurso da PMMG (Polícia Militar de Minas Gerais). Eu, como sempre, não tinha dinheiro para comprar a apostila. Aos sábados, após o meu trabalho, deslocava-me a pé para o bairro onde ela morava, a uns 5 quilômetros do meu, e ensinava matemática para ela, além de aprender mais com as apostilas.

Comecei a ver que as matérias exigidas não eram muito difíceis, e foi ali, todos os fins de semana, ensinando e aprendendo, que ela falou: “Você tem capacidade de fazer essa prova.” Fiquei pensando, mas não tinha dinheiro para pagar a inscrição nem computador para fazê-la. Criei coragem e pedi um adiantamento ao meu patrão. Com o dinheiro, fui a uma lan house e fiz a inscrição.

Novamente, com esforço e dedicação, e com os conhecimentos adquiridos no ano de 2006, em meu primeiro grande concurso, com mais de 50 mil candidatos inscritos, fiquei entre os 2 mil classificados e ingressei como soldado na PMMG. Estou na instituição há 18 anos, na atual função de sargento.

E aquelas palavras de minha mãe e dos professores sempre serão levadas enquanto eu viver: “Estude, estude!” Acredito que a mudança em cada um de nós depende de sacrifício, dedicação e força de vontade.



SOBRE O AUTOR:

Abelino Reis Sales, de Fronteira dos Vales/MG, é acadêmico da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), onde cursa Pedagogia. Produziu este relato na disciplina Práticas de Leitura e Produção de Textos, ofertada de julho a novembro de 2024.


A orientação deste trabalho e a organização do e-book foram realizadas por Carlos Henrique Silva de Castro, Kátia Lepesqueur e Virgínia Batista.