A importância do incentivo



Desde minhas memórias mais tenras, lembro-me de ficar sentadinha na biblioteca do meu avô, em seu escritório, enquanto ele estava à mesa lendo seu jornal Estado de Minas. Eu ficava ali ao lado com uns lápis e um pedaço de papel que embrulhava as flores. Às vezes, ia para a prateleira onde havia várias enciclopédias, mas sempre era alertada: “Muito cuidado, esses livros não são para você!”. O máximo que podia fazer era viajar pelo atlas gigante que ali existia. Quando me cansava de estar ali ou quando ele ia receber algum cliente, saía para brincar no meio das plantas e brincar de vendedora.

Em minha casa, com minha mãe, sempre fazíamos o devocional, mas era chato por ser sempre muito cedo, e as leituras eram longas e monótonas. Mas todos os dias tínhamos, e o que eu gostava mesmo era ver minha mãe todos os dias de madrugada fazendo sua leitura da Bíblia. Na igreja, era divertido, pois a tia gostava de contar histórias em um livro ilustrado bem grande, e ela sempre contava as histórias com entusiasmo e alegria.

Mas, infelizmente, quando fui para a escola, foi minha maior tristeza, pois na minha sala só havia meninos e apenas eu de menina. A professora tinha seis dedos em cada pé, uma história de palmatória e uma régua de madeira de metro. Eu, sentadinha lá atrás, no canto da sala, me esforçava para reconhecer e aprender. Era surpreendida com uma reguada na mesa que me fazia pular, e também me lembrava das gargalhadas dos meus colegas com meu susto. Era sempre chamada de burra no recreio, e para piorar, ainda tinha meu nome, que por ser de uma história bíblica que minha mãe lia, eu sempre falava assim: “Hadassa rainha Ester”, e isso sempre era motivo de chacota, além de me colocarem todo tipo de apelido. No final, ainda repeti de ano mesmo tendo conseguido nota. Me lembro que no meu boletim era 63, mas a professora, com todo seu conhecimento, convenceu minha mãe a me fazer repetir a 1ª série, pois na 4ª série eu teria dificuldade para acompanhar os demais. Escrevo isso e ainda me vem uma tristeza, pois me lembro do quanto me esforçava. Fato é que lá na bendita 4ª série estava eu repetindo, pois realmente era péssima em português e na leitura. E por aí fui rompendo, e sinceramente, as experiências com a leitura foram apenas piorando a cada dia.

Na adolescência, minha mãe, ao descobrir que eu estava namorando, ao invés de conversar comigo, me deu três livros como castigo. Nem me pergunte o nome, pois não faço ideia, apesar de ter feito um resumo de cada um deles. E toda vez que fazia algo de errado, era me dado um livro para ler, e o ódio pela leitura apenas aumentava.

Mas, depois de já crescida, ao me ver grávida, decidi pegar um livro sobre educação infantil para aprender algo sobre ser mãe. Esse livro foi o primeiro que devorei. Tinha 587 páginas com letras minúsculas, e lá, além de descobrir o quanto era benéfico a leitura, percebi o quanto a literatura me fez crescer como pessoa. Depois desse, passei a andar pelas lojas sempre buscando um novo título interessante. E cada vez mais fui evoluindo na leitura e na grafia. Ainda não tenho uma gramática perfeita, mas já evoluí bastante do que era. Depois veio o desejo de estudar, de crescer mentalmente, pois ali descobri que o conhecimento poderia me abrir horizontes. Também entendi que minha mãe, da maneira dela, queria apenas que eu abrisse a minha mente, mas eu não tinha tido boas experiências com a literatura, pois ela sempre me era colocada de maneira chata, como castigo.

Em minha casa não tinha televisão nem rádio, pois era coisa do capeta, assim dizia minha mãe. “Deus não está nisso, se você assistir, Deus vai te castigar”, dizia ela. Meu pai trazia umas televisões pequenas de tubo que tinham aqueles botões redondos preto e branco, mas minha mãe pegava e jogava pela janela, e meu pai ficava triste, calado, e ia ler os livros de faroeste dele, que minha mãe também odiava que ele ficasse ali deitado lendo. Quando ele saía, ela pegava aqueles livros e fazia fogueira, sempre xingando e falando que era do capeta.

Após meu conhecimento e evolução, procuro ponderar os meus incentivos literários e tecnológicos, pois acredito que minhas ações vão influenciar positivamente ou negativamente na evolução das pessoas ao meu redor. Busco fazer minhas leituras em horários que minhas filhas estão acordadas, para que elas vejam e desejem, e isso tem dado certo. Por elas mesmas, têm buscado suas leituras. Além disso, quando elas eram menores, sempre tiveram livros disponíveis entre os brinquedos para que pudessem ter acesso a eles. Quando íamos à casa do meu avô, buscava orientá-las para que tivessem cuidado ao folhear os livros da prateleira, as auxiliando para que não viessem as broncas do bisavô. Inclusive, elas adoram ler o livro das baleias que está ali.

As séries, filmes de princesa e desenhos são liberados, e alguns são orientados para que evitem, pois não as edificam. Mas sempre com cuidado para não ter ruptura de laços e encanto. Acredito que tenho grande impacto na evolução das gerações que estão chegando. Busco sempre orientar e viver como desejo que o mundo seja.

Sei o poder que a literatura tem sobre a evolução do ser humano. Ela pode levar a outros mundos, reais, ilusórios, criativos, e apresenta a diversidade social e cultural. É uma contribuição real para a disseminação de culturas. Por isso, acredito que ao fomentar um ambiente rico em leituras e aprendizagens, estamos não só moldando o presente, mas também plantando as sementes de um futuro mais consciente e informado.



SOBRE A AUTORA:

Hadassa Altivo Ferraz  é graduanda da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM) e produziu este relato na disciplina Prática de Leitura e Produção de Textos, ofertada no primeiro semestre de 2024. A organização e edição do material foi feita pelo Projeto de Extensão Aula Digital.

Este trabalho foi orientado pelo professor Carlos Henrique Silva de Castro.

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