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Marta Aparecida Martins Ferreira, Itamarandiba/MG
Sou casada, mãe de quatro filhos e tenho um neto. Na minha infância, brincávamos de queimada, roubar bandeira, passar anel; havia também as cantigas de roda e tantas outras que hoje as crianças não conhecem. Quantas saudades!
Hoje, com 48 anos, volto aos anos 80, lembrando das leituras e dos livros. Antes de entrar na escola, minha tia fazia a leitura da Bíblia; eu não sabia ler, mas ouvia. Também acompanhava as novenas de Natal, e o rádio a pilha era uma das diversões. Nele, ouvíamos músicas e notícias na “Voz do Brasil”. Aprendi a ler quando fui para a escola. Gostava da história da aparição de Nossa Senhora de Fátima nas revistas e me lembro também de quando minha mãe rezava o terço com a gente (num livreto havia a contemplação dos mistérios).
Conheci o dinheiro e aprendi a contar até 10 com meus pais, mas não me lembro de quando comecei a entender o valor do cruzeiro. O cruzado, que veio depois, eu já entendia um pouco. A moeda sofreu alterações até chegar ao real, uma data bem marcante, pois já trabalhava e o primeiro pagamento foi na transição da moeda do cruzeiro real para o real.
Aprendi a fazer as primeiras contas na escola e achava os problemas difíceis. A escola teve um papel muito importante naquele tempo, pois a família incentivava; porém, não tinha tempo para ajudar os filhos, pois trabalhavam na roça. Aprendi a escrever com 7 anos, e as provas eram todas questões abertas. Tínhamos um caderno de provas, onde as questões eram copiadas à mão.
O tipo de texto com o qual mais tive contato era o narrativo. Lia muitos textos sobre a natureza (narrativas em contextos rurais). Nas redações, escrevíamos sobre nossos costumes. Naquela época, quando iniciei os estudos aqui na minha comunidade de Santa Luzia, no município de Itamarandiba, só havia até a 4ª série e não havia biblioteca; mas lia o que tinha ao meu alcance, como jornais e revistas. Com o passar do tempo, melhorou o acesso aos meios de comunicação, como, por exemplo, a televisão, mas o acesso à internet veio bem depois.
No período da educação básica, quando ganhava um dinheiro, já sabia contar o valor. Não tenho facilidade com textos universitários. Sinto falta dos conteúdos de matemática que não aprendi no ensino médio, pois concluí esta disciplina no ENEM. O conhecimento com números me ajuda bastante, pois administro bem minhas questões financeiras. Tenho dificuldades nas disciplinas de matemática que envolvem números e letras.
Neste primeiro ano na universidade, irei me dedicar à leitura e à escrita, pois elas aprimoram o aprendizado e nos mantêm por dentro dos acontecimentos. Infelizmente, me sobra pouco tempo para estudar, pois o trabalho exige muito, mas farei o possível para obter um bom desempenho.
SOBRE A AUTORA:
Marta Aparecida Martins Ferreira, de Itamarandiba/MG, é acadêmica da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), onde cursa Pedagogia. Produziu este relato na disciplina Práticas de Leitura e Produção de Textos, ofertada de julho a novembro de 2024.
A orientação deste trabalho e a organização do e-book foram realizadas por Carlos Henrique Silva de Castro, Kátia Lepesqueur e Virgínia Batista.