Memórias da Cartilha Caminho Suave



 

Durante minha infância, até os 5 anos de idade, morávamos na zona rural eu, meus pais e minha irmã mais velha, que naquela época tinha 6 anos. O acesso à escola apresentava algumas restrições, como a distância. Mesmo diante de tais dificuldades, foi possível ter contato com os primeiros textos escritos através da cartilha alfabetizadora da época, chamada “Cartilha Caminho Suave”.

O livro era emprestado por uma tia que lecionava na zona urbana. Naquele momento, ainda sem frequentar a escola, foi minha mãe, com muita determinação e carinho, que nos pré-alfabetizou, a mim e a minha irmã mais velha.

Recordo-me que a cartilha era bem simples e associava imagens e letras com o objetivo de facilitar a aprendizagem. Graficamente, apresentava as letras escritas na imagem, relacionando as duas formas de maneira visual. Por exemplo, a letra “V” era escrita com a silhueta no formato dos chifres da vaca, semelhante a um V, entre outras.

Ao completar 6 anos de idade, mudamos para a cidade e então tivemos acesso à escola formal. O fato de já estarmos pré-alfabetizadas facilitou minha compreensão e permitiu acompanhar a turma sem muitas dificuldades. Minha relação com os números, por sua vez, começou quando ingressei na escola da zona urbana. Sempre me esforcei para aprender matemática e acompanhar a classe, mas tenho consciência das minhas dificuldades na assimilação de alguns conteúdos da área de exatas em geral. Tenho melhor afinidade com a escrita e a leitura, apesar de perceber minhas dificuldades na sintaxe.

Minhas recordações com a escrita e a leitura no ensino fundamental referem-se aos ditados e às leituras feitas em classe e na biblioteca. Para ler na biblioteca, éramos organizados em grupos que, em determinado horário de aula, eram direcionados para a biblioteca para lermos um texto. O nível de leitura avançava na medida em que a complexidade dos textos aumentava. Em outros momentos da educação básica, éramos sorteados para fazer a leitura em voz alta dos textos trabalhados em sala para os demais colegas de classe, até então lidos apenas em voz baixa. Os ditados dos textos visavam à correta grafia. Meu hábito de ler livros de literatura varia de acordo com minha necessidade momentânea. Geralmente, minhas leituras mais cotidianas são referentes a temas do serviço que desempenho, o qual demanda conhecimentos diversos.

O ingresso na UFVJM para o curso de pedagogia me possibilitou uma visão diferente dos métodos de ensino e de letramento das crianças. O fato de ter filhos na idade de alfabetização, aliado à minha formação como futura professora, me proporciona o contato com a aprendizagem da escrita, da leitura e da matemática. Sobretudo, os filhos me despertam um interesse amplo no assunto, visto a necessidade de ampará-los e auxiliá-los neste momento primordial da alfabetização.

Sou grata à minha querida mãe por me incentivar a buscar o conhecimento formal, uma pessoa que, mesmo com suas limitações, me proporcionou o acesso aos letramentos na idade adequada. Tenho consciência de que o conhecimento abre portas e nos permite desfrutar do melhor da vida, desde que tenhamos determinação, coragem e oportunidades de acessá-lo. Pretendo concluir o curso com o objetivo de contribuir para o ensino daqueles que buscam formação e acesso ao conhecimento, bem como para a troca de saberes.



SOBRE A AUTORA:

Aline Pereira Lopes Dias  é graduanda da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM) e produziu este relato na disciplina Prática de Leitura e Produção de Textos, ofertada no primeiro semestre de 2024. A organização e edição do material foi feita pelo Projeto de Extensão Aula Digital.

Este trabalho foi orientado pelo professor Carlos Henrique Silva de Castro.

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