Pensando a leitura e a escrita

Por Gabriel Philipe de Souza Chacara [1]



Nos anos dois mil, logo quando comecei a ter percepção das coisas, era comum observar meu pai lendo jornais e noticiários impressos. Na época, ele era funcionário da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos. Apreciava as imagens ali presentes de jogadores de futebol, gráficos sobre economia, imagens de crimes da época, mesmo sem entender. Minhas tias sempre contavam histórias, e chamava a minha atenção gritando “GABRIEL PHILIPE DE SOUZA CHACARA”, o que facilitava o entendimento aos comandos e saber o meu nome completo.

A curiosidade, desejo intenso de ver, ouvir, experimentar algo novo, desconhecido, sempre tomou conta da minha pessoa. O superlativo deste adjetivo “curioso”, fez com que de forma precoce eu decorasse os numerais e a escrita do meu nome. Era comum aos 4 anos já escrever frases como “Mãe, você é a melhor mãe do mundo”. E minhas tias paternas diziam: – a grafia dele é parecida ao do avô (in memoriam), e ficavam saudosas.

A minha avó materna sempre muito fervorosa, comumente lia a bíblia e contava histórias sobre Deus e Jesus Cristo, me lembro do livro ela me presenteou, cujo nome é “Meu livro de Histórias Bíblicas”, eram um conjunto de 116 histórias belamente ilustradas, totalmente de acordo com a bíblia e fáceis de entender. Ali comecei a compreender a minha existência e importância no mundo, entendia através de imagens relatos desde a criação até o dilúvio. Já as minhas tias avós maternas são apaixonadas por livros de romance, estantes lotadas de livros que passávamos tempos olhando e procurando juntar as palavras para tal compreensão. Quando aprendi a ler, logo depois foi o lançamento do livro “cinquenta tons de cinza”, minha tia Elane disse para mim e minhas primas: “Esse aqui vocês ainda não podem ler”.

Já na pré-escola veio as paixões das músicas didáticas que passávamos o final de semana inteiro cantando para meus pais como “Jesus Cristo está passando por aqui” e Meu lanchinho, meu lanchinho, vou comer… CDs e DVDs do palhaço local da cidade de Teófilo Otoni chamado de Perna Bamba, tocavam horas sem parar, junto ao sítio do pica-pau amarelo e o meu predileto o Teletubbies. A imagem do nascer do sol juntamente aos quatro ursinhos dançando chamavam muito a minha atenção. Já o Alvin e os esquilos me ensinaram que mesmo sendo diferente, conseguimos ser o que queremos ser, basta força de vontade. Outra característica minha é ser muito competitivo, a gana e o desejo de estar em destaque me fazia ser dedicado a aprender de forma rápida os numerais e letras, já chegava da escola realizando as atividades, e sempre ajudava, ou tentava ajudar minhas primas mais novas nas atividades escolares delas.

Estudei durante um tempo em uma escola que tinha uma participação de uma instituição APJ (Aprender juntos), onde mensalmente um voluntário ia caracterizado de um certo personagem e contava histórias que prendia nossas atenções. Reconhecer dinheiro foi de forma bem prematura. Assim que consegui independência de andar e me comunicar, eu já ia nas mercearias bem próximas de casa, comprar o que fora pedido por meus pais, e sempre perguntava: “Tem troco seu moço?”. Aos seis anos já somava e diminuía, começara ali a realizar as contas básicas solicitadas na escola e quando brincávamos de escolinha (eu e minhas primas). A matemática só se tornou um impasse na minha vida quando apareceu funções do segundo grau e logaritmos.

Avaliar o papel da escola e da família nos seus letramentos matemáticos iniciais é como dizer que uma equipe deve ser constituída, a escola fornecendo o modelo didático e a família cobrando e incentivando e elencando as dificuldades. Neste contexto pós pandemia, fica difícil avaliar, pois é notório o déficit de aprendizagem dos educandos no período remoto. A família deve-se posicionar de forma eximia nos estudos dos filhos não deixando o papel de alfabetização e aprendizagem geral somente com a escola. Na escola, lembro-me de sentir preguiça em escrever, mas por ser competitivo, sempre queria ser um dos primeiros a copiar os textos literários e crônicas.

A escola é essencialmente fundamental na introdução dos letramentos nos anos iniciais, pois conduz de forma cientifica como se deve ser alfabetizado. Os textos que lia e produzia no ensino fundamental I, eram sobre histórias sobre Dona Benta e Barnabé, já no ensino médio Livros literários como de Machado de Assis, Dom Casmurro e Memórias Póstumas de Brás Cubas. Estudei em colégios que de forma privilegiadas eram providas de bibliotecas com rico acervo bibliográficos e éramos incentivados a leitura mediante relatórios das obras lidas. Portanto, trago comigo o ideal que a leitura tem o poder de expandir o vocabulário, com palavras diferentes e sinônimos, uma linguagem falada e escrita culta. Em cada fase do meu desenvolvimento tive a sensação de que a leitura me roubava a ignorância inerte ao ser humano, e comecei a ler e interpretar, conseguindo me posicionar como ser pensante e crítico em sociedade. Já na universidade como acadêmico, a leitura me impulsiona a interpretação da ciência proposta nas disciplinas, podendo afirmar que o sujeito que tem o hábito de leitura se torna familiarizado com qualquer tipo de obra escrita.

Autonomamente leio os artigos solicitados pelos docentes do curso de licenciatura em química, pois sinto-me facilidade em aprender lendo. Paralelo os gêneros que tenho lido são sobre romances, autoajuda e livros sobre saúde por ter uma formação graduação em Enfermagem. Ler sobre saúde e bem-estar é um hobby constante. Já sobre as questões financeiras, fiz alguns cursos como o de auxiliar administrativo e empreendedorismo, sempre fui um bom empreendedor, e um péssimo administrador. Já vendi chup-chup, brigadeiros, doces e roupas, sempre lutei, batalhei, corria contra o tempo. Soube através do meu esforço estudo e trabalho o que era ter tudo, mas também sei o que é não ter nada. Continuo advogando do princípio de que a educação me ajudará a contribuir na transformação da sociedade desigual a qual encontramos.



[1] Gabriel Chacara é graduando da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM) e produziu este relato na disciplina Prática de Leitura e Produção de Textos, ofertada no primeiro semestre de 2023. A organização e edição do material foi feita pelo Projeto de Extensão Aula Digital.

Este trabalho foi orientado pelo professor Carlos Henrique Silva de Castro, com as ricas contribuições na revisão e organização do tutor Marcos Roberto Rocha.

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