Minha jornada literária pessoal

Minha jornada literária pessoal
Cassie

Os textos publicados individualmente nesta página podem ser lidos reunidos nos volumes da coleção Memórias de Letramentos. Para adquirir seu e-book gratuito ou impresso  pelo preço apenas do serviço de gráfica, clique no banner ao lado ou no fim da página.


Cassie Fernandes, Águas Formosas/MG

Desde a minha infância, o acesso a textos escritos sempre foi presente em minha vida. Minha mãe e minha avó, sendo evangélicas, constantemente liam a Bíblia, além de panfletos da igreja e outros materiais religiosos, como livros e revistas. Meu avô, sempre sentava comigo em um banco velhinho de madeira que tinha no quintal e me contava inúmeras histórias (às vezes repetia várias vezes a mesma, porque eu implorava pra ele contar de novo) sobre as aventuras de Pedro Malasartes, e todas as suas travessuras.

Ele sempre me contava também, diversas histórias de quando ele era jovem e trabalhava na roça, sobre os animais selvagens que ele já tinha visto de longe e de perto, sobre as plantações e sobre a linhagem familiar de todo mundo que ele conheceu, e que eu não fazia ideia de quem eram, mas ouvia tudo atentamente, tentando guardar cada detalhe comigo. Esse ambiente familiar me proporcionou um contato precoce e frequente com materiais de leitura, histórias e produção de textos, pois eu vivia imaginando diversas aventuras e histórias como as de Pedro Malasartes.

Minhas primeiras lembranças relacionadas à leitura e contagem estão associadas ao meu avô, que me ensinou a contar até vinte. Embora os detalhes desse aprendizado sejam um pouco vagos e mesclados pelo tempo, eu me lembro que ele desempenhou um papel fundamental nesse processo. Da mesma forma, foi com ele que aprendi a reconhecer e entender o valor do dinheiro. Apesar de ser analfabeto naquele período, meu avô me ensinava a utilizar as moedas que me dava para comprar doces na vendinha próxima da minha casa, explicando o valor de cada uma e o que poderia ser comprado com elas, assim como o troco.

Eu tenho uma lembrança muito carinhosa que eu guardo comigo, e essa é uma das únicas que eu me lembro com perfeição, pois eu já tinha uns 13 anos, e eu e meu avô estávamos deitados no chão, olhando pro céu, na área de casa e ele estava me contando pela milionésima vez uma história de Pedro Malasartes (eram minhas favoritas, e eu nunca me cansava delas) e eu estava tão entretida na história que não percebi um filhotinho de lagartixa entrando na minha blusa, até ser tarde demais. E quando eu a senti encostando em mim, foi o caos absoluto, mas também foi um dos melhores dias da minha vida, pois daquele dia em diante eu tinha minha própria história engraçada pra contar, e o melhor, era compartilhada com a pessoa que eu mais amava nesse mundo.

Quando eu estava na pré-adolescência, meu avô decidiu iniciar seus estudos e conseguiu se formar no ensino fundamental. Ele aprendeu, entre outras coisas, a escrever o próprio nome, um dos maiores orgulhos que ele tinha. Tive o privilégio de acompanhar e ajudá-lo nas atividades escolares, fazendo as tarefas e ajudando-o com a leitura. Esse período foi muito especial, pois pude retribuir um pouco de tudo que ele fez por mim, ajudando-o a conquistar algo tão importante. Infelizmente, ele não está mais aqui para me ver formada, mas o amor e a gratidão que sinto por tudo o que ele me ensinou permanecerão comigo para sempre.

Ao ingressar na escola, não tenho uma lembrança clara se já sabia realizar operações matemáticas, mas sempre me destaquei na resolução de problemas nos anos iniciais do ensino fundamental. Naquela fase, os problemas eram bastante simples, e eu costumava obter notas máximas nas provas de todas as matérias. No entanto, ao avançar para o ensino médio, comecei a enfrentar dificuldades maiores com matemática e exatas no geral, e passei a concentrar meus esforços na área que eu mais gostava e tinha facilidade que era e é, linguagens.

Tanto a escola quanto a minha família desempenhou um papel crucial em meus letramentos matemáticos iniciais. Esse período da vida é marcado por uma grande facilidade de aprendizado, e contar com o apoio e a dedicação de pessoas dispostas a me ensinar, mesmo com suas próprias limitações, foi de extrema importância para meu desenvolvimento e motivação para aprender cada vez mais.

Em relação à escrita nos primeiros anos escolares, embora minhas memórias não sejam tão detalhadas, lembro-me de ser incentivada a escrever, desde pequenas frases até textos mais elaborados. Sempre fui uma aluna dedicada, o que fez com que os professores me dessem atenção especial. Embora isso possa ter criado um ambiente de favoritismo, o que é péssimo em uma sala de aula, contribuiu significativamente para desenvolver meu gosto pela leitura e escrita.

Quanto aos textos que lia e produzia ao longo da escolaridade, me lembro de, no ensino fundamental, ter ganhado de minha mãe um kit de livrinhos com histórias bíblicas, que se tornou um verdadeiro tesouro para mim. No ensino médio, já era uma leitora ávida, frequentando bibliotecas e construindo um acervo pessoal de livros, além de ler em formato digital, primeiro através do celular, mas logo comprei meu dispositivo Kindle, e pude realmente criar minha própria biblioteca digital.

Todas as escolas que frequentei tinham bibliotecas, e os professores sempre incentivaram o uso desse espaço. Contudo, muitas vezes, as atividades escolares relacionadas à leitura não despertavam meu interesse, pois os livros sugeridos não condiziam com minhas preferências e com os gêneros literários que eu costumava amar ler. Minha relação com a leitura sofreu uma mudança significativa aos 14 anos, quando ganhei o livro “O Chamado do Monstro” de presente. Esse livro teve um impacto tão profundo em mim, me levando a desenvolver um amor intenso e profundo pela leitura.

 Como uma pessoa LGBTQIAPN, minha vida foi marcada por desafios como bullying e repressão em todos os lugares que eu costumava frequentar, especialmente na escola e na igreja evangélica que minha mãe frequentava e me levava junto, e a leitura se tornou uma forma de escapar disso e viver outras realidades mais afáveis que a minha. Em 2016, descobri a plataforma Wattpad, onde escrevi meu primeiro livro, que estou atualmente reescrevendo para disponibilizar na Amazon Kindle em formato de ebook.

No meu primeiro ano de universidade, em 2018, a principal mudança em meus hábitos de leitura e escrita foi o foco nos conteúdos acadêmicos. O maior desafio foi a escrita do meu artigo de conclusão de curso, que, apesar de ser sobre um tema que eu amo, exigiu muito de mim devido à sua complexidade, mas apesar disso eu consegui entregar um trabalho completo e coerente com meu tema escolhido.

Ainda mantenho a prática da leitura autônoma, principalmente sendo artista, estou sempre lendo peças teatrais e estudando sobre teatro, mas agora, ao iniciar um novo curso, ajusto minha rotina para conciliar as leituras orientadas pelos professores com aquelas que escolho por conta própria, reconhecendo o valor e a importância de ambas. Dito isso, meus gêneros literários preferidos são fantasia, romance, ficção científica e poesia.

Quanto à administração das minhas finanças, percebo que o ensino médio não me preparou adequadamente para os desafios econômicos e burocráticos da vida adulta. Atualmente, busco aprender por conta própria, utilizando os recursos tecnológicos disponíveis para adquirir novas habilidades e conhecimentos necessários para a vida cotidiana. Atualmente a tecnologia e a informação estão literalmente nas nossas mãos, e eu odeio me sentir ignorante diante de qualquer tema, então estou sempre pesquisando e aprendendo sobre coisas novas e relevantes para meu crescimento pessoal e profissional.

Hoje, o Kindle é meu dispositivo de leitura preferido. A praticidade de transportá-lo, o vasto acervo digital disponível, e a possibilidade de ler diversos ebooks em inglês para aperfeiçoar minhas habilidades de leitura e escrita nesse idioma tornaram-se ideais para minhas necessidades. Além disso, o Kindle permite que eu tenha acesso a uma infinidade de títulos sem ocupar espaço físico, o que é especialmente importante considerando o tamanho limitado do meu quarto. Dito isso, estou ansiosa para adquirir um modelo mais recente e ampliar minha rotina de leitura.

Por fim, a leitura e a escrita sempre foram paixões que me acompanharam ao longo da vida, moldando quem sou e ampliando meus horizontes. Meu amor por essas atividades continua a crescer, e é meu desejo um dia ver alguns dos meus livros publicados em formato digital e físico, compartilhando com outros as histórias e ideias que significam tanto pra mim.



SOBRE A AUTORA:

Cassie Fernandes, de Águas Formosas/MG, é acadêmica da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), onde cursa Pedagogia. Produziu este relato na disciplina Práticas de Leitura e Produção de Textos, ofertada de julho a novembro de 2024.


A orientação deste trabalho e a organização do e-book foram realizadas por Carlos Henrique Silva de Castro, Kátia Lepesqueur e Virgínia Batista.

O caminho da minha experiência com a tecnologia digital

O caminho da minha experiência com a tecnologia digital
Jordana da Silva Santos é acadêmica do curso Licenciatura em Educação do Campo (LEC), da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM). Jordana é da Comunidade Quilombola de Buriti do Meio, município de São Francisco, Minas Gerais. 

Meu primeiro contato com uma tecnologia digital foi em 2015, em casa, quando meu pai comprou um celular que, naquela época, servia apenas para fazer ligações quando necessário. Esse celular foi dado à minha irmã, que era mais velha, para manuseá-lo. No entanto, de vez em quando, eu tinha acesso a ele para brincar com os jogos que possuía. Esse celular era apenas para facilitar as ligações que meu pai queria fazer. Como meu pai não sabia ler por não ter estudado na infância, ele deixou que minha irmã e eu o utilizássemos.

Naquele momento, a ferramenta era uma grande diversão para mim e minha irmã. Nós nos divertimos com o celular durante o dia, usando-o principalmente para fotografar. Durante toda a minha adolescência, nunca tive meu próprio celular, pois minha família não tinha condições de me dar a ferramenta.

Mas nessa mesma época, conheci o celular digital, pois eu tinha outra irmã que trabalhava fora e tinha um. Com ele, eu conheci algumas redes sociais como Facebook e WhatsApp. Achava extraordinário ver as postagens de outras pessoas e me imaginava um dia naquele mundo digital com meu próprio celular. Muitas vezes, eu o utilizava escondido da minha irmã para entrar nessas redes. Tudo era novo para mim, e eu tinha muita curiosidade em aprender a utilizá-las e ver como funcionavam.

Logo depois, meu irmão também conseguiu seu celular digital, o que foi muito importante no meu processo de aprendizagem. Ele sempre teve facilidades com esses recursos e me mostrava diversas coisas. Assim, mesmo sem ter meu próprio celular, adquiri um grande conhecimento para saber utilizá-lo quando tivesse a oportunidade de manusear algum aparelho.

Em 2020, uma professora de Língua Portuguesa fez minha inscrição no vestibular da LEC (Licenciatura em Educação do Campo), fiz o vestibular e fui aprovada. Desde então, consegui ser a única da minha comunidade, dentre 12 participantes, a entrar no ensino superior. Fiquei muito feliz com a conquista, porém ao mesmo tempo preocupada se conseguiria realmente estudar, pois, devido à pandemia, as aulas seriam todas online e eu ainda não possuía um celular ou computador adequado para estudar; nem tinha uma internet de qualidade em casa.

Minha irmã me ajudou bastante, realizando todos os processos de trocas de mensagens necessários para minha entrada na LEC. Nesse meio tempo, consegui a matrícula e fiquei muito alegre, assim como minha família. Era possível ver o quanto minha família queria me ver estudando. No entanto, percebia-se em seus semblantes a tristeza de que eu poderia desistir por não ter acesso a nenhuma ferramenta própria para estudar, além de que, como moradora da zona rural, o acesso de qualidade ao sinal de internet era péssimo.

Em 2021, o ano em que se iniciaram as aulas da LEC, quando eu pensava em desistir de estudar, algumas semanas antes de começarem as aulas, de maneira muito simpática, meu irmão me presenteou com um celular, meu primeiro celular. Não desisti e aqui estou.

Fiquei muito empolgada e feliz ao ganhar o aparelho. Sem pensar muito no que acessar primeiro, pois sempre tive muita vontade de ter redes sociais, fui a um local que possuía sinal de rede e logo instalei aplicativos como Facebook, WhatsApp, TikTok e Kwai. Além disso, baixei o Google Meet, que seria o aplicativo para eu conseguir acessar as aulas da universidade.

Não tive muitas dificuldades em usar o celular, pois como tenho relatado, mesmo sem ter o aparelho, eu utilizava os celulares dos meus irmãos. Atualmente, sou uma pessoa muito antenada nas redes sociais, sendo que uso diariamente aplicativos como WhatsApp, Instagram, Facebook, além dos aplicativos de compras como Shein e Shopee, entre outros.

No momento, não contribuo com páginas e sites, mas já contribuí muito com a divulgação de artesanatos e eventos da minha comunidade, assim como eventos culturais do meu grupo de dança. Sempre divulgo quando as apresentações acontecem.

Quando estou presente na universidade, utilizo muito mais o celular durante o dia, pois ele tem diversos recursos úteis para minhas atividades acadêmicas, como aplicativos de slides e imagens como o Canva, editor textos como Word e GoogleDocs. Outro aplicativo essencial onde são disponibilizados materiais é o Google Classroom. É por meio dele que tenho acesso a todas as disciplinas e conteúdos que os professores passam nas aulas.

Quando estou em Tempo Comunidade (TC), uso muito o Word e o GoogleDocs para a realização de trabalhos. No passado, Google Classroom era menos utilizado por mim, mas no Tempo Universidade (TU), percebi que ele é muito eficiente, pois durante todas as semanas precisamos ter acesso aos arquivos em PDFs, orientações, vídeos e outros materiais expostos em algumas disciplinas.

É muito importante vermos como tudo se atualiza e como essas tecnologias avançam; devido a isso, algumas práticas e costumes vão sendo deixados para trás e sendo substituídos. Antes, muitas vezes, na minha comunidade, quando precisava dar um recado a alguém, era necessário deslocar-se até a residência dessa pessoa. Com a chegada do celular, nem sempre é preciso se deslocar.

O celular é muito eficiente também para realizar transações financeiras, pois nele é possível instalar aplicativos bancários evitando a necessidade de ir até às agências físicas, muitas vezes distantes para nós, moradores de zonas rurais. Antes , eu gostava de anotar muitas coisas no caderno, como datas importantes, tarefas da semana, ou contatos pessoais para futuras ligações. Com as novas tecnologias, todas essas informações são diretamente anotadas no celular.

Outro exemplo de mudança tecnológica na minha vida são as fotografias. Em casa, tínhamos alguns álbuns fotográficos que eu adorava ver. Desde que o celular chegou à minha vida, raramente olho aquelas imagens, pois utilizo muito o aparelho para fotografar e ver outras imagens que páginas e sites mostram diariamente. Com isso, os álbuns de fotos analógicas perderam um pouco a essência.

É notório que as tecnologias continuarão a avançar e, com isso, muitas práticas deixarão de existir devido a esses novos usos e interações com os novos meios tecnológicos. Essas mudanças podem variar de uma geração para outra. Percebo que meus pais, por terem vindo de uma infância onde tiveram que trocar os estudos pelo trabalho, têm uma relação diferente com esses meios digitais. Minha mãe, por exemplo, usa um celular apenas para ligações, devido ao desconhecimento sobre como utilizar outras funcionalidades da ferramenta.

Muitas vezes, ela precisa que resolvam para ela alguns problemas considerados básicos no aparelho. Pessoas que não tiveram muitas oportunidades para conhecer um celular têm muita dificuldade, optando por dispositivos mais simples por acharem os dispositivos complexos e desafiadores de utilizar.

Um grande exemplo das diferenças dessas gerações é meu sobrinho de apenas 4 anos, que utiliza o YouTube para pesquisar desenhos infantis. É relevante observar como ele conhece o aplicativo de vídeo e filmes e como faz para acessá-lo. Mesmo não sabendo escrever ainda, ele descobriu que no aplicativo há um botão que, ao falar, o conteúdo aparece.

Lembro-me de um dia em que disse a ele que não daria para assistir aos desenhos porque não tinha Wi-Fi. Desde então, ele solicita o “Wi-Fi” quando percebe que o aplicativo não está funcionando. Ou seja, mesmo não sabendo exatamente o que é o Wi-Fi, ele sabe que precisava da tecnologia.

Mesmo as tecnologias digitais tendo entrado na minha vida de maneira tardia, sempre me interessei. Só fui ter o primeiro celular quando entrei na faculdade, mas desde então sempre busquei saber mais sobre o que podem nos proporcionar. Tenho orgulho de, mesmo diante de algumas dificuldades, nunca ter deixado de buscar conhecimento.

Gostaria muito de conseguir promover uma página relacionada à cultura da minha comunidade na internet, seja por YouTube ou Instagram, tendo em vista que minha comunidade é bastante conhecida no município e região pelos elementos que a carregam.

É muito interessante estar ligada a esse meio digital, conhecer notícias novas a cada hora, informações e dicas sobre a vida e sobre o mundo. Porém, não podemos deixar de esclarecer que as tecnologias também têm seus malefícios, que podem impactar a saúde, as relações sociais e o bem-estar geral, como a dependência, o vício, a influência das fake news etc.

Um dos principais problemas que recordo de ter tido no início do uso das minhas redes sociais, que considero como experiência negativa, foi a falta de concentração devido a estar muito ligada ao uso do celular. Isso me atrapalhou na realização de alguns trabalhos quando estudava online.

Se tiver oportunidades na área, seria interessante levar para salas de aula algumas tecnologias digitais de uso comum, como data shows, slides, atividades em formulários, apresentações feitas com vídeos, sites, entre outros. Essas tecnologias podem tornar o ensino mais dinâmico e interativo.

Letramento e religião

Letramento e religião

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Bruna Tiele Gomes, Itamarandiba/MG

Minha mãe não terminou os estudos, embora seu sonho fosse se formar e ser professora, um objetivo que estava distante da sua realidade. Ela compreendia o valor da educação e o quanto ela faz falta; por isso, sempre incentivou a mim e aos meus dois irmãos a estudarmos e nos deu todo o seu apoio. Recordo-me de quando estava aprendendo a ler: ela constantemente me perguntava o que formava B com A, C com E, e assim me ajudava a treinar as sílabas.

Durante minha alfabetização, meu pai estava fazendo supletivo, já que ele também não havia concluído os estudos. Nós tínhamos horários dedicados para as tarefas: no tapete da sala, ele escrevia em seu caderno enquanto eu fazia o meu dever de casa. Esse apoio da minha família foi fundamental para que eu desenvolvesse o gosto pela aprendizagem e valorizasse a educação.

Quando comecei a ler, a escola não tinha uma biblioteca, então nosso acesso à literatura era restrito aos textos dos livros didáticos ou às folhas que a professora trazia, passadas no mimeógrafo. No entanto, em casa, eu tinha acesso a diversos livros e revistas porque meus pais eram Testemunhas de Jeová e, devido à nossa religião, a leitura era uma prática comum. Eu possuía dois compêndios de histórias: “Meu Livro de Histórias Bíblicas”, um livro de capa dura amarela que era meu favorito, e um outro chamado “Aprenda Com O Grande Instrutor”.

Na adolescência, eu não me enturmei muito e, para passar o tempo, mergulhei na leitura. Eu baixava livros em PDF e os lia no computador e, depois, no celular que ganhei. Conheci muitos personagens inspiradores, histórias envolventes, vivi enredos dramáticos e, assim, me apaixonei por ler.

Hoje, infelizmente, não tenho tanto tempo para ler como antes, mas ainda mantenho o gosto pela leitura, tanto de histórias quanto das matérias da minha religião. Acredito que o hábito de ler constantemente me tornou uma pessoa mais inteligente e consciente. Todos deveriam ter a oportunidade de explorar o universo da literatura e se beneficiar dele.



SOBRE A AUTORA:

Bruna Tiele Gomes, Itamarandiba/MG, é acadêmica da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), onde cursa Pedagogia. Produziu este relato na disciplina Práticas de Leitura e Produção de Textos, ofertada de julho a novembro de 2024.


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Da roça eu via no horizonte a educação

Da roça eu via no horizonte a educação

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Ana Paula Chaves Lopes, Pedra Azul/MG

Nasci em uma fazenda no município de Pedra Azul, MG, em uma família extremamente humilde. Minha infância foi marcada pela simplicidade e pelas dificuldades que enfrentávamos no dia a dia. A vida no campo era dura e desafiadora, mas também repleta de aprendizados valiosos e experiências únicas.

Nos primeiros anos de vida, meu acesso a livros e números era muito limitado. A educação formal parecia distante, e eu só comecei a frequentar a escola aos sete anos, quando passei a morar com meus avós na cidade. Naquele momento, ainda não sabia ler nem escrever. Minha única interação com a leitura vinha dos folhetos da igreja frequentada por meu avô, onde eu passava o tempo observando as imagens e tentando compreender o que elas significavam.

Minha jornada educacional começou na escola Levy Roberto, com a ajuda fundamental da professora Clarisse. Ela desempenhou um papel crucial no meu desenvolvimento, usando histórias para despertar meu interesse pela leitura. Através de suas aulas envolventes, aprendi a escrever meu nome e a reconhecer algumas palavras. Foi um momento decisivo, pois a leitura se tornou uma nova paixão, e comecei a entender a importância da educação para meu futuro.

Na casa dos meus avós, havia uma televisão e um aparelho de DVD. Enquanto meus avós escutavam música religiosa, eu comecei a explorar desenhos e filmes. Um dos meus favoritos era “Scooby-Doo”. Eu adorava acompanhar as aventuras de Scooby e seus amigos, tentando desvendar os mistérios e descobrir quem eram os verdadeiros “monstros”. Esses momentos de lazer foram importantes para meu desenvolvimento emocional e para a construção da minha imaginação.

Durante o período escolar, minha timidez era uma barreira significativa. Eu tinha dificuldade em interagir com meus colegas e em me expressar na sala de aula. No entanto, um projeto especial sobre a história da formiguinha foi um ponto de virada. A professora Clarisse introduziu um trabalho em grupo que envolvia cantar e apresentar para a turma. Esse desafio me ajudou a superar minha timidez e a me integrar melhor com meus colegas. A experiência me ensinou a importância da colaboração e da comunicação.

Na infância, a noção de dinheiro era bastante rudimentar. Eu só conhecia o valor de um real, que meus pais e avós me davam para comprar balas. Para mim, esse valor era significativo, pois era uma forma de adquirir algo que me trazia prazer. Aos sete ou oito anos, comecei a aprender noções básicas de matemática, como adição e subtração. Ajudar meus avós na feira livre foi crucial para desenvolver minha compreensão de somas e valores. Eu vendia café, requeijão, queijo e laranja, e essas atividades me deram uma perspectiva prática sobre a economia e a matemática.

Quando comecei a frequentar a escola, enfrentar problemas matemáticos era um grande desafio. A falta de atenção dos meus pais, que estavam ocupados com as tarefas da fazenda, e a necessidade de trabalhar para garantir nosso sustento contribuíram para a minha dificuldade inicial. No entanto, a escola foi essencial para meu progresso. A dedicação da professora Clarisse e minha motivação para aprender foram fatores determinantes para superar esses desafios.

Aos oito anos, comecei a entender o alfabeto e a escrever com mais clareza. Meu entusiasmo por escrever era evidente, e eu passava horas praticando, especialmente com o meu nome. A escola foi um ambiente fundamental para meu crescimento educacional, e o apoio dos meus avós, que tinham uma barraquinha na feira, foi vital para meu desenvolvimento.

Durante o ensino fundamental, lembro-me das aulas de história com a professora Dinorá. Aprendi sobre a evolução da sociedade desde o homem das cavernas até o Brasil contemporâneo. Esses conhecimentos foram aprofundados no ensino médio, onde explorei temas como a Descoberta, a Colonização, o Imperialismo e a República.

Em 2009, tive a oportunidade de estudar em uma escola maior, que possuía uma biblioteca bem equipada. Eu passava horas lendo o dicionário, sempre curiosa para descobrir o significado das palavras e expandir meu vocabulário. A presença de computadores nas bibliotecas também foi um marco importante, permitindo-me acessar novas informações e aprofundar meus conhecimentos.

Quando chegou o ensino médio, um mundo de descobertas se abriu à minha frente, mas que logo teve que ser interrompido devido a uma gravidez na adolescência, que ocorreu no segundo ano. Fiquei quase um ano afastada, pois a gravidez era de risco. De tempos em tempos, a escola me enviava uma prova ou outra para que eu fizesse em casa e não ficasse tão prejudicada. Graças a Deus, a gravidez seguiu com tranquilidade até o fim, e no ano seguinte retornei.

Atualmente, estou cursando Pedagogia e continuo buscando aprimorar minhas habilidades. Fiz um curso de magistério que me aprofundou ainda mais no amor pela leitura e pelo ensino. A rotina de trabalho tem limitado meu tempo para leitura, mas pretendo equilibrar melhor meu tempo entre estudos e leitura. A faculdade tem sido uma experiência enriquecedora, e estou ansiosa para aplicar o conhecimento adquirido para contribuir com a educação e ajudar outras crianças a superar desafios semelhantes aos que enfrentei.

Minha jornada desde a infância na fazenda até a atualidade tem sido marcada por desafios e superações. Cada etapa foi essencial para moldar quem sou hoje, e a educação desempenhou um papel fundamental em minha vida. Agradeço a todos que contribuíram para meu desenvolvimento e espero poder retribuir, ajudando outros a encontrar oportunidades e superar obstáculos.



SOBRE A AUTORA:

Ana Paula Chaves Lopes, de Pedra Azul/MG, é acadêmica da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), onde cursa Pedagogia. Produziu este relato na disciplina Práticas de Leitura e Produção de Textos, ofertada de julho a novembro de 2024.


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Um mundo de descobertas através da leitura

Um mundo de descobertas através da leitura

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Ana Carolina de Oliveira, Itamarandiba/MG

Sou a irmã mais velha de cinco irmãos e, desde pequena, tive inúmeras atividades em casa, como ajudar a cuidar dos irmãos menores e nas tarefas domésticas. Sempre fui apaixonada por leitura, e ir para a escola era meu sonho. Mesmo antes de começar a frequentar a escola, minha mãe me ensinou o alfabeto e os números, e eu sempre tive muita curiosidade para aprender coisas novas, o que despertava meu interesse em aprender a ler e escrever.

Iniciei na escola aos cinco anos e me lembro de que, ao começar a aprender a ler, eu parava para ler todas as fachadas nas ruas e fazia minha mãe me esperar para terminar de ler. Assim como os livros e revistas aos quais tinha acesso em casa, na escola e na igreja, eu juntava as sílabas e nutria um grande desejo de aprender a ler. Recordo que tinha um relógio despertador com aquele toque estrondoso que me acordava todas as manhãs para ir à escola. Quando ele parava de funcionar ou a pilha acabava e eu perdia a hora de ir à escola, chorava muito porque não gostava de faltar às aulas; realmente amava estar ali para aprender.

O tempo passou, e eu passei a ler rapidamente, o que foi uma vitória, pois agora poderia mergulhar no mundo da leitura. Na escola, havia um dia de leitura na biblioteca em que cada aluno deveria ler um livro e contar à supervisora o que havia lido. Lembro-me de uma vez em que fui à biblioteca e li o livro tão rapidamente que me perdi na história e não consegui explicar corretamente para a supervisora, que me chamou a atenção por isso. O que mais amava ler eram as histórias em quadrinhos; eu me sentia vivendo aquelas narrativas. Minha mãe e minhas tias me incentivavam a ler, dando-me livros e gibis.

Quando me reunia com meus primos na roça, debaixo de uma árvore, brincávamos de escolinha, fazíamos a lição de casa e eu gostava de ler as histórias e livros da escola, assim como usar feijões para somar e subtrair, ensinando minha prima, que tinha dificuldade em matemática, porque eu amava ensinar e brincar de ser professora. Também ajudava meus irmãos a fazer a lição de casa, utilizando lápis nas contas, feijões e o que tínhamos disponível.

Eu lia muito, e isso contribuiu para que eu tivesse uma boa escrita em comparação aos meus colegas. Gostava tanto de escrever que até escrevia cartas para o namorado da minha tia a pedido dela, pois ela não gostava de escrever. Achava isso o máximo e, em toda oportunidade, estava eu lendo ou escrevendo. Também amava copiar no quadro quando a professora solicitava; assim, escrevia a matéria e depois transcrevia para o meu caderno, o que me proporcionava ter mais contato com a escrita e a leitura. No entanto, percebo que os professores da época incentivavam a leitura e a escrita, mas não nos ensinavam a interpretar, o que ocasionou uma deficiência, visto que toda leitura requer interpretação.

Mesmo gostando de ler, também amo matemática e me recordo de que, no terceiro ou quarto ano do ensino fundamental, a professora nos pediu um caderno para a tabuada. Durante um tempo, todos os dias, ela solicitava que fizéssemos os fatos de 2 a 9 de multiplicação e divisão, e ainda nos chamava para perguntar, o que contribuiu muito para meu desenvolvimento com os cálculos. Os trabalhos de matemática eu fazia com êxito e ainda ajudava os colegas.

Os anos se passaram e, bem jovem, comecei a trabalhar como babá. Todos os dias, lia histórias infantis para a menina que cuidava, com tanto amor e entrega que ela decorou todos os livrinhos. Ela pegava os livros e falava como se estivesse lendo, mas na verdade havia decorado as histórias de tanto que eu as contava para ela. As tardes eram maravilhosas, despertando nela o gosto pela leitura, e hoje ela é uma moça super estudiosa e dedicada aos estudos. Depois, trabalhei com a mãe dela, que era uma professora que tinha uma escolinha de reforço. Ali, eu ajudava a ensinar as crianças a fazerem suas lições e a estudar para as provas, o que me permitiu ter mais contato com livros e números. Muitos achavam que eu tinha jeito para professora, me incentivando a fazer pedagogia ou áreas afins.

O contato que tive com a leitura ao longo do tempo foi fundamental para minha jornada estudantil. No entanto, com o passar dos anos, ao parar de estudar e com a correria do dia a dia, fui diminuindo o interesse pela leitura, lendo apenas livros que me interessavam. Hoje, para mim, é um desafio conseguir me sentar, concentrar e ler um livro acadêmico, pois às vezes não compreendo por ser uma leitura mais formal. Isso se deve ao grande incentivo que tive para ler, mas não ao mesmo para interpretar o que lia. Assim como o contato com os números, aprendendo cálculos e equações diversas, saí do ensino médio sem aprender nada de gestão financeira e investimentos.

Observo que o ensino que recebi era mais teórico do que prático, e hoje isso faz falta na realidade em que vivo, pois o mercado de trabalho exige muito de nós, mas a escola nos ensina muitas coisas que nunca utilizaremos. Ao ingressar em uma faculdade ou tentar um concurso público, percebemos o quanto achávamos que estávamos preparados e descobrimos que não estávamos. O ensino oferecido até o ensino médio é bom, mas pode melhorar muito mais para que possamos sair mais bem preparados para o mercado de trabalho e/ou para a faculdade.



SOBRE A AUTORA:

Ana Carolina de Oliveira, de Itamarandiba/MG, é acadêmica da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), onde cursa Pedagogia. Produziu este relato na disciplina Práticas de Leitura e Produção de Textos, ofertada de julho a novembro de 2024.


A orientação deste trabalho e a organização do e-book foram realizadas por Carlos Henrique Silva de Castro, Kátia Lepesqueur e Virgínia Batista.

Jornada tecnológica: da infância ao ensino contemporâneo

Jornada tecnológica: da infância ao ensino contemporâneo
Jane Beatriz Fernandes é acadêmica do curso Licenciatura em Educação do Campo (LEC), da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM). Jane é de Veredinha, Minas Gerais.

Meu primeiro contato com alguma tecnologia digital ocorreu em 2008, quando meus avós receberam um telefone fixo dos filhos que moravam em Belo Horizonte. Esse aparelho foi usado para falicitar a comunicação entre parentes de outras cidades e nossa família em Veredinha. Meu pai trabalhava fora, em outra cidade, e ligava para meus avós, minha mãe e para mim. Uma vez por dia, ele telefonava para nós através de um orelhão perto da casa que ele morava.

Minha mãe explicou que aqueles telefones eram um meio de comunicação à distância para que pudéssemos sentir meu pai próximo de nós. Naquela época, eu achava o telefone muito importante e diferente pois, além da comunicação oral, o outro meio que eu conhecia era através de cartas, que eu sempre fazia muitas para meu pai. Foi uma grande novidade para mim, durante a infância, um meio de comunicação imediato como a ligação por telefone.

Em 2010, minha mãe ganhou do meu pai um celular conhecido como “Nokia tijolão”, já que estava em outra cidade. Esse celular não possuía internet, sendo utilizado apenas para ligações. Aprendi não apenas a fazer ligações, mas também a enviar mensagens de texto. Com o passar do tempo, minha mãe ganhou outro telefone da marca Nokia, e o antigo ficou para mim. Comecei a utilizá-lo para conversar com familiares e amigos que também possuíam telefones.

Minhas interações com as tecnologias sempre foram positivas e moderadas. Minha mãe permitia que eu assistisse TV um pouco antes da aula e após chegar em casa, mas nunca antes de dormir para não prejudicar o sono. Durante minhas visitas à casa dos meus avós paternos, eles costumavam sintonizar a missa pelo rádio, enquanto os avós maternos preferiam ouvir modas de viola. Minha mãe considerava muito importante entender e saber usar os recursos tecnológicos que estavam sempre surgindo.

Aos doze anos de idade, ela me matriculou em um curso de informática para aprofundar o pouco que eu já sabia, pois eu mexia em um computador na casa de minha tia, que fazia licenciatura em Letras. Ela utilizava o computador para pesquisas, realização de trabalhos e atividades do seu curso. Aos treze, tive minha primeira rede social, o Orkut, uma febre na época, onde postava fotos, frases de músicas e sobre o cotidiano. 

Além do Orkut, criei uma conta no Facebook com ajuda de uma tia minha que morava em Curitiba, uma cidade no Paraná, e havia se mudado para minha cidade, introduzindo essa nova forma de comunicação para mim e minha família.

Em 2014, criei uma conta no Instagram para compartilhar fotos de momentos importantes. Além disso, baixei o WhatsApp no telefone e deixei de utilizar mensagens de texto por SMS, passando a enviar mensagens apenas pelo WhatsApp.

Minha mãe e minhas tias foram fundamentais para meu aprendizado com as tecnologias digitais, pois acreditavam que dominar esses avanços seria positivo para minha vida. Atualmente, uso frequentemente o WhatsApp e o Instagram para me comunicar virtualmente e compartilhar fotos e conteúdos de meu interesse. Para acompanhar as notícias diárias, acesso o site “g1.globo.com”.

Há diferenças no meu uso diário da tecnologia nas áreas acadêmica, profissional e pessoal. Normalmente faço uma distribuição de tarefas por horários para ter controle e organização, evitando o uso excessivo. Tenho participação ativa em redes sociais, compartilhando fotos e postagens que despertam meu interesse.

Contribuo com uma página do Instagram chamada “Girassol dos Vales”, que compartilha informações, trabalhos, cotidiano e vivências dos estudantes de Licenciatura em Educação do Campo. Nessa página, administro todas as postagens para alcançar o público desejado: futuros discentes e docentes interessados na licenciatura, ensino de alternância e na educação do campo. No WhatsApp, faço parte de grupos de troca de roupas, móveis, eletrônicos, entre outros, além de grupos familiares para facilitar a comunicação e grupos de interação do curso que estou cursando.

Antes do tempo universidade (TU), em minha comunidade, eu costumava acordar e acessar minhas redes sociais e e-mails, que traziam informações da universidade. Utilizava meu notebook para revisar trabalhos que seriam publicados antes do almoço. Por volta das 14:00 horas, reservava um tempo para assistir filmes ou séries na plataforma Netflix e, antes de anoitecer, registrava o que tinha sido feito no dia, como notas, trabalhos e provas dos estudantes que eu era professora, utilizando o diário online da escola.

Como futura educadora, pretendo utilizar, no atual cenário da educação contemporânea, tecnologias digitais que desempenhem papel de transformação e modernização do ensino. Hoje em dia, professores no geral, estão integrando ferramentas digitais em suas práticas pedagógicas para melhorar a eficiência do ensino, aumentar o engajamento dos alunos e facilitar a gestão de atividades educacionais.

Plataformas como o Google Meet ajudariam os estudantes a realizarem encontros virtuais para trabalhos e atividades coletivas, especialmente considerando o contexto do campo, que dificulta encontros presenciais.

Aplicativos de avaliação como o Quizlet e o Socrative seriam usadas para criar quizes interativos e avaliações formativas, oferecendo feedback imediato aos alunos para ajudá-los a identificar áreas de dificuldade e monitorar seu progresso. Recursos multimídia, como os do YouTube, poderiam aprimorar as aulas e facilitar a compreensão de tópicos complexos.

O uso das tecnologias para estudo, conversas, compras, entre outros, mudou completamente minhas práticas sociais, migrando todas as atividades diárias para as funções que o telefone oferece, como estudar, realizar pesquisas em artigos, tirar dúvidas com o Google e assistir a vídeos para compreender melhor os temas das disciplinas.

Pretendo criar um site ou uma página de publicações para estudantes e docentes, abordando temas diversos como sequências didáticas, histórias da comunidade onde moro, mestres de saberes e literatura local, por exemplo.

É claramente perceptível a diferença de usos entre culturas, amigos, familiares e comunidades, bem como entre diferentes gêneros e idades, devido aos recursos tecnológicos disponíveis para cada pessoa, à forma como acessam esses meios e à maneira como os utilizam. Meus sentimentos em relação às novas tecnologias são positivos, desde que saibamos utilizá-las de forma eficaz e crítica.

Na realização de trabalhos, o uso da Inteligência Artificial (IA), por exemplo, pode ser uma fonte de ideias valiosas, mas deve ser utilizada com sabedoria, pois absorve todo o conteúdo disponível na internet sem necessariamente considerar a qualidade das fontes. Fontes confiáveis como artigos, livros e revistas são essenciais para garantir credibilidade e evitar o risco de plágio.

Como futura educadora, planejo integrar essas tecnologias ao meu ensino, utilizando plataformas digitais para facilitar a aprendizagem, promover o engajamento dos alunos e tornar o processo educacional mais dinâmico e eficiente.

No âmbito pessoal, o episódio “Queda Livre” de Black Mirror me fez refletir sobre como as redes sociais, muitas vezes, nos levam a buscar validação através de uma vida perfeita. Assim como no episódio, onde as pessoas filtram apenas as partes positivas de suas vidas para obter aprovação digital, nas redes sociais modernas há uma tendência similar de exibir uma vida perfeita sem problemas.

Durante minha adolescência, eu me via comparando-me com outras pessoas , como suas viagens e experiências aparentemente extraordinárias, o que às vezes, me fazia sentir inadequada, com minha vida simples de estudante e “low profile” nas redes sociais. Com o tempo, percebi que as redes sociais eram um reflexo selecionado de algumas partes da vida real, onde as pessoas compartilham o que querem mostrar, muitas vezes buscando apenas engajamento, likes e aprovações.

Mudei e comecei a entender que é fundamental não me deixar influenciar demais pela comparação constante. Cada pessoa tem uma vida, cada pessoa tem uma maneira de lidar com a tecnologia diferente, sejam mais engajados ou não. Assim, tanto “Queda Livre” quanto minha experiência pessoal, destacam-se a importância de uma abordagem equilibrada ao utilizar as redes sociais, valorizando como hoje em dia as conexões reais e verdadeiras, não idealizadas, e mantendo uma perspectiva realista sobre a vida de cada um.

Recomendo o episódio ‘Queda Livre’ da série Black Mirror para uma reflexão sobre como as redes sociais moldam nossa busca por aprovação digital, mostrando tanto seu lado positivo quanto as armadilhas da comparação constante.

Vida: amor sem limites

Vida: amor sem limites

Os textos publicados individualmente nesta página podem ser lidos reunidos nos volumes da coleção Memórias de Letramentos. Para adquirir seu e-book gratuito ou impresso  pelo preço apenas do serviço de gráfica, clique no banner ao lado ou no fim da página.


Alice Cleia Lopes Pereira

Capelinha/MG

Nasci em uma família simples e humilde, e vou contar um pouco da minha história para vocês. Somos cinco irmãos, vindos de uma família simples. Desde pequenos, meus pais saíam cedinho para trabalhar. Conosco, em casa, vivia a minha avó, que era viúva; havia perdido o marido em um acidente no passado. Ela era nossa avó e babá ao mesmo tempo, e todos os dias, de manhã, meus pais, com aquela mesma rotina sofrida de trabalho duro na roça, saíam de casa bem cedo e só retornavam à tardezinha, com o sol se pondo. Vovó estava sempre ali, cuidando de nós.

Anos se passaram e aqui começa a fase mais empolgante e curiosa da vida de todos nós. Quando somos crianças, os pais chegam e falam com a gente: “Filho, te matriculei na escola. No ano que vem, você vai estudar.” Isso era no final do ano, para começar a estudar no início do próximo. A gente fica contando nos dedos cada dia e cada semana, ou seja, é um modo de dizer. Todo dia eu perguntava: “Mãe, que dia é hoje? Mamãe, falta muito para a escola começar?” A gente estressava a mãe tanto com as perguntas que ela quase dava umas varadas na gente.

Antigamente, em minha casa, o acesso a textos escritos era muito raro e difícil, pelo fato de morarmos em uma roça bem distante da cidade. O pouco acesso que tínhamos naquela época era através de livros e textos religiosos, como, por exemplo, a Bíblia.

Minha avó frequentava muito a igreja, como faz até hoje, e sempre recebia aqueles livrinhos de lições bíblicas. Então, levava para casa e nos dava para olharmos aquelas imagens de Jesus. Nós ficávamos tão felizes quando víamos e ouvíamos as histórias da arca de Noé, de Jesus e seus discípulos, Caim e Abel. Eu amava essas histórias, como a do irmão que tinha inveja do outro e acabou o matando, Sansão, e muitas outras.

Chegando ao fim do mês, meus pais iam à cidade fazer compras, e, como éramos cinco irmãos, havia aquela combinação: cada mês um de nós ia. Eu ia à cidade uma vez por ano e, quando chegava lá, via aqueles senhores de idade sentados nos bancos da praça, lendo aquele maravilhoso jornal. A gente, todo abobalhado, olhava com enorme curiosidade, perguntando por que os velhos ficavam escondidos atrás daquelas enormes folhas. Voltávamos para casa pensando naquilo tudo e contando os dias para voltar à cidade e ver aquela cena maravilhosa, que hoje, praticamente, no nosso dia a dia, não se vê mais.

Eu não gostava muito de ler, mas passei a conhecer a leitura e a gostar um pouco através de um livro chamado A Princesa de Théo, que uma colega havia me emprestado algum tempo atrás e contado uma parte do que acontecia no livro. Então, despertei o interesse em ler e gostei.

No ano de 2012, meu pai, Valdir Pereira Rodrigues, foi candidato a vereador. Gente, nessa hora eu falo que você sabe até quem é parente. As pessoas te menosprezam, te maltratam com palavreados, e outras usam a política para pedir. Entre esses constrangimentos todos, nos trajetos e caminhadas, tive a oportunidade de conhecer uma escritora maravilhosa: Marlene Mendes. Fui presenteada por ela com um de seus livros, Escrito no Olhar. Concluí então a leitura do livro que havia pegado emprestado anteriormente. Os livros publicados por ela são apaixonantes. Eu amava, e toda a juventude que lê também ama.

Voltando um pouco no tempo, sou de pouca memória, não me lembro muito bem de como e quando aprendi, mas lembro que eu já estava na escola e não conseguia somar nem diminuir. Minha mãe, para nos ajudar, ensinava a fazer uns risquinhos com o lápis e contá-los. Para diminuir, da mesma forma, ela fazia os risquinhos e apagava a quantidade que era para diminuir, contando quantos sobravam. E assim sucessivamente.

Quando cheguei à escola, tive uma dificuldade imensa de aprendizagem por ser tímida, e, até hoje, tenho essa dificuldade. Falando em somar e diminuir, me lembro de quando eu e meus irmãos íamos “catar café”. Na época, vendíamos o que chamávamos de “medidas”. Uma medida de café por 1 real. Quando chegávamos em casa, nossos pais ensinavam assim: “Tira 10 centavos para vocês comprar bala, vai dar três balas, o resto vocês juntam para comprar algo de mais valor quando forem à cidade.” Assim fomos aprendendo a somar com as moedas que guardávamos e a diminuir com as que tirávamos. A matemática, para mim, foi difícil, mesmo com os grandes esforços dos professores.

Tenho muito pouca lembrança de antes de frequentar a escola, de como aprendi a ler e escrever. As primeiras letras, lembro que minha avó, lendo o livro bíblico, nos ensinava as letras da capa do livro. E assim por diante, já comecei a ter curiosidade pelas letras e pelos números. Logo, os anos se passaram e era hora de começar a estudar. Comecei na escola com 7 anos de idade. Estava ali todo dia, mesmo sendo um sacrifício, como falei anteriormente. A escola era longe de casa, e não havia transporte coletivo.

Os anos foram passando, cada dia ficando mais difícil e mais cansativo, mas eu amava a nova experiência que era o estudo. Eram grandes as motivações dos professores, que estavam ali, tentando dar o máximo, impulsionando e ajudando da melhor forma, começando pelas histórias em tirinhas, frases e versos, para os alunos ficarem mais interessados pelo aprendizado.

Desde criança, eu “amava” ir à escola. No fundamental I, eu não podia perder um dia de aula. Eu chorava o dia todo; mesmo se fosse por doença, não queria saber. Com atestado em casa, minha mãe tinha que me deixar ir. Quando chegava à escola, passava mal e tinha que ficar esperando na secretaria até acabar a aula para ir embora. Junto, ia um bilhete para não deixar eu ir enquanto não melhorasse.

Já no fundamental II, as coisas se complicaram um pouco mais. Comecei a repetir de ano e a ter muita dificuldade no aprendizado. Eu estava chegando ao ponto em que o professor explicava a matéria, e eu não entendia nada. Nunca fui uma criança bagunceira na escola. Chegou a um certo ponto em que minhas notas escolares começaram a ficar muito baixas. Foi então que os professores começaram a reclamar para meus pais. Me lembro que, sempre que tinha reunião, eu apanhava ou ganhava um castigo, e isso só ia piorando cada vez mais.

Chegando ao ensino médio, ainda enfrentava a mesma dificuldade de aprender, guardar e memorizar as coisas. Um professor notou que, apesar de prestar atenção nas aulas e não brincar, minha nota era muito baixa. Ele percebeu que havia algo errado e me chamou em particular para ver o que estava acontecendo. Como eu disse a ele que não sabia o porquê, ele convocou meus pais sobre a situação e sugeriu procurar um tratamento para entender o que estava acontecendo. Passei então por um especialista em neuro e faço tratamento até hoje. Tomo medicamento para ansiedade, mas ainda não consegui superar essa parte do meu desenvolvimento e raciocínio. Tenho muita dificuldade.

No segundo ano do ensino médio, casei-me aos 16 anos e fui embora da minha cidade natal para Nova Serrana, à procura de emprego. Chegando lá, comecei a trabalhar durante o dia e estudar à noite, mas não consegui ir muito longe. Estava se tornando uma rotina muito cansativa e estressante a cada dia. Acabei abandonando os estudos.

Em 2012, retornei para minha terra natal. Estava desempregada, então comecei a me dedicar novamente aos meus estudos. Não estava trabalhando, mas tinha um filho pequeno, então foi um pouco complicado. Muitas vezes, tive que levar a criança para a escola, mesmo com o pai cuidando, mas a criança chorava muito. Com o apoio de toda a minha família, principalmente meu marido, que me apoia até hoje, estou onde estou. Só tenho que agradecer.

Sempre corro atrás para tentar melhorar minha leitura e escrita. Já fiz aulas para corrigir erros ortográficos, mas não tive sucesso. No início, a gente pergunta para que servem os números, mas, quando vamos crescendo e desenvolvendo, e precisando deles no dia a dia, sabemos o quão grande é a importância deles. Eles se tornam uma necessidade em praticamente tudo.

Agora que estou começando um novo nível da minha vida, com força e vontade para caminhar, aproveitar e desenvolver minha leitura e minha escrita, percebo que tudo na vida, nos primeiros dias, é complicado, até entendermos, compreendermos e pegarmos a prática dia a dia. As mudanças nas nossas vidas são novidades que vêm para renovar, trazer coisas novas e nos motivar.

Sempre que possível, tento me orientar, ler as matérias que os professores mandam, mesmo que, em um dia, já tenha esquecido tudo. Tenho preguiça, mas gosto de ler. Falando em texto, não só universitário, mas qualquer tipo de texto, tenho enorme dificuldade. Sempre há alguns gêneros adoráveis, como romance e relatos de viagens. A matemática, por sua vez, faz a diferença nas vidas de todos nós. Onde quer que se ande, precisamos dela. Gosto muito, mas não deixa saudades. Adoro a matemática simples, mas aquela matemática moderna de hoje, meu Deus, me deixa perdida.

Falando em condições financeiras, ainda não posso dizer muito sobre isso, pois não tenho um salário, não tenho uma renda, mas não sou aquela pessoa que gasta à toa, sem precisão. Consigo lidar em qualquer situação. Eu, particularmente, acredito que sim, administro muito bem. Não vou dizer 100%, mas 70% é o que afirmo hoje, na posição em que me encontro.



SOBRE A AUTORA:

Alice Cleia Lopes Pereira, de Capelinha/MG, é acadêmica da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), onde cursa Pedagogia. Produziu este relato na disciplina Práticas de Leitura e Produção de Textos, ofertada de julho a novembro de 2024.


A orientação deste trabalho e a organização do e-book foram realizadas por Carlos Henrique Silva de Castro, Kátia Lepesqueur e Virgínia Batista.

Aprender a ler e escrever sem ter o que comer

Aprender a ler e escrever sem ter o que comer

Os textos publicados individualmente nesta página podem ser lidos reunidos nos volumes da coleção Memórias de Letramentos. Para adquirir seu e-book gratuito ou impresso  pelo preço apenas do serviço de gráfica, clique no banner ao lado ou no fim da página.


Abelino Reis Sales, Fronteira dos Vales/MG

Na minha vida, tudo começou de forma difícil. Nasci em uma pequena cidade do interior da Bahia chamada Itanhém. Aos 4 meses de idade, fui abandonado pelo meu pai, que nem sequer quis colocar o nome na minha certidão de nascimento.

Minha mãe e minha avó foram as minhas bases familiares. Mulheres analfabetas, lavradoras do campo, plantavam e colhiam frutas da roça para levar até o mercado municipal da cidade de Itanhém/BA e vendê-las. Com os lucros, podiam trazer o sagrado alimento para o humilde lar.

No deslocamento entre a roça e a cidade Itanhém/BA, por vezes, minha mãe contava histórias sobre mitos folclóricos. Eram quilômetros de caminhada a pé para chegar até a cidade, mas, fizesse sol ou chuva, as duas mulheres guerreiras ainda assim levavam no lombo do seu jegue uma criança e balaios com farinha de mandioca, entre outros itens, para vender.

Fui crescendo e observando o modo de vida sofrido que essas pessoas levavam; contudo, não tenho recordações do que ocorreu na roça, lembrando apenas da vida na cidade. Lembro-me de que, aos 6 anos, surgiram as lembranças da escola, dos amigos de infância e do trabalho árduo de minha mãe para que seu filho pudesse estudar. Por vezes, ela trabalhava em casas de família para trazer apenas um pouco de alimento para que eu pudesse ir à escola.

Lembro-me de que, naquela época, só poderia ir para a escola com uniforme, porém minha família não podia arcar com os custos. A solução eram as doações de uniformes de estudantes do ano anterior, que não lhes serviam mais. Com eles, eu me vestia e ia para o colégio. Outra motivação era a merenda, alimento que não tinha em minha casa.

Não gostava de faltar às aulas por nenhum motivo, pois ali encontrava colegas, brincadeiras e voltava para casa de barriga cheia. Na minha sala de aula, havia muitas pessoas com mochilas, estojos, cadernos de capa dura, canetas de colorir, tênis, entre outros objetos que eu não possuía. Meu material escolar era uma sacola de pano onde levava um caderno brochurão, lápis, borracha e apontador, que era um pedaço de ponta de faca.

Na época da minha escola, nos anos iniciais, não sofri bullying e, mesmo sendo negro, nunca me senti discriminado. Contudo, a única separação que existia era que a turma A era dos filhos de professores e a turma B, do restante dos alunos.

Certa vez, aos 10 anos, escrevi minha primeira carta para minha querida madrinha, que havia me pedido que escrevesse contando o que eu queria de presente no meu aniversário. Eu escrevi que queria um carrinho de mão para poder trabalhar e ajudar minha mãe. Ganhei o carrinho de mão e comecei a pegar feira para as pessoas idosas, ganhando minhas primeiras moedas. Com elas, podia comprar um pastel ou alguma guloseima no intervalo da escola.

Na quarta série, percebi que tinha facilidade em matemática, pois comecei a aprender a decorar a tabuada e a tirar as melhores notas da sala e do colégio. Com isso, comecei a ser mais bem visto pelos colegas, a ser admirado pelas meninas e a ganhar notoriedade.

Minha forma de aprender era prestando atenção e memorizando o que o professor falava em sala de aula, pois os livros naquela época eram comprados. Como eu não tinha condições financeiras, escrevia tudo no caderno para fazer uma boa prova. No ensino fundamental, começou uma revolução, pois no colégio começamos a ter aulas de inglês e informática, uma situação nova para mim. Alguns colegas tinham computador em casa, e eu, como sempre, não tinha nem televisão nem geladeira. Para aprender inglês, alguns colegas diziam que assistiam a filmes e ouviam músicas estrangeiras. Com certa razão, inglês não é o meu forte.

Era preciso vencer todos esses obstáculos que a vida colocava na minha frente; e eu, como sempre, uma pessoa destemida, encarava tudo isso sem medo e sem vergonha, mantendo o foco. Ano após ano, eu fazia mais amigos na escola e era convidado para ir à casa dos colegas fazer trabalhos escolares. Muitos queriam ficar perto de mim para receber “cola” nas provas de matemática. Certa vez, no ensino médio, já nas provas finais, quando eu, claro, já havia alcançado as notas para aprovação no terceiro bimestre, fiz a prova de duas colegas para que não ficassem de recuperação.

Uma vez, peguei recuperação em história, e foi aquele chororô, pois jamais tinha acontecido. Mostrei novamente a minha capacidade intelectual. Peguei um livro na biblioteca, estudei durante duas semanas e, no dia da prova, fiz 95 pontos; ou seja, minha dedicação foi determinante.

Estudar é prazeroso, e na época da minha escola não havia recursos tecnológicos para imprimir provas. Lembro-me de que precisávamos levar papel “chamequinho” para as professoras usarem em nossas atividades. As atividades eram primeiro datilografadas e, depois, passavam por uma máquina manual chamada mimeógrafo, que magicamente transferia a tinta de um papel para o outro. Às vezes, até os alunos ajudavam.

Na minha rua moravam duas professoras. Uma delas sempre me dava revistas velhas para eu ler e recortar para fazer alguns trabalhos escolares. A gente percebia o quanto era corrida a vida delas, pois chegavam em casa com aquele monte de provas para corrigir, além de fazer plano de aula para o dia seguinte; era um amontoado de material. Eu, certa vez, ajudei-as a corrigir provas.

Hoje, entendo por que nossos pais, parentes e professores sempre diziam que, para ter um futuro melhor, “tem que estudar”. Assim, fui estudando e cheguei à graduação. No ensino médio, quando saí do interior para procurar uma vida melhor em Belo Horizonte/MG, tive dificuldade em concluir o terceiro ano.

A escola ficava cerca de 4 quilômetros da minha residência e, como não tinha dinheiro para pagar o ônibus, era uma hora de caminhada entre carros, motos e caminhões, o que atrasou minha formação. Na cidade grande, há inúmeros desafios, e os professores já não eram tão acolhedores como no interior. Além disso, as pessoas eram desconhecidas, com relações mais complexas do que aquelas que a gente conhece desde a infância.

Foi com muita luta, determinação, coragem e sabedoria que a minha história de vida mudou para melhor. Foi através da educação que conheci uma amiga e colega de classe chamada Enedineia, que me apoiou quando morei em Belo Horizonte/MG. Após o ensino médio, comecei a estudar matemática com ela.

Ela desejava fazer o concurso da PMMG (Polícia Militar de Minas Gerais). Eu, como sempre, não tinha dinheiro para comprar a apostila. Aos sábados, após o meu trabalho, deslocava-me a pé para o bairro onde ela morava, a uns 5 quilômetros do meu, e ensinava matemática para ela, além de aprender mais com as apostilas.

Comecei a ver que as matérias exigidas não eram muito difíceis, e foi ali, todos os fins de semana, ensinando e aprendendo, que ela falou: “Você tem capacidade de fazer essa prova.” Fiquei pensando, mas não tinha dinheiro para pagar a inscrição nem computador para fazê-la. Criei coragem e pedi um adiantamento ao meu patrão. Com o dinheiro, fui a uma lan house e fiz a inscrição.

Novamente, com esforço e dedicação, e com os conhecimentos adquiridos no ano de 2006, em meu primeiro grande concurso, com mais de 50 mil candidatos inscritos, fiquei entre os 2 mil classificados e ingressei como soldado na PMMG. Estou na instituição há 18 anos, na atual função de sargento.

E aquelas palavras de minha mãe e dos professores sempre serão levadas enquanto eu viver: “Estude, estude!” Acredito que a mudança em cada um de nós depende de sacrifício, dedicação e força de vontade.



SOBRE O AUTOR:

Abelino Reis Sales, de Fronteira dos Vales/MG, é acadêmico da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), onde cursa Pedagogia. Produziu este relato na disciplina Práticas de Leitura e Produção de Textos, ofertada de julho a novembro de 2024.


A orientação deste trabalho e a organização do e-book foram realizadas por Carlos Henrique Silva de Castro, Kátia Lepesqueur e Virgínia Batista.

Explorando o mundo tecnológico: minha primeira experiência

Explorando o mundo tecnológico: minha primeira experiência
Gessica Gomes de Almeida é acadêmica do curso Licenciatura em Educação do Campo (LEC), da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM). Gessica é do município de Cristália/MG.

Meu primeiro contato com alguma tecnologia digital foi em casa, quando meus pais me deram meu primeiro celular. Foi uma época de muita curiosidade e empolgação. Lembro-me como se fosse ontem quando o liguei pela primeira vez. A tela preta se transformou em um ambiente cheio de ícones e possibilidades. Foi mágico e um pouco confuso, mas a sensação de descoberta e novidade foi incrível.

No passado, costumava mandar SMS, pois não tinha dinheiro para colocar crédito, e jogava o joguinho da cobra. Com o tempo, essa atividade foi diminuindo até que se tornou algo que eu não faço mais. Lembro-me vividamente da primeira vez que baixei o Facebook. Foi uma colega minha que me ajudou, mas ela sabia minha senha e ficava acessando o meu Facebook, aceitando as pessoas sem me perguntar. Depois fui pegando a prática e aprendi a trocar a senha. Com o passar do tempo, eu baixei o WhatsApp. Foi incrível, na minha casa só eu tinha WhatsApp. Enviar minha primeira mensagem pelo “Zap” fez sentir como se tivesse o mundo ao alcance dos meus dedos. Entrar pela primeira vez no Facebook foi um pouco invasivo, mas também empolgante.

Minha família e amigos foram essenciais no meu processo de aprendizagem com as tecnologias digitais. Eles me ajudaram a superar desafios, entender novos conceitos e explorar todo o potencial que a tecnologia tem a oferecer. Uma coisa que mais gostava de fazer era passar trotes nas pessoas; na escola, era a melhor parte do dia, eu me divertia muito.

As páginas web, redes sociais e perfis que mais visito variam de acordo com meus interesses e necessidades. No entanto, algumas plataformas comuns que mais visito incluem redes sociais como Facebook, Instagram e WhatsApp. A escolha das páginas visitadas geralmente reflete meus interesses pessoais e profissionais. A única rede em que tenho contribuição é uma página no Instagram do nosso núcleo de alternância de Cristália, onde postamos tudo o que fazemos na prática de ensino.

Há diferenças significativas no uso diário de tecnologia em diferentes áreas da minha vida, como estudantil, profissional e atividade religiosa. Por exemplo, como estudante, a tecnologia é frequentemente utilizada para pesquisas, comunicação e produção de algum material. No ambiente profissional, a tecnologia desempenha um papel crucial em termos de comunicação, colaboração e produtividade.

Em atividades religiosas, a tecnologia que eu uso atende às necessidades da igreja, especialmente na comunicação. Cada área tem suas próprias necessidades no uso da tecnologia, adaptadas para cada momento em que preciso usar a tecnologia.

Minha participação em redes sociais envolve comentários, grupos de debates de colegas da faculdade. Eu não sou de postar comentários em notícias ou anúncios, mas às vezes curto a foto de alguma pessoa e até mesmo posto alguma foto de vez em quando. Gosto muito de compartilhar reels com minhas amigas e vídeos engraçados. Sou viciada em salvar figurinhas e compartilho com amigos e família. Lembro-me de que minha primeira Prática de Ensino foi em aulas virtuais, devido à pandemia. No primeiro momento, por falta de aceso, não pude me juntar com os professores e colegas.

Posteriormente, pude participar das tarefas que resultariam em um podcast. Foi uma experiência incrível e ao mesmo tempo desafiadora, pois não tinha noção de como fazer aquilo. Então procurei ajuda em uma rede social, o YouTube, onde pesquisei como fazer, qual aplicativo baixar, foi aí que deu tudo certo graças a Deus.

Na comunidade, as únicas tecnologias digitais a que tive acesso são meu celular e a televisão. Considerando um dia comum, como o domingo, dia 14/07/2024, a única tecnologia digital que tive acesso foi meu celular. A primeira coisa que fiz ao acordar foi mandar mensagem para minha mãe para ver como ela estava. Mais tarde, usei um editor de texto para fazer um trabalho da faculdade.

As novas tecnologias podem ser utilizadas para estudar, fazer compras online, entre outros. Eu acesso muito a Shein e o Mercado Livre para compras. A tecnologia digital transformou nossa maneira de comprar e interagir. As práticas sociais mudaram muito em função das tecnologias. Lembro-me que eu anotava meus contatos em uma caderneta, sem contar as receitas que eu tinha em um caderno de receitas. Hoje, com o uso da tecnologia, uso agenda digital e busco na Web o que eu quero fazer para comer.

No futuro, pretendo utilizar tecnologias digitais para aprimorar o aprendizado, explorar ainda mais recursos online para aprimorar meus conhecimentos e habilidades em diferentes áreas. As diferenças no uso de tecnologia entre gerações mais velhas e mais novas são significativas e influenciam diversos aspectos da vida cotidiana.

As pessoas mais velhas, como meu pai e meus avós, não tiveram acesso às tecnologias como temos hoje. Minha mãe aprendeu depois de velha a mexer no WhatsApp, que usa para mandar áudio para seus filhos e amigos, já que ela não tem nenhum estudo. Achei bem legal quando ela aprendeu a acessar o WhatsApp, algo que para ela foi muito inovador.

Por outro lado, as gerações mais novas estão imersas em um ambiente tecnológico em constante evolução. Com isso ,tem origem em uma nova cultura, a chamada cibercultura, na qual é possível estar conectado o tempo todo. Meus sentimentos em relação às novas tecnologias são positivos, pois elas têm o potencial de facilitar a comunicação e promover a inovação em diversos setores. A tecnologia digital abre portas.

As experiências mais positivas com as novas tecnologias incluem a melhoria da eficiência, a facilitação da comunicação e a inovação em diversos setores. Por outro lado, as experiências negativas podem estar relacionadas à falta de segurança, barreiras de acessibilidade e problemas de experiência para a maioria das pessoas.

Como professora, eu usaria e incentivaria o uso de tecnologias digitais para aprimorar o processo educativo, promover a participação ativa dos alunos e prepará-los para o mundo moderno. Para encerrar, deixo a indicação de um filem que gosto muito, X-Men, que pode ser assistido por todas as gerações e aborda temas como acessibilidade, diversidade e coexistência.

Apresentação

Apresentação

Logo abaixo pode ser lido o texto de apresentação do sexto volume da coleção Memórias de Letramentos. Cada um dos 50 textos serão publicados nesta página, além do formato e-book e impresso (clique no banner ao lado ou no fim da página.

É com satisfação que apresentamos uma nova coletânea de narrativas, a sexta da série, que reflete diferentes experiências de vida marcadas por práticas sociais com a leitura, a escrita, os números e as aprendizagens decorrentes. Trata-se de cinquenta textos que nos levam a refletir sobre a importância da educação em nossas vidas e o poder transformador da palavra escrita e da leitura de mundo.  Os autores e autoras são futuros pedagogos, estudantes da disciplina Práticas de Leitura e Produção de Textos, em que o processo de escrita e edição deste livro ocorreu. Neste volume, desde os primeiros anos de vida até os desafios da vida adulta, cada autor e autora compartilha suas memórias, aprendizados e reflexões sobre o papel da escola, da família e de suas relações sociais em suas trajetórias com as letras e os números.

Essas histórias vêm sobretudo de Minas, mas os cenários da Bahia e de São Paulo também têm espaço. As professoras e professores aparecem como os maiores influenciadores da leitura, junto a algum parente ou madrinha. Ganhando destaque especial nos corações, estão as professoras Clarisse, Dinorá, Lilian, Eriene, Eliana, a Tia Luiza e o Tio Zezinho. Entre os futuros professores, há filhos de professoras e uma escritora em formação, usuária bem-sucedida de ferramentas típicas da era digital, como Wattpad e Kindle. O acesso à leitura, às vezes, era dificultado até pela burocracia de uma biblioteca ou outra, mas elas também são cenário de lindas viagens e descobertas. As barreiras nunca foram poucas para grande parte desses sujeitos dos Vales de Minas, como o acesso, a timidez e até uma língua presa, mas a superação dos desafios dá o tom dos relatos aqui reunidos.

Sobre as experiências de leitura, os clássicos infantis e infantojuvenis são os mais citados, a exemplo dos gibis. Clássicos como nacionais como A Turma da Mônica, Sítio do Pica-Pau Amarelo e O Barquinho Amarelo perpassam as experiências literárias junto a clássicos universais do gênero como Chapeuzinho Vermelho, Pinóquio e João e o Pé de Feijão. Na infância, é notável como a Bíblia já faz parte da rotina da maioria das famílias. Mais tarde, sobretudo por influência da escola, outros clássicos e diferentes épocas foram apresentados à maioria dos autores desses 50 relatos. Do século IXX, são citadas as obras Dom Casmurro, Quincas Borba, Memórias Póstumas de Brás Cubas, Iracema, O Guarani e Senhora. Ora acompanham o nome do autor, ora o foco são as personagens e ó título da obra. Antes disso, apenas o shakespeariano Romeu e Julieta é citado. Do século XX aparecem autores de prosa e poesia como Clarice Lispector, Cecília Meireles, José Lins do Rego, Vinícius de Moraes, Jorge Amado e Maria José Dupré.

De maneira geral, autores e autoras demonstram orgulho de suas trajetórias e conquistas, como fazer o tão sonhado curso superior em uma instituição pública federal. É fundamental destacar a importância de trazer mais um grupo de narrativas dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, regiões ricas em história, cultura e linguagem. Essas áreas, muitas vezes negligenciadas, possuem um vasto repertório de experiências que merecem ser compartilhadas.

Que este livro seja um convite para explorar as experiências e particularidades de letramentos de cinquenta autores e autoras, futuros professores e professoras, bem como celebrar essa diversidade de vozes, que se somam às outras 148 das cinco edições anteriores, enriquecendo nosso debate sobre aprendizagem e ensino das letras e sobre uma leitura mais genuína do mundo.

Carlos Henrique Silva de Castro, Kátia Lepesqueur e Virgínia Batista (Orgs.)

Outubro de 2024

Conectada desde a infância: como a tecnologia digital moldou minha vida

Conectada desde a infância: como a tecnologia digital moldou minha vida
Gabriela dos Santos Cardoso é acadêmica do curso Licenciatura em Educação do Campo (LEC), da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM). Gabriela é da Comunidade Quilombola do Paiol, município de Cristália/MG.

Meu primeiro contato com alguma tecnologia digital foi aos 11 anos. Minha mãe me presenteou com um celular Samsung com tema da Barbie e esse dispositivo não apenas facilitou a comunicação por ligação com ela, mas também marcou meu início no mundo digital. Além disso, ganhei um tablet para meu entretenimento, o que era muito útil, especialmente porque eu passava grande parte do tempo em casa sozinha enquanto minha mãe trabalhava.

Durante minha pré-adolescência e adolescência, esses aparelhos se tornaram ferramentas essenciais para mim. Eu os utilizava para realizar atividades escolares, como pesquisas para as tarefas de casa, além de me divertir com jogos online e assistir a vídeos no YouTube.

Atualmente, meu uso de tecnologias digitais expandiu-se significativamente. Uso-a diariamente para acessar notícias atualizadas, realizar pesquisas acadêmicas e concluir meus trabalhos do curso. Essas ferramentas digitais são muito importantes para me manter informada e também para a comunicação com minha família e amigos. Estou sempre atualizada sobre eventos que acontecem no mundo. As redes sociais que mais frequento são WhatsApp, Instagram e o X antes chamado de Twitter. No entanto, minha participação é principalmente como observadora nessas redes, preferindo manter um perfil mais discreto ou como chama nas redes sociais um perfil “Low profile”.

Acompanhando um dia da minha vida, utilizo a tecnologia digital desde o momento em que acordo pela manhã até a hora de dormir à noite. Sempre estou conectada e com meu celular em mãos. Pela manhã, enquanto tomo meu café, navego pelos sites para ver as últimas notícias do mundo e as fofocas que estão circulando. Durante o dia, continuo mexendo e entrando em redes sociais como WhatsApp, Instagram e outras. À noite, gosto de assistir a séries ou filmes na Netflix ou em outras plataformas.

Quando penso no futuro, tenho a intenção de continuar explorando novas tecnologias que possam aprimorar minha produtividade e adquirir novas habilidades. Quero aprender novas plataformas e ferramentas que facilitem ainda mais minha vida acadêmica, profissional e também proporcionem diversão e entretenimento nos momentos de lazer.

Observo diferenças significativas na forma como diferentes gerações em minha família e entre meus amigos utilizam a tecnologia. Por exemplo, meus avós usam tecnologia de maneira mais básica, limitando-se a fazer ligações, assistir TV e ver vídeos enviados em grupos ou por meio de aplicativos como TikTok e Kwai. Já os mais jovens, como meus amigos e colegas da faculdade, estão constantemente com seus celulares, não apenas para comunicação, mas também para aprender, pesquisar e se divertir. Eles postam fotos, interagem, comentam e curtem publicações.

Quando tenho algum trabalho acadêmico para fazer, reduzo o tempo nas redes sociais e foco em visitar sites com artigos, livros e documentos que me ajudem na realização das tarefas. Busco referências bibliográficas e assisto a vídeos online sobre o assunto. Durante o Tempo Universidade (TU) do curso da LEC (Licenciatura em Educação do Campo), utilizo bastante as tecnologias digitais e suas ferramentas para realizar atividades, trabalhos e apresentações em formato de seminários. Para criar slides de apoio nas apresentações, gosto de usar o aplicativo chamado Canva, que facilita muito o processo.

Minha jornada com as tecnologias digitais não apenas facilitou minha comunicação desde a pré-adolescência, mas também moldou minha percepção sobre elas desde cedo. A habilidade de acessar informações com um clique é incrível. No entanto, ao entrar na graduação, percebi que ainda tinha muito a aprender sobre ferramentas digitais específicas. Por exemplo, precisei aprimorar minhas habilidades para editar e trabalhar com planilhas no Excel. Sempre há algo novo para aprender com as novas tecnologias digitais.

Além das diferenças de idade, percebo que cada cultura utiliza a tecnologia de maneira distinta. Por exemplo, minha família que mora no interior de São Paulo tem hábitos diferentes dos meus familiares aqui em Minas Gerais. Em São Paulo, a tecnologia faz parte do dia a dia deles, sendo mais amplamente utilizada do que aqui em MG, onde vejo que é empregada de forma mais prática. Além disso, as diferenças de idade e gênero também influenciam bastante, com cada grupo preferindo certos tipos de aplicativos e plataformas.

Eu me sinto muito positiva em relação às novas tecnologias porque elas fazem uma diferença enorme na minha vida. Desde o primeiro celular que eu tive até as ferramentas que uso para estudar hoje em dia, elas facilitam minha comunicação, me mantém informada sobre tudo e ajudam muito na minha produtividade. Mas também reconheço que é um desafio ficar sempre atualizada com tantas mudanças e aprender novas coisas o tempo todo.

As minhas experiências positivas incluem o fácil acesso a informações e materiais educativos online, que são ótimos para aprender e na realização dos meus trabalhos acadêmicos. No entanto, às vezes as tecnologias podem causar problemas, como passar tempo demais online e esquecer de viver a vida fora das telas ou até mesmo desaprender a ler um livro físico. Também é importante lidar com conteúdos negativos que podem aparecer em redes sociais para aqueles que gostam de postar ativamente.

Como futura educadora do campo, vejo muitas oportunidades nas tecnologias digitais para transformar a forma como ensinamos. Pretendo usar plataformas online para compartilhar materiais, adaptando-os à realidade da escola e dos estudantes. Além disso, ensinar habilidades digitais importantes para o mundo atual é essencial, levando os multiletramentos para os alunos.

Os gêneros textuais são fundamentais no ensino de Linguagens, são dinâmicos e refletem as mudanças na sociedade e na tecnologia. Os tipos de textos que ensinamos, como cartas ou notícias, mudam ao longo do tempo. Por isso, é essencial não só ensinar os tipos tradicionais, mas também preparar os alunos para novos tipos de textos que surgem com a tecnologia. Isso inclui aprender a escrever e analisar sites e redes sociais. Essas práticas e atividades ajudarão a melhorar o uso e a escrita dos alunos nas tecnologias digitais.

As tecnologias digitais têm transformado significativamente minha vida, não apenas facilitando o acesso à informação, melhorando meus estudos e comunicação, mas também impactando aspectos emocionais e espirituais. Os filmes sempre desempenharam um papel importante para mim, seja como entretenimento ou fonte de reflexão profunda. Um filme que marcou positivamente minha jornada foi “As Aventuras de Pi”, pois me fez refletir profundamente sobre a vida e a fé.

As Aventuras de Pi” é uma obra que mergulha profundamente na jornada espiritual e emocional de seu protagonista, Pi Patel. Perdido no mar em um bote salva-vidas com um tigre de Bengala, Pi enfrenta desafios que testam não apenas sua sobrevivência física, mas também sua fé. A narrativa habilmente entrelaça elementos de diferentes religiões, destacando como a fé pode ser uma fonte de força e esperança inabalável, mesmo diante das circunstâncias mais extremas.

A fusão de efeitos visuais avançados com a narrativa envolvente de Yann Martel criou um mundo cinematográfico que não apenas ilustra os desafios físicos de Pi, mas também visualiza suas jornadas espirituais e emocionais de uma maneira muito emocionante. Deixo aqui a indicação do filme.

Relembrando a minha vida na escola

Relembrando a minha vida na escola

Os textos publicados individualmente nesta página podem ser lidos reunidos nos volumes da coleção Memórias de Letramentos. Para adquirir seu e-book gratuito ou impresso  pelo preço apenas do serviço de gráfica, clique no banner ao lado ou no fim da página.


Adenilda Alves dos Santos, Cristália/MG

No ano de 1994, quando eu tinha quatro anos, eu já frequentava a escola, pois morava na zona rural e minhas irmãs mais velhas iam para a escola e eu não queria ficar em casa; chorava se dissessem que eu não ia. Por isso, me matricularam depois de mais de dois anos de estudo. Na minha casa não havia acesso a textos, somente na escola onde a professora levava os livros.

A professora me incentivava muito. Quando completei sete anos, idade em que fui matriculada, já conhecia várias letras. Lembro que, entre seis e sete anos, tive uma tristeza inesquecível. Estava na escola com minhas irmãs quando um vizinho chegou à minha casa e descobriu que minha mãe havia falecido no chão. Ele gritou para a professora, que estava bem perto da escola, e ela nos dispensou. Ao chegarmos em casa, encontramos meu irmão, que tinha um ano e meio, chorando. Nesse dia, meu pai estava trabalhando.

Depois desse acontecimento, fiquei muito triste, e até hoje sinto essa tristeza. No entanto, devo me esforçar para me conformar. Com o passar dos anos, a tristeza aumentou, pois éramos muito crianças naquela época.

No ano em que comecei a ir à escola, ninguém veio me presentear com livros. Acho que na época era mais difícil, somente nossos professores os tinham. Lembro-me de que aprendi a contar aos sete anos. A professora usava caroços de milho e feijão para nos ensinar. Nessa idade, aprendi a contar até 20. Entrei na escola com quatro anos, mas me matricularam aos sete.

Lembro-me de que conheci as moedas antes de ir à escola, mas não sabia seu valor. Aprendi a conhecer o valor do dinheiro aos dez anos e, com oito, aprendi a ler as horas no relógio. Com dez anos, aprendi a somar e a subtrair, que chamamos de adição e subtração. Nossa, eu adorava e ainda adoro essas continhas!

Depois de algum tempo, comecei a aprender multiplicação e divisão, mas a divisão foi um pouco mais complicada. Eu gostava muito dos problemas matemáticos; achava muito fácil da primeira à quarta série. As continhas eram bem simples na quinta série. Na oitava série, achei mais ou menos, mas aprendi muito com os professores, que eram esforçados e queriam nos ver alfabetizados.

Meu pai não teve estudo suficiente para me ensinar, mas ele sabe ler, escrever e até fazer algumas contas. Nos letramentos matemáticos, me avalio de dez a oito pontos. Quando comecei a frequentar a escola, não sabia nenhuma letra. Apesar de ter iniciado muito jovem, quando completei sete ou oito anos, me dediquei muito a aprender. Tinha força de vontade de verdade. Lembro que a professora falava que ia fazer uma leitura; assim que terminava a aula, eu ia pelo caminho treinando a leitura, até mesmo as atividades que ela passava para mim. Entre os oito e dez anos, sentava debaixo de uma árvore para fazer as atividades, e fazia tudo antes de chegar em casa.

Nos primeiros anos de escola, eu era motivada a escrever. A professora me elogiava muito por isso. Gostava de escrever textos que continham rimas e me avalio no papel de escrita inicial de dez a oito pontos. No ensino fundamental, me lembro de textos e poemas, mas no ensino médio, devido ao número de livros, não consigo lembrar de tudo.

Na minha escola, no ensino médio, os professores nos davam liberdade para ir à biblioteca ler livros. Isso era muito enriquecedor para mim. Ao longo da minha vida escolar, houve mudanças na escrita; aprendi a escrever melhor. Na escola, escrevíamos rápido, devido ao pouco tempo, e as letras não ficavam muito legíveis. As práticas com os números faziam sentido, pois várias vezes surgiam necessidades de contar e conhecer os números.

Neste primeiro ano de universidade, por enquanto, não consigo explicar muito devido ao pouco tempo, mas creio que minha escrita e leitura vão melhorar. As mudanças trarão coisas positivas e negativas: a positiva é aprender mais do que já sei; a negativa é a dificuldade e tenho que não desistir diante delas.

Gosto muito de ler o que os professores orientam e faço o possível para isso. Não tenho tanta facilidade com os gêneros universitários. Ao longo da minha vida escolar, no ensino fundamental, línguas e matemática eram bem mais fáceis; já no ensino médio foi um pouco mais difícil, mas consegui superar e alcançar um pouco mais da média. Imagino que sou capaz de lidar com os desafios que envolvem números e letras.

Lembro que, quando comecei a estudar no ginásio, na quinta série, na cidade de Cristália, andava a pé oito quilômetros para chegar até o ponto do ônibus escolar. Foi uma luta imensa. Saía de casa às nove e meia da manhã para chegar ao ponto às onze e meia e entrar na sala de aula às doze e meia. Isso durou três anos. Nos últimos anos, o carro chegava mais perto de casa, mas consegui vencer o ensino médio.

Hoje sou casada e tenho um esposo amigo e companheiro que sempre me apoia na faculdade. Ele me ajuda muito. Tenho três filhos: os dois primeiros são gêmeos e têm doze anos, e o outro tem cinco. Todos são apaixonados por estudar, assim como eu era na idade deles.



SOBRE A AUTORA:

Adenilda Alves dos Santos, de Cristália/MG, é acadêmica da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), onde cursa Pedagogia. Produziu este relato na disciplina Práticas de Leitura e Produção de Textos, ofertada de julho a novembro de 2024.


A orientação deste trabalho e a organização do e-book foram realizadas por Carlos Henrique Silva de Castro, Kátia Lepesqueur e Virgínia Batista.

Do Nokia ao notebook: minhas memórias com as tecnologias digitais

Do Nokia ao notebook: minhas memórias com as tecnologias digitais
Cláudia Cristina Ribeiro é acadêmica do curso Licenciatura em Educação do Campo (LEC), da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM). Cláudia é de São Gonçalo, município do Serro, Minas Gerais.

Meu primeiro contato com a tecnologia foi marcado por uma época de simplicidade. Aos 11 anos de idade, utilizava o celular da minha mãe, um Nokia sem internet, que foi a porta de entrada para o mundo digital. O famoso “Nokia tijolão”, possuía o clássico jogo da “cobrinha”, um jogo simples que me proporcionava momentos de diversão.

Antes da popularização das redes sociais, meus dias eram preenchidos por outras formas de entretenimento. Eu ouvia todos os dias a rádio que meus pais ligavam enquanto preparavam o café da manhã, que os mantinham informados sobre as notícias diárias e as músicas do momento. Assistia a televisão, aproveitando os desenhos animados e os filmes da “sessão da tarde”.

Em 2012, a inauguração de uma lan house em minha comunidade, São Gonçalo do Rio das Pedras, marcou o início de uma nova fase. Foi ali o meu primeiro contato com o computador, o mouse e a internet. As redes sociais, o Orkut, MSN, Google e YouTube, marcaram a vida dos jovens naquela época. Eu me conectava com amigos, divulgava mensagens motivacionais, assistia videoclipes e acessava jogos. Meus amigos, que já dominavam a tecnologia, me auxiliaram no processo de manusear as redes sociais. Com o passar dos anos, minhas prioridades mudaram, e meu interesse por essas atividades diminuiu, enquanto outros interesses surgiram.

Ao completar 14 anos, ganhei meu primeiro celular, um presente de aniversário do meu padrinho. Em 2015, minha mãe me presenteou com um notebook, uma ferramenta que, embora eu não soubesse usar completamente no início, se tornou fundamental para assistir a filmes, ouvir músicas, fazer pesquisas e mergulhar ainda mais no universo digital.

Com o tempo muita coisa mudou e, hoje em dia, estou mais conectada à era digital; a tecnologia me acompanha desde a infância e continua presente na minha vida adulta. Por meio da tecnologia, acesso informações do dia a dia, mantenho comunicações, trabalho e estudo. Prefiro usar o WhatsApp para diálogos mais informais e os e-mails para manter-me conectada no trabalho e nos estudos.

Nas redes sociais, mantenho uma participação ativa, integrando grupos de WhatsApp dedicados a vendas, divulgação de notícias e informativos. Promovo votações em petições e, quando considero apropriado, faço comentários em publicações, especialmente quando acredito que minha opinião possa oferecer uma contribuição significativa.

Atualmente, a tecnologia é uma ferramenta essencial para a produção de trabalhos acadêmicos na minha graduação em Licenciatura em Educação do Campo (LEC). Utilizo-a para criar vídeos, podcasts, redigir trabalhos e participar de práticas de ensino e de outros projetos, como o Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (PIBID).

Na minha comunidade, um dia antes de vir ao TU – Tempo Universidade, estive em contato com a tecnologia em diversos momentos. Pela manhã, ao despertar, verifiquei as mensagens no celular e consultei meu horóscopo. Também chequei à caixa de e-mails, aguardando alguma informação nova sobre o TU. No trabalho, nesse mesmo dia, finalizei o fechamento do bimestre das turmas na escola em que atuo como professora, lançando as notas e editando documentos. Acessei o Instagram como parte da minha rotina diária para descontrair.

Além das diversas maneiras pelas quais utilizo a tecnologia, pretendo empregá-la para criar conteúdos educativos, pois estou me formando para trabalhar como docente. Tenho a intenção de produzir canais de revisão de textos e criar questões para vestibulares, visando ampliar o conhecimento na área. Também planejo contextualizar as aulas de Língua Portuguesa com o uso prático das tecnologias digitais, integrando-as na sala de aula. Em um século em que a tecnologia está cada vez mais presente no cotidiano das pessoas, é essencial que ela também faça parte do contexto escolar.

Assim, observo que a geração de pessoas mais idosas, muitas vezes, é menos familiarizada com as tecnologias digitais e, frequentemente, enfrentam dificuldades para manuseá-las de forma correta. Isso leva muitas dessas pessoas a optarem por métodos mais tradicionais, que consideram mais eficazes dentro de suas visões de mundo.

Entretanto, a geração mais nova, ao contrário dos idosos, é mais adepta das tecnologias digitais e a utiliza de forma natural, devido à sua maior abertura às novas ideias e mudanças. As crianças, que já nascem em um ambiente digital, se adaptam e se relacionam com facilidade com as tecnologias.

Em relação às tecnologias utilizadas no tempo da comunidade, houve mudanças notáveis no período do Tempo Universidade. Na minha comunidade, acessava diariamente o DED – Diário Escolar Digital, pois a ocupação principal era com o trabalho e os estudos acadêmicos. Atualmente, com o período de aulas presenciais, meu contato com as tecnologias se ampliou para incluir ferramentas como Google Classroom e Google Docs.

Com o passar do tempo, algumas práticas sociais mudaram em função da tecnologia. Nos meus estudos anteriores, tinha preferência por utilizar cadernos e livros físicos. Também produzia listas de compras de forma manual, uma vez que, na época, o acesso às tecnologias digitais era limitado.

Posteriormente, passei a me adaptar às tecnologias digitais e tenho utilizado o celular e o notebook para diversas atividades, como produzir trabalhos acadêmicos, realizar tarefas profissionais, criar listas telefônicas, agendar encontros, promover conversas e acessar aplicativos. O Google Maps, por exemplo, tornou-se uma ferramenta essencial para localizar e me orientar em diferentes lugares. Além disso, as compras online tornaram-se uma prática corriqueira, permitindo-me adquirir produtos sem sair de casa e frequentemente a preços mais justos. Essa percepção indica que as culturas também influenciam a forma como as pessoas lidam com as tecnologias digitais.

Em alguns lugares, as novas tecnologias são usadas predominantemente como meio de comunicação, enquanto em outros são utilizadas principalmente para fins profissionais. Embora a diferença de gênero não tenha um impacto significativo no uso das tecnologias digitais, as diferenças etárias têm uma influência considerável na maneira como as pessoas interagem com essas ferramentas.

Reconhecendo a facilidade com que as gerações mais novas se adaptam às tecnologias digitais, como futura docente, pretendo utilizar essas ferramentas de maneira estratégica e inovadora no processo de ensino. Incorporar tecnologias para gerenciar atividades, plataformas de criação de conteúdo digital e interativos para manter contato com estudantes e enriquecer a experiência educacional.

Com as tecnologias, somos capazes de proporcionar experiências cinematográficas ricas e imersivas, explorando uma vasta gama de filmes e vídeos que têm um impacto significativo em nossa educação.

As tecnologias não apenas nos permitem assistir e a participar de histórias inspiradoras, mas também nos capacita a explorar profundamente seus temas, universais ou locais, como perseverança, autodescoberta e superação de obstáculos.

Nesse contexto, gostaria de indicar um filme que marcou minha infância escolar: “Prova de Fogo: Uma História de Vida”. Este filme emocionante narra a jornada de Akeelah, uma jovem de 11 anos com um talento excepcional para soletrar, enfrentando desafios pessoais e sociais enquanto se prepara para um concurso de soletração.