Alcione Aparecida Ferreira [1]
Sou filha de Afonso Fernandes e Ivanildes Venância e irmã de Wilson Elias, quatro anos mais velho que eu. Somos campesinos e moradores da comunidade Botafogo pertencente ao município de Santo Antônio do Itambé-MG. Quando criança, adorava brincar de professora. No meu quarto, escondida dos meus pais, fazia riscos atrás da porta com pedaços de barro, pois ainda não sabia escrever, e alegremente pensava estar lecionando. Muitas vezes, na varanda, improvisava uma sala de empresa, em que eu sonhava ser secretária e, com os materiais escolares do meu irmão, riscava o papel como se fizesse anotações importantes. Meu pai sempre percebeu que eu tinha grande interesse pela escola, então, aos cinco anos de idade, deu-me um caderninho, um lápis de escrever e uma borracha. Sempre que tinha um tempinho, sentava comigo para me ensinar a escrever meu nome. Lembro-me da época em que minha casa ainda não tinha luz, e sentávamo-nos no banco da cozinha com a lamparina acesa. Meu pai lia a bíblia, e rezávamos o Terço e o Ofício de Nossa Senhora com um livrinho que eu sempre folheava.
Aos seis anos, entrei na Escola Municipal de Botafogo, como havia grande demanda de alunos e as salas de aula eram poucas, criaram turmas multisseriadas. No meu primeiro ano na escola, a professora ensinava apenas a escrever o nome, alguns números e as vogais. Nisto, eu levava vantagem, pois já sabia escrever meu nome completo. Lembro-me bem de minhas professoras, Vanir, Rosângela, Rosilene e Marielene, mas, principalmente, da primeira professora, a tia Vanir, como era conhecida. Ela sempre gostou de músicas, então colocava canções para cantarmos e dançarmos na sala de aula. As músicas de que mais gostava eram: A pulga e o percevejo, A barata, A canoa virou e Cantigas de roda.
A partir da segunda série, fazíamos pequenas redações praticamente todos os dias. Eu adorava ler as minhas para a turma e ilustrá-las, porque ganhávamos prêmios com a atividade. Os temas eram voltados à nossa imaginação e todos os alunos viajavam no universo imaginário. Eu sempre iniciava meus textos com um ‘‘era uma vez’’ para marcar o caráter fictício das histórias. Havia, também, o projeto “Semeando” cujo objetivo era valorizar a terra através de narrativas dos livrinhos dos personagens Torrãozinho e Sementinha. Ainda na segunda série, quebrei a clavícula ao correr para a catequese, ficando o braço direito engessado e preso, mas que não me impedia de fazer as atividades escritas. Minha atitude alcançou o apreço da professora que me escolheu como aluna modelo da turma. A escola tinha um quartinho com livros didáticos e de historinhas infantis dentro de um armário trancado com cadeado. Tínhamos acesso apenas aos textos didáticos. Toda semana, o supervisor fazia visitas para avaliar as leituras e os cadernos dos alunos. Adorava ler para o supervisor, Humberto Magno, pois fazíamos muitas fichas com nome da escola, da professora e do aluno. As atividades e avaliações eram mimeografadas.
Estudei o Ensino Fundamental II e o Ensino Médio na Escola Estadual Alcebíades Nunes, localizada na cidade. Lá havia uma biblioteca à disposição de todos, mas eu quase não pegava livros literários, somente os didáticos. Só fazia empréstimo dos textos literários quando o professor solicitava um resumo do livro que, em geral, eu nem lia. Só copiava e entregava. A escola promovia viagens para os alunos que mais faziam empréstimo de livros literários. Geralmente, os alunos pegavam os livros e não liam, porque não era solicitado um resumo da obra. Aos dezoito anos de idade concluí o Ensino Médio, e aos vinte anos cursei o magistério, Curso Normal em Nível Médio nessa mesma instituição. Nessa escola, tive muitas experiências, como trabalhar histórias infantis com crianças, com atividades de reconto.
Em 2018, prestei o vestibular para a Licenciatura em Educação do Campo da UFVJM e fui aprovada. A partir de então, descobri a importância da leitura, mesmo com dificuldades com textos acadêmicos. Entendo que essas leituras me ajudarão a ter um maior embasamento teórico para a realização dos trabalhos acadêmicos e, claro, para a vida. Assim sendo, avalio como positiva a mudança pela qual estou passando, pois é o que fortalecerá meu crescimento como estudante, pessoa e futura educadora do campo.