Minha História com os Livros e com os Números

Liliane Lopes Barroso, Senador Modestino Gonçalves/MG

Eu nasci e cresci em uma comunidade rural. Sempre gostei de ler e estudar, mas o acesso a livros e textos escritos era muito limitado. Livros eram raros e caros, e a maioria das pessoas era analfabeta. Na zona rural as informações eram transmitidas oralmente, através de histórias, lendas e canções contadas e cantadas pelos moradores da comunidade. Só tive acesso à internet já na adolescência e lia livros na biblioteca da escola onde estudava.

O contato com a leitura na minha infância era restrito à escola, onde os livros didáticos e algumas coleções da biblioteca eram as principais fontes de leitura. Apesar do acesso limitado a livros, revistas e gibis, tive uma professora de português que sempre me incentivava a ler e frequentemente me emprestava livros. Eu os levava para casa, lia e depois devolvia. 

Embora meu pai fosse analfabeto, ele sempre foi excelente com as contas e nos dizia que, para ser alguém, era essencial saber fazer cálculos. Ficava impressionada com o fato de ele conhecer tão bem os números, mesmo assinando mal o próprio nome. Com ele, tive meus primeiros contatos com números; aprendi a contar nos dedos e a entender o valor das coisas, como comprar e pagar.

Quando entrei na escola, ainda nos anos iniciais, não tive muita dificuldade com números. Sempre me dei bem com adição e subtração, mas, com o tempo, as contas se tornaram mais complexas. A escola oferece um ambiente social rico, onde as crianças podem discutir ideias, colaborar com os colegas e aprender umas com as outras. Pais e familiares servem como modelos, mostrando como a matemática está presente em diversas situações do dia a dia.

Comecei a frequentar a escola aos sete anos de idade, pois não havia creche onde eu morava e, como meu aniversário é em julho, só pude entrar na escola nessa idade. Aprendi as primeiras letras com minha primeira professora, a Sra. Lúcia, de quem gostava muito. Lembro que os textos de que mais gostava eram as fábulas, mas éramos pouco incentivados a escrever. Mesmo assim, a escola teve um papel essencial no meu letramento.

No Ensino Fundamental I, ainda na escola da zona rural, as fábulas sempre me chamavam a atenção, especialmente aquelas com personagens animais que deixavam uma moral ou lição de vida. Um livro que nunca esquecerei é “A Formiguinha e a Neve”, que ensinava que “não adianta pedir nada aos vivos se não houver moeda de troca”. No Ensino Fundamental II, já em outra escola, em Itamarandiba, tive mais acesso a livros, pois havia uma biblioteca com mais opções. Lá, éramos mais incentivados a ler. Lembro-me de que os professores nos davam tarefas para levar um livro para casa, ler e fazer um resumo. Também íamos à Biblioteca Municipal para fazer trabalhos em grupo, já que não tínhamos acesso à internet. No Ensino Médio, na mesma escola, uma coleção de livros que me marcou foi “Crepúsculo”. Li toda a série e me perdi na história.

Inicialmente, a leitura e a escrita eram atividades obrigatórias na escola. Com o tempo, descobri o prazer de me perder em uma boa história e de aprender coisas novas através dos livros. Minha relação com a leitura, a escrita e a matemática evoluíram ao longo do tempo, influenciada por diversos fatores, como a escola, a família, as experiências de vida e os interesses pessoais. A escola desempenhou um papel fundamental na minha formação, mas minha relação com o conhecimento também foi moldada por fatores externos ao ambiente escolar. Acredito que poderia ter aprendido mais sobre conteúdos matemáticos na escola básica, e isso será um grande desafio para mim. No entanto, sempre tive a vontade de me aprofundar e conhecer melhor esse universo.

A faculdade tem me desafiado a pensar de forma mais crítica e a me tornar uma leitora e escritora mais competente. Estou aprendendo a pesquisar, analisar informações e expressar minhas ideias. A carga de leitura é bem maior e exige mais tempo e dedicação. Às vezes, sinto dificuldade em encontrar tempo para tudo o que preciso ler e escrever.

Apesar de todos os desafios e limitações que enfrentei ao longo da minha trajetória, minha persistência e dedicação me permitiram superar obstáculos e aprender cada vez mais. A leitura, a escrita e os números se tornaram parte essencial da minha vida, moldando minha forma de pensar e agir. A busca pelo conhecimento e pela superação de limites é uma jornada constante, que me motiva a seguir em frente e continuar aprendendo, sempre em busca de novos desafios e horizontes.



SOBRE A AUTORA:

Liliane Lopes Barroso, de Senador Modestino Gonçalves/MG, é acadêmica da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM) e produziu este relato na disciplina Práticas de Leitura e Produção de Textos, ofertada de julho a novembro de 2024.


A orientação deste trabalho e a organização do e-book foram realizadas pelo Professor  Carlos Henrique Silva de Castro e pelos Tutores Daniela da Conceição Andrade e Silva, Luís Felipe Pacheco e Patrícia Monteiro Costa.

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