Alessandra Ketlei Fernandes B. Melo, Monte Azul/MG
Minhas primeiras lembranças de leitura remontam a muito cedo, quando os únicos livros que eu conhecia eram a Bíblia e o livro de louvores. Recordo-me de como, todos os domingos na igreja, meus olhos se fixavam nas páginas desses livros sagrados. Mesmo sem saber ler, as letras e palavras me intrigavam, e eu sentia um desejo profundo de entendê-las. Minha mãe sempre lia a Bíblia para mim e para meus irmãos e, com isso, cresci com uma enorme curiosidade e vontade constante de aprender a ler e escrever.
Com o tempo, chegou o momento de meu início escolar, em 1999, quando eu tinha quatro anos. Entrei na Escola Estadual Rodrigues Alves, e lembro claramente do meu primeiro dia de aula. Minha mãe me levou pela mão até a sala, e tudo parecia muito diferente. O quadro negro ocupava a maior parte da parede da frente e as cadeirinhas enfileiradas aguardavam os pequenos alunos, como eu, prestes a descobrir o mundo das letras.
A professora, Tia Luciana, nos recebeu com um sorriso acolhedor e nos apresentou as vogais e o alfabeto logo na primeira semana. Letras coloridas coladas no quadro eram fascinantes para mim. Naquela época, as cartilhas eram a base do nosso aprendizado. A minha tinha uma capa azul vibrante, com figuras de animais e objetos do cotidiano. Eu passava horas em casa folheando aquelas páginas, tentando decifrar os sons e as imagens.
Quando finalmente consegui juntar as letras para formar minha primeira palavra, senti uma alegria imensa. Uma das minhas atividades favoritas na escola era a hora do conto. A professora se sentava em uma cadeira grande, enquanto nós nos reuníamos ao redor dela no chão, atentos às histórias que ela lia. Livros como O Patinho Feio, João e o Pé de Feijão e As Princesas eram como portas de entrada para mundos mágicos. Mesmo sem saber ler completamente, eu já imaginava as palavras ganhando vida nas páginas. Fiquei com essa maravilhosa professora no 1º e 2º períodos.
Aprender a escrever foi outra grande aventura. Lembro-me do orgulho que senti ao escrever meu nome pela primeira vez. As letras saíam tortas e desalinhadas, mas a sensação de ver meu nome no papel era indescritível. Recordo-me também de quando consegui fazer o numeral cinco pela primeira vez. Foi um dia surreal, e eu passei o resto do dia repetindo o numeral cinco. Meu lugar favorito na escola era a colorida e aconchegante biblioteca, cheia de livros. Eu amava passar o tempo lá, olhando aqueles livros.
Na primeira série, a leitura começou a se tornar mais fluente. Já não éramos mais iniciantes; agora eu conseguia ler frases inteiras e até pequenos parágrafos. A professora incentivava a leitura em voz alta, e cada um de nós tinha a chance de ler para a turma. Embora nervosa no início, eu adorava a sensação de conseguir ler uma história inteira.
As aulas de caligrafia também se tornaram mais desafiadoras. As linhas dos cadernos ficaram mais estreitas, e eu precisava escrever com mais precisão. A professora corrigia meus cadernos com uma caneta vermelha, mas sempre elogiava meus esforços. A leitura de livros infantis tornou-se uma parte regular das aulas, e comecei a me apaixonar por histórias mais longas e complexas, como O Menino Maluquinho e O Pequeno Príncipe, além dos gibis da Turma da Mônica.
As atividades de leitura e escrita evoluíram para a produção de pequenos textos. Lembro-me da minha primeira redação, cujo tema era “Minha família”. Dediquei-me a escrever sobre minha mãe e meus irmãos. Foi desafiador, mas a sensação de ver minhas palavras organizadas em um texto completo foi muito recompensadora.
Na escola, eu também participei de eventos como o JIRA (Jogos Internos Rodrigues Alves), e minha equipe ganhou o campeonato de queimada e porta-bandeiras, recebendo uma linda medalha. O ensino fundamental na Escola Estadual Rodrigues Alves foi maravilhoso. Levava livros para casa para ler e amava cada um deles. Os professores, com tanto amor e carinho, fizeram da escola um grande ponto de partida para mim, servindo como um sólido alicerce para meu ingresso no ensino médio.
No ensino médio, na Escola Estadual Tancredo Neves, percebi que a leitura e a escrita eram muito mais do que apenas juntar letras e palavras. Os textos que lia nas aulas de Língua Portuguesa eram mais longos e abordavam temas mais complexos. A professora apresentou-nos os primeiros contos e crônicas, e foi nessa época que descobri autores como Monteiro Lobato. Escrever também se tornou um exercício mais profundo.
O ensino médio também trouxe desafios adicionais, como cálculos que misturavam números e letras. Foi um período de grande aprendizado, que me proporcionou conhecimentos valiosos para a vida adulta, como a administração da minha vida financeira, tomada de decisões, trabalhos, economias, investimentos e consumos. Agora sou universitária. Tudo o que aprendi nos anos acadêmicos serviu como combustível para minha vida pessoal e cotidiana.
SOBRE A AUTORA:
Alessandra Ketlei Fernandes B. Melo, de Monte Azul/MG, é acadêmica da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM) e produziu este relato na disciplina Práticas de Leitura e Produção de Textos, ofertada de julho a novembro de 2024.
A orientação deste trabalho e a organização do e-book foram realizadas pelo Professor Carlos Henrique Silva de Castro e pelos Tutores Daniela da Conceição Andrade e Silva, Luís Felipe Pacheco e Patrícia Monteiro Costa.